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Rambam
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Leilui Nishmat
Lizechut
2. Aos seis ou sete anos de idade97 as crianças devem ַמכְ נִ ִיסין ֶאת ַה ִּתינֹוקֹות לְ ִה ְתלַ ֵּמד ּכְ ֶבן.ב
ser levadas [a um professor] para serem instruídas, 98 98
. לְ ִפי ּכ ַֹח ַה ֵּבן ִּובנְ יַ ן ּגּופֹו97ֵׁשׁש ּכְ ֶבן ֶׁש ַבע
cada qual de acordo com a sua capacidade individual ּומּכֶ ה
ַ 99.ָּופחֹות ִמ ֶּבן ֵׁשׁש ֵאין ַמכְ נִ ִיסים אֹותֹו
e saúde física. Abaixo dos seis anos elas não devem
ser levadas.99 O professor pode empregar punições
וְ ֵאינֹו100אֹותן ַה ְּמלַ ֵּמד לְ ַה ִּטיל עֲ לֵ ֶיהם ֵא ָימה ָ
corporais com a finalidade de incutir temor לְ ִפיכָ ְך.אֹותם ַמּכַ ת אֹויֵב ַמּכַ ת ַאכְ זָ ִרי ָ ַמּכֶ ה
[nas crianças].100 Mas não deve castigá-las com ֶאלָ א,ׁשֹוטים וְ ל ֹא ְּב ַמ ְקלֹות ִ אֹותם ְּב ָ ל ֹא יַ ּכֶ ה
93- Bava Batra 21a declara: “Lembre desse homem para sempre! O nome dele é Iehoshua ben Gamla. Se não fosse por ele, o
povo judeu teria esquecido a Torá. Originalmente a pessoa era instruída pelo próprio pai, e se fosse órfã acabava não sendo
instruída... [Posteriormente] instituiu-se [a prática de] empregar professores de educação infantil em Ierushalaim, [conforme
o versículo]: “De Tsión sairá a Torá”. No entanto, um pai levava o filho [para Ierushalaim], mas quem era órfão acabava não
sendo levado. [Consequentemente] instituiu-se [a prática de] empregar professores em todas as províncias. Eles começavam o
estudo aos dezesseis ou dezessete anos. Mas se um professor se zangasse com o aluno, ele discutia e ia embora. [Essa situação
persistiu] até que Iehoshua ben Gamla veio e instituiu [a prática de] empregar professores de educação infantil em toda e
qualquer nação e em toda e qualquer província e em toda e qualquer cidade. As [crianças] eram trazidas [para as escolas] com
seis ou sete anos”. Essa prática foi mantida nas gerações posteriores, mesmo quando a organização dos assuntos comunitários
ficou prejudicada durante a dispersão do povo judeu e a subjugação aos poderes dos gentios (vide Ramá, Chóshen Mishpát,
163:3; Shulchan Aruch Harav, Hilchót Talmud Torá 1:3.) Originalmente a comunidade cobrava um imposto para arcar com os
custos da educação de todas as crianças, quer tivessem pais ricos ou pobres. Atualmente cada pai paga pela educação de seu
filho, mas se lhe faltarem condições, a comunidade tem obrigação de assumir a responsabilidade.
94- Shabat 119b.
95- Vide Capítulo 7, Halachá 5 para uma definição mais precisa desse termo.
96- Pois o alento delas não está contaminado pelo pecado (Shabat, ibid.). Com base nessa última afirmação as autoridades
rabínicas determinaram que a comunidade só deve assumir a instrução de crianças até a idade de Bar Mitsvá, já que depois
disso elas não têm mais essa virtude.
97- Vale notar a passagem de Bava Batra citada na Halachá anterior e o comentário no Capítulo 1, Halachá 6.
98- Conforme mencionado no Capítulo 1, Halachá 6, mesmo antes da criança alcançar essa idade o pai deve ensinar a ela
determinados versículos da Torá.
99- Por não terem capacidade de absorver o aprendizado (Bava Batra, ibid.). Atualmente as crianças são colocadas nas escolas
com idades mais baixas mas não são submetidas a programas muito rigorosos; a maior parte do tempo é devotada a atividades
e não a estudos.
100- Consta em Mishlei 13:24: “Quem deixa de castigar odeia o filho”. Esse conselho está dirigido aos pais mas serve também
aos professores. De fato, Makót 8a compara o professor a um pai nessa questão. Makót 22b relata que a passagem em Zechariá
13:6: “Que feridas são essas? São as que me foram afligidas na casa de meu amado” se refere às chibatadas administradas às
crianças nas escolas. Vide também Capítulo 3, Halachá 12 e Capítulo 4, Halachá 5.
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Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
crueldade, como a um inimigo. Assim, ele não deve ּומלַ ְּמ ָדן ּכָ ל ַהּיֹום
ְ יֹוׁשב
ֵ ְ ו101.ִּב ְרצּועָ ה ְק ַטּנָ ה
bater nelas usando varas ou bastões, mas só uma ּומ ְקצָ ת ִמן ַהּלַ יְ לָ ה ּכְ ֵדי לְ ַחּנְ כָ ן לִ לְ מֹדִ ּכֻ ּלֹו
pequena cinta.101 [O professor] deverá sentar-se e וְ ל ֹא ָיִּב ְטלּו ַה ִּתינֹוקֹות ּכְ לָ ל.ַּבּיֹום ַּובּלַ יְ לָ ה
102
ensiná-las durante o dia inteiro e uma parte da noite,
para acostumá-las a estudar de dia e de noite.102 As ְּבסֹוף103טֹובים ִ חּוץ ֵמעַ ְר ֵבי ַׁש ָּבתֹות וְ יָ ִמים
crianças não podem deixar de estudar em nenhuma ֲא ָבל ַּב ַּׁש ָּבת ֵאין104.טֹובים ִ ַהיָ ִמים ְּוביָ ִמים
hipótese, a não ser no final do dia das vésperas 106
. ֲא ָבל ׁשֹונִ ים לָ ִראׁשֹון105קֹורין ַּב ְּת ִחּלָ ה ִ
de Shabat e das Festas,103 e nos próprios dias das וְ ֵאין ְמ ַב ְּטלִ ין ַה ִּתינֹוקֹות וַ ֲא ִפּלּו לְ ִבנְ יַ ן ֵּבית
Festas.104 Em Shabat não se estuda temas novos,105 107
.ַה ִּמ ְק ָּדׁש
mas se revisa o que já foi estudado.106 O estudo das
crianças nunca deve ser interrompido, nem mesmo
para a construção do Templo Sagrado.107
3. Um professor infantil que sai e deixa os alunos ְמלַ ֵּמד ַה ִּתינֹוקֹות ֶׁשהּוא ַמּנִ ַיח ַה ִּתינֹוקֹות.ג
desacompanhados,108 ou [que permanece] com eles עֹוׂשה ְמלָ אכָ ה ַא ֶח ֶרת ֶ אֹו ֶׁשהּוא108וְ יֹוצֵ א
mas se ocupa de outra atividade, ou que é lento em ּמּודן ֲה ֵרי זֶ ה
ָ ִעִ ָּמ ֶהן אֹו ֶׁשהּוא ִמ ְת ַר ֵּׁשל ְּבל
educá-los, é considerado [como admoestado pelo
versículo]:109 “Maldito é aquele que faz o serviço a
110
.""ארּור ע ֶֹׂשה ְמלֶ אכֶ ת ה' ְר ִמּיָ ה ָ 109ִּבכְ לַ ל
D-us de maneira enganosa”.110 Portanto, só se deve הֹוׁשיב ְמלַ ֵּמד ֶאלָ א ַּבעַ ל ִ ְלְ ִפיכָ ְך ֵאין ָראּוי ל
constituir como professor alguém que tema a D-us, 112
. לִ ְקרֹות ּולְ ַד ְק ֵּדק111יִ ְר ָאה ָמ ִהיר
que ensine em um ritmo acelerado111 e que seja
aplicado112 ao instruir.
101- Bava Batra (ibid.) conta que o Rav instruiu o Rav Shmuel bar Shilat, conhecido professor de educação infantil, a agir
assim: “Para bater em uma criança, use apenas uma correia de sandálias. Se [isso motivá-la] a estudar, então ela estudará.
Se [essa punição] não [motivá-la a] estudar, ponha-a na companhia de outras”. Das palavras do Rav pode-se inferir que é
permitido usar de punição física com o intuito de gerar motivação mas que, se o objetivo não for atingido, ela não deverá ser
repetida pois acabará gerando na criança aversão permanente ao estudo da Torá.
102- Para que quando se tornarem adultos, estejam acostumados a cumprir a obrigação mencionada no Capítulo 1, Halachá 8.
103- I.e. nesses dias elas só devem estudar na parte da manhã. Uma possível fonte para essa declaração do Rambam é o
Talmud (Sucá 28a), que louva o Rabi Iochanán ben Zakai por nunca ter saído da casa de estudos a não ser nas vésperas
de Pessach e de Iom Kipur. Também Pessachím 109a aplica tal louvor ao Rabi Akiva. No entanto, é difícil apontar para esses
relatos como sendo a base da declaração do Rambam. Primeiro, devido às passagens estarem se referindo a adultos e não a
crianças. Além disso, depreende-se dessas passagens que esse comportamento louvável dos sábios foi algo fora do comum e
não uma regra geral.
104- Pois o estudo pode perturbar a concepção da criança do ambiente de alegria e celebração que permeia as Festas. Vale notar
a sugestão do Rambam aos adultos (em Hilchót Shevitát Iom Tov 6:19), de usarem parte do tempo das Festas para estudar.
105- Pois assimilar novos temas pode causar situações que em Shabat devem ser evitadas, como dificuldade e tensão
(vide Nedarím 37a.)
106- Pois isso não envolve uma pressão excessiva.
107- Shabat 119b.
108- Bava Batra 8b relata que certa vez o Rav se deparou com o professor de educação infantil Rav Shmuel bar Shilat passeando
por um jardim. Ele o censurou: “Você abandonou o posto?” O Rav Shmuel retrucou: “Fazem treze anos que eu não aprecio
esse jardim, e mesmo agora é nas crianças que eu estou pensando”.
109- Irmiáhu 48:10.
110- Bava Batra 21b.
111- Em seu comentário sobre a Halachá 6, o Késsef Mishnê interpreta Mahír (literalmente: “acelerado”) como alguém que
ensina uma grande quantidade de matérias. Em seu comentário sobre Tehilím 45:2, o Rav Saadiá Gaón traduz esse termo
como “especialista”.
112- I.e. que não comete erros.
113- Kidushín 82a. Mas um homem casado pode, mesmo se não estiver mais vivendo com a esposa (Maguid Mishnê, Hilchót
Issurei Biá 22:13). Para outras autoridades rabínicas, que se baseiam no Talmud Ierushalmi (Kidushín 4:11), um homem cuja
esposa não se encontra na mesma cidade é proibido de ensinar crianças.
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Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
devido às mães que visitam os filhos.114 Nenhuma וְ כָ ל114.ּמֹות ֶיהם ַה ָּבאֹות ֵאצֶ ל ְּבנֵ ֶיהן
ֵ ִמ ְּפנֵ י ִא
mulher115 deve ensinar crianças devido aos pais que בֹות ֶיהם
ֵ ל ֹא ְתלַ ֵמד ִּתינֹוקֹות ִמ ְּפנֵ י ֲא115ִא ָּׁשה
visitam os filhos.116 116
.ְׁש ֶהם ָּב ִאים ֵאצֶ ל ַה ָּבנִ ים
5. Sob [os cuidados de] um professor [pode haver no עֶ ְׂש ִרים וַ ֲח ִמ ָּׁשה ִתינֹוקֹות לְ ֵמ ִדים ֵאצֶ ל.ה
máximo] 25 alunos estudando. Se houver mais de 25, יֹותר עַ ל עֶ ְׂש ִרים וַ ֲח ִמ ָּׁשה ֵ ָהיּו.ְמלַ ֵּמד ֶא ָחד
mas menos de 40, será preciso alocar um assistente מֹוׁש ִיבין עִ ּמֹו ַא ֵחר לְ ַסּיְ עֹו ִ עַ ד ַא ְר ָּבעִ ים
para ajudá-lo no aprendizado.117 Se houver mais de
40,118 dois professores deverão ser alocados.119
118
יֹותר עַ ל ַא ְר ָּבעִ ים ֵ ָהיּו117.ּמּודם ָ ְִּבל
119
.ַמעֲ ִמ ִידין לָ ֶהם ְׁשנֵ י ְמלַ ְּמ ֵדי ִתינֹוקֹות
6. É permitido trocar a criança de professor, para מֹולִ יכִ ין ֶאת ַה ָּק ָטן ִמ ְּמלַ ֵּמד לִ ְמלַ ֵּמד.ו
outro que seja capaz de ensiná-la em um ritmo mais ַא ֵחר ֶׁשהּוא ָמ ִהיר ִמ ֶּמּנּו ֵּבין ְּב ִמ ְק ָרא ֵּבין
acelerado tanto no estudo de Torá Escrita como no מּורים? ּכְ ֶׁש ָהיּו ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא120.ְּב ִד ְקּדּוק
de gramática,120 desde que ambos se encontrem em
uma mesma cidade121 e não exista um rio que os וְ ל ֹא ָהיָ ה ַהּנָ ָהר ַמ ְפ ִסיק121ְׁשנֵ ֶיהם ְּבעִ יר ַא ַחת
separe. No entanto, a criança não deve ser levada [a ֲא ָבל ֵמעִ יר לְ עִ יר אֹו ִמּצַ ד ַהנָ ָהר.ֵּבינֵ ֶיהם
viajar] de uma cidade a outra nem a atravessar um אֹותּה ָהעִ יר ֵאין מֹולִ יכִ ין ֶאת ָ לְ צִ ּדֹו ֲא ִפּלּו ְּב
rio, até na própria cidade, a não ser que haja uma ַה ָּק ָטן ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ָהיָ ה ִּבנְ יָ ן ָּב ִריא עַ ל ּגַ ֵּבי
ponte resistente sobre o rio, uma construção que não . ִּבנְ יָ ן ֶׁש ֵאינֹו ָראּוי לִ ּפֹל ִּב ְמ ֵה ָרה.ַהּנָ ָהר
corra risco de desabar facilmente.
7. Se uma pessoa [que mora em frente a outras ֶא ָחד ִמ ְּבנֵ י ָמבֹוי ֶׁש ִּב ֵּקׁש לְ ֵהעָ ׂשֹות ְמלַ ֵּמד.ז
casas] em uma rua – ou mesmo em uma vila – ֲא ִפּלּו ֶא ָחד ִמ ְּבנֵ י ֶה ָחצֵ ר ֵאין יְ כֹולִ ין ְׁשכֵ נָ יו
decidir ensinar crianças [em sua casa], os vizinhos וְ כֵ ן ְמלַ ֵּמד ִּתינֹוקֹות ֶׁש ָּבא122.לִ ְמחֹות ְּביָ דֹו
não poderão protestar contra a sua decisão122 [por
ficarem incomodados com o barulho das crianças]. ֲח ֵברֹו ָּופ ַתח ַּביִ ת לְ לַ ֵּמד ִּתינֹוקֹות ְּבצִ ּדֹו ּכְ ֵדי
Similarmente, se um professor infantil abrir uma ֶׁשּיָבֹואּו ִּתינֹוקֹות ֲא ֵח ִרים לֹו אֹו ּכְ ֵדי ֶׁשּיָבֹואּו
classe ao lado da classe de um colega, para que ִמ ִּתינֹוקֹות ֶׁשל זֶ ה ֵאצֶ ל זֶ ה ֵאינֹו יָ כֹול לִ ְמחֹות
outras crianças ou alunos do outro venham estudar
114- “Para não ficar excitado por causa das mulheres” (Hilchót Issurei Biá, loc. cit.).
115- Nem se for casada (Késsef Mishnê).
116- E acabarão transgredindo a proibição de Ichúd (ficar a sós com alguém do sexo oposto em um lugar fechado, conforme
Hilchót Issurei Biá, loc. cit.). Segundo algumas autoridades rabínicas, essas proibições eram vigentes em tempos antigos,
quando as salas de aula frequentemente ficavam em locais particulares e afastados, mas não em nossos tempos, nas escolas
grandes da atualidade. No entanto, à luz do texto de Hilchót Issurei Biá, essa posição é questionável.
117- Segundo o Rashi (Bava Batra, ibid.), o assistente escuta os versículos lidos pelo professor e então lidera as crianças na
repetição.
118- A classe deve ser dividida.
119- Segundo o Shulchan Aruch Harav (Hilchót Talmud Torá 1:3), essa quantidade máxima de alunos por classe se aplica a
aulas de Torá Escrita. Mas aulas de níveis mais avançados requerem um número menor de presentes.
120- O Késsef Mishnê menciona o trecho de Bava Batra 21a que questiona o que é preferível: um professor que ensine em um
ritmo rápido ou outro que ensine com uma precisão maior mas em um ritmo mais lento. O Shulchan Aruch (Iorê Deá 245:19)
conclui ser preferível optar pelo segundo tipo de professor.
121- Segundo o Léchem Mishnê, o Rambam depreende esse conceito de Bava Batra (ibid.), onde consta: “Desde os tempos do
Rabi Iehoshua ben Gamla não se transfere uma criança de uma cidade a outra, só de sinagoga em sinagoga...” O significado
disso é que com a colocação de professores qualificados em todas as comunidades, não houve mais necessidade de transferir
crianças para outras cidades. Contudo, dentro da própria cidade, caso houvesse uma razão válida, elas poderiam ser
transferidas de uma casa de estudos para outra.
122- Em Hilchót Shechením 6:8, 11, o Rambam menciona algumas das restrições que os donos de casas que dão para um pátio
comum podem impor sobre a vizinhança – como por exemplo que não se abra uma alfaiataria ou sapataria, por causa da
inconveniência e desconforto que isso pode vir a causar. Embora a abertura de uma escola possa também causar desconforto
(por causa da movimentação dos pais e do barulho), a importância do estudo da Torá suplanta todas essas considerações.
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Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
com ele, o seu colega não poderá protestar, pois está "ה' ָח ֵפץ לְ ַמעַ ן צִ ְדקֹו יַ גְ ִּדיל123 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ְּביָ דֹו
dito:123 “Hashem desejou, em prol da Sua justiça, 124
."ּתֹורה וְ יַ ְא ִּדיר
ָ
engrandecer a Torá e glorificá-la”.124
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congregação de Iaakov”.134 [Ou seja], quem quiser135 יָבֹוא135 ּכָ ל ִמי ֶׁשּיִ ְרצֶ ה134."ְק ִהּלַ ת יַ עֲ קֹב
que venha e a apreenda. Para que não passe pela tua אֹותם ַהּכְ ָת ִרים ּגְ דֹולִ ים
ָ ֹאמר ֶׁש
ַ ֶׁש ָּמא ת.וְ יִ ּטֹל
cabeça que as outras coroas são superiores à coroa da "ּבי ְמלָ כִ ים
ִ 136אֹומר ֵ ּתֹורה? ֲה ֵרי הּוא ָ ִמּכֶ ֶתר
Torá está dito:136 “Por minha causa os reis reinam e os
governantes legislam, por minha causa os ministros ."יִ ְמֹלכּו וְ רֹזְ נִ ים יְ ח ְֹקקּו צֶ ֶדק ִּבי ָׂש ִרים יָ ׂשרּו
recebem poder”. Daqui se depreende que a coroa da
137
.ּתֹורה ּגָ דֹול ִמ ְׁשנֵ ֶיהם
ָ ָהא לָ ַמ ְד ָּת ֶׁשּכֶ ֶתר
Torá é superior às outras duas.137
2. Os sábios138 declararam que [até mesmo] um ַּתלְ ִמיד ָחכָ ם139 ַמ ְמזֵ ר138 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ב
Mamzêr (“bastardo”) estudioso da Torá tem
139 141
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר140.קֹודם לְ כ ֵֹהן ּגָ דֹול עַ ם ָה ָא ֶרץ ֵ
precedência sobre um Cohên Gadól (“sumo sacerdote”) 143
ִמּכ ֵֹהן ּגָ דֹול- ""יְ ָק ָרה ִהיא ִמ ְּפנִ ינִ ים
142
ignorante,140 pois está dito:141 “Ela é mais valiosa do
que pérolas”;142 [depreende-se desse versículo143 que
144
.ֶׁשּנִ כְ נָ ס לִ ְפנַ י וְ לִ ְפנִ ים
até um bastardo estudioso da Torá é mais precioso
que] um sumo sacerdote [ignorante], que ingressa nas
câmaras mais interiores [do Templo Sagrado].144
3. Nenhuma outra Mitsvá é comparável à do estudo ֵאין לְ ָך ִמצְ וָ ה ְּבכָ ל ַה ִּמצְ ֹות ּכֻ ּלָ ן ֶׁש ִהיא.ג
da Torá; mas o estudo da Torá é comparável a todas as ֶאלָ א ַּתלְ מּוד145.ּתֹורה ָ ְׁשקּולָ ה ּכְ נֶ גֶ ד ַּתלְ מּוד
Mitsvót,145 pois o estudo leva à ação;146 portanto o estudo ּתֹורה ּכְ נֶ גֶ ד ּכָ ל ַה ִּמצְ ֹות ּכֻ ּלָ ן ֶׁש ַה ַּתלְ מּודָ
tem precedência sobre a ação em todos os casos.147
קֹודם
ֵ לְ ִפיכָ ְך ַה ַּתלְ מּוד146.ֵמ ִביא לִ ֵידי ַמעֲ ֶׂשה
147
.לְ ַמעֲ ֶׂשה ְּבכָ ל ָמקֹום
4. [E] se a execução de uma Mitsvá se apresentar ּתֹורה ִאם ָ ָהיָ ה לְ ָפנָ יו עֲ ִׂשּיַ ת ִמצְ וָ ה וְ ַתלְ מּוד.ד
diante da pessoa ao mesmo tempo que um estudo ֶא ְפ ָׁשר לַ ִּמצְ וָ ה לְ ֵהעָ ׂשֹות עַ ל יְ ֵדי ֲא ֵח ִרים ל ֹא
da Torá? Se a Mitsvá [a ser executada] puder ser
realizada por intermédio de outros – ela não deverá
134- E assim, se torna propriedade de todo judeu assim que ele nasce. Esse versículo é imbuído de uma mensagem tão
fundamental que o Rambam optou por citá-lo, ao invés do versículo em Avót Derabi Natán, ibid. Similarmente, a mensagem
que esse versículo transmite é tão importante que ele é ensinado para cada criança judia assim que ela começa a falar (Capítulo
1, Halachá 6). No entanto, embora todo judeu tenha uma conexão natural com a Torá, é preciso esforçar-se para revelar e
desenvolver essa conexão. Nesse sentido, os sábios (em Avót 2:15) aconselham: “Prepare-se para estudar a Torá, pois ela não
te é [dada como uma] herança”.
135- Em seu Comentário à Mishná, Avót 4:17, o Rambam relata o conteúdo dessa Halachá e usa a expressão: “Quem quiser
ser coroado com a coroa da Torá.”
136- Mishlei 8:15-16.
137- O Sifrí (ibid.) declara: “Quem é maior, aquele que coroa ou aquele que é coroado”? Portanto, a coroa da Torá é mais
elevada do que a coroa da realeza. E como a um rei se concede mais honra do que a um sumo sacerdote, pode-se então inferir
que a coroa da Torá é maior do que a coroa do sacerdócio (Lechem Mishnê).
138- Horaiót 13a.
139- Filho gerado em decorrência de uma gravidez provocada por uma relação sexual proibida. Vide Hilchót Issurei Biá,
Capítulo 1.
140- Esse foi um fenômeno indesejável frequente no período do Segundo Templo, quando os sacerdotes eram nomeados
pelos romanos mediante altos subornos (vide Comentário à Mishná do Rambam, Iomá 1:3).
141- Mishlei 3:15.
142- Em hebraico a similaridade entre Peniním (“pérolas”) e Pním (“interior”) leva a essa interpretação.
143- Horaiót, ibid.
144- I.e. o Santo dos Santos.
145- O Késsef Mishnê cita Peá 1:1 como fonte dessa afirmação. Lá a Mishná relaciona um número de Mitsvót cujos “benefícios
são desfrutados neste mundo, embora a principal [recompensa] fique para o Mundo Vindouro”. A Mishná conclui: “Mas o
estudo da Torá equivale a todas elas”.
146- Kidushín 40b. Pois sem estudar a pessoa nunca saberá executar as Mitsvót da maneira apropriada.
147- Com uma exceção, que será mencionada na próxima Halachá.
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Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
5. O primeiro estágio do julgamento da pessoa [no ְּת ִחּלַ ת ִּדינֹו ֶׁשל ָא ָדם ֵאינֹו נִ ּדֹון ֶאלָ א.ה
Mundo Vindouro] estará centrado no estudo da Torá; 150
.עַ ל ַה ַּתלְ מּוד וְ ַא ַחר ּכָ ְך עַ ל ְׁש ָאר ַמעֲ ָׂשיו
só depois os outros atos dela [serão avaliados].150 לְ עֹולָ ם יַ עְ סֹק ָא ָדם151לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים
Portanto, os sábios declararam:151 “A pessoa deve
sempre se ocupar com [o estudo da] Torá, não
153
ֵּבין ֶׁשּל ֹא לִ ְׁש ָמּה152ּתֹורה ֵּבין לִ ְׁש ָמּה ָ ַּב
importa se Lishmá (com intenção adequada)152 ou
154
.ֶׁש ִּמּתֹוְך ֶׁשּל ֹא לִ ְׁש ָמּה ָּבא לִ ְׁש ָמּה
Sheló Lishmá (sem intenção adequada);153 pois se ela
começar [estudando] sem intenção adequada ,virá [a
estudar] com intenção adequada.”154
148- O Késsef Mishnê cita a seguinte narrativa do Talmud Ierushalmi (Pessachím 3:7): “O Rabi Abahu enviou o filho para
estudar em Tvéria. Quando foi até lá para visitá-lo, ouviu os moradores locais elogiarem seu filho por ele ser piedoso ao se
ocupar com enterros. Ao ouvir isso, o Rabi Abahu repreendeu o filho severamente; ele disse: ‘Será que te mandei para Tvéria
por faltarem sepulturas em Cesarea’”? Moêd Katán 9b depreende assim a prioridade do estudo sobre a execução das Mitsvót:
“Consta em Mishlei 3:15: ‘Nenhum dos teus desejos é comparável a ela [à Torá]’, implicando que ‘os teus desejos’ – i.e. as coisas
que o homem quer – não podem ser comparados ao estudo da Torá, mas ‘os desejos de D-us’ – i.e. as Mitsvót – podem ser
comparados a ela. Em contraste, Mishlei 8:11 declara: ‘Nenhum desejo’ – implicando aparentemente até os desejos de D-us, as
Mitsvót – ‘pode ser comparado a ela’. Como isso pode ser solucionado? Quando for possível realizar a Mitsvá por intermédio
de outrem, nada tem precedência sobre o estudo da Torá. Mas quando não houver outrem para realizar a Mitsvá, é dada
prioridade à realização da Mitsvá”.
149- Berachót 17a ensina: “A finalidade do conhecimento é Teshuvá e boas ações”. Similarmente, o Talmud Ierushalmi
(Berachót 1:2) declara, ao se referir a uma pessoa que estuda sem cumprir as Mitsvót, que melhor seria ela não ter sido
criada. O Talmud Ierushalmi (Shabat 1:2) conta que o Rabi Shimon bar Iochai não interrompia os estudos para rezar, mas
parava para construir a Sucá e montar o Luláv. O fundamento desses casos pode ser explicado assim: Conforme comentado
anteriormente (Capítulo 1, Halachá 3), o homem alcança o nível máximo de realização quando deixa a sua condição humana
e realiza a vontade de D-us, conforme revelada nas Mitsvót. No entanto, é preciso priorizar o estudo da Torá, pois ele possui
uma vantagem dobrada sobre as demais Mitsvót: em primeiro lugar, ele conduz à realização delas; e em segundo lugar, ele
permite o estabelecimento de uma conexão internalizada entre a pessoa e D-us. Mas quando a pessoa ignora o cumprimento
das Mitsvót, essas duas vantagens são perdidas.
150- A declaração está baseada em San-hedrín 7a (e Kidushín 40b). Outra fonte é Shabat 31a, onde consta que a primeira
pergunta a ser feita à pessoa no Mundo Vindouro será: “Você agiu com honestidade nos teus negócios?” O Tossafót (em San-
hedrín ibid.) oferece duas possíveis soluções para essa aparente contradição: (1) A pessoa que nunca estudou é primeiramente
julgada com relação ao estudo da Torá. Já a pessoa que estudou sem estabelecer horários fixos para o estudo é primeiramente
julgada com relação ao seu comportamento na condução dos negócios. (2) Muito embora a primeira pergunta que se faz à alma
diz respeito à condução de seus negócios, o primeiro castigo que ela receberá resultará da sua negligência no estudo da Torá.
151- Vide Pessachím 50b, Sotá 22b, San-hedrín 105b.
152- O Rambam elabora a definição desses conceitos em Hilchót Teshuvá 10:4-5. Lá consta que os sábios das gerações
anteriores falaram: “Será que se deve dizer: ‘Eu vou estudar a Torá para enriquecer, para ser intitulado Rabino, ou para
ser recompensado no Mundo Vindouro?’ A Torá ensina [Devarím 11:13]: ‘[Se fores cuidadoso na observância dos Meus
preceitos...] para amar D-us’; [isso implica] que tudo o que se faz só deve ser feito por amor. Os sábios também disseram [que
o Tehilím 112:1 instrui]: ‘Deseja muito os Seus preceitos’; ‘[você deve desejar os Seus preceitos] e não a recompensa [resultante
do cumprimento dos] Seus preceitos... Aquele que se ocupa com a Torá almejando ser recompensado ou ficar protegido do
castigo é considerado como alguém que não age com intenção adequada. [Por outro lado], aquele que se ocupa com a Torá
não por temer ser castigado nem por esperar ser recompensado, mas devido ao seu amor pelo Senhor de toda a terra e devido
a ter sido ordenado por Ele a fazê-lo, age com intenção adequada’.
153- O Rashi (Berachót 17a) e o Tossafót (Taanít 7a) observam que o Talmud critica duramente quem não se ocupa da Torá
com intenção adequada: em Taanít 7a consta que quando a pessoa não estuda a Torá com intenção adequada, a Torá se torna
para ela uma poção mortal; em Berachót 17a consta que a pessoa que estuda destituída de intenção adequada, melhor seria ela
não ter nascido. Segundo os comentaristas, são duas as maneiras de se estudar a Torá sem intenção adequada: (1) Tendo como
objetivo o enriquecimento, a honra ou outros benefícios. (2) Tendo como objetivo provocar um colega. Os sábios sugerem
ocupar-se com o estudo da Torá mesmo sem intenção adequada, desde que a motivação não seja a de provocar um colega;
pois é a essa condição que as duras críticas se aplicam.
154- A colocação do Rambam tem um sentido mais profundo. O termo Mitóch, traduzido livremente aqui como “se ela começar”,
pode ser traduzido também como “de dentro dela”, no sentido de que todos os elementos da vida de um judeu são motivados pelo seu
potencial Divino; ele pode até achar que está realizando uma Mitsvá com interesse próprio, sem intenção adequada, mas na verdade
o Tóch, o âmago do seu ato, é motivado pelo desejo inato que todo judeu possui, de se ligar a D-us sem nenhum motivo ulterior.
Veshinantam | 7
Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
6. Quem se sentir inspirado a executar esse ato de ִמי ֶׁשּנְ ָׂשאֹו לִ ּבֹו לְ ַקּיֵ ם ִמצְ וָ ה זֹו ּכָ ָראּוי.ו
Mitsvá da maneira adequada, coroando-se assim com ּתֹורה ל ֹא יַ ִּס ַיח ַּדעְ ּתֹו ָ וְ לִ ְהיֹות ֻמכְ ָּתר ְּבכֶ ֶתר
a coroa da Torá, não deverá desviar a sua atenção para וְ ל ֹא יָ ִׂשים עַ ל לִ ּבֹו ֶׁשּיִ ְקנֶ ה155לִ ְד ָב ִרים ֲא ֵח ִרים
outros assuntos,155 nem ter a pretensão de assimilar a
Torá simultaneamente com riqueza e honra.156 Assim ּכָ ְך ִהיא156.תֹורה עִ ם ָהע ֶֹׁשר וְ ַהּכָ בֹוד ּכְ ַא ַחת ָ
[pode ser definida] a senda da Torá:157 “Coma pão ַּפת ְּב ֶמלַ ח ּתֹאכֵ ל וְ עַ ל157:ּתֹורה ָ ַּד ְרּכָ ּה ֶׁשל
com sal, beba uma pequena medida de água, durma ּתֹורה ַא ָּתה ָ יׁשן וְ ַחּיֵ י צַ עַ ר ִּת ְחיֶ ה ַּוב ַ ָה ָא ֶרץ ִּת
no chão, viva uma vida de penúrias – mas se ocupe וְ ל ֹא עָ לֶ יָך ַה ָד ָבר לִ גְ מֹר וְ ל ֹא ַא ָּתה158.עָ ֵמל
159
com a Torá”.158 “Não compete a ti completar essa תֹורה
ָ וְ ִאם ִה ְר ֵּב ָית160חֹורין לִ ָּב ֵטל ִמ ֶמּנָ ה ִ ֶּבן
tarefa159 nem tampouco és livre para negligenciá-
la”.160 “Se adquirires bastante [estudo de] Torá, terás
161
. וְ ַה ָּׂשכָ ר לְ ִפי ַהּצַ עַ ר.ִה ְר ֵּב ָית ָׂשכָ ר
conquistado bastante recompensa, e essa recompensa
será proporcional ao sofrimento [investido]”.161
7. Talvez você diga: “[Interromperei os meus estudos ׁאמר עַ ד ֶׁש ֶא ְקּבֹץ ָממֹון ֶא ֱחזֹר ַ ֶׁש ָּמא ת.ז
da Torá] enquanto junto dinheiro, e depois voltarei a עַ ד ֶׁש ֶא ְקנֶ ה ַמה ֶׁש ֲאנִ י צָ ִריְך וְ ִא ָפנֶ ה.וְ ֶא ְק ָרא
estudar”; [ou “interromperei os meus estudos da Torá] ִאם ַּתעֲ לֶ ה162.ֵמעֲ ָס ַקי וְ ֶא ְחזֹר וְ ֶא ְק ָרא
até adquirir o que me é necessário, e então, quando eu
puder desviar a atenção dos meus negócios, voltarei ַמ ֲח ָׁש ָבה זֹו עַ ל לִ ְּבָך ֵאין ַא ָּתה זֹוכֶ ה לְ כִ ְת ָרּה
a estudar”;162 quem pensar assim jamais poderá ser תֹור ָתְך ֶק ַבעָ ֶאלָ א עֲ ֵׂשה163.ּתֹורה לְ עֹולָ ם ָ ֶׁשל
merecedor da coroa da Torá.163 O correto é: Faça [do ׁאמר לִ כְ ֶׁש ֶא ָפנֶ ה
ַ ּומלַ אכְ ְּתָך עֲ ַראי וְ ל ֹא ת
164
ְ
estudo] da Torá a sua ocupação fixa e do seu trabalho 165
.ֶא ְׁשנֶ ה ֶׁש ָּמא ל ֹא ִת ָּפנֶ ה
a sua ocupação secundária.164 Nunca diga: “Quando
eu tiver disponibilidade de tempo, estudarei” – pois
talvez você nunca venha a ter tempo disponível.165
155- A respeito da frase que consta em Devarím 6:7: “Fale sobre elas”, o Sifrí comenta: “Fale a respeito delas, e não a respeito
de outros assuntos”.
156- Pois não é possível que uma pessoa se dedique inteiramente a dois objetivos diferentes (Eruvín 55a).
157- Avót 6:4.
158- O Rambam não defende uma vida de penitências ascéticas (vide Hilchót Deót 3:1), nem necessariamente estipula que
“uma vida de dificuldades” seja condição prévia para um envolvimento completo no estudo da Torá. Acontece que muitas
vezes esse é o melhor caminho para alcançar essa meta. A manutenção de um padrão de vida cercado de confortos exige a
dedicação de grande parte do tempo da pessoa, impedindo-a de devotar-se ao estudo da Torá da maneira apropriada, além de
manter a sua mente ocupada com as suas necessidades e desejos.
159- Ao contemplar a imensidão de conhecimentos da Torá que há para assimilar, a pessoa pode ficar intimidada e desanimada.
É por isso que ela deve saber que não se espera dela que estude tudo o que há para ser estudado.
160- Ibid. 2:16.
161- Ibid. 5:23. Em seu Comentário à Mishná, o Rambam oferece a seguinte interpretação: “A tua recompensa será proporcional
ao esforço que você tiver investido no estudo da Torá”. Vide também a Halachá 12, que trata do tipo de esforço que a pessoa
deve ter ao estudar a Torá.
162- Vale notar a recomendação do Capítulo 1, Halachá 5, de estudar Torá antes do casamento, para que o peso da
responsabilidade financeira não interfira nos estudos da pessoa.
163- Há duas explicações para a afirmação de que esse indivíduo nunca merecerá a “coroa da Torá”: (1) O desejo nunca
se satisfaz. “Quem tem cem deseja duzentos; quem tem duzentos deseja quatrocentos” (Kohélet Rabá 1:34). Quem prioriza
as suas preocupações materiais e não o estudo da Torá tem muita dificuldade para reverter o padrão e passar a dedicar-se
completamente ao estudo da Torá. (2) O tempo perdido enquanto envolvido com os negócios não pode ser recuperado, e
assim, ele nunca alcançará as alturas do conhecimento da Torá que previamente estavam ao seu alcance.
164- Avót 1:15. Em seu Comentário à Mishná, o Rambam escreve: “Torne prioritário o teu estudo da Torá e secundários
todos os teus outros afazeres. Se eles aparecerem em teu caminho, muito bem; se não aparecerem, não terás perdido nada”.
Similarmente, em Hilchót Deót 2:7, o Rambam cita Avót 4:10: “Limite a tua dedicação pelos negócios de modo que possa
se ocupar com o estudo da Torá”. Contudo, a pessoa não precisa temer que o envolvimento no estudo da Torá a impeça de
prosperar. Berachót 35b relata: “Os sábios das gerações anteriores davam prioridade ao estudo da Torá. Os seus negócios lhes
eram secundários. No entanto, eles foram bem sucedidos em ambas as atividades. Nós, que damos prioridade aos nossos
negócios e consideramos secundário o nosso estudo da Torá, não temos sucesso em nenhuma delas”.
165- Avót 2:4.
Veshinantam | 8
Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
8. Está escrito na Torá:166 “Ela não está no céu... "ל ֹא ַב ָּׁש ַמיִ ם ִהיא וְ ל ֹא166ּתֹורה ָ ּכָ תּוב ַּב.ח
nem no além-mar”. “Ela não está no céu” significa "ל ֹא ַב ָּׁש ַמיִ ם ִהיא" ל ֹא."ֵמעֵ ֶבר לַ ּיָ ם ִהיא
que não é encontrada em pessoas presunçosas;167 ִהיא ְמצּויָ ה "וְ ל ֹא ִב ְמ ַהּלְ כֵ י167רּוח ַ ְּבגַ ֵּסי ָה
[“nem no além-mar” significa que] também não
é encontrada em [pessoas] que cruzam o mar.168
169
לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ֵמעֵ ֶבר לַ ּיָ ם ִהיא
168
Portanto, nossos sábios disseram:169 “Nem todos וְ צִ ּוּו.'חֹורה ַמ ְחּכִ ים ָ 'ל ֹא כָ ל ַה ַּמ ְר ֶּבה ִב ְס
aqueles que se envolvem com negócios se tornarão .'ּתֹורה ָ ֱ'הוִ י ְמ ַמעֵ ט ְּבעֵ ֶסק וַ עֲ סֹק ַּב170ֲחכָ ִמים
sábios”. E nossos sábios foram taxativos:170 “Reduza
a tua dedicação pelos negócios e se ocupe com [o
estudo da] Torá”.
9. As palavras da Torá foram equiparadas à água, "הֹוי171 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ּתֹורה נִ ְמ ְׁשלּו ּכְ ַּמיִ םָ ִּד ְב ֵרי.ט
conforme está dito: “Que todo sedento venha à
171
לֹומר לָ ְך ַמה ַּמיִ ם ַ 172."ּכָ ל צָ ֵמא לְ כּו לַ ַּמיִ ם
água”.172 Isso ensina que assim como em um declive as
ֵאינָ ם ִמ ְתּכַ ּנְ ִסין ִּב ְמקֹום ִמ ְדרֹון ֶאלָ א נִ זְ ָחלִ ין
águas não ficam estagnadas, mas seguem fluindo até
pararem em um lugar baixo, assim também as palavras ּומ ְת ַק ְּבצִ ים ִּב ְמקֹום ֶא ְׁשּב ֶֹרן ּכָ ְך ִּד ְב ֵרי
ִ ֵמעָ לָ יו
da Torá não podem ser encontradas em indivíduos רּוח וְ ל ֹא ְבלֵ ב ַ תֹורה ֵאינָ ם נִ ְמצָ ִאים ְּבגַ ֵּסי ָה ָ
presunçosos nem nos corações dos orgulhosos, só רּוח ֶׁש ִּמ ְת ַא ֵּבק
ַ ּוׁש ַפל ְ ּכָ ל ּגְ ַבּה לֵ ב ֶאלָ א ְּב ַדּכָ א
em pessoas humildes e modestas, que se cobrem ּומ ִסיר ַה ַּת ֲאוֹות ֵ 173ַּבעֲ ַפר ַרגְ לֵ י ַה ֲחכָ ִמים
com a poeira dos pés dos sábios173 e removem de
עֹוׂשה ְמלָ אכָ ה ְּבכָ ל ֶ ְ ו174.וְ ַתעֲ נּוגֵ י ַהּזְ ַמן ִמּלִ ּבֹו
seus corações os desejos e prazeres passageiros;174 que
trabalham apenas o necessário para se sustentarem יֹום ְמעַ ט ּכְ ֵדי ַחּיָ יו ִאם ל ֹא ָהיָ ה לֹו ַמה יֹאכַ ל
caso não tenham o que comer, mas que dedicam o .ּתֹורה
ָ עֹוסק ַּבֵ 175ּוׁש ָאר יֹומֹו וְ לֵ ילֹו ְ
resto de seus dias e noites175 ao estudo da Torá.
10. Quem resolve176 ocupar-se com o estudo da Torá ָ ֶׁשּיַ עֲ סֹק ַּב176 ּכָ ל ַה ֵּמ ִׂשים עַ ל לִ ּבֹו.י
ּתֹורה וְ ל ֹא
sem trabalhar, derivando o seu sustento da caridade, יַ עֲ ֶׂשה ְמלָ אכָ ה וְ יִ ְת ַּפ ְרנֵ ס ִמן ַהּצְ ָד ָקה ֲה ֵרי זֶ ה
profana o nome [de D-us],177 desonra a Torá, apaga ּתֹורה וְ כִ ָּבה
ָ ִּובּזָ ה ֶאת ַה177ִחּלֵ ל ֶאת ַה ֵּׁשם
a luz da fé; ele faz mal para si mesmo e perde o
direito à vida no Mundo Vindouro, pois é proibido
ְמאֹור ַה ָּדת וְ גָ ַרם ָרעָ ה לְ עַ צְ מֹו וְ נָ ַטל ַחּיָ יו ִמן
Veshinantam | 9
Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
tirar proveito das palavras da Torá neste mundo.178 תֹורה ָ לְ ִפי ֶׁש ָאסּור לֵ ָהנֹות ְּב ִד ְב ֵרי.ָהעֹולָ ם ַה ָּבא
Nossos sábios declararam:179 “Quem tira proveito 'ּכָ ל ַהּנֶ ֱהנֶ ה179 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים178.ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה
das palavras da Torá tira a própria vida do mundo”. וְ עֹוד צִ ּוּו.'תֹורה נָ ַטל ַחּיָ יו ִמן ָהעֹולָ ם ָ ִמ ִּד ְב ֵרי
Eles também ordenaram e declararam:180 “Não faça
delas uma coroa para engrandecer-te,181 nem um
181
ַ'אל ַת ֲע ֵׂשם ֲע ָט ָרה לְ ִה ְתּגַ ֵּדל ָּב ֶהן180וְ ָא ְמרּו
machado para cortar”.182 Eles também ordenaram e וְ עֹוד צִ ּוּו וְ ָא ְמרּו182.'וְ ל ֹא ַק ְרּדֹם לַ ְחּפֹר ָּב ֶהם
declararam: “Ama o trabalho e recusa o rabinato”;183 183
.'ּוׂשנָ א ֶאת ָה ַר ָּבנּות ְ ֱ'אהֹב ֶאת ַה ְּמלָ אכָ ה
“todo estudo da Torá que não estiver conciliado סֹופּה ְּב ֵטלָ ה ָ ּתֹורה ֶׁש ֵאין עִ ָּמּה ְמלָ אכָ ה ָ וְ כָ ל
com um trabalho acabará se anulando e levará ao וְ סֹוף ָא ָדם זֶ ה ֶׁשּיְ ֵהא ְמלַ ְס ֵטם.גֹור ֶרת עָ ֹון
184
ֶ ְו
pecado”.184 No final das contas a pessoa que age assim
acabará roubando das outras.185
185
.ֶאת ַה ְּב ִרּיֹות
11. É uma grande virtude obter o sustento pelos ַמעֲ לָ ה גְ דֹולָ ה ִהיא לְ ִמי ֶׁשהּוא ִמ ְת ַּפ ְרנֵ ס.יא
próprios esforços.186 Esse foi um dos atributos dos ּומ ַּדת ֲח ִס ִידים ָה ִראׁשֹונִ ים ִ 186ִמ ַּמעֲ ֶׂשה יָ ָדיו
piedosos das gerações antigas.187 O homem que טֹובה
ָ ְ ָּובזֶ ה זֹוכֶ ה לְ כָ ל ּכָ בֹוד ו187.ִהיא
mantém esse comportamento se torna merecedor
de toda [espécie de] respeito e benefícios, neste
190
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר189. וְ לָ עֹולָ ם ַה ָּבא188ֶׁש ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה
mundo188 e no Mundo Vindouro,189 pois está dito:190 ." ַא ְׁש ֶריָך וְ טֹוב לָ ְך191"יְ גִ יעַ ּכַ ֶּפיָך ּכִ י תֹאכֵ ל
178- Nedarím 62a. Em Hilchót Matnót Aniím 10:18 o Rambam declara: “Até um sábio honrado deverá procurar um trabalho
se empobrecer, mesmo uma profissão degradante, ao invés de pedir ajuda à comunidade. É melhor esfolar as peles de animais
mortos do que dizer às pessoas: ‘Eu sou um sábio, me deem um auxílio’. Nossos maiores sábios foram lenhadores, carregadores,
aguadeiros... Eles não pediram nada da comunidade e se recusaram a aceitar qualquer coisa que lhes fosse oferecida”. O Késsef
Mishnê discorda das colocações do Rambam e alega que não é proibido a um sábio receber sustento dos outros. Ele traz como
prova disso o Tossafót em Ketubót 106a, segundo o qual é permitido pagar a indivíduos que queiram se dedicar a ensinar
Torá ou a servir como juízes e abram mão de ganhar a vida em trabalhos manuais, pois eles na prática estarão sendo pagos
pelo tempo que dispenderem, e não pela Torá que disponibilizarem. O Késsef Mishnê arremata: “Haja visto que todos os
sábios de Israêl, tanto antes quanto depois de nosso mestre, aceitaram ser sustentados pelas suas comunidades. Além disso,
mesmo se a Halachá seguisse a opinião de nosso mestre... é possível que todos os sábios das gerações [anteriores] tenham
concordado com isso porque... se os estudiosos e os professores não fossem assim sustentados, eles não teriam como se
dedicar à Torá condignamente, e a Torá teria sido esquecida, que D-us nos livre disso. Por terem [sido assim sustentados], eles
puderam estudar, ‘e [graças a isso] a Torá é engrandecida e fortalecida’”. Essas ideias são trazidas como Halachá pelo Shulchan
Aruch e pelo Ramá (Iorê Deá 246:5). Para conciliar as ideias do Rambam e do Késsef Mishnê pode-se dizer que a princípio é
proibido estudar a Torá tendo como objetivo o próprio sustento. Mas se um indivíduo que tiver estudado a Torá sem segundas
intenções, Lishmá, com intenções adequadas, tornar-se sábio mas não tiver uma fonte de sustento, ele não terá obrigação de
aprender uma profissão e poderá usar os conhecimentos da Torá que adquiriu Lishmá para sustentar-se (Rebe de Lubavitch,
Likutei Sichót, vol. 16, pág. 534ff.).
179- Avót 4:5.
180- Avót, ibid.
181- I.e. uma fonte de honra.
182- I.e. um meio de sustento.
183- Ibid. 1:10.
184- Ibid. 2:2. Essa Mishná começa com a frase: “A Torá é bela quando acompanhada de trabalho”.
185- Os comentaristas citam Kidushín 29a como fonte: “Não ensinar ao filho uma profissão é ensiná-lo a roubar”.
186- E não depender da caridade.
187- Dentre os exemplos mencionados no Talmud de grandes sábios que exerciam trabalhos manuais para ganhar a
vida figuram o Rav Huna – aguadeiro (Ketubót 105a), o Rabi Meir – barbeiro (Eruvín 13a), o Rabi Iehudá – carregador
(Nedarím 49b), o Rav Iossêf – moleiro, e o Rav Sheshet – carregador (Guitín 67b).
188- I.e. D-us o abençoará e ele terá uma renda respeitável graças aos seus esforços. Em Hilchót Teshuvá 9:1, o Rambam
elabora como D-us concede bênçãos à pessoa que se dedica à Torá e às Mitsvót. Essas bênçãos, por sua vez, possibilitam a ela
continuar e aumentar o seu serviço a D-us.
189- Embora a pessoa tenha proveito também neste mundo, “a principal [recompensa] ficará para o Mundo Vindouro”
(Peá 1:1).
190- Tehilím 128:2.
Veshinantam | 10
Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
“Se comeres o trabalho de tuas mãos,191 serás "א ְׁש ֶריָך" ָּבעֹולָ ם ַהּזֶ ה "וְ טֹוב לָ ְך" לָ עֹולָ ם ַ
bem-aventurado e gozarás do bem”. “Serás bem- 192
.ַה ָּבא ֶׁשּכֻ ּלֹו טֹוב
aventurado” neste mundo, e “gozarás do bem” no
Mundo Vindouro, que é inteiramente bom.192
12. As palavras da Torá não se firmam em quem não ָ ֵאין ִּד ְב ֵרי.יב
ּתֹורה ִמ ְת ַקּיְ ִמין ְּב ִמי ֶׁש ְּמ ַר ֶּפה
se esforça [para conquistá-las], nem em quem estuda ּלֹומ ִדין ִמּתֹוְך ְ וְ ל ֹא ְב ֵאּלּו ֶׁש.עַ צְ מֹו עֲ לֵ ֶיהן
rodeado de prazeres,193 em meio [a uma abundância ֶאלָ א ְּב ִמי.ּוׁש ִתּיָ ה ְ ּומּתֹוְך ֲאכִ ילָ ה ִ 193עִ ּדּון
de] comidas e bebidas. Mas [se firmam] em quem
se mata por elas e força o próprio corpo o tempo
ּומצַ עֵ ר ּגּופֹו ָּת ִמיד
194
ְ ֶׁש ֵּמ ִמית עַ צְ מֹו ֲעלֵ ֶיהן
todo até sofrer,194 sem dar descanso nem para os .נּומה ָ וְ ל ֹא יִ ֵּתן ְׁשנַ ת לְ עֵ ינָ יו ּולְ עַ ְפ ַע ָּפיו ְּת
195
191- A respeito desse versículo os sábios comentaram: “Está escrito: ‘O trabalho de tuas mãos’ e não ‘o trabalho de tuas
cabeças’. Quando a pessoa trabalha com as mãos, a sua mente fica livre para pensar em assuntos da Torá. Quando ela volta
para casa, por mais fisicamente cansada que esteja, ela não carrega consigo pressões do trabalho [i.e. tem a mente livre para a
Torá]. Já quem trabalha com a mente tem mais dificuldade em desviar a atenção para assuntos da Torá”.
192- Berachót 8a.
193- San-hedrín 111a.
194- Conforme mencionado no comentário à Halachá 6, o Rambam não alude a uma vida de penitências ascéticas, mas à
dedicação de todas as energias da pessoa na assimilação do conhecimento da Torá.
195- Avót 6:6.
196- Berachót 63b; Midrásh Tanchuma, Noach 3; Shabat 83b.
197- Bamidbar 19:14.
198- Nossos sábios associavam frequentemente a expressão “tendas” a “casas de estudos” (vide os comentários sobre Bereshit
25:27 e Devarím 33:18).
199- Mishlei 24:10.
200- I.e. se devido a adversidades reduzires o teu envolvimento com a Torá, então “o teu poder” – o teu conhecimento da Torá
– será “parco”, i.e. não permanecerá dentro de ti (Lechem Mishnê).
201- Kohélet 2:9.
202- O termo Áf pode significar “também” e “na marra”.
203- Talmud Ierushalmi, Berachót 5:1.
204- Por essa razão é altamente recomendável que se estude em uma casa de estudos (ou em uma sinagoga) sempre que
possível (vide Shulchan Aruch Harav, Hilchót Talmud Torá 4:10).
205- Mishlei 11:2.
206- Vale notar que o Talmud em Berachót 63b critica severamente quem estuda Torá sozinho (quando há a opção de estudar
acompanhado). Similarmente, no capítulo a seguir, no qual o Rambam aborda o processo do estudo em si, ele continuamente
faz referência a um mestre ensinando diversos estudantes. No entanto, o intuito dessa lei é não alardear o que se estuda.
207- O Talmud Ierushalmi, em Berachót 5:1, ressalta que não se deve elevar demais a voz.
Veshinantam | 11
Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
208- Consta em Shemuel II 23:5: “Pois Ele estabeleceu comigo um pacto perpétuo, ordenado em tudo e preservado”. O Talmud
em Eruvín 54a interpreta “um pacto perpétuo” como uma referência à Torá, e declara: “Se ele estiver ordenado em todos os
248 membros da pessoa” – ou seja, se o corpo inteiro estiver envolvido em seu estudo – “ele será preservado”.
209- É muito contrastante o estudo de temas seculares, feito em uma biblioteca silenciosa, e o estudo da Torá feito em
uma barulhenta casa de estudos, onde cada pessoa verbaliza as palavras do estudo que está em pauta. O Shulchan Aruch
Harav (Hilchót Talmud Torá 2:12) afirma que o estudo da Torá pode ser comparado a outras Mitsvót ligadas à fala. A pessoa
não cumpre a obrigação se recitar as palavras em silêncio; ela precisa vocalizá-las, ou escutá-las de outrem.
210- Vide Capítulo 1, Halachá 8.
211- Eruvín 65a declara: “A lua só foi criada para o estudo da Torá”. O termo “conhecimento” é interpretado como uma
referência aos aspectos do estudo da Torá descritos como Guemará ou Talmud (Capítulo 1, Halachá 11). À noite, quando a
pessoa está afastada das pressões do dia, ela pode se concentrar mais nesses temas.
212- Em Hilchót Deót 5:1, o Rambam aconselha: “O sábio de Torá não deve ser guloso; ele deve se alimentar para manter o
corpo saudável, sem comer em excesso. Ele não deve comer até ‘ficar cheio’ como aqueles que inflam as entranhas de comida
e bebida”.
213- De um modo geral o Rambam desaconselha a conversa excessiva. Em Hilchót Deót 2:4 ele declara: “A pessoa deve
sempre cultivar o silêncio e abster-se de falar, salvo a respeito de temas relativos à sabedoria ou de assuntos pertinentes às
suas necessidades físicas”.
214- Shemót Rabá, par. 47; Eruvín ibid.
215- Eichá 2:19.
216- Vale notar os comentários sobre Devarím 31:9, que descrevem a Torá como a canção de D-us.
217- Tehilím 42:9.
218- Avodá Zará 3b comenta: “Por que ‘durante o dia Hashem ordena a Sua bondade’? Porque ‘de noite a Sua canção (a Torá)
está comigo’”.
219- Ióv 20:26.
220- I.e. as noites.
221- A Torá.
222- Conforme o Rashi no local, trata-se do fogo do Guehinóm (purgatório) que não precisa ser aceso.
223- Bamidbar 16:31.
224- Essa é a opinião do Rabi Natán, conforme citado em San-hedrín 99a e Sifrí, Shlach.
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alguém que põe uma pedra na atiradeira234 é aquele "ּכָ בֹוד ֲחכָ ִמים236 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר235.תֹורה ָ ֶאלָ א
que concede honra a um tolo”. E não há honra além טֹובהָ וְ כֵ ן ָה ַרב ֶׁש ֵאינֹו הֹולֵ ְך ְּב ֶד ֶרְך."יִ נְ ָחלּו
237
da Torá,235 conforme está dito:236 “Os sábios terão a ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ָחכָ ם ּגָ דֹול הּוא וְ כָ ל ָהעָ ם צְ ִריכִ ין
honra como herança”.237 Similarmente, não se deve
aprender de um mestre que não se comporta de .ּמּוטבָ ְלֹו ֵאין ִמ ְתלַ ְּמ ִדין ִמ ֶּמּנּו עַ ד ׁשּובֹו ל
modo adequado, por mais sábio que seja, mesmo "ּכִ י ִׂש ְפ ֵתי כ ֵֹהן יִ ְׁש ְמרּו ַדעַ ת238ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
se todo o povo depender do seu [ensino], enquanto תֹורה ַיְב ְקׁשּו ִמ ִּפיהּו ּכִ י ַמלְ ַאְך ה' צְ ָבאֹות ָ ְו
ele não retornar para um bom caminho, conforme ּדֹומה ָה ַרב ֶ ִ'אם 239
ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים."הּוא
está dito:238 “Pois os lábios do Cohên (‘sacerdote’) 241
ּתֹורה ַיְב ְּקׁשּו ִמ ִּפיהּו
ָ ה' צְ ָבאֹות240לְ ַמלְ ַאְך
salvaguardarão o conhecimento e da sua boca será
pedida a Torá, pois ele é um mensageiro do Hashem
242
.'תֹורה ִמ ִּפיהּו
ָ וְ ִאם לַ או ַאל ַיְב ְּקׁשּו
das hostes”. Os sábios disseram:239 “Se o mestre se
parecer com um ‘Malách240 do Hashem das hostes’,
peçam Torá de sua boca.241 Caso contrário, não
peçam Torá de sua boca”.242
2. Como [a Torá] deve ser ensinada? O mestre deve יֹוׁשב ָּברֹאׁש ֵ ּכֵ יצַ ד ְמלַ ְּמ ִדים? ָה ַרב.ב
sentar à cabeceira e os alunos ao redor como uma וְ ַה ַּתלְ ִמ ִידים ֻמ ָּק ִפים לְ ָפנָ יו ּכַ עֲ ָט ָרה ּכְ ֵדי
243
coroa,243 de modo que todos possam vê-lo e escutem 244
.ׁשֹומעִ ים ְּד ָב ָריו
ְ ְרֹואים ָה ַרב ו
ִ ֶׁשּיִ ְהיּו כֻ ּלָ ם
as suas palavras.244 O mestre não deve sentar em uma
cadeira enquanto os alunos dele sentam no chão. וְ ל ֹא יֵ ֵׁשב ָה ַרב עַ ל ַהּכִ ֵּסא וְ ַתלְ ִמ ָידיו עַ ל
Ou todos sentam no chão245 ou todos sentam em ֶאלָ א אֹו ַהּכֹל עַ ל ָה ָא ֶרץ אֹו245ַה ַּק ְר ַקע
cadeiras.246 Originalmente o mestre ficava sentado e ָּוב ִראׁשֹונָ ה ָהיָ ה ָה ַרב246.ַהּכֹל עַ ל ַהּכִ ְסאֹות
os alunos em pé.247 [Mas] desde antes da destruição ּומּק ֶֹדם ֻח ְר ַּבןִ 247.עֹומ ִדים
ְ יֹוׁשב וְ ַה ַּתלְ ִמ ִידים
ֵ
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do Segundo Templo Sagrado todos têm tido o ַּביִ ת ֵׁשנִ י נָ ֲהגּו ַהּכֹל לְ לַ ֵּמד לַ ַּתלְ ִמ ִידים וְ ֵהם
costume de ensinar com os alunos sentados.248 248
.יֹוׁש ִבים
ְ
3. Se [desejar, o mestre] poderá lecionar aos alunos ִאם ָהיָ ה ְמלַ ֵּמד ִמ ִּפיו לַ ַּתלְ ִמ ִידים.ג
diretamente. Se [preferir] lecionar [aos alunos 249
וְ ִאם ָהיָ ה ְמלַ ֵּמד עַ ל ִּפי ְמ ַת ְרּגֵ ם.ְמלַ ֵּמד
indiretamente], por intermédio de um Metarguêm,249
עֹומד ֵּבינֹו ֵּובין ַה ַּתלְ ִמ ִידים וְ ָה ַרבֵ ][ה ְּמ ַת ְרּגֵ םַ
o Metarguêm deverá ficar posicionado entre ele e os
alunos. O mestre falará para o Metarguêm250 e este וְ ַה ְּמ ַת ְרּגֵ ם ַמ ְׁש ִמיעַ לְ כָ ל250אֹומר לַ ְּמ ַת ְרּגֵ ם
ֵ
anunciará o ensinamento para todos os alunos.251 ׁשֹואלִ ין לַ ְמ ַת ְרּגֵ ם
ֲ ּוכְ ֶׁש ֵהם251.ַה ַּתלְ ִמ ִידים
Quando os alunos formularem uma pergunta ao וְ ָה ַרב ֵמ ִׁשיב לַ ְמ ַת ְרּגֵ ם252ׁשֹואל לָ ַרב ֵ הּוא
Metarguêm, ele deverá fazer a pergunta ao mestre;252 וְ ל ֹא יַ גְ ִּב ַיּה ָה ַרב253.ּׁשֹואל
ֵ ַוְ ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם ֵמ ִׁשיב ל
o mestre responderá ao Metarguêm, e este a quem
וְ ל ֹא יַ גְ ִּב ַיּה254.יֹותר ִמּקֹול ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם ֵ קֹולֹו
tiver perguntado.253 O mestre não deve falar mais
alto do que o Metarguêm,254 nem o Metarguêm יֹותרֵ ּׁשֹואל ֶאת ָה ַרב ֵ ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם קֹולֹו ְּבעֵ ת ֶׁש
deve falar mais alto do que o mestre ao formular- ֵאין ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם ַר ַּׁשאי ל ֹא לִ ְפחֹת255.ִמּקֹול ָה ַרב
lhe uma pergunta.255 O Metarguêm não pode nem ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ָהיָ ה256הֹוסיף וְ ל ֹא לְ ַׁשּנֹות ִ ְוְ ל ֹא ל
diminuir nem aumentar nem modificar [as palavras אֹומר ָה ַרב ֵ .ַה ְמ ֻּת ְרּגְ ָמן ָא ִביו ֶׁשל ָחכָ ם אֹו ַרּבֹו
do mestre],256 a não ser que ele seja pai ou mestre do
לַ ְמ ֻת ְרּגְ ָמן "ּכָ ְך ָא ַמר לִ י ַר ִּבי" אֹו "ּכָ ְך ָא ַמר
mestre. Se o mestre disser ao Meturguemán: “Assim
me disse meu mestre” ou “assim me disse o meu אֹומר ַה ְמ ֻת ְרּגְ ָמן ַה ְּד ָב ִריםֵ ּכְ ֶׁש."לִ י ַא ָּבא ָמ ִרי
pai e mestre”, o Meturguemán, ao transmitir esse ּומזְ ּכִ יר ְׁשמֹו ֶׁשל ַ אֹומר ְּב ֵׁשם ֶה ָחכָ ם ֵ לָ עָ ם
ensinamento aos alunos, deve citá-lo em nome do אֹומר "ּכָ ְך ָא ַמר ַר ָּבנָ א ֵ ְֲא ִבי ָה ַרב אֹו ֶׁשל ַרּבֹו ו
pai ou do mestre do mestre mencionando o respectivo
248- Em Meguilá (ibid.) consta: “Dos dias de Moshé até os de Raban Gamliêl só se estudou Torá em pé. Depois que o
Raban Gamliêl [o ancião] morreu, a fragilidade baixou sobre o mundo; [desde então] tem-se estudado Torá sentado”. Uma
Mishná em Sotá 9:16 relata que “depois que o Raban Gamliêl morreu a glória da Torá foi extinta”. Comentando essa Mishná,
o Rambam associa a extinção da honra da Torá à prática de estudá-la sentado.
249- Há uma diferença de opiniões entre os comentaristas quanto à função desse indivíduo. O Rashi, em Iomá 20b, considera
Metarguêm um tradutor; de fato, esse é o significado literal do termo. Tanto na Babilônia quanto em Érets Israêl a linguagem
popular era o aramaico, embora muitos dos sábios tenham continuado a ensinar em hebraico. Assim, esses sábios ensinavam
em hebraico em voz baixa, e o Metarguêm traduzia os ensinamentos para o aramaico em voz alta. Outros consideram
o Metarguêm um porta-voz, ou “microfone humano”. Ao invés do mestre se desgastar para se fazer ouvir, ele falava em
voz baixa e o seu porta-voz repassava os seus ensinamentos em alto volume para ser escutado por todos os presentes. O
fundamento dessa opinião encontra-se em alguns locais, como em Kidushín 31b, onde o porta-voz é chamado de Amoriá. O
Raavad menciona uma terceira perspectiva, explicando que o porta-voz também explicava as palavras do mestre, de modo
que pudessem ser entendidas e assimiladas pelos alunos. O Rabi Shalom Dovber de Lubavitch tem uma opinião similar,
embora não idêntica. Em seu Maamar “Iom Tov Shel Rosh Hashaná 5666”, ele elabora esse conceito em detalhes, explicando
que o mestre se encontrava em um nível demasiadamente elevado para explicar as suas ideias de maneira que pessoas
comuns pudessem entender. É por isso que ele empregava um porta-voz, que se encontrava em um nível tal que era capaz de
compreender as colocações do mestre e de explicá-las de uma maneira menos sofisticada para os alunos assimilarem (vide
também Kohélet Rabá 7:12, 9:24.) O uso de um porta-voz era também sinal de honra e respeito para com o mestre (vide Rashi
em Devarím 32:44).
250- Em voz baixa.
251- De maneira que eles possam escutar (vide Sotá 40a e Chulín 15a).
252- Em voz baixa, conforme explicado.
253- Em voz alta, para que os outros possam escutar.
254- O Késsef Mishnê traz Berachót 45a, que cita como fonte para essa regra a maneira com que Moshé repassou as palavras
de D-us na outorga da Torá (Shemót 19:19): “O Rabi Shimon ben Pazi disse: ‘De onde [aprendemos] que o tradutor [da leitura
da Torá] não pode elevar a voz acima [da voz do] ledor? Do dito: ‘Moshé falava e Hashem lhe respondia com uma voz’. Não
havia [necessidade] para que [a Torá] dissesse ‘com uma voz’. O que, então, nos ensina [a Torá] ao dizer ‘com uma voz’? [Ela
nos ensina que Hashem respondeu] com a voz de Moshé [isto é, no mesmo volume que a voz de Moshé]”.
255- Demonstrando respeito e deferência.
256- Talmud Ierushalmi, Meguilá 4:10. Para o Raavad a fonte está no relato de Iomá 20b, de que o Rav serviu de porta-voz
para o Rav Shilát e alterou a conotação das palavras dele. O Raavad explica que como como o nível de erudição do Rav era
mais alto do que o do Rav Shilat, ele tinha o direito de fazê-lo. O Késsef Mishnê declara que o Rambam não faz menção a tal
possibilidade pois é muito improvável que um sábio de nível elevado sirva de porta-voz para um sábio de nível mais baixo.
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nome, dizendo: “Assim disse tal mestre”.257 [Ele deve . ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא ִהזְ ּכִ יר ֶה ָחכָ ם ְׁשמֹו257"ְּפלֹונִ י
agir dessa maneira] mesmo se o mestre não tiver .ֶׁש ָאסּור לִ ְקרֹות לְ ַרּבֹו אֹו לְ ָא ִביו ִּב ְׁשמֹו
mencionado o nome do sábio [i.e. do seu pai ou
mestre], pois é proibido se referir ao próprio mestre
ou ao próprio pai pelo nome.
4. Quando o mestre ensina [um conceito] que os ָה ַרב ֶׁשּלִ ֵּמד וְ ל ֹא ֵה ִבינּו ַה ַּתלְ ִמ ִידים ל ֹא.ד
alunos não [conseguem] entender, ele não deve se ֶאלָ א חֹוזֵ ר וְ ׁשֹונֶ ה259. וְ יִ ְרּגַ ז258יִ כְ עֹס עֲ לֵ ֶיהם
aborrecer com eles258 nem se irritar.259 Pelo contrário,
ַה ָּד ָבר ֲא ִפּלּו ּכַ ָּמה ְפעָ ִמים עַ ד ֶׁש ִּיָבינּו ע ֶֹמק
ele deve repetir e ensinar a matéria várias vezes se
necessário, até que eles entendam a profundidade ֹאמר ַה ַּתלְ ִמיד ֵה ַבנְ ִּתי ַ וְ כֵ ן ל ֹא י260.ַה ֲהלָ כָ ה
da Halachá.260 Similarmente, o aluno não deve dizer ׁשֹואל ֲא ִפּלּו
ֵ ְ ֶאּלָ א חֹוזֵ ר ו261.וְ הּוא ל ֹא ֵה ִבין
“entendi” quando não tiver de fato entendido;261 ele ֹאמר ַ וְ ִאם ּכָ עַ ס עָ לָ יו ַרּבֹו וְ ָרגַ ז י.ּכַ ָּמה ְּפעָ ִמים
deve pedir para [o mestre] repetir [a matéria], várias ּתֹורה ִהיא וְ לִ לְ מֹד ֲאנִ י צָ ִריְך וְ ַדעְ ִּתיָ לֹו ַ'ר ִּבי
vezes se necessário. Se o mestre se aborrecer com ele 262
.'ְקצָ ָרה
e ficar irritado, [o aluno] deverá dizer-lhe: “Mestre,
isso é Torá e devo estudá-la, [mesmo] sendo fraca a
minha compreensão”.262
5. Um aluno não deve ter vergonha dos colegas ל ֹא יִ ְהיֶ ה ַה ַּתלְ ִמיד ּבֹוׁש ֵמ ֲח ֵב ָריו ֶׁשּלָ ְמדּו.ה
quando eles entenderem um assunto na primeira ִמ ַּפעַ ם ִראׁשֹונָ ה אֹו ְׁשנִ ּיָ ה וְ הּוא ל ֹא לָ ַמד
ou na segunda vez mas ele precisar repetir algumas ֶׁש ִאם נִ ְת ַּבּיֵ ׁש ִמ ָּד ָבר.ֶאלָ א ַא ַחר ּכַ ָּמה ְּפעָ ִמים
vezes para entender. Se isso o deixar constrangido,
ele acabará entrando e saindo da casa de estudos זֶ ה נִ ְמצָ א נִ כְ נָ ס וְ יֹוצֵ א לְ ֵבית ַה ִּמ ְד ָרׁש וְ הּוא
sem aprender nada.263 Foi por isso que os sábios לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים263.ֵאינֹו לָ ֵמד ּכְ לּום
de gerações antigas declararam:264 “Quem se ֵ'אין ַה ַּביְ ָׁשן לָ ֵמד וְ ל ֹא ַה ַּק ְפ ָדן264ָה ִראׁשֹונִ ים
envergonha não consegue aprender, e quem se מּורים? ִּבזְ ַמן ִ ֲא265 ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים.'ְמלַ ֵּמד
enfeza fácil não deve ensinar”. Quando isso265 se ֶׁשּל ֹא ֵה ִבינּו ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַה ָּד ָבר ִמ ְּפנֵ י עָ ְמקֹו
aplica? Quando os alunos não tiverem entendido
o assunto devido à sua complexidade, ou devido ֲא ָבל ִאם נִ ּכָ ר.אֹו ִמ ְּפנֵ י ַּדעְ ָּתן ֶׁש ִהיא ְקצָ ָרה
257- O Talmud em Kidushín 31b relata que quando o filho do Rav Ashi discursava, ele dizia ao Meturguemán: “Foi o meu pai
e mestre que disse isso”, e o porta-voz dizia: “Foi o Rav Ashi que disse isso”.
258- Em Hilchót Deót 2:3, o Rambam explica em detalhes como “a raiva é também uma qualidade extraordinariamente
negativa; portanto, é conveniente que o indivíduo se afaste dela e adote o extremo oposto”. Ele prossegue (ibid. 2:5) explicando
como o mestre deve educar os seus alunos “com calma e tranquilidade, sem gritos”. Também aqui, ele não enfoca os próprios
aspectos negativos da raiva, mas a inadequação dela como técnica educacional.
259- Vale notar a Mishná, Avót 2:5, que é citada pelo Rambam na Halachá a seguir. Em Soferím 16:2 consta: “Deve-se ensinar
o Talmud com semblante agradável e a Agadá com um semblante paciente”.
260- Devarím 31:19 diz que a Torá deve ser colocada na boca do aluno. No Talmud em Eruvín 54b esse versículo é interpretado
como uma incumbência aos mestres, exigindo deles que revisem o tema em pauta até que seus alunos o compreendam na
totalidade. A passagem do Talmud prossegue, elogiando o Rabi Pereidá por ter repetido 400 vezes a um dos seus alunos cada
detalhe de uma matéria. Mas embora o exercício da paciência seja requerido de um mestre, às vezes é necessário que ele
demonstre irritação, conforme explicado na próxima Halachá.
261- O Derech Érets Zuta, Capítulo 2, declara: “Se você quer estudar, não diga ‘entendi’ quando não tiver entendido”. Vide
Avót ibid.
262- O Talmud conta em Meguilá 28a que o Rabi Iehudá Hanassí respondeu dessa maneira a um comentário do Rabi Iehoshua
ben Korchá.
263- Em Berachót 63b o Talmud ensina: “Quem se humilha pelas palavras da Torá, no final será engrandecido”. Segundo
o Rashi essa afirmação se refere a um aluno que questiona o seu mestre sempre que não entende algo, não se permitindo
intimidar pelo fato de que alguns dos seus colegas o ridicularizam por isso.
264- Avót 2:5.
265- A regra de que o mestre deve repetir pacientemente suas palavras, várias vezes se necessário, sem demonstrar irritação.
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Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
6. Não se deve formular perguntas ao mestre quando ׁשֹואלִ ין ֶאת ָה ַרב ּכְ ֶׁשּיִ ּכָ נֵ ס לַ ִּמ ְד ָרׁש
ֲ ֵאין.ו
ele está entrando na casa de estudos ,enquanto ele וְ ֵאין ַה ַּתלְ ִמיד.עַ ד ֶׁש ִּת ְתיַ ֵּׁשב ַּדעְ ּתֹו עָ לָ יו
270
não estiver concentrado.270 Enquanto ele não sentar וְ ֵאין.נּוח ַ ָׁשֹואל ּכְ ֶׁשּיִ ּכָ נֵ ס עַ ד ֶׁשּיִ ְתיַ ֵׁשב וְ י
ֵ
e sossegar os alunos não devem perguntar. Dois
[alunos] não devem fazer perguntas ao mesmo ׁשֹואלִ ין ֶאת ָה ַרב ֲ וְ ֵאין.ׁשֹואלִ ין ְׁשנַ יִ ם ּכְ ֶא ָחד ֲ
tempo. Não se deve perguntar ao mestre a respeito סּוקין
ִ ֲֵמעִ נְ יָ ן ַא ֵחר ֶאלָ א ֵמאֹותֹו ָהעִ נְ יָ ן ֶׁש ֵהן ע
de um assunto à parte ;só se deve fazer perguntas וְ יֵ ׁש לָ ַרב לְ ַה ְטעֹות271.ּבֹו ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ְת ַּבּיֵ ׁש
sobre o tema em pauta ,para não constrangê-lo.271 ַּוב ַּמעֲ ִׂשים272לֹותיו ָ ֶאת ַה ַּתלְ ִמ ִידים ִּב ְׁש ֵא
O mestre pode [deliberadamente] levar os alunos ּכְ ֵדי לְ ַח ְּד ָדן ּוכְ ֵדי ֶׁשּיֵ ַדע273עֹוׂשה ִּב ְפנֵ ֶיהםֶ ֶׁש
ao erro formulando perguntas272 e procedendo de
determinados modos diante deles,273 com o intuito de .ִאם זֹוכְ ִרים ֵהם ַמה ֶׁשּלִ ְּמ ָדם אֹו ֵאינָ ם זֹוכְ ִרים
afiar seus poderes de concentração e testar se eles se אֹותם
ָ לֹומר ֶׁשּיֵ ׁש לֹו ְרׁשּות לִ ְׁשאֹל ַ וְ ֵאין צָ ִריְך
lembram da matéria ensinada ou não. Desnecessário 274
.עֹוס ִקין ּבֹו ּכְ ֵדי לְ זָ ְרזָ ם
ְ ְּבעִ נְ יָ ן ַא ֵחר ֶׁש ֵאין
dizer que ele pode perguntar-lhes a respeito de um
assunto que não esteja em pauta com o objetivo de
estimulá-los.274
7. Não se deve formular uma pergunta em pé275 nem וְ ֵאין ְמ ִׁש ִיבין 275
ׁשֹואלִ ין ֵמעֻ ָמד
ֲ ֵאין.ז
266- Conforme Hilchót Deót 2:3: “A pessoa deverá se apresentar assim diante deles para admoestá-los, mas interiormente ela
deve se manter calma. Como alguém que se faz de furioso em um momento de ira mesmo que na realidade não esteja irado”.
267- Ketubót 103b.
268- Objetivando cultivar essa aura de respeito.
269- Isso não significa que o mestre deva ser exageradamente austero. O Talmud em Shabat (30b) conta que o Raba sempre
iniciava suas aulas contando algo engraçado. Depois das risadas dos alunos, ele iniciava a aula com serenidade.
270- Para não forçá-lo a responder impensadamente. Vide Tossefta San-hedrín cap. 7.
271- Esse conselho o Rabi Chia deu ao Rav após este ter feito uma pergunta ao Rabi Iehudá Hanassí a respeito de um assunto
não-relacionado (Shabat 3b).
272- Questionando acerca de assuntos não-relacionados, para ver se os alunos conseguem seguir a linha de raciocínio.
Berachót 43b relata que certa vez o Raba fez declarações contrárias aos ensinamentos dos sábios. O Talmud explica que ele
agiu assim para testar o conhecimento de seus alunos (vide Eruvín 13a para declarações semelhantes feitas pelo Rabi Akiva).
273- Por exemplo: em Chulín 43b está relatado que o Raba inspecionou um animal (para verificar se ele estava ou não Casher)
utilizando um método que contradizia os seus próprios ensinamentos. Também nesse caso a intenção era testar os alunos.
274- Para incitar a curiosidade e estimular o desejo de aprender.
275- As leis mencionadas nesta e na próxima Halachá, bem como nas Halachót anteriores, constam, em ordem diferente,
na Tossefta, San-hedrín, Capítulo 7.
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se deve responder em pé,276 nem de um lugar alto וְ ל ֹא ִמּגָ ב ַֹּה וְ ל ֹא ֵמ ָרחֹוק וְ ל ֹא276ֵמעֻ ָמד
nem de longe, nem detrás dos anciães.277 Só se deve ׁשֹואלִ ין ָה ַרב ֶאלָ א
ֲ וְ ֵאין277.חֹורי ַהּזְ ֵקנִ ים ֵ ֵמ ֲא
perguntar ao mestre a respeito de um assunto que ׁשֹואלִ ין ֶאלָ א
ֲ וְ ֵאין.קֹורין ּבֹו
278
ִ ָּבעִ נְ יָ ן ֶׁש ֵהן
esteja sendo estudado;278 é preciso usar de sobriedade
ao questioná-lo,279 e ao perguntar sobre um tema não יֹותר ִמ ָּׁשלׁש
ֵ וְ ל ֹא יִ ְׁש ַאל ָּבעִ נְ יָ ן279.ִמּיִ ְר ָאה
se deve exceder três Halachót. .ֲהלָ כֹות
8. [As regras que seguem se aplicam a quando] duas ָׁש ַאל ֶא ָחד ּכָ ִענְ יָ ן וְ ָׁש ַאל280 ְׁשנַ יִ ם ֶׁש ָּׁש ֲאלּו.ח
pessoas fazem perguntas simultaneamente:280 Se uma ַמעֲ ֶׂשה.ֶא ָחד ֶׁשּל ֹא ּכָ עִ נְ יָ ן נִ זְ ָק ִקין לָ עִ נְ יָ ן
pergunta for sobre o assunto em pauta e a outra não, 282
ֲהלָ כָ ה281.ּוׁש ֵאינֹו ַמעֲ ֶׂשה נִ זְ ָק ִקין לַ ַּמעֲ ֶׂשה ְ
deve-se priorizar a pergunta sobre o assunto em pauta;
[se uma pergunta for] sobre um assunto prático e a
284
ִמ ְד ָרׁש וְ ַאּגָ ָדה. נִ זְ ָק ִקין לַ ֲהלָ כָ ה283ּומ ְד ָרׁש ִ
outra sobre um [assunto] teórico, deve-se priorizar a ַאּגָ ָדה וְ ַקל וָ ח ֶֹמר נִ זְ ָק ִקין.נִ זְ ָק ִקין לַ ִּמ ְד ָרׁש
286 285
pergunta sobre o assunto prático.281 [Se uma pergunta נִ זְ ָק ִקין288 ַקל וָ ח ֶֹמר ּוגְ זֵ ָרה ָׁשוָ ה287.לַ ַּקל וָ ח ֶֹמר
for] sobre Halachá282 [e a outra sobre] Midrásh,283 ּׁשֹואלִ ים ְׁשנַ יִ ם ֶא ָחד ָחכָ ם ֲ ָהיּו ַה.לַ ַּקל וָ ח ֶֹמר
deve-se priorizar a pergunta sobre Halachá; [se uma
pergunta for] sobre Midrásh e a outra sobre Agadá,284
deve-se priorizar a pergunta sobre Midrásh.285 [Se
uma pergunta for] sobre Agadá e a outra sobre um
Kal Vachômer,286 deve-se priorizar a pergunta sobre o
Kal Vachômer;287 [se uma pergunta for] sobre um Kal
Vachômer e a outra sobre uma Guezerá Shavá,288 deve-
276- Pois sentada a pessoa fica mais tranquila. No entanto, Berachót 27b e Tossafót em Bechorót 36a mencionam casos em
que perguntas foram formuladas em pé. O Beit Hamélech explica que perguntas sobre assuntos que não requerem grande
concentração podem ser feitas em pé, mas sobre assuntos que requerem concentração é preciso que tanto o perguntador
quanto o mestre estejam sentados.
277- Por constituir falta de respeito.
278- O Késsef Mishnê assinala a aparente redundância entre essa afirmação e a declaração similar que consta na Halachá
anterior, e explica que na Halachá anterior o Rambam quis dizer que ao estudar as leis de Shabat, o estudante não deve fazer
perguntas sobre as leis das Festas (i.e. sobre um assunto diferente); ao passo que nesta Halachá, o Rambam ensina que mesmo
dentro do assunto geral das leis de Shabat, ao estudar as leis de uma Melachá (“ação proibida”), o estudante não deve fazer
perguntas referentes a outra Melachá (i.e. sobre um detalhe diferente).
279- Assim como recebemos a Torá no Monte Sinai com temor e reverência, também devemos imbuir o nosso estudo da Torá
de emoções similares (Berachót 22a).
280- O sábio da Torá tem obrigação de responder todas as perguntas que lhe são feitas, independentemente de quem for o
perguntador ou de que assunto se tratar. Assim, essa Halachá não descarta uma resposta a ser dada a uma pergunta específica,
mas estabelece as prioridades para as respostas serem dadas.
281- Já que a grandeza da Torá é que ela conduz à ação, conforme mencionado no Capítulo 3, Halachá 3, dá-se precedência a
perguntas diretamente relacionadas a ação.
282- Leis da Torá.
283- Interpretações de versículos da Torá.
284- Ensinamentos da Torá através de relatos éticos e metafísicos.
285- Embora o Midrásh não contenha leis práticas para o comportamento, ele está mais próximo da categoria Halachá do que
a Agadá (que contém ensinamentos mais pessoais e que exige um esforço maior para assimilar).
286- Kal Vachômer (literalmente: “leve e pesado”), indica um argumento a fortiori; é um dos treze princípios da exegese bíblica
enumerados pelo Rabi Ishmael na introdução ao Sifra. Trata-se de uma argumentação que emprega o seguinte raciocínio: Se
uma determinada rigorosidade puder ser aplicada a um caso normalmente leniente, ela certamente poderá ser aplicada a um
caso mais sério.
287- Como acima, embora o Kal Vachômer não trate de leis comportamentais práticas, ele está mais próximo da categoria
Halachá do que a Agadá.
288- Guezerá Shavá (“Analogia Verbal”) é outro dos treze princípios da exegese bíblica. Conforme este método específico,
quando houver duas palavras ou frases iguais em diferentes passagens da Torá, elas são consideradas interligadas e pode-se
aplicar as regras e leis de um versículo sobre o assunto do outro. Algumas restrições se aplicam ao uso desse princípio, com o
intuito de evitar conclusões infundadas. Por exemplo, ele só pode ser aplicado a casos transmitidos por tradição desde o Sinai;
portanto um sábio só pode aplicar uma Guezerá Shavá se a tiver aprendido do seu mestre.
Veshinantam | 18
Rambam: domingo Rambam: Hilchót Talmud Torá
se priorizar a pergunta sobre o Kal Vachômer. Se dos ַּתלְ ִמיד וְ עַ ם289.וְ ֶא ָחד ַּתלְ ִמיד נִ זְ ָק ִקין לֶ ָחכָ ם
dois questionadores um for sábio e outro for estudante, ְׁשנֵ ֶיהם ֲחכָ ִמים291. נִ זְ ָק ִקין לַ ַּתלְ ִמיד290ָה ָא ֶרץ
deve-se priorizar a pergunta do sábio;289 se um deles ְׁשנֵ ֶיהם ַּתלְ ִמ ִידים ְׁשנֵ ֶיהם עַ ֵּמי ָה ָא ֶרץ ָׁש ֲאלּו
for estudante e o outro for um sujeito simples,290 deve-
se priorizar a do estudante.291 No entanto, se ambos ְׁשנֵ ֶיהם ִּב ְׁש ֵּתי ֲהלָ כֹות אֹו ִּב ְׁש ֵּתי ְתׁשּובֹות אֹו
forem sábios, ambos estudantes ou ambos sujeitos ָה ְרׁשּות ְּביַ ד- ִב ְׁש ֵּתי ְׁש ֵאלֹות ְׁשנֵ י ַמעֲ ִׂשים
simples, se ambos questionarem leis da Torá, ou se . ֵמעָ ָּתה292ַה ְמ ַת ְרּגֵ ם
ambos questionarem determinações, ou se ambos
questionarem aprendizados, ou se ambos questionarem
atos práticos – desse ponto em diante, o Metarguêm292
tem a opção [de priorizar qualquer das perguntas].
9. Não é permitido dormir em uma casa de נַמנֵם ְ וְ כָ ל ַה ִּמ ְת293. ֵאין יְ ֵׁשנִים ְּב ֵבית ַה ִּמ ְד ָרׁש.ט
estudos.293 Quem cochila em uma casa de estudos ְּב ֵבית ַה ִּמ ְד ָרׁש ָחכְ ָמתֹו ֲנַע ֵׂשית ְק ָר ִעים
terá a sua sabedoria rasgada em pedaços.294 Isso 295
וְ כֵ ן ָא ַמר ְׁשֹלמֹה ְּב ָחכְ ָמתֹו294.ְק ָר ִעים
é depreendido das sábias palavras de Shelomó:295
“A sonolência vestirá o homem com trapos”. Não וְ ֵאין ְמ ִס ִיחין ְּב ֵבית."" ְּוק ָר ִעים ַּתלְ ִּביׁש נ ָּומה
é permitido conversar em uma casa de estudos a ֲא ִפּלּו ִמי296.ַה ִּמ ְד ָרׁש ֶאלָ א ְּב ִד ְב ֵרי ת ָֹורה ִּבלְ ָבד
não ser palavras da Torá.296 Até mesmo a alguém ְּב ֵבית298 ֵאין א ְֹומ ִרין לֹו ְ׳רפ ָּואה׳297ֶׁש ְּנִת ַע ֵּטׁש
que espirrar em uma casa de estudos297 não se deve 299
. ְׁש ָאר ַה ְּד ָב ִרים, וְ ֵאין צָ ִריְך ל ַֹומר.ַה ִּמ ְד ָרׁש
desejar: “Recupere-se!”.298 Nem é preciso mencionar מּורה ִמ ְּק ֻד ַּׁשת ָּב ֵּתי ָ ְּוק ֻד ַּׁשת ֵּבית ַה ִּמ ְד ָרׁש ֲח
que é proibido conversar sobre outros assuntos.299
A casa de estudos tem um nível de santidade mais
300
.כְ נֵ ִסּיֹות
elevado do que a sinagoga.300
•
289- Pois temos obrigação de respeitar e honrar os sábios da Torá (vide capítulo a seguir).
290- I.e. iletrado.
291- Embora um estudante não precise ser honrado da mesma forma que um sábio, a dedicação dele pelo estudo da Torá é
merecedora de respeito.
292- O “tradutor” ou “porta-voz” que repassa as perguntas ao mestre (vide Halachá 3).
293- Sucá 28a. O Talmud (Meguilá 28a) relata que os discípulos do Rabi Zeira perguntaram-lhe: “Que [hábito meritório] te
trouxe à longevidade”? Uma das razões que lhes deu foi que nunca tinha dormido (nem mesmo cochilado) dentro de uma
casa de estudos. O Shulchan Aruch (Orach Chaím 151:3) permite dormir dentro de uma casa de estudos. O Shulchan Aruch
Harav (Hilchót Talmud Torá 4:12) explica que essa leniência é aplicável a quem lá permanece dia e noite e não quer perder
tempo se deslocando até a sua casa.
294- I.e. a sua memória ficará deficiente e ele só conseguirá recordar o aprendido em determinados momentos (Rashi em San-
hedrín 71a).
295- Mishlei 23:21
296- Há duas razões para a proibição de conversar dentro de uma casa de estudos: (1) Para evitar desperdício de um tempo
que poderia ser usado para o estudo da Torá (vide Berachót 53a). (2) Como sinal de respeito para com a casa de estudos. De
acordo com esse raciocínio, conversas supérfluas são proibidas até quando não interrompem os estudos (vide Shulchan Aruch
Harav, Hilchót Talmud Torá 4:11).
297- Berachót (ibid.) conta que essa regra era observada na casa de estudos do Raban Gamliêl.
298- O equivalente talmúdico a “saúde!” em português.
299- Chaguigá 12b acrescenta que a pessoa que conversa sobre outros assuntos em uma casa de estudos merece engolir brasas
como punição.
300- Meguilá 27a. Vide Hilchót Tefilá, Capítulo 11, onde o Rambam trata em detalhes da santidade que as casas de estudo e
as sinagogas possuem, e relaciona diversas restrições comportamentais, determinadas a título de respeito (vide também Tur e
Shulchan Aruch, Orach Chaím 151). A maior santidade da casa de estudos está expressa na lei (Hilchót Tefilá, Halachá 14) de
que uma sinagoga pode ser convertida em casa de estudos – mas uma casa de estudos não pode ser convertida em sinagoga.
Veshinantam | 19
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
301- Shemót 20:12 preceitua: “ Teu pai e tua mãe honrarás”. Vaikrá 19:3 preceitua: “O homem deve temer a sua mãe e o seu
pai” (vide Hilchót Mamrím, Capítulo 6, a respeito dessas Mitsvót).
302- Todos os pormenores dessa Halachá se aplicam ao Rabó Hamuvhák, o mestre principal da pessoa, do qual ela tenha
aprendido a maior parte de seu conhecimento (Bava Metsia 33a). No entanto, qualquer mestre que tenha ensinado Torá a ela
merece uma medida de respeito (Halachá 9).
303- I.e. ele a gerou e a proveu de suas necessidades fundamentais.
304- A pessoa, quando estuda a Torá e executa as Mitsvót, conquista uma porção do Mundo Vindouro. O motivo trazido pelo
Rambam está fundamentado em Bava Metsia ibid. Em Keritót 28a consta uma outra razão: “Tanto ela quanto o pai dela são
obrigados a honrar o seu mestre”. O Rambam cita isso em seu Sefer Hamitsvót (Mitsvá Positiva 209).
305- Em seu Comentário à Mishná, Keritót 6:9, o Rambam equipara a remoção de uma carga à devolução de um objeto perdido
e ao resgate de uma pessoa do cativeiro, em todos os aspectos. Portanto, conforme explicado adiante, se o pai for também um
sábio em Torá, a ele deverá ser dada precedência. No entanto, o Késsef Mishnê explica que quando não há risco envolvido, mas
apenas honra, deverá ser dada precedência ao mestre, mesmo se o pai for um sábio em Torá de nível equivalente.
306- Vide Hilchót Matnót Aniím 8:10-18 a respeito dessa importante Mitsvá.
307- Mesmo se ele não se equiparar ao seu mestre (Késsef Mishnê).
308- A decisão a respeito da devolução de um objeto perdido é discutível, como explicado adiante. No entanto, no que diz
respeito ao resgate de cativos, todos concordam que, por estar se tratando de uma questão de vida ou morte, deve-se dar
prioridade ao pai se ele tiver conquistado algum nível de erudição.
Veshinantam | 20
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
que o seu mestre perdeu.309 Não há respeito maior וְ ֵאין לְ ָך ּכָ בֹוד ּגָ דֹול ִמּכְ בֹוד ָה ַרב וְ ל ֹא309.ַרּבֹו
que o respeito [devido] a um mestre, nem temor מֹורא ָ 310 ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים.ּמֹורא ָה ַרב ָ מֹורא ִמ ָ
[maior que] o temor [devido] a um mestre. Os sábios לְ ִפיכָ ְך ָא ְמרּו ּכָ ל.מֹורא ָׁש ַמיִ ם
312 311
ָ ְַר ָּבְך ּכ
declararam:310 “O teu temor pelo mestre deve ser
equivalente ao teu temor pelo Céu”.311 É por isso que .ַהחֹולֵ ק עַ ל ַרּבֹו ּכְ חֹולֵ ק עַ ל ַה ְּׁשכִ ינָ ה
313
309- Os comentaristas apontam para uma aparente contradição entre essa colocação e o que consta em Hilchót Aveidá 12:2:
“[A regra seguinte só se aplica quando] alguém encontrar um objeto perdido pertencente ao seu mestre e um objeto perdido
pertencente ao seu pai: Se o seu pai tiver nível equivalente ao do seu mestre, deve-se dar precedência ao [objeto perdido] do
seu pai. Caso contrário, a precedência é dada ao do seu mestre. Isso se aplica apenas ao mestre principal da pessoa, do qual
ela tenha aprendido a maior parte de seu conhecimento”. O texto de Bava Metsia (ibid.), que é a fonte dessa decisão, está mais
próximo do texto de Hilchót Aveidá. Segundo o Hagahót Maimoniót, o texto em pauta contém um erro de impressão. Mas fica
difícil aceitar essa conclusão, diante do que consta no Comentário à Mishná, Keritót ibid., onde o Rambam ensina que deve-se
dar precedência ao pai que é sábio em Torá, sem requerer que o pai tenha um nível maior que o mestre. O Léchem Mishnê
explica que o nosso texto se refere a uma situação em que é possível devolver os dois objetos perdidos, e a única dúvida é a
qual deles dar precedência. Já Hilchót Aveidá se refere a uma situação em que só é possível devolver um dos objetos perdidos.
310- Avót 4:12.
311- Comentando essa Mishná, o Rashi observa que o Talmud em Pessachím 22b equipara o respeito que se deve ter por um
sábio da Torá ao respeito que se deve ter por D-us.
312- San-hedrín 110a. Ao descrever o preceito de honrar um sábio em Torá, o Rambam cita o trecho inteiro que consta
no Sefer Hamitsvót, Mitsvá Positiva 209.
313- I.e. “coloca-se contra as decisões dele... ensinando e ministrando sentenças sem permissão dele” (Sefer Hamitsvót, ibid.;
vide Halachót a seguir).
314- Bamidbar 26:9.
315- Esse versículo descreve a revolta de Korach. Embora dirigida ostensivamente contra Moshé, a Torá a considerou uma
revolta contra o próprio D-us.
316- Bamidbar 20:13.
317- Bamidbar 20:1-3 descreve que, devido à falta de água, os judeus começaram a brigar com Moshé. Também essa revolta
D-us considerou como dirigida diretamente contra Ele, o próprio D-us.
318- Shemót 16:8.
319- Quando os judeus reclamaram a Moshé e Aharón da falta de comida, Moshé respondeu-lhes com essas palavras. Sobre
esse versículo a Mechilta comenta: “Quem fala contra os pastores do povo judeu é considerado como se falasse contra D-us”.
320- Explicando as declarações e os atos dele de forma desfavorável (Sefer Hamitsvót, ibid.).
321- Bamidbar 21:5.
322- Também nesse caso, o povo dirigiu suas reclamações da falta de comida e água a Moshé; no entanto, a Torá considerou
como dirigidas contra D-us.
323- Conforme mencionado no comentário sobre a Halachá anterior, a Halachá 9 declara: “A qual circunstância isso se aplica?
[Se aplica quando o falecido] tiver sido o [seu] mestre principal, quando tiver sido dele que [o discípulo] aprendeu a maioria
do seu conhecimento. Mas se não tiver aprendido dele a maioria do seu conhecimento, [o discípulo] é considerado como seu
aluno e colega e não tem obrigação de reverenciá-lo em todos esses aspectos”.
Veshinantam | 21
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
É alguém fundar um lugar de estudos e ali sentar, ֶׁשּל ֹא ִב ְרׁשּות324ּומלַ ֵּמד ְ דֹורׁש
ֵ ְיֹוׁשב ו
ֵ ְִמ ְד ָרׁש ו
explicar e ensinar Torá324 sem o consentimento וְ ַרּבֹו ַקּיָ ם וְ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ַרּבֹו ִּב ְמ ִדינָ ה325ַרּבֹו
326
de seu mestre,325 estando o seu mestre vivo326 –
mesmo ele se encontrando em outra nação.327 É
ִּב ְפנֵ י ַרּבֹו328 וְ ָאסּור לְ ָא ָדם לְ הֹורֹות327.ַא ֶח ֶרת
terminantemente proibido decidir um julgamento ּמֹורה ֲהלָ כָ ה ִּב ְפנֵ י ַרּבֹו ַחּיָבֶ וְ כָ ל ַה329.לְ עֹולָ ם
haláchico328 na presença do mestre.329 Quem decide 330
.ִמ ָיתה
um julgamento haláchico na presença de seu mestre
merece a morte.330
324- E emitir sentenças haláchicas. O Shulchan Aruch, Iorê Deá 242:7 (vide também Késsef Mishnê), explica que a proibição
incide apenas sobre a emissão de sentenças haláchicas sobre casos relacionados diretamente com a prática; sobre o ensino de
assuntos teóricos a proibição não recai.
325- San-hedrín 5b. Autorizada por seu mestre e desde que não diante dele, a pessoa pode emitir sentenças haláchicas.
326 É sinal de desrespeito pelo mestre colocar-se como uma autoridade do mesmo nível que ele. Eruvín 62b relata que
enquanto o Rav Huna vivia, seu discípulo Rav Chisda não emitia nenhuma sentença, nem a respeito de coisas óbvias como
mergulhar “um ovo em uma mistura de leite azedo e pão”. Após o falecimento do mestre as restrições são abolidas, só se
exigindo de quem for decidir sentenças haláchicas aptidão (vide Halachót 3 e 4).
327- Isso pode ser depreendido de Eruvín 63a, onde consta que o Rav Hamnuna não emitiu nenhuma sentença enquanto o
Rav Huna era vivo, muito embora morassem em cidades diferentes.
328- Mesmo tendo sido autorizado por ele a tomar decisões haláchicas em geral.
329- O Rambam definirá esse termo na Halachá seguinte. Ketubót 60b relata que, independentemente da questão do respeito
devido ao mestre, há um problema adicional. Influências espirituais podem levar ao erro o estudante que emite uma sentença
haláchica. O Maharík (Responsum 169) declara que o estudante que alcança um nível próximo ao do seu mestre pode fazer
julgamentos haláchicos até na presença dele. Ele cita diversas passagens talmúdicas onde figuram decisões que o Reish Lakísh
tomou diante do Rabi Iochanán (seu mestre).
330- Eruvín 63a explica que Nadáv e Avihú, filhos de Aharón, morreram por causa desse pecado (vide Vaikrá, Capítulo 10,
e Berachót 31b).
331- Cada Mil equivale a 2.000 Amót, aproximadamente 960 metros. Essa distância foi inferida da medição do acampamento
de Israêl no deserto. Lá, todas as questões haláchicas eram formuladas a Moshé, conforme se depreende de Shemót 33:7: “Todos
aqueles que buscavam Hashem iam à Tenda do Encontro” (Rashi, San-hedrín 5b; vide também Hilchót San-hedrín 20:9).
Shemót, Capítulo 18, relata como Moshé nomeou juízes para emitir sentenças haláchicas sobre casos que não requeriam o
conhecimento dele. Eles puderam emitir sentenças por terem sido nomeados por Moshé por decreto Divino.
332- Mesmo não tendo sido autorizada por ele, conforme explicado adiante.
333- Quer ele esteja presente, quer ele se encontre em um raio de doze Mil.
334- Eruvín 63a conta que certa vez, em um Shabat, o Ravina estava na presença do Rav Ashi, seu mestre, quando viu um
indivíduo amarrando seu burro a uma tamareira. A princípio, ele gritou [para avisá-lo que era Shabat e que isso era proibido].
Na falta de resposta, o Ravina decidiu então afastá-lo da comunidade através de um Nidui. Vendo isso, o Rav Ashi interpelou
o seu discípulo, achando que ele estava agindo com desrespeito. Então o Ravina explicou que como o caso envolvia uma
transgressão (fazer uso de uma árvore em Shabat), ele se viu na obrigação de tomar essas medidas.
335- Eruvín (ibid.) depreende isso de Mishlei 21:30: “Não há sabedoria, nem entendimento, nem conselho contra D-us”. A
honra do mestre deriva da honra da Torá e da honra de D-us. Portanto, em todos os casos, é dada prioridade à Torá.
Veshinantam | 22
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
situações isso se aplica?336 A situações ocasionais.337 ֲא ָבל337. ְּב ָד ָבר ֶׁש ְּנִק ָרא ִמ ְק ֶרה336?מּורים ִ ֲא
Mas qualificar a si mesmo como autoridade em יׁשב ּולְ הֹורֹות לְ כָ ל ֵ ֵהֹור ָאה וְ ל
ָ ְלִ ְקּבֹעַ עַ צְ מֹו ל
matéria de Halachá, para sentar e responder a todos ׁשֹואל ֲא ִפּלּו הּוא ְּבסֹוף ָהעֹולָ ם וְ ַרּבֹו ְּבסֹוף ֵ
que buscam orientação, é proibido – mesmo estando
em um lado do mundo e o mestre no outro –,338 até ָהעֹולָ ם ָאסּור לֹו לְ הֹורֹות עַ ד ֶׁשּיָ מּות ַרּבֹו
338
a morte do mestre, a não ser que o mestre lhe tenha וְ ל ֹא כָ ל ִמי.ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן נָ ַטל ְרׁשּות ֵמ ַרּבֹו
concedido permissão. Nem todo discípulo cujo ּתֹורה
ָ יׁשב ּולְ הֹורֹות ַּב ֵ ֵֶׁש ֵּמת ַרּבֹו ֻמ ָּתר לֹו ל
mestre morreu pode sentar e decidir julgamentos 339
.הֹור ָאה
ָ ְֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ָהיָ ה ַתלְ ִמיד ֶׁש ִהּגִ יעַ ל
haláchicos; só poderá fazê-lo quem tiver alcançado
o nível de decidir julgamentos.339
4. Todo estudante que não tiver alcançado o nível ּומֹורה ֶ הֹור ָאה ָ ְ וְ כָ ל ַּתלְ ִמיד ֶׁשּל ֹא ִהּגִ יעַ ל.ד
de decidir julgamentos mas o faz é considerado tolo, רּוח וְ עָ לָ יו
340
ַ ׁשֹוטה ָר ָׁשע וְ גַ ס ֶ ֲה ֵרי זֶ ה
perverso e arrogante;340 sobre ele está dito:341 “Muitos וְ כֵ ן."נֶ ֱא ַמר "ּכִ י ַר ִּבים ֲחלָ לִ ים ִה ִּפילָ ה 341
mortos ela abortou etc.” Já o sábio que tiver alcançado
o nível de decidir julgamentos haláchicos mas se מֹורה ֲה ֵרי זֶ ה ֶ הֹור ָאה וְ ֵאינֹו ָ ְָחכָ ם ֶׁש ִהּגִ יעַ ל
abstém de fazê-lo, impede [a propagação da] Torá
342
,נֹותן ִמכְ ׁשֹולֹות לִ ְפנֵ י ָהעִ וְ ִריםֵ ְּתֹורה ו
ָ ַמֹונֵ ע
e coloca obstáculos diante do cego;342 sobre ele está ֵאּלּו344." "וַ עֲ צֻ ִמים ּכָ ל ֲה ֻרגֶ ָיה343וְ עָ לָ יו נֶ ֱא ַמר
dito:343 “Atsumím (‘inúmeras’) são as suas vítimas”.344 תֹורה ּכָ ָראּוי ָ ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַה ְּק ַטּנִ ים ֶׁשּל ֹא ִה ְרּבּו
Esses estudantes miúdos, que não acumularam וְ ֵהם ְמ ַב ְּק ִׁשים לְ ִה ְתּגַ ֵּדל ִּב ְפנֵ י עַ ֵּמי ָה ָא ֶרץ ֵּובין
conhecimento da Torá suficiente, procuram ganhar
prestígio aos olhos dos iletrados e dos habitantes יֹוׁש ִבין ָּברֹאׁש לָ ִדין ְ ְקֹופצִ ין וְ ְַאנְ ֵׁשי עִ ָירם ו
das suas cidades passando por cima [dos outros] ֹלקת ֶ ּולְ הֹורֹות ְּביִ ְׂש ָר ֵאל ֵהם ַה ַּמ ְר ִּבים ַה ַּמ ֲח
para sentar na cabeceira de todas as questões de וְ ֵהם ַה ַּמ ֲח ִר ִיבים ֶאת ָהעֹולָ ם וְ ַה ְּמכַ ִּבים נֵ ָרּה
julgamentos haláchicos em Israêl. Eles disseminam 346
. ּכֶ ֶרם ה' צְ ָבאֹות345ּתֹורה וְ ַה ְּמ ַח ְּבלִ ים ָ ֶׁשל
controvérsias, destroem o mundo, extinguem a luz "א ֱחזּו לָ נּו ֶ 347
עֲ לֵ ֶיהם ָא ַמר ְׁשֹלמֹה ְּב ָחכְ ָמתֹו
da nossa Torá e estragam345 o vinhedo do Hashem
das hostes.346 Sobre eles Shelomó declarou na ."ֻׁשעָ לִ ים ֻׁשעָ לִ ים ְק ַטּנִ ים ְמ ַח ְּבלִ ים ּכְ ָר ִמים
sua sabedoria:347 “Segurai as raposas para nós, as
pequenas raposas que estragam os vinhedos, pois as
nossas vinhas estão florescendo”.
336- Isso se refere à primeira frase, que menciona a licença de decidir um julgamento haláchico fora da presença do mestre.
337- Por essa ser uma ocorrência casual e o seu mestre não estar presente, a resposta do aluno não é considerada como sendo
desrespeitosa.
338- I.e. a distância geográfica não é um fator.
339- Avodá Zará 19b exige de um estudante a idade mínima de 40 anos para considerá-lo apto a proferir sentenças haláchicas.
340- O Rambam baseia essas declarações em Avót 4:9, que usa esses adjetivos para descrever uma pessoa que “emite sentenças
haláchicas”. Em seu comentário sobre essa Mishná, o Rambam diz que isso se aplica a quem “não se preocupa ao proferir uma
sentença e o faz sem medo ou consideração apropriada”.
341- Mishlei 7:26.
342- O Rambam obviamente não se refere a pessoas fisicamente cegas. Ele chama de cegas as ignorantes ou espiritualmente
deficientes, conforme explicado na interpretação do versículo em Vaikrá 19:14: “Diante do cego não ponhas obstáculo”.
343- Ibid.
344- O termo Atsumím (“inúmeras”) é relacionado a Atsum (“fechar os olhos”) (Késsef Mishnê).
345- O Késsef Mishnê assinala que embora o Mishnê Torá tenha sido composto como uma obra perene de Halachá, a dureza
das críticas do Rambam aqui pode ter resultado da prevalência, na sua época, de estudantes desqualificados que buscavam
posições rabínicas.
346- I.e. o povo de Israêl (vide Ieshaiáhu 5:7).
347- Shir Hashirím 2:15.
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nome,348 mesmo se o mestre não estiver presente. וְ הּוא ֶׁשיִ ְהיֶ ה ַה ֵּׁשם ֶּפלִ אי.וַ ֲא ִפּלּו ֶׁשּל ֹא ְּב ָפנָ יו
Nem deve mencionar o seu nome diante dele, וְ ל ֹא יַ זְ ּכִ יר350.ּׁשֹומ ַע יֵ ַדע ֶׁשהּוא ְּפלֹונִ י
ֵ ֶׁשּכָ ל ַה
até quando se referir a algum homônimo – assim וַ ֲא ִפּלּו לִ ְקרֹות לַ ֲא ֵח ִרים ֶׁש ְּׁש ָמם.ְׁשמֹו ְב ָפנָ יו
como com relação ao nome de seu pai. O que ele
deverá fazer é usar outros nomes ao referir-se a ֶאלָ א.עֹוׂשה ְּב ֵׁשם ָא ִביו ֶ ּכְ ֶד ֶרְך ֶׁש,ּכְ ֵׁשם ַרּבֹו
homônimos, mesmo após a morte deles.349 Isso se וְ ל ֹא349.מֹותם ָ יְ ַׁשּנֶ ה ְׁש ָמם וַ ֲא ִפּלּו לְ ַא ַחר
aplica no caso de um nome incomum, quando todos יִ ֵּתן ָׁשלֹום לְ ַרּבֹו אֹו יַ ֲחזִ יר לֹו ָׁשלֹום ּכְ ֶד ֶרְך
sabem a quem se está referindo.350 [O discípulo] não ֶאלָ א351.ּומ ֲחזִ ִירים זֶ ה לָ זֶ ה ַ ּנֹותנִ ים לְ ֵרעִ ים
ְ ֶׁש
deve cumprimentar o seu mestre ou responder a אֹומר לֹו ְּביִ ְר ָאה וְ כָ בֹוד ֵ ְׁשֹוחה לְ ָפנָ יו ו
352
ֶ
uma saudação dele da mesma maneira que amigos
costumam trocar cumprimentos.351 O que ele deve וְ ִאם נָ ַתן לֹו ַרּבֹו ָׁשלֹום.ָ׳ׁשלֹום עָ לֶ יָך ַר ִּבי׳
353
6. Similarmente, [o discípulo] não deve remover וְ ל ֹא354. וְ כֵ ן ל ֹא יַ ֲחֹלץ ְּת ִפּלָ יו לִ ְפנֵ י ַרּבֹו.ו
os Tefilín diante do mestre354 nem reclinar-se na 356
.יֹוׁשב לִ ְפנֵ י ַה ֶּמלֶ ְך
ֵ ְיֹוׁשב ּכ ֵ ֶאלָ א355יָ ֵסב
presença dele,355 mas deve sentar-se diante dele como
וְ ל ֹא לְ ַא ַחר ַרּבֹו357וְ ל ֹא יִ ְת ַּפּלֵ ל ל ֹא לִ ְפנֵ י ַרּבֹו
alguém que se senta diante de um rei.356 [O discípulo]
não deve rezar nem diante de seu mestre,357 nem לֹומר ֶׁש ָאסּור ַ וְ ֵאין צָ ִריְך358.וְ ל ֹא ְּבצַ ד ַרּבֹו
atrás dele, nem do lado dele.358 Desnecessário dizer יִ ְת ַר ֵחק לְ ַא ַחר360 ֶאלָ א359.לֹו לְ ַהּלֵ ְך ְּבצִ ּדֹו
que não pode caminhar ladeando-o.359 O que ele חֹוריו וְ ַא ַחר ּכָ ְך ָ ַרּבֹו וְ ל ֹא יְ ֵהא ְמכֻ ּוָ ן ּכְ נֶ גֶ ד ֲא
deve fazer360 é se distanciar de seu mestre sem ficar 362
. וְ ל ֹא יִ ּכָ נֵ ס עִ ם ַרּבֹו לְ ֶּמ ְר ָחץ361.יִ ְת ַּפּלֵ ל
diretamente atrás dele, e então rezar.361 Não se deve
348- O Talmud em San-hedrín 100a chama uma pessoa assim de Apikores (“herege”). Segundo o Rashi, é preciso acrescentar
uma frase descritiva antes de mencionar o nome de um mestre, a exemplo de Iehoshua (Bamidbar 11:28), que disse: “Meu
mestre Moshé, aprisione-os”. Cf. Hilchót Mamrím 6:3, que descreve a reverência que se deve ter pelo pai: “Ele não deve ser
chamado pelo nome, nem em vida nem após a sua morte; o que se deve usar é ‘Meu pai, meu mestre’”.
349- Conforme consta em Hilchót Mamrím (ibid.): “Se o nome do pai ou do mestre se assemelhar ao nome de outrem, deve-
se alterar o nome deles”. Encontramos um exemplo disso no Talmud. O nome do Abaie era na verdade Nachmani; foi o seu
mestre, o Raba, que criou um nome diferente para ele, por ser homônimo a seu pai (Haaruch).
350- Hilchót Mamrim (ibid.) continua: “A meu ver só se deve cuidar desse detalhe quando for o caso de um nome diferenciado...
Mas se for um nome popular, tal como Avraham, Itschak, Iaakov ou Moshé... é permitido chamar outrem por esse nome,
desde que fora da presença dele”.
351- Berachót 27b declara: “Quem saúda o seu mestre faz com que a Presença Divina se afaste de Israêl”. Segundo o Rashi, isso
se refere a saudá-lo de um jeito trivial, sem demonstrar reverência.
352- Essa prática é mencionada em Sofrím 18:5.
353- Bava Kama 73b declara que é impróprio a um estudante saudar o mestre, como se depreende de Ióv 29:8: “Os moços me
viram e se esconderam”.
354- O Késsef Mishnê cita San-hedrín 101b, que proíbe remover os Tefilín na presença de um rei, como fonte dessa Halachá,
uma vez que Horaiót 13a determina que um sábio da Torá merece mais honra que um rei.
355- Em Hilchót Chamêts Umatsá 7:8 o Rambam menciona que essa proibição incide até na noite do Seder, quando é Mitsvá
reclinar (Pessachím 108a).
356- Pois, como mencionado em Horaiót (ibid.), um sábio da Torá merece a maior honra.
357- Pois ficar de costas para o mestre demonstra falta de respeito; portanto é proibido enquanto o mestre puder enxergá-lo
(Beit Iossêf, Orach Chaím 90, Shulchan Aruch 90:24).
358- O Rashi (em Berachót 27a) explica que se posicionar ao lado do mestre demonstra orgulho, implicando um grau de
equivalência com o mestre. No Shulchan Aruch, Iorê Deá 242:16, consta que a uma distância maior do que quatro Amót dele
não é proibido ficar.
359- Em Iomá 37a consta: “Quem anda à direita do seu mestre é mal-educado” (cf. Capítulo 6, Halachá 5).
360- Ao rezar ou caminhar (Shulchan Aruch, Iorê Deá ibid.).
361- I.e. ficando ligeiramente ao lado e atrás dele.
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entrar em uma casa de banhos junto do mestre,362 וְ ל ֹא יַ כְ ִריעַ ְּד ָב ָריו363.וְ ל ֹא יֵ ֵׁשב ִּב ְמקֹום ַרּבֹו
nem sentar-se no lugar em que ele se senta.363 Não וְ ל ֹא יֵ ֵׁשב לְ ָפנָ יו. וְ ל ֹא יִ ְסּתֹר ֶאת ְּד ָב ָריו.ְּב ָפנָ יו
se deve contrariar as suas decisões na presença dele וְ ל ֹא יַ עֲ מֹד ִמּלְ ָפנָ יו עַ ד364.ֹאמר לֹו ֵׁשב ַ עַ ד ֶׁשּי
nem contestar as suas palavras. Não se deve sentar
diante dele enquanto ele não disser: “Sente-se”.364
365
.ֹאמר לֹו עֲ מֹד אֹו עַ ד ֶׁשּיִ ּטֹל ְרׁשּות לַ עֲ מֹד ַ ֶׁשּי
Não se deve ficar em pé diante dele enquanto ele não
366
חֹוריו
ָ ּוכְ ֶׁשּיִ ָּפ ֵטר ֵמ ַרּבֹו ל ֹא יַ ֲחזִ יר לֹו לַ ֲא
disser: “Levante-se”, ou até que se receba permissão 367
.חֹוריו ָּופנָ יו ּכְ נֶ גֶ ד ָּפנָ יו
ָ ֶאלָ א נִ ְר ָּתע לַ ֲא
para levantar-se.365 Ao se afastar não se deve dar as
costas ao mestre.366 O que se deve fazer é andar para
trás permanecendo voltado para ele.367
7. A pessoa deve ficar em pé diante de seu mestre וְ ַחּיָב לַ עֲ מֹד ִמ ְּפנֵ י ַרּבֹו ִמ ֶּׁשּיִ ְר ֶאּנּו ֵמ ָרחֹוק.ז
desde quando a sua vista a alcançar até quando וְ ל ֹא יִ ְר ֶאה368ְמל ֹא עֵ ינָ יו עַ ד ֶׁשּיִ ְתּכַ ֶּסה ִמ ֶּמּנּו
ele [sair do seu campo de visão e] ficar oculto,368 e
וְ ַחּיָב ָא ָדם לְ ַה ְק ִּביל.קֹומתֹו וְ ַא ַחר ּכָ ְך יֵ ֵׁשב ָ
a figura dele não for mais visível. [Só] então [ela]
poderá sentar. É obrigatório visitar o mestre durante
369
.ְּפנֵ י ַרּבֹו ָּב ֶרגֶ ל
as Festas.369
8. Não se deve mostrar deferência a um discípulo ֵאין חֹולְ ִקין ּכָ בֹוד לְ ַתלְ ִמיד ִּב ְפנֵ י ַרּבֹו.ח
na presença de seu mestre, a não ser que o próprio וְ כָ ל370.ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ֶּד ֶרְך ַרּבֹו לַ ְחֹלק לֹו ּכָ בֹוד
mestre tenha também o costume de honrá-lo.370 Um עֹוׂשה
ֶ עֹוׂשה לְ ַרּבֹו ַּתלְ ִמיד ֶ ַה ְמלָ אכֹות ֶׁש ָהעֶ ֶבד
discípulo deve prestar para o seu mestre todo tipo
de serviço que um escravo realiza para o seu amo.371 וְ ִאם ָהיָ ה ְּב ָמקֹום ֶׁש ֵאין ַמּכִ ִירין אֹותֹו371.לְ ַרּבֹו
[Mas] se [o discípulo] se encontrar em um lugar ֹאמרּו עֶ ֶבד ְ וְ ָחׁש ֶׁש ָּמא י372וְ ל ֹא ָהיּו לֹו ְּת ִפּלִ ין
onde não é conhecido e não estiver de Tefilín,372 e 374
. ֵאינֹו נֹועֵ ל לֹו ִמנְ עָ לֹו וְ ֵאינֹו חֹולְ צֹו373הּוא
temer que as pessoas digam: “Ele é um escravo”,373 וְ כָ ל ַהּמֹונֵ עַ ַּתלְ ִמידֹו ִמּלְ ַׁש ְּמׁשו מֹונֵ עַ ִמ ֶּמּנּו
[nesse caso] ele não precisa calçar sapatos [nos pés וְ כָ ל375.ּופֹורק ִמ ֶּמּנּו יִ ְר ַאת ָׁש ַמיִ ם ֵ ֶח ֶסד
de seu mestre] nem removê-los [dos pés dele].374
Quem desobriga um discípulo de servi-lo sonega ּגֹורם ֵ ַּתלְ ִמיד ֶׁש ְּמזַ לְ זֵ ל ָד ָבר ִמּכָ ל ּכְ בֹוד ַרּבֹו
dele a bondade e remove dele o temor ao Céu.375
376
.לַ ְּׁשכִ ינָ ה ֶׁש ִּת ְס ַּתּלֵ ק ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל
362- Pessachím 51a. Pois ficar perto dele sem roupas não é respeitoso. Mas se o mestre pedir a sua ajuda é permitido, conforme
o Rambam ensina em Hilchót Issurei Biá 21:16.
363- Kidushín 31b. Declarações similares podem ser encontradas em Hilchót Mamrím 6:3.
364- O Midrásh Rabá (Ruth 4:2) faz declarações similares, baseado nas instruções de Boáz aos anciãos de Beit Lechem.
365- Vide Avodá Zará 19a.
366- Pois ficar de costas para o mestre não é respeitoso.
367- Iomá 53a relata que assim faziam os sacerdotes e levitas quando concluíam o serviço no Templo Sagrado, e que esse
costume deve ser observado pelos discípulos ao se afastarem de seus mestres.
368- Kidushín 33a.
369- Sucá 27b.
370- Quando o próprio mestre demonstra respeito pelo estudante, ele não se sentirá afrontado se outros agirem assim
(Rashi, Bava Batra 119b).
371- Ketubót 96a.
372- Naqueles tempos os homens tinham o costume de ficar o dia inteiro de Tefilín.
373- I.e. um “escravo canaanita”, que não é considerado um judeu de pleno direito. Não estar de Tefilín pode causar essa
impressão, uma vez que vestir os Tefilín é uma das Mitsvót que “escravos canaanitas” estão dispensados de cumprir.
374- I.e. ele fica liberado da execução de todas as tarefas de criadagem que possam criar essa impressão.
375- Um homem sábio se distingue não só por suas realizações intelectuais, mas pela maneira com que o seu conhecimento se
reflete em seu comportamento diário (Hilchót Deót, Capítulo Cinco). Quando um discípulo tem a oportunidade de apreciar
não só os dons intelectuais do seu mestre, mas a totalidade do seu comportamento, ele se torna consciente de como um estilo
de vida baseado na Torá é um compromisso abrangente, afetando todos os aspectos da sua atividade diária. Isso o leva a um
sentimento de reverência por D-us.
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9. [Um discípulo] que vê o seu mestre transgredindo אֹומר לֹו ֵ תֹורה ָ עֹובר עַ ל ִּד ְב ֵרי ֵ ָר ָאה ַרּבֹו.ט
alguma instrução da Torá deve dizer a ele: “O וְ כָ ל זְ ַמן ֶׁש ַּמזְ ּכִ יר377.לִ ַּמ ְד ָּתנּו ַר ֵּבנּו ּכָ ְך וְ ּכָ ְך
senhor, nosso mestre, nos ensinou tal e tal”.377 Toda 378
.אֹומר לֹו ּכָ ְך לִ ַּמ ְד ָּתנּו ַר ֵּבנּו
ֵ ְׁשמּועָ ה ְּב ָפנָ יו
vez que mencionar algum ensinamento diante dele,
[o discípulo] deve dizer: “É isso o que o senhor nos ֹאמר ָּד ָבר ֶׁשּל ֹא ָׁש ַמע ֵמ ַרּבֹו עַ ד ֶׁשּיַ זְ ּכִ יר ַ וְ ַאל י
ensinou, nosso mestre’”.378 Só se pode mencionar קֹורעַ ּכָ ל ְּבגָ ָדיו ֵ ּוכְ ֶׁשּיָ מּות ַרּבֹו.אֹומרֹו
379
ְ ֵׁשם
um conceito que não tenha sido dito pelo mestre se עַ ד ֶׁשהּוא ְמגַ ּלֶ ה ֶאת לִ ּבֹו וְ ֵאינֹו ְמ ַא ֶחה
380
o nome do autor for citado.379 Quando um mestre מּורים? ְּב ַרּבֹו ֻמ ְב ָהק ִ ּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא.ם ַ ָלְ עֹול
falece, [o discípulo] deve rasgar todas as roupas até
ֲא ָבל ִאם ל ֹא לָ ַמד.ֶׁשּלָ ַמד ִמ ֶּמּנּו רֹב ָחכְ ָמתֹו
deixar o coração à mostra.380 E nunca deve remendá-
las. A qual circunstância isso se aplica? A quando ִמ ֶּמּנּו רֹב ָחכְ ָמתֹו ֲה ֵרי זֶ ה ַּתלְ ִמיד ָח ֵבר וְ ֵאינֹו
ele tiver sido o [seu] mestre principal, a quando עֹומד
ֵ ֲא ָבל.ַחּיָב ִּבכְ בֹודֹו ְּבכָ ל ֵאּלּו ַה ְּד ָב ִרים
tiver sido dele que [o discípulo] aprendeu a maioria ַקֹורע
ֵ ּכְ ֵׁשם ֶׁשהּוא382קֹורעַ עָ לָ יו ֵ ְ ו381ִמּלְ ָפנָ יו
do seu conhecimento. Mas se não tiver aprendido 383
.עַ ל ּכָ ל ַה ֵּמ ִתים ֶׁשהּוא ִמ ְת ַא ֵּבל עֲ לֵ ֶיהם
dele a maioria do seu conhecimento, [o discípulo]
ֲא ִפּלּו ל ֹא לָ ַמד ִמ ֶּמּנּו ֶאלָ א ָּד ָבר ֶא ָחד ֵּבין ָק ָטן
é considerado como seu aluno e colega e não tem
obrigação de reverenciá-lo em todos esses aspectos,
385
.קֹורעַ עָ לָ יו
ֵ ְעֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ו
ֵ 384ֵּבין ּגָ דֹול
devendo no entanto levantar-se diante dele381 e
rasgar as roupas [quando de sua morte],382 como o
faria por qualquer falecido a que tivesse obrigação
de se enlutar.383 Mesmo tendo aprendido dele apenas
376- Berachót 27b faz essa afirmação com relação a alguém que reza atrás de seu mestre ou que o saúda de um jeito trivial (vide
Halachót 5 e 6.) O Rambam extrapola que o conceito também se aplica no que diz respeito a outras atitudes desrespeitosas
para com o mestre.
377- Kidushín 32a traz declarações similares relacionadas a quando se vê o pai transgredindo a lei da Torá. O Rambam
infere que um conceito similar é aplicável ao caso de um mestre violando uma lei (Késsef Mishnê). Outra possível fonte
é Berachót 16a-b, que cita os discípulos do Raban Gamliêl repreendendo-o dessa maneira depois de uma série de atitudes que
pareciam contradizer os seus ensinamentos.
378- San-hedrín 99b declara: “Quem é considerado Apikores (‘herege’)? É quem se encontra diante de seu mestre e faz um
comentário assim: ‘É isso o que consta lá a respeito dessa matéria’, ao invés de dizer: ‘É isso o que o senhor nos ensinou,
nosso mestre’”. Moêd Katán 7b traz o Rabi Chia mencionando um ensinamento perante o Rabi Iehudá Hanassí, seu mestre, e
introduzindo as suas palavras com a frase: “É isso o que o senhor nos ensinou, nosso mestre”.
379- Berachót 27b. Em geral é altamente recomendável citar o nome do autor de um conceito (Meguilá 15a: “Quem conta
uma citação mencionando o nome do autor traz redenção para o mundo”), mas nesse caso é obrigatório que o discípulo
o faça, para que ninguém assuma que o ensinamento tenha partido do seu mestre. O Talmud Ierushalmi (Berachót 2:1)
conta o seguinte episódio: Enquanto caminhava apoiado no Rabi Iaakov bar Idi, o Rabi Iochanán comentou desgostoso que
um discípulo seu, o Rabi Eliezer, nunca fazia declarações citando o seu nome. O Rabi Iaakov retrucou-lhe que havia um
precedente para esse comportamento: o Rabi Meir, que contava ensinamentos em nome do Rabi Ishmael, mas nunca em
nome de seu mestre, o Rabi Akiva. O Rabi Iochanán retrucou que não havia nada de errado com isso, pois todos sabiam que o
Rabi Meir era discípulo do Rabi Akiva e que a maior parte dos seus ensinamentos partiram dele. Então o Rabi Iaakov explicou
que a mesma ideia se aplicava ao caso do Rabi Iochanán: “Todos sabem que o Rabi Eliezer é teu discípulo, e que a maior parte
dos ensinamentos dele partiram de você”!
380- Vide Hilchót Ével 8:3, 9:2 e Moêd Katán 22b e 26a.
381- Quando ele estiver a menos de quatro Amót de distância (Késsef Mishnê).
382- Bava Metsia 33a louva os estudantes da Babilônia por demonstrarem esse nível de respeito pelos colegas.
383- I.e. por um irmão, irmã, cônjuge, filho, filha e pais.
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10. Todo estudioso de caráter adequado386 jamais ֵאינֹו386עֹותיו ְמכֻ ּוָ נֹותָ וְ כָ ל ַּתלְ ִמיד ָחכָ ם ֶׁש ֵּד.י
deve falar perante alguém que seja mais sábio do que 387
ְמ ַד ֵּבר ִּב ְפנֵ י ִמי ֶׁשהּוא ּגָ דֹול ִמ ֶּמּנּו ְּב ָחכְ ָמה
ele,387 mesmo não tendo aprendido nada dele. .ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא לָ ַמד ִמ ֶּמּנּו ּכְ לּום
11. Um mestre principal pode, se quiser, abrir mão 388
ֹ ָה ַרב ַה ֻּמ ְב ָהק ֶׁש ָרצָ ה לִ ְמחֹל עַ ל ּכְ בֹודו.יא
da sua honra em relação a todos esses aspectos ou
388
לְ כָ ל389ְּבכָ ל ַה ְּד ָב ִרים ָה ֵאּלּו אֹו ְּב ֶא ָחד ֵמ ֶהם
a [apenas] um deles,389 a todos os seus discípulos ou וְ ַאף. ָה ְרׁשּות ְּביָ דֹו390ַּתלְ ִמ ָידיו אֹו לְ ֶא ָחד ֵמ ֶהן
a [apenas] um deles.390 [No entanto], mesmo tendo
ele dispensado [a honra], o discípulo tem obrigação וַ ֲא ִפּלּו391עַ ל ִּפי ֶׁש ָּמ ַחל ַחּיָב ַה ַּתלְ ִמיד לְ ַה ְּדרֹו
de respeitá-lo391 até no momento em que ele abrir
392
.ְּב ָׁש ָעה ֶׁש ָּמ ַחל
mão [da sua honra].392
12. Assim como os discípulos devem respeitar o ּכְ ֵׁשם ֶׁש ַה ַּתלְ ִמ ִידים ַח ִּיָבין ִּבכְ בֹוד ָה ַרב ּכָ ְך.יב
seu mestre, também o mestre deve respeitar os seus 393
.ָה ַרב צָ ִריְך לְ כַ ֵּבד ֶאת ַּתלְ ִמ ָידיו ּולְ ָק ְר ָבן
discípulos e aproximá-los.393 Os sábios declararam o ׳יְ ִהי ּכְ בֹוד ַּתלְ ִמ ְידָך394ּכָ ְך ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים
seguinte:394 “Que a honra dos teus alunos te seja tão
apreciada quanto a tua própria”.395 A pessoa deve ser וְ צָ ִריְך ָא ָדם לְ ִהּזָ ֵהר395.ָח ִביב עָ לֶ יָך ּכְ ֶׁשּלְ ָך׳
cuidadosa com os seus discípulos e ter amor por eles, ַה ְּמ ַהּנִ ים396 ֶׁש ֵהם ַה ָּבנִ ים.ְּב ַתלְ ִמ ָידיו ּולְ ָא ֳה ָבם
pois eles são como filhos396 que lhe trazem prazer 398
. וְ לָ עֹולָ ם ַה ָּבא397לָ עֹולָ ם ַהּזֶ ה
neste mundo397 e no Mundo Vindouro.398
384- Pirkei Avót 6:3 declara: “Quem aprende de um colega um único capítulo, uma única lei, um único versículo... ou uma
única letra, deve render-lhe honra. Pois encontramos que David, rei de Israêl, aprendeu apenas duas coisas de Achitófel, e no
entanto ele o chamou de ‘seu mestre, seu guia e seu mentor’”.
385- Bava Metsia 33a conta que quando um aluno do sábio Shemuel faleceu ele rasgou a sua roupa, pois tinha aprendido desse
aluno um ensinamento.
386- I.e. que tenha adestrado o seu intelecto e as suas emoções adequadamente (Rambam, Comentário à Mishná, Avót 5:6).
387- Pirkei Avót 5:7 declara: “Sete são os traços que caracterizam o ignorante e sete [são os traços que caracterizam o] sábio.
O sábio não fala na presença de alguém mais sábio que ele”.
388- Kidushín 32a relata uma diferença de opiniões entre os sábios a respeito desse assunto. Para o Rav Chisda um mestre
não tem o direito de abrir mão da sua honra, porque a honra não é devida à pessoa dele, mas à Torá. Já o Rav Iossêf considera
que o mestre tem direito de renunciar à honra que lhe é devida pois uma vez tendo assimilado a matéria estudada, ela passa
a ser parte dele. E como a opinião do Rava está em concordância com a do Rav Iossêf, o Rambam a adota como sendo a da
maioria (Késsef Mishnê).
389- Kidushín 32b conta que em festas de casamentos o Rava e o Rav Papa relaxavam algumas formalidades e serviam aos
seus alunos.
390- I.e. ele pode restringir essas leniências para apenas um pequeno número de alunos ou estendê-las a todos, conforme
desejar.
391- Levantando-se diante dele, evitando sentar no lugar dele etc. Não agir assim equivale a desrespeitar a Torá.
392- Nossa tradução baseia-se no Avodát Hamélech, que aponta para a aparente redundância do texto e explica que mesmo
quando o mestre abre mão desses requisitos mínimos de respeito, seu discípulo deve mantê-los.
393- Embora se deva tratar todas as pessoas com respeito e carinho, um mestre deve fazer um esforço especial para manifestar
essas qualidades aos seus alunos.
394- Avót 4:12.
395- O Avót Derabi Natán (Capítulo 27) traz como exemplo desse comportamento as instruções de Moshé para Iehoshua
(Shemót 17:9): “Escolhe homens para nós”, onde Moshé compara Iehoshua a si mesmo.
396- Vide Capítulo 1, Halachá 2.
397- Pois a compreensão do mestre se aprofunda graças aos alunos. Além disso, à medida em que eles têm sucesso e evoluem
nos estudos, maior é a sua sensação de satisfação.
398- Pois os atos e estudos dos alunos aumentam os méritos do mestre, que os encaminhou para a direção da Torá. Vide Iomá
87a e Bava Metsia 85a.
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3. Não é apropriado a um sábio incomodar o público, ֵאין ָראּוי לֶ ָחכָ ם ֶׁשּיַ ְט ִר ַיח ֶאת ָהעָ ם וְ יַ כְ וִ ין.ג
posicionando-se diante das pessoas de maneira tal ֶאלָ א יֵ לֵ ְך416.עַ צְ מֹו לָ ֶהם ּכְ ֵדי ֶׁשּיַ ַע ְמדּו ִמ ָּפנָ יו
que as obrigue a levantar.416 O que ele deve fazer é ּומ ְתּכַ ּוֵ ן ֶׁשּל ֹא יִ ְראּו אֹותֹו ּכְ ֵדיִ ְּב ֶד ֶרְך ְקצָ ָרה
cortar o caminho e procurar não ser visto, evitando
assim o transtorno de fazê-los levantar.417 Nossos וְ ַה ֲחכָ ִמים ָהיּו ַמ ִּק ִיפין.ֶׁשּל ֹא יַ ְט ִר ֵיחן לַ עֲ מֹד
417
sábios [costumavam] rodear as cercanias [de suas וְ הֹולְ כִ ין ַּב ֶּד ֶרְך ַה ִחיצֹונָ ה ֶׁש ֵאין ַמּכִ ֵיר ֶיהן
cidades] para evitar cruzar com conhecidos, com o 418
.ְמצּויִ ין ָׁשם ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יַ ְט ִריחּום
intuito de não importuná-los.418
4. Cavalgar é considerado equivalente a caminhar. ְ רֹוכֵ ב ֲה ֵרי הּוא ּכִ ְמ ַהּלֵ ְך ּוכְ ֵׁשם ֶׁש.ד
עֹומ ִדים
Assim como se deve ficar em pé diante [de um sábio 419
.עֹומ ִדין ִמ ְּפנֵ י ָהרֹוכֵ ב
ְ ִמ ְּפנֵ י ַה ְמ ַהּלֵ ְך ּכָ ְך
que estiver] caminhando, também se deve ficar em
pé diante de um [sábio] que estiver cavalgando.419
Veshinantam | 29
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
6. Ao avistar um sábio no conhecimento da Torá não ַעֹומד ִמ ָפנָ יו עַ ד ֶׁשּיַ ּגִ יע ֵ רֹואה ָחכָ ם ֵאינֹו ֶ ָה.ו
é preciso ficar em pé enquanto ele não estiver dentro 422
.יֹוׁשב ֵ וְ כֵ יוָ ן ֶׁשעָ ַבר.לֹו לְ ַא ְר ַּבע ַאּמֹות
da distância de quatro Amót; assim que ele passar, é עֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ִמ ֶּׁשּיִ ְר ֶאּנּוֵ 423ָר ָאה ַאב ֵּבית ִּדין
permitido sentar.422 Ao avistar um Av Beit Din (“líder
do tribunal [rabínico]”),423 é preciso levantar-se e יֹוׁשב עַ ד ֶׁשּיַ עֲ בֹר ֵ וְ ֵאינֹו424ֵמ ָרחֹוק ְמל ֹא עֵ ינָ יו
permanecer em pé assim que ele for visto, mesmo
425
ָר ָאה ֶאת ַהּנָ ִׂשיא.ֵמ ַא ֲח ָריו ַא ְר ַּבע ַאּמֹות
de longe, ao alcance de seus olhos;424 só é permitido יֹוׁשב עַ ד ֵ עֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ְמל ֹא עֵ ינָ יו וְ ֵאינֹו ֵ
sentar-se depois que ele se afastar mais de quatro 426
.ֶׁשּיֵ ֵׁשב ִּב ְמקֹומֹו אֹו עַ ד ֶׁשּיִ ְתּכַ ֶּסה ֵמעֵ ינָ יו
Amót. Ao avistar um Nassí (“líder [do Sinédrio]”),425 427
.וְ ַהּנָ ִׂשיא ֶׁש ָּמ ַחל עַ ל ּכְ בֹודֹו ּכְ בֹודֹו ָמחּול
é preciso levantar-se e permanecer em pé assim que
ele for visto; só é permitido sentar-se depois que ele עֹומ ִדים וְ ֵאינָ ן ְ נִ כְ נָ ס ּכָ ל ָהעָ ם428ּכְ ֶׁש ַהּנָ ִׂשיא
se sentar ou [sair do campo de visão e] ficar oculto ּכְ ֶׁש ַאב.ֹאמר לָ ֶהם ְׁשבּו
429
ַ יֹוׁש ִבין עַ ד ֶׁשּי
ְ
da vista.426 Se o Nassí [quiser] abrir mão de suas עֹומ ִדין ְ ְעֹוׂשין לֹו ְׁש ֵּתי ׁשּורֹות ו ִ ֵּבית ִּדין נִ כְ נָ ס
honras, ele poderá renunciar a elas.427 Quando428 um יֹוׁשב ִּב ְמקֹומֹו ֵ ְ עַ ד ֶׁשּנִ כְ נָ ס ו430ּומּכָ אןִ ִמּכָ אן
Nassí entra [na casa de estudos], todos os presentes 431
.קֹומן
ָ יֹוׁש ִבין ִּב ְמ
ְ ּוׁש ָאר ָהעָ ם ְ
devem se levantar; eles só podem [voltar a] sentar
quando ele disser: “Sentem-se”.429 Quando um Av
Beit Din entra [na casa de estudos], duas fileiras [de
pessoas] são organizadas [em honra] dele,430 uma de
cada lado, até que ele entre e se assente em seu lugar.
O restante das pessoas pode permanecer sentado em
seus lugares.431
7. Quando um sábio entra [na casa de estudos], ָחכָ ם ֶׁשּנִ כְ נָ ס ּכֹל ֶׁשּיַ ּגִ יעַ לֹו ְּב ַא ְר ַּבע ַאּמֹות.ז
quem ficar a menos de quatro Amót dele deve se יֹוׁשב עַ דֵ עֹומד וְ ֶא ָחד ֵ עֹומד ִמּלְ ָפנָ יו ֶא ָחד ֵ
levantar, de modo que uma pessoa se levanta e outra
ְּבנֵ י ֲחכָ ִמים וְ ַתלְ ִמ ֵידי.יֹוׁשב ִּב ְמקֹומֹוֵ ְֶׁשּנִ כְ נָ ס ו
422- Essa Halachá inteira é citada do Midrásh Hagadól, Shemót 33:8 e figura ligeiramente diferente em Kidushín 33b.
423- É o segundo sábio em grandeza; acima dele está o Nassí, para o qual ele presta assistência (Hilchót San-hedrín 1:3).
424- I.e. assim que o Av Beit Din aparecer no horizonte.
425- Em Hilchót San-hedrín (ibid.), o Rambam descreve assim a posição o Nassí: “O mais culto dentre os sábios é escolhido
como líder. Ele é o Rosh Ieshivá. É ele a pessoa a quem os sábios chamam de Nassí em todas as fontes, tomando o lugar de
nosso mestre Moshé”.
426- Kidushín (ibid.) depreende isso de Shemót 33:8, onde consta: “Sempre que Moshé saía da tenda, todo o povo se levantava.
Cada um ficava na entrada de sua tenda, fitando Moshé, até ele voltar à tenda”.
427- Embora o povo tenha obrigação de honrar o Nassí, ele pode abrir mão de ser honrado. Mas um rei jamais pode abrir
mão da sua honra, e deve ser tratado permanentemente com reverência (vide Hilchót Melachím 2:3). O Talmud relata uma
discussão acerca dessa lei: “O Rabi Eliezer, o Rabi Iehoshua e o Rabi Tsadók se encontravam no banquete do casamento do
filho do Raban Gamliêl quando este lhes ofereceu bebidas. O Rabi Eliezer recusou-se a aceitar. Vendo que o Rabi Iehoshua
aceitou, o Rabi Eliezer disse a ele: ‘Iehoshua, o que é isso? Nós estamos sentados, enquanto o Raban Gamliêl serve bebidas
para nós’! O Rabi Iehoshua respondeu-lhe: ‘Houve [um precedente] de uma pessoa de maior magnitude ter servido a outras.
Avraham superou qualquer um de sua geração, e no entanto a Torá (Bereshit 18:8) relata que ele ficou em pé [para servi-los].
Não pense que Avraham achou que eles eram anjos; ele achou que eles eram árabes. Sendo assim, por que não deixaríamos o
Raban Gamliêl nos servir?’” (Kidushín 32b).
428- As leis acima se referem a quando um sábio é visto em campo aberto. As leis que seguem se referem a quando um sábio
entra na casa de estudos (Hagahót Maimoniót; vide Horaiót 13b).
429- Pois ele é o líder espiritual de toda a nação e merece essa honra.
430- Atualmente estamos acostumados a auditórios com poltronas fixas e nos é difícil conceber o cenário dessa lei. Acontece
que em tempos talmúdicos as pessoas sentavam-se no chão. Quando o Av Beit Din chegava, as pessoas sentadas entre a
entrada e o lugar dele ficavam em pé e abriam para ele uma passagem de duas fileiras de largura.
431- Talvez a razão de um Av Beit Din merecer um grau menor de honra em uma casa de estudos do que em um lugar
aberto seja minimizar a negligência do estudo da Torá. Horaiót 13b relata que, originalmente, as pessoas mostravam o mesmo
nível de respeito pelo Av Beit Din e outros sábios que pelo Nassí. Foi o Nassí Rabi Shimon ben Gamliêl quem ordenou a
diferenciação do tratamento, com a finalidade de preservar a autoridade de seu posto.
Veshinantam | 30
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
9. Deve-se ficar em pé diante de um ancião de ַאף עַ ל ִּפי441 ִמי ֶׁשהּוא זָ ֵקן ֻמ ְפלָ ג ְּבזִ ְקנָ ה.ט
idade muito avançada, mesmo se ele não for um
441
וַ ֲא ִפּלּו ֶה ָחכָ ם.עֹומ ִדין לְ ָפנָ יו ְ 442ְׁש ֵאינֹו ָחכָ ם
sábio.442 Até mesmo um sábio jovem tem obrigação .עֹומד ִּב ְפנֵ י ַהּזָ ֵקן ַה ֻּמ ְפלָ ג ְּבזִ ְקנָ ה
ֵ ֶׁשהּוא יֶ לֶ ד
432- I.e. há alunos cuja presença é um bem inestimável para o mestre, que por meio de suas perguntas fazem com que o
mestre alcance o âmago do assunto. Portanto, eles são autorizados a entrar e tomar os lugares da frente da casa de estudos, por
mais indelicado que seja para com aqueles que já haviam tomaram seus lugares. Nesse sentido, Ievamót 105b afirma: “Aqueles
que são exigidos pela nação santa podem passar por cima das cabeças da nação santa. No entanto, como se atreve alguém que
não é exigido pela nação santa passar por cima das cabeças da nação santa”!
433- De fato, Berachót 43b lista essa como uma das seis tendências indesejáveis que devem ser evitadas por um sábio.
434- I.e. para usar o banheiro (Horaiót 13b). Alternativamente, o termo Letsórech pode ser traduzido como “para um
propósito necessário” – i.e. para servir ao povo em geral (Tossafót, Ievamót 105b).
435- Fazer com que as pessoas se levantem por sua causa pela segunda vez ou passar por cima delas não é considerado
descortesia para um sábio, já que ele foi obrigado a sair por motivo de força maior. No entanto, caso tenha saído por razões
corriqueiras, ele não deverá retornar ao seu lugar de origem.
436- Embora ainda não sejam suficientemente maduras para merecerem um bom lugar na casa de estudos, permite-se a elas
que se assentem na frente de seus pais como sinal de respeito à posição de destaque deles na comunidade (Rashi, Horaiót ibid.).
437- Avodát Hamélech observa que a expressão “o tempo todo” foi adicionada pelo Rambam ao trecho que é uma citação de
Kidushín 33b. Esse acréscimo implica que a restrição incide apenas sobre os estudantes que permanecem o tempo todo na casa
de estudos, mas que os estudantes eventuais devem se levantar sempre que necessário (vide também Tossafót, Kidushín ibid.).
438- Dentro de uma casa de estudos.
439- Mas ao avistar o seu mestre na rua, o aluno deve demonstrar respeito por ele em todas as oportunidades, ou será
considerado como tendo desrespeitado o seu mestre (Késsef Mishnê).
440- Aceitando o jugo do serviço a D-us através da prece Shemá Israêl, que deve ser recitada toda manhã e toda noite (Késsef Mishnê).
441- Kidushín 33a. O Shulchan Aruch (Iorê Deá 244:1) explica que aqui se refere a um homem de setenta anos de idade.
Outros, enfatizando o emprego da expressão “idade muito avançada”, acham que se refere a Guitín 28a, que emprega essa
terminologia para descrever uma pessoa de noventa anos.
442- É preciso levantar-se diante de um ancião perverso? Não, segundo o Ramá (Iorê Deá 244:1). A esse respeito o Talmud
(Kidushín 32b) relata a seguinte discussão entre dois sábios: “Será que as palavras do versículo ‘Diante do idoso te levantarás’
se aplicam até sobre uma pessoa comum de idade avançada? A continuação do versículo é: ‘E respeitarás o ancião’. [O termo]
‘ancião’ só pode se referir a um sábio, conforme se depreende do versículo [Bamidbar 11:16]: ‘Reúna setenta dos anciãos de
Israêl’. Disse o Rabi Iosse Haglilí: ‘[O termo] Zakên (ancião) significa Zé Shekaná Chochmá (aquele que adquiriu sabedoria)’.
Disse o Issi ben Iehudá: ‘[As palavras do versículo] Diante do idoso te levantarás abarcam todos os [tipos de] idosos’”. Das
declarações do Rambam na Halachá 1, ele parece seguir a opinião do Rabi Iosse Haglilí; mas a presente Halachá parece se
coadunar com a opinião do Issi ben Iehudá.
Veshinantam | 31
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
de levantar-se diante de um ancião de idade muito קֹומתֹו ֶאלָ א ּכְ ֵדי ָ וְ ֵאינֺו ַחּיָב לַ עֲ מֹד ְמל ֹא
avançada, embora não seja preciso levantar-se por ְמ ַה ְּד ִרין אֹותֹו444 וַ ֲא ִפּלּו זָ ֵקן ּגֹוי443.לְ ַה ְּדרֹו
completo, só o suficiente para demonstrar respeito.443 445
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.נֹותנִ ין לֹו יָ ד לְ ָס ְמכֹו
ְ ְִּב ְד ָב ִרים ו
Até para um ancião gentio444 deve-se dirigir palavras
de respeito e estender a mão como apoio, pois o ."מ ְּפנֵ י ֵׂש ָיבה ָּתקּום" ּכָ ל ֵׂש ָיבה ְּב ַמ ְׁש ָמע
ִ
escrito:445 “Diante do idoso te levantarás” engloba
todos os idosos.
443- No entanto, qualquer um que não tenha a qualificação de sábio é obrigado a levantar-se completamente (Tur, Iorê Deá, 244).
444- Kidushín 33a conta que o Rabi Iochanán se levantava diante de um ancião gentio, exclamando: “Por quantas experiências
ele deve ter passado [ao longo de toda a sua vida]”!
445- Vaikrá 19:32.
446- Mesmo assim, os sábios devem arcar com suas partes dos custos de tais projetos (Hilchót Shechením 6:6). Segundo o
Shulchan Aruch (Iorê Deá 243:1-2) eles só são obrigados a pagar o que lhes cabe do custo dos materiais, não precisando
contratar trabalhadores para tomarem os seus lugares. Isso se aplica a uma obra executada pelos próprios membros da
comunidade. Mas se a comunidade terceirizar o trabalho, os sábios deverão participar pagando a sua parte.
447- Em Hilchót Shechením (6:6-7), o Rambam como exemplos a manutenção das estradas e vias públicas e a escavação de
canais de irrigação.
448- Bava Batra 8a explica que se as pessoas comuns virem os sábios executando trabalhos manuais básicos, elas deixarão de
respeitá-los.
449- Em Hilchót Shechením (ibid.) o Rambam explica a lógica dessa lei. Os sábios da Torá são isentos de tomar parte em
qualquer atividade relacionada com a segurança da cidade, pois o mérito dos estudos os protege.
450- Bava Batra (ibid.) menciona também que Artachshasta, o rei persa que enviou Ezra para reconstruir Ierushalaim,
isentou todos os envolvidos nesse trabalho sagrado do pagamento de impostos e tributos (vide Ezra 7:24). Para o Ramá
(Iorê Deá 243:2), se um governo gentio cobrar impostos de um sábio da Torá, a comunidade tem obrigação de pagar por ele.
Segundo o Shulchan Aruch (Iorê Deá 243:2), esse privilégio só deve ser estendido a sábios que devotam a maior parte do seu
tempo ao estudo da Torá e limitam o seu envolvimento em negócios ao mínimo necessário para se sustentarem (vide Siftei
Cohên, Iorê Deá 243:7; Chóshen Mishpát 163:14.)
451- Hoshêa 8:10.
452- Itnú, traduzido como “doem”, também pode ser traduzido como “estudem”, aludindo à ligação com os estudiosos do versículo.
453- Uma alusão ao pagamento de impostos.
454- Uma alusão à isenção concedida aos sábios.
Veshinantam | 32
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
mercadoria] à venda no mercado enquanto a dele וְ כֵ ן ִאם455.ַהּׁשּוק לִ ְמּכֹר עַ ד ֶׁשּיִ ְמּכֹר הּוא
não tiver sido vendida.455 Igualmente, se ele tiver עֹומד ִּבכְ לָ ל ַּבעֲ לֵ י ִּדינִ ים
ֵ וְ ָהיָ ה456ָהיָ ה לֹו ִּדין
algum pleito [judicial]456 e a fila de litigantes for 458
.ּומֹוׁש ִיבין אֹותֹו
ִ 457
ַה ְר ֵּבה ַמ ְק ִּד ִימין אֹותֹו
grande, deve-se-lhe dar prioridade457 e permissão de
permanecer sentado.458
11. Menosprezar sábios ou odiá-los é um pecado עָ ֹון ּגָ דֹול הּוא לִ ְבזֹות ֶאת ַה ֲחכָ ִמים אֹו.יא
muito grande.459 Ierushalaim só foi destruída460 עַ ד460רּוׁשלַ יִ ם ָ ְ ל ֹא ָח ְר ָבה י459.ֹאתן ָ לִ ְׂשנ
quando [os seus habitantes] desrespeitaram os
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וַ ּיִ ְהיּו.ֶׁש ָּבּזּו ָבּה ַּתלְ ִמ ֵידי ֲחכָ ִמים
461
seus sábios, conforme está dito:461 “Eles ofendiam
os mensageiros de D-us, depreciavam as suas ֹלהים ּובֹוזִ ים ְּד ָב ָריו ִ ַמלְ עִ ִבים ְּב ַמלְ ֲאכֵ י ָה ֱא
palavras e escarneciam de seus profetas” – ou seja, לֹומר ּבֹוזִ ים ְמלַ ְּמ ֵדי
ַ ְ ּכ."ּומ ַּתעְ ְּתעִ ים ִּבנְ ִב ָאיוִ
desprezavam aqueles que ensinavam as Suas palavras. "אם ְּב ֻחּק ַֹתיִ 462
תֹורהָ וְ כֵ ן זֶ ה ֶׁש ָא ְמ ָרה.ְּד ָב ָריו
Similarmente, o dito da Torá:462 “Se desprezares וְ כָ ל463.ּקֹותי ִּת ְמ ָאסּו ַ ְמלַ ְּמ ֵדי ֻח- "ִּת ְמ ָאסּו
os meus estatutos” [deve ser interpretado como]:
ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת ַה ֲחכָ ִמים ֵאין לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם
“Se desprezares quem ensina os meus estatutos”.463
Quem despreza os sábios não tem parte no Mundo
465
." "ּכִ י ְד ַבר ה' ָּבזָ ה464ַה ָּבא וַ ֲה ֵרי הּוא ִּבכְ לָ ל
Vindouro e se inclui na categoria464 de “quem a
palavra de D-us desprezou”.465
12. Embora quem despreza os sábios não tenha parte ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ַה ְמ ַבּזֶ ה ֶאת ַה ֲחכָ ִמים ֵאין לֹו.יב
no Mundo Vindouro, se houver um testemunho466 ֶׁש ִּבּזָ הּו466ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא ִאם ָּבאּו עֵ ִדים
[de que] uma pessoa tenha desprezado algum sábio
até mesmo através de palavras, ela merece sofrer
455- O Shulchan Aruch (Iorê Deá 243:4) preceitua que essa lei só se aplica quando se tratar de um mercado de vendedores
judeus. Mas se houver mercadores gentios e estes colocarem seus produtos à venda, os mercadores judeus não têm obrigação
de arriscar um prejuízo.
456- I.e. um caso a ser julgado pelo tribunal.
457- Shevuót 30a relata: “O Rav Ula, filho do Rav Ilai, se envolveu em um julgamento diante do Rav Nachman. O Rav Iossêf
enviou [ao Rav Nachman a seguinte mensagem:] ‘O Ula é nosso colega em Torá e Mitsvót’. O Rav Nachman disse: ‘Para que
ele enviou esse [recado] para mim? Para obter de mim favorecimento’. Posteriormente, ele disse: ‘[A intenção dele foi] que eu
julgasse o seu caso primeiro’”. Mas o Tossafót questiona esse ensinamento, por haver uma Mitsvá Positiva que ordena julgar
cada caso pela ordem em que é feita a apresentação para o tribunal. Há duas soluções para o impasse: (1) Se ambos os casos
forem apresentados ao tribunal ao mesmo tempo, o caso que envolver um sábio tem prioridade. (2) O preceito positivo
de honrar o sábio se sobrepõe a esse outro preceito positivo e portanto, o caso do sábio deve ser julgado primeiro, mesmo
tendo sido apresentado ao tribunal depois. O Tur e o Shulchan Aruch (Chóshen Mishpát 15:1) aceitam a segunda solução
(vide também Hilchót San-hedrín 21:6).
458- Em Shevuót (ibid.) consta: “‘E os dois homens permanecerão em pé’ (Devarím 19:17): é Mitsvá que os litigantes fiquem
em pé”. No entanto, como sinal de respeito ao sábio, ele é convidado a sentar. Nesse caso se oferece o mesmo privilégio ao
litigante adversário, para que a honra ao sábio não seja interpretada como uma concessão injusta de vantagem. Vale observar
que em Hilchót San-hedrín 21:5, o Rambam escreve que atualmente o costume é que todos os litigantes fiquem sentados, “pois
não temos mais o potencial de realizar os julgamentos da Torá da maneira correta” (Shulchan Aruch, Chóshen Mishpát 17:2-3).
459- San-hedrín 99b compara esses pecadores a Apikorsím – “hereges”.
460- Shabat 119b. Aqui se refere à destruição da cidade pelos babilônicos.
461- Divrei Haiamím II 36:16.
462- Em Vaikrá 26:15, que antecede a lista de maldições que podem recair sobre o povo judeu.
463- Vide Sifra, Bechukotai.
464- Bamidbar 15:31.
465- San-hedrín 90a e 90b. Em Hilchót Teshuvá 3:14, o Rambam menciona o pecado de desonrar os sábios em uma lista de
transgressões. Ele escreve: “A pessoa que comete essas transgressões com frequência não merecerá uma porção no Mundo
Vindouro”.
466- O Siftei Cohen, Iorê Deá 334:96, diz que nesse caso até o testemunho de mulheres ou escravos é aceito.
Veshinantam | 33
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
Nidui (“afastamento”).467 O tribunal deve anunciar ּומנַ ִּדים אֹותֹו ְ 467.ֲא ִפּלּו ִּב ְד ָב ִרים ַחּיָב נִ ּדּוי
publicamente esse afastamento, e a pessoa, aonde ֵּבית ִּדין ָּב ַר ִּבין וְ קֹונְ ִסין אֹותֹו לִ ְיט ָרה זָ ָהב
468
quer que esteja, deve [também] ser multada em uma וְ ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת.אֹותּה לֶ ָחכָ ם ָ נֹותנִ ין
ְ ְְּבכָ ל ָמקֹום ו
Litra468 de ouro, [a ser] destinada ao sábio [vítima do
desprezo]. A pessoa que despreza um sábio através de ְמנַ ִּדין469ֶה ָחכָ ם ִּב ְד ָב ִרים ֲא ִפּלּו לְ ַא ַחר ִמ ָיתה
palavras deve ser afastada pelo tribunal, até mesmo se אֹותֹו ֵּבית ִּדין וְ ֵהם ַמ ִּת ִירין אֹותֹו ּכְ ֶׁשּיַ ֲחזֹר
ele já tiver falecido;469 [nesse caso] o tribunal poderá ֲא ָבל ִאם ָהיָ ה ֶה ָחכָ ם ַחי ֵאין ַמ ִּת ִירין.ׁשּובה ָ ִּב ְת
cancelar o afastamento quando ela se arrepender. וְ כֵ ן470.אֺותֺו עַ ד ֶׁשּיְ ַרּצֶ ה זֶ ה ֶׁשּנִ ּדּוהּו ִּב ְׁש ִבילֹו
Mas caso o sábio [vítima do desprezo] esteja vivo, לִ כְ בֹודֹו לְ עַ ם ָה ָא ֶרץ471ֶה ָחכָ ם עַ צְ מֹו ְמנַ ֶּדה
[o tribunal] não poderá cancelar o afastamento
enquanto ela não pedir o seu perdão.470 Um sábio tem וְ ֵאין צָ ִריְך ל ֹא עֵ ִדים וְ ל ֹא472.ֶׁש ִה ְפ ִקיר ּבֹו
autoridade suficiente para decretar o afastamento471 וְ ֵאין ַמ ִּת ִירין לֹו עַ ד ֶׁשּיְ ַרּצֶ ה ֶאת473.ַה ְת ָר ָאה
de uma pessoa comum que tenha sido grosseira472 ּומ ִּת ִירין
ַ לׁשה ָ וְ ִאם ֵמת ֶה ָחכָ ם ָּב ִאין ְׁש.ֶה ָחכָ ם
com ele, sem necessidade de testemunhas nem de וְ ִאם ָרצָ ה ֶה ָחכָ ם לִ ְמחֹל לֹו וְ ל ֹא נִ ָּדהּו.לֹו
advertência prévia.473 O afastamento só poderá ser 474
.ָה ְרׁשּות ְּביָ דֹו
cancelado quando ela pedir perdão ao sábio e for
perdoada por ele. Caso o sábio faleça, será preciso
que três pessoas se apresentem para cancelar [o
afastamento]. Se o sábio quiser, poderá perdoar o seu
ofensor sem precisar decretar o afastamento dele.474
13. Se um mestre decretar o afastamento de alguém ּכָ ל ַּתלְ ִמ ָידיו ַח ִּיָבין475 ָה ַרב ֶׁשּנִ ָּדה לִ כְ בֹודֹו.יג
por causa de sua honra, todos os discípulos dele
475
ֲא ָבל ַּתלְ ִמיד ֶׁשּנִ ָּדה476.לִ נְ הֹג נִ ּדּוי ַּב ְּמנֻ ֶּדה
são obrigados a se relacionar com a pessoa afastada 477
.לִ כְ בֹוד עַ צְ מֹו ֵאין ָה ַרב ַחּיָב לִ נְ הֹג ּבֹו נִ ּדּוי
conforme os ditames do decreto de afastamento.476
No entanto, se um estudante decretar o afastamento
479
. ַח ִּיָבין לִ נְ הֹג ּבֹו נִ ּדּוי478ֲא ָבל ּכָ ל ָהעָ ם
de alguém por causa de sua honra, o mestre dele
não é obrigado a obedecer os ditames do decreto de
afastamento;477 mas todas as outras pessoas478 são
obrigadas a obedecer.479 Da mesma forma, se uma
467- Os detalhes desse “afastamento” são tratados no próximo capítulo (principalmente na Halachá 4). Um exemplo de um
estudioso decretando o afastamento de indivíduos por terem envergonhado um sábio pode ser encontrado em Moêd Katán
16a.
468- Talmud Ierushalmi 8:6. Unidade de medida talmúdica equivalente a cerca de 168 gramas.
469- Eduiót 5:6 (vide também Berachót 19a).
470- Moêd Katán ibid.
471- Agindo por iniciativa própria, sem levar o caso a um tribunal.
472- Vide Kidushín 70a.
473- I.e. o afastamento pode ser imposto sem a necessidade de seguir o processo judicial padrão (Moêd Katán 17c).
474- O Mishnê Lamélech observa que essa leniência só é concedida quando se trata de um caso entre um homem e seu
próximo. Caso seja preciso decretar o afastamento de alguém devido a um caso entre homem e D-us – por exemplo, por esse
alguém ter proferido o nome de D-us em vão – o afastamento deverá ser efetivado mesmo se o transgressor se arrepender
(vide também Tossafót, Ievamót 22b).
475- I.e. o caso não foi levado a julgamento pelo tribunal mas o mestre determinou o afastamento por sua própria conta,
conforme mencionado na Halachá anterior.
476- Pois eles são obrigados a proteger a sua honra (Moêd Katán 16a). O Beit Iossêf (Iorê Deá 334) sustenta que se pode inferir
das palavras do Rambam que o afastamento não precisa ser observado por outros sábios, nem pelos que tiverem menor nível
que o mestre, que não forem estudantes dele.
477- Ele não é obrigado a honrar o seu aluno a tal ponto.
478- De um nível de Torá mais baixo (Beit Iossêf, Iorê Deá 334).
479- Conforme a próxima Halachá, isso só se aplica a quando o aluno proclama o afastamento para proteger a sua honra. Caso
ele imponha o afastamento devido a uma transgressão, o seu mestre será obrigado a conformar-se.
Veshinantam | 34
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
14. Quando esses casos se aplicam?485 Quando ְּב ִמי ֶׁשּנִ ּדּוהּו עַ ל485?מּורים ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא.יד
o afastamento tiver sido imposto à pessoa por ֲא ָבל ִמי ֶׁשּנִ ּדּוהּו עַ ל.ֶׁש ִּבּזָ ה ַּתלְ ִמ ֵידי ֲחכָ ִמים
ela ter agido de maneira desrespeitosa para com ְׁש ָאר ְּד ָב ִרים ֶׁש ַח ִּיָבים עֲ לֵ ֶיהם נִ ּדּוי ֲא ִפּלּו נִ ָּדהּו
um sábio. Mas se ela tiver sido afastada por outra
razão merecedora de afastamento – mesmo se ּנָׂשיא וְ כָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל לִ נְ הֹג
ִ ָק ָטן ֶׁש ְּביִ ְׂש ָר ֵאל ַחּיָב ַה
o afastamento tiver sido declarado pela pessoa ׁשּובה ִמ ָּד ָבר ֶׁשּנִ ּדּוהּו
ָ עַ ד ֶׁשּיַ ְחזֹר ִּב ְת486ּבֹו נִ ּדּוי
mais simplória do povo israelita –, [tanto] o Nassí עַ ל עֶ ְׂש ִרים וְ ַא ְר ָּבעָ ה487.ִּב ְׁש ִבילֹו וְ יַ ִּתירּו לֹו
[quanto] todos os judeus são obrigados a respeitar 488
.ְּד ָב ִרים ְמנַ ִּדין ֶאת ָה ָא ָדם ֵּבין ִאיׁש ֵּבין ִא ָּׁשה
os termos do afastamento486 até que ela se arrependa (א) ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת ֶה ָחכָ ם וַ ֲא ִפּלּו489:וְ ֵאּלּו ֵהן
da razão que a tornou merecedora de ser afastada, e
o decreto do afastamento seja revogado.487 A pessoa
491
. (ב) ַה ְּמ ַבּזֶ ה ְׁשלִ ַיח ֵּבית ִּדין490.לְ ַא ַחר מֹותֹו
– homem ou mulher488 – pode ser afastada devido (ד) ִמי ֶׁש ָּׁשלְ חּו לֹו492.ּקֹורא לַ ֲח ֵברֹו עֶ ֶבד ֵ (ג) ַה
a [qualquer um dos] 24 motivos seguintes:489 1) Por (ה) ַה ְּמזַ לְ זֵ ל493.ֵּבית ִּדין וְ ָק ְבעּו לֹו זְ ָמן וְ ל ֹא ָבא
desprezar um sábio, mesmo depois de sua morte.490 לֹומר
ַ וְ ֵאין צָ ִריְך494סֹופ ִרים ְ ְּב ָד ָבר ֶא ָחד ִמ ִּד ְב ֵרי
2) Por desprezar um enviado do tribunal.491 3) Por
chamar um colega de “escravo”.492 4) Por ter sido
ordenada [a comparecer diante do] tribunal em uma
data específica e não ter se apresentado.493 5) Por
480- A quem todo o povo de Israêl tem obrigação de honrar. Essa lei é mencionada também pelo Shulchan Aruch, Iorê
Deá 334:21.
481- Pois todo o povo de Israêl tem obrigação de honrá-lo.
482- Até mesmo de um estudioso renomado.
483- Também nesse caso, se o afastamento tivesse sido proclamado por outras razões, o Nassí precisaria observá-lo.
484- Por tê-los tratado desrespeitosamente.
485- As leniências que liberam determinadas pessoas de obedecer aos termos de um decreto de afastamento.
486- Moêd Katán 17a relata que a criada do Rabi Iehudá Hanassí certa vez decretou o afastamento de alguém, e durante três
anos todo o povo judeu obedeceu ao afastamento.
487- Vide Capítulo 7, Halachá 7.
488- Embora a maioria dos casos de afastamento mencionados pelo Talmud envolva homens, há casos envolvendo mulheres
(vide Rosh Hashaná 31b, Moêd Katán 16b e Nedarím 7b e 50b).
489- Berachót 19a menciona que há 24 motivos mas só detalha alguns deles. O Talmud Ierushalmi (Moêd Katán 3:1) traz
várias razões. Mas a maioria dos motivos relacionados a seguir pelo Rambam foram recolhidos por ele de diferentes trechos
do Talmud.
490- Berachót 19a conta de um afastamento que foi imposto sobre uma pessoa por envergonhar os sábios Shemaiá e Avtalión
após terem falecido.
491- Kidushín 70b relata que essa seria uma razão válida para que o Rav impusesse um afastamento.
492- Vide Kidushín 28a.
493- Vide Bava Kama 112b e também Hilchót San-hedrín 25:8.
Veshinantam | 35
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
ter desprezado até mesmo um [único] ponto dos (ו) ִמי ֶׁשּל ֹא ִק ֵּבל עָ לָ יו ֶאת ַה ִּדין.תֹורה ָ ְּב ִד ְב ֵרי
ensinamentos dos sábios,494 ou, desnecessário dizer, (ז) ִמי ֶׁשּיֵ ׁש ִּב ְרׁשּותֹו. עַ ד ֶׁשּיִ ֵּתן495ְמנַ ִּדין אֹותֹו
dos ensinamentos da Torá. 6) Por ter se recusado ָּד ָבר ַה ַּמּזִ יק ּכְ גֹון ּכֶ לֶ ב ָרע אֹו ֻסּלָ ם ָרעּועַ ְמנַ ִּדין
a aceitar a sentença [determinada pelo tribunal];
[nesse caso] ela deve ser banida até aceitá-la495 e (ח) ַהּמֹוכֵ ר ַק ְר ַקע496.אֹותֹו עַ ד ֶׁשּיָ ִסיר ֶהּזֵ קֹו
pagar. 7) Por possuir algo passível de causar dano עֹובד ּכֹוכָ ִבים ְמנַ ִּדים אֹותֹו עַ ד ֶׁש ַּיְק ֵּבל ֵ ְֶׁשּלֹו ל
– por exemplo, um cão agressivo ou uma escada עֹובד ּכֹוכָ ִבים ֵ עָ לָ יו ּכָ ל אֹנֶ ס ֶׁשּיָ בֺא ִמן ָה
frágil; [nesse caso] ela deve ser banida até remover (ט) ַה ֵּמעִ יד עַ ל497.לְ יִ ְׂש ָר ֵאל ֲח ֵברֹו ַּבעַ ל ַה ֶּמצֶ ר
o objeto [ou ser] nocivo.496 8) Por vender a sua terra עֹוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים וְ הֹוצִ יאְ יִ ְׂש ָר ֵאל ְּבעַ ְרּכָ אֹות ֶׁשל
a um pagão; [nesse caso] ela deve ser banida até
aceitar responsabilidade por todos os danos que o ִמ ֶּמּנּו ְּבעֵ דּותֹו ָממֹון ֶׁשּל ֹא כְ ִדין יִ ְׂש ָר ֵאל ְמנַ ִּדין
pagão vier a causar ao seu vizinho judeu.497 9) Por (י) ַט ָּבח ּכ ֵֺהן ֶׁש ֵאינֹו498.אֹותֹו עַ ד ֶׁשּיְ ַׁשּלֵ ם
testificar contra uma outra pessoa judia em um נֹותנָ ן לְ כ ֵֺהן ַא ֵחר ְמנַ ִּדין
ְ ְ ו499ַמ ְפ ִריׁש ַה ַּמ ָּתנֹות
tribunal pagão, causando embargo de um montante (יא) ַה ְּמ ַחּלֵ ל יֹום טֹוב ֵׁשנִ י500.אֹותֹו עַ ד ֶׁשּיִ ֵּתן
de dinheiro dela que a lei da Torá não [exigir- ) (יב. ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשהּוא ִמנְ ָהג501ֶׁשל ּגָ לֻ ּיֹות
lhe-ia pagar]; [nesse caso] ela deve ser banida até
pagar como indenização [a mesma quantia].498 10)
502
.עֹוׂשה ְמלָ אכָ ה ְּב ֶע ֶרב ַה ֶּפ ַסח ַא ַחר ֲחצֹות ֶ ָה
Sendo um açougueiro Cohên (“sacerdote”), por (יג) ַה ַּמזְ ּכִ יר ֵׁשם ָׁש ַמיִ ם לְ ַב ָּטלָ ה אֹו לִ ְׁשבּועָ ה
não ter separado as doações sacerdotais499 e tê-las (יד) ַה ֵּמ ִביא ֶאת ָה ַר ִּבים503.ְּב ִד ְב ֵרי ֲה ַבאי
dado a outro Cohên; [nesse caso] a pessoa deve (טו) ַה ֵּמ ִביא ֶאת ָה ַר ִּבים504.לִ ֵידי ִחּלּול ַה ֵּׁשם
ser banida até dá-las.500 11) Por violar a santidade (טז) ַה ְּמ ַח ֵּׁשב505.לִ ֵידי ֲאכִ ילַ ת ֳק ָד ִׁשים ַּבחּוץ
do segundo dia das Festas na diáspora,501 embora
a sua celebração seja apenas um costume. 12) Por ) (יז506.קֹובעַ ֳח ָד ִׁשים ְּבחּוצָ ה לָ ָא ֶרץ ֵ ְָׁשנִ ים ו
executar trabalho na véspera de Pessach após o
meio-dia.502 13) Por mencionar o nome de D-us em
vão, ou ao fazer juramento sobre assuntos banais.503
14) Por fazer com que vários outros profanem o
nome de D-us.504 15) Por fazer com que vários
outros comam alimentos sacrificiais fora [dos locais
determinados].505 16) Por calcular os anos e inserir
meses [intercalares, declarando um ano como
494- Eduiót 5:6 relata que o afastamento do Eliezer ben Chanóch foi declarado por ele ter questionado a prática da ablução
das mãos, um decreto rabínico.
495- Bava Kama 113a.
496- Bava Kama 15b.
497- Bava Kama 114a.
498- Vide Bava Kama 113b. Em Hilchót San-hedrín 26:7, o Rambam escreve: “Quem tiver o seu caso julgado por juízes e
tribunais gentios... é perverso e é considerado como se tivesse amaldiçoado... a Torá de Moshé.... Se não for possível cobrar
[uma dívida] de uma pessoa conforme a lei judaica, ela deve ser chamada primeiro para um tribunal judaico. Se ela se recusar
a comparecer, dever-se-á solicitar permissão do tribunal para [a abertura de processo] pelo direito secular”.
499- A perna dianteira, a mandíbula e o estômago de todos os animais sacrificados, que devem ser dados a um Cohên (vide
Devarím 18:3; Hilchót Bikurím, Capítulo 9).
500- Chulín 132b.
501- Vide Pessachím 52a.
502- Pois nesse período o sacrifício pascal era oferecido (vide Pessachím 50b; Hilchót Shevitát Iom Tov 8:17).
503- Vide Nedarím 7b; Hilchót Shevuót 12:9.
504- Isso é derivado do Talmud Ierushalmi (Moêd Katán 3:1), que cita como, em uma época de seca, Choni Hameaguêl desenhou
um círculo no chão e clamou a D-us: “Eu não saio daqui enquanto Você não fornecer chuva”! Shimon ben Shetach disse a Choni
que através desse ato ele se sujeitava a ser afastado, pois muitas pessoas perderiam a fé se D-us não respondesse às suas orações.
No final, Shimon ben Shetach não precisou proclamar essa punição pois as súplicas de Choni acabaram sendo atendidas.
505- Pessachím 53a.
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Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
embolístico] na diáspora.506 17) Por fazer o cego507 (יח) ַה ְּמ ַעּכֵ ב507. ֶאת ָה ִעּוֵ ר508ַה ַּמכְ ִׁשיל
tropeçar.508 18) Por impedir que outros realizem (יט) ַט ָּבח ֶׁשּיָ צְ ָאה509.ָה ַר ִּבים ִמּלַ עֲ ׂשֹות ִמצְ וָ ה
uma Mitsvá.509 19) Sendo um açougueiro, por vender (כ) ַט ָּבח ֶׁשּל ֹא ָב ַדק510.ְט ֵר ָיפה ִמ ַּת ַחת יָ דֹו
carne não-Casher.510 20) Sendo um açougueiro, por
deixar de inspecionar a sua faca na presença de um (כא) ַה ַּמ ְק ֶׁשה עַ צְ מֹו511.ַסּכִ ינֹו לִ ְפנֵ י ָחכָ ם
sábio.511 21) Por se excitar intencionalmente.512 22) (כב) ִמי ֶׁשּגֵ ֵרׁש ֶאת ִא ְׁשּתֹו וְ ָע ָׂשה512.לָ ַּד ַעת
Por ter, depois de se divorciar da esposa, se associado ֵּבינֹו ֵּובינָ ּה ֻׁש ָּתפּות אֹו ַמ ָּׂשא ַּומ ָּתן ַה ְּמ ִב ִיאין
a ela ou mantido negócios com ela, criando assim לָ ֶהן לְ ִהּזָ ֵקק זֶ ה לְ זֶ ה ּכְ ֶׁשּיָבֹואּו לְ ֵבית ִּדין ְמנַ ִּדין
uma interdependência; [nesse caso] eles devem ser 514
. (כג) ָחכָ ם ֶׁש ְּׁשמּועָ תֹו ָר ָעה513.אֹותם ָ
afastados quando se apresentarem ao tribunal.513 23)
Sendo um sábio, por ter má reputação.514 24) Por
515
.(כד) ַה ְּמנַ ֶּדה ִמי ְׁש ֵאינֹו ַחּיָב נִ ּדּוי
decretar indevidamente o afastamento de alguém.515
506- Berachót 63a relata que o versículo em Ieshaiáhu 2:3: “De Tsión sairá a Torá...” implica que as decisões acima devem ser
tomadas em Érets Israêl, e prescreve essa punição para alguém que as toma na diáspora.
507- Vide comentários sobre Vaikrá 19:14 e também Sefer Hachinuch (Mitsvá 232).
508- Moêd Katán 17a.
509- Vide Talmud Ierushalmi, Moêd Katán 3:1. Vide também Hilchót Teshuvá 4:1.
510- San-hedrín 25a (Késsef Mishnê).
511- Vide Chulín 18a. Em Hilchót Shechitá 1:26, o Rambam determina que essa Halachá é aplicável até mesmo se
posteriormente a faca for vistoriada e constatar-se que ela está Casher (vide Tur, Iorê Deá 18).
512- Nidá 13b. Vide também Hilchót Issurei Biá 21:18.
513- Ketubót 28a. Depois do divórcio, um casal deve ter o menor contato possível, pois a familiaridade anteriormente
desfrutada pode levá-los a uma conduta sexual fora dos limites do casamento (vide também Hilchót Issurei Biá 21:27).
514- Moêd Katán 17a relata como o Rabi Iehudá decretou o afastamento de um sábio por esse motivo.
515- Moêd Katán (ibid.) conta o seguinte episódio: “Contratado como vigia, o Reish Lakísh se deparou com um roubo em
andamento. Apesar de advertido, o ladrão não arredou pé. O Reish Lakísh então proclamou: ‘Decreto o teu afastamento’! O
ladrão respondeu: ‘Pode recair sobre mim uma obrigação de indenizar [pelos prejuízos que estou causando], mas não pode
recair sobre mim um decreto de afastamento. Quem deve ser afastado é você’. Quando o episódio foi analisado na casa de
estudos, os sábios determinaram que o decreto de afastamento do Reish Lakísh não tinha justificativa, mas o do ladrão tinha”.
O Raavad e outros comentaristas mencionam outros atos merecedores da pena de afastamento. De fato, em alguns casos
(como em Hilchót Guerushín 13:20), o próprio Rambam menciona essa punição. Os comentaristas explicam que o Rambam
limita a relação de motivos a 24 por ser esse o número mencionado no Talmud e que se tratam de categorias gerais, nas quais
outras podem estar incluídas.
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Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
516- Diferentemente de um afastamento decretado sobre uma pessoa comum, que era anunciado em público (Capítulo 6,
Halachá 12).
517- Moêd Katán 17a.
518- O primeiro rei das dez tribos, que criou ídolos e afastou o povo da prática da Torá (vide também Hilchót Teshuvá 3:10).
519- Hoshêa 4:5 interpretado por Moêd Katán (loc. cit.).
520- Essa frase é pinçada de Melachím II 14:10.
521- I.e. um erudito de menor grandeza que os mencionados no parágrafo anterior (Késsef Mishnê).
522- Antes de decretar o afastamento de um colega sábio, o Mar Zutra decretou o seu próprio afastamento, para sentir na pele
o sofrimento pelo qual o colega passaria (Moêd Katán loc. cit.).
523- O Rav Papa se vangloriava de nunca ter tomado parte de uma atividade como essa (ibid.).
524- A menor punição por uma violação das proibições da Torá.
525- Punição recebida pela transgressão de uma proibição rabínica ou pela negligência na execução de um preceito positivo
(Chulín 14b). Pessachím 52a relata que um estudioso rabínico foi punido dessa maneira por ter viajado além dos limites
permitidos no segundo dia de Shavuot.
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Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
3. Como se revoga um afastamento ou uma ְ ? וְ כֵ יצַ ד ַמ ִּת ִירין ַהּנִ ּדּוי אֹו ַה ֵח ֶרם.ג
אֹומ ִרים
excomunhão? Se diz ao indivíduo:529 “Você está וְ ִאם531.'ּומחּול לָ ְך ָ 530 ָ'ׁשרּוי לָ ְך529לֹו
liberado,530 você está perdoado”.531 Se ele não estiver
אֹומר לֹו ְ'ּפלֹונִ י ָׁשרּוי
ֵ ִה ִּתירּוהּו ֶׁשּל ֹא ְּב ָפנָ יו
presente, se diz: “O fulano está liberado e perdoado”.
.ּומחּול לֹו ָ לֹו
4. Quais são as condutas que o indivíduo afastado ַמהּו ַה ִּמנְ ָהג ֶׁשּיִ נְ הֹג ַה ְּמנֻ ֶּדה ְּבעַ צְ מֹו.ד
deve ter, e [como deve se comportar] quem tiver 533
ְמנֻ ֶּדה ָאסּור לְ ַס ֵּפר532?ּנֹוהגִ ין עִ ּמֹו ֲ וְ ֶׁש
algum contato com ele?532 1) O afastado não pode
וְ ֵאין ְמזַ ְמנִ ין.ּולְ כַ ֵּבס ּכְ ָא ֵבל ּכָ ל יְ ֵמי נִ ּדּויֹו
535 534
cortar os cabelos533 nem lavar as roupas, como
um enlutado,534 durante todo o período de seu וְ ל ֹא כֹולְ לִ ין אֹותֹו ַּבעֲ ָׂש ָרה לְ כָ ל ָּד ָבר536.עָ לָ יו
afastamento.535 2) Ele não pode participar de um יֹוׁש ִבין עִ ּמֹו ְּב ַא ְר ַּבע
ְ וְ ל ֹא537.ֶׁשּצָ ִריְך עֲ ָׂש ָרה
Zimun536 nem de um quorum de dez pessoas em ֲא ָבל ׁשֹונֶ ה הּוא לַ ֲא ֵח ִרים וְ ׁשֹונִ ין538.ַאּמֹות
qualquer situação que demande um quorum.537 3) וְ ִאם ֵמת ְּבנִ ּדּוי ֵּבית540. וְ ׂשֹוכֵ ר539 וְ נִ ְׂשּכָ ר.לֹו
[Ninguém] pode sentar-se a uma distância menor de
לֹומרַ ְ ּכ.ּומּנִ ִיחין ֶא ֶבן עַ ל ֲארֹונֹו ַ ִּדין ׁשֹולְ ִחין
quatro Amót dele.538 Mas ele pode ensinar a outros e
outros podem ensiná-lo. Ele pode ser contratado539 e ֶׁש ֵהם רֹוגְ ִמין אֹותֹו לְ ִפי ֶׁשהּוא ֻמ ְב ָּדל ִמן
pode contratar a outros.540 Caso ele faleça durante o
afastamento, o tribunal deverá enviar [um emissário
526- Os comentaristas não encontraram uma fonte direta nem para esse nem para os demais pronunciamentos citados nesta e
na próxima Halachá. O Rav Kapach sugere que o Rambam menciona uma tradição que lhe fora transmitida verbalmente pelos
seus mestres. Segundo o Tur (Iorê Deá 334), há três níveis de afastamento, um mais severo que o outro: Nidui (“afastamento”),
Shamta (“banimento”) e Chérem (“excomunhão”). Para o Rambam, Shamta equivale a Nidui; ele portanto considera haver
apenas dois níveis: Nidui e Chérem.
527- Shevuót 36a.
528- I.e. quando o tribunal fizer esse pronunciamento, serão essas as implicações (vide também Hilchót San-hedrín 26:3).
529- I.e. se o afastamento for revogado na presença da pessoa.
530- Vide San-hedrín 68a.
531- O Mordechai (Moêd Katán 935) cita um Responsum dos Gueoním, que também mencionam piedade na declaração de
anulação de um decreto de afastamento.
532- Não havia uma lista assim nas fontes antigas. Foi o Rambam que a compilou, baseado em diversas passagens talmúdicas.
533- Moêd Katán 15a.
534- Vide Hilchót Ével 6:2.
535- Bava Metsia 59b relata que ao ser avisado do afastamento decretado sobre ele, o Rabi Eliezer tirou os sapatos. Esse
também era o costume na Espanha (Késsef Mishnê em nome do Ramach).
536- Recitado antes da bênção de graças (vide Hilchót Berachót 5:2).
537- I.e. um Minián para a realização de preces comunais. Vide Hilchót Tefilá 8:4-6. O Késsef Mishnê explica que esse é um
elemento essencial de um decreto de afastamento. O propósito dessa punição é separar a pessoa de toda a comunidade
judaica.
538- Isso é depreendido de Bava Metsia 59a, que relata que o Rabi Akiva manteve distância do Rabi Eliezer ao visitá-lo, depois
que esse último foi afastado.
539- Pode trabalhar para outros judeus.
540- I.e. pode ter outros judeus trabalhando para ele.
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Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
para] depositar uma pedra sobre o túmulo dele, ֶׁש ֵאין ַמ ְס ִּפ ִידין542לֹומר
ַ וְ ֵאין צָ ִריְך541.ַהּצִ ּבּור
a título de apedrejamento por ter sido afastado da .אֹותֹו וְ ֵאין ְמלַ ּוִ ין ֶאת ִמ ָּטתֹו
comunidade.541 Nem é preciso dizer542 que não se
deve recitar discursos fúnebres por ele, nem se deve
acompanhar o seu funeral.
5. Um indivíduo excomungado deve [assumir ַה ָּמ ֳח ָרם ֶׁש ֵאינֹו ׁשֹונֶ ה543יֹותר עָ לָ יו ֵ .ה
restrições] ainda mais [severas].543 Ele não pode ֲא ָבל ׁשֹונֶ ה הּוא.לַ ֲא ֵח ִרים וְ ֵאין ׁשֹונִ ין לֹו
544
ensinar a outros e outros não podem ensiná-lo.544 וְ ֵאינֹו545.לְ עַ צְ מֹו ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ְׁשּכַ ח ַּתלְ מּודֹו
No entanto, ele pode estudar sozinho para que não
venha a esquecer do que aprendeu.545 Ele não pode נֹותנִ ין
ְ ְנֹוׂש ִאין ו
ְ וְ ֵאין.נִ ְׂשּכָ ר וְ ֵאין נִ ְׂשּכָ ִרים לֹו
ser contratado nem pode contratar a outros. Não é וְ ֵאין ִמ ְתעַ ְּס ִקין עִ ּמֹו ֶאּלָ א ְמעַ ט עֵ ֶסק ּכְ ֵדי.עִ ּמֹו
permitido fazer negócios com ele. [De fato] não se 546
.ַפ ְרנָ ָסתֹו
deve ter nenhuma relação comercial com ele exceto
o mínimo necessário para a subsistência dele.546
6. Quem ficar afastado por trinta dias547 e não pedir וְ ל ֹא ִב ֵּקׁש547לׁשים יֹום ִ ִמי ֶׁשּיָ ַׁשב ְּבנִ ּדּוי ְׁש.ו
a liberação do seu afastamento, deve ser colocado
548
לׁשים ִ יָ ַׁשב ְׁש. אֹותֹו ְׁשנִ ּיָ ה548לְ ַה ִּתירֹו ְמנַ ִּדין
sob um segundo afastamento. Se ficar afastado por
יֹום ֲא ֵח ִרים וְ ל ֹא ִב ֵּקׁש לְ ַה ִּתירֹו ַמ ְח ִר ִימין
outros trinta dias e não pedir a liberação do seu
afastamento, ele deve ser excomungado.549
549
.אֹותֹו
7. Quantas pessoas são necessárias para a revogação ? ְּבכַ ָּמה ַמ ִּת ִירין ַהּנִ ּדּוי אֹו ַה ֵח ֶרם.ז
de um afastamento ou de uma excomunhão? וְ יָ ִחיד551. ֲא ִפּלּו ֶה ְדיֹוטֹות550לׁשה ָ ִּב ְׁש
Três,550 até mesmo se forem iletradas.551 Mas um .ַמ ִּתיר ַהּנִ ּדּוי אֹו ַה ֵח ֶרם לְ ַבּדֹו
553 552
ֻמ ְמ ֶחה
juiz especializado552 pode revogar sozinho um
afastamento553 ou uma excomunhão. Um discípulo וְ יֵ ׁש לַ ַּתלְ ִמיד לְ ַה ִּתיר ַהּנִ ּדּוי אֹו ַה ֵח ֶרם וַ ֲא ִפּלּו
pode revogar um afastamento ou uma excomunhão
até mesmo no local de seu mestre [quando ele estiver
Veshinantam | 40
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
10. Aquele que não sabe quem o castigou com יֵ לֵ ְך ֵאצֶ ל 559
ִמי ֶׁשּל ֹא יָ ַדע ִמי נִ ָּדהּו.י
afastamento, deve dirigir-se ao Nassí (líder
559 561
. וְ יַ ִּתיר לֹו נִ ּדּויֹו560ַהּנָ ִׂשיא
do Sinédrio)560 para que o seu afastamento seja
revogado.561
11. Um afastamento condicional, mesmo quando נִ ּדּוי עַ ל ְּתנַ אי ֲא ִפּלּו עַ ל ִּפי עַ צְ מֺו צָ ִריְך.יא
enunciado sobre si mesmo, deve ser anulado [para ַּתלְ ִמיד ָחכָ ם ֶׁשּנִ ָּדה עַ צְ מֹו וַ ֲא ִפּלּו562.ֲה ָפ ָרה
que a pessoa afastada possa retornar ao convívio נִ ָּדה עַ צְ מֹו עַ ל ַּדעַ ת ְּפלֹונִ י וַ ֲא ִפּלּו ַעל ָּד ָבר
normal].562 Se um sábio da Torá decretar um
afastamento sobre si mesmo, mesmo se condicionar
564
. ֲה ֵרי זֶ ה ֵמ ֵפר לְ עַ צְ מֹו563ֶׁש ַחּיָב עָ לָ יו נִ ּדּוי
o afastamento ao consentimento de outra pessoa e
mesmo se o tiver enunciado por uma razão legítima,563
ele mesmo poderá anular o seu afastamento.564
12. Quem sonhar ter sido afastado,565 mesmo se puder ֲא ִפּלּו יָ ַדע ִמי נִ ָּדהּו565 ִמי ֶׁשּנִ ּדּוהּו ַב ֲחלֹום.יב
identificar quem decretou o afastamento, precisará 566
צָ ִריְך עֲ ָׂש ָרה ְבנֵ י ָא ָדם ֶׁשּׁשֹונִ ין ֲהלָ כֹות
de dez indivíduos versados nas leis da Torá566 para טֹור ַח
ֵ וְ ִאם ל ֹא ָמצָ א567.לְ ַה ִּתירֹו ִמּנִ ּדּויֹו
revogar esse seu afastamento.567 Caso não encontre
Veshinantam | 41
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
indivíduos assim [nas suas redondezas], deverá ל ֹא ָמצָ א ַמ ִּת ִירין568.ַא ֲח ֵר ֶיהם עַ ד ַּפ ְר ָסה
viajar [até a distância de] uma Parsá568 à procura ל ֹא ָמצָ א569.לֹו עֲ ָׂש ָרה ֶׁשּׁשֹונִ ים ִמ ְׁשנָ ה
deles. Se [mesmo assim] não os encontrar, o seu ל ֹא.ּתֹורה ָ ּיֹודעִ ים לִ ְקרֹות ַּב
ְ ַמ ִּת ִירין עֲ ָׂש ָרה ֶׁש
afastamento poderá ser revogado por dez estudiosos
de Mishná.569 Caso não encontre [pessoas assim], יֹודעִ ין
ְ ָמצָ א ַמ ִּת ִירין לֹו ֲא ִפּלּו עֲ ָׂש ָרה ְׁש ֵאינָ ן
o seu afastamento poderá ser revogado por dez ל ֹא ָמצָ א ִב ְמקֹומֹו עֲ ָׂש ָרה ַמ ִּת ִירין570.לִ ְקרֹות
indivíduos que saibam fazer a leitura da Torá. Caso 571
.לׁשה
ָ לֹו ֲא ִפּלּו ְׁש
não encontre [pessoas assim], o seu afastamento
poderá ser revogado até por dez indivíduos que não
saibam fazer a leitura [da Torá].570 Caso não encontre
nas suas redondezas dez [pessoas], o seu afastamento
poderá ser revogado até por três pessoas comuns.571
13. Quem tiver sido afastado em sua presença só ִמי ֶׁשּנִ ּדּוהּו ְּב ָפנָ יו ֵאין ַמ ִּת ִירין לֹו ֶאלָ א.יג
poderá ser liberado em sua presença. Quem tiver sido נִ ּדּוהּו ֶׁשּל ֹא ְּב ָפנָ יו ַמ ִּת ִירין לֹו ְּב ָפנָ יו.ְּב ָפנָ יו
afastado sem a sua presença poderá ser liberado em
וְ ֵאין ֵּבין נִ ּדּוי לַ ֲה ָפ ָרה ּכְ לּום572.וְ ֶׁשּל ֹא ְּב ָפנָ יו
sua presença ou sem a sua presença.572 Não há prazo
mínimo entre a proclamação de um afastamento e a ּומ ִּת ִירין ְּב ֶרגַ ע ֶא ָחד ּכְ ֶׁשּיַ ֲחזֹרַ ֶאּלָ א ְמנַ ִּדין
sua revogação; pode-se determinar um afastamento וְ ִאם ָראּו ֵבית ִּדין לְ ַהּנִ ַיח.ּמּוטב ָ ְַה ְּמנֻ ֶּדה ל
e revogá-lo imediatamente, desde que o afastado .ַמּנִ ִיחין ּכְ ִפי ִר ְׁשעֹו 573
זֶ ה ְּבנִ ּדּוי ּכַ ָּמה ָׁשנִ ים
retome a [prática] correta. Se o tribunal decidir וְ כֵ ן ִאם ָראּו ֵבית ִּדין לְ ַה ֲח ִרים לָ זֶ ה לְ כַ ְּת ִחּלָ ה
manter um indivíduo sob afastamento durante vários
ׁשֹותה עִ ּמֹו אֹו ֶ ְּולְ ַה ֲח ִרים ִמי ֶׁשיֹאכַ ל עִ ּמֹו ו
anos,573 poderá estender [a pena] de acordo com
o [nível de] maldade do indivíduo. Similarmente, ִמי ֶׁשּיַ עֲ מֹד עִ ּמֹו ְּב ַא ְר ַּבע ַאּמֹות ַמ ְח ִר ִימין
574
o tribunal pode decidir excomungar alguém de ּתֹורה עַ ד ָ ַּכְ ֵדי לְ יַ ְּסרֹו ּוכְ ֵדי לַ עֲ ׂשֹות ְסיָ ג ל
imediato e pode também excomungar quem comer ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּיֵ ׁש575.חֹוט ִאים ְ ֶׁשּל ֹא יִ ְפ ְרצּו ַה
ou beber em sua companhia, ou quem ficar a uma ֵאינֹו ֶׁש ַבח576ְרׁשּות לֶ ָחכָ ם לְ נַ ּדֹות לִ כְ בֹודֹו
distância menor do que quatro Amót de uma pessoa
לְ ַתלְ ִמיד ָחכָ ם לְ ַהנְ ִהיג עַ צְ מֹו ְּב ָד ָבר זֶ ה ֶאלָ א
que tiver sido afastada.574 [Esse poder é outorgado]
com o intuito de causar angústia [à pessoa afastada] ַמעְ לִ ים ָאזְ נָ יו ִמ ִּד ְב ֵרי עַ ם ָה ָא ֶרץ וְ ל ֹא יָ ִׁשית
e [assim] criar uma cerca à Torá, para que ela não
577
ּכְ עִ נְ יָ ן ֶׁש ָא ַמר ְׁשֹלמֹה ְּב ָחכְ ָמתֹו.לִ ּבֹו לָ ֶהן
venha a ser violada pelos pecadores.575 Muito "ּגַ ם לְ כָ ל ַה ְּד ָב ִרים ֲא ֶׁשר יְ ַד ֵּברּו ַאל ִּת ֵּתן
embora um sábio tenha a prerrogativa de decretar o
afastamento de alguém [com o intuito de preservar]
a sua honra,576 não é louvável para um estudioso
da Torá acostumar-se com essa prática. Ele deve é
desviar os seus ouvidos das palavras proferidas pelos
ignorantes e não lhes dar importância, conforme
o que disse o rei Shelomó em sua sabedoria:577
Veshinantam | 42
Rambam: segunda-feira Rambam: Hilchót Talmud Torá
“Também, não dê atenção a todas as palavras וְ כֵ ן ָהיָ ה ֶּד ֶרְך ֲח ִס ִידים ָה ִראׁשֹונִ ים578."לִ ֶּבָך
que são ditas”.578 Esse foi o comportamento dos וְ ל ֹא עֹוד579.ׁשֹומעִ ים ֶח ְר ָּפ ָתם וְ ֵאינָ ן ְמ ִׁש ִיבין ְ
piedosos das gerações antigas. Ao serem ofendidos 580
.ּמֹוחלִ ים לַ ְמ ָח ֵרף וְ סֹולְ ִחים לֹו ֲ ֶאּלָ א ֶׁש
eles não respondiam;579 além disso, eles perdoavam
e desculpavam a quem os insultava.580 Os grandes וַ ֲחכָ ִמים ּגְ דֹולִ ים ָהיּו ִמ ְׁש ַּת ְּב ִחים ְּב ַמעֲ ֵׂש ֶיהם
sábios se orgulhavam de seus atos benevolentes, אֹומ ִרים ֶׁש ֵּמעֹולָ ם ל ֹא נִ ּדּו ָא ָדם וְ ל ֹא ְ ְַהּנָ ִאים ו
relatando que nunca decretaram um afastamento וְ זֹו ִהיא ַּד ְרּכָ ם ֶׁשל.בֹודן 581
ָ ְֶה ֱח ִרימּוהּו לִ כ
ou excomunhão [pela proteção] da própria ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים.ַתלְ ִמ ֵידי ֲחכָ ִמים ֶׁש ָראּוי לֵ ילֵ ְך ָּבּה
honra.581 Esse é o comportamento dos estudiosos ֲא ָבל582.מּורים? ְּב ֶׁש ִּבּזָ הּו אֹו ֵח ְר ָפהּו ַּב ֵּס ֶתר ִ ֲא
da Torá cujo exemplo é digno de ser seguido. A que
circunstância isso se aplica? A quando [alguém] ַּתלְ ִמיד ָחכָ ם ֶׁש ִּבּזָ הּו אֹו ֵח ְרפֹו ָא ָדם ְּב ַפ ְר ֶה ְסיָ ה
despreza ou perturba [um sábio] privativamente.582 . וְ ִאם ָמ ַחל נֶ עֱ נָ ׁש.ָאסּור לֹו לִ ְמחֹל עַ ל ּכְ בֹודֹו
Mas caso alguém despreze ou perturbe um sábio em נֹוטר ַה ָּד ָבר ֵ ְנֹוקם וֵ ֶאּלָ א583.ּתֹורה ָ ֶׁשּזֶ ה ִּבזְ יֹון
público, o sábio não poderá renunciar à sua honra. עַ ד ֶׁש ַּיְב ֵּקׁש ִמ ֶּמּנּו ְמ ִחילָ ה וְ יִ ְסלַ ח584ּכְ נָ ָחׁש
De fato, ele deverá ser castigado se o fizer, pois isso 585
.לֹו
envolve o desrespeito da Torá.583 Portanto, ele deve
buscar vingança e carregar animosidade como uma
serpente584 até que o ofensor peça perdão. Então, ele
deverá perdoá-lo.585
578- O versículo prossegue: “Pois muitas vezes, teu coração sabe que também amaldiçoaste a outros”. A pessoa deve se
conscientizar que muitas vezes as colocações de uma pessoa são feitas em um momento de raiva, sem qualquer intenção séria.
579- Iomá 23a declara: “Aqueles que quando ofendidos não ofendem, que quando insultados, não reagem; eles agem assim por
amor”. Sobre eles está dito (Shofetím 5:31): “E aqueles que O amam são como o sol nascente na sua força”.
580- Meguilá 28a relata que, antes de se retirar à noite, o Nechunia ben Hakaná e o Mar Zutra perdoavam a quem quer que
os tivesse ofendido. O Alter Rebe, Rabi Shneur Zalman de Liadi, incorporou uma declaração nesse sentido ao texto de Kriát
Shemá Al Hamitá do Sidur que organizou.
581- O Talmud Ierushalmi, Moêd Katán 3:1, conta que o Rabi Iehoshua ben Leví nunca decretou o afastamento de alguém.
582- I.e. quando há menos de dez judeus que testemunharam ou foram informados da ocorrência.
583- Se as pessoas virem que os estudiosos da Torá podem ser tratados com desrespeito, elas acabarão perdendo a deferência
para com a toda a Torá e Mitsvót.
584- O Chanukat Hatorá traz Iomá (loc. cit.), onde consta que “Todo estudioso que não busca vingança e não carrega
inimizade como uma cobra não é um [genuíno] estudioso”. A comparação com uma cobra é significativa. Com base em
Kohélet 10:11, Arachín 15b explica que a cobra não morde pelo próprio bem, mas meramente como uma mensageira de D-us.
Quando um estudioso da Torá busca vingança, ele deve ter uma intenção similar. Ele não deve pensar na sua honra ou em seu
orgulho próprio. A sua intenção deve ser a defesa da honra da Torá.
585- O Rambam escreve em Hilchót Teshuvá 2:10: “A pessoa não pode ser cruel e se recusar a ser apaziguada.... Quando
alguém que a ofendeu pede perdão, ela deve perdoá-lo de pleno coração e com um espírito voluntário. Mesmo se ele a tiver
magoado e injustiçado bastante, ela não pode buscar vingança ou guardar rancor”.
586- Conforme várias versões, é com esta frase que o Rambam conclui as leis de cada um dos temas, em agradecimento ao
Todo-Poderoso.
Veshinantam | 43
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
587- Este é o título correto conforme consta na sua primeira edição, 1508-5269, Constantinopla (Rebe de Lubavitch, Likutei
Sichót vol. 20, pág. 14, nota 28).
Veshinantam | 44
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
o Idoní. 44) Não praticar feitiçaria. 45) Não raspar (מא) ֶׁשּל ֹא לִ ְדרֹׁש ֶאל.(מ) ֶׁשּל ֹא לַ ְחּבֹר ֶח ֶבר
as têmporas da cabeça. 46) Não raspar a barba. 47) (מג) ֶׁשּל ֹא. (מב) ֶׁשּל ֹא לִ ְׁשאֹל ְּבאֹוב.ַה ֵּמ ִתים
Que o homem não vista trajes femininos. 48) Que a ) (מה. (מד) ֶׁשּל ֹא לְ כַ ֵׁשף.לִ ְׁשאֹל ְּביִ ְּדעֹונִ י
mulher não vista trajes masculinos. 49) Não tatuar o
corpo. 50) Não cortar a própria carne [por idolatria]. (מו) ֶׁשּל ֹא לְ ַה ְׁש ִחית.ֶׁשּל ֹא לְ ַה ִּקיף ְּפ ַאת רֹאׁש
51) Não raspar cabelos pelo morto. . (מז) ֶׁשּל ֹא יַ עְ ֶּדה ִאיׁש עֲ ִדי ִא ָּׁשה.ְּפ ַאת זָ ָקן
.(מח) ֶׁשּל ֹא ַתעְ ֶּדה ִא ָּׁשה ּכְ לֵ י זַ יִ ן עֲ ִדי ִאיׁש
.ּגֹודד
ֵ (נ) ֶׁשּל ֹא לְ ִה ְת.(מט) ֶׁשּל ֹא לִ כְ ּתֹב ַק ֲע ַקע
.(נא) ֶׁשּל ֹא לַ עֲ ׂשֹות ָק ְר ָחה עַ ל ֵמת
A explicação destas Mitsvót [poderá ser encontrada .ֵּובאּור ּכָ ל ַה ִּמצְ וֹות ָה ֵאּלּו ִּב ְפ ָר ִקים ֵאּלּו
ao longo dos] capítulos a seguir.
1. Nos dias de Enósh588 a humanidade cometeu ָטעּו ְבנֵ י ָה ָא ָדם ָטעּות588 ִּב ֵימי ֱאנֹוׁש.א
um grande erro, e os sábios daquela geração foram וֶ ֱאנֹוׁש.ּגָ דֹול וְ נִ ְבעֲ ָרה עֲ צַ ת ַחכְ ֵמי אֹותֹו ַהּדֹור
infelizes em seus conselhos. O próprio Enósh .עּותם ָ וְ זֹו ָהיְ ָתה ָט.עַ צְ מֹו ִמן ַהּטֹועִ ים ָהיָ ה
incorreu no engano dos demais. Eles erraram no
seguinte: disseram que já que D-us criou as estrelas ֹלהים ָּב ָרא ּכֹוכָ ִבים ֵאּלּו ִ הֹואיל וְ ָה ֱא
ִ ָא ְמרּו
e esferas589 para controlar o mundo e que as colocou וְ גַ לְ ּגַ ּלִ ים לְ ַהנְ ִהיג ֶאת ָהעֹולָ ם ּונְ ָתנָ ם ַּב ָּמרֹום
589
no alto e outorgou honra, tornando-as serviçais וְ ָחלַ ק לָ ֶהם ּכָ בֹוד וְ ֵהם ַׁש ָּמ ִׁשים ַה ְּמ ַׁש ְּמ ִׁשים
para servi-Lo,590 dever-se-ia [portanto] louvá-las e ְראּויִ ין ֵהם לְ ַׁש ְּב ָחם ּולְ ָפ ֲא ָרם וְ לַ ֲחֹלק590לְ ָפנָ יו
glorificá-las e tratá-las com honra.591 [Eles acharam] וְ זֶ הּו ְרצֹון ָה ֵאל ָּברּוְך הּוא591.לָ ֶהם ּכָ בֹוד
que era essa a vontade de D-us, bendito é Ele:
engrandecer e honrar a quem Ele engrandecera e לְ גַ ֵּדל ּולְ כַ ֵּבד ִמי ֶׁשּגִ ְּדלֹו וְ כִ ְּבדֹו ּכְ מֹו ֶׁש ַה ֶּמלֶ ְך
honrara, assim como um rei que deseja que os servos עֹומ ִדים לְ ָפנָ יו וְ זֶ הּוְ רֹוצֶ ה לְ כַ ֵּבד עֲ ָב ָדיו ָה
que estão diante dele sejam honrados. De fato, essa ּכֵ יוָ ן ֶׁשעָ לָ ה ָד ָבר זֶ ה עַ ל592.כְ בֹודֹו ֶׁשל ֶּמלֶ ְך
é uma expressão de honra a um rei.592 Uma vez 593
לִ ָּבם ִה ְת ִחילּו לִ ְבנֹות לַ ּכֹוכָ ִבים ֵהיכָ לֹות
concebida a ideia, eles passaram a erigir [templos] ּולְ ַה ְק ִריב לָ ֶהן ָק ְר ָּבנֹות ּולְ ַׁש ְּב ָחם ּולְ ָפ ֲא ָרם
para as estrelas593 e a oferecer sacrifícios para elas,
louvando-as e glorificando-as com palavras e se ִּב ְד ָב ִרים ּולְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹות לְ מּולָ ם ּכְ ֵדי לְ ַה ִּׂשיג
ajoelhando para delas, achando, de acordo com וְ זֶ ה ָהיָ ה עִ ַיקר.ּבֹורא ְּב ַדעְ ָּתם ָה ָרעָ ה ֵ ְרצֹון ַה
a concepção errônea da qual se imbuíram, que עֹוב ֶד ָיה
ְ אֹומ ִרים ְ וְ ּכַ ְך ָהיּו.בֹודת ּכֹוכָ ִבים
594
ַ ֲע
com isso cumpriam a vontade de D-us. Esse foi o אֹומ ִרים ֶׁש ֵאין ְ ל ֹא ֶׁש ֵהן.ּיֹודעִ ים עִ ָיק ָרּה ְ ַה
fundamento da adoração a falsos deuses,594 e era isso
o que falavam as pessoas idólatras que o conheceram.
Elas não afirmavam que não havia outro deus a não
588- O neto de Adám (vide Bereshit 4:26, 5:6-11). Enósh viveu do ano 235 após a Criação até o ano 1140 (de 3525 a 2620 A.E.C.).
589- Vide Hilchót Iessodei Hatorá, Capítulo 3.
590- I.e., agentes da influência Divina.
591- O Rashi encontra uma alusão à adoração de falsos deuses nos tempos de Enósh em Bereshit 4:26, que ele interpreta como:
“Foi então que eles chamaram o nome de D-us ofensivamente”.
592- Em Hilchót Iessodei Hatorá (ibid.) e em diversos locais no Guia dos Perplexos, o Rambam explica que as estrelas e as esferas
ficam em um plano mais alto do que as criações de nosso mundo; embora o influenciem, elas também são criações de D-us e não
possuem livre arbítrio. Assim, elas não passam de um machado nas mãos do lenhador, e não devem ser adoradas ou servidas.
593- Vide Comentário à Mishná (Avodá Zará 4:7).
594- Vide Capítulo 2, Halachá 1.
Veshinantam | 45
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
ser essa estrela.595 Essa mensagem foi transmitida por הּוא ֶׁשּיִ ְר ְמיָ הּו595.לֹוּה ֶאלָ א ּכֹוכָ ב זֶ ה ַ ָׁשם ֱא
Irmiáhu, que declarou:596 “Quem não temerá a Ti, Rei "מי ל ֹא יִ ָר ֲאָך ֶמלֶ ְך ַהּגֹויִ ם ּכִ י לְ ָך ִ 596אֹומר ֵ
de todas as nações, pois a Ti é devido. Entre todos os כּותם ָ ְיָ ָא ָתה ּכִ י ְבכָ ל ַחכְ ֵמי ַהּגֹויִ ם ְּובכָ ל ַמל
sábios das nações e entre todos os seus reinos, não
há ninguém comparável a Ti. Eles [têm uma noção] מּוסרַ ְמ ֵאין ּכָ מֹוָך ְּוב ַא ַחת ְיִבעֲ רּו וְ יִ כְ ָסלּו
tola e insensata, pois os seus ensinamentos vãos יֹודעִ ים ָׁש ַא ָּתה ְ לֹומר ַהּכֹל ַ ְ ּכ."ֲה ָבלִ ים עֵ ץ הּוא
não passam de madeirame”, i.e. todos sabem que ילּותם ֶׁש ְּמ ַד ִּמיםָ עּותם ּוכְ ִס ָ הּוא לְ ַב ֶּדָך ֲא ָבל ָט
Tu és o único D-us. O erro insensato deles consiste 598
. ְרצֹונְ ָך הּוא597ֶׁשּזֶ ה ַה ֶה ֶבל
em considerar essa nulidade597 como sendo a Tua
vontade.598
2. Passados muitos anos, surgiram no meio do povo וְ ַא ַחר ֶׁש ָא ְרכּו ַהּיָ ִמים עָ ְמדּו ִּב ְבנֵ י ָה ָא ָדם.ב
profetas falsos599 afirmando que D-us ordenou-os וְ ָא ְמרּו ֶׁש ָה ֵאל צִ ּוָ ה וְ ָא ַמר599נְ ִב ֵיאי ֶׁש ֶקר
a proclamar:600 Prestem culto a uma determinada
עִ ְבדּו ּכֹוכָ ב ְּפלֹונִ י אֹו כָ ל ַהּכֹוכָ ִבים600לָ ֶהם
estrela – ou a todas as estrelas – oferecendo sacrifícios
e libações; construam um templo para ela e façam uma ְּובנּו לֹו ֵהיכָ ל.וְ ַה ְק ִריבּו לֹו וְ נַ ְּסכּו לֹו ּכָ ְך וְ ּכָ ְך
imagem dela para que todos do povo – as mulheres, ּכָ ל601ֹצּורתֹו ּכְ ֵדי לְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹות לו ָ וַ עֲ ׂשּו
as crianças e todos os povos da terra – possam se .ּוׁש ָאר עַ ֵמי ָה ָא ֶרץ ְ ָהעָ ם ַהּנָ ִׁשים וְ ַה ְּק ַטּנִ ים
curvar diante dela.601 Eles imaginavam uma forma e אֹומרֵ ְצּורה ֶׁש ָּב ָדה ִמּלִ ּבֹו ו ָ ּומֹודיעַ לָ ֶהם ִ
contavam que essas seriam as imagens das estrelas
הֹודיעּוהּו
ִ צּורת ַהּכֹוכָ ב ַה ְּפלֹונִ י ֶׁש ַ זֹו ִהיא
específicas, alegando que isso lhes fora revelado em
visões proféticas.602 Dessa maneira, [o povo] passou וְ ִה ְת ִחילּו עַ ל ֶּד ֶרְך זֹו לַ עֲ ׂשֹות602.בּואתֹו ָ ְִּבנ
a fazer imagens nos templos, sob as árvores, e nos אׁשיֵ צּורֹות ַּב ֵהיכָ לֹות וְ ַת ַחת ָה ִאילָ נֹות ְּוב ָר
595- Conforme consideraram os pagãos mencionados na Halachá 2. As primeiras gerações de adoradores de estrelas
aceitavam a existência de D-us e não consideravam as estrelas como mais do que intermediárias entre nós e Ele.
596- Irmiáhu 10:7-8.
597- A adoração das estrelas.
598- Se considerarmos que o Rambam concebeu essa sua obra Mishnê Torá como um livro de leis, e só incluiu questões
filosóficas e históricas quando elas próprias fossem Halachót, então esse capítulo inteiro aparenta ser desnecessário. Mas essa
aparente superfluidade fica esclarecida no Capítulo 2, Halachá 3, onde está declarado que é proibido dar atenção à adoração
de ídolos ou sequer pensar nisso. Portanto, para que se saiba quais tipos de pensamentos são proibidos, o Rambam considera
ser preciso descrever todo o processo de ideias que levou as pessoas a adorar ídolos (Rebe de Lubavitch, Likutei Sichót, vol. 20).
O fenômeno descrito pelo Rambam não pertence inteiramente ao passado. Embora, atualmente, curvar-se para as “estrelas e
esferas” não seja algo comum – ainda que tenha sido renovado por alguns cultores – a premissa teórica que motivou os antigos
à adoração das estrelas continua a ser seguida por muitos.
599- Vale mencionar Hilchót Iessodei Hatorá 9:5, onde consta que quem disser que teve uma visão profética na qual D-us
ordena a adorar ídolos deverá ser automaticamente considerado como profeta falso. Vide também o Guia dos Perplexos
(Vol. II, Capítulo 36), onde o Rambam descreve como as pessoas podem ser chegar a ser dominadas pelos seus poderes de
imaginação a ponto de se considerarem profetas – e serem aceitas como tal por quem as assiste em seu transe – embora, de
fato, não tenham recebido nenhum influxo Divino.
600- Essa representa a segunda etapa na disseminação da adoração de ídolos. Na primeira etapa – como explicado na Halachá
1 – a adoração das estrelas não estava institucionalizada; ela era praticada por indivíduos devido às suas concepções errôneas.
A segunda etapa envolveu o desenvolvimento de instituições religiosas e a definição dos modos de adoração. Os líderes, no
entanto, ainda reconheciam D-us e atribuíam a Ele as instruções de se adorar as estrelas. Na terceira etapa – conforme a
última parte desta Halachá declara – as pessoas acabaram adorando as estrelas e os ídolos, sem qualquer consciência de D-us.
601- Vide Comentário à Mishná do Rambam (Avodá Zará 4:7), Capítulo 11, Halachá 16, onde ele explica que a adoração aos
ídolos foi criada pelos líderes das nações com a finalidade de unir os povos, para dar a eles um sentido de identidade nacional
e estabelecer uma hierarquia de líderes.
602- Com essas declarações o Rambam explica como as pessoas começaram a adorar estátuas e ídolos. Uma vez que as estrelas
estavam longe e não podiam ser vistas como mais do que um ponto brilhante no céu, as pessoas precisavam de uma imagem
mais tangível com a qual pudessem se relacionar. Os “profetas” idealizaram então estátuas, para servirem como talismãs ou
amuletos e trazerem fluxos das estrelas ao mundo.
Veshinantam | 46
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
603- Em Devarím 12:2 somos preceituados a destruir “todos os locais em que os gentios... serviram os deuses deles: sobre as
altas montanhas e sobre as colinas, ou embaixo de qualquer árvore frondosa”. Vide Guia dos Perplexos, Vol. III, Capítulo 45,
onde o Rambam menciona a prática dos gentios de construir templos em morros e em topos de montanhas.
604- Vide Hilchót Iessodei Hatorá, Capítulo 2.
605- Isso representou uma decaída adicional. Ao invés de profetizarem em nome de D-us, esses impostores passaram a falar
em nome dos próprios ídolos (vide também Capítulo 5, Halachót 6-7).
606- O Capítulo 3, Halachá 2, descreve que se adorava o ídolo Baal Peór defecando diante dele.
607- Não está claro em que ponto da história do mundo essa mudança se deu. O período entre os nascimentos de Enósh e
Avraham foi de pouco mais de mil anos, e o Dilúvio ocorreu cerca de 750 anos após o nascimento de Enósh.
608- I.e. o verdadeiro D-us.
609- Vide também o Guia dos Perplexos, Vol. II, Capítulo 39, onde o Rambam chama esses indivíduos de profetas.
610- Vide Bereshit 5:22: “E Chanóch caminhou com D-us”.
611- Embora a sua honradez não seja mencionada explicitamente pela Torá, ela é mencionada pelos nossos sábios em alguns
lugares – como no Ialkut Shimoní, Bereshit 42, onde consta: “Metushelach era um homem completamente justo”.
612- Vide Bereshit 6:9: “E Noach era um homem íntegro, perfeito em sua geração”.
613- O segundo filho de Noach.
614- Shem e Ever são mencionados frequentemente pelos nossos sábios como sábios justos. Vide Bereshit Rabá 63:6, que
explica que quando Rivká saiu “à procura de D-us” (Bereshit 25:22), ela se dirigiu à casa de estudos de Shem e Ever.
Veshinantam | 47
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
mundo continuou girando dessa maneira até que עַ ד ֶׁשּנֹולַ ד עַ ּמּודֹו ֶׁשל עֹולָ ם וְ הּוא ַא ְב ָר ָהם
nasceu o pilar do mundo – o patriarca Avraham.615 615
.ָא ִבינּו
3. Nem bem deixou de mamar,616 esse indivíduo זֶ ה ִה ְת ִחיל617 ֵא ָיתן616 ּכֵ יוָ ן ֶׁשּנִ גְ ַמל.ג
notável617 já começou a explorar e pensar. Embora וְ ִה ְת ִחיל לַ ֲחׁשֹב, וְ הּוא ָק ָטן,ׁשֹוטט ְּב ַדעְ ּתֹו ֵ ְל
ainda fosse uma criança pequena, começou a refletir ַּבּיֹום ַּובּלַ יְ לָ ה וְ ָהיָ ה ָּת ֵמ ַּה ֵה ַיאְך ֶא ְפ ָׁשר ֶׁשּיִ ְהיֶ ה
ao longo do dia e da noite, admirado. Como podia ser
que a esfera girasse continuamente sem que alguém
נֹוהג ָּת ִמיד וְ ל ֹא יִ ְהיֶ ה לֹו ַמנְ ִהיג ֵ ַהּגַ לְ ּגַ ל ַהּזֶ ה
a controlasse; quem a fazia girar?618 Certamente, ela ּומי יְ ַס ֵּבב אֹותֹו? ּכִ י ִאי ֶא ְפ ָׁשר ֶׁשּיְ ַס ֵּבב
618
ִ
não podia causar a própria rotação! Ele não tinha ַמֹודיע
ִ וְ ל ֹא ָהיָ ה לֹו ְמלַ ֵּמד וְ ל ֹא.ֶאת עַ צְ מֹו
um professor; não havia ninguém para instruí-lo. עֹוב ֵדי
ְ ָּד ָבר ֶאּלָ א ֻמ ְׁש ָקע ְּבאּור ּכַ ְׂש ִּדים ֵּבין
Muito pelo contrário, ele vivia em pleno Ur Kasdím, ּכֹוכָ ִבים ַה ִּט ְּפ ִׁשים וְ ָא ִביו וְ ִאּמֹו וְ כָ ל ָהעָ ם
bem no meio dos tolos idólatras. Seu pai, sua mãe e
todas as pessoas [ao seu redor] adoravam ídolos,619 e
וְ לִ ּבֹו620.עֹובד עִ ָּמ ֶהםֵ וְ הּוא619עֹוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים ְ
ele os acompanhava.620 [No entanto], o seu coração ּומ ִבין עַ ד ֶׁש ִה ִּׂשיג ֶּד ֶרְך ָה ֱא ֶמת וְ ֵה ִבין ֵ ׁשֹוטט ֵ ְמ
[continuava] analisando e [ganhando] entendimento. וְ יָ ַדע ֶׁשּיֵ ׁש ָׁשם.ַקו ַהּצֶ ֶדק ִמ ְּתבּונָ תֹו ַהּנְ כֹונָ ה
Finalmente ele concluiu qual era o caminho da לֹוּה ֶא ָחד וְ הּוא ַמנְ ִהיג ַהּגַ לְ ּגַ ל וְ הּוא ָּב ָרא ַ ֱא
verdade, e através da sua acurada compreensão 621
.לֹוּה חּוץ ִמ ֶּמּנּו
ַ ַהּכֹל וְ ֵאין ְּבכָ ל ַהּנִ ְמצָ א ֱא
discerniu a direção correta. Ele compreendeu que
há um único D-us que controla a esfera e que tinha
וְ יָ ַדע ֶׁשּכָ ל ָהעֹולָ ם טֹועִ ים וְ ָד ָבר ֶׁשּגָ ַרם לָ ֶהם
criado tudo, e que não podia haver outro D-us עֹוב ִדים ֶאת ַהּכֹוכָ ִבים וְ ֶאת ְ לְ ָטעּות זֶ ה ֶׁש
entre todas as outras entidades além Dele.621 Ele ֶּובן622.ַהּצּורֹות עַ ד ֶׁש ָא ַבד ָה ֱא ֶמת ִמ ַּדעְ ָּתם
compreendeu que todos no mundo estavam errados, 623
.ּבֹוראֹוְ ַא ְר ָּבעִ ים ָׁשנָ ה ִהּכִ יר ַא ְב ָר ָהם ֶאת
e que se desencaminharam ao servirem às estrelas ִה ְת ִחיל לְ ָה ִׁשיב ְּתׁשּובֹות624ּכֵ יוָ ן ֶׁש ִהּכִ יר וְ יָ ַדע
e imagens até perderem a consciência da verdade.622
Foi na idade de 40 que Avraham reconheceu o
לֹומרַ ְעַ ל ְּבנֵ י אּור ּכַ ְׂש ִּדים וְ לַ עֲ רְֹך ִּדין ִע ָּמ ֶהם ו
seu Criador.623 Ao reconhecê-Lo e saber Dele,624 .ֶׁש ֵאין זֹו ֶּד ֶרְך ָה ֱא ֶמת ֶׁש ַא ֶּתם הֹולְ כִ ים ָּבּה
Veshinantam | 48
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
ele passou a formular respostas aos habitantes de הֹודיעַ לָ עָ ם ֶׁש ֵאין ִ ְוְ ִׁש ֵּבר ַהּצְ לָ ִמים וְ ִה ְת ִחיל ל
Ur Kasdím e a discutir com eles, alertando-os de וְ לֹו ָראּוי625לֹוּה ָהעֹולָ ם ַ ָראּוי לַ ֲעבֹד ֶאּלָ א לֶ ֱא
que não estavam seguindo o caminho correto. Ele לְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹות ּולְ ַה ְק ִריב ּולְ נַ ֵּסְך ּכְ ֵדי ֶׁשּיַ ּכִ ירּוהּו
então quebrou os ídolos deles e começou a ensinar
às pessoas que só era correto servir ao D-us do וְ ָראּוי לְ ַא ֵּבד ּולְ ַׁש ֵּבר.רּואים ַה ָּב ִאים ִ ּכָ ל ַה ְּב
mundo;625 que [só] perante Ele se devia ajoelhar e ּכָ ל ַהּצּורֹות ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ְטעּו ָב ֶהן ּכָ ל ָהעָ ם ּכְ מֹו
oferecer sacrifícios e libações, para que as pessoas .לֹוּה ֶאּלָ א ֵאּלּו ַ ֵאּלּו ֶׁש ֵהם ְמ ַד ִּמים ֶׁש ֵאין ָׁשם ֱא
das futuras [gerações] viessem a reconhecê-Lo. E 626
יֹותיו ִּב ֵּקׁש ַה ֶּמלֶ ְך
ָ ּכֵ יוָ ן ֶׁשּגָ ַבר עֲ לֵ ֶיהם ִּב ְר ָא
que era correto destruir e quebrar todas as imagens, 628
. וְ נַ עֲ ָׂשה לֹו נֵ ס וְ יָ צָ א לְ ָח ָרן627לְ ָה ְרגֹו
para evitar que todos errassem, assim como haviam
errado aqueles que consideraram não haver D-us וְ ִה ְת ִחיל לַ עֲ מֹד וְ לִ ְקרֹא ְּבקֹול ּגָ דֹול לְ כָ ל ָהעֹולָ ם
a não ser esses [ídolos]. Como a força dos seus לֹוּה ֶא ָחד לְ כָ ל ָהעֹולָ ם וְ לֹו ַ הֹודיעָ ם ֶׁשּיֵ ׁש ֱא ִ ְּול
argumentos as convenceu, o rei626 decidiu matá-lo.627 ּומ ַק ֵּבץ ָהעָ ם ְ קֹורא ֵ ְ וְ ָהיָ ה ְמ ַהּלֵ ְך ו.ָראּוי לַ עֲ ֹבד
Ele foi salvo por milagre e partiu para Charán,628 עַ ד629ּומ ַּמ ְמלָ כָ ה לְ ַמ ְמלָ כָ ה ִ ֵמעִ יר לְ עִ יר
[onde] se pôs a clamar em alta voz a todo o povo, ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.קֹורא ֵ ֶׁש ִהּגִ יעַ לְ ֶא ֶרץ ּכְ נַ עַ ן וְ הּוא
630
avisando-o que há um único D-us no mundo inteiro
e que é preciso servi-Lo. Ele seguiu peregrinando וְ כֵ יוָ ן.""וַ ּיִ ְק ָרא ָׁשם ְּב ֵׁשם ה' ֵאל עֹולָ ם
631
chamando as pessoas, reunindo-as de cidade em ׁשֹואלִ ין לֹו עַ ל ֲ ְֶׁש ָהיּו ָהעָ ם ִמ ְת ַק ְּבצִ ין ֵאלָ יו ו
cidade e de nação em nação,629 até chegar à terra de מֹודיעַ לְ כָ ל ֶא ָחד וְ ֶא ָחד ּכְ ִפי ַּדעְ ּתֹו ִ ְּד ָב ָריו ָהיָ ה
Canaán,630 proclamando [o tempo todo a existência עַ ד ֶׁשּנִ ְת ַק ְּבצּו.עַ ד ֶׁשּיַ ְחזִ ֵירהּו לְ ֶד ֶרְך ָה ֱא ֶמת
de D-us], conforme está escrito: “E ali chamou em .ֵאלָ יו ֲאלָ ִפים ְּור ָבבֹות וְ ֵהם ַאנְ ֵׁשי ֵבית ַא ְב ָר ָהם
nome do Senhor, o D-us eterno”.631 Quando as pessoas
se reuniam em torno dele e perguntavam acerca das וְ ָׁש ַתל ְּבלִ ָּבם ָהעִ ָיקר ַהּגָ דֹול ַהּזֶ ה וְ ִח ֵּבר ּבֹו
suas declarações, ele explicava a cada uma de acordo וְ יָ ַׁשב633.הֹודיעֹו לְ יִ צְ ָחק ְּבנֹו ִ ְ ו632ְס ָפ ִרים
com o nível de entendimento dela, até [convencê-la 634
הֹודיעַ לְ יַ עֲ קֹב
ִ ּומזְ ִהיר וְ יִ צְ ָחק ַ יִ צְ ָחק ְמלַ ֵּמד
a] retornar para o rumo correto. No final das contas, ּומ ֲחזִ יק ּכָ ל ַ וְ יָ ַׁשב ְמלַ ֵּמד635ּומּנָ הּו לְ לַ ֵּמד ִ
milhares e miríades se juntaram a ele. Esses foram
os homens da casa de Avraham. Ele plantou em
seus corações esse grande princípio, redigiu textos632
sobre ele e o ensinou ao seu filho Itschak.633 Itschak
também o ensinou aos outros e voltou [os corações
deles a D-us], e também o ensinou a Iaakov,634
designando-o como professor.635 [Iaakov] ensinou-o
625- Os nossos sábios relatam que após quebrar os ídolos do pai, Avraham pôs um bastão nas mãos do maior deles. Quando
o seu pai perguntou-lhe a razão de ter destruído os ídolos de sua loja, Avraham respondeu que não fora ele quem os destruira;
a culpa era do ídolo maior, aquele que segurava o bastão. O pai rejeitou secamente a resposta: “Isso não passa de uma estátua
de metal, que não é capaz de fazer nada”. Ao que Avraham retrucou: “Sendo assim, por que você a adora”?
626- Nimród (Pessachím 118a).
627- Jogando-o em uma fornalha ardente.
628- Vide Bereshit 11:31.
629- O Bereshit Rabá 39:21 comenta, a respeito da frase (Bereshit 12:5): “As pessoas que eles juntaram em Charán”, que “trata-
se das pessoas que eles converteram; Avraham convertia os homens e Sará as mulheres”.
630- Vide Bereshit, Capítulo 12, que descreve as jornadas de Avraham pela terra de Canaán.
631- Em Sotá 10a consta: “Onde se lê ‘E ali chamou’ leia-se ‘E ali fez com que chamassem [em nome do Senhor, o D-us
eterno]’” – ou seja, Avraham motivou os outros a se conscientizarem de D-us e a chamarem por Ele.
632- O Talmud em Avodá Zará (14b) relata que Avraham escreveu um texto negando a idolatria, e que ele era composto de
400 capítulos. Mas segundo o Kinát Eliáhu, o Rambam aqui não se refere à negação da idolatria e sim à propagação da fé no
D-us único, portanto os textos que aqui menciona são os contidos no Sefer Ietsirá, que segundo o Zôhar (vol. II, 275b) foram
de fato redigidos por Avraham.
633- Consta em Bereshit 18:19: “Eu o conheci e sei que ele comandará os seus filhos e a sua casa, para que guardem o caminho
de D-us”.
634- Iaakov também aprendeu de Shem e Ever (vide Rashi, Bereshit 25:27; Bereshit Rabá 25:16).
635- I.e. seria ele – e não Essáv – quem daria continuidade à herança espiritual de Avraham.
Veshinantam | 49
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
das Mitsvót de Avraham.640 [Iaakov] ordenou aos ְמ ֻמּנֶ ה ַא ַחר ְמ ֻמּנֶ ה ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא ִּת ָׁשכַ ח641לֵ וִ י
seus filhos que a liderança não deixasse Leví641 e que ּומ ְתּגַ ֵּבר ִּב ְבנֵ י
ִ וְ ָהיָ ה ַה ָּד ָבר הֹולֵ ְך.ַהּלִ ּמּוד
fosse transferida de pai para filho, de modo que os יַ עֲ קֹב ַּובּנִ לְ וִ ים עֲ לֵ ֶיהם וְ נַ עֲ ֵׂשית ָּבעֹולָ ם ֻא ָּמה
ensinamentos não fossem esquecidos. Esse conceito
vingou e ganhou força entre os descendentes de
עַ ד ֶׁש ָא ְרכּו ַהּיָ ִמים642.'יֹודעַ ת ֶאת ה ַ ֶׁש ִהיא
Iaakov e entre aqueles que ficavam ao seu redor, לְ יִ ְׂש ָר ֵאל ְּב ִמצְ ַריִ ם וְ ָחזְ רּו לִ לְ מֹד ַמעֲ ֵׂש ֶיהן
643
e eles se tornaram o [único] povo do mundo a מֹותן חּוץ ִמ ֵּׁש ֶבט לֵ וִ י ָ ְ ּכ644וְ לַ עֲ בֹד ּכֹוכָ ִבים
reconhecer o D-us [único].642 No entanto, quando os ּומעֹולָ ם ל ֹא עָ ַבד ֵ .ֶׁשעָ ַמד ְּב ִמצְ וַ ת ָאבֹות
israelitas estenderam a sua permanência no Egito,643 וְ כִ ְמעַ ט ָקט.בֹודת ּכֹוכָ ִבים
645
ַ ֲֵׁש ֶבט לֵ וִ י ע
eles voltaram a aprender as atitudes [dos egípcios] e,
como eles, passaram a adorar as estrelas.644 Só a tribo
ָהיָ ה ָהעִ ָּקר ֶׁש ָּׁש ַתל ַא ְב ָר ָהם נֶ עֱ ַקר וְ חֹוזְ ִרין ְּבנֵ י
de Leví permaneceu ligada às Mitsvót dos patriarcas. ּומ ַא ֲה ַבת ֵ 646.ּיֹותן ָ ִיַ עֲ קֹב לְ ָטעּות ָהעֹולָ ם ְּותע
A tribo de Leví jamais serviu a deuses falsos.645 Em ּומ ָּׁש ְמרֹו ֶאת ַה ְּׁשבּועָ ה לְ ַא ְב ָר ָהם ִ אֹותנּו
ָ 'ה
pouco tempo, o princípio que Avraham cultivara עָ ָׂשה מ ֶֹׁשה ַר ֵּבנּו ַר ָּבן ֶׁשל כָ ל647ָא ִבינּו
quase foi extinto, com o retorno dos descendentes ּכֵ יוָ ן ֶׁשּנִ ְתנַ ֵּבא מ ֶֹׁשה649.ּוׁשלָ חֹו ְ 648ַהּנְ ִב ִיאים
de Iaakov aos erros do mundo e aos seus desvios.646
Graças ao amor de D-us por nós e à manutenção da
promessa que fez ao nosso patriarca Avraham,647 Ele
capacitou Moshé, o nosso mestre e mestre de todos
os profetas648 e o enviou [para salvar os judeus].649
636- Diferentemente de Avraham e Itschak, todos os filhos de Iaakov foram justos (vide Hilchót Keriát Shemá 1:4).
637- Vide Pirkei Derabi Eliezer, Capítulo 39; Shemot Rabá 15:27.
638- O Midrásh Tanchuma (Vaigásh) comenta, a respeito da frase (Bereshit 46:28): “E Iaakov enviou Iehudá na frente dele”, que
Iaakov o encarregou de fundar uma Ieshivá. Similarmente, Iomá 28b afirma que essa academia talmúdica ainda permanecia
ativa na época do exílio egípcio.
639- Vide Hilchót Deót 1:7, que explica a expressão “o caminho de D-us”.
640- Em Hilchót Melachím 9:1 está relatado, a esse respeito, que além das sete leis universais preceituadas a Noach e seus
descendentes, foi ordenada a Avraham a Mitsvá da circuncisão; ele instituiu a oração da manhã. Itschak separou dízimos e instituiu
a prece da tarde. Iaakov acrescentou a proibição de ingerir o Guid Hanashê, o “nervo deslocado”, e instituiu a prece noturna.
641- Assim, o manto da liderança passou para Kehát e, em seguida, a Amram, pai de Moshé.
642- Isso descreve o período inicial da permanência dos judeus no Egito, quando eles prosperaram tanto espiritual quanto
materialmente.
643- O exílio egípcio durou 210 anos. Enquanto os filhos de Iaakov estiveram vivos, os judeus preservaram a herança de seus
pais e foram tratados com honra pelos egípcios. O último filho de Iaakov a morrer foi Leví. Depois da morte dele, o nível
espiritual dos judeus decaiu. Leví viveu por 127 anos. Ele tinha 44 ao entrar no Egito. Portanto, essa decadência espiritual
ocorreu 83 anos depois da entrada dos judeus no Egito.
644- Quando os judeus adotaram os valores dos egípcios – como reflexo de seu estado espiritual – eles foram escravizados
pelos egípcios.
645- A tribo de Leví foi também a única a perpetuar a Mitsvá da circuncisão (Sifri, Berachá). Como resultado de sua firmeza
espiritual, a tribo de Leví nunca foi escravizada.
646- Segundo os nossos sábios, no exílio egípcio os judeus decaíram até o 49º degrau de impureza. Se eles decaíssem apenas
mais um degrau, eles jamais poderiam ser redimidos.
647- Aqui o Rambam se refere a Devarím 7:7-8: “Não foi por serdes mais numerosos que todos os outros povos que D-us
vos quis e vos escolheu... mas foi pelo amor que D-us tem por vós e por Ele ter mantido a aliança que fez com vossos pais”.
648- Vide em Hilchót Iessodei Hatorá 7:6 os diferenciais de Moshé sobre todos os outros profetas. De fato, em seu Comentário
à Mishná (Introdução ao Capítulo 10 de San-hedrín), ele inclui a crença na supremacia de Moshé como um dos Treze
Princípios de Fé.
649- Após 117 anos de adoração a ídolos e escravidão.
Veshinantam | 50
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
Depois que o nosso mestre Moshé profetizou e D-us ַר ֵּבנּו ָּוב ַחר ה' יִ ְׂש ָר ֵאל לְ נַ ֲחלָ ה ִהכְ ִּת ָירן ְּב ִּמצְ ֹות
escolheu Israêl como Sua herança, Ele coroou o povo ּומה יִ ְהיֶ ה ִמ ְׁש ַּפט ַ בֹודתֹו ָ ֲהֹודיעָ ם ֶּד ֶרְך ע ִ ְו
com as Mitsvót e indicou-lhe o caminho para a Sua 650
.בֹודת ּכֹוכָ ִבים וְ כָ ל ַהּטֹועִ ים ַא ֲח ֶר ָיה ַ ֲע
adoração, [ensinando como] julgar a idolatria e
todos os seus seguidores.650
650- Conforme será explicado nos capítulos subsequentes. A elaboração do Rambam da experiência negativa de nosso povo
no Egito e da outorga da Torá tem a seguinte implicação: Muito embora consiga perceber com o próprio intelecto quão vazia
é a natureza da idolatria e quão desmedida é a grandeza de D-us, o homem é falível. É necessário portanto ter esses princípios
instituídos em um código objetivo e imutável (Rebe de Lubavitch, Likutei Sichót, vol. 20).
Veshinantam | 51
Rambam: terça-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
1. A essência do preceito que proíbe idolatria é בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֶׁשּל ֹא לַ עֲ בֹד ָ ֲ עִ ַקר ַהּצִ ּוּוי ַּבע.א
que não se adore nenhuma das criações,651 nem ל ֹא ַמלְ ָאְך וְ ל ֹא ּגַ לְ ּגַ ל.רּואים
651
ִ ֶא ָחד ִמּכָ ל ַה ְּב
um anjo, nem uma esfera, nem uma estrela,652 nem 653
וְ ל ֹא ֶא ָחד ֵמ ַא ְר ָּבעָ ה ַהּיְ סֹודֹות652וְ ל ֹא כֹוכָ ב
qualquer um dos quatro elementos fundamentais,653
nem qualquer entidade criada a partir deles.654 וְ ַאף ַעל ִּפי654.וְ ל ֹא ֶא ָחד ִמּכָ ל ַהּנִ ְב ָר ִאים ֵמ ֶהם
Ainda que o adorador reconheça que Hashem עֹובד ֵ ֹלהים וְ הּוא ִ יֹודעַ ֶׁשה' הּוא ָה ֱא ֵ עֹובד
ֵ ֶׁש ָה
é o verdadeiro D-us, se ele adorar uma criatura ַהּנִ ְב ָרא ַהּזֶ ה עַ ל ֶּד ֶרְך ֶׁש ָע ַבד ֱאנֹוׁש וְ ַאנְ ֵׁשי ּדֹורֹו
da mesma maneira com que Enósh e as pessoas וְ עִ נְ יָ ן זֶ ה656.עֹובד ּכֹוכָ ִבים ֵ ֲה ֵרי זֶ ה655ְּת ִחּלָ ה
da geração dele adoravam originalmente,655 ele é "ּופן
ֶ 657
ּתֹורה עָ לָ יו וְ ָא ְמ ָרהָ הּוא ֶׁש ִהזְ ִה ָירה
considerado um adorador de ídolos.656 A Torá nos
adverte quanto a isso, dizendo:657 “Para que não 'ִּת ָּׂשא עֵ ינֶ יָך ַה ָּׁש ַמיְ ָמה וְ ָר ִא ָית ֶאת ַה ֶּׁש ֶמׁש וְ גֹו
levantes os teus olhos em direção ao céu e vejas ."ֹלהיָך א ָֹתם לְ כֹל ָהעַ ִּמים ֶ ֲא ֶׁשר ָחלַ ק ה' ֱא
o sol, a lua e as estrelas... [e te curves e sirvas a לֹומר ֶׁש ָּמא ָּתׁשּוט ְּבעֵ ין לִ ְּבָך וְ ִת ְר ֶאה ֶׁש ֵאּלּו ַ ְּכ
eles], as entidades que D-us designou para todos 'ֵהן ַה ַּמנְ ִהיגִ ים ֶאת ָהעֹולָ ם וְ ֵהם ֶׁש ָחלַ ק ה
os povos”, etc. Esse versículo implica que se você וְ הֹוִ ים658אֹותם לְ כָ ל ָהעֹולָ ם לִ ְהיֹות ָחּיִ ים ָ
investigar com “o olho do coração”, poderá parecer
que essas entidades governam o mundo, e são elas ֹאמר ַ וְ ֵאינָ ם נִ ְפ ָס ִדים ּכְ ִמנְ ָהגֹו ֶׁשל עֹולָ ם וְ ת
659
que foram espalhadas por D-us por todo o universo ְּובעִ נְ יָ ן.ֶׁש ָראּוי לְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹות לָ ֶהם ּולְ עָ ְב ָדן
para viver658 e existir, sem cessar de existir como as ֶּפן661"ה ָּׁש ְמרּו לָ כֶ ם ִ 660ַהזֶ ה צִ ּוָ ה וְ ָא ַמר
[criações] do mundo;659 e que, consequentemente, לֹומר ֶׁשּל ֹא ִת ְטעּו ְּב ִה ְרהּור ַ ְ ּכ."יִ ְפ ֶּתה לְ ַב ְבכֶ ם
você acabe achando correto curvar-se perante elas
e adorá-las. É por isso que consta a preceituação:660
“Cuidai-vos661 para que o vosso coração não fique
tentado [a se desviar para adorar a outros deuses]”.
651- O Rambam considera a proibição de adorar ídolos como o primeiro dos 365 preceitos negativos.
652- Rosh Hashaná 24b. Vide Hilchót Iessodei Hatorá, Capítulos 2 e 3.
653- Fogo, ar, água e terra. O Rambam descreve a existência e função desses quatro elementos fundamentais em Hilchót
Iessodei Hatorá, Capítulos 3 e 4.
654- Todas as criações do nosso mundo físico resultam de uma combinação desses quatro elementos.
655- Conforme o Rambam mencionou no Capítulo 1, Halachá 1.
656- E está sujeito às punições mencionadas no Capítulo 3, Halachá 1.
657- Devarím 4:19.
658- Vide Hilchót Iessodei Hatorá 3:9, onde consta que as estrelas e as esferas vivem e têm consciência da existência de D-us.
659- Nos primeiros capítulos do Guia dos Perplexos, Vol. II, e em Hilchót Iessodei Hatorá 4:3, o Rambam explica que todas
as criações deste mundo são combinações de diferentes elementos e que consequentemente elas acabarão retornando ao seu
estado elementar inicial. Em contraste, a existência das estrelas e dos planetas permanece imutável.
660- Devarím 11:16.
661- As palavras “Cuidai-vos” indica uma proibição derivada da Torá. Na Halachá 3, o Rambam faz uso dessa expressão para
descrever a proibição de abrigar tais pensamentos.
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Isso implica que os pensamentos dos seus corações ַהּלֵ ב לַ עֲ בֹד ֵאּלּו לִ ְהיֹות ַס ְרסּור ֵּבינֵ יכֶ ם ֵּובין
não devem levar vocês ao erro de adorá-los e de fazer 662
.ּבֹורא
ֵ ַה
deles intermediários entre vocês e o Criador.662
2. Os adoradores de deuses falsos redigiram muitos עֹוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים ְ ְס ָפ ִרים ַר ִּבים ִח ְּברּו.ב
textos acerca das suas adorações, [descrevendo] os ּומה ַמעֲ ֶׂש ָיה ַ בֹוד ָתּהָ ֲ ֵה ַיאְך עִ ַקר ע.בֹוד ָתּה ָ ֲַּבע
fundamentos dos seus cultos, as práticas envolvidas צִ ּוָ נּו ַה ָּקדֹוׁש ָּברּוְך הּוא ֶׁשּל ֹא.ּומ ְׁש ָּפ ֶט ָיה ִ
e os seus estatutos. O Santo, bendito é Ele, nos
ordenou a não ler esses textos nem pensar neles, אֹותן ַה ְּס ָפ ִרים ּכְ לָ ל וְ ל ֹא נְ ַה ְר ֵהר ָ לִ ְקרֹות ְּב
nem em qualquer assunto relacionado a eles.663 É וַ ֲא ִפּלּו לְ ִה ְס ַּתּכֵ ל663.ָּבּה וְ ל ֹא ְב ָד ָבר ִמ ְּד ָב ֶר ָיה
proibido até mesmo olhar para a imagem de um "אל ַ 665 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר664.ּצּורה ָאסּור ָ ִּב ְדמּות ַה
ídolo,664 conforme está escrito:665 “Não vos volteis 666
ְּובעִ נְ יָ ן ַהזֶ ה נֶ ֱא ַמר."ִּת ְפנּו ֶאל ָה ֱאלִ ילִ ם
aos ídolos”. A respeito disso está dito:666 “[Cuida- ."אֹלה ֶיהם לֵ אמֹר ֵאיכָ ה יַ עַ ְבדּו ֵ ֵ"ּופן ִּת ְדרֹׁש ל ֶ
te]... de não indagar sobre os deuses deles, dizendo,
‘Como eles os servem’”. Isso proíbe a investigação da בֹוד ָתּה ֵה ַיאְך ִהיא ַאף ָ ֲֶׁשּל ֹא ִת ְׁש ַאל עַ ל ֶּד ֶרְך ע
natureza da adoração deles até mesmo se você não os ּגֹורם לָ ְךֵ עֹוב ָדּה ֶׁש ָּד ָבר זֶ ה ְ עַ ל ִּפי ֶׁש ֵאין ַא ָּתה
adorar, pois causará com que você se volte [ao deus .עֹוׂשין
ִ לְ ִה ָּפנֹות ַא ֲח ֶר ָיה וְ לַ עֲ ׂשֹות ּכְ מֹו ֶׁש ֵהן
falso] e o sirva assim como eles o servem, conforme ."ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וְ ֶאעֱ ֶׂשה ּכֵ ן ּגַ ם ָאנִ י
[o versículo acima prossegue dizendo]: “Para que eu
[os] sirva da mesma maneira”.
3. Todas essas proibições667 têm em comum uma ְּבעִ נְ יָ ן ֶא ָחד ֵהן667 וְ כָ ל ַהּלָ אוִ ין ָה ֵאלּו.ג
única diretriz: que não se deve dar atenção à 668
.בֹודת ּכֹוכָ ִביםַ ֲוְ הּוא ֶׁשּל ֹא יִ ָּפנֶ ה ַא ַחר ע
adoração de ídolos.668 Quem executa um ato669
עֹוׂשה
ֶ וְ כֹל ַהּנִ ְפנֶ ה ַא ֲח ֶר ָיה ְּב ֶד ֶרְך ֶׁשהּוא
demonstrando interesse pela [adoração de ídolos]
deve ser [punido com] chibatadas. Não é só à בֹודת ַ וְ ל ֹא ֲע.לֹוקה ֶ ֲה ֵרי זֶ ה669בֹו ַמעֲ ֶׂשה
adoração de deuses falsos que somos proibidos de ּכֹוכָ ִבים ִּבלְ ַבד הּוא ֶׁש ָאסּור לְ ִה ָּפנֹות ַא ֲח ֶר ָיה
dar atenção em nossos pensamentos,670 mas somos ּגֹור ֶמת לֹו ֶ ֶאלָ א ּכָ ל ַמ ֲח ָׁש ָבה ֶׁש670ְּב ַמ ֲח ָׁש ָבה
advertidos a desconsiderar qualquer ideia que nos ּתֹורה ֻמזְ ָה ִרים ָ לָ ָא ָדם לַ עֲ קֹר עִ ָקר ֵמעִ ָיק ֵרי ַה
leve à eliminação de um dos fundamentos da Torá.
לֹותּה עַ ל לִ ֵּבנּו וְ ל ֹא נַ ִּס ַיח
ָ ֲָאנּו ֶׁשּל ֹא לְ ַהע
Não devemos voltar as nossas mentes para essas
questões ou pensar sobre elas, nem nos deixar levar הּורי
ֵ ַּדעְ ֵּתנּו לְ כָ ְך וְ נַ ֲחׁשֹב וְ נִ ָּמ ֵׁשְך ַא ַחר ִה ְר
pelos pensamentos de nossos corações. Ocorre ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ַּדעְ ּתֹו ֶׁשל ָא ָדם ְקצָ ָרה וְ ל ֹא כָ ל.ַהּלֵ ב
662- No quinto dos Treze Princípios da Fé do Rambam (Comentário à Mishná, San-hedrín, Capítulo 10) consta: “O quinto
princípio fundamental é que só é apropriado servir ao D-us único... e não às entidades que estão abaixo Dele: os anjos, as
estrelas, as esferas ou os elementos fundamentais, pois todos eles são predeterminados em suas naturezas. Eles não possuem
nem julgamento nem livre arbítrio, mas apenas [cumprem] a vontade de D-us. Não podemos elegê-los como mediadores para
que as nossas preces alcançem a D-us por intermédio deles; só a Ele os nossos pensamentos devem ser dirigidos, desdenhando
tudo o mais. Essa é a... proibição de adorar deuses falsos”. Vide San-hedrín 38b.
663- Os comentaristas incluíram também o estudo de outros livros escritos por pagãos e hereges nessa proibição. O Zôhar,
Vol. I, 100a, menciona essa proibição juntamente da sua explicação, “para que o teu coração não caia na tentação dessa
adoração”.
664- Shabat 149a.
665- Vaikrá 19:4.
666- Devarím 12:30.
667- As que se encontram mencionadas nas duas Halachót acima.
668- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 10) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 213) consideram essa como uma das 613 Mitsvót
da Torá. Vide Eruvín 96a.
669- Como por exemplo alguém que por curiosidade põe à mostra uma imagem para saber qual é a aparência dela (Maharshál)
ou executa um ato cerimonial de adoração a um ídolo apenas a título de experimentação (Mishnê Késsef).
670- Na Introdução ao Sefer Hamitsvót (Shoresh 9) consta que há Mitsvót de pensamento, de sentimento, de fala e de ação.
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compreensão.681 Os nossos sábios682 interpretaram ּכָ ְך ָא ְמרּו681.ֶׁש ַּמ ֲח ַׁש ְבּתֹו ַמ ֶּׂשגֶ ת ָה ֱא ֶמת
[assim essa advertência]: “Atrás dos vossos corações” 683
."א ֲח ֵרי לְ ַב ְבכֶ ם" זֹו ִמינּות ַ 682ֲחכָ ִמים
se refere a heresia;683 “atrás dos vossos olhos” se refere וְ לַ או זֶ ה ַאף עַ ל ִּפי."וְ ַא ֲח ֵרי עֵ ינֵ יכֶ ם" זֹו זְ נּות
a imoralidade. Essa proibição – embora [severa],
causando o impedimento da pessoa [de conquistar
684
ּגֹורם לָ ָא ָדם לְ ָט ְרדֹו ִמן ָהעֹולָ ם ַה ָּבא
ֵ ֶׁשהּוא
uma porção] no Mundo Vindouro684 – não é punível
685
.ֵאין ּבֹו ַמלְ קּות
com chibatadas.685
5. Um judeu que idolatra deuses falsos692 é ֲה ֵרי הּוא692בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ יִ ְׂש ָר ֵאל ֶׁשעָ ַבד ע.ה
considerado gentio sob todos os aspectos. 693
עֹובד ּכֹוכָ ִבים לְ כָ ל ָּד ָב ָריו וְ ֵאינֺו כְ יִ ְׂש ָר ֵאל
693
ֵ ְּכ
Ele não é comparável a um judeu que tenha
violado outra transgressão punível com morte
681- Ao invés disso, deve-se seguir um padrão estruturado para o crescimento e desenvolvimento intelectual prescrito por
um mestre de Torá.
682- Sifri, Parashat Shelách. Vide também Berachót 12b.
683- Vide Halachá 5 para uma definição do termo Minút.
684- Em Hilchót Teshuvá 3:8, o Rambam inclui entre as categorias que não têm direito a uma porção no Mundo Vindouro:
“descrentes, hereges, aqueles que renegam a Torá... aqueles que levam muitos a pecar, e aqueles que saem dos caminhos da
comunidade”. Seguir os caprichos do coração pode levar à transgressão dessas proibições.
685- Makót 16a.
686- Bamidbar 15:22.
687- Horaiót 5a. I.e. uma única proibição que equivale à violação de toda a Torá.
688- Vide Hilchót Iessodei Hatorá 8:1-2, onde está explicado que a essência da tradição profética está ligada à revelação de
D-us no Monte Sinai.
689- Vide Hilchót Melachím 9:1, onde consta que D-us ordenou a Adám a preceituação que regula a adoração de deuses
falsos. Essa declaração está fundamentada em Bereshit Rabá 16:6.
690- Bamidbar 15:23.
691- Kidushín 40a, Chulín 5a.
692- Para o Turei Éven, isso se aplica até a quem tiver adorado um deus falso apenas uma vez.
693- I.e. a ele são negadas as condições desfrutadas por qualquer indivíduo judeu – como por exemplo, a devolução de um
objeto perdido ou a concessão de empréstimos sem juros. Se ele abater ritualmente animais eles se tornarão inaceitáveis. Ele
não poderá ser contado para completar um quorum de Minián. Mas se vier a se arrepender, ele voltará a ser tratado como
qualquer outro judeu.
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708- Embora sejam duas proibições diferentes, a similaridade conceitual que ambas partilham faz com que sejam agrupadas
no Mishnê Torá.
709- O Rambam também menciona essa expressão com relação a idolatria em Hilchót Iessodei Hatorá 1:6. A fonte dela é
San-hedrín 45b.
710- Em Hilchót Iessodei Hatorá (6:2) o Rambam relaciona sete nomes de D-us que são proibidos de serem apagados, os
nomes י־ה־ו־הe ( א־ד־נ־יque são considerados como sendo um) e os nomes E-l, Elo-há, Elo-him, E-hiê, Sha-dai e Tseva-ót.
711- Vaikrá 24:16.
712- San-hedrín 56a explica que como o versículo menciona duas vezes a blasfêmia do nome de D-us, depreende-se que só
merece punição quem amaldiçoa o nome de D-us utilizando outro de Seus nomes.
713- O nome א־ד־נ־יou o nome י־ה־ו־ה.
714- O termo Kinuím não se refere apenas aos sete nomes mencionados acima, mas a qualquer termo usado para descrever
D-us.
715- Mas não deve ser executado pelo tribunal (San-hedrín ibid.).
716- Pois no versículo da Torá consta esse nome.
717- I.e. por blasfemar tanto o nome ( א־ד־נ־יAlef-Daled-Nun-Iud) quanto o nome ( י־ה־ו־הIud-Hei-Vav-Hei). Isso se baseia
na concepção do Rambam dos dois como sendo um nome único, conforme consta em Kidushín 71a: “Eu não sou chamado
conforme [o Meu nome é] escrito. Meu nome é escrito ( י־ה־ו־הIud-Hei-Vav-Hei) e e é pronunciado ( א־ד־נ־יAlef-Daled-Nun-Iud)”.
718- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 60) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 71) consideram essa proibição como uma das 613
Mitsvót da Torá. Vaikrá, Capítulo 24, relata uma ocorrência onde o nome de D-us foi blasfemado. Moshé perguntou a D-us
como punir o ofensor e foi instruído a executá-lo, bem como a todos os futuros blasfemadores. Vide também Melachím I,
Capítulo 21, onde está relatado como Navót foi apedrejado até a morte – embora devido a uma acusação forjada – por ter
blasfemado o nome de D-us. Vide Hilchót Melachím 9:1, que considera a blasfêmia do nome de D-us como uma das sete
proibições universais.
719- Shemót 22:27.
720- Embora esse versículo seja a fonte da proibição de amaldiçoar um juiz (Sefer Hamitsvót, Preceito Negativo 315), a
blasfêmia é considerada uma proibição por si só e aprendemos o Santo do não-santo (San-hedrín 56a).
721- De modo que o nome de D-us não precise ser constantemente repetido.
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9. Não adianta um blasfemador retirar imediatamente ֵאינֹו731 ְמגַ ֵּדף ֶׁש ָחזַ ר ּבֹו ְּבתֹוְך ּכְ ֵדי ִּדּבּור.ט
em meio à fala o que disse;731 portanto, caso ele tenha ִמי.כְ לּום ֶאלָ א ּכֵ יוָ ן ֶׁשּגִ ֵּדף ְּבעֵ ִדים נִ ְס ָקל
blasfemado na presença de testemunhas, ele deve ser בֹודת ּכֹוכָ ִבים
ַ ֲ ְּב ֵׁשם ע732ֶׁשּגִ ֵּדף ֶאת ַה ֵּׁשם
[penalizado com execução por] apedrejamento. Se
alguém blasfemar o nome de D-us732 usando o nome
734
.הֹורגִ ים אֹותֹו
ְ ְ ּפֹוגְ עִ ים ּבֹו ו733ַקּנָ ִאים
de um deus falso, os zelosos733 poderão atacá-lo e ַקּנָ ִאים ָּובא לְ ֵבית ִּדין735וְ ִאם ל ֹא ֲה ָרגּוהּו
matá-lo.734 Se os zelosos não o matarem735 e ele for עַ ד ֶׁש ָּיְב ֵרְך ְּב ֵׁשם ִמן ַה ֵּׁשמֹות736ֵאינֹו נִ ְס ָקל
trazido ao tribunal, ele não deverá ser [condenado 737
.ַה ְמיֻ ָח ִדים
à pena de] apedrejamento.736 [Essa punição incide]
apenas sobre quem amaldiçoa o nome de D-us
fazendo uso de outro dos Seus nomes exclusivos.737
722- O nome ( יוסיIossi) é usado pela testemunha no lugar do nome de D-us pois ele é formado de quatro letras, assim como
o nome de D-us. Também por seu equivalente numérico ser 86, o mesmo que ( א־להיםElo-him), outro nome de D-us (Rashi,
San-hedrín 56a).
723- Após a conclusão do exame das testemunhas, quando os juízes estão prontos para emitir a sentença.
724- Para minimizar a profanação do nome de D-us.
725- Uma vez que eles não podem infligir a punição a não ser que ouçam o testemunho explícito de que o nome de D-us foi
de fato amaldiçoado (Rashi, ibid.).
726- Conforme ela foi dita, amaldiçoando assim o próprio nome de D-us. O Talmud Ierushalmi (San-hedrín 7:8) declara que
as testemunhas não repetem a maldição explicitamente. O Talmud Bavlí (San-hedrín 60a), contudo, interpreta o rasgar das
roupas dos juízes como associado aos atos requeridos ao se ouvir uma blasfêmia real. Sempre que há uma diferença de opinião
entre os dois Talmudes, a opinião aceita é a do Talmud Bavlí. É com base nisso que o Rambam afirma que as testemunhas
devem repetir a maldição que ouviram.
727- Por respeito ao nome de D-us.
728- Como sinal de luto, requerido conforme a Halachá 10.
729- É proibido remendar as roupas que foram rasgadas devido ao luto pela morte dos pais ou de um mestre, pela queima de
um Sefer (Rolo da) Torá, ou pela destruição de cidades de Érets Israêl ou do Templo Sagrado (Hilchót Ével 9:1-2).
730- San-hedrín 60a.
731- A expressão Tóch Kedei Dibur (literalmente: “em meio à fala”) tem um significado haláchico específico: “O tempo que
se leva para recitar as palavras Shalom Alecha Rabi (‘Paz para ti, meu mestre’)”. Geralmente, quando uma pessoa retira uma
declaração com essa rapidez, a sua retratação é aceita e as suas palavras são desconsideradas, pois se presume que falando de
maneira casual ela pode errar sem querer. Mas essa leniência não é aplicável quando se trata de blasfêmia. Considera-se que
blasfêmia nunca é pronunciada casualmente e que a pessoa que amaldiçoa D-us tem plena consciência do seu ato. Outras
exceções a essa leniência: adoração de ídolos, matrimônio e divórcio. Também nesses casos considera-se que a pessoa tem
plena consciência da seriedade das suas declarações e não tem chance de se retratar (Nedarím 87a).
732- Qualquer dos sete nomes que não podem ser apagados.
733- Homens pios que reagem com fervor diante da violação de uma prática da Torá.
734- San-hedrín 81a. O caso clássico de uma pessoa piedosa matando um ofensor é o assassinato de Zimri por Pinchás, por
ele ter mantido relações com uma mulher midianita (Bamidbar, Capítulo 25).
735- Imediatamente. Eles devem agir diretamente após a sua blasfêmia. Caso contrário, a morte do blasfemador passa a ser
considerada assassinato (cf. Hilchót Issurei Biá 12:5).
736- Vide San-hedrín 82a.
737- Conforme explicado na Halachá 7.
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738- Bircát Hashem (literalmente: “a bênção do nome de D-us”) é um eufemismo utilizado pela literatura talmúdica para se
referir a blasfêmia.
739- Como sinal de luto (vide Hilchót Ével 9:1-2; San-hedrín 60a).
740- I.e. isso se aplica não só aos nomes א־ד־נ־יe י־ה־ו־הe aos sete nomes de D-us que não podem ser apagados, como também
a qualquer termo usado para se referir a Ele, como “O Misericordioso” ou “O Clemente”.
741- Assim como fizeram Eliakím e Shevna, na narrativa citada a seguir.
742- Ieshaiáhu 36:22.
743- Ieshaiáhu, Capítulos 36 e 37, relata como Sancherív, rei da Assíria, sitiou Ierushalaim e enviou Ravshakê para liderar
o cerco. Chezkiá, o rei de Iehudá, enviou Eliakím e Shevna para negociar com Ravshakê, que respondeu com arrogância,
exigindo rendição completa e blasfemando D-us. Chezkiá respondeu à sua blasfêmia orando para D-us, que operou um
grandioso milagre, matando 185 mil soldados das tropas de Sancherív (vide Melachím II, Capítulos 18 e 19). A tese de que
Ravshakê era um apóstata judeu é aceita sem questionamento pelo Talmud Bavlí (San-hedrín 60a), embora haja um debate
quanto a isso no Talmud Ierushalmi. A única alusão a essa tese na narrativa bíblica é a sua capacidade de falar hebraico.
744- Vaikrá 24:14.
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defeca diante do Markulis ou atira pedras no Peór לְ ִפיכָ ְך ַהּפֹועֵ ר עַ צְ מֹו.ִּת ְּקנּו לִ ְׁש ָאר צְ לָ ִמים
não é penalizado.754 Só [fica passível de penalização] עַ ד754לְ ַמ ְרקּולִ יס אֹו ֶׁשּזָ ַרק ֶא ֶבן לִ ְפעֹור ָּפטּור
quem idolatra da maneira estabelecida, conforme
está dito:755 “[Cuida-te... de não indagar sobre os "איכָ ה ֵ 755 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.בֹודתֹו ָ ֲֶׁשּיַ עֲ בֹד אֹותֹו ֶּד ֶרְך ע
deuses deles, dizendo], ‘Como eles os servem’? Para ֹלה ֶיהם וְ ֶאעֱ ֶׂשה ּכֵ ן
ֵ יַ עַ ְבדּו ַהּגֹויִ ם ָה ֵאּלֶ ה ֶאת ֱא
que eu faça o mesmo”. Por essa razão, o tribunal ּומ ְּפנֵ י זֶ ה ָהעִ נְ יָ ן צְ ִריכִ ין ֵּבית ִּדין
ִ ."ּגַ ם ָאנִ י
deve conhecer os métodos de adoração [praticados עֹובדֵ סֹוקלִ יןְ ֶׁש ֵאין756.לֵ ַידע ַּד ְרכֵ י ָהעֲ בֹודֹות
pelos idólatras],756 pois não se deve apedrejar um
745- Pena de morte pela mão do Céu (Keritót 2a; San-hedrín 53a). Portanto, quem for forçado a adorar deuses falsos não será
considerado responsável pelo seu ato. No entanto, é proibido consentir com essa coerção. É obrigatório sacrificar a própria
vida e não aceitar fazer adoração idólatra (Hilchót Iessodei Hatorá 5:2,4).
746- Vide Hilchót San-hedrín 12:1-2.
747- Conforme mencionado acima, Capítulo 2, Halachá 6.
748- I.e. se ele realizou um ato de adoração a ídolos sem ter-se dado conta que cometia uma transgressão, ou se não estava
ciente da punição envolvida (Hilchót Shegagót 2:2).
749- Uma oferenda fixa de pecado. Algumas oferendas dependem das condições financeiras do pecador. Essa porém é fixada
para todos por igual.
750- Vide Bamidbar, Capítulo 25. Vide também San-hedrín 61a.
751- O Aruch identifica o nome hebraico Markulis como sendo o deus grego Mercúrio, e observa que a forma usada para
representar esse deus e o modo de adorá-lo assemelham-se aos encontrados nas fontes romanas e gregas. Vide Tossafót, San-
hedrín 64a, para uma interpretação diferente.
752- Vide Halachá 5.
753- A remoção dessas pedras abre espaço para que outras possam ser jogadas. Esse ato é também considerado um serviço à
deidade (San-hedrín 64a).
754- San-hedrín 61a.
755- Devarím 12:30.
756- Vide Capítulo 2, Halachá 2, que proíbe o estudo de práticas idólatras. Aparentemente, aos sábios é concedida licença para
fazê-lo, para que cumpram o disposto nesta Halachá (vide San-hedrín 68a).
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3. A advertência [que torna] essas adorações e coisas וְ ַאזְ ָה ָרה ֶׁשל ֲעבֹודֹות ֵאּלּו וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן.ג
do gênero [proibidas] encontra-se no escrito:757 “Não ַּב ֶּמה758." "וְ ל ֹא ָתעָ ְב ֵדם757הּוא ַמה ֶׁשּכָ תּוב
os venere”.758 Quando isso759 se aplica? Quando se trata
ִּב ְׁש ָאר עֲ בֹודֹות חּוץ759?מּורים ִ ְּד ָב ִרים ֲא
de outros modos de adoração além de curvar-se,760
sacrificar [um animal], queimar incenso ou oferecer
761
.ּומנַ ֵּסְך
ְ ּומ ְק ִטיר ַ זֹוב ַח ֵ ְ ו760ִמ ִּמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה
libação.761 Ao executar um desses quatro cultos por עֹובד ְּב ַא ַחת ֵמ ַא ְר ַּבע עֲ בֹודֹות ֵאּלּו ֵ ֲא ָבל ָה
qualquer tipo de ídolo a pessoa é passível de punição, בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַחּיָב וְ ַאף עַ ל ַ ֲלְ ֶא ָחד ִמּכָ ל ִמינֵ י ע
mesmo se ela não servir da maneira tradicionalmente ּכֵ יצַ ד? ֲה ֵרי ֶׁשּנִ ֵּסְך.בֹודתֹו ְּבכָ ְך
ָ ֲִּפי ֶׁש ֵאין ֶּד ֶרְך ע
praticada. Como isso pode ser exemplificado? 762
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לִ ְפעֹור אֹו ֶׁשּזָ ַבח לְ ַמ ְרקּולִ יס ַחּיָב
[Assim]: Se a pessoa oferecer uma libação para o Peór
ou um sacrifício [de animal] para o Markulis, ela é ." ִּבלְ ִּתי לַ ה׳ לְ ַבּדֹו763ֹלהים יָ ֳח ָרם ִ "ז ֵֹב ַח לָ ֱא
condenada, conforme está dito:762 “Quem sacrificar ?בֹודה ָהיְ ָתה וְ לָ ָּמה יָ צָ את ָ ֲִזְב ָיחה ִּבכְ לָ ל ע
[um animal] para qualquer deidade além de D-us עֹוב ִדין ָּבּה ְ לֹומר לָ ְך ַמה ִזְב ָיחה ְמיֻ ֶח ֶדת ֶׁש ַ
deverá ser condenado à morte,763 a não ser tão somente ּזֹוב ַח לְ ֵאל ַא ֵחר ְס ִקילָ ה עָ לֶ ָיה ֵּבין ֵ לַ ֵּׁשם וְ ַחּיָב ַה
a D-us”. Mas por que o sacrifício foi mencionado
בֹודתֺו ִּב ִזְב ָיחה אֹו ֵאינָ ּה ִּב ִזְב ָיחה ָ ֲָהיְ ָתה ֶּד ֶרְך ע
explicitamente, se é uma veneração classificada como
proibida em geral? Para ensinar que se o sacrifício בֹודה ֶׁש ִהיא ְמיֻ ֶח ֶדת לַ ֵּׁשם ִאם עָ ַבד ָ ֲַאף ּכָ ל ע
é um serviço especial oferecido para Hashem e בֹודתֹו ְּבכָ ְך ָ ֲָּבּה לְ ֵאל ַא ֵחר ֵּבין ֶׁש ָהיְ ָתה ֶּד ֶרְך ע
quem o oferece para ídolos deve ser executado por 764
לְ כָ ְך נֶ ֱא ַמר.ֵּבין ְׁש ֵאינָ ּה ְּבכָ ְך ַחּיָב עָ לֶ ָיה
apedrejamento, quer seja quer não seja essa a maneira לְ ַחּיֵב עַ ל765""ל ֹא ִת ְׁש ַּת ֲחוֶ ה לְ ֵאל ַא ֵחר
de culto tradicionalmente praticada, assim também 766
.בֹודתֹו ְּבכָ ְך
ָ ֲַה ִה ְׁש ַּת ֲחוָ יָ ה ֲא ִפּלּו ֵאין ֶּד ֶרְך ע
com relação a todos os serviços que são especiais para
Hashem, quem executá-los na adoração de outros
deuses também terá transgredido a lei, quer seja quer
não seja essa a maneira de culto tradicionalmente
praticada. É por isso que está dito: 764 “Não te curves a
outro deus”,765 para ensinar que a pessoa é condenada
ao se curvar [diante de outro deus] até mesmo se
não for essa a maneira de culto tradicionalmente
praticada.766 O mesmo se aplica a quem oferecer um
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5. Quem faz adoração a um ídolo da maneira בֹודת ּכֹוכָ ִבים ּכְ ַד ְרּכָ ּה וַ ֲא ִפּלּו
ַ ֲעֹובד ע ֵ ָה.ה
tradicionalmente praticada, mesmo se agir com ּכֵ יצַ ד? ַהּפֹועֵ ר עַ צְ מֹו.עָ ָׂשה ֶּד ֶרְך ִּבּזָ יֹון ַחּיָב
777
intenção sarcástica, é condenado.777 Como isso pode ser לַ ְפעֹור ּכְ ֵדי לְ ַבּזֹותֹו אֹו זָ ַרק ֶא ֶבן לְ ַמ ְרקּולִ יס
exemplificado? [Assim]: Se a pessoa defecar diante do
Peór para repudiá-lo ou atirar uma pedra em Markulis
para rejeitá-lo ela será condenada, uma vez que é assim
que eles são servidos. [Para expiar] a transgressão
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6. [As regras a seguir se aplicam ao] indivíduo que בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֵמ ַא ֲה ָבה ּכְ גֹון ַ ֲעֹובד ע ֵ ָה.ו
idolatra uma imagem por amor – por exemplo, צּורה זֹו ִמ ְּפנֵ י ְמלַ אכְ ָּתּה ֶׁש ָהיְ ָתה ָ ֶׁש ָח ַׁשק ְּב
desejando-a por se sentir atraído pelo modo de servi- יֹותר אֹו ֶׁשעֲ ָב ָדּה ִמּיִ ְר ָאתֹו לָ ּה ֶׁש ָּמא ֵ נָ ָאה ְב
la, ou por temor – i.e. por temer que ela lhe faça mal,
assim como os adoradores [de ídolos] a imaginam
עֹוב ֶד ָיה ֶׁש ִהיא ְ ָת ֵרעַ לֹו ּכְ מֹו ֶׁש ֵהן ְמ ַד ִּמים
como sendo [fontes] do bem e do mal:779 Se a tiver לֹוּה
ַ ִאם ִק ְּבלָ ּה עָ לָ יו ֶּב ֱא779.ּומ ֵרעָ ה ְ ְמ ִט ָיבה
aceito como divindade, ele deverá ser apedrejado até 782
ּבֹוד ָתהָ ֲ וְ ִאם עֲ ָב ָדּה ֶד ֶרְך ע.ַחּיָב ְס ִקילָ ה
780
a morte.780 Se por amor ou temor781 ele a tiver servido ֵמ ַא ֲה ָבה אֹו783אֹו ְּב ַא ַחת ֵמ ַא ְר ַּבע ֲעבֹודֹות
da maneira tradicionalmente praticada782 ou fazendo בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ ַה ְּמגַ ֵּפף ע784. ָּפטּור781ִמּיִ ְר ָאה
um dos quatro cultos [mencionados acima],783 ele
não será punido.784 Quem abraçar e beijar um ídolo,
וְ ַה ְּמנַ ֵּׁשק לָ ּה וְ ַה ְּמכַ ֵּבד וְ ַה ְמ ַר ֵּבץ לְ ָפנֶ ָיה
varrer e limpar o espaço diante dele, lavá-lo, untá- וְ ַה ַּמ ְר ִחיץ לָ ּה וְ ַה ָּסְך וְ ַה ַּמלְ ִּביׁש וְ ַה ַּמנְ עִ יל וְ כֹל
lo, vesti-lo, calçar sapatos nele ou executar qualquer .עֹובר ְּבל ֹא ַתעֲ ֶׂשה ֵ ּכַ ּיֹוצֵ א ְּב ִד ְב ֵרי כָ בֹוד ָה ֵאּלּו
ato similar de deferência, terá transgredido um ְּוד ָב ִרים ֵאּלּו786" "וְ ל ֹא ָתעָ ְב ֵדם785ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
preceito negativo, conforme está dito:785 “Não os 787
לֹוקה
ֶ וְ ַאף עַ ל ִּפי כֵ ן ֵאינֹו.בֹודה ֵהן ָ ֲִּבכְ לָ ל ע
servireis”.786 Esses atos são considerados serviços.
Mesmo assim, não se penaliza o transgressor com
וְ ִאם ָהיְ ָתה.עַ ל ַא ַחת ֵמ ֶהן לְ ִפי ְׁש ֵאינָ ן ְּב ֵפרּוׁש
chibatadas,787 uma vez que eles não se encontram
788
בֹוד ָתּה ְּב ֶא ָחד ִמּכָ ל ַה ְּד ָב ִרים ָה ֵאּלּו ָ ֲֶד ֶרְך ע
mencionados explicitamente [na Torá]. Se um dos .וְ עָ ָׂשהּו לְ עָ ְב ָדּה ַחּיָב
cultos acima788 caracterizar o modo de sua veneração
tradicionalmente praticado e a pessoa tiver
executado esse serviço como um ato de veneração,
ela merecerá [ser executada].
7. Se entrar uma lasca no pé da pessoa diante de בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ יָ ַׁשב לֹו קֹוץ ְּב ַרגְ לֹו לִ ְפנֵ י ע.ז
um ídolo, ela não poderá se inclinar para removê- ל ֹא יָ ׁש ַֹח וְ יִ ְּטלֶ ּנּו ִמ ְּפנֵ י ֶׁשּנִ ְר ֶאה ּכְ ִמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה
la, para não parecer que está se curvando diante do נִ ְת ַּפּזְ רּו לֹו ָמעֹות ְּב ָפנֶ ָיה ל ֹא יָ ׁש ַֹח789.לָ ּה
ídolo.789 Se o dinheiro da pessoa [cair e] se espalhar
diante de um ídolo, ela não poderá se inclinar para וְ יִ ְּטלֵ ם ִמ ְּפנֵ י ֶׁשּנִ ְר ֶאה ּכְ ִמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה לָ ּה ֶאלָ א
apanhá-lo, para não parecer que está se curvando .יֵ ֵׁשב וְ ַא ַחר ּכָ ְך יִ ּטֹל
778- Muito embora ela tenha de fato realizado um ato de culto a esses deuses, já que a intenção dela não foi de servi-los, ela
não é considerada como tendo servido ídolos voluntariamente. É por isso que ela não é punida pelo tribunal por seu ato, nem
é punida com Carêt por D-us. Mas por ter feito um ato de culto a esses deuses, ela deve trazer um sacrifício para expiação
(Késsef Mishnê).
779- Vide Capítulo 1, Halachót 1-2.
780- Conforme declarado na Halachá 1.
781- Sem aceitá-la como deus.
782- Conforme declarado na Halachá 2.
783- Na Halachá 3.
784- Uma vez que não aceitou a divindade como D-us. Essa Halachá se baseia em San-hedrín 61b.
785- Shemót 20:5.
786- San-hedrín 60b. Esse preceito está descrito nas Halachót 2 e 3.
787- Nem de execução, como quem serve um deus falso.
788- Abraçar, beijar etc.
789- Avodá Zará 12a afirma que se a pessoa se inclina de costas ou de lado para o ídolo, a sua inclinação não é considerada
um ato de deferência e não é punível. Mesmo ninguém mais estando presente, essa proibição e as proibições seguintes se
aplicam. Qualquer proibição instituída devido a Marít Haáin não pode ser transgredida nem mesmo dentro dos aposentos
mais privados da pessoa.
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8. Não é permitido colocar a boca sobre a boca de בֹודת ַ ַּפ ְרצּופֹות ַה ְמ ַקּלְ חֹות ַמיִ ם ִּב ְפנֵ י ֲע.ח
uma estátua que serve como fonte de água caso ela ִמ ְּפנֵ י.ּכֹוכָ ִבים ל ֹא יַ ּנִ ַיח ִּפיו עַ ל ִּפ ֶיהן וְ יִ ְׁש ֶּתה
fique em frente a um ídolo, a fim de beber, para não 790
.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲֶׁשּנִ ְר ֶאה ּכִ ְמנַ ֵּׁשק לַ ע
parecer que se está beijando o ídolo.790
9. O indivíduo que possuir um ídolo feito para uso בֹודת ּכֹוכָ ִבים לְ עַ צְ מֹו ַאף ֶ ָה.ט
ַ ֲעֹוׂשה ע
próprio deverá ser [punido com] chibatadas, mesmo 792
עַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא עֲ ָׂש ָאּה ְּביָ דֹו וְ ל ֹא עֲ ָב ָדּה
791
se não o tiver fabricado com as próprias mãos791 "ל ֹא ַתעֲ ֶׂשה לְ ָך ֶפ ֶסל וְ כָ ל793 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לֹוקה ֶ
nem adorado,792 conforme está escrito:793 “Não
faças para ti um ídolo ou qualquer representação”.794 בֹודת ּכֹוכָ ִבים ְּביָ דֹו
ַ ֲעֹוׂשה ע ֶ וְ כֵ ן ָה."ְּתמּונָ ה
794
Similarmente, o indivíduo que fabricar ídolos para os עֹובד ּכֹוכָ ִבים ֵ ְ ֲא ִפּלּו עֲ ָׂש ָאּה ל795לַ ֲא ֵח ִרים
outros, mesmo para idólatras,795 deverá ser [punido אֹלהי ַמ ֵּסכָ ה ל ֹא ַתעֲ ׂשּו
ֵ ֵ "ו796 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לֹוקה ֶ
com] chibatadas, conforme está dito:796 “Não fareis בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲעֹוׂשה עֶ לְ ִפיכָ ְך ָה."לָ כֶ ם
797
deuses fundidos para vós”.797 Sendo assim, quem 798
.לֹוקה ְׁש ַּתיִ ם
ֶ ְּביָ דֹו לְ עַ צְ מֹו
fabricar um ídolo para uso próprio deverá [ser
punido com] duas medidas de chibatadas.798
10. É proibido fazer imagens com fins decorativos, ָאסּור לַ עֲ ׂשֹות צּורֹות לְ נֹוי וְ ַאף עַ ל ִּפי ְׁש ֵאינָ ּה.י
mesmo que não representem ídolos,799 conforme "ל ֹא ַתעֲ ׂשּון800 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר799.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע
está dito:800 “Não fareis diante de Mim deuses de
לֹומר צּורֹות ֶׁשל כֶ ֶסף וְ זָ ָהב ֶׁש ֵאינָ ם ַ ְִא ִּתי" ּכ
801
prata e deuses de ouro”.801 Isso se refere até a imagens
de prata e ouro que são usadas apenas para fins לְ נֹוי ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ְטעּו ָב ֶהן ַהּטֹועִ ים וִ ַידּמּו ֶׁש ֵהם
decorativos, para que os outros não se enganem וְ ֵאין ָאסּור לָ צּור לְ נֹוי ֶאלָ א.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲלַ ע
pensando que têm fins idólatras. Só é proibido לְ ִפיכָ ְך ֵאין ְמצַ ּיְ ִרים ל ֹא.צּורת ָה ָא ָדם ִּבלְ ַבד
802
ַ
fazer imagens decorativas da forma humana.802 .צּורת ָה ָא ָדם ַ 803ְבעֵ ץ וְ ל ֹא ְב ִסיד וְ ל ֹא ְב ֶא ֶבן
Portanto, é proibido fazer imagens humanas com
ּצּורה ּבֹולֶ ֶטת ּכְ גֹון ַהּצִ ּיּור ָ וְ הּוא ֶׁש ִּת ְהיֶ א ַה
madeira, cimento, ou pedra.803 Essa [proibição] se
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aplica quando a imagem é saliente – por exemplo, וְ ִאם צָ ר804.וְ ַהּכִ ּיּור ֶׁש ִּב ְט ַר ְקלִ ין וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן
imagens e esculturas feitas em um corredor e afins.804 ּצּורה ֻמ ְׁש ַקעַ ת
ָ ֲא ָבל ִאם ָהיְ ָתה ַה805.לֹוקה ֶ
Quem fizer uma imagem assim deve ser penalizado צּורה ֶׁשל ַס ָּמנִ ין ּכְ גֹון ַהּצּורֹות ֶׁשעַ ל ּגַ ֵּבי ָ אֹו
com chibatadas.805 Mas é permitido gravar em baixo
relevo ou pintar imagens humanas; retratos, tanto רֹוק ִמיןְ ַהּלּוחֹות וְ ַה ַּט ְבלִ יֹות אֹו צּורֹות ֶׁש
em madeira quanto em pedra, ou fazendo parte de .ָּב ָא ִריג ֲה ֵרי ֵאּלּו ֻמ ָּתרֹות
uma tapeçaria, são permitidos.
11. [Quanto a] a um anel de sinete806 que tenha uma צּורת ַ ֶׁשהּוא806חֹותם ָ ַט ַּבעַ ת ֶׁשּיֵ ׁש עָ לֶ ָיה.יא
imagem humana: Se for uma imagem em alto-relevo ּצּורה בֹולֶ ֶטת ָאסּור לְ ַהּנִ ָיחּה ָ ִאם ָהיְ ָתה ַה.ָא ָדם
é proibido usá-lo [no dedo] mas é permitido usá-
ּצּורה ָ וְ ִאם ָהיְ ָתה ַה.ֻּומ ָּתר לַ ְחּתֹם ָּבּה
807
lo para chancelar.807 Se for uma imagem em baixo-
relevo é permitido usá-lo [no dedo] mas é proibido ִמ ְּפנֵ י.ׁשֹוקעַ ת ֻמ ָּתר לְ ַהּנִ ָיחּה וְ ָאסּור לַ ְחּתֹם ָּבּה
ַ
usá-lo para chancelar, pois ele criará uma imagem וְ כֵ ן.ּצּורה ּבֹולֶ ֶטת
808
ָ ֶׁש ַהּנֶ ְח ָּתם ֵּתעָ ֶׂשה בֹו ַה
saliente.808 Similarmente, é proibido fazer uma ָאסּור לָ צּור ְּדמּות ַח ָּמה ּולְ ָבנָ ה ּכֹוכָ ִבים ַמּזָ לֹות
imagem do sol, da lua, das estrelas, das constelações - " "ל ֹא ַתעֲ ׂשּון ִא ִּתי809 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ַּומלְ ָאכִ ים
ou dos anjos, conforme está dito:809 “Não fareis diante
ל ֹא ַתעֲ ׂשּו ּכִ ְדמּות ַׁש ָּמ ַׁשי ַה ְּמ ַׁש ְּמ ִׁשין לְ ָפנַ י
de Mim [deuses...]” – [ou seja], “não faça imagens
dos Meus serventes, dos que Me servem no alto”.810 צּורֹות ַה ְּב ֵהמֹות.ּלּוח ַ וַ ֲא ִפּלּו עַ ל ַה810ַּב ָּמרֹום
Essa [proibição] incide até [sobre retratos feitos] em ּוׁש ָאר ֶנֶפׁש ַחּיָ ה חּוץ ִמן ָה ָא ָדם וְ צּורֹות ְ
tábuas. Imagens de animais e de outros seres vivos ָה ִאילָ נֹות ְּוד ָׁש ִאים וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן ֻמ ָּתר לָ צּור
– exceto do homem – e, similarmente, imagens de 811
.ּצּורה ּבֹולֶ ֶטת ָ אֹותם וַ ֲא ִפּלּו ָהיְ ָתה ַה
ָ
árvores, gramados e afins podem ser desenhadas.
Isso se aplica até a imagens em alto-relevo.811
•
804- O Tur (Iorê Deá 141) declara que somos proibidos de fazer apenas a estátua de uma forma humana inteira. Um busto
representando apenas uma cabeça ou uma estátua sem um dos membros do corpo não são proibidos. Embora o Shulchan
Aruch (141:7) não aceite essa opinião, ela é compartilhada pelo Ramá.
805- Mas não deve ser executado, uma vez que essas estátuas não eram veneradas como ídolos.
806- Em tempos antigos os governantes selavam seus documentos com um anel de sinete (vide Ester 8:8). Vertia-se cera sobre
o documento e se pressionava o anel na cera para produzir uma marca, que era a imagem invertida da insígnia gravada no anel.
807- Pois a imagem produzida é afundada na cera.
808- O que é proibido.
809- Shemót ibid.
810- Rosh Hashaná 24b; Avodá Zará 43b. Aqui está se referindo aos seres celestiais e aos anjos (vide Capítulo 1, Halachá 1, e
Hilchót Iessodei Hatorá 2:3).
811- A partir destas duas Halachót, particularmente de acordo com o entendimento do Rambam como refletido em seu
Comentário à Mishná sobre Avodá Zará, vemos que não há conflito entre a lei da Torá e a estética. Há apenas duas restrições:
estátuas humanas realistas (e de acordo com algumas autoridades, completas, estátuas de corpo inteiro) e representações de
deuses pagãos. Mesmo de acordo com outras opiniões que proíbem representações do sol, da lua e assim por diante, não há
nenhuma proibição quanto a representações abstratas dessas entidades. Nenhuma outra restrição se aplica. Na geração atual,
uma série de líderes da Torá têm incentivado artistas religiosos a dedicar-se à expressão de ideias e valores da Torá em uma
variedade de formas de arte, explicando que: (1) Por intermédio desse meio torna-se possível alcançar muitos judeus que
talvez nunca tenham entrado em uma sinagoga ou centro judaico. (2) Tudo o que há no mundo foi criado para ser usado
pelos judeus com um propósito da Torá (Rashi, Bereshit 1:1). Isso também se aplica à arte. Fazer uso dessas formas de arte
com finalidades da Torá expressa o verdadeiro propósito de terem sido criadas e as dota de uma profundidade de significado
e inspiração — e em seu sentido mais profundo, de uma nova fonte de criatividade. Conforme a Kabalá, a presença de D-us
é mais manifesta na Sefirá de Tiféret (“Beleza”) do que em qualquer outra Sefirá. Assim, o desafio de um artista da Torá hoje é
usar a beleza como um meio de manifestar a verdade Divina.
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Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
812- Consta em Devarím 13:13-19 o seguinte: “Se escutares [um relato a respeito de] alguma de tuas cidades que D-us, teu
Senhor, está te dando para viver, dizendo: ‘Hereges do teu meio desviaram os habitantes da cidade deles ao dizerem: Adoremos
outros deuses, que são desconhecidos para vós’, [então] interrogarás, investigarás e questionarás cuidadosamente, e se de fato for
comprovado que algo tão revoltante ocorreu no teu meio, deverás matar todos os habitantes da cidade pela espada e destruí-la
juntamente com tudo o que nela houver. [Matarás] todos os animais pela espada. Juntarás todos os bens dela no meio da sua
rua principal. Queimarás a cidade e todos os bens dela completamente, por D-us, teu Senhor. Ela deverá permanecer para
sempre em ruínas e jamais poderá ser reconstruída. Que nada do que foi condenado permaneça sob tua posse, para que a ira
de D-us cesse e Ele tenha misericórdia de ti. Ele agirá misericordiosamente contigo e te fará florescer, conforme Ele prometeu
aos teus antepassados”. Os nossos sábios chamam a cidade condenada por apostasia de Ir Hanidáchat – literalmente, “cidade
apóstata”. No Sefer Hamitsvót, o Rambam depreende quatro das 613 Mitsvót da Torá da passagem acima: (1) Preceito Negativo 15
– “Não arregimentar judeus para a prática de idolatria”; (2) Preceito Positivo 186: “Matar os habitantes de uma cidade apóstata e
queimá-la completamente”; (3) Preceito Negativo 23: “Não reconstruir uma cidade apóstata com a estrutura prévia”; (4) Preceito
Negativo 24: “Não usufruir dos bens de uma cidade apóstata”. As leis aplicáveis a uma “cidade apóstata” possuem uma dimensão
única, que não é encontrada com relação a nenhuma outra proibição da Torá. Nesse contexto, a cidade é considerada como uma
entidade única e os habitantes dela são considerados não como indivíduos mas como membros do grupo perverso (Tsafnat
Paneach; Rebe de Lubavitch, Likutei Sichót, vol. 9, Parashat Reê). Essa concepção esclarece uma dificuldade conceitual: A punição
da idolatria é execução por apedrejamento (Capítulo 2, Halachá 6), ao passo que os habitantes de uma cidade condenada devem
ser executados por decapitação (loc. cit.). Como execução por apedrejamento é uma pena mais severa do que execução por
decapitação (vide nota seguinte), (e como, conforme Hilchót San-hedrín 14:4, quando alguém for condenado a duas penas ele
deverá ser executado pelo meio mais severo de execução), por que então a pena de cada indivíduo é reduzida quando muitos
dos habitantes da cidade transgrediram juntos? Essa questão é solucionada quando a cidade é vista como um coletivo, quando
não se considera o status de seus habitantes como de indivíduos, mas como de um conjunto. Muitas das leis relacionadas a uma
“cidade apóstata” são depreendidas da destruição de Sedóm (Tsafnat Paneach). Também lá o julgamento foi sobre a cidade como
um todo e não sobre os habitantes individualmente. San-hedrín 71a menciona um debate entre sábios. Para um deles, jamais
aconteceu na prática de uma cidade receber a condenação de “cidade apóstata”; segundo ele, esse trecho da Torá foi instituído
apenas para ser objeto de discussões teóricas. Outro sábio declarou explicitamente: “Eu vi uma cidade assim e me sentei em meio
às ruínas dela”. De Hilchót Melachím 11:2 pode-se concluir que o Rambam adota essa última opinião.
813- San-hedrín 53a e 89b. Uma pena mais severa do que execução por decapitação (San-hedrín 50a).
814- Assim, eles recebem uma pena mais leniente do que um indivíduo que adora um deus falso, conforme declara o Capítulo
3, Halachá 1.
815- Do trecho da Torá referente a uma “cidade apóstata” fica evidente que fazer proselitismo dessa maneira é proibido. Mas
não há nesses versículos nenhuma proibição específica (i.e. não há uma preceituação do tipo “Não faça isso”) vedando essa
atividade. A pergunta que o Rambam formula (citada de San-hedrín 63b) é: Aonde encontramos um versículo na Torá que
explicite essa proibição?
816- Shemót 23:13.
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Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
2. Só se deve considerar uma cidade como “cidade ֵאין ָהעִ יר נַ עֲ ֵׂשית עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת עַ ד ֶׁשּיִ ְהיּו.ב
apóstata” quando quem pratica o proselitismo for 817
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ּומאֹותֹו ֵׁש ֶבט ֵ ַמ ִּד ֶיח ָיה ִמּתֺוכָ ה
nativo dela e membro da mesma tribo, conforme וְ עַ ד ֶׁשּיִ ְהיּו.""מ ִּק ְר ֶּבָך וַ ּיַ ִּדיחּו ֶאת י ְֹׁש ֵבי עִ ָירם
ִ
está dito:817 “[Homens infiéis surgiram] do teu
meio e desviaram os habitantes das tuas cidades”.
818
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ַמ ִּד ֶיח ָיה ְׁשנַ יִ ם אֹו יָ ֵתר עַ ל ְׁשנַ יִ ם
Uma cidade só pode ser condenada quando duas יֺוׁש ֵבי
ְ וַ יַ ִדיחּו ֶאת819"יָ צְ אּו ֲאנָ ִׁשים ְּבנֵ י ְבלִ ּיַ עַ ל
ou mais pessoas desviarem os seus habitantes, וְ יִ ְהיּו ַה ֻּמ ָּד ִחין. וְ עַ ד ֶׁשּיַ ִּדיחּו ֻר ָּבּה."עִ ָירם
conforme está dito:818 “Pessoas infiéis819 surgiram... ֲא ָבל ִאם ֻה ַּדח.ִמ ֵּמ ָאה וְ עַ ד ֻרּבֹו ֶׁשל ֵׁש ֶבט
e desencaminharam os habitantes de tuas cidades”, ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.אֹותם ּכִ ִיח ִידים ָ ֻרּבֹו ֶׁשל ֵׁש ֶבט ָּדנִ ין
[desde que] os desviados constituam a maior parte
[dos habitantes da cidade] e totalizem de cem até ל ֹא כְ ָפר ָק ָטן וְ ל ֹא כְ ָרְך ּגָ דֹול."י ְֹׁש ֵבי ָהעִ יר
a maior parte da tribo. Se, no entanto, a maioria וְ ֻרּבֹו ֶׁשל ֵׁש ֶבט820וְ כֹל ָּפחֹות ִמ ֵּמ ָאה ּכְ ָפר ָק ָטן
da tribo tiver sido desviada, [os seus habitantes] יחּוה נָ ִׁשים אֹו ְק ַטּנִ ים ָ וְ כֵ ן ִאם ִה ִּד.ּכְ ַרְך ּגָ דֹול
devem ser julgados como indivíduos, conforme se עּוטּה אֹו ָ אֹו ֶׁש ֻה ַּדח ִמ821אֹו ֶׁש ִה ִּד ָיחּה יָ ִחיד
depreende [da frase do versículo]: “Os habitantes אֹו ֶׁש ָהיּו ַמ ִּד ֶיח ָיה ִמחּוצָ ה822ֶׁש ֻה ְּדחּו ֵמ ֲאלֵ ֶיהן
das cidades”; nem como uma pequena aldeia, nem
como uma grande metrópole. Se houver menos de לָ ּה ֵאין ָּדנִ ין ָּבּה ִּדין עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ֶאלָ א ֲה ֵרי
cem, ela deve ser considerada uma pequena aldeia;820 סֹוקלִ ין
ְ ְ ו.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲֵהן ּכִ ִיח ִידים ֶׁשעָ ְבדּו ע
se a maioria da tribo estiver envolvida, ela deve ser יֹור ֵׁש ֶיהן ּכִ ְׁש ָאר ֲהרּוגֵ יְ ְּוממֹונָ ן לְ ּכָ ל ִמי ֶׁשעָ ַבד
considerada uma grande metrópole. Similarmente, .ֵבית ִּדין
as leis de “cidade apóstata” não são aplicáveis caso as
pessoas que desviaram [os habitantes] tenham sido
mulheres ou menores ou um único indivíduo;821 ou
caso os desviados constituam a menor parte [dos
habitantes da cidade]; ou caso [os habitantes da
cidade] tenham se voltado por iniciativa própria822 à
adoração de ídolos; ou caso as pessoas que desviaram
[os habitantes] tenham vindo de fora da cidade.
Nesses casos, [os infratores] são considerados
indivíduos que adoraram deuses falsos e deve-se
executar por apedrejamento todos os que tenham
transgredido, e seus bens devem ser legados aos
herdeiros, como [reza a lei com relação] a qualquer
outro que seja executado pelo tribunal.
3. As leis de “cidade apóstata” só podem ser julgadas ֵאין ָּדנִ ין ִּדין עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ֶאלָ א ְב ֵבית ִּדין.ג
por um tribunal de 71 juízes,823 conforme está dito:824 את
ָ ֵ "וְ הֹוצ824 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר823.ֶׁשל ֶא ָחד וְ ִׁש ְבעִ ים
“E levarás para as portas da cidade o homem ou a ֶאת ָה ִאיׁש ַההּוא אֹו ֶאת ָה ִא ָּׁשה ַה ִהוא ֲא ֶׁשר
mulher que tiver cometido essa maldade”. [Isso
pode ser interpretado assim:] Os indivíduos devem
יְ ִח ִידים."עָ ׂשּו ֶאת ַה ָּד ָבר ָה ַרע ַהּזֶ ה ֶאל ְׁשעָ ֶריָך
Veshinantam | 67
Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
ser executados pelos tribunais, que estão instalados וְ ֵאין825נֶ ֱה ָרגִ ים ְּב ֵבית ִּדין ֶׁשל כָ ל ַׁשעַ ר וָ ַׁשעַ ר
em cada porta [da cidade]; 825 mas as multidões só 826
.ַה ְּמ ֻר ִּבים נֶ ֱה ָרגִ ין ֶאלָ א ְּב ֵבית ִּדין ַהּגָ דֹול
podem ser executadas pelo tribunal supremo.826
4. Nenhuma das cidades de refúgio pode jamais ser . ֵאין ַא ַחת ֵמעָ ֵרי ִמ ְקלָ ט נַ עֲ ֵׂשית עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת.ד
executada como “cidade apóstata”, conforme está רּוׁשלַ יִ ם
ָ ְ וְ ל ֹא י828.""ּב ַא ַחת עָ ֶריָך ְ 827ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
dito:827 “Em uma das tuas cidades”.828 [Da mesma
נַ עֲ ֵׂשית עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת לְ ִפי ֶׁשּל ֹא נִ ְת ַחּלְ ָקה
forma,] Ierushalaim nunca pode ser executada como
“cidade apóstata”, pois ela não foi dividida entre as עֹוׂשין עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ַּב ְּס ָפר
ִ וְ ֵאין829.לִ ְׁש ָב ִטים
tribos.829 Uma cidade de fronteira nunca pode ser עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים וְ יַ ֲח ִריבּו ֶאת
ְ ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יִ ּכָ נְ סּו
executada como “cidade apóstata”, para que gentios עֹוׂשה ָׁשלֹוׁשֶ וְ ֵאין ֵּבית ִּדין ֶא ָחד.ֶא ֶרץ יִ ְׂש ָר ֵאל
não entrem e destruam Érets Israêl. Um tribunal não ֲא ָבל ִאם ָהיּו.עֲ יָ רֹות ַהּנִ ָּדחֹות זֹו ְּבצַ ד זֹו
pode determinar que três cidades contíguas sejam 830
.עֹוׂשה
ֶ ְמ ֻר ָחקֹות
consideradas “cidades apóstatas”; só se elas forem
distantes umas das outras.830
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6. Se todos os critérios forem atendidos, qual é a וְ ֵה ַיאְך ִּדין עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ִּבזְ ַמן ֶׁש ְּת ֵהא.ו
implicação de uma sentença de “cidade apóstata”? ְראּויָ ה לְ ֵהעָ ׂשֹות עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת? ֵּבית ִּדין ַהּגָ דֹול
O Grande Sinédrio deve enviar [emissários] חֹוק ִרין עַ ד ֶׁשּיֵ ְדעּו ִּב ְר ָאיָ ה ְ ְדֹור ִׁשין ו ְ ְׁשֹולְ ִחין ו
para investigar e sondar, até ficar provado
incontestavelmente que toda a cidade – ou a maior רּורה ֶׁש ֻה ְּד ָחה ּכָ ל ָהעִ יר אֹו ֻר ָּבּה וְ ָחזְ רּו ָ ְב
parte dos seus habitantes – se voltou à adoração ַא ַחר ּכָ ְך ׁשֹולְ ִחים לָ ֶהם.בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲלַ ע
de falsos deuses. Em seguida, [o Grande Sinédrio] . ּולְ ַה ֲחזִ ָירם836ְׁשנֵ י ַתלְ ִמ ֵידי ֲחכָ ִמים לְ ַהזְ ִה ָירם
deve enviar dois sábios da Torá para adverti- וְ ִאם יַ עַ ְמדּו.מּוטב ָ ׁשּובה ָ ִאם ָחזְ רּו וְ עָ ׂשּו ְת
los836 e encorajá-los a se arrependerem. Se eles se ְּב ִאּוַ לְ ָּתן ֵּבית ִּדין ְמצַ ּוִ ין לְ כָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל לַ עֲ לֹות
arrependerem, será bom. Mas se eles continuarem
a trilhar os seus maus caminhos, o tribunal deve עֹורכִ ין עִ ָּמ ֶהם ְ ְעֲ לֵ ֶיהן לַ ּצָ ָבא וְ ֵהם צָ ִרין עֲ לֵ ֶיהן ו
ordenar a todo o povo judeu que os combata, ּכְ ֶׁש ִּת ָּב ַקע ִמּיָ ד.ִמלְ ָח ָמה עַ ד ֶׁש ִּת ָּב ַקע ָהעִ יר
sitiando a cidade e guerreando contra eles até ruir ּכָ ל ִמי.אֹותם ָ ַמ ְר ִּבין לָ ֶהם ָּב ֵּתי ִּדינִ ין וְ ָדנִ ים
a cidade. Quando a cidade ruir, muitos tribunais ֶׁש ָּבאּו עָ לָ יו ְׁשנֵ י עֵ ִדים ֶׁשעָ ַבד ּכֹוכָ ִבים ַא ַחר
deverão ser imediatamente instalados para julgar [os נִ ְמצְ אּו ּכָ ל.יׁשין אֹותֹו ִ ֶׁש ִה ְתרּו בֹו ַמ ְפ ִר
habitantes], e deverão ser separados todos aqueles
contra os quais duas testemunhas atestarem que ּוׁש ָאר ָהעִ יר ְ אֹותן ָ סֹוקלִ ין ְ עּוטּה ָ עֹוב ִדים ִמ ְ ָה
adoraram deuses falsos após terem sido advertidos. אֹותן לְ ֵבית ִּדין ָ נִ ְמצְ אּו ֻר ָּבּה ַמעֲ לִ ין.נִ ּצֹול
Se os adoradores constituírem apenas a minoria [dos הֹורגִ ין ּכָ ל ֵאּלּו ְ ְגֹומ ִרין ָׁשם ִּדינָ ם ו ְ ְַהּגָ דֹול ו
habitantes da cidade], eles deverão ser apedrejados ּומּכִ ין ֶאת ּכָ ל נֶ ֶפׁש ָא ָדם ַ 837
.ֶׁשעָ ְבדּו ְּב ַסיִ ף
até a morte, e o restante da cidade deverá ser ִאם ֻה ְּד ָחה, ַטף וְ נָ ִׁשים,ֲא ֶׁשר ָּבּה לְ ִפי ֶח ֶרב
poupado. Se constituírem a maioria, eles deverão ser
levados para o Grande Sinédrio, onde será lavrada a עֹוב ִדים ֻר ָּבּה ַמּכִ ים ֶאת ְ וְ ִאם נִ ְמצְ אּו ָה.ּכֻ ּלָ ּה
sentença. Todos aqueles que tiverem feito adoração ֵּובין.עֹוב ִדים לְ ִפי ֶח ֶרב ְ ּכָ ל ַה ַּטף וְ ּנָ ִׁשים ֶׁשל
[à divindade falsa] deverão ser executados por סֹוקלִ ין ֶאת ְ ֶׁש ֻה ְּד ָחה כֻ ּלָ ּה ֵּבין ֶׁש ֻה ְּד ָחה ֻר ָּבּה
decapitação.837 Caso todos [os habitantes] da cidade .חֹובּהָ ּומ ַק ְּבצִ ין ּכָ ל ְׁשלָ לָ ּה ֶאל ּתֹוְך ְר ְ ַמ ִּד ֶיח ָיה
tenham se desviado, todos eles, incluindo mulheres חֹובּה
ָ ָהיָ ה ְר.עֹוׂשין לָ ּה ְרחֹוב ִ ֵאין לָ ּה ְרחֹוב
e crianças, deverão ser mortos por decapitação. Caso
a maioria [dos habitantes] tenha feito adoração, as חֹומה חּוץ ִמ ֶּמּנּו עַ ד ֶׁשּיִ ּכָ נֵ ס ָ חּוצָ ה לָ ּה ּבֹונִ ין
esposas e os filhos dos transgressores deverão ser
839
.""אל ּתֹוְך ְרח ָֹבּה ֶ 838 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לְ תֹוכָ ּה
mortos por decapitação. Quer todos [os habitantes] ׂשֹור ִפין ֶאת ְ ְהֹורגִ ין ּכָ ל נֶ ֶפׁש ַחּיָ ה ֲא ֶׁשר ָּבּה ו ְ ְו
da cidade quer apenas a maioria [deles] tenham se ּוׂש ֵר ָפ ָתּה ִמצְ וַ ת ְ .ּכָ ל ְׁשלָ לָ ּה עִ ם ַה ְּמ ִדינָ ה ָּב ֵאׁש
desviado, aqueles que tiverem feito o proselitismo ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וְ ָׂש ַר ְפ ָּת ָב ֵאׁש ֶאת ָהעִ יר וְ ֶאת.עֲ ֵׂשה
deverão ser apedrejados até a morte. Todos os
bens [da cidade] deverão ser recolhidos para a sua ."ּכָ ל ְׁשלָ לָ ּה
rua principal. Caso não haja [na cidade] uma rua
principal, será preciso criar nela uma rua principal.
Se a rua principal estiver localizada fora dos limites
[da cidade], a muralha dela deverá ser estendida
até que a sua [rua principal] fique incorporada
aos seus limites, pois está dito:838 “[Reúna todos os
seus bens] dentro da sua rua principal”.839 Todos os
animais que estiverem vivos dentro dela deverão ser
836- O Seder Mishnê sugere Iehoshua cap. 22 como fonte das declarações do Rambam. Lá está relatado como Pinchás e dez
anciãos foram enviados para investigar o comportamento das tribos de Reuvên, Gad e metade de Menashé.
837- San-hedrín 112a.
838- Devarím 13:17.
839- San-hedrín 111b.
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7. Os bens dos justos – i.e. dos que não se desviaram ְ נִ כְ ֵסי ַהּצַ ִּד ִיקים ֶׁש ְּבתֹוכָ ּה וְ ֵהם ְׁש ָאר.ז
יֹוׁש ֵבי
como a maioria – deverão ser queimados junto ָהעִ יר ֶׁשּל ֹא ֻה ְּדחּו עִ ם ֻר ָּבּה נִ ְׂש ָר ִפין ִּבכְ לָ ל
dos bens dos demais. Por residirem ali, os bens 840
.הֹואיל וְ יָ ְׁשבּו ָׁשם ְממֹונָ ן ָא ַבד ִ .ְׁשלָ לָ ּה
deles devem ser destruídos.840 Quem tirar qualquer
proveito dos bens [da cidade], deverá ser penalizado
.לֹוקה ַא ַחת ֶ וְ כָ ל ַהּנֶ ֱהנֶ ה ִמ ֶּמּנָ ה ְּבכָ ל ֶׁשהּוא
com uma série única de chibatadas, pois está dito:841 אּומה ִמן ָ "וְ ל ֹא יִ ְד ַּבק ְּביָ ְדָך ְמ841ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
“Não deixai que permaneça em tua posse nada do ."ַה ֵח ֶרם
que foi condenado”.
8. [As regras a seguir se aplicam quando] as עֵ ֶד ָיה ּכָ ל842 וְ עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ֶׁשהּוזַ מּו.ח
testemunhas que depuserem contra uma “cidade ּומ ָּתר לֵ ָהנֹות ּבֹו ֶׁש ֲה ֵרי ֻ ַה ַּמ ֲחזִ יק ִּבנְ כָ ֶס ָיה זָ כָ ה
apóstata” forem desqualificadas como Zomemím:842 ֶׁשּכָ ל ֶא ָחד וְ ֶא ָחד843? וְ לָ ָּמה זָ כָ ה ָבה.הּוזַ מּו
Quem se apoderar de qualquer propriedade
será considerado o seu devido proprietário e
844
.ּכְ ָבר ִה ְפ ִקיר ָממֹונֹו ִמ ָּׁשעָ ה ֶׁשּנִ גְ ַמר ִּדינֺו
poderá usufruir dela, uma vez que [o testemunho אֹותּה
ָ וְ כָ ל ַהּבֹונֶ ה.וְ ֵאינָ ּה נִ ְבנֵ ית לְ עֹולָ ם
incriminatório] foi desmentido – [e, portanto, o ּומ ָּתר ֻ ." "ל ֹא ִת ָּבנֶ ה עֹוד845 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לֹוקה ֶ
julgamento nele baseado terá sido anulado]. Por ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "ל ֹא ִת ָּבנֶ ה.ׂשֹותּה ּגַ ּנֹות ַּופ ְר ֵּד ִסים
ָ ֲלַ ע
que ele é considerado o devido proprietário?843 846
. ל ֹא ִת ָּבנֶ ה ְמ ִדינָ ה ּכְ מֹו ֶׁש ָהיְ ָתה- "עֹוד
Porque cada um dos habitantes da cidade renunciou
à posse de sua propriedade assim que a sentença foi
lavrada.844 [Uma “cidade apóstata”] jamais poderá ser
reconstruída, e a pessoa que a reconstruir [deverá
ser punida com] chibatadas, conforme está dito:845
“Nunca mais será reconstruída”. É permitido fazer
[no lugar] dela jardins e pomares. Pois “Nunca mais
será reconstruída” [implica] que ela não deverá ser
reconstruída como cidade, como era anteriormente.846
9. [As regras a seguir se aplicam a] uma caravana עֹוב ֶרת ִמ ָּמקֹום לְ ָמקֹום ִאם עָ ְב ָרה ֶ ְׁשיָ ָרה ָה.ט
que viaja de um lugar a outro e ao passar por uma ָּבעִ יר ַהּנִ ַּד ַחת וְ ֻה ְּד ָחה עִ ָּמּה ִאם ָׁש ֲה ָתה ָׁשם
“cidade apóstata” [os membros da caravana] são
.ּוממֹונָ ם ָא ַבד
ָ נֶ ֱה ָרגִ ין ְּב ַסיִ ף847לׁשים יֹום ִ ְׁש
desviados junto dos [moradores da cidade]: Se [a
840- Consta em San-hedrín 112a: “ O que motivou essas pessoas a viver lá? (i.e. o que os levou a viver em um ambiente de
pecado?) Foram os bens que possuíam. Consequentemente, os bens deles devem ser destruídos”.
841- Devarím 13:18.
842- Isso significa que as testemunhas foram desqualificadas, porque duas outras alegaram que se encontravam em outro
lugar com as testemunhas no momento em que a suposta transgressão ocorreu. Por isso, é impossível que o depoimento das
testemunhas fosse verdade (vide Hilchót Edut, Capítulo 18.)
843- I.e. por que a propriedade não volta para a posse de seus proprietários originais se o depoimento que os incriminava foi anulado?
844- Assim, para retomar a posse da sua propriedade, eles teriam de adquiri-la com um Kinián (aquisição) formal. A esse
respeito, não há diferença entre os donos e quaisquer outros indivíduos (compare com Hilchót Nizkei Mamón 11:13). Keritót 24a.
845- Devarím 13:17.
846- San-hedrín 111b.
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Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
10. Os pertences de habitantes de outras cidades que נִ כְ ֵסי ַאנְ ֵׁשי ְמ ִדינָ ה ַא ֶח ֶרת ֶׁש ָהיּו ֻמ ְפ ָק ִדין.י
estiverem guardados nela [em uma “cidade apóstata”] ְּבתֹוכָ ּה ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ִּק ְּבלּו עֲ לֵ ֶיהן ַא ְח ָריּות
não deverão ser queimados, mas devolvidos aos seus 849
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ֵאין נִ ְׂש ָר ִפין ֶאלָ א יַ ְחזְ רּו לְ ַבעְ לֵ ֶיהן
donos. [Isso se aplica] também quando [os habitantes
de uma “cidade apóstata”] tiverem assumido
נִ כְ ֵסי850."ׁשלָ לָ ּה" וְ ל ֹא ְׁשלַ ל ֲח ֶב ְר ָּתּה ְ
responsabilidade pelos bens, pois está dito:849 “Os ֶׁש ֻה ְּדחּו ֶׁש ָהיּו ֻמ ְפ ָק ִדין ִּב ְמ ִדינָ ה 851
ָה ְר ָׁשעִ ים
bens dela” e não os bens de outra [cidade].850 [As ַא ֶח ֶרת ִאם נִ ְק ְּבצּו עִ ָּמּה נִ ְׂש ָר ִפין ִּבכְ לָ לָ ּה
regras a seguir se aplicam a] bens guardados em אֹותם ֶאלָ א יִ ּנָ ְתנּו ָ וְ ִאם לַ או ֵאין ְמ ַא ְּב ִדין
outra cidade pertencentes a perversos.851 Se [esses 852
.יֹור ֵׁש ֶיהםְ ְל
bens] forem juntados aos bens que se encontravam na
“cidade apóstata”, eles deverão ser queimados juntos.
Caso contrário, eles não deverão ser destruídos, mas
legados aos herdeiros.852
11. Se na “cidade apóstata” houver um animal que ְּב ֵה ָמה ֶחצְ יָ ּה ֶׁשל עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת וְ ֶחצְ יָ ּה.יא
pertença parcialmente a [um habitante da] “cidade ֶׁשל עִ יר ַא ֶח ֶרת ֶׁש ָהיְ ָתה ְבתֹוכָ ּה ֲה ֵרי זֹו
apóstata” e parcialmente a [um habitante de] outra
לְ ִפי. וְ עִ ָסה ֶׁש ִהיא כֵ ן ֻמ ֶּת ֶרת853.סּורה ָ ֲא
cidade, ele é proibido.853 [Por outro lado] uma massa
que pertença a [dois proprietários não deverá ser .ֶׁש ֶא ְפ ָׁשר לְ ַחלְ ָקּה
destruída pois ela] é permitida, uma vez que pode
ser repartida.
12. É proibido usufruir de um animal abatido que ְּב ֵה ָמה ֶׁשל עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ֶׁשּנִ ְׁש ֲח ָטה.יב
pertença a [um habitante de] uma "cidade apóstata", 854
.סּורה ַב ֲהנָ ָאה ּכַ ׁשֹור ַהּנִ ְס ָקל ֶׁשּנִ ְׁש ָחט
ָ ֲא
assim como [é proibido usufruir de] um boi ְׂשעַ ר ָהרֹאׁש ֵּבין ֶׁשל ֲאנָ ִׁשים ֵּבין ֶׁשל נָ ִׁשים
condenado a apedrejamento que tiver sido abatido.854
É permitido usufruir de cabelos tanto de homens
847- Em vários outros contextos a pessoa que vive em uma cidade durante trinta dias também é considerada residente (vide
Hilchót Matnót Aniím 9:12).
848- San-hedrín 112a.
849- Devarím ibid.
850- San-hedrín ibid.
851- I.e. a indivíduos que foram desviados para a idolatria.
852- A decisão do Rambam difere da interpretação que o Rashi faz sobre San-hedrín (loc. cit.), onde consta que todos os bens
pertencentes à cidade condenada que se encontrarem em cidades vizinhas seja juntado e queimado junto da “cidade apóstata”.
853- O animal deverá ser executado porque a vida dele é dependente da porção pertencente ao habitante da “cidade apóstata”.
Mas a sua carcaça poderá ser vendida a um gentio e será permitido usufruir da metade do dinheiro auferido com a venda
(vide San-hedrín 112a e comentário do Rashi).
854- Shemót 21:28 declara: “Se um boi chifrar um homem ou uma mulher e [a vítima] morrer, o boi deverá ser executado e a
sua carne não poderá ser comida”. A tradição oral ensina que somos proibidos de usufruir do boi inteiro. Consequentemente,
mesmo se ele fosse abatido da maneira ritual antes de ser executado, seria proibido comer da carne dele (vide Hilchót Nizkei
Mamón, cap. 10). As mesmas leis se aplicam a animais de uma “cidade apóstata”.
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Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
quanto de mulheres de [uma cidade condenada].855 ֲא ָבל ֶׁשל ֵפ ָאה נָ כְ ִרית855.ֶׁש ָּבּה ֻמ ָּתר ַּב ֲהנָ ָאה
Uma peruca, no entanto, é considerada parte dos 856
.ֲה ֵרי הּוא ִמּכְ לָ ל ְ'ׁשלָ לָ ּה' וְ ָאסּור
bens deles, sendo consequentemente proibida.856
13. Os produtos agrícolas que estiverem conectados . ֵּפרֹות ַה ְמ ֻח ָּב ִרין ֶׁש ְּבתֹוכָ ּה ֻמ ָּת ִרין.יג
[à suas fontes de nutrição] são permitidos, conforme ִמי ֶׁש ֵאינֹו.""ּת ְקּבֹץ וְ ָׂש ַר ְפ ָּת ִ 857ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
está dito:857 “Juntai [os bens dela]... e queimarás” – ש ֵר ָפה יָ צְ אּו ֵּפרֹות ֹ ְ ְמ ֻח ָּסר ֶאלָ א ִקּבּוץ ּו
isso inclui apenas os itens que devem ser juntados
e queimados, e não inclui os produtos agrícolas יׁשה וְ ִקּבּוץ ָ ִַה ְּמ ֻח ָּב ִרין ֶׁש ֵהן ְמ ֻח ָּס ִרין ְּתל
que ainda estiverem conectados [às suas fontes de וְ הּוא ַה ִּדין לִ ְׂשעַ ר ָהרֹאׁש וְ ֵאין.ּוׂש ֵר ָפה
858
ְ
nutrição] e que precisariam ser colhidos e coletados 859
לֹומר ָה ִאילָ נֹות עַ צְ ָמן ֶׁש ֵהן ֻמ ָּת ִרים ַ צָ ִריְך
para poderem ser queimados. O mesmo princípio ַה ֶה ְק ֵּדׁשֹות860.ּיֹור ֵׁש ֶיהם ְ וַ ֲה ֵרי ֵהן ֶׁשל
se aplica aos cabelos [dos habitantes].858 Nem é "זֶבח ְר ָׁשעִ ים ַ 861ֶׁש ְּבתֹוכָ ּה ָק ְד ֵׁשי ִמ ֵזְּב ַח יָ מּותּו
preciso dizer que as árvores são permitidas859 e
devem ser legadas aos herdeiros.860 [As regras a ָק ְד ֵׁשי ֶב ֶדק ַה ַּביִ ת יִ ָּפדּו וְ ַא ַחר ּכָ ְך862."ּתֹועֵ ָבה
seguir se aplicam a] bens consagrados que estiverem "ׁשלָ לָ ּה" וְ ל ֹא ְׁשלַ לְ 863 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.אֹותן ָ ׂשֹור ִפין
ְ
dentro de [uma cidade condenada]: Os animais que 864
.ָׁש ַמיִ ם
tiverem sido consagrados para serem sacrificados
no altar deverão morrer,861 já que "os sacrifícios dos
perversos são abominação".862 Os bens consagrados
para uso no Templo Sagrado deverão ser redimidos
e posteriormente queimados, pois está dito:863 “Os
bens dela”, e não os bens consagrados.864
14. [As regras a seguir se aplicam a] animais ֶׁש ְּבתֹוכָ ּה ְּת ִמ ִימים865 ַה ְּבכֹור וְ ַה ַּמעֲ ֵׂשר.יד
primogênitos e Maassêr (“dízimos”) de animais 865
מּומים ִ ַּובעֲ לֵ י.ֲה ֵרי ֵהם ָק ְד ֵׁשי ִמ ֵזְּב ַח וְ יָ מּותּו
que se encontrarem dentro de [uma cidade 866
."ּב ֶה ְמ ָּתּה" וְ נֶ ְה ָרגִ ין
ְ ֲה ֵרי ֵהן ִּבכְ לָ ל
condenada]: Os que não tiverem defeito são
considerados consagrados para serem sacrificados ֶׁש ְּבתֹוכָ ּה ִאם ִהּגִ יעּו לְ יַ ד ּכ ֵֹהן867ַה ְּתרּומֹות
no altar e devem morrer. Os que tiverem defeito são וְ ִאם עֲ ַדיִ ן ֵהן ְּביַ ד. ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֵהן נְ כָ ָסיו.יִ ְר ָקבּו
considerados “animais dela” e devem ser mortos.866
[As regras a seguir se aplicam à] Terumá867 que se
encontrar dentro de [uma cidade condenada]: Se já
tiver sido dada a um Cohên (“sacerdote”) ela deverá
855- Vide Hilchót Ével 14:21, onde consta que é proibido usufruir de um cadáver, mas que a proibição não envolve os cabelos
dele (vide também Hilchót San-hedrín 12:4).
856- San-hedrín ibid. Isso também se aplica a uma peruca pertencente a uma pessoa justa.
857- Devarím 13:17.
858- Essa é a razão da lei que consta na Halachá anterior.
859- I.e. elas não são queimadas junto da cidade.
860- San-hedrín 113a. Nem são consideradas sem dono para poderem ser adquiridas por qualquer um.
861- I.e. eles são mantidos trancafiados em um lugar até a morte, e não são executados como os animais comuns da cidade
condenada.
862- Mishlei 21:27.
863- Devarím 13:17.
864- San-hedrín 112b.
865- As leis relacionadas a esses dois sacrifícios são tratadas em Hilchót Bechorót.
866- Por portarem defeito eles não podem mais ser sacrificados, nem devem ser redimidos. Assim, eles são considerados
como animais de propriedade privada que devem ser mortos, conforme declarado na Halachá 6.
867- Isso abrange tanto Terumá Guedolá (a porção das colheitas que é dada pelas pessoas comuns aos sacerdotes) quanto
Terumát Maassêr (a décima parte do dízimo, que os levitas devem dar aos sacerdotes).
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ser deixada para apodrecer, pois é considerada יִ ְׂש ָר ֵאל יִ ּנָ ְתנּו לְ כ ֵֹהן ֶׁשל ְמ ִדינָ ה ַא ֶח ֶרת ִמ ְּפנֵ י
propriedade privada dele. Mas se ela ainda estiver na 868
.ֶׁש ֵהן נִ כְ ֵסי ָׁש ַמיִ ם ְּוק ֻד ָּׁש ָתן ְק ֻד ַּׁשת ַהּגּוף
posse de um Israêl, ela deverá ser dada a um sacerdote
de outra cidade, pois é considerada “propriedade do
céu” e a sua natureza consagrada se estende à sua
substância física.868
16. Quem ditar a sentença de uma “cidade apóstata” é עֹוׂשה ִּדין ָּבעִ יר ַהּנִ ַּד ַחת ֲה ֵרי זֶ ה ֶ ּכָ ל ָה.טז
considerado como se tivesse oferecido um Olá Chalíl ' ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "ּכָ לִ יל לַ ה.ּכְ ַמ ְק ִריב עֹולָ ה כָ לִ יל
871
(“sacrifício queimado consumido inteiramente pelo
וְ ל ֹא עֹוד ֶאלָ א ֶׁש ְּמ ַסּלֵ ק ֲחרֹון ַאף."ֹלהיָך ֶ ֱא
fogo”), pois está dito:871 “Inteiramente consumido
para D-us, o teu Senhor”. Além disso, ele desvia a ira ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "לְ ַמעַ ן יָ ׁשּוב ה' ֵמ ֲחרֹון.ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל
[Divina] de sobre os judeus, conforme [o versículo ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ּומ ִביא עֲ לֵ ֶיהם ְּב ָרכָ ה וְ ַר ֲח ִמים ֵ ."ַאּפֹו
seguinte] diz: “Para que o furor da ira de D-us 872
.""וְ נָ ַתן לְ ָך ַר ֲח ִמים וְ ִר ַח ְמָך וְ ִה ְר ֶּבָך
seja dissipado”, e lhes traz bênção e misericórdia,
conforme [o versículo] diz: “E Ele terá piedade de ti.
Ele se compadecerá de ti e te fará florescer”.872
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2. A pessoa que fizer da maioria dos habitantes de ַה ֵּמ ִסית ֶאת רֹב ַאנְ ֵׁשי ָהעִ יר ֲה ֵרי זֶ ה ַמ ִּד ַיח.ב
uma cidade prosélitos é chamada de Madíach e não de ָהיָ ה זֶ ה ֶׁש ִה ִּד ַיח רֹב877.וְ ֵאינֹו נִ ְק ָרא ֵמ ִסית
Messít.877 Se quem desviar a maioria [dos habitantes]
וְ ַהּנִ ָּד ִחים ֲה ֵרי878.ָהעִ יר נָ ִביא ִמ ָיתתֹו ִּב ְס ִקילָ ה
de uma cidade for profeta, ele deverá ser executado
por apedrejamento,878 e as pessoas desviadas por ele עַ ד879ֵהן ּכִ ִיח ִידים וְ ֵאינָ ם ּכְ ַאנְ ֵׁשי עִ יר ַהּנִ ַּד ַחת
deverão ser julgadas como indivíduos e não [como אֹומר ָ'א ְמ ָרה ֵ וְ ֶא ָחד ָה.ֶׁשּיִ ְהיּו ַה ַּמ ִּד ִיחים ְׁשנַ יִ ם
um grupo de] habitantes de uma “cidade apóstata”879 אֹו ֶׁש ָא ַמר ָ'א ַמר.'דּוה ָ בֹודת ּכֹוכָ ִבים עִ ְב ַ ֲלִ י ע
[pois as leis dessa última só se aplicam] se forem dois
873- Consta em Devarím 13:2-12 o seguinte: “Se um profeta... se levantar e te apresentar um sinal ou milagre... e te disser:
‘Sigamos outros deuses que não conheceste, e sirvamo-los’, não escutarás as palavras daquele profeta... E aquele profeta...
deverá ser morto, pois ele pregou falsamente contra D-us, teu Senhor... Se teu irmão... ou teu filho, ou tua filha, ou a mulher
de tua afeição, ou teu amigo mais próximo fizer proselitismo secretamente em teu meio, e disser: ‘Vamos e sirvamos outros
deuses, que eram desconhecidos a ti e aos teus ancestrais’... Não se deixe atrair a ele nem o ouvirás. Não deixe os teus olhos se
apiedarem dele. Não esconda a culpa dele. Mas certamente o matarás. A tua mão deverá ser a primeira contra ele para matá-
lo... Apedreja-o até a morte... pois ele procurou te desviar de D-us, teu Senhor... E todo Israêl ouvirá e temerá, e não voltará
a cometer uma perversidade como essa”. O Rambam explica neste capítulo que essa passagem da Torá fala de dois tipos de
indivíduos que fazem proselitismo em prol de um deus falso: um profeta e uma pessoa comum. Conforme ele salienta em seu
Sefer Hamitsvót, oito Mitsvót são depreendidas dessa passagem. São elas: (1) Preceito Negativo 16: “Não incitar um judeu para
a prática de idolatria”; (2) Preceito Negativo 17: “Não ter afeição pela pessoa que incita à idolatria”; (3) Preceito Negativo 18:
“Não abrandar a aversão pela pessoa que incita à idolatria”; (4) Preceito Negativo 19: “Não [tentar] salvar a pessoa que incita à
idolatria”; (5) Preceito Negativo 20: “Não defender a pessoa que incita à idolatria”; (6) Preceito Negativo 21: “Não omitir prova
de culpa que leve à condenação dela”; (7) Preceito Negativo 26: “Não profetizar em nome de um ídolo”; (8) Preceito Negativo
28: “Não dar ouvidos a quem profetizar em nome de um ídolo”.
874- A primeira metade do trecho citado acima trata de um profeta que faz proselitismo em nome de falsos deuses; a segunda
metade, de uma pessoa comum que age assim. Embora a Torá determine apenas que a pessoa comum deve ser executada por
apedrejamento, o Talmud em San-hedrín 67a e 89b depreende por meio de um processo de exegese bíblica que um profeta
merece idêntica punição.
875- Se, no entanto, a instrução tiver sido dirigida à maioria dos habitantes de uma cidade, regras diferentes se aplicam,
conforme citado no capítulo anterior e na Halachá seguinte.
876- Segundo o Avodat Hamélech, essa decisão está baseada em Devarím 13:11: “Pois ele tentou te desviar de D-us, teu Senhor”.
877- San-hedrín 67a.
878- Essa é a punição da pessoa que tenha desviado os habitantes de uma “cidade apóstata”, conforme consta no Capítulo 4,
Halachá 6. Só se deve apedrejar o profeta que teve êxito em desviar a maior parte da população. Se ele não tiver tido êxito em
seu intento, ele deve ser executado por estrangulamento como falso profeta (Ben Iedíd).
879- Assim, elas deverão ser executadas por apedrejamento e não por decapitação, e os bens delas deverão ser legados aos
herdeiros, e não destruídos.
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os proselitadores. Se alguém disser: “Um deus falso 'בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲלִ י ַה ָּקדֹוׁש ָּברּוְך הּוא עִ ְבדּו ע
falou para mim: ‘Sirva-me’” ou “O Santo, bendito וְ ִאם ֻה ְּדחּו ַא ֲח ָריו רֹב.ֲה ֵרי זֶ ה נָ ִביא ֶׁש ִה ִּד ַיח
é Ele, falou para mim: ‘Sirva um deus falso’” – ele é ַה ֵּמ ִסית ֶׁש ֵה ִסית ֵּבין ִּבלְ ׁשֹון ַר ִּבים.ָהעִ יר נִ ְס ָקל
considerado um profeta que desviou os outros. Se
as palavras dele causarem o desvio da maioria dos אֹומרֵ ּכֵ יצַ ד? ָה.ֵּבין ִּבלְ ׁשֹון יָ ִחיד ֲה ֵרי זֶ ה נִ ְס ָקל
habitantes da cidade, ele deverá ser apedrejado até .' ֵ'אלֵ ְך וְ ֶאעֱ בֹד880.'לַ ֲח ֵברֹו ֶ'אעֱ בֹד ּכֹוכָ ִבים
a morte. Para que um Messít seja penalizado com אֹותּהָ בֹודה ְפלֹונִ ית' ֶׁש ֶּד ֶרְך ָ ֲ'נֵ לֵ ְך וְ נַ עֲ בֹד ַּבע
apedrejamento até a morte, tanto faz ele ter feito ֵ'אלֵ ְך.' ֶ'א ַזְּבח.בֹודת ּכֹוכָ ִבים לְ ֵהעָ ֵבד ָּבּה ַ ֲע
proselitismo usando termos no plural ou no singular. .' ֵ'אלֵ ְך וַ ֲא ַק ֵּטר.' ֲ'א ַק ֵּטר.' 'נֵ לֵ ְך וְ נִ ַזְּבח.'וְ ֶא ַזְּבח
Como isso pode ser [exemplificado]? [Assim]: Ele
é considerado um Messít se disser a um colega: “Eu 'נֵ לֵ ְך.' ֵ'אלֵ ְך וַ ֲאנַ ֵּסְך.' ֲ'אנַ ֵּסְך.'נֵ לֵ ְך ּונְ ַק ֵּטר
adorarei um deus falso, [siga-me]”,880 “Eu irei fazer 'נֵ לֵ ְך.' ֵ'אלֵ ְך וְ ֶא ְׁש ַּת ֲחוֶ ה881.' ֶ'א ְׁש ַּת ֲחוֶ ה.'ּונְ נַ ֵּסְך
adoração”, ou “Adoremos esse deus executando um ֵה ִסית לִ ְׁשנַ יִ ם ֲה ֵרי. ֲה ֵרי זֶ ה ֵמ ִסית.'וְ נִ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה
rito pelo qual ele é venerado”; “Eu sacrificarei, [siga- ּומעִ ִידין ְ ֵהן עֵ ָדיו וְ ֵהן ְמ ִב ִיאין אֹותֹו לְ ֵבית ִּדין
me]”, “Eu irei fazer um sacrifício”, ou “Sacrifiquemos”; .סֹוקלִ ים אֹותֹו ְ ְעָ לָ יו ֶׁשּכָ ְך ָא ַמר לָ ֶהן ו
“Eu oferecerei um sacrifício queimado, [siga-
me]”, “Eu irei oferecer um sacrifício queimado”, ou
“Ofereçamos um sacrifício queimado”; “Eu oferecerei
uma libação, [siga-me]”, “Eu irei oferecer uma libação”,
ou “Ofereçamos uma libação”; “Eu me curvarei, [siga-
me]”, “Eu irei me curvar”, ou “Curvemo-nos”.881 Esse é
um Messít. Quando uma pessoa fizer proselitismo em
dois indivíduos, eles poderão servir de testemunhas
contra ela. Eles deverão intimá-la ao tribunal e
testificar contra ela, relatando o que ela lhes disse, e
então ela deverá ser apedrejada.
3. Não é necessário advertir previamente um ָא ַמר882. וְ ֵאין ַה ֵּמ ִסית צָ ִריְך ַה ְת ָר ָאה.ג
Messít.882 Quando uma pessoa fizer proselitismo אֹומר 'יֵ ׁש לִ י ֲח ֵב ִרים רֹוצִ ים ֵ הּוא883,לְ ֶא ָחד
sobre um único indivíduo,883 este deve dizer a ela: ּומעֲ ִרים עָ לָ יו עַ ד ֶׁשּיָ ִסית ִּב ְפנֵ י ְׁשנַ יִ ם
ַ 'ְּבּכָ ְך
“Eu tenho amigos que podem também se interessar
nisso”, procurando induzi-la a fazer proselitismo ִאם ל ֹא ָרצָ ה ַה ֵּמ ִסית לְ ָה ִסית.ּכְ ֵדי לְ ָה ְרגֹו
perante duas pessoas, de modo que recaia sobre ela ּכֺל ַח ֵּיָבי ִמיתֹות.לִ ְׁשנַ יִ ם ִמצְ וָ ה לְ ַהכְ ִמין לֹו
a pena de execução. Caso o Messít se recuse a fazer 884
.ּתֹורה ֵאין ַמכְ ִמינִ ין עֲ לֵ ֶיהן חּוץ ִמּזֶ ה ָ ֶׁש ַּב
proselitismo sobre duas pessoas, é Mitsvá armar uma מּוסת ֵמ ִביא ְׁשנַ יִ ם ָ ּכֵ יצַ ד ַמכְ ִמינִ ין לֹו? ַה
cilada para ele. Não é permitido armar cilada por ּכְ ֵדי ֶׁשּיִ ְראּו ַה ֵּמ ִסית885ּומעֲ ִמ ָידן ְּב ָמקֹום ָא ֵפל
ַ
violação de qualquer outra das proibições da Torá.
Esta é a única exceção.884 Como se arma uma cilada אֹומר
ֵ וְ הּוא.אֹותם ָ וְ יִ ְׁש ְמעּו ְד ָב ָריו וְ ל ֹא יִ ְר ֶאה
para ele? A vítima do proselitizador (“Mussát”) וְ הּוא.'לַ ֵּמ ִסית ֱ'אמֹר ַמה ֶׁש ָא ַמ ְר ָּת לִ י ְבּיִ חּוד
prepara duas pessoas e as posiciona em um local ּמּוסת ְמ ִׁשיבֹו ֵ'ה ַיאְך נַ ּנִ ַיח ֶאת ָ וְ ַה.אֹומר לֹו ֵ
880- A frase “Siga-me” está acrescentada com base no comentário do Késsef Mishnê, que assinala também que o Messít só se
torna culpado caso dirija as suas declarações diretamente ao Mussát.
881- Vide Capítulo 3, Halachá 3.
882- Geralmente, para ser punida por uma transgressão, a pessoa deve ter sido advertida previamente. Neste caso, contudo,
San-hedrín 88b afirma que é feita uma exceção e nenhum aviso prévio é requerido (vide Hilchót San-hedrín 11:5).
883- Uma única testemunha não basta para condenar um transgressor. Portanto, a vítima deve procurar fazer com que o
Messít repita as suas declarações diante de outras pessoas.
884- Vemos aqui um exemplo de penalização atribuída “medida por medida”. Já que o Messít tentou atrair os seus próximos
para o pecado, ele também é atraído para a transgressão passível de punição (Kinat Eliáhu).
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escuro,885 onde possam ver o Messít e ouvir o que ֹלהינּו ֶׁש ַּב ָּׁש ַמיִ ם וְ נֵ לֵ ְך וְ נַ עֲ בֹד ֶאת ָהעֵ צִ ים
ֵ ֱא
ele disser, sem que ele as veja, e então diz ao Messít: .וְ ֶאת ָה ֲא ָבנִ ים'? ִאם ָחזַ ר ּבֹו אֹו ָׁש ַתק ָּפטּור
“Repita aquilo que você me disse enquanto estamos .'חֹוב ֵתנּו וְ כָ ְך יָ ֶפה לָ נּו
ָ וְ ִאם ָא ַמר לֹו 'ּכָ ְך ִהיא
sozinhos”. E ele [o Messít] fala para ela. [Depois
que o Messít repetir a sua ladainha], o Mussát deve עֹומ ִדים ָׁשם ְּב ָרחֹוק ְמ ִב ִיאין אֹותֹו לְ ֵבית ִּדין ְ ָה
responder a ele: "Como podemos abandonar o nosso
886
.סֹוקלִ ים אֹותֹו ְ ְו
D-us no céu e servir madeira e pedra"? Se [o Messít]
se retratar ou permanecer em silêncio, ele não será
punido. Mas se ele retrucar: “Essa é nossa obrigação
e será benéfico para nós”, as pessoas que estiverem
[testemunhando] de longe deverão levá-lo ao
tribunal para apedrejá-lo.886
885- Por que é preciso esconder duas testemunhas? Aparentemente seria suficiente esconder uma única testemunha, para que
ela e o próprio Mussát testemunhassem contra o Messít! Essa dúvida é solucionada com base no que o Rambam determina em
Hilchót Edut 4:1, que em casos capitais as duas testemunhas devem poder avistar uma à outra. Como a testemunha deve ficar
escondida para que o Messít não a veja, é possível que também o Mussát não consiga avistá-la (Pri Chadash).
886- San-hedrín 67a.
887- Devarím 13:10.
888- Hilchót San-hedrín 15:1 relata que a execução por apedrejamento envolve empurrar o condenado de uma altura
equivalente a dois andares e, em seguida, atirar pedras pesadas sobre ele. Assim, o Mussát deve empurrar o Messít e “atirar a
primeira pedra”. Se isso não for suficiente para matá-lo, outras pessoas deverão se juntar a ele e atirar pedras.
889- Devarím 13:9.
890- Shemót 23:5.
891- Devarím ibid.
892- Vaikrá 19:16.
893- Devarím ibid.
894- Devarím ibid.
895- Vide também Hilchót San-hedrín 11:5, onde consta que, diferentemente da regra geral, o tribunal não deve ouvir
argumentações em prol de um Messít.
896- Devarím ibid.
897- Devarím 13:12.
898- San-hedrín 63b.
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5. [As regras a seguir se aplicam à] pessoa que faz ַה ֵּמ ִסית ֲא ֵח ִרים לְ עָ ְבדֹו וְ ָא ַמר לָ ֶהם.ה
proselitismo sobre outras para que a idolatrem. Caso וְ ִאם ל ֹא עֲ ָבדּוהּו. ִאם עֲ ָבדּוהּו נִ ְס ָקל.''עִ ְבדּונִ י
diga: “Idolatrem a mim” e a idolatrarem, ela deverá ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ִּק ְּבלּו ִמ ֶּמּנּו וְ ָא ְמרּו ֵ'הן' ֵאינֹו
ser apedrejada. Caso não a idolatrem, ela não deverá
ser apedrejada mesmo se os argumentos dela tiverem בֹודת ִאיׁש ַא ֵחר ַ ֲ ֲא ָבל ִאם ֵה ִסית לַ ע899.נִ ְס ָקל
sido aceitos.899 Mas [são outras as regras aplicáveis à בֹודת ּכֹוכָ ִבים ִאם ִק ֵּבל ַ ֲאֹו לִ ְׁש ָאר ִמינֵ י ע
pessoa que] fizer proselitismo para que um outro ִמ ֶּמּנּו וְ ָא ַמר ֵ'הן נֵ לֵ ְך וְ נַ עֲ בֹד' ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשעֲ ַדיִ ן
homem ou qualquer outro deus falso seja idolatrado. 900
.ּמּוסת
ָ ל ֹא עָ ַבד ְׁשנֵ ֶיהם נִ ְס ָקלִ ין ַה ֵּמ ִסית וְ ַה
Se as declarações dela forem aceitas e [as vítimas] ."ֹאבה לֹו וְ ל ֹא ִת ְׁש ַמע ֵאלָ יו ֶ "ל ֹא ת901ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
disserem: “Concordamos, idolatraremos”, mesmo
que elas ainda não tenham servido à idolatria, tanto
902
.ָהא ִאם ָׁש ַמע וְ ָא ָבה ַחּיָב
o Messít quanto o Mussát deverão ser apedrejados.900
Pois está dito:901 “Não ficarás atraído por ele nem o
ouvirás”; portanto, quem o ouvir e ficar atraído por
ele, será punido.902
6. De que modo se determina que um profeta está בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ נָ ִביא ַה ִּמ ְתנַ ֵּבא ְּב ֵׁשם ע.ו
profetizando em nome de deuses falsos? Quando ele בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲאֹומר ָ'א ְמ ָרה לִ י ע ֵ ּכֵ יצַ ד? זֶ ה ָה
fala: “Me foi dito por aquele deus falso ou por aquela ְּפלֹונִ ית אֹו ּכֹוכָ ב ְּפלֹונִ י ֶׁש ִּמצְ וָ ה לַ עֲ ׂשֹות ּכָ ְך
estrela que somos ordenados a fazer isso ou aquilo,
ou que devemos nos abster de fazer isso ou aquilo”. ֲא ִפּלּו ּכִ ּוֵ ן ֶאת ַה ֲהלָ כָ ה.'וְ כָ ְך אֹו ֶׁשּל ֹא לַ עֲ ׂשֹות
[Isso se aplica] mesmo quando ele proclamar a lei
903
לְ ַט ֵּמא ֶאת ַה ָּט ֵמא ּולְ ַט ֵהר ֶאת ַה ָּטהֹור
acuradamente, rotulando o impuro como impuro 905
. ֲה ֵרי זֶ ה נֶ ֱחנָק904ִאם ִה ְתרּו בֹו ִּב ְפנֵ י ְׁשנַ יִ ם
e o puro como puro.903 Caso tenha sido advertido ֹלהים ִ "וַ ֲא ֶׁשר יְ ַד ֵּבר ְּב ֵׁשם ֱא906ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
previamente diante de duas [testemunhas],904 ele וְ ַאזְ ָה ָרה ֶׁשּלֹו."ּומת ַהּנָ ִביא ַההּוא ֵ ֲא ֵח ִרים
deverá ser executado por estrangulamento,905 pois
está dito:906 “E quem fala em nome de outros deuses, ֹלהים ֲא ֵח ִרים ל ֹא ִ "וְ ֵׁשם ֱא907ִמּכְ לָ ל ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
esse profeta morrerá”. A admoestação quanto a
908
."ַתזְ ּכִ ירּו
essa [transgressão] está incluída no dito:907 “E não
mencionareis o nome de outros deuses”.908
Veshinantam | 77
Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
Caso ele o execute por vontade própria, não se deve וְ כָ ל911.ַמ ְׁשּגִ ִיחין עָ לָ יו וְ ֵאין ְמ ַה ְר ֲה ִרין ּבֹו
dar nenhuma atenção a ele nem pensar a respeito.911 ַה ְּמ ַח ֵּׁשב ָּבאֹותֹות ֶׁשּלֹו ֶׁש ָּמא ֱא ֶמת ֵהן עָ ַבר
Quem pondera a respeito dos sinais [executados "ל ֹא ִת ְׁש ַמע ֶאל913 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר912.ְּבל ֹא ַתעֲ ֶׂשה
por ele, pensando]: “Talvez sejam verdadeiros”,
transgride um preceito negativo,912 conforme está
914
וְ כֵ ן נְ ִביא ַה ֶּׁש ֶקר."ִּד ְב ֵרי ַהּנָ ִביא ַההּוא
dito:913 “Não escute as palavras daquele profeta”. 'ִמ ָיתתֹו ְּב ֶחנֶק ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּנִ ְתנַ ֵּבא ְּב ֵׁשם ה
Similarmente, um profeta falso914 deve ser executado "אְךַ 916 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר915.הֹוסיף וְ ל ֹא גָ ַרע ִ וְ ל ֹא
por estrangulamento mesmo se falar em nome de ַהּנָ ִביא ֲא ֶׁשר יָ זִ יד לְ ַד ֵּבר ָּד ָבר ִּב ְׁש ִמי ֵאת ֲא ֶׁשר
D-us e não adicionar nem eliminar [qualquer das 917
."ּומת ַהּנָ ִביא ַההּוא ֵ ...ל ֹא צִ ּוִ ִיתיו
Mitsvót],915 conforme está dito:916 “Mas o profeta que
ousar falar algo que Eu não ordenei em Meu nome –
esse profeta deverá morrer”.917
8. Tanto918 quem “profetiza” a respeito de algo que ַה ִּמ ְתנַ ֵּבא ַמה ֶׁשּל ֹא ָׁש ַמע918 ֶא ָחד.ח
nunca tenha sido escutado por visão profética בּואה אֹו ִמי ֶׁש ָּׁש ַמע ִּד ְב ֵרי נָ ִביא ָ ְְּב ַמ ְר ֵאה ַהּנ
quanto quem “profetiza” a respeito de algo que tenha ֲח ֵברֹו וְ ָא ַמר ֶׁש ָּד ָבר זֶ ה לֹו נֶ ֱא ַמר וְ הּוא נִ ְתנַ ֵּבא
ouvido de outro profeta, dizendo que essa profecia
lhe foi dada, é considerado um profeta falso919 e deve
.ּומ ָיתתֹו ְּב ֶחנֶקִ 919בֹו ֲה ֵרי זֶ ה נְ ִביא ֶׁש ֶקר
ser executado por estrangulamento.
9. Quem se abstiver de executar um profeta falso ּכָ ל ַהּמֹונֵ עַ עַ צְ מֹו ֵמ ֲה ִריגַ ת נְ ִביא ַה ֶׁש ֶקר.ט
devido à sua grandeza, [por considerar que] 920
בּואהָ ְִמ ְּפנֵ י ַמעֲ לָ תֹו ֶׁש ֲה ֵרי הֹולֵ ְך ְּב ַד ְרכֵ י ַהּנ
afinal ele segue os caminhos da profecia,920 estará 922
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר921.עֹובר ְּבל ֹא ַתעֲ ֶׂשה ֵ ֲה ֵרי זֶ ה
transgredindo um preceito negativo,921 pois está
dito:922 “Não o temerás”. Similarmente, reter algum
וְ כֵ ן ַהּמֹונֵ עַ עַ צְ מֹו ִמּלְ לַ ֵּמד.""ל ֹא ָתגּור ִמ ֶּמּנּו
testemunho incriminatório contra [um profeta falso] ּפֹוחד וְ יָ ֵרא ִמ ְּד ָב ָריו ֲה ֵרי ֵ חֹובה אֹו ַה ָ עָ לָ יו
e ter medo ou temor dos seus ditos está incluído na וְ ֵאין ָּדנִ ין נְ ִביא."הּוא ִּבכְ לָ ל "ל ֹא ָתגּור ִמ ֶּמּנּו
proibição: “Não o temerás”. Um profeta falso só pode 923
.ַה ֶׁש ֶקר ֶאלָ א ְּב ֵבית ִּדין ֶׁשל ִׁש ְבעִ ים וְ ֶא ָחד
ser julgado pelo Grande Tribunal de 71 juízes.923
911- Uma vez que esse sinal ou milagre tem como objetivo contradizer a profecia de Moshé, pode-se assumir que ele tenha
sido executado por intermédio de feitiçarias ou de magias (Hilchót Iessodei Hatorá 8:3).
912- O Sefer Hamitsvót (loc. cit.) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 456) consideram essa como uma das 613 Mitsvót da Torá.
913- Devarím 13:4.
914- Também em Hilchót Iessodei Hatorá, Capítulos 7-10, o Rambam explica o conceito de profeta falso.
915- Em Hilchót Iessodei Hatorá 9:1 está explicado que “se surgir alguém apresentando sinais e milagres... e afirmar que o
Eterno o enviou para adicionar ou eliminar uma Mitsvá... trata-se de um profeta falso, uma vez que surgiu para a contradizer
a profecia de Moshé”.
916- Devarím 18:20.
917- San-hedrín 89a.
918- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 27) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 516) consideram a proibição de profecia falsa uma
das 613 Mitsvót da Torá.
919- San-hedrín 63a.
920- Vide Hilchót Iessodei Hatorá 7:1,4.
921- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 29) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 518) consideram essa como uma das 613 Mitsvót da Torá.
922- Devarím 18:22.
923- San-hedrín 2a. O Grande Sinédrio no Monte do Templo. Em Hilchót Iessodei Hatorá, Capítulo 10, o Rambam trata do
processo de testar a autenticidade de um profeta e de como a profecia de uma pessoa pode ser estabelecida como falsa.
Veshinantam | 78
Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
10. A pessoa que fizer um voto ou uma promessa924 ָּבּה924בֹודת ּכֹוכָ ִבים וְ ַהּנִ ְׁש ָּבע ֵ ַה.י
ַ ֲּנֹודר ְּב ֵׁשם ע
em nome de um deus falso deverá ser [punida ֹלהים ֲא ֵח ִרים ל ֹא ִ ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וְ ֵׁשם ֱא.לֹוקה
925
ֶ
com] chibatadas, conforme está dito:925 “E não ֶא ָחד ַהּנִ ְׁש ָּבע ָּבּה לְ עַ צְ מֹו וְ ֶא ָחד926."ַתזְ ּכִ ירּו
mencionareis o nome de outros deuses”.926 [Isso
se aplica] tanto a quem faz tal voto para si mesmo ַ וְ ָאסּור לְ ַה ְׁש ִּביע.עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ ְַהּנִ ְׁש ָּבע ָּבּה ל
quanto a quem faz tal voto para um gentio. É ֲא ִפּלּו לְ ַהזְ ּכִ יר ֵׁשם.עֺובד ּכֺוכָ ִבים ְּביִ ְר ָאתֹו ֵ ָה
proibido fazer um gentio prometer em nome do .בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֶׁשּל ֹא ֶּד ֶרְך ְׁשבּועָ ה ָאסּור ַ ֲע
deus dele. Também mencionar o nome do deus falso 927
."ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "ל ֹא ַתזְ ּכִ ירּו
quando desvinculado de uma promessa é proibido,
conforme está dito, “Não mencionareis”.927
11. Não se deve dizer a um colega: “Espere por ֹאמר ָא ָדם לַ ֲח ֵברֹו ְׁשמֹר לִ י ְּבצַ ד ַ ל ֹא י.יא
mim perto de um determinado ídolo”, nem nada וְ כָ ל.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ְּפלֹונִ ית וְ כַ ּיֹוצֵ א ָבּה ַ ֲע
do gênero. É permitido dizer o nome de qualquer
תּובה ְּבכִ ְת ֵבי ַהּק ֶֹדׁש ָ ְבֹודת ּכֹוכָ ִבים ַהּכ ַ ֲע
deus falso mencionado na Bíblia – por exemplo,
Peór, Baal, Nevó, Gad e similares. É proibido fazer ּכְ גֹון ְּפעֹור ֵּובל ּונְ בֹו וְ גַ ד.ֻמ ָּתר לְ ַהזְ ּכִ יר ְׁש ָמּה
outros928 jurarem ou prometerem em nome de deuses ֶׁשּיִ ְּדרּו928 וְ ָאסּור לִ גְ רֹם לַ ֲא ֵח ִרים.וְ כַ ּיֹוצֵ א ָּב ֶהן
falsos. [Com relação a todas essas transgressões], o לֹוקה
ֶ וְ ֵאינֹו.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲוְ ֶׁשּיְ ַקּיְ מּו ְּב ֵׁשם ע
único que deverá receber chibatadas é quem tiver ּנֹודר ִּב ְׁש ָמּה וְ ַה ְּמ ַקּיֵ ם ִּב ְׁש ָמּה וְ הּוא
ֵ ֶאלָ א ַה
feito um voto, juramento ou promessa em nome [de
.ַהּנִ ְׁש ָּבע ִּב ְׁש ָמּה
um deus falso].
924- Vide Sefer Haflaá, onde o Rambam discute a diferença entre Shevuá (“juramento”) e Néder (“voto”). Em geral, a diferença
é que a obrigação acarretada por um juramento está centrada primariamente na pessoa que aceita a obrigação, ao passo que
a acarretada por um voto tem uma conexão maior com o objeto do voto.
925- Shemót 23:13.
926- San-hedrín 60b e 63b. O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 14) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 87) consideram essa como
uma das 613 Mitsvót da Torá.
927- Vide Shulchan Aruch (Iorê Deá 147:3), onde consta que a menção de nomes dessas falsas deidades é proibida, “havendo
ou não necessidade de mencioná-las”. A implicação disso é que a proibição incide até se um judeu se prejudicar se não as
mencionar, e de modo inverso, até se mencioná-las casualmente, sem nenhuma finalidade aparente.
928- Na Halachá anterior o Rambam mencionou a proibição de fazer um gentio prometer em nome de sua falsa deidade.
Nesta Halachá ele declara que é proibido entrar em situações que possam levar a isso. Dentre os exemplos dados para essa
última proibição está se associar a um gentio, uma vez que, em última análise, pode surgir uma disputa entre sócios que
requeira a tomada de um juramento (Shulchan Aruch, Orach Chaim 156:1, Iorê Deá 147:2).
Veshinantam | 79
Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
2. Como são executados os atos associados a um ּכֵ יצַ ד ַמעֲ ֵׂשה ַהּיִ ְּדעֹונִ י? ַמּנִ ַיח עֶ צֶ ם עֹוף.ב
Idoní? A pessoa coloca na boca um osso de um עֹוׂשה
ֶ ְּומ ְק ִטיר ו ַ ְּב ִפיו934' ֶַׁש ְּׁשמֹו 'יַ ּדּוע
pássaro chamado Iadua,934 oferece incenso e faz ַמעֲ ִׂשים ֲא ֵח ִרים עַ ד ֶׁשּיִ ּפֹל ּכְ נִ כְ ֶּפה וִ ַיד ֵּבר
outros atos até entrar em transe, [perdendo o
autocontrole] como um epilético, e prediz eventos וְ כָ ל ֵאּלּו.ְּב ִפיו ְּד ָב ִרים ֶׁשעֲ ִת ִידים לִ ְהיֹות
que acontecerão no futuro. Todos esses são tipos de
929- O Sefer Hamitsvót (Preceitos Negativos 8 e 9) e o Sefer Hachinuch (Mitsvót 255 e 256) consideram as proibições de
executar atos vinculados a um Óv e um Idoní como duas das 613 Mitsvót da Torá.
930- Uma oferenda fixa de pecado (San-hedrín 65a).
931- Da colocação do Rambam depreende-se que a resposta é apenas imaginada, que não é ouvida de fato pelo consulente.
Isso se coaduna com o que consta no Capítulo 11, Halachá 16, que essas práticas (e os outros meios de adivinhação e magia
mencionados aqui) são desprovidos de sentido e não passam de mentiras sem nenhuma substância real.
932- Vide também o Comentário à Mishná do Rambam, San-hedrín 7:7, onde ele se estende na descrição dessa prática.
933- San-hedrín 65b.
934- Segundo o Rashi (ibid.), Iadua é um animal selvagem. A maioria dos comentaristas aceita a sua opinião. As declarações
do Rambam parecem estar baseadas no Zôhar (Vol. III, pág. 184b), que ao descrever Balák como um mestre dessa forma de
adivinhação relata que ele atuava usando um osso de um pássaro.
Veshinantam | 80
Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
adorações a ídolos.935 Aonde consta uma advertência וְ ַאזְ ָה ָרה ֶׁשּלָ ֶהן935.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֵהן
ַ ֲִמינֵ י ע
contra eles? No dito:936 “Não vos voltareis aos "אל ִּת ְפנּו ֶאל ָה ֹאבֹת וְ ֶאל ַ 936ְמנַ יִ ן? ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
Ovót nem aos Idoním”. ."ַהּיִ ְּדעֹנִ ים
3. Quem dá de sua descendência ao Mólech de ּנֹותן ִמּזַ ְרעֹו לַ ּמֹלֶ ְך ִּב ְרצֹונֹו ְּובזָ דֹון ַחּיָב ֵ ַה.ג
modo intencional e desafiador deve ser penalizado וְ ִאם. ְּבׁשֹוגֵ ג ֵמ ִביא ַח ָּטאת ְקבּועָ ה.ּכָ ֵרת
937
com Carêt. Mas caso tenha executado esse ato 938
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.עָ ָׂשה ְּבעֵ ִדים וְ ַה ְת ָר ָאה נִ ְס ָקל
involuntariamente, ele deverá trazer uma Chatat
Kevuá [como expiação pelo seu pecado].937
939
."יּומת וְ גֺו׳ָ "א ֶׁשר יִ ֵּתן ִמּזַ ְרעֹו לַ ּמֹלֶ ְך מֹות ֲ
Se houver testemunhas presentes e estas o "ּומּזַ ְרעֲ ָך ל ֹא
ִ 940
וְ ַאזְ ָה ָרה ֶׁשּלֹו ְמנַ יִ ן? ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
advertirem previamente, ele deverá ser [punido 941
אֹומר
ֵ ּולְ ַהּלָ ן הּוא."ִת ֵּתן לְ ַהעֲ ִביר לַ ּמֹלֶ ְך
com] apedrejamento até a morte, conforme ּכֵ יצַ ד.""ל ֹא יִ ָּמצֵ א ְבָך ַמעֲ ִביר ְּבנֹו ִּובּתֹו ָּב ֵאׁש
está dito:938 “Quem der da sua descendência ao לֹוק ַח
ֵ ְ ו942עֹוׂשים? ַמ ְדלִ יק ֵאׁש ּגְ דֹולָ ה ִ ָהיּו
Mólech certamente morrerá. O povo o apedrejará".939
Aonde consta uma admoestação contra essa עֹוב ֵדי
ְ לְ ָמ ְסרֹו לְ כ ֲֹהנֵ ֶיהם943ִֹמ ְקצָ ת זַ ְרעו
[transgressão]? No dito:940 “E da tua descendência tu נֹותנִ ין ַה ֵּבן לְ ָא ִביו ְ ּכֹוהנִ ים ֲ אֹותן ַה ָ ְ ו.ָה ֵאׁש
não darás para passar no Mólech”. E em outro local ַא ַחר ֶׁשּנִ ְמ ַסר ְּביָ ָדן לְ ַהעֲ ִבירֹו ָב ֵאׁש ִּב ְרׁשּותֺו
consta:941 “Que não seja achado no meio de ti quem 944
וַ ֲא ִבי ַה ֵּבן הּוא ֶׁש ַּמעֲ ִביר ְּבנֹו עַ ל ָה ֵאׁש
faça o teu filho ou a tua filha passar pelo fogo”. Como ִמּצַ ד זֶ ה945ּומעְ ִבירֹו ְּב ַרגְ לָ יו ַ ּכֹוהנִ ים
ֲ ִּב ְרׁשּות ַה
era executado esse ato? Uma pessoa acendia uma
grande fogueira [diante do ídolo]942 e em seguida, ׂשֹורפֹוְ ל ֹא ֶׁשהּוא.לְ צַ ד ַא ֵחר ְּבתֹוְך ַה ַּׁשלְ ֶה ֶבת
pegava alguns de seus descendentes943 e os entregava נֹות ֶיהםֵ ּׂשֹור ִפין ְּבנֵ ֶיהם ְּוב ְ לַ ּמֹלֶ ְך ּכְ ֶד ֶרְך ֶׁש
para os sacerdotes que serviam o fogo. Depois que a בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַא ֶח ֶרת ֶאלָ א ְּב ַהעֲ ָב ָרה ַ ֲלַ ע
criança era entregue a eles, os sacerdotes a devolviam לְ ִפיכָ ְך.'בֹודה זֺו ֶׁש ְּׁש ָמּה 'מֹלֶ ְך ָ ֲִּבלְ ַבד ָהיְ ָתה ע
ao pai para que este a fizesse passar pelo fogo com a בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַא ֶח ֶרת ַ ֲבֹודה זֹו לַ ע ָ ֲעֹוׂשה ע ֶ ָה
sua permissão. O pai da criança é quem a passava
pelo fogo, com a permissão dos sacerdotes. Ele a .חּוץ ִמּמֹלֶ ְך ָּפטּור
fazia passar através do fogo de um lado para o outro
[carregando-a, caminhando]944 com os pés em meio
às chamas.945 Assim, [o pai] não cremava o filho para
o Mólech, à maneira das cremações de filhos e filhas
executadas nos cultos a outras divindades. Essa
forma de adoração chamada Mólech envolvia apenas
passar [a criança através do fogo]. Portanto, quem
executar esse culto a uma outra divindade que não o
Mólech, não deverá ser punido.
935- Executar esses atos envolve a aceitação de outras entidades além de D-us como fontes de influxo. Dos comentários do
Rashi e do Ramban sobre Devarím 18:11, parece que as adivinhações executadas com um Óv e um Idoní são uma combinação
de feitiçaria e idolatria. Pois o intento é fazer feitiçaria, mas há uma dimensão de servidão aos poderes impuros que se
pretende evocar. Assim, às vezes essas adivinhações aparecem descritas como sendo idolatria e às vezes como sendo feitiçaria.
936- Vaikrá 19:31.
937- Keritut 2a.
938- Vaikrá 20:2.
939- O Mólech foi um deus amonita cuja veneração encontra-se mencionada na Torá e nos Profetas em diversos lugares
(vide Melachím I 11:7, Melachím II 16:3 e 23:10). O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 7) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 208)
consideram a proibição de servir ao Mólech como uma das 613 Mitsvót da Torá.
940- Vaikrá 18:21.
941- Devarím 18:10.
942- A frase entre colchetes foi acrescida com base no Comentário À Mishná (Sanhedrín 7:7) e no Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 7).
943- Vide adiante, no final próxima Halachá.
944- Segundo o Maharik, o filho caminhava por conta própria.
945- Vide San-hedrín 64b e Talmud Ierushalmi (San-hedrín 7:10).
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Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
4. Enquanto não entregar o filho ao Mólech fazendo-o ֵאינֹו ַחּיָב ּכָ ֵרת אֹו ְס ִקילָ ה עַ ד ֶׁשּיִ ְמסֹר לַ ּמֹלֶ ְך.ד
passar pelo fogo da forma ritual de passagem, [um ָמ ַסר וְ ל ֹא.וְ יַ עְ ִבירֹו ְב ַרגְ לָ יו ָּב ֵאׁש ֶּד ֶרְך ַהעֲ ָב ָרה
pai] não é penalizado com Carêt ou apedrejamento. ֶהעֱ ִביר ֶהעֱ ִביר וְ ל ֹא ָמ ַסר אֹו ֶׁש ָּמ ַסר וְ ֶהעֱ ִביר
Se entregar [o filho] mas não o fizer passar [pelo
fogo], ou se o fizer passar [pelo fogo] mas não o וְ ֵאינֹו ַחּיָב עַ ד.ֶׁשּל ֹא ְב ֶד ֶרְך ַהעֲ ָב ָרה ָּפטּור
entregar, ou se o entregar e o fizer passar [pelo fogo]
946
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ֶׁשּיִ ְמסֹר ִמ ְקצָ ת זַ ְרעֹו וְ יַ ּנִ ַיח ִמ ְקצָ ת
mas não da forma ritual de passagem, ele não deverá 947
. ִמ ְקצָ תֹו וְ ל ֹא כֻ ּלֹו.""ּכִ י ִמּזַ ְרעֹו נָ ַתן לַ ּמֹלֶ ְך
ser punido. Enquanto não entregar parte de seus
descendentes e ficar com parte deles ele não deverá
ser punido, pois está dito:946 “Porque ele deu da sua
descendência ao Mólech” – ou seja, parte [de sua
descendência], mas não toda a sua [descendência].947
5. [A proibição de entregar a descendência ֶא ָחד. ֶא ָחד זֶ ַרע ּכָ ֵׁשר וְ ֶא ָחד זֶ ַרע ָּפסּול.ה
ao Mólech engloba] tanto a descendência de linhagem עַ ל ּכָ ל.נֹותיו ְּבנֵ ֶיהם ְּובנֵ י ְבנֵ ֶיהם ָ ָּבנָ יו ְּוב
legítima quanto de ilegítima, tanto filhos e filhas
ֲא ָבל.יֹוצְ ֵאי יְ ֵרכֹו הּוא ַחּיָב ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֵהן זַ ְרעֹו
quanto filhos e netos deles. A pessoa deve ser punida
por entregar qualquer um de seus descendentes, pois בֹותיו אֹו ָ יֹותיו אֹו ֲאָ ִאם ֶהעֶ ִביר ֶא ָחיו אֹו ַא ְח
todos eles estão englobados no termo "descendência". ֶהעֱ ִביר ֶא ָחד ִמּזַ ְרעֹו.ֶׁש ֶהעֱ ִביר עַ צְ מֹו ָּפטּור
Em contrapartida, a pessoa que fizer passar [pelo 948
.סֹומה ָּפטּור ֵ וְ הּוא יָ ֵׁשן אֹו ֶׁש ָהיָ ה
fogo] irmãos, irmãs ou ascendentes, ou até a si
própria, não deverá ser punida. Se fizer um dos seus
descendentes passar dormindo, ou se ele for cego, ela
não deverá ser punida.948
6. O pilar que a Torá proibiu949 é uma estrutura ao ִהיא ִּבנְ יָ ן ֶׁש ַהּכֹל949ּתֹורה ָ ַמּצֵ ָבה ֶׁש ָא ְס ָרה.ו
redor da qual as pessoas se agrupam. [Essa proibição ִמ ְת ַק ְּבצִ ין ֶאצְ לָ ּה וַ ֲא ִפּלּו לַ עֲ בֹד ֶאת ה' ֶׁשּכֵ ן
é aplicável] até mesmo [a um pilar que tenha sido "וְ ל ֹא950 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.עֹוב ֵדי כֹוכָ ִבים ְ ָהיָ ה ֶד ֶרְך
erigido] para o serviço de D-us, pois essa é uma prática
idólatra, conforme está dito:950 “Não construirás para
וְ כָ ל ַה ֵּמ ִקים ַמּצֵ ָבה."ָת ִקים לְ ָך ַמּצֵ ָבה
ti um pilar que o Senhor teu D-us odeia”.951 Quem ּתֹורה
ָ מּורה ַב ָ וְ כֵ ן ֶא ֶבן ַמ ְׂשּכִ ית ָה ֲא951.לֹוקהֶ
erigir esse [tipo de] monumento deverá ser [punido .לֹוקה ֶ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשהּוא ִמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה עָ לֶ ָיה לַ ֵּׁשם
com] chibatadas. Similarmente, [a pessoa que se "וְ ֶא ֶבן ַמ ְׂשּכִ ית ל ֹא ִת ְּתנּו ְּב ַא ְרצְ כֶ ם952ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
ajoelhar sobre] um piso de pedras mencionado na
Torá deverá receber [a punição de] chibatadas, até
mesmo caso ela se ajoelhe para D-us, pois está dito:952
“Não poreis piso de pedras em vossa terra para vos
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Rambam: quarta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
prostrar sobre ele”.953 Os pagãos costumavam colocar ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ָהיָ ה ֶד ֶרְך953."לְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹת עָ לֶ ָיה
um [piso de] pedras na frente de um ídolo para que עֺוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים לְ ַהּנִ ַיח ֶא ֶבן לְ ָפנֶ ָיה לְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹות
ְ
pudessem se ajoelhar perante ele. É por isso que essa לֹוקה ֶ וְ ֵאינֺו.'עֹוׂשין ּכֵ ן לַ ה ִ עָ לֶ ָיה לְ ִפיכָ ְך ֵאין
prática não é observada no serviço de D-us. A pessoa
só deve receber [a punição de] chibatadas se estender עַ ד ֶׁשּיִ ְפׁשֹט יָ ָדיו וְ ַרגְ לָ יו עַ ל ָה ֶא ֶבן וְ נִ ְמצָ א כֻ ּלֹו
braços e pernas sobre a pedra, ou seja, se ela ficar מּורה ָ ֶׁשּזֹו ִהיא ִה ְׁש ַּת ֲחוָ יָ ה ָה ֲא.ֻמ ָּטל עָ לֶ ָיה
inteiramente prostrada sobre ela. É isso o que a Torá 954
.ּתֹורה ָ ַב
chama de “prostrar-se”.954
7. Aonde [essa proibição] se aplica? Em todas as מּורים? ִּב ְׁש ָאר ָה ֲא ָרצֹות ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא.ז
nações (ou lugares); mas no Templo Sagrado é (נ׳׳א ַה ְּמקֺומֺות) ֲא ָבל ַּב ִּמ ְק ָּדׁש ֻמ ָּתר
permitido prostrar-se a D-us sobre pedra. Isso é 955
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לְ ִה ְׁש ַּת ֲחֹות לַ ה' עַ ל ָה ֲא ָבנִ ים
depreendido do dito:955 “Não poreis... em vossa
terra para se ajoelhar sobre ele”; “em vossa terra” é
ְּב ַא ְרצְ כֶ ם ִאי ַא ֶּתם ִמ ְׁש ַּת ֲחוִ ים- ""ּב ַא ְרצְ כֶ ם ְ
proibido se prostrar sobre pedra, mas no Templo עַ ל ָה ֲא ָבנִ ים ֲא ָבל ַא ֶּתם ִמ ְׁש ַּת ֲחוִ ים עַ ל
é permitido se prostrar sobre pedra talhada.956 Por ּומ ְּפנֵ י זֶ הִ 956.ָה ֲא ָבנִ ים ַה ְּמ ֻפּצָ לֹות ַּב ִּמ ְק ָּדׁש
essa razão, é um costume universalmente aceito pelo נָ ֲהגּו ּכָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל לְ ַהּצִ יעַ ַמ ְחצְ לָ אֹות ְּב ָב ֵּתי
povo judeu recobrir com tapetes, palha ou feno os כְ נֵ ִסּיֹות ָה ְרצּופֹות ַּב ֲא ָבנִ ים אֹו ִמינֵ י ַקׁש וָ ֶת ֶבן
pisos de pedras das sinagogas, a fim de separar os
rostos das pedras.957 Se a pessoa não encontrar algo
וְ ִאם957.לְ ַה ְב ִּדיל ֵּבין ְּפנֵ ֶיהם ֵּובין ָה ֲא ָבנִ ים
que a separe das pedras, ela deverá procurar outro ל ֹא ָמצָ א ָּד ָבר ַמ ְב ִּדיל ֵּבינֹו ֵּובין ָה ֶא ֶבן הֹולֵ ְך
lugar para prostrar-se,958 ou deitar-se de lado, sem ׁשֹוחה עַ ל צִ ּדֹוֶ אֹו958ּומ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה ִ לְ ָמקֹום ַא ֵחר
encostar o rosto nas pedras. .ּומ ֶּטה ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יַ ְד ִּביק ָּפנָ יו ָּב ֶא ֶבן
ַ
8. A pessoa que se prostra959 para D-us sobre pedras לַ ה' עַ ל ָה ֲא ָבנִ ים959 ּכָ ל ַה ִּמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה.ח
talhadas sem estender braços e pernas não deverá ser ַה ְּמ ֻפּצָ לֹות ְּבל ֹא ִפּׁשּוט יָ ַדיִ ם וְ ַרגְ לַ יִ ם ֵאינֹו
[punida com] chibatadas mas com “chicotadas por 960
.לֹוקה ֶאּלָ א ַמּכִ ין אֹותֹו ַמּכַ ת ַמ ְרּדּות ֶ
insubordinação”.960 Por outro lado, quem se prostra
para um ídolo,961 quer tenha estendido braços e ֶא ָחד ִה ְׁש ַּת ֲחוָ יָ ה- בֹודת ּכֺוכָ ִבים
961
ַ ֲֲא ָבל לַ ע
pernas quer não, bastando curvar o rosto em direção ְּב ִפּׁשּוט יָ ַדיִ ם וְ ַרגְ לַ יִ ם אֹו ְּבל ֹא ִפּׁשּוט יָ ַדיִ ם
ao chão, deve ser apedrejado até a morte.962 962
.וְ ַרגְ לַ יִ ם ִמ ָּׁשעָ ה ֶׁשּיִ כְ ּבֹׁש ָּפנָ יו ַּב ַּק ְר ַקע נִ ְס ָקל
9. Quem planta uma árvore – frutífera ou não – ּנֹוטעַ ִאילָ ן ֵאצֶ ל ַה ִּמ ֵזְּב ַח אֹו ְבכָ ל ֵ ַה.ט
perto do Altar ou em qualquer ponto dentro do ֵּבין ִאילַ ן ְס ָרק ֵּבין ִאילַ ן ַמ ֲאכָ ל ַאף963ָהעֲ זָ ָרה
953- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 12) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 349) consideram a proibição de prostrar-se sobre
pedras como uma das 613 Mitsvót da Torá.
954- Meguilá 22b depreende esse conceito de Bereshit 37:10: “Será que a tua mãe e eu... devemos nos prostrar no chão perante ti”.
955- Vaikrá, ibid.
956- O pátio do Templo Sagrado e o edifício do Templo eram revestidos de pedras, onde os judeus e os sacerdotes se prostravam.
957- Meguilá 22b e 23a menciona esse conceito em conexão com a recitação das orações de Tachanun, que alguns costumavam
recitar estendidos no chão (vide Hilchót Tefilá 5:13-14). Atualmente, em comunidades de Ashkenazím, esse tópico é relevante
durante as rezas das Grandes Festas, quando há o costume de prostrar-se diversas vezes.
958- Meguilá, loc. cit., oferece exatamente essas alternativas.
959- I.e. curvando-se até o rosto tocar o chão.
960- Essa punição é infligida a quem transgride um preceito rabínico.
961- Conforme mencionado no Capítulo 3, Halachá 2, é considerado culpado de ter se prostrado para um deus falso até quem
não tenha feito [a adoração] da maneira tradicionalmente praticada.
962- Vide Horaót 4a. Da expressão do Rambam fica parecendo que a face do transgressor teria que tocar o chão para que ele
fosse considerado culpado de transgressão. Mas de San-hedrín 65a pode-se depreender que basta ele se curvar em deferência
a um ídolo para ser considerado culpado.
Veshinantam | 83
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pátio963 do Templo Sagrado, mesmo com a intenção עַ ל ִּפי ֶׁשעֲ ָׂשאֹו לְ נֹוי לַ ִּמ ְק ָּדׁש וְ י ִֹפי לֹו ֲה ֵרי זֶ ה
de embelezar o Templo e torná-lo mais atrativo e 965
"ל ֹא ִת ַּטע לְ ָך ֲא ֵׁש ָרה964 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לֹוקה ֶ
bonito, deverá ser [punido com] chibatadas, pois está עֺוב ֵדי
ְ ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ָהיָ ה זֶ ה ֶּד ֶרְך 966
."ּכָ ל עֵ ץ
dito:964 “Não plantarás uma Asherá965 ou qualquer
outra árvore perto do Altar de D-us,966 teu Senhor, נֹוטעִ ין ִאילָ נֹות ְּבצַ ד ִמ ֵזְּב ַח ֶׁשּלָ ּה ּכְ ֵדי
ְ ּכֹוכָ ִבים
que farás”. [A razão dessa proibição é] que essa era .ֶׁשּיִ ְת ַק ְּבצּו ָׁשם ָהעָ ם
uma prática dos idólatras, que plantavam árvores
perto de seus altares para ali congregar as pessoas.
10. É proibido construir no Templo Sagrado um ָאסּור לַ עֲ ׂשֹות ַאכְ ַס ְד ָראֹות ֶׁשל עֵ ץ ַּב ִּמ ְק ָּדׁש.י
alpendre de madeira do tipo que se constrói em pátios ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשהּוא.עֹוׂשין ַּב ֲחצֵ רֹות ִ ּכְ ֶד ֶרְך ֶׁש
comuns, mesmo [quando a madeira for fixada] dentro .ַב ִּבנְ יָ ן וְ ֵאינֺו עֵ ץ נָ טּועַ ַה ְר ָח ָקה יְ ֵת ָרה ִהיא
da estrutura e não estiver plantada no solo. Essa é
uma restrição suplementar, conforme [se depreende
ֶאלָ א ּכָ ל ָה ַאכְ ַס ְד ָראֹות."ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "ּכָ ל עֵ ץ
da frase] “qualquer outra árvore” [que consta no ֶׁש ָהיּו967וְ ַה ְּס ָבכֹות ַהּיֹוצְ אֹות ִמן ַהּכְ ָתלִ ים
versículo mencionado acima]. É por isso que todos os 968
.ַב ִּמ ְק ָּדׁש ֶׁשל ֶא ֶבן ָהיּו ל ֹא ֶׁשל עֵ ץ
alpendres e estruturas que se estendiam das paredes
do santuário967 eram de pedra e não de madeira.968
963- Os comentaristas notam que o Sifri, que é a fonte dessa Halachá, declara que a proibição vigora sobre todo o Monte do Templo
(uma área muito maior que a do pátio do Templo). O Avodat Hamélech resolve essa questão com base nas palavras do Rambam em
Hilchót Beit Habechirá 6:10, segundo o qual o pátio do Templo pode ser estendido para incluir todo o Monte do Templo.
964- Devarím 16:21.
965- Asherá é uma árvore usada para adoração de uma deusa da fertilidade. Vide também Shemót 34:13, Shemuel I 31:10,
Melachím I 11:5,33. A Septuaginta relaciona uma Asherá à adoração de Ishtar (Astarte) e Afrodite. Vide também Capítulo 7,
Halachá 11, e Capítulo 8, Halachá 3.
966- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 13) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 490) consideram a proibição de plantar uma árvore
no pátio do Templo Sagrado como uma das 613 Mitsvót da Torá.
967- Para servirem como apoio (Melachím I 6:10) e para fins decorativos (Hilchót Beit Habechirá 4:8).
968- Tamid 28b. Tanto aqui quanto em Hilchót Beit Habechirá 1:9, o Raavad protesta contra as declarações do Rambam,
observando que: (1) durante as celebrações de Hakhêl uma plataforma de madeira era construída para o rei, e (2) a câmara
do sumo sacerdote era feita de madeira. Ele oferece duas soluções possíveis: (a) a proibição só vigorava sobre a construção de
estruturas permanentes, e não temporárias, como a plataforma do rei; (b) a área proibida – “perto do Altar de D-us” – começava
no Pátio dos Sacerdotes e não incluía o Pátio dos Israelitas e o Pátio das Mulheres, onde essas estruturas foram construídas.
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2. É proibido usufruir de ídolos,978 de seus acessórios, ּומ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה וְ ִת ְקר ֶֹבת
ְ 978בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ ע.ב
de oferendas feitas a eles979 e de tudo que tenha , וְ כָ ל ַהּנַ עֲ ֶׂשה ִּב ְׁש ִבילָ ּה ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה979ֶׁשּלָ ּה
sido feito para eles, pois está dito:980 “Não trarás ." "וְ ל ֹא ָת ִביא תֹועֵ ָבה ֶאל ֵּב ֶיתָך980ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
abominação para a tua casa “. Quem tirar proveito
de qualquer coisa dessas deverá ser punido com duas .לֹוקה ְׁש ַּתיִ ם
ֶ וְ כָ ל ַהּנֶ ֱהנֶ ה ְּב ֶא ָחד ִמּכָ ל ֵאּלּו
medidas de chibatadas: uma por [violar a] proibição
982
וְ ַא ַחת ִמּׁשּום981"ַא ַחת ִמּׁשּום "וְ ל ֹא ָת ִביא
“Não trarás uma abominação”981 e outra por [violar 983
."אּומה ִמן ַה ֵח ֶרם ָ "וְ ל ֹא יִ ְד ַּבק ְּביָ ְדָך ְמ
a] proibição:982 “Não deixai que permaneça em tua
posse nada do que foi condenado”.983
969- O Sefer Hamitsvót (Preceito Positivo 185) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 436) consideram essa como uma das 613 Mitsvót da Torá.
970- O processo de destruição encontra-se descrito no Capítulo 8, Halachá 6.
971- Devarím 12:2.
972- Devarím 7:5.
973- O Kinát Eliáhu explica que essa obrigação tem como fonte a singularidade de Érets Israêl: Por ser a terra sagrada de D-us,
nós devemos erradicar dela a idolatria.
974- Na diáspora a obrigação de destruir a idolatria tem uma natureza diferente. Como essas terras não são sagradas, não
temos obrigação de erradicar delas a idolatria.
975- Vide Kidushín 37a.
976- Devarím 12:3.
977- I.e. de Érets Israêl, conforme declara o versículo que abre essa passagem: “Esses são os estatutos... que devereis cumprir...
na terra que D-us... vos está dando”.
978- I.e. estátuas, árvores ou outras entidades que forem adoradas.
979- O Rambam considera a proibição de usufruir de vinho que tenha sido oferecido como libação para deuses falsos como
sendo uma Mitsvá por si só (Preceito Negativo 194). Consequentemente, ele não menciona aqui as leis que regulam essa
proibição, mas em Hilchót Maachalót Assurót, onde ele dedica três capítulos a esse tema.
980- Devarím 7:26.
981- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 25) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 429) consideram essa como uma das 613 Mitsvót da Torá.
982- Devarím 13:18.
983- Vide Makót 22a.
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3. É proibido984 usufruir de um animal que tiver בֹודת ּכֺוכָ ִבים ָ ְּב ֵה ָמה ֶׁש ִה ְק ִר.ג
ַ ֲיבּוה ּכֻ ּלָ ּה לַ ע
sido sacrificado para deuses falsos. É proibido מֹות ָיה
ֶ ְ ֲא ִפּלּו ִּפ ְר ָׁשּה וְ עַ צ. ַב ֲהנָ ָאה984סּורה ָ ֲא
ter proveito dele todo – até de seu excremento, de 985
.עֹורּה ַהּכֹל ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה ָ ְ ו,וְ ַק ְרנֶ ָיה ְּוטלָ ֶפ ָיה
seus ossos, de seus chifres, de seus cascos ou de
seu couro.985 Portanto, [a título de exemplo], caso o ּיֺודעַ ּבֹו ֶׁשּזֶ הֵ לְ ִפיכָ ְך ִאם ָהיָ ה ָבעֹור ִס ָימן ֶׁש
couro de um animal tiver uma marca que indique בֹודת ּכֹוכָ ִבים הּוא ּכְ גֹון ֶׁש ָהיּו ַ ֲָהעֹור ִּת ְקר ֶֹבת ע
ter servido de oferenda para deuses falsos – tipo um ּקֹורעִ ים ֶק ַרע עָ גֺל ּכְ נֶ גֶ ד ַהּלֵ ב
986
ְ ֶׁש987עֹוׂשים ִ
orifício redondo986 na altura do coração através do אֹותן ָהעֹורֹות ֶׁש ֵהן ּכָ ְך ָ ּומֹוצִ ִיאין ַהּלֵ ב ֲה ֵרי ּכָ ל
qual se tenha extraído o coração dele, conforme [os 988
. וְ כֵ ן ּכֺל ּכַ ּיֹוצֵ א ָבזֶ ה.סּורין ַּב ֲהנָ ָאה
ִ ֲא
idólatras] costumavam fazer987 – será proibido ter
proveito de todos esses couros. Idem com relação a
outros casos do gênero.988
4. Qual é a diferença entre um ídolo pertencente עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֶׁשל ַ ֲ ַמה ֵּבין ע.ד
a um gentio e um ídolo pertencente a um judeu? בֹודתַ בֹודת ּכֺוכָ ִבים ֶׁשל יִ ְׂש ָר ֵאל? ֲע ַ ֲלַ ע
É proibido usufruir de um ídolo pertencente a um סּורה ַב ֲהנָ ָאה ָ עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֲא ֵ ּכֹוכָ ִבים ֶׁשל
gentio imediatamente [i.e. assim que for fabricado],
pois está dito:989 “Queimareis no fogo as esculturas de ֹלה ֶיהם ִּת ְׂש ְרפּון ֵ "ּפ ִסילֵ י ֱא
ְ 989 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ִמּיָ ד
seus deuses”; portanto, eles são considerados deuses וְ ֶׁשל.לֹוּה ַ ִמ ֶּׁש ְּפ ָסלֹו נַ עֲ ָׂשה לֹו ֱא."ָּב ֵאׁש
assim que tiverem sido esculpidos. [Por outro lado] .סּורה ַּב ֲהנָ ָאה עַ ד ֶׁש ֵּתעָ ֵבד ָ יִ ְׂש ָר ֵאל ֵאינָ ּה ֲא
não é proibido usufruir [de um ídolo] pertencente עַ ד ֶׁשּיַ עֲ ֶׂשה לָ ּה991." "וְ ָׂשם ַּב ָּס ֶתר990ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
a um judeu enquanto este não o tiver adorado, ּומ ַׁש ְּמ ֵׁשי
ְ 992.בֹוד ָתּה ָ ְֲּד ָב ִרים ֶׁש ַּב ֵּס ֶתר ֶׁש ֵהן ע
conforme está dito:990 “[Maldita é a pessoa que fizer
um ídolo...] e o colocar em um lugar escondido”991 – עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵּבין ֵ בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֵּבין ֶׁשל ַ ֲע
i.e. ele só se tornará proibido quando para ele forem סּורין עַ ד ֶׁשּיִ ְׁש ַּת ְּמׁשּו ָב ֶהן
ִ ֶׁשל יִ ְׂש ָר ֵאל ֵאינָ ן ֲא
executados atos ocultos – ou seja, adorações.992 Os 993
.בֹודת ּכֺוכָ ִבים
ַ ֲלַ ע
acessórios utilizados na adoração de um ídolo, quer
pertençam a um gentio quer pertençam a um judeu,
só se tornam proibidos após serem efetivamente
utilizados com fins de adoração.993
5. Quem faz um ídolo para outrem, embora deva בֹודת ּכֹוכָ ִבים לַ ֲא ֵח ִרים ַאף עַ ל ֶ ָה.ה
ַ ֲעֹוׂשה ע
ser penalizado com chibatadas, pode ter proveito do וַ ֲא ִפּלּו עֲ ָׂש ָאּה.לֹוקה ְׂשכָ רֹו ֻמ ָּתר
994
ֶ ִּפי ֶׁשהּוא
pagamento recebido.994 [Isso se aplica] até mesmo 995
.סּורה ִמּיָ דָ עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֶׁש ִהיא ֲא
ֵ ְאֹותּה ל
ָ
a quem fizer [um ídolo] para um gentio; [esse
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ídolo] se torna proibido assim que pronto.995 [Qual ּומּכֹוׁשַ ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֵאינָ ּה נֶ ֱא ֶס ֶרת עַ ד ֶׁש ִּתּגָ ֵמר
é a lógica dessa decisão? É que o ídolo] só se torna 997
.רּוטה
ָ ֵאין ּבֹו ָׁשוֶ ה ְפ996ּגֹומ ָרּה ְ ַא ֲחרֹון ֶׁש
proibido quando a sua fabricação for completada, e ּומצָ א ָ עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ רּוטאֹות ִמן ָה ָ ְּלֹוק ַח ּג
ֵ ַה
que a martelada que a finaliza996 não vale [sequer]
uma Perutá.997 [As regras a seguir são aplicáveis à] בֹודת ּכֹוכָ ִבים ִאם נָ ַתן ָמעֹות וְ ל ֹא
998
ַ ֲָב ֶהן ע
pessoa que adquirir resíduos de metal de um gentio וְ כֵ ן ִאם ָמ ַׁשְך999.עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ ָָמ ַׁשְך יַ ֲחזִ ֵירם ל
e encontrar idolatria no meio deles:998 Se já tiver feito עֺובד
ֵ וְ ל ֹא נָ ַתן ָמעֹות ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ְּמ ִׁשיכָ ה ְּב
o pagamento mas ainda não tiver se apossado deles, 1001
. קֹונָ ה ּכְ ִמ ַּקח ָטעּות הּוא1000ּכֺוכָ ִבים
ela deverá devolvê-los ao gentio.999 Idem se tiver וְ כֵ ן1002.ּומ ַׁשְך יֹולִ יכֵ ם לְ יָ ם ַה ֶּמלַ ח
ָ נָ ַתן ָמעֹות
se apossado deles sem ainda tê-los pago. Embora
tomar posse represente uma transferência formal עֺובדֵ עֺובד ּכֺוכָ ִבים וְ ּגֵ ר ֶׁשּיָ ְרׁשּו ֶאת ֲא ִב ֶיהם ֵ
de propriedade nas relações com um gentio,1000 será עֺובד ּכֺוכָ ִבים טֹל ֵ ָלֹומר ל ַ ּכֺוכָ ִבים יָ כֹול ַהּגֵ ר
como uma transação feita de maneira enganosa.1001 טֹל ַא ָּתה.בֹודת ּכֹוכָ ִבים וַ ֲאנִ י ָמעֹות ַ ֲַא ָּתה ע
Caso tenha efetuado o pagamento e tomado posse, וְ ִאם ִמ ֶּׁש ָּבאּו לִ ְרׁשּות1003.יֵ ין נֶ ֶסְך וַ ֲאנִ י ֵּפרֹות
ela deverá levar [a idolatria] para o Mar Morto.1002 1004
.ַהּגֵ ר ָאסּור
Similarmente, se um gentio e um convertido
[repartirem] a herança do pai gentio, o convertido
poderá dizer ao gentio: “Fique com os ídolos e eu
ficarei com o dinheiro”, ou “Fique com o vinho de
libação [para idolatria] e eu ficarei com os frutos”.1003
No entanto, assim que [os ídolos] entrarem na posse
do convertido, eles se tornarão proibidos.1004
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de figuras feitas com fins de adoração de ídolos é ּכֵ יצַ ד? ּכָ ל ַהּצּורֹות1008.סּורין ִ ּכֺוכָ ִבים ֲא
proibido.1008 Como isso [pode ser exemplificado]? סּורים ַּב ֲהנָ ָאה ִמ ְּפנֵ יִ ַהּנִ ְמצָ ִאים ַּבּכְ ָפ ִרים ֲא
[Assim]: É proibido ter proveito de todas as figuras 1009
.בֺודת ּכֺוכָ ִבים ֵהן עֲ ׂשּויִ ין
ַ ֲֶׁש ֶחזְ ָק ָתן ֶׁשּלַ ע
encontradas em aldeias, pois pode-se supor que elas
tenham sido feitas para a adoração de ídolos.1009 עֹומ ִדין עַ ל ְ ִאם ָהיּו 1010
וְ ַהּנִ ְמצָ אֹות ַּב ְּמ ִדינָ ה
Quanto às encontradas em cidades,1010 as que ficam צּורת ַמ ֵּקל ַ ּצּורהָ ֶּפ ַתח ַה ְּמ ִדינָ ה וְ ָהיָ ה ְּביַ ד ַה
nas entradas das cidades e que portam um bastão, אֹו צִ ּפֹור אֹו כַ ּדּור אֹו ַסיִ ף אֹו עֲ ָט ָרה וְ ַט ַּבעַ ת
ou pássaro, ou globo, ou espada ou coroa e anel, são בֹודת ּכֺוכָ ִבים וְ ָאסּור ַ ֲֶחזְ ָקתֹו ֶׁשהּוא לַ ע
proibidas, pois pode-se supor que elas tenham como וְ ִאם לַ או ֲה ֵרי ִהיא ְּב ֶחזְ ַקת לְ נֹוי.ַּב ֲהנָ ָאה
finalidade a adoração de ídolos. Caso contrário,
pode-se supor que tenham sido feitas para fins
1011
.ּומ ָּתר
ֻ
estéticos, e é permitido ter proveito delas.1011
7. É permitido [ter proveito de] estátuas de deuses בֺודת ּכֺוכָ ִבים ַהּנִ ְמצָ ִאים ֻמ ְׁשלָ כִ יםַ ֲ צַ לְ ֵמי ע.ז
falsos que forem achadas descartadas no mercado רּוטאֹות ֲה ֵרי ֵאּלּו ָ ְַּב ְּׁשוָ ִקים אֹו ְּבתֹוְך ַהּג
ou em uma pilha de sucata de metal. Desnecessário 1012
.לֹומר ִׁש ְב ֵרי צַ לְ ֵמ ֶיהן
ַ ֻמ ָּת ִרין וְ ֵאין צָ ִריְך
dizer que o mesmo se aplica a pedaços de estátuas.1012
Por outro lado, se uma mão for achada jogada, ou
אֺו1013ּצּורת ּכֺוכָ ב אֺו ַמּזָ ל ַ ֲא ָבל ַהּמֹוצֵ א יָ ד ִמ
um pé, ou algum outro membro da figura [de uma ַרגְ לָ ּה אֹו ֵא ֶבר ֵמ ֲא ָב ֶר ָיה ֻמ ְׁשלָ ְך ֲה ֵרי זֶ ה ָאסּור
estrela ou signo celeste],1013 é proibido ter proveito. הֹואיל וְ יָ ַדע ְּבוַ ַּדאי ֶׁשּזֶ ה ָה ֵא ֶבר ִמן
ִ .ַּב ֲהנָ ָאה
Se for sabido que o membro (achado) é parte de um בֺודת ּכֺוכָ ִבים ַהּנֶ עְ ֶב ֶדת ֲה ֵרי ִהיא ַ ֲצּורת ע ַ
ídolo adorado, a proibição permanece em vigor até עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִביםְ ּסּורּה עַ ד ֶׁשּיִ ּוָ ַדע לֹו ֶׁש ָהָ ְב ִא
que se saiba da desconsagração dele pelos gentios
que o adoraram.1014
1014
.לּוה
ָ עֺוב ֶד ָיה ִּב ְּט
ְ
8. [As regras a seguir se aplicam quando] a pessoa צּורת ַח ָּמה ַ כֵ לִ ים וַ ֲעלֵ ֶיהן1015 ַהּמֹוצֵ א.ח
achar objetos tendo a imagem do sol, da lua ou
1015 1016
ִאם ָהיּו כְ לֵ י כֶ ֶסף וְ זָ ָהב1017. ְּוד ָרקֹון1016ּולְ ָבנָ ה
de um Drakón:1017 Se forem objetos de ouro ou de קּוקים עַ ל ַהּנְ זָ ִמיםִ אֹו ֶׁש ָהיּו ֲח1018אֹו ִבגְ ֵדי ָׁשנִ י
prata, ou vestimentas de seda,1018 ou se essas imagens
estiverem encravadas em um anel de nariz ou de
1020
.סּוריןִ ֲה ֵרי ֵאּלּו ֲא1019וְ עַ ל ַה ַּט ָּבעֹות
dedo,1019 eles são proibidos.1020 [Se essas imagens
1008- Mesmo se elas forem obras de arte. Assim, a arte sacra gentia nos é proibida.
1009- Uma vez que aldeões simplórios não têm interesses artísticos.
1010- Já que habitantes de uma cidade têm interesses culturais e artísticos, as figuras ali encontradas não são necessariamente
ídolos.
1011- Avodá Zará 40b e 41a.
1012- O fato de estarem despedaçadas é indicativo de que os seus adoradores as desconsagraram.
1013- A frase entre colchetes não faz parte do texto original do Rambam, e foi intercalada por causa da censura.
1014- Avodá Zará 41a. A partir de então o uso deixa de ser proibido, conforme explicado no Capítulo 8, Halachá 8.
1015- A questão é se essas formas devem ser consideradas representações de divindades (sendo consequentemente proibidas).
1016- O Rambam escreve em seu Comentário à Mishná, Avodá Zará 3:3: “Não está se falando de uma esfera que representa o
sol, ou de um hemisfério que representa a lua, mas das figuras que os astrólogos [i.e. aqueles que seguem a mitologia grega]
atribuem às estrelas... por exemplo, Saturno é representado por um ancião sombrio, Vênus é representado por uma bela moça
enfeitada com ouro, e o sol é representado por um rei vestindo um diadema sentado em uma carruagem”. O Ramá (Iorê
Deá 141:3) cita essa explicação em sua regulamentação da Halachá.
1017- Em seu Comentário à Mishná (ibid.), o Rambam descreve essa figura como sendo um homem parecido com um peixe
dotado de barbatanas e muitas escamas, referindo-se provavelmente ao deus grego Netuno. O Rashi em Avodá Zará 42b
interpreta essa forma como sendo um animal similar a uma serpente.
1018- I.e. objetos de grande valor.
1019- Os anéis, além de seus valores, simbolizam subserviência: um escravo usa o anel do seu amo.
1020- O Shulchan Aruch (Iorê Deá 141:3) menciona que até objetos de valor são permitidos se houver a certeza de que eles
nunca foram utilizados para a adoração de ídolos.
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Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
estiverem encravadas] em outros objetos, eles são ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֶחזְ ָק ָתן1021וְ עַ ל ְׁש ָאר ַהּכֵ לִ ים ֻמ ָּת ִרין
permitidos,1021 já que se pode assumir que tenham וְ כֵ ן ְׁש ָאר ַהּצּורֹות ַהּנִ ְמצָ אֹות עַ ל ּכָ ל1022.לְ נֹוי
sido feitos para fins estéticos.1022 Similarmente, pode- 1023
.ּומ ָּת ִרין
ֻ ַהּכֵ לִ ים ֶחזְ ָק ָתן לְ נֹוי
se assumir que objetos que tenham quaisquer outras
imagens tenham sido feitos para fins estéticos.
Portanto, [esses objetos] são permitidos.1023
9. Um ídolo, os seus acessórios e os objetos oferecidos ּומ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה וְ כָ ל ַה ִּת ְקר ֶֹבת
ְ בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ ע.ט
a ele1024 são sempre proibidos, independentemente בֹודת ַ ּכֵ יצַ ד? ֲע.אֹוס ִרים ְּבכָ ל ֶׁש ֵהן ְ 1024
ֶּׁשּלָ ה
da proporção [a que eles possam estar misturados]. 1025
ּכֹוכָ ִבים ֶׁשּנִ ְתעָ ְר ָבה ְּבצּורֹות ֶׁשל נֹוי
Como isso [pode ser exemplificado]? [Assim]: Se [a
estátua de] um ídolo for misturada a estátuas feitas
ֲא ִפּלּו ַא ַחת ְּבכַ ָּמה ֲאלָ ִפים יֹולִ יְך ַהּכֹל לְ יָ ם
para fins estéticos1025 – mesmo se a proporção for בֹודת ַ וְ כֵ ן ִאם נִ ְתעָ ֵרב ּכֹוס ֶׁשל ֲע1026.ַה ֶּמלַ ח
de apenas uma em muitas milhares – todas deverão אֹו ֲח ִתכָ ה ִמן1028 ְּבכַ ָּמה ּכֹוסֹות1027ּכֺוכָ ִבים
ser levadas para o Mar Morto.1026 Similarmente, יֹולִ יְך1029ַה ָּב ָׂשר ֶׁשנִ ְתעָ ְר ָבה ְּבכַ ָּמה ֲח ִתּכֹות
se um cálice [usado na] adoração de um ídolo1027 ֶׁשּנִ ְתעָ ֵרב1030 וְ כֵ ן עֹור לָ בּוב.ַהּכֹל לְ יָ ם ַה ֶּמלַ ח
for misturado a vários outros cálices,1028 ou se um
pedaço de carne [de um sacrifício para um deus
1031
.ְּבכַ ָּמה עֹורֹות ַהּכֹל ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
falso] que entrou em sua casa [de idolatria] for בֹודת ּכֹוכָ ִבים אֹו ֶא ָחד ַ ֲּומכַ ר ע ָ 1032עָ ַבר
misturado a outros,1029 todos eles deverão ser levados ֲה ֵרי ַה ָּד ִמים 1033
ִמ ְּמ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה אֹו ִת ְקר ֶֹבת ֶׁשּלָ ּה
para o Mar Morto. Idem com relação à mistura de
um couro que tiver um orifício através do qual o
coração [do animal] tenha sido extraído1030 a outros
couros: será proibido ter proveito de todos.1031
Quem1032 transgredir e vender um ídolo, um de seus
acessórios ou um dos objetos que foram oferecidos
a ele,1033 ficará proibido de ter proveito do dinheiro
1021- A Mishná (Avodá Zará, 3:3) determina a seguinte regra geral: “Se estiverem em objetos valiosos, eles são proibidos. Se
estiverem em objetos baratos, eles são permitidos”. O Shulchan Aruch (ibid.) menciona potes e caldeiras como exemplos de
objetos baratos.
1022- Segundo o Talmud Ierushalmi (Avodá Zará 3:3), se houver certeza de que essas figuras foram feitas com fins de adoração,
o objeto é proibido mesmo se tiver valor baixo. O Shulchan Aruch (ibid.) cita esse princípio. O Ramá afirma que como o
paganismo não é comum em nossos dias, se assume que essas figuras tenham sido feitas com fins artísticos. Assim, não é
proibido usufruir de um objeto desses, mesmo se ele contiver imagens pagãs; mas não é permitido possuí-lo. No entanto, ele
acrescenta que há pessoas rigorosas que não usufruem de objetos que contenham as três formas mencionadas acima.
1023- Avodá Zará 42b.
1024- O Talmud (Avodá Zará 29b) depreende a proibição de usufruir de vinho usado pelos pagãos como libação (Iáin Néssech)
da proibição de usufruir de animais sacrificados para ídolos. Como a Mishná (Avodá Zará 74a) menciona especificamente
Iáin Néssech como proibido, independentemente da proporção a que ele possa estar misturado, aplica-se o mesmo princípio
a qualquer outro objeto oferecido para um ídolo.
1025- Que são permitidas.
1026- I.e. será proibido usufruir delas e elas deverão ser destruídas.
1027- I.e. um acessório de adoração idólatra.
1028- É óbvio que se for possível distinguir o cálice proibido dos permitidos, não haverá motivo para proibir o uso dos
permitidos.
1029- Vide a Halachá a seguir. Vide também Hilchót Maachalót Assurót 16:10.
1030- I.e. um orifício redondo, conforme mencionado na Halachá 3. Essa era uma prática idólatra costumeira.
1031- Avodá Zará 74a.
1032- I.e. um judeu. A um gentio aplicam-se leis diferentes (vide Capítulo 9, Halachá 18, Shulchan Aruch, Iorê Deá 132:7,
144:1.)
1033- A venda é proibida pois qualquer usufruto de um ídolo é proibido. Essa proibição é única pois sempre que alguém
vende alguma substância proibida (exceto frutos do sétimo ano), o fato da venda dela ser proibida não afeta o status do
dinheiro recebido por ela. Mas ao vender qualquer objeto proibido relacionado a idolatria, a arrecadação torna-se proibida.
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10. É proibido usufruir das cinzas1039 da queima ֶׁשּנִ ְׂש ְר ָפה1040בֹודת ּכֹוכָ ִבים אֹו ֲא ֵׁש ָרה ַ ֲ ע.י
de um ídolo ou de uma Asherá.1040 A brasa de um ֶׁשל1041 וְ גַ ֶחלֶ ת1039.ֶא ְפ ָרּה ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
ídolo [queimado]1041 é proibido;1042 mas a chama da 1043
וְ ַה ַּׁשלְ ֶה ֶבת1042סּורה ָ בֹודת ּכֺוכָ ִבים ֲא ַ ֲע
queima é permitida,1043 por não conter substância.1044
Quando houver dúvida se um objeto tem relação ָס ֵפק1044.ֻמ ֶּת ֶרת ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֵאין ָּבּה ַמ ָּמׁש
com a adoração de um ídolo, ele é proibido.1045 . ְס ֵפק ְס ֵפ ָקּה ֻמ ָּתר1045.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ָאסּור ַ ֲע
Mas se essa dúvida passar sobre outra dúvida, ele ֶׁשּנָ ַפל 1046
בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲּכֵ יצַ ד? ּכֹוס ֶׁשל ע
é permitido. Como isso [pode ser exemplificado]? סּורים ִמ ְּפנֵ י ִ ְּבאֹוצָ ר ָמלֵ א כֹוסֹות ּכֻ ּלָ ן ֲא
[Assim]: Se um cálice usado para a adoração
אֹוס ִרים ְ בֹודת ּכֺוכָ ִבים וְ כָ ל ְמ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה ַ ֲֶׁשע
de um ídolo1046 cair dentro de um depósito de
cálices, todos eles ficam proibidos, pois um ídolo e ֵּפ ַרׁש ּכֹוס ֶא ָחד ִמן ַה ַּתעֲ ר ֶֹבת1047.ְּבכָ ל ֶׁש ֵהן
qualquer dos seus acessórios tornam tudo proibido,
1048
.וְ נָ ַפל לְ כֹוסֹות ְׁשנַ יִ ם ֲה ֵרי ֵאּלּו ֻמ ָּת ִרין
independentemente da proporção [a que possam בֹודת ּכֺוכָ ִבים ֶׁשּנִ ְתעָ ְר ָבה ְּב ֵמ ָאה ַ ֲַט ַּבעַ ת ֶׁשל ע
estar misturados].1047 Se um dos cálices dessa 1050
ֵמ ֶהן לַ ּיָ ם ַהּגָ דֹול1049ַט ָּבעֹות וְ נָ ְפלּו ְׁש ַּתיִ ם
mistura for destacado e posteriormente cair junto de
dois outros cálices, todos [os cálices dessa segunda
mistura] ficam permitidos.1048 Se um [anel usado
para adornar um] ídolo se misturar a outros cem
anéis e dois deles caírem1049 no Grande Mar,1050 será
1034- Pelo contrário, o dinheiro também deverá ser destruído. Se o dinheiro arrecadado com a venda ou troca de um ídolo
for utilizado na aquisição de outro objeto, esse objeto também será proibido. Vide Capítulo 8, Halachá 1.
1035- I.e. as mesmas restrições severas que incidem sobre um ídolo, incidem sobre o dinheiro recebido pela sua venda.
1036- Devarím 7:26.
1037- Vide Shulchan Aruch, Iorê Deá 132:5-7.
1038- Ibid. 54b; Kidushín 58a.
1039- As cinzas eram usadas para diversos fins – como, por exemplo, para fabricar sabão.
1040- Vide Capítulo 6, Halachá 9, para a definição do termo Asherá, e vide a Halachá a seguir.
1041- É considerado como o próprio ídolo.
1042- De ser usado para outros fins.
1043- I.e. ela pode ser usada para acender uma outra chama.
1044- Temurá 34a.
1045- Havendo dúvida quanto a se uma substância é ou não proibida, seguimos o princípio de que Mideoráita (segundo a lei
bíblica) ela é permitida, mas Miderabanán (segundo a lei rabínica) ela é proibida.
1046- I.e. um acessório de adoração idólatra, que é proibido, conforme mencionado na Halachá anterior.
1047- Diante da possibilidade de que cada um dos cálices seja o cálice proibido, nenhum deles poderá ser usado.
1048- Zevachím 74a.
1049- Acidentalmente. Mas se eles forem jogados intencionalmente no mar, a leniência não é aplicável (Shulchan Aruch, Iorê Deá 110:7).
1050- E consequentemente se perderem. Segundo o Késsef Mishnê, o Rambam se refere aqui ao Mar Morto.
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13. É proibido usufruir de madeiras retiradas dela. .סּורים ַּב ֲהנָ ָאה ִ ֲא- נָ ַטל ִמ ֶּמּנָ ה עֵ צִ ים.יג
Quem esquentar o forno usando dessas madeiras יּוצַ ן וְ ַא ַחר ּכָ ְך יַ ִּסיק- ִה ִּסיק ָּב ֶהן ֶאת ַה ַּתּנּור
deverá deixá-lo esfriar; depois disso deverá esquentá- ָא ָפה1061.ֹאפה בֹו ֶ ְּבעֵ צִ ים ֲא ֵח ִרים ֶׁשל ֶה ֵּתר וְ י
lo usando outras madeiras, permitidas. Só então
poderá [voltar a usá-lo para] assar.1061 A pessoa que
.סּורה ַב ֲהנָ ָאה ָ בֹו ֶאת ַה ַּפת וְ ל ֹא צִ ּנְ נֹו ַה ַּפת ֲא
1051- Mas se esses dois meramente ficarem separados do grupo, os demais permanecerão proibidos (Shulchan Aruch, ibid.).
1052- Zevachím 74b.
1053- Uma árvore relacionada à adoração de deuses falsos.
1054- Conforme mencionado no Capítulo 8, Halachá 3.
1055- Conforme mencionado no Capítulo 6, Halachá 9, e no Capítulo 8, Halachá 4.
1056- A decisão do Rambam está baseada na sua interpretação de Avodá Zará 48b, que é depreendida do Talmud Ierushalmi
(Avodá Zará 3:8).
1057- Para chegar ao destino, que não seja mais longo do que o que passa embaixo de uma Asherá. Segundo o Shulchan Aruch
(ibid.), caso a rota alternativa seja mais longa, a pessoa não será obrigada a se desviar do caminho que passa sob a Asherá.
1058- I.e. que conseguem voar sozinhos.
1059- Meilá 13b. Mesmo assim, Meilá 14a não permite pegá-los da maneira usual, ou seja, subindo na árvore; só permite
pegá-los após derrubá-los com uma vara. O Hagahót Maimoniót e o Turei Zahav (Iorê Deá 142:12) explicam que subir na
árvore ou usá-la como apoio para uma escada envolve usufruto da árvore proibida.
1060- Avodá Zará 42b.
1061- Ibid. 49b. Em seu Comentário à Mishná (Avodá Zará 3:9), o Rambam explica que a decisão acima se aplica tanto a um
forno novo quanto a um velho. A Mishná afirma que se essa madeira for usada em um forno novo, o forno jamais poderá ser
usado novamente. Os fornos nos tempos talmúdicos eram feitos de argila, e a argila só endurecia com o primeiro acendimento.
É por isso que alguns sábios proibiram utilizá-los se da primeira vez fossem usados com uma substância proibida. Esta
opinião, no entanto, não foi aceita como Halachá. A colocação do Rambam é citada pelo Shulchan Aruch, Iorê Deá, ibid.
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14. Se alguém pegar [um pedaço de madeira ּבֹו ֶאת ַה ֶּבגֶ ד1063 נָ ַטל ִמ ֶּמּנָ ה ּכַ ְרּכָ ד וְ ָא ַרג.יד
de uma Asherá para usar como] lançadeira1063 e נִ ְתעָ ֵרב ִּב ְבגָ ִדים ֲא ֵח ִרים יֹולִ יְך.ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
confeccionar uma peça de roupa com ela, será
ּוׁש ָאר ּכָ ל ְ 1064ְּד ֵמי אֹותֹו ַה ֶּבגֶ ד לְ יָ ם ַה ֶּמלַ ח
proibido usufruir [da roupa]. Se a roupa for
misturada a outras peças de vestuário, ele deverá ּומ ָּתר לִ ַּטע ַּת ְח ֶּת ָיה ֻ 1065.ַה ְּבגָ ִדים ֻמ ָּת ִרין
trazer o valor dessa roupa para o Mar Morto.1064 Já יְ ָרקֹות ֵּבין ִּבימֹות ַה ַח ָּמה ֶׁש ֵהן צְ ִריכִ ין לְ צֵ ל
as demais roupas serão permitidas.1065 É permitido ִמ ְּפנֵ י ֶׁשּצֵ ל ָה ֲא ֵׁש ָרה.ֵּבין ִּבימֹות ַהּגְ ָׁש ִמים
plantar vegetais embaixo de [uma Asherá] tanto no ֶׁשהּוא ָאסּור עִ ם ַה ַּק ְר ַקע ְׁש ֵאינָ ּה נֶ ֱא ֶס ֶרת
verão – quando eles precisam de sombra – quanto
וְ כָ ל ֶׁש ָּד ָבר ָאסּור.ּגֹור ִמין לִ ָירקֹות ֵאּלּו לִ צְ מ ַֹחְ
no inverno. [Essa leniência é concedida] devido
aos dois fatores requeridos para o crescimento dos ּגֹור ִמין לֹו ֲה ֵרי זֶ ה ֻמ ָּתר ְּבכָ ל ְ וְ ָד ָבר ֻמ ָּתר
vegetais: a sombra da Asherá, que é proibida, e o בֹודתַ לְ ִפיכָ ְך ָׂש ֶדה ֶׁשּזִ ְּבלָ ּה ְּב ֶזֶבל ֲע.ָמקֹום
solo, que é permitido. Sempre que um efeito for ָּופ ָרה ֶׁש ִּפ ְּט ָמּה1066.אֹותּה
ָ ַּכֹוכָ ִבים ֻמ ָּתר לִ זְ רֹע
gerado pela combinação de um fator proibido e um וְ כֵ ן ּכֺל1067.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֵּת ָאכֵ ל ַ ְֲּבכַ ְר ִׁשינֵ י ע
fator permitido, ele será permitido. Portanto, um 1068
.ּכַ ּיֹוצֵ א ְּבזֶ ה
campo que tiver sido adubado com um fertilizante
[proibido, por estar relacionado à] adoração de
ídolos, é permitido semeá-lo.1066 Da mesma forma,
[a carne de] uma vaca que tiver sido alimentada com
grãos [proibidos, relacionados à] adoração de ídolos,
pode ser ingerida.1067 O mesmo princípio se aplica a
outras situações semelhantes.1068
15. Não é proibido usufruir de carne, vinho e frutas ָּב ָׂשר אֹו יַ יִ ן אֹו ֵפרֹות ֶׁש ֱהכִ ינּום לְ ַה ְק ִר ָיבם.טו
que foram preparados como oferenda para um ídolo, בֹודת ּכֺוכָ ִבים ל ֹא נֶ ְא ְסרּו ַב ֲהנָ ָאה ַאף ַ ֲלַ ע
mesmo se tiverem sido levados para dentro de um בֹודת ּכֹוכָ ִבים עַ ד ַ ֲעַ ל ִּפי ֶׁש ִהכְ נִ יסּום לְ ֵבית ע
templo idólatra, enquanto não forem oferecidos de
fato ao ídolo.1069 Uma vez oferecidos ao ídolo, [o
ִה ְק ִריבּום לְ ָפנֶ ָיה נַ עֲ ׂשּו1069.ֶׁשּיַ ְק ִריבּום לְ ָפנֶ ָיה
status deles muda] e eles se tornam proibidos para
1070
וְ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ָחזְ רּו וְ הֹוצִ יאּום.ִת ְקר ֶֹבת
sempre, mesmo se depois forem removidos [do וְ כָ ל ַהּנִ ְמצָ א ְּב ֵבית.סּורין לְ עֹולָ םִ ֲה ֵרי ֵאּלּו ֲא
templo].1070 A lei da Torá proíbe usufruir de tudo
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o que for [encontrado em] um templo idólatra, até ָאסּור1071ּומלַ ח ֶ בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֲא ִפּלּו ַמיִ ם
ַ ֲע
de água ou sal.1071 Se uma pessoa ingerir até mesmo וְ ָהאֹוכֵ ל ִמ ֶּמּנּו ּכָ ל ֶׁשהּוא.ּתֹורה
ָ ַּב ֲהנָ ָאה ִמן ַה
uma quantidade pequena de tais substâncias, ela .לֹוקה
ֶ
deverá ser [punida com] chibatas.
16. [As regras a seguir se aplicam quando] a pessoa ּומעֹות ְּברֹאׁש ָ ַהּמֹוצֵ א כְ סּות וְ כֵ לִ ים.טז
acha roupas, utensílios ou dinheiro na cabeça de ִאם ְמצָ ָאן ֶּד ֶרְך ִּבּזָ יֹון ֲה ֵרי.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע
um ídolo. Se ela os encontrar [colocados] de um
וְ ִאם ְמצָ ָאן ֶּד ֶרְך ּכָ בֹוד ֲה ֵרי ֵאּלּו.ֵאּלּו ֻמ ָּת ִרין
modo zombeteiro, eles serão permitidos. Se ela
os encontrar [colocados] de um modo respeitoso, ּכֵ יצַ ד? ָמצָ א כִ יס ָמעֹות ָּתלּוי1072.סּורין ִ ֲא
eles serão proibidos.1072 Como isso [pode ser .ֹאׁשּה ָ ּומּנַ ַחת עַ ל ר ֻ כְ סּות ְמ ֻק ֶּפלֶ ת.ארּהָ ְָּבצַ ּו
exemplificado]? [Assim]: Se alguém encontrar ֹאׁשּה ֲה ֵרי זֶ ה ֻמ ָּתר ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא ָ ּכְ לִ י ּכָ פּוי עַ ל ר
uma bolsa dependurada no pescoço dele, roupas ֹאׁשּה ָ ָמצָ א ְּבר. וְ כֵ ן ּכֺל ּכַ ּיֹוצֵ א ָבזֶ ה.ֶּד ֶרְך ִּבּזָ יֹון
dobradas colocadas na cabeça dele, ou um utensílio 1073
ָּד ָבר ֶׁשּכַ ּיֹוצֵ א בֹו ָק ֵרב לְ גַ ֵּבי ַה ִּמ ֵזְּב ַח
emborcado na sua cabeça, esses serão permitidos,
por [terem sido colocados] de modo zombeteiro. מּורים? ִּבזְ ַמן ִ ּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא.ַ ֲה ֵרי זֶ ה ָאסּור
O mesmo se aplica a outras situações semelhantes. ֲא ָבל ִאם.בֹודתֹו ָ ֲֶׁש ְּמצָ ָאן חּוץ לִ ְמקֹום ע
[Por outro lado], se alguém encontrar um objeto de ְמצָ ָאם ִּב ְפנִ ים ֵּבין ֶּד ֶרְך ּכָ בֹוד ֵּבין ֶּד ֶרְך ִּבּזָ יֹון
um tipo que é usado como oferenda para o Altar [do ֵּבין ָּד ָבר ָה ָראּוי לַ ִּמ ֵזְּב ַח ֵּבין ָּד ָבר ֶׁש ֵאינֹו ָראּוי
Templo Sagrado]1073 na cabeça [de um ídolo], esse
.ּומלַ ח ֶ ּכָ ל ַהּנִ ְמצָ א ִּב ְפנִ ים ָאסּור ֲא ִפּלּו ַמיִ ם
será proibido. Quando isso se aplica? Quando esses
objetos forem encontrados fora do local [habitual] ּכָ ל ַהּנִ ְמצָ א עִ ָּמ ֶהן ֵּבין1074ּומ ְרקּולִ יס ַ ְּופעֹור
do culto. Mas quando forem encontrados dentro וְ כֵ ן ַא ְבנֵ י.ִּב ְפנִ ים ֵּבין ְּבחּוץ ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
[do local de adoração do ídolo], então não faz סּורה ָ ֶא ֶבן ַהּנִ ְר ֵאית ֶׁש ִהיא עִ ּמֹו ֲא- ַמ ְרקּולִ יס
diferença se tiverem sido colocados de um modo 1075
.ַב ֲהנָ ָאה
zombeteiro ou de um modo respeitoso, ou se forem
do tipo que é usado como oferenda para o Altar [do
Templo Sagrado] ou não – qualquer artigo que for
encontrado dentro [desse lugar], até água ou sal,
será proibido. [Com relação a] Peór e Markulis1074
[são aplicadas leis diferentes]. É proibido usufruir de
qualquer coisa relacionada a eles que for achada, quer
[seja achada] dentro do [templo] deles, quer fora.
Similarmente, com relação a pedras [achadas perto
do símbolo] de Markulis, é proibido usufruir1075 de
uma pedra que pareça estar junto dele.
Veshinantam | 93
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
preciso dar uma gratificação. [Se] for preciso dar ָהיָ ה לָ ּה וְ לַ ֲא ֵח ִרים נֶ ֱהנִ ין1076.טֹובה
ָ ָּב ֶהם ְּב
uma gratificação, eles são proibidos.1076 [Se a casa טֹובת ּכ ֲֺהנֶ ָיה ִּובלְ ַבד ֶׁשּל ֹא יִ ֵּתן
ַ ָּב ֶהן ֲא ִפּלּו ְּב
de banhos ou jardim] pertencer mutuamente [ao 1077
.ָׂשכָ ר
santuário] e a mais alguém, é permitido usufruir
até mesmo se for preciso dar uma gratificação para
os sacerdotes [do santuário]. Não é permitido, no
entanto, pagar uma taxa.1077
19. É permitido usufruir de [um animal] que for ַ ֲ ַסּכִ ין ֶׁשל ע.יט
בֹודת ּכֺוכָ ִבים ֶׁש ָּׁש ַחט ָּבּה ֲה ֵרי
abatido com uma faca [proibida por ter relação com] וְ ִאם ָהיְ ָתה.זֶ ה ֻמ ָּתר ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא ְמ ַקלְ ֵקל
1082
idolatria, por causar a depreciação [do animal].1082 Se סּורה ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא ָ ְּב ֵה ָמה ְמ ֻסּכֶ נֶ ת ֲה ֵרי זֹו ֲא
o animal estiver em perigo [de morrer] é proibido,
por causar a valorização dele, uma vez que essa וַ ֲה ֵרי זֶ ה ַה ִּתּקּון ֵמ ֲהנָ ַאת ְמ ַׁש ְּמ ֵׁשי.ְמ ַת ֵּקן
valorização envolve a utilização de um acessório וְ כֵ ן ָאסּור לַ ְחּתְֹך ָּבּה1083.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע
de adoração idólatra.1083 Similarmente, é proibido וְ ִאם ָח ַתְך.ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא ְמ ַת ֵּקן
1085 1084
ָּב ָׂשר
[usar essa faca para] cortar carne,1084 pois isso a .ֶּד ֶרְך ֶה ְפ ֵסד וְ ַה ְׁש ָח ָתה ֻמ ָּתר
1086
valorizará.1085 Caso alguém [use essa faca para] cortar
com intenção destrutiva,1086 ela ficará permitida.
1076- Avodá Zará 51b. O Késsef Mishnê explica que essa proibição tem como objetivo evitar que a pessoa desenvolva maior
afinidade com sacerdotes idólatras.
1077- Pois pagar beneficiaria diretamente a divindade falsa.
1078- Essa Halachá é baseada na Mishná, Avodá Zará 3:4.
1079- Devarím 12:2.
1080- Os gentios.
1081- Avodá Zará 44b.
1082- Pois em vida, o animal pode ser usado para procriar e arar o campo, e para ser abatido. Após o abate, ele só serve como alimento.
1083- Chulín 8a.
1084- Em pedaços menores.
1085- Adequando-a para ser vendida ou cozida.
1086- Por exemplo: retalhar pedaços que eram adequados para serem cozidos, deixando-os menos atrativos. Vide Chulín 8b.
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1087- A adoração de ídolos é um erro humano. Assim, um objeto cuja existência não é dependente do homem não pode
tornar-se proibido por causa dela.
1088- Avodá Zará 45a deriva esse conceito da exegese de Devarím 12:2: “Destruireis certamente todos os locais em que os
gentios... serviram os deuses deles: sobre as altas montanhas e sobre as colinas, ou embaixo de qualquer árvore frondosa”. Os
nossos sábios explicaram que o versículo indica que templos que ficam “nas” montanhas e colinas e “sob” as árvores devem
ser destruídos, mas não as próprias montanhas, colinas e árvores. Os sábios exclamaram: “Deveria D-us causar a destruição
de Seu mundo por causa dos tolos”?
1089- Avodá Zará 45a.
1090- Ibid. 47a.
1091- No entanto, depois que uma árvore tiver sido adorada, todos os frutos que crescerem durante o tempo da adoração
tornam-se proibidos, conforme explicado na Halachá 3.
1092- Um exemplo desse princípio é o sacrifício pascal. Embora os egípcios adorassem os cordeiros, os nossos ancestrais
ofereceram cordeiros como sacrifício para D-us.
1093- Vide Capítulo 7, Halachá 15, onde está explicado que tudo o que é separado para ser oferecido a um ídolo não fica
proibido enquanto não tiver for efetivamente oferecido. Temurá 28b cita um exemplo notável desse princípio. Em Shofetím
(Capítulo 6) está relatado que Guidón ofereceu como sacrifício para D-us um boi que seu pai engordou durante sete anos para
oferecer como sacrifício para o Baal.
1094- O termo “sinais” se refere à traqueia e ao esôfago, que devem ser devidamente cortados para que o abate ritual seja
admissível (vide Hilchót Shechitá 1:9).
1095- Avodá Zará 54a.
1096- Ibid. 54b. Conforme explicado no Capítulo 7, Halachá 9. O Ór Sameach explica que essa proibição só incide sobre um
ídolo que tiver sido adorado por um judeu. Podemos usufruir de qualquer objeto que um gentio trocar por um ídolo.
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Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
Da mesma forma, ele se torna proibido se for trocado ?מּורים ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא1097.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע
por um objeto que tenha sido trocado por um ídolo, ֲא ָבל ִאם ָׁש ַחט ֶּב ֱה ַמת ֲח ֵברֹו.ְּב ֶב ֱה ַמת עַ צְ מֹו
uma vez que esse objeto é considerado “pagamento .בֹודת ּכֺוכָ ִבים אֹו ֶה ֱחלִ ָיפּה ל ֹא נֶ ֶא ְס ָרה ַ ֲלַ ע
pelo ídolo”.1097 Quando essas afirmações se aplicam?
Quanto se tratar do animal da própria pessoa. Mas
1098
.אֹוסר ָּד ָבר ֶׁש ֵאינֹו ֶׁשּלֹוֵ ֶׁש ֵאין ָא ָדם
quando se tiver abatido o animal de um colega em
1099
.ַה ִּמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה לְ ַק ְר ַקע עֹולָ ם ל ֹא ֲא ָס ָרּה
prol de um deus falso, ou quando se tiver trocado o בֹודת
ַ ּומעָ רֹות לְ ֵׁשם ֲע ְ ָח ַפר ָּבּה ּבֹורֹות ִׁש ִיחין
animal dele por um ídolo, ele não se torna proibido, 1100
.ּכֹוכָ ִבים ֲא ָס ָרּה
porque uma pessoa não pode tornar proibido um
objeto que não é seu.1098 Inclinar-se sobre solo virgem
não o torna proibido.1099 Mas escavar nele poços,
canais e cavernas em prol de uma deidade falsa o
torna proibido.1100
2. Quando um indivíduo se curva diante da água ַמיִ ם ֶׁשעֲ ָק ָרן ַהּגַ ל וְ ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה לָ ֶהן ל ֹא.ב
levantada por uma onda, ele não torna [a água] 1101
. נְ ָטלָ ן ְּביָ דֹו וְ ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה לָ ֶהן ֲא ָס ָרם.ֲא ָס ָרן
proibida. Se, no entanto, ele pegar [água] nas mãos .קֹומן ֻמ ָּתרֹות
ָ ַא ְבנֵ י ַהר ֶׁשּנִ ַּדלְ ְּדלּו וַ עֲ ָב ָדן ִּב ְמ
e curvar-se para ela, ele a torna proibida.1101 Rochas
que deslizaram de uma montanha e foram adoradas
1102
.ֶׁש ֲה ֵרי ֵאין ָּב ֶהן ְּת ִפ ַיסת יַ ד ָא ָדם
no lugar [da queda] são permitidas, por não terem
sido manipuladas pelo homem.1102
3. Se um judeu hastear um tijolo com a intenção de יִ ְׂש ָר ֵאל ֶׁשּזָ ַקף לְ ֵבנָ ה לְ ִה ְׁש ַּת ֲחוֹות לָ ּה וְ ל ֹא.ג
se curvar para ele mas não se curvar, e em seguida עֺובד ּכֺוכָ ִבים וְ ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה
ֵ ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה לָ ּה ָּובא
um gentio aparecer e se curvar, fica proibido usufruir וְ כֵ ן. ֶׁשּזְ ִק ָיפ ָתּה ַמעֲ ֶׂשה.לָ ּה ֲא ָס ָרּה ַּב ֲהנָ ָאה
dele, porque tê-lo erigido é considerado uma ação. O
mesmo ocorre se hastear um ovo: caso apareça um עֺובד ּכֺוכָ ִבים וְ ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה
ֵ ִאם זָ ַקף ֵּביצָ ה ָּובא
gentio e se curve [para o ovo], ele se torna proibido.1103 ָח ַתְך ְּדּלַ עַ ת וְ כַ ּיֹוצֵ א ָבּה1103.לָ ּה ֲא ָס ָרּה
Se alguém cortar uma abóbora ou algo do tipo e se ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה לַ ֲחצִ י1104.וְ ִה ְׁש ַּת ֲחוָ ה לָ ּה ֲא ָס ָרּה
curvar diante dela, ela se torna proibida.1104 Até ְּדּלַ עַ ת וַ ֲחצִ י ָה ַא ֵחר ְמע ֶֹרה בֹו ֲה ֵרי זֶ ה
mesmo curvar-se para metade da cabaça enquanto a ֶׁש ָּמא זֶ ה ַה ֵחצִ י ּכְ מֹו יָ ד לַ ֵחצִ י.ָאסּור ִמ ָּס ֵפק
outra metade permanece ligada torna o seu usufruto
proibido, devido à dúvida que isso envolve: talvez ִאילָ ן ֶׁשּנָ ְטעּו ִמ ְּת ִחּלָ ה ֶׁשּיִ ְהיֶ א1105.ַהּנֶ ֱע ָבד
a segunda metade seja considerada uma alça para ""א ֵׁש ָרה ֲ וְ זֹו ִהיא.נֶ עֱ ָבד ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
a metade que tiver sido adorada.1105 É proibido
usufruir de uma árvore que tiver sido plantada
com a finalidade de ser adorada. Essa é a Asherá
1097- O Tur e o Shulchan Aruch (Iorê Deá 145:9) não aceitam essa proibição e permitem o uso de um objeto trocado por
outro que tiver sido trocado por um ídolo.
1098- Chulín 40b. Segundo o Beit Iossêf (Iorê Deá 145), essa leniência não se aplica quando tais ações são executadas por um gentio.
1099- Pois o solo não foi nem manipulado nem criado pelo homem.
1100- Avodá Zará 54b.
1101- Ibid.
1102- Avodá Zará 46a. Segundo o Siftei Cohên (Iorê Deá 145:1), a decisão do Rambam está baseada no Talmud
Ierushalmi (Avodá Zará 3:6).
1103- Avodá Zará 46a.
1104- Enquanto uma planta está afixada ao seu nascedouro, ela não fica proibida se for adorada, conforme explicado na
Halachá 1. Depois de cortada, se for adorada ela se torna proibida.
1105- Chulín 128b.
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4. [As regras a seguir se aplicam a] uma árvore ַ ִאילָ ן ֶׁש ַּמעֲ ִמ ִידין ַּת ְח ָּתיו ֲע.ד
בֹודת
sob a qual for colocado um ídolo:1113 É proibido ּכָ ל זְ ַמן ֶׁש ִהיא ַת ְח ָּתיו ָאסּור1113ּכֹוכָ ִבים
usufruir dela enquanto o ídolo estiver embaixo dela, 1114
. נְ ָטלָ ּה ִמ ַּת ְח ָּתיו ֲה ֵרי זֶ ה ֻמ ָּתר.ַּב ֲהנָ ָאה
mas depois que ele for removido ficará permitido
[usufruir] dela,1114 uma vez que o objeto da adoração ַּביִ ת.ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֵאין ָה ִאילָ ן עַ צְ מֹו הּוא ַהּנֶ ֱע ָבד
não era a própria árvore. É proibido usufruir de uma ִמ ְּת ִחּלָ ה ֶׁשּיְ ֵהא1115עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ ֶׁש ְּבנָ אֺו
edificação construída por um gentio1115 com fins de ַה ַּביִ ת עַ צְ מֹו נֶ עֱ ָבד וְ כֵ ן ַה ִּמ ְׁש ַּת ֲחוֶ ה לְ ַביִ ת ָּבנּוי
adoração de si próprio e, da mesma forma, de uma
edificação já construída para a qual alguém tiver se
1106- Em Shemót 34:13 e em Devarím 7:5 e 12:3. Há várias referências a ela nos livros dos Profetas. O Zôhar (Vol. I, 49a)
associa o culto da Asherá ao culto da lua.
1107- Sem fins de adoração.
1108- Ou seja, um galho é estendido e enterrado para criar raízes e produzir novas ramificações.
1109- Quem faz um enxerto fura um buraco em um lado da árvore e insere dentro dele um galho de outra árvore. Esse galho
[pode vir a se unir com a nova árvore, mas continuará] produzindo os mesmos frutos que a sua árvore-mãe, da qual foi
retirado (Rashi, Sotá ibid. D”H Markív).
1110- Como o surgimento desses ramos resulta de uma atividade humana realizada em prol da adoração de ídolos, eles são proibidos.
1111- Embora tenha sido realizada uma ação com a própria árvore, ela – diferentemente dos animais mencionados na
Halachá 1 – não se torna proibida (Avodá Zará 48a).
1112- Todas as frutas e galhos que estiverem crescendo na árvore quando ela for adorada pela primeira vez são permitidos.
A proibição só incide sobre os que começarem a crescer depois que a árvore tiver sido adorada (Siftei Cohên, Iorê Deá 145:5).
1113- Vide Capítulo 7, Halachá 11, que explica (baseado em Avodá Zará 48a) que uma árvore assim também é
considerada Asherá.
1114- O Késsef Mishnê explica que, em contraste com a Halachá anterior, nesse caso até os ramos da árvore que tiverem
crescido quando o ídolo se encontrava embaixo dela são permitidos.
1115- O Rambam menciona um gentio nesse caso pois, conforme consta no Capítulo 7, Halachá 4, um deus falso feito por um
gentio torna-se proibido imediatamente. Mas se tiver sido feito por um judeu, ele não se torna proibido enquanto não for adorado.
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Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
curvado.1116 Quando uma [edificação] já construída ָהיָ ה ָבנּוי וְ ִסּיְ דֹו1116.ֲה ֵרי זֶ ה ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
for caiada e embelezada em prol de adoração a ponto בֹודת ּכֹוכָ ִבים עַ ד ֶׁשּנִ ְת ַח ֵּדׁש ַ ֲוְ כִ ּיְ רֹו לְ ֵׁשם ע
de ser considerada nova, todas as inovações deverão נֹוטל ַמה ֶׁש ִח ֵּדׁש וְ ַה ִחּדּוׁש ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
1117
ֵ
ser removidas1117 e o usufruto delas será proibido,
uma vez que foram feitas em prol de adoração. Será, .ּוׁש ָאר ַה ַּביִ ת ֻמ ָּתר ְ ִמ ְּפנֵ י ֶׁשעֲ ָׂש ָאהּו לְ עָ ְבדֹו
no entanto, permitido usufruir do resto da edificação. בֹודת ּכֹוכָ ִבים לְ תֹוְך ַה ַּביִ ת ּכָ ל זְ ַמן ַ ֲִהכְ נִ יס ע
Se alguém colocar um ídolo dentro de uma casa, será הֹוצִ ָיאּה.ֶׁש ִהיא ָׁשם ַה ַּביִ ת ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
proibido usufruir da casa enquanto o ídolo estiver וְ כֵ ן ֶא ֶבן ֶׁש ֲחצָ ָבּה ִמ ְּת ִחּלָ ה1118.ֻה ַּתר ַה ַּביִ ת
dentro dela. Quando ele for removido, a casa ficará צּובהָ ָהיְ ָתה ֲח.סּורה ַב ֲהנָ ָאה ָ לְ עָ ְב ָדּה ֲא
permitida.1118 Da mesma forma, é proibido usufruir
de uma pedra que tiver sido extraída com fins de וְ צִ ּיְ ָרּה וְ כִ ּיְ ָרּה ֶׁש ֵּתעָ ֵבד ֲא ִפּלּו צִ ּיֵ ר וְ כִ ּיֵ ר ְּבגּוף
adoração. Se ela já estava talhada mas foi adornada נֹוטל
ֵ לֹומר ִאם ּכִ יֵ ר עָ לֶ ָיה ַ ָה ֶא ֶבן וְ ֵאין צָ ִריְך
e embelezada em prol de adoração – mesmo se a הֹואיל ִ וְ הּוא ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה1119ַמה ֶׁש ִח ֵּדׁש
própria pedra tiver sido adornada e embelezada e, .ּוׁש ָאר ָה ֶא ֶבן ֻמ ָּתרְ וְ נַ עֲ ָׂשה ֶׁשּיֵ עָ ֵבד
nem é preciso dizer, se o adorno tiver sido sobreposto
a ela – todas as inovações devem ser removidas1119
e o usufruto delas é proibido uma vez que foram
feitas em prol de adoração. É, no entanto, permitido
usufruir do resto da pedra.
5. Se um ídolo for colocado sobre uma pedra, ela בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֲה ֵרי ַ ֲ ֶא ֶבן ֶׁש ֱהעְ ִמיד עָ לֶ ָיה ע.ה
fica proibida enquanto o ídolo permanecer sobre ela. ָה ֶא ֶבן- ִסּלְ ָקּה.סּורה ּכָ ל זְ ַמן ֶׁש ִהיא עָ לֶ ָיה ָ זֹו ֲא
Quando ele for removido, a pedra fica permitida.1120
בֹודתַ ִמי ֶׁש ָהיָ ה ֵביתֹו ָסמּוְך לַ ֲע
1121 1120
.ֻמ ֶּת ֶרת
Se uma casa localizada ao lado de [um santuário1121
de] um ídolo1122 desabar, é proibido reconstruí-la. ?שה ֹ ֶ ֲ ּכֵ יצַ ד יַ ע. וְ נָ ַפל ָאסּור לִ ְבנֹותֹו1122ּכֹוכָ ִבים
O que deve ser feito? Deve-se deslocar [a parede] וְ אֹותֹו ָה ֶרוַ ח ְמ ַמּלְ ֵאהּו.ּכֹונֵ ס לְ תֹוְך ֶׁשּלֹו ּובֹונֶ ה
para dentro de suas próprias quatro Amót, e depois ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא יַ ְר ִחיב לְ ֵבית1123צֹואה ָ קֹוצִ ים אֹו
reconstruí-la. O espaço vazio deve ser preenchido בֹודת ַ ָהיָ ה ַהּכ ֶֺתל ֶׁשּלֹו וְ ֶׁשל ֲע.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע
com espinhos ou fezes1123 para não ficar livre em prol
ֶמ ֱחצָ ה ֶׁשּלֹו 1124
.ּכֺוכָ ִבים יָ דּון ֶמ ֱחצָ ה לְ ֶמ ֱחצָ ה
do santuário do ídolo. Se parte da parede pertencer
a um indivíduo e parte a um ídolo, considera-se que
[como] ela pertence aos dois de forma igual1124 é
1116- Embora uma edificação já construída esteja ligada à terra e, consequentemente, não possa ser “manipulada pelo
homem”, mesmo assim ela pode tornar-se proibida. Segundo Avodá Zará 47b, como os materiais usados na sua construção
se encontravam originalmente separados da terra, o fato de posteriormente terem sido ligados à terra não é significativo.
O Radbaz (Vol. V, Responsum 1492) observa que em outros locais do Mishnê Torá – por exemplo, em Hilchót Meilá 5:5 – o
Rambam considera a casa, assim como a montanha e a árvore, como sendo um artigo ligado à terra e fora do controle do
homem. Ele explica que nesse caso específico o Rambam adotou uma posição mais rigorosa por envolver a proibição de
adorar deuses falsos.
1117- Mas se ela pertencia a um gentio não é necessário remover todos os acréscimos; basta fazer pequenas alterações, e a
partir daí fica permitido usufruir dela (Turei Zahav, Iorê Deá 145:8).
1118- Para o Ramá (Iorê Deá 145:3), se a casa tiver sido construída originalmente como santuário de um deus falso, não basta
remover o ídolo para torná-la permitida; a ligação dela com a adoração do ídolo deve ser anulada. Além disso, essa anulação
só pode se dar se a casa pertencer a um gentio. Se pertencer a um judeu, a anulação não tem valor.
1119- Por um judeu.
1120- Avodá Zará 47b.
1121- O Rashi, em Avodá Zará 47a, observa que aqui está se tratando de uma casa que é ela própria objeto de adoração.
1122- Os comentaristas explicam que aqui está se tratando de um caso em que tanto a casa da pessoa quanto o santuário
compartilham de uma mesma parede mas a parede está localizada na propriedade que pertence ao santuário.
1123- Segundo Avodá Zará 47b, o espaço deve ser utilizado como “banheiro para as crianças”.
1124- Vide Bava Batra 1:1.
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Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
permitido usufruir de metade dela;1125 mas da [outra בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַהּכֺל
ַ ֲ וְ ֶׁשל ע1125ֻמ ָּתר ַּב ֲהנָ ָאה
metade], pertencente ao ídolo, é proibido usufruir. ֲא ָבנָ יו עֵ צָ יו וַ עֲ ָפרֹו ַהּכֹל ָאסּור.ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
[Da mesma forma,] é proibido usufruir de tudo o 1126
.ַּב ֲהנָ ָאה
que fizer parte dela: pedras, vigas ou terra.1126
7. Mesmo sendo é permitido usufruir de algo que ָּד ָבר ֶׁש ֵאין ּבֹו ְּת ִפ ַיסת יַ ד ָא ָדם ֶׁשּנֶ עְ ַבד.ז
não tenha sido manipulado pelo homem1130 – por ּכְ גֹון ָה ִרים ְּוב ֵה ָמה וְ ִאילָ ן ַאף עַ ל ִּפי
exemplo, de uma montanha, de um animal ou de צִ ּפּויֺו1130ֶׁש ַהּנֶ עֱ ָבד ַעצְ מֹו ֻמ ָּתר ַּב ֲהנָ ָאה
uma árvore – mesmo se tiver sido adorado [como
divindade]; no entanto é proibido usufruir de seus
וְ ַהּנֶ ֱהנֶ ה ְּבכָ ל ֶׁשהּוא ֵמ ֶהן1131ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה
revestimentos.1131 Quem derivar qualquer proveito "ל ֹא ַת ְחמֹד ּכֶ ֶסף וְ זָ ָהב1133 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1132.לֹוקה ֶ
deles deverá ser penalizado com chibatadas,1132 pois בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע 1135
וְ כָ ל צִ ּפּויֵ י 1134
."עֲ לֵ ֶיהם
está dito:1133 “Não desejarás a prata e o ouro que .ֲה ֵרי ֵהן ִּבכְ לָ ל ְמ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה
estão sobre eles”.1134 É considerado acessório de ídolo
qualquer tipo de revestimento1135 que recobri-lo.
1125- Embora deva deixar um espaço aberto entre a parede que constrói e a parede do santuário, ele pode incluir a sua porção
da área do muro caído como parte desse espaço (Beit Iossêf, Iorê Deá 143).
1126- Rashi lá.
1127- Vide Capítulo 7, Halachót 2 e 9.
1128- Avodá Zará 43b. Os sábios se opuseram a essa opinião, alegando que esse pó pode servir de adubo, e, assim, beneficiar
o homem. Essa objeção não foi aceita porque adubo não é o único fator causador do crescimento dos grãos, e por não se fazer
uso intencional desse pó para esse fim (Tossafót lá).
1129- Vide Capítulo 7, Halachá 5. O Mercavát Hamishnê cita Hilchót Chamêts Umatsá 11:3, onde consta: “Como se destrói
o Chamêts? Queimando-o, triturando-o e jogando-o ao vento ou ao mar”. Com base nisso, ele explica que há três modos de
destruir um ídolo: triturar e jogar ao vento; queimar; e jogar no Mar Morto. Como o Mar Morto é um lugar estéril e não é
utilizado para navegação, o ídolo nem precisa ser destruído. Mesmo se for deixado inteiro, assumimos que fica inaproveitável
para o homem. Essa interpretação não é aceita por todos os legisladores. Para o Tossafót (ibid.), um ídolo deve ser destruído
antes de ser jogado no Mar Morto. O Shulchan Aruch (Iorê Deá 146:15) menciona “afundar um ídolo no mar” (e não “no Mar
Morto”), sem requerer que ele seja destruído primeiro. Segundo o Siftei Cohên (146:13) e o Turei Zahav (146:11), antes de ser
depositado em um rio o ídolo deve ser destruído.
1130- Halachá 1.
1131- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 22) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 428) consideram essa como uma das 613 Mitsvót
da Torá.
1132- Os comentaristas observam que no Capítulo 7, Halachá 2, o Rambam escreve que a pessoa que usufrui de um ídolo ou de
seus acessórios deve ser punida com duas medidas de chibatadas. Sendo assim, poder-se-ia supor que para essa transgressão
a pessoa deveria ser punida com duas ou três medidas de chibatadas (vide Ramban, Hassagót Lessefer Hamitsvót, Preceito
Negativo 194). O Avodat Hamélech explica que como nesse caso o ídolo em si não fica proibido, essa proibição é considerada
um preceito à parte. Consequentemente, a sua transgressão não tem relação com nenhuma outra proibição.
1133- Devarím 7:25.
1134- Avodá Zará 46a.
1135- Embora o versículo mencione apenas prata e ouro, qualquer substância que servir como adorno de um objeto idolatrado
é proibida.
1136- Através de um dos atos mencionados na Halachá 10.
Veshinantam | 99
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
conforme está dito:1137 “As estátuas de seus deuses no "ּפ ִסילֵ יְ 1137 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.זֹו ֻמ ֶּת ֶרת ַּב ֲהנָ ָאה
fogo queimareis”.1138 [Essa regra] só [se aplica] quando ּכְ ֶׁש ָּבאּו לְ יָ ֵדינּו1138."ֹלה ֶיהם ִּת ְׂש ְרפּון ָּב ֵאׁשֵ ֱא
[o ídolo] for considerado deus antes de passar para a
posse [de um judeu].1139 Se, no entanto, a divindade
ֲא ָבל ִאם ִּב ְּטלּום1139.נֹוהגִ ין ָּב ֶהם ֱאלָ הּות ֲ וְ ֵהן
dele já tiver sido desconsagrada, ele é permitido.1140
1140
.ֲה ֵרי ֵאּלּו ֻמ ָּת ִרין
9. Um ídolo pertencente a um judeu jamais poderá בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֶׁשל יִ ְׂש ָר ֵאל ֵאינָ ּה ְּב ֵטלָ ה ַ ֲ ע.ט
ser desconsagrado. Mesmo se ele for possuído ֲא ִפּלּו ָהיָ ה לְ נָ כְ ִרי ָּבּה ֻׁש ָּתפּות ֵאין.לְ עֹולָ ם
em sociedade com um gentio, de nada adiantará סּורה ַב ֲהנָ ָאה ָ ִּבּטּולֹו מֹועִ יל ּכְ לּום ֶאלָ א ֲא
desconsagrá-lo. Será proibido usufruir dele para
sempre, e ele deverá ser enterrado.1141 Da mesma
בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ וְ כֵ ן ע1141.לְ עֹולָ ם ְּוטעּונָ ה ּגְ נִ יזָ ה
forma, se um ídolo pertencente a um gentio passar ֶׁשל נָ כְ ִרי ֶׁש ָּבאת לְ יַ ד יִ ְׂש ָר ֵאל וְ ַא ַחר ּכָ ְך ִּב ְּטלָ ּה
para as mãos de um judeu e, em seguida, for ֶאלָ א1142ַהנָ כְ ִרי ֵאין ִּבּטּולֹו מֹועִ יל ּכְ לּום
desconsagrado pelo gentio, a desconsagração não וְ ֵאין יִ ְׂש ָר ֵאל1143.סּורה ַב ֲהנָ ָאה לְ עֹולָ ם ָ ֲא
terá valor algum1142 e será proibido usufruir dele עֺובד
ֵ בֹודת ּכֹוכָ ִבים וַ ֲא ִפּלּו ִּב ְרׁשּות ַ ְֲמ ַב ֵּטל ע
para sempre.1143 Um judeu não pode desconsagrar
um ídolo [que estiver nas mãos] de um gentio,
ׁשֹוטה ֶ עֺובד ּכֺוכָ ִבים ָק ָטן אֹו ֵ 1144.ּכֺוכָ ִבים
mesmo com a permissão dele.1144 Um gentio menor עֺובדֵ 1145
.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲֵאינֹו ְמ ַב ֵּטל ע
de idade ou louco não pode desconsagrar um בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֵּבין ֶׁשּלֹו ֵּבין ַ ֲּכֺוכָ ִבים ֶׁש ִּב ֵּטל ע
ídolo.1145 Se um gentio for coagido até mesmo por עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ֲא ֵח ִרים ְּבעַ ל ּכָ ְרחֹו ַאף ְ ֶׁשל
judeus a desconsagrar um ídolo pertencente a ele ou .עַ ל ִּפי ֶׁש ֲאנָ סֹו יִ ְׂש ָר ֵאל עַ ל ּכָ ְך ֲה ֵרי זֹו ְב ֵטלָ ה
a outros gentios, a desconsagração será válida. Só
um gentio idólatra pode desconsagrar um ídolo.1146
בֹודת ַ עֹובד ֲע ֵ ִּובלְ ַבד ֶׁשּיְ ֵהא ַהנָ כְ ִרי ַה ְּמ ַב ֵּטל
Se não for idólatra, a desconsagração feita por ele בֹודת ַ עֹובד ֲע ֵ ֲא ָבל ִמי ֶׁש ֵאינֹו1146.ּכֹוכָ ִבים
não terá valor algum. Ao desconsagrar um ídolo, בֹודת ַ ַה ְּמ ַב ֵּטל ֲע.ּכֹוכָ ִבים ֵאין ִּבּטּולֹו ִּבּטּול
[o gentio] também desconsagra os respectivos , ִּב ֵּטל ְמ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה.ּכֹוכָ ִבים ִּב ֵטל ְמ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה
acessórios, tornando permitido usufruir deles. Caso סּורה ַב ֲהנָ ָאה ָ ְמ ַׁש ְּמ ֶׁש ָיה ֻמ ָּת ִרים וְ ִהיא ֲא
desconsagre os acessórios, [o ídolo] em si permanece
proibido até ser desconsagrado. Um objeto que tiver
בֹודת ַ וְ ִת ְקר ֶֹבת ֲע.ּכְ מֹו ֶׁש ָהיְ ָתה עַ ד ֶׁש ַּיְב ְּטלָ ּה
sido levado para um ídolo como oferenda jamais .ּכֹוכָ ִבים ֵאינָ ּה ְּב ֵטלָ ה לְ עֹולָ ם
poderá ser anulado.
Veshinantam | 100
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
10. Como [um ídolo] é desconsagrado? Cortou a ּכֵ יצַ ד ְמ ַב ְּטלָ ּה? ָק ַטע רֹאׁש ָח ְט ָמּה רֹאׁש.י
ponta de seu nariz, a ponta de sua orelha, a ponta de ַאף1147ָאזְ נָ ּה רֹאׁש ֶאצְ ָּבעָ ּה ְּפ ָח ָסּה ְּב ָפנֶ ָיה
seu dedo, aplainou a sua face1147 – mesmo sem eliminar צֹורףֵ ְעַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא ִח ְּס ָרּה אֹו ֶׁש ְּמכָ ָרּה ל
nada de sua substância – ou vendeu-a a um ourives
judeu,1148 ele está desconsagrado. Caso ele tenha sido ֲא ָבל ִאם ִמ ְׁשּכְ נָ ּה. ֲה ֵרי זֹו ְּב ֵטלָ ה1148יִ ְׂש ָר ֵאל
dado como garantia para um empréstimo, tenha sido אֹו לְ יִ ְׂש ָר ֵאל1149עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ ְאֹו ְמכָ ָרּה ל
vendido para um gentio,1149 tenha sido [vendido] para אֹו ֶׁשּנָ ְפלָ ה עָ לֶ ָיה ַמּפֹלֶ ת וְ ל ֹא.צֹורף ֵ ֶׁש ֵאינֹו
um judeu que não seja ourives, tenha sido coberto por ָר ַקק.עּוה ָ בּוה לִ ְס ִטים וְ ל ֹא ְת ָב ָ ָ ּגְ נ.ִפּנָ ּה
uma construção que desmoronou [e abandonado] זָ ַרק ָּבּה ֶאת1150 ּגְ ָר ָרּה. ִה ְׁש ִּתין ְּב ָפנֶ ָיה.ְּב ָפנֶ ָיה
sem que [as ruínas] tenham sido removidas, tenha
sido roubado por ladrões sem que fosse cobrada a sua
1152
. ֲה ֵרי זֹו ֵאינָ ּה ְּב ֵטלָ ה1151ּצֹואה ָ ַה
devolução, tenha tido a face cuspida, ou se urinaram
nele ou o arrastaram [na lama]1150 ou jogaram fezes
nele1151 – [qualquer dessas circunstâncias] não causa a
desconsagração [do ídolo].1152
1147- Nossa tradução segue o Comentário à Mishná (Avodá Zará 4:4) do Rambam. Outros (vide Rashi, Avodá Zará 53a)
traduzem como “arrebentando a sua face”.
1148- Dessa maneira, o gentio demonstra querer que o judeu derreta o ídolo, deixando claro que já não o considera um deus.
1149- Mesmo se ele for um ourives.
1150- Rashi (Avodá Zará, ibid.).
1151- Por mais irreverenciosos que sejam, esses atos podem ser interpretados como expressões temporárias de raiva ao invés
de desconsagrações sinceras da divindade do ídolo.
1152- Avodá Zará 53a.
1153- Avodá Zará 53b.
1154- Avodá Zará 41b cita uma diferença de opiniões entre o Reish Lakísh e o Rabi Iochanán quanto a essa decisão. O Reish
Lakísh sustenta que se pode assumir que os gentios desconsagraram o ídolo, pois se ele não pôde salvar a si próprio, com
certeza ele não poderia salvá-los. O Rabi Iochanán não aceita essa opinião por considerar que mesmo quebrado o ídolo é
reverenciado. Avodá Zará 49b afirma que os gentios eram capazes de adorar até mesmo os pedaços quebrados de um ídolo
(vide também o Talmud Ierushalmi, Avodá Zará 3:3).
1155- Avodá Zará 41b explica que embora seja possível de que o ídolo tenha sido desconsagrado, ainda é preciso considerá-lo
proibido. Esse status dele não pode ser alterado enquanto não houver certeza da sua desconsagração.
1156- Pois cada uma delas é considerada uma deidade à parte.
1157- Se o ídolo estiver quebrado e não puder ser remontado por uma pessoa comum, ele é tratado com menor rigorosidade,
e basta uma parte ser desconsagrada para a totalidade do ídolo ficar permitida. Diferentemente da opinião do Raavad e de
algumas outras autoridades rabínicas, o Rambam exige ao menos a realização dessa desconsagração mínima. O Shulchan
Aruch (Iorê Deá 146:11) segue a opinião do Rambam.
Veshinantam | 101
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
12. É proibido usufruir de um altar de adoração בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֶׁשּנִ ְפגַ ם עֲ ַדיִ ן הּוא ַ ֲ ִמ ַזְּבח ע.יב
de ídolos que estiver danificado, a não ser que עֺובד
ֵ ְּביַ ד 1158
ָאסּור ַּב ֲהנָ ָאה עַ ד ֶׁשּיִ ּנָ ֵתץ ֻרּבֹו
a maior parte dele tenha sido destruída1158 por ֵאי1160. ִּובימֹוס ֶׁשּנִ ְפגַ ם ֻמ ָּתר1159.ּכֺוכָ ִבים
gentios.1159 Já uma plataforma que estiver danificada
é permitida.1160 O que é considerado plataforma e o זֶ הּו הּוא ִבימֹוס וְ ֵאי זֶ הּו ִמ ֵזְּב ַח? ִּבימֹוס ֶא ֶבן
que é considerado altar? Uma plataforma é formada וְ כֵ יצַ ד ְמ ַב ְּטלִ ין. ִמ ֵזְּב ַח ֲא ָבנִ ים ַה ְר ֵּבה.ַא ַחת
por uma única pedra; um altar, por muitas pedras. ּכֵ יוָ ן ֶׁש ָּבנָ ה ֵמ ֶהן ִּבנְ יָ ן אֹו1161?ַא ְבנֵ י ַמ ְרקּולִ יס
Como se desconsagra as pedras de Markulis?1161 ִח ָּפה ָב ֶהן ֶאת ַה ְּד ָרכִ ים וְ כַ ּיֹוצֵ א ָּב ֵאּלּו ֲה ֵרי
Basta utilizá-las para construir uma edificação, ּכֵ יצַ ד ְמ ַב ְּטלִ ים ֶאת1162.ֵהן ֻמ ָּת ִרים ַּב ֲהנָ ָאה
revestir ruas ou algo do gênero, para tornar o
usufruto delas permitido.1162 Como se desconsagra ] ִק ְר ֵסם ִמ ֶּמּנָ ה ָעּלֶ ה אֺו ש[זֵ ֵרד1163?ָה ֲא ֵׁש ָרה
uma Asherá?1163 Arrancando dela uma folha, נָ ַטל ִמ ֶּמּנָ ה ַמ ֵּקל אֹו ַׁש ְר ִביט.(זָ ַרק) ִמ ֶּמּנָ ה יֹונֵק
cortando dela um galho, tirando dela um bastão ou 1164
.אֹו ֶׁש ְּׁש ָפ ָאּה ֶׁשּל ֹא לְ צָ ְרּכָ ּה ֲה ֵרי זֹו ְב ֵטלָ ה
cetro, ou aplanando as laterais dela de uma forma ּוׁש ָפ ֶא ָיה
ְ 1166סּורה ָ ִהיא ֲא1165ְׁש ָפ ָאּה לְ צָ ְרּכָ ּה
desnecessária – [em qualquer dessas circunstâncias 1168
וְ ִאם ָהיְ ָתה ֶׁשל יִ ְׂש ָר ֵאל1167.ֻמ ָּת ִרים
a Asherá] fica desconsagrada.1164 Se as laterais dela
forem aplanadas de uma forma útil1165 ela ficará ֵּבין לְ צָ ְרּכָ ּה ֵּבין ֶׁשל ֺא לְ צָ ְרכָ ּה ֵּבין ִהיא ֵּובין
proibida,1166 mas as aparas dela ficarão permitidas.1167 בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲ ֶׁשע.סּורים לְ עֹולָ ם ִ ְׁש ָפ ֶא ָיה ֲא
Se [as laterais de] uma Asherá pertencente a um 1169
.ֶׁשל יִ ְׂש ָר ֵאל ֵאין לָ ּה ִּבּטּול לְ עֹולָ ם
judeu [forem aplanadas],1168 não importa se de forma
útil ou de forma desnecessária, tanto ela quanto as
aparas dela ficarão proibidas para sempre, pois um
ídolo pertencente a um judeu jamais poderá ser
desconsagrado.1169
1158- Avodá Zará 54a cita uma alusão a essa lei em Ieshaiáhu 27:9: “Todas as pedras do altar serão como pedras de cal
despedaçadas”.
1159- Conforme disposto na Halachá 9, a desconsagração de ídolos deve ser feita por gentios.
1160- Avodá Zará 53b.
1161- Conforme mencionado, um santuário para o Markulis consiste de três pedras sobrepostas uma à outra.
1162- Avodá Zará 50a relata que até o Rabi Menachem berabi Simai (que tinha a alcunha de “filho do santo” por jamais olhar
para uma moeda, temeroso de que houvesse nela figura de um ídolo) caminhava por essas ruas.
1163- Uma árvore que é objeto de adoração ou que sombreia um ídolo.
1164- Esses atos demonstram desacato pela árvore e consequentemente, bastam para desconsagrá-la.
1165- I.e. para melhorar a aparência dela ou para que ela cresça satisfatoriamente.
1166- Pois esses atos não demonstram desacato.
1167- Uma vez que não constituem objeto de adoração.
1168- Mesmo por um gentio.
1169- Avodá Zará 49b. Conforme disposto na Halachá 10.
Veshinantam | 102
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
2. É proibido enviar um presente para um gentio ֹלח ּדֹורֹון לְ נָ כְ ִרי ְּביֹום ֵאידֹו ַ וְ ָאסּור לִ ְׁש.ב
em um de seus dias festivos, a não ser que se saiba בֹודתַ מֹודה ַּב ֲע ֶ נֹודע לֹו ֶׁש ֵאינֹו ַ ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן
que ele não reconhece nem adora um ídolo.1174 וְ כֵ ן נָ כְ ִרי ֶׁש ָּׁשלַ ח 1174
.עֹוב ָדּה
ְ ּכֹוכָ ִבים וְ ֵאינֺו
Similarmente, se um gentio enviar em um dos [seus]
dias festivos um presente para um judeu, este não
.ּדֹורֹון לְ יִ ְׂש ָר ֵאל ְּביֹום ַחּגֺו ל ֹא יְ ַק ְּבלֶ ּנּו ִמ ֶּמּנּו
poderá aceitá-lo a não ser que tema que [a recusa] וְ ֵאינֺו1175נֹוטלֺו ְּב ָפנָ יו ְ וְ ִאם ָח ַׁשׁש לְ ֵא ָיבה
cause ressentimento, quando então deverá recebê- עֹובד
ֵ נֶ ֱהנֶ ה בֹו עַ ד ֶׁשּיִ ּוָ ַדע לֹו ֶׁשּזֶ ה ַהנָ כְ ִרי ֵאינֹו
lo;1175 no entanto, só será permitido desfrutar dele .מֹודה ָבּה ֶ ּכֹוכָ ִבים וְ ֵאינֺו
quando descobrir que o gentio não reconhece nem
adora um ídolo.
3. Se a festa dos idólatras se estender por vários עֹובד ּכֹוכָ ִבים יָ ִמים ָ ָהיָ ה ֵא ָידן ֶׁשל.ג
ֵ אֹותן
1170- Embora a princípio o idólatra fique chateado por pagar o empréstimo, ele acabará ficando satisfeito por ter se livrado
do encargo financeiro (Avodá Zará 2a).
1171- Avodá Zará 6b.
1172- Ibid. 6b.
1173- Essa punição foi instituída pelos sábios a fim de assegurar a observância desses decretos (Meíri).
1174- Avodá Zará 64b-65a traz como exemplo o Rav Iossêf e o Rava, dois dos maiores sábios do Talmud, que mandavam
presentes a gentios não-idólatras em seus dias festivos.
1175- Vide Avodá Zará 6b; Shulchan Aruch (Iorê Deá 148:5).
Veshinantam | 103
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
dias – sejam três, quatro ou dez –, todos os dias [da ּכָ ל,לׁשה אֹו ַא ְר ָּבעָ ה אֹו עֲ ָׂש ָרה ָ ְׁש,ַה ְר ֵּבה
festa] são considerados um único dia.1176 [Tratar de סּורין
ִ וְ כֻ ּלָ ן ֲא1176אֹותן ַהּיָ ִמים ּכְ יֹום ֶא ָחד ֵהן
ָ
negócios com eles] em qualquer desses dias, ou nos .לׁשה יָ ִמים לִ ְפנֵ ֶיהן
ָ ִעם ְׁש
três dias que os antecederem, é proibido.
4. Os canaanitas1177 são adoradores de ídolos, e עֹוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים ֵהם וְ יֹום ְ 1177 ַהּנֹוצְ ִרּיִ ים.ד
domingo é um dia de festa para eles. Assim, toda לְ ִפיכָ ְך ָאסּור לָ ֵׂשאת.ִראׁשֹון הּוא יֹום ֵא ָידם
semana em Érets Israêl é proibido tratar de negócios יׁשי וְ יֹום
ִ וְ לָ ֵתת עִ ָּמ ֶהם ְּב ֶא ֶרץ יִ ְׂש ָר ֵאל יֹום ֲח ִמ
com eles às quintas e sextas-feiras1178 e, desnecessário
dizer, nos próprios domingos, quando é proibido וְ ֵאין צָ ִריְך. ֶׁש ְּבכָ ל ַׁש ָּבת וְ ַׁש ָּבת1178ִׁש ִּׁשי
tratar de negócios com eles [não só em Érets Israêl לֹומר יֹום ִראׁשֹון עַ צְ מֹו ֶׁשהּוא ָאסּור ְּבכָ ל ַ
mas] em todos os lugares. Assim nos comportamos .נֹוהגִ ים עִ ָּמ ֶהם ְּבכָ ל ֵא ֵיד ֶיהם
ֲ וְ כֵ ן.ָמקֹום
com eles em todas as suas datas festivas.
5. O dia em que os idólatras se reúnem para coroar ְ יֹום ֶׁש ִּמ ְתּכַ ּנְ ִסין ּבֹו.ה
עֹוב ֵדי ּכֹוכָ ִבים לְ ַהעֲ ִמיד
um rei e oferecer sacrifício e louvor aos seus deuses אֹלה ֶיהם יֹום ֵ ֵּומ ַקּלְ ִסים ל ְ ּומ ְק ִר ִיבין
ַ לָ ֶהן ֶמלֶ ְך
falsos é considerado um de seus festivais, uma vez ֲא ָבל.ַחּגָ ם הּוא וַ ֲה ֵרי הּוא ּכִ ְׁש ָאר ַחּגֵ ֶיהם
que é comparável às suas outras festas. Já uma data
que é comemorada por um idólatra como um dia de ּומֹודה ֶ עֹוׂשה הּוא ַחג לְ עַ צְ מֹו ֶ עֹובד ּכֹוכָ ִבים ֶׁש ֵ
festa particular, quando ele reconhece e dá graças e ּומ ַקּלְ סֺו ַּביֹום ֶׁשּנֺוּלַ ד ּבֹו וְ יֹוםְ לַ ּכֺוכָ ב ֶׁשּלֹו
louvor ao ídolo de sua adoração – por exemplo, o וְ יֹום ֶׁשעָ לָ ה בֹו1179לֹוריתֹו ִ ִּתגְ לַ ַחת זְ ָקנֹו אֹו ְב
dia de seu aniversário, o dia em que raspa a barba סּורים וְ יֹום ֶׁשעָ ָׂשה ִ ִמן ַהּיָ ם וְ ֶׁשּיָ צָ א ִמ ֵּבית ָה ֲא
ou os cabelos,1179 o dia em que ele chega de uma בֹו ִמ ְׁש ֶּתה לִ ְבנֹו וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֵאּלּו ֵאינֺו ָאסּור
viagem marítima, o dia em que ele sai da prisão
ou no dia em que ele faz uma festa [de casamento] וְ כֵ ן.ֶאלָ א אֹותֹו ַהּיֹום וְ אֹותֹו ָה ִאיׁש ִּבלְ ַבד
para o seu filho, e assim por diante – é proibido אֹותם ָ יֹום ֶׁשּיָ מּות לָ ֶהן ּבֹו ֵמת וְ יַ עֲ ׂשּוהּו ַחג
[tratar de negócios] especificamente nesse dia e com וְ כָ ל ִמ ָיתה.סּורין אֹותֹו ַהּיֹום ִ עֹוׂשים ֲא ִ ָה
essa pessoa. Similarmente, quando [se costuma] ּומ ַק ְט ִרים ְקט ֶֹרת ְ 1180
ּׂשֹור ִפין ָּבּה ּכֵ לִ יםְ ֶׁש
transformar o dia do falecimento de um deles ֵאין יֹום1181.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ְֲּבּיָ דּועַ ֶׁשּיֵ ׁש ָּבּה ע
em [uma data] comemorativa, é proibido [tratar
de negócios] com aqueles que o fazem nesse dia. אֺותם ָ ֲא ָבל.עֹוב ֶד ָיה ִּבלְ ַבד
ְ ְֶה ָחג ָאסּור ֶאלָ א ל
Sempre que o falecimento [de alguém] for marcado ּומ ַׁש ְּמ ִרין אֹותֹו
ְ ׁשֹותין
ִ ְֶׁש ְּׂש ֵמ ִחים ּבֹו וְ אֹוכְ לִ ין ו
pela queima dos utensílios dele1180 e pela oferenda de
incenso, pode-se assumir que envolve a adoração de
ídolos. 1181 Essa proibição só incide sobre quem fizer
adoração [ao ídolo]. No entanto, é permitido tratar
1176- Avodá Zará 8a menciona o festival romano de Saturnália e outros festivais de oito dias como exemplos.
1177- O termo “canaanitas” é uma alteração da censura. Nos textos originais do Mishnê Torá consta “romanos” ou “cristãos”.
Vide também o texto original do Comentário à Mishná (Avodá Zará 1:3) do Rambam que explicitamente descreve os cristãos
como idólatras e proíbe fazer negócios com eles nos períodos determinados por esta Halachá. Vide também o texto original
de Hilchót Melachím 11:4 criticando o cristianismo por “fazer com que a maioria do mundo seja conduzida ao erro e sirva a
outro deus que não o Senhor”.
1178- A proibição de negociar em Shabat não é mencionada pelo Rambam por constituir uma atividade proibida em todos
os casos.
1179- Em seu Comentário à Mishná (Avodá Zará 1:3) o Rambam descreve a raspagem da cabeça como um rito pagão no qual
as laterais da cabeça são raspadas e uma faixa de cabelo é deixada no meio. Ele associa isso à proibição de raspar os cantos da
cabeça mencionada no Capítulo 12, Halachót 1-6.
1180- O Rabênu Nissim, comentando Avodá Zará 11a, explica que esse costume foi instituído a título de expressão de honra
ao falecido, como que dizendo: não há outro à sua altura para usar os seus utensílios.
1181- Avodá Zará 8a.
Veshinantam | 104
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
de negócios com aqueles que não acreditam nele ִמ ְּפנֵ י ִמנְ ָהג אֺו ִמ ְּפנֵ י ּכְ בֹוד ַה ֶּמלֶ ְך ֲא ָבל ֵהם
mas [apenas] participam das celebrações alegrando- מֹודין ּבֹו ֲה ֵרי ֵאּלּו ֻמ ָּת ִרין לָ ֵׂשאת וְ לָ ֵתת
ִ ֵאין
se, comendo, bebendo e assistindo-as devido ao 1182
.עִ ָּמ ֶהן
costume ou por deferência ao rei.1182
6. Vender a adoradores locais de um ídolo objetos בֹודתַ ְּד ָב ִרים ֶׁש ֵהן ְמיֻ ָח ִדים לְ ִמין ִמ ִּמינֵ י ֲע.ו
destinados especificamente ao uso [de suas עֹוב ֵדי
ְ ְּכֹוכָ ִבים ֶׁש ְּבאֹותֹו ָמקֹום ָאסּור לִ ְמּכֹר ל
adorações] é definitivamente proibido.1183 Já objetos
בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֶׁש ְּבאֹותֹו ַה ָּמקֹום ַ אֹותּה ֲע ָ
não destinados a esse fim podem ser vendidos para
eles à vontade, contanto que não especifiquem ְּוד ָב ִרים ְׁש ֵאינָ ן ְמיֻ ָח ִדין לָ ּה1183.לְ עֹולָ ם
nada.1184 Se, no entanto, um idólatra afirmar עֺובד
ֵ וְ ִאם ֵּפ ֵרׁש ָה1184.אֹותם ְס ָתם ָ מֹוכְ ִרים
especificamente que está comprando o objeto para בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲאֹותם לַ ע ָ ּכֺוכָ ִבים ֶׁשהּוא קֹונֶ ה
uso na adoração de ídolos, é proibido vender, a não ָאסּור לִ ְמּכֹר לֹו ֶאלָ א ִאם ּכֵ ן ְּפ ָסלֹו ִמּלְ ַה ְק ִריבֹו
ser que [o vendedor o] danifique desqualificando-o
לְ ִפי ֶׁש ֵאין ַמ ְק ִר ִיבין1185.בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲלַ ע
para uso como oferenda idólatra,1185 uma vez que um
animal que apresenta a falta de qualquer membro .בֹודת ּכֺוכָ ִבים
ַ ֲָח ֵסר לַ ע
não é oferecido como sacrifício para um ídolo.
7. Se objetos destinados especificamente [à adoração ָהיּו ְמע ָֹר ִבים ְּד ָב ִרים ַה ְּמיֻ ָח ִדין עִ ם ְּד ָב ִרים.ז
de ídolos] se misturarem a objetos não destinados a ְׁש ֵאין ְמיֻ ָח ִדין ּכְ גֹון לְ בֹונָ ה זַ ּכָ ה ִּבכְ לָ ל לְ בֹונָ ה
esse fim – por exemplo, incenso puro com incenso
חֹוׁש ִׁשין ֶׁש ָּמא
ְ חֹורה מֹוכֵ ר ַהּכֹל ְס ָתם וְ ֵאין ָ ְׁש
negro –, é permitido vender todos eles sem a
necessidade de averiguar [a finalidade da utilização]. וְ כֵ ן ּכֺל.בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲיְ לַ ֵּקט ַהּזַ ּכָ ה לְ ַב ָּדּה לַ ע
Não se teme que [o comprador] venha a separar o
1186
.ּכַ ּיֹוצֵ א ָבזֶ ה
incenso puro para usá-lo na adoração de ídolos. O
mesmo se aplica a circunstâncias similares.1186
8. Assim como é proibido vender a idólatras objetos עֺובד ּכֺוכָ ִבים ְּד ָב ִרים ֵ ְ ּכְ ֵׁשם ֶׁש ֵאין מֹוכְ ִרין ל.ח
que os auxiliem na adoração de ídolos, também בֹודת ּכֺוכָ ִבים ּכָ ְך ֵאין ַ ֲֶׁש ַּמ ֲחּזְ ִקין ָּב ֶהן יְ ֵד ֶיהן לַ ע
é proibido vender-lhes mercadorias que possam מֹוכְ ִרין לָ ֶהם ָּד ָבר ֶׁשּיֵ ׁש ּבֹו נֶ זֶ ק לָ ַר ִּבים ּכְ גֹון ֻּד ִּבים
causar dano ao público – por exemplo, ursos,
leões,1187 armas, grilhões e correntes.1188 [Pelo mesmo
1188
. ּוכְ לֵ י זַ יִ ן ּוכְ ָבלִ ים וְ ַׁשלְ ְׁשלָ אֹות1187וַ ֲא ָריֹות
motivo], é proibido afiar as suas armas.1189 Tudo o וְ כָ ל ֶׁש ָאסּור1189.וְ ֵאין ַמ ְׁש ִחיזִ ין לָ ֶהם ֶאת ַהּזַ יִ ן
que é proibido de ser vendido a idólatras é também עֹובד ּכֺוכָ ִבים ָאסּור לְ ָמכְ רֹו לְ יִ ְׂש ָר ֵאל ֵ ְלְ ָמכְ רֹו ל
1182- Ibid. 8b. Esta Halachá (e as que seguem) trata de uma variedade de interações sociais e comerciais com os gentios.
Muitas das proibições envolvidas são salvaguardas contra adorações idólatras e não são atualmente observadas. Em alguns
casos as proibições foram instituídas com fins não-relacionados a ritos pagãos – por exemplo, como proteção contra a
assimilação – e continuam sendo observadas hoje em dia.
1183- Essa proibição vigora continuamente, não só nos dias próximos a um festival pagão.
1184- Avodá Zará 13b.
1185- Avodá Zará 13b traz como exemplo a remoção da garra da galinha, um impedimento para o uso dela como sacrifício idólatra.
1186- Ibid.
1187- A Mishná (Avodá Zará 1:7) proíbe a venda desses animais por eles terem sido utilizados na tortura dos prisioneiros
judeus que eram forçados a se apresentar como gladiadores nos coliseus romanos.
1188- Em seu Comentário à Mishná (Avodá Zará, loc. cit.), o Rambam declara que a proibição abrange utensílios usados para
torturar bem como para guerrear. Vide também Hilchót Rotsêach Ushemirát Hanéfesh 12:12, onde o Rambam repete essa
Halachá acrescentando ser permitido vender armaduras para os gentios.
1189- Consta em Avodá Zará 15b que essas proibições foram instituídas para evitar que os gentios maltratassem os judeus.
Quem sabe da situação perigosa que as comunidades judaicas viveram nas mãos dos romanos e de outros habitantes gentios
de Érets Israêl na época da redação da Mishná pode compreender as razões para a instituição dessas leis.
Veshinantam | 105
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
9. Quando judeus moram em meio a gentios e עֹוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ְ ָהיּו יִ ְׂש ָר ֵאל ׁשֹוכְ נִ ים ֵּבין ָה.ט
estabelecem uma aliança com eles, é permitido וְ כָ ְרתּו לָ ֶהם ְּב ִרית ֻמ ָּתר לִ ְמּכֹר ּכְ לֵ י זַ יִ ן לְ עַ ְב ֵדי
vender armas para os servos e soldados do rei,1191 para עֹוׂשים ָּב ֶהם ִ ִמ ְּפנֵ י ֶׁש1191.יסֹותיו ָ ֵַה ֶּמלֶ ְך ּוג
que façam uso delas ao guerrear contra os inimigos
da nação para protegê-la. Dessa maneira eles também
ִמלְ ָח ָמה ִעם צָ ֵרי ַה ְּמ ִדינָ ה לְ ַהּצִ ילָ ּה וְ נִ ְמצְ אּו
protegem os judeus que moram no meio deles.1192 É
1192
.ְמגִ ּנִ ים עָ לֵ ינּו ֶׁש ֲה ֵרי ָאנּו ְׁשרּויִ ין ְּבתֹוכָ ם
permitido caminhar em torno de uma cidade onde בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֻמ ָּתר לְ ַהּלֵ ְך חּוצָ ה ַ ֲעִ יר ֶׁשּיֵ ׁש ָּבּה ע
houver um ídolo. É, no entanto, proibido entrar ָהיָ ה חּוצָ ה לָ ּה 1193
.לָ ּה וְ ָאסּור לְ ִהּכָ נֵ ס ְּבתֹוכָ ּה
[nessa cidade].1193 Se houver um ídolo fora da cidade, 1194
.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ֻמ ָּתר לְ ַהּלֵ ְך ְּבתֹוכָ ּה ַ ֲע
é permitido caminhar dentro dela.1194
10. Uma pessoa viajando de um lugar para o outro ַההֺולֵ ְך ִמ ָּמקֹום לְ ָמקֹום ָאסּור לֹו לַ עֲ בֹר.י
não pode atravessar uma cidade que contenha um ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים.בֹודת ּכֹוכָ ִבים
ַ ְֲּבעִ יר ֶׁשּיֵ ׁש ָּבּה ע
ídolo.Quando essa regra se aplica? Quando esse for o מּורים? ִּבזְ ַמן ֶׁש ַה ֶּד ֶרְך ְמיֻ ֶח ֶדת לְ אֹותֹו ִ ֲא
único caminho para o destino dela. Caso, no entanto,
haja uma rota alternativa para o destino e ela por
ֲא ָבל ִאם יֵ ׁש ָׁשם ֶּד ֶרְך ַא ֶח ֶרת וְ נִ ְק ָרה.ָמקֹום
acaso tenha tomado [o caminho que atravessa essa
1195
.וְ ָהלַ ְך ְּבזֹו ֻמ ָּתר
cidade], é permitido [completar a travessia].1195
12. [As regras a seguir se aplicam] quando um ídolo ַ ֲ עִ יר ֶׁשּיֵ ׁש ָּבּה ע.יב
בֹודת ּכֹוכָ ִבים וְ ָהיּו ָבּה
1190- Avodá Zará 16a. Em Hilchót Rotsêach Ushemirát Hanéfesh 12:14, o Rambam explica a razão dessa proibição: “Porque
isso oferece suporte ao transgressor e faz com que ele peque”, associando essa venda à proibição de “pôr um obstáculo na
frente de um cego”.
1191- A fraseologia usada pelo Rambam (e que é também citada pelo Shulchan Aruch, Iorê Deá 151:6) implica que é permitido
vender apenas para o exército de uma nação e não para indivíduos particulares.
1192- Avodá Zará 16a cita o Rav Ashi permitindo a venda de armas para os persas, porque “eles nos protegem”.
1193- Em seu Comentário à Mishná (Avodá Zará, ibid.), o Rambam determina essa proibição de uma maneira bastante clara:
“É proibido entrar, quanto mais habitar ou negociar em uma cidade que contiver um ídolo... Portanto, é proibido entrar,
quanto mais habitar, em qualquer cidade cristã que contiver uma igreja, por esta ser considerada casa de adoração. D-us nos
forçou a habitar em cidades assim para cumprir a Sua palavra [Devarím 4:28]: ‘Servireis deuses que são obra das mãos dos
homens’”. Mas o Raavad considera que essa proibição só se aplica a uma cidade que contiver uma feira idólatra. Os sábios
proibiram entrar nela como salvaguarda contra negociar com os gentios nos dias dos festivais deles (vide Halachá 1). O
Shulchan Aruch concorda com essa interpretação (vide Iorê Deá 149:1).
1194- Avodá Zará 11b.
1195- Ibid.
1196- Ibid. 16a.
1197- Ibid. 19b. Construir o domo é proibido, pois ele é considerado acessório de idolatria. Mas como um acessório só fica
proibido após o seu uso efetivo em adoração idólatra (Capítulo 7, Halachá 4) a remuneração da pessoa é permitida (vide
também Capítulo 7, Halachá 5).
1198- Essas construções não são consideradas acessórios de idolatria.
Veshinantam | 106
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
ficar dentro de uma cidade e houver lojas enfeitadas ַה ְמעֻ ָּטרֹות.ֲחנֻ ּיֹות ְמעֻ ָּטרֹות וְ ֶׁש ֵאינָ ן ְמעֻ ָּטרֹות
e lojas desprovidas de enfeites: É proibido usufruir ָאסּור לֵ ָהנֹות ָּב ֶהן ְּבכָ ל ַמה ֶׁש ְּבתֹוכָ ן ִמ ְּפנֵ י
das enfeitadas ou [utilizar] qualquer coisa que nelas בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲ ֶׁש ִּבגְ לַ ל ע1199ֶׁש ֶחזְ ָק ָתן
houver, uma vez que pode-se assumir que elas foram
enfeitadas1199 em prol do culto ao ídolo.1200 Mas וְ ֶׁש ֵאינָ ן ְמעֻ ָּטרֹות ֻמ ָּתרֹות1200.נִ ְת ַע ְּטרּו
usufruir das que não tiverem enfeites é permitido. בֹודת ּכֺוכָ ִבים ָאסּור ַ ֲחנֻ ּיֹות ֶׁשל ע.ה ֲ ַּב ֲהנָ ָא
É proibido alugar uma loja pertencente a um culto .בֹודת ּכֹוכָ ִביםַ ֲלְ ָׂשכְ ָרן ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ְּמ ַהּנֶ ה ע
idólatra, para não se beneficiar assim da idolatria.
13. Quem vender a sua casa para um culto idólatra בֹודת ּכֺוכָ ִבים ָּד ָמיו ַ ֲ ַהּמֹוכֵ ר ַּבית לַ ע.יג
será proibido de usufruir do valor arrecadado com a 1202
. וְ יֹולִ יכֵ ם לְ יָ ם ַה ֶּמלַ ח1201סּורים ַּב ֲהנָ ָאה
ִ ֲא
venda;1201 ele deverá ser levado para o Mar Morto.1202
עֹוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ֶׁש ָאנְ סּו יִ ְׂש ָר ֵאל וְ גָ זְ לּוְ ֲא ָבל
Se, no entanto, idólatras confiscarem a casa de um
judeu contra a sua vontade e colocarem um ídolo בֹודת ּכֹוכָ ִבים ָּד ָמיו ַ ֲֵביתֹו וְ ֶהעֱ ִמידּו בֹו ע
dentro dela, é permitido [aceitar o] o valor [que eles
1203
.ּומעֲ לֶ ה ָבעַ ְרּכָ אֹות ֶׁשּלָ ֶהםַ כֹותבֵ ְ ו.ֻמ ָּת ִרין
oferecerem como indenização. Um judeu] poderá
redigir [um documento de venda] e formalizá-lo de
acordo com os procedimentos do direito civil.1203
14. É proibido utilizar flautas de idólatras em um עֹוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ָאסּור לִ ְסּפֹד ְ וַ ֲחלִ ילִ ין ֶׁשל.יד
funeral. É permitido ir a uma feira comercial pagã e עֹוב ֵדי ּכֺוכָ ִביםְ הֹולְ כִ ין לְ יָ ִריד ֶׁשל.ָּב ֶהן
adquirir animais, escravos e criadas não-convertidos,1204
ּוׁש ָפחֹות ְ לֹוק ִחין ֵמ ֶהם ְּב ֵה ָמה עֲ ָב ִדים ְ ְו
casas, campos e vinhedos. É permitido redigir [um
documento de venda] e formalizá-lo de acordo com os כֹותבֵ ְָּוב ִּתים וְ ָׂשדֹות ּוכְ ָר ִמים ו 1204
גֺויּותן
ָ ְּב
procedimentos do direito civil, visto que isso livra [o ּומעֲ לֶ ה ָבעַ ְרּכָ אֹות ֶׁשּלָ ֶהן ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא ּכְ ַמּצִ יל
ַ
bem] das mãos deles.1205 Quando isso se aplica? Quando לֹוק ַח
ֵ מּורים? ְּב ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא1205.ִמּיָ ָדם
alguém compra de um indivíduo que não precisa pagar ּלֹוק ַח
ֵ ֲא ָבל ַה.נֹותן ֶמכֶ ס ֵ ִמ ַּבעַ ל ַה ַּביִ ת ֶׁש ֵאינֹו
imposto [ao culto idólatra]. No entanto, é proibido
נֹותן ֶמכֶ ס ֵ ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא.ָׁשם ִמן ַה ַּתּגָ ר ָאסּור
comprar de um mercador, pois ele deve pagar imposto
ao culto idólatra, beneficiando assim a idolatria.1206 [As בֹודת ּכֺוכָ ִבים וְ נִ ְמצָ א זֶ ה ְמ ַהּנֶ ה ַ ֲוְ ַה ֶּמכֶ ס לַ ע
regras a seguir se aplicam] quando alguém transgredir עָ ַבר וְ לָ ַקח ִמן ַה ַּתּגָ ר 1206
.בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲע
e fizer alguma compra de um mercador: Se adquirir סֹות ָיה ִמן ָה ַא ְרכֻ ָּבה
ֶ נֹוׁשר ַּפ ְר ֵ ִאם ְּב ֵה ָמה לָ ַקח
animais, será preciso cortar os cascos deles abaixo dos לָ ַקח. וְ ִאם ּכְ סּות וְ כֵ לִ ים לָ ַקח יִ ְר ָקבּו.ּולְ ַמ ָּטה
tornozelos. Se adquirir roupas ou outros objetos, será
preciso deixá-los apodrecendo. Se adquirir dinheiro ou
1199- Por exemplo, não é permitido proteger-se da chuva ou do sol dentro uma loja dessas.
1200- Avodá Zará 12b. O Rashi lá explica que os adornos são vendidos em lojas que pagam tributos aos sacerdotes gentios.
Assim, a compra desses ou de quaisquer outros produtos acaba beneficiando esses sacerdotes.
1201- Essa lei apresenta um problema em relação à venda de uma sinagoga para os gentios. Muitas vezes os clientes com melhor
perfil para a venda de sinagogas são igrejas. Assim, além das proibições específicas da venda (vide Hilchót Tefilá 11:14, 17), há
também a dificuldade de não poder usufruir do dinheiro recebido. Portanto, é necessário que a venda seja efetuada através de um
intermediário. Mas mesmo empregando tal técnica, esse tipo de transação enfrenta dificuldades haláchicas adicionais.
1202- Vide Capítulo 7, Halachá 9.
1203- Guitín 44a.
1204- Quando adquiridos, esses servos se tornam escravos canaanitas e passam a ser governados pelas leis mencionadas em
Hilchót Issurei Biá, Capítulos 12 e 13.
1205- Avodá Zará 13a.
1206- Ibid. 13b. O Ramá (Iorê Deá 149:4) declara que nos tempos atuais essas proibições não são aplicáveis à maioria dos
países pois a estrutura comercial da economia e o sistema de taxação mudaram e os tributos não são mais pagos diretamente
a igrejas ou idolatrias.
1207- Avodá Zará ibid.
Veshinantam | 107
Rambam: quinta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
utensílios metálicos, será preciso levá-los para o Mar לָ ַקח.ָמעֹות ּוכְ לֵ י ַמ ָּתכֹות יֹולִ יכֵ ם לְ יָ ם ַה ֶּמלַ ח
Morto. Se adquirir um servo, é proibido participar do 1207
.מֹור ִידיןִ עֶ ֶבד ל ֹא ַמעֲ לִ ים וְ ל ֹא
içamento [do servo de um fosso] ou do arriamento
dele para dentro.1207
15. É proibido usufruir da festa [de casamento] que עֹובד ּכֺוכָ ִבים ֶׁשעָ ָׂשה לִ ְבנֹו אֹו לְ ִבּתֹו ֵ .טו
um idólatra fizer para um filho ou filha. Um judeu וַ ֲא ִפּלּו לֶ ֱאכֹל.ִמ ְׁש ֶּתה ָאסּור לֵ ָהנֹות ִמ ְּסעֻ ָדתֹו
não pode sequer comer e beber a sua própria comida
הֹואילִ וְ לִ ְׁשּתֹות ַהּיִ ְׂש ָר ֵאל ִמ ֶּׁשּלֹו ָׁשם ָאסּור
lá, por ser [proibido] consumi-la em uma festa de
idólatras.1208 A partir de quando é proibido comer ּומ ֵא ָימ ַתיֵ 1208.עֹוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ֲאכָ לֹו ְ ִּוב ְמ ִס ַּבת
lá? A partir do início da preparação do banquete, ָאסּור לֶ ֱאכֹל ֶאצְ לֹו? ִמ ֶּׁשּיַ ְת ִחיל לַ עֲ סֹק ּולְ ָהכִ ין
durante toda a duração da festa e trinta dias depois צָ ְרכֵ י ְסעֻ ָדה וְ כָ ל יְ ֵמי ַה ִּמ ְׁש ֶּתה ּולְ ַא ַחר יְ ֵמי
[do término] da festa. [Além disso], é proibido וְ ִאם עָ ָׂשה ְסעֻ ָדה.לׁשים יֹום ִ ַה ִּמ ְׁש ֶּתה ְׁש
[tomar parte] de outro banquete feito para celebrar
לׁשים ִ ּׂשּואין ֲא ִפּלּו לְ ַא ַחר ְׁש ִ ִַא ֶח ֶרת ֵמ ֲח ַמת ַהּנ
o casamento, mesmo depois de 30 dias e enquanto
não decorrerem 12 meses.1209 Esse rigor foi imposto וְ כָ ל1209.יֹום ָאסּור עַ ד ְׁשנֵ ים עָ ָׂשר ח ֶֹדׁש
devido à adoração de ídolos,1210 pois está dito:1211 בֹודה ֶׁשל ּכֹוכָ ִבים ָ ֲַה ַה ְר ָח ָקה ַהּזֺאת ִמ ְּפנֵ י ע
“E ele te chamará e tu comerás do seu sacrifício, e "וְ ָק ָרא לְ ָך וְ ָאכַ לְ ָּת1211 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1210.הּוא
tomarás das filhas dele para teus filhos e se desviarão ."ִמּזִ ְבחֹו וְ לָ ַק ְח ָּת ִמ ְּבנ ָֹתיו לְ ָבנֶ יָך וְ זָ נּו וְ גֺו׳
as filhas deles atrás de seus deuses e farão os teus
filhos desviar atrás de seus deuses”.
16. Uma mulher judia não pode amamentar o filho ֶ ַּבת יִ ְׂש ָר ֵאל ל ֹא ֵתנִ יק ֶאת ְּבנָ ּה ֶׁשל.טז
עֹוב ֶדת
de uma idólatra, uma vez que, ao fazê-lo, [participa .בֹודת ּכֺוכָ ִבים
ַ ֲּכֺוכָ ִבים ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ְּמגַ ֶּדלֶ ת ֵּבן לַ ע
da] criação de um filho que acabará sendo idólatra. .עֹוב ֶדת ּכֺוכָ ִבים
ֶ וְ ל ֹא ְתיַ ּלֵ ד ֶאת ַהּנָ כְ ִרית
Ela não deve servir de parteira para uma idólatra
[sem ser remunerada], mas pode fazê-lo em troca de
1212
.ֲא ָבל ְמיַ ּלֶ ֶדת ִהיא ְּב ָׂשכָ ר ִמּׁשּום ֵא ָיבה
remuneração, para evitar conflitos.1212 Uma mulher עֹוב ֶדת ּכֺוכָ ִבים ְמיַ ּלֶ ֶדת ֶאת ַּבת ֶ וְ ַהּנָ כְ ִרית
idólatra pode servir de parteira para uma judia e ׁשּותּה ּכְ ֵדי
ָ ִּב ְר 1213
ּּומנִ ָיקה ֶאת ְּבנָ ה ְ יִ ְׂש ָר ֵאל
amamentar o filho dela1213 [desde que] em locais .ֶׁשּל ֹא ַת ַה ְרגֶ ּנּו
pertencentes a judeus, para evitar que a mulher
idólatra mate a criança.
17. É proibido tratar de negócios com gentios que בֺודת ּכֺוכָ ִבים ָאסּור ַ ֲ ַההֹולְ כִ ין לַ ַת ְרּפּות ע.יז
estiverem a caminho de lugares infames onde se וְ הּוא. וְ ַה ָּב ִאים ֻמ ָּת ִרין.לָ ֵׂשאת וְ לָ ֵתת עִ ָּמ ֶהן
adoram ídolos, mas é permitido tratar de negócios ׁשּורין
ִ ֶׁש ִאם ָהיּו ְק.ׁשּורין זֶ ה ָבזֶ ה ִ ֶׁשּל ֹא יִ ְהיּו ְק
Veshinantam | 108
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com eles quando estiverem voltando, desde que não יִ ְׂש ָר ֵאל ַההֹולֵ ְך1214.ֶׁש ָּמא ַּדעְ ָּתם לַ ֲחזֹר
estejam juntos em uma caravana – pois se estiverem ַּב ֲהלִ יכָ ה ֻמ ָּתר- בֺודת ּכֺוכָ ִבים ַ ַלַ ַת ְרּפּות ע
em uma caravana, eles poderão mudar de ideia לָ ֵׂשאת וְ לָ ֵתת עִ ּמֹו ֶׁש ָּמא יַ ֲחזֹר ּבֹו ַּוב ֲחזִ ָירה
e retornar.1214 Se um judeu estiver a caminho de
lugares infames onde se adoram ídolos, é permitido מּומר ֵּבין ַּב ֲהלִ יכָ ה ֵּבין ַּב ֲחזִ ָירה
ָ יִ ְׂש ָר ֵאל.ָאסּור
tratar de negócios com ele uma vez que ele poderá
1215
.ָאסּור
mudar de ideia, mas é proibido [tratar de negócios
com ele] quando estiver voltando. [É proibido tratar
de negócios com] um judeu apóstata tanto na ida
[para esses lugares] quanto na volta.1215
18. É proibido tratar de negócios com um judeu בֺודת ּכֺוכָ ִבים ַ ַ יִ ְׂש ָר ֵאל ֶׁש ָהלַ ְך לְ יָ ִריד ֶׁשל ע.יח
que esteja retornando de uma feira de idolatria1216 ֶׁש ָּמא 1216
ַּב ֲחזִ ָירה ָאסּור לָ ֵׂשאת וְ לָ ֵתת עִ ּמֹו
pois talvez ele tenha vendido uma estátua para eles,
בֹודת ַ בֹודת ּכֹוכָ ִבים ָמכַ ר לָ ֶהן ָׁשם ְּוד ֵמי ֲע ַ ֲע
e é proibido usufruir do dinheiro que um judeu
arrecadar com a venda de um ídolo.1217 Por outro
1217
.סּורים ַּב ֲהנָ ָאהִ ּכֹוכָ ִבים ְּביַ ד יִ ְׂש ָר ֵאל ֲא
lado, é permitido usufruir [do valor que] um idólatra ּומ ְּפנֵ י
ִ .עֹובד ּכֺוכָ ִבים ֻמ ָּת ִרין ַּב ֲהנָ ָאה ֵ ְּוביַ ד
[arrecadar com a venda de um ídolo]. É por isso que עֹובד ּכֺוכָ ִבים ַה ָּבא ֵ נֹותנִ ין עִ ם ְ ְנֹוׂש ִאין ו ְ זֶ ה
é permitido tratar de negócios com um idólatra que נֹוׂש ִאין
ְ בֺודת ּכֺוכָ ִבים וְ ֵאין ַ ִַמן ַה ַּת ְרּפּות ֶׁשל ע
estiver retornando de uma feira [de idolatria], mas
.נֹותנִ ין עִ ם יִ ְׂש ָר ֵאל ַה ָּבא ִמן ַה ַּת ְרּפּות ַההּוא ְ ְו
não com um judeu. É proibido tratar de negócios
com um judeu apóstata tanto na ida [para essa feira] מּומר ל ֹא ַב ֲהלִ יכָ תֹו וְ ל ֹא ָ ש ָר ֵאל ֺ ְ ִוְ ל ֹא עִ ם י
quanto na volta. .ַב ֲחזִ ָירתֹו
Veshinantam | 109
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
1218- Consta em Hilchót Melachim 6:1 que quando os judeus declararem guerra a outras nações, eles deverão oferecer a ela
a opção de um acordo de paz. Esse acordo deve obrigá-la: (1) a aceitar observar os sete preceitos outorgados a Noach e seus
descendentes (vide Halachá 6), e (2) a subjugar-se e a pagar tributos aos judeus.
1219- Devarím 7:2.
1220- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 48) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 93) consideram essa como uma das 613 Mitsvót da Torá.
1221- E aceitar o resto das sete leis universais outorgadas a Noach e seus descendentes. Segundo o Rambam, qualquer gentio
a quem for oferecido um acordo de paz por judeus deve aceitar essas sete leis universais. O Raavad e o Ramban só exigem o
aceite dessas leis por gentios que estiverem vivendo em Érets Israêl.
1222- Devarím ibid.
1223- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 50) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 426) consideram essa como uma das 613 Mitsvót
da Torá (vide Halachá 4).
1224- Em Hilchót Rotsêach Ushemirát Hanéfesh, o Rambam explica a derivação dessa lei. A Mitsvá de salvar a pessoa que
estiver em perigo é depreendida do versículo (Vaikrá 19:16): “Não te manterás indiferente sobre o sangue do teu próximo”.
Pode-se inferir daí que essas leis são aplicáveis apenas ao “teu próximo”, ou seja, a um próximo judeu que não tenha se
rebelado abertamente contra a Torá.
1225- Avodá Zará 26a. O Tossafót em Avodá Zará 26b observa que os nossos sábios declararam: “Mate até o melhor dos
gentios”. Similarmente, como mencionado acima, o Rambam escreve em Hilchót Melachím 8:10 que qualquer gentio que não
aceita as sete leis universais ordenadas a Noach e seus descendentes deve ser morto. Isso, no entanto, tem aplicação apenas em
tempo de guerra ou quando os judeus têm controle sobre os gentios. Mas no exílio ou quando governados por autoridades
gentias, não se pode matar um idólatra apenas por ele ter cometido o pecado da idolatria.
1226- Aqui se refere ao Mossêr (“delator”) que denuncia a gentios vidas ou propriedades judaicas. Consta em Hilchót Teshuvá
3:12 que o delator não merece uma porção no Mundo Vindouro. Em Hilchót Chovêl Umazík, Capítulo 8, o Rambam se
estende sobre o assunto. Nas Halachót 8 e 9 daquele capítulo ele afirma: “É uma Mitsvá matar um traidor aonde quer que
ele se encontre. [Isso se aplica] até nos dias atuais quando casos que envolvem a pena capital nem são julgados. É permitido
matá-lo antes que ele traia [alguém]... Quem matá-lo primeiro será digno de mérito. Mas se o delator alcançar o objetivo
e trair, é proibido matá-lo a menos que se presuma que ele possa voltar a trair novamente”. Os sábios não delegaram essa
responsabilidade apenas aos outros; eles próprios assumiram o cumprimento de Mitsvá, conforme o exemplo relatado em
Bava Kama 117a, quando o Rav Cahana matou um delator na Babilônia.
1227- Conforme explicado no Capítulo 2, Halachá 5, Miním são indivíduos que não creem em D-us, ao passo que Apikorsím
são aqueles que não creem na Torá (Hilchót Teshuvá, 3:7-8).
Veshinantam | 110
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
judeus1228 e por influenciarem as pessoas para longe .' ְּומ ִס ִירין ֶאת ָהעָ ם ֵמ ַא ֲח ֵרי ה1228לְ יִ ְׂש ָר ֵאל
de D-us (assim como o fizeram Ieshu de Natséret e וְ צָ דֺוק ַּוביְ ּתֹוס1229ׁשּוע ַהּנֹוצְ ִרי וְ ַתלְ ִמ ָידיו
ַ ֵ(ּכְ י
seus discípulos,1229 e Tsadók, Baitus e os discípulos 1231
.)""ׁשם ְר ָׁשעִ ים יִ ְר ָקב
ֵ 1230
וְ ַתלְ ִמ ֵיד ֶיהם
deles;1230 que o nome dos malvados apodreça).1231
2. Do acima exposto podemos depreender que é ְ ִמּכָ אן ַא ָּתה לָ ֵמד ֶׁש ָאסּור לְ ַרּפֹאת.ב
עֹוב ֵדי
proibido oferecer tratamento médico a um idólatra, וְ ִאם ָהיָ ה ִמ ְתיָ ֵרא1232.ּכֹוכָ ִבים ֲא ִפּלּו ְּב ָׂשכָ ר
mesmo em troca de remuneração.1232 No entanto, חֹוׁשׁש ִמּׁשּום ֵא ָיבה ְמ ַר ֵּפא
ֵ ֵמ ֶהן אֹו ֶׁש ָהיָ ה
por temor das consequências dessa atitude ou por
receio de que isso gere rancor, eles poderão ser
1234
ּתֹוׁשב
ָ וְ גֵ ר. ֲא ָבל ְּב ִחּנָ ם ָאסּור.ְּב ָׂשכָ ר
1233
tratados em troca de pagamento; mas tratá-los de ְמ ַר ְּפ ִאים1236הֹואיל וְ ַא ָּתה ְמצֻ ּוֶ ה לְ ַה ֲחיֹותֹו ִ
graça é proibido.1233 Um Guêr Tosháv1234 pode receber 1235
.אֹותֹו ְּב ִחּנָ ם
tratamento médico gratuito,1235 uma vez que somos
ordenados a garantir o seu bem-estar.1236
3. É proibido vender-lhes casas e terrenos em Érets ֵאין מֹוכְ ִרין לָ ֶהם ָּב ִּתים וְ ָׂשדֹות ְּב ֶא ֶרץ.ג
Israêl,1237 mas na Síria1238 é permitido vender-lhes מֹוכְ ִרין לָ ֶהם ָּב ִּתים1238סּוריָ ה ְ ְּוב1237.יִ ְׂש ָר ֵאל
casas mas não terrenos; e é permitido alugar-lhes casas ּומ ְׂשּכִ ִירין לָ ֶהם ָּב ִּתים ְּב ֶא ֶרץ
ַ .ֲא ָבל ל ֹא ָׂשדֹות
em Érets Israêl, contanto que eles não estabeleçam um
bairro [de idólatras]. Um bairro não é constituído por
וְ ֵאין.יִ ְׂש ָר ֵאל ִּובלְ ַבד ֶׁשּל ֹא יַ עֲ ׂשּו ְׁשכּונָ ה
menos do que três [casas]. No entanto, é proibido וְ ֵאין ַמ ְׂשּכִ ִירין לָ ֶהם.לׁשה ָ ְׁשכּונָ ה ָּפחֺות ִמ ְּׁש
alugar-lhes terrenos [em Érets Israêl]. Na Síria é ּומ ְּפנֵ י
ִ .סּוריָ ה ַמ ְׂשּכִ ִירין לָ ֶהם ָׂשדֹות
ְ ְּוב.ָׂשדֹות
Veshinantam | 111
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
permitido alugar-lhes terrenos. Por que [os sábios .ַמה ֶה ֱח ִמירּו ַב ָּׂש ֶדה? ִמ ְּפנֵ י ֶׁשּיֵ ׁש ָּבּה ְׁש ַּתיִ ם
determinaram] leis mais severas sobre terrenos? נֹותן לָ ֶהם ֲחנָ יָ הֵ ְ ו1239ַמ ְפ ִקיעָ ּה ִמן ַה ַּמעְ ְׂשרֹות
Porque com relação a eles há dois complicadores: a ּומ ָּתר לִ ְמּכֹר לָ ֶהם ָּב ִּתים וְ ָׂשדֹות ֻ 1240.ַב ַּק ְר ַקע
isenção da obrigação dos dízimos1239 e a entrega para
eles de um lugar para se instalarem em nossa terra.1240
1241
.ְּבחּוצָ ה לָ ָא ֶרץ ִמ ְּפנֵ י ְׁש ֵאינָ ּה ַא ְרצֵ נּו
É permitido vender-lhes casas e terrenos na diáspora,
por não ser nossa terra.1241
4. Mesmo nos casos1242 em que alugar [casas para ל ֹא1243 ֶׁש ִה ִּתירּו לְ ַה ְׂשּכִ יר1242 ַאף ַּב ָמקֹום.ד
idólatras]1243 é permitido, para uso habitacional é ִמ ְּפנֵ י ֶׁשהּוא ַמכְ נִ יס1244.לְ ֵבית ִּד ָירה ִה ִּתירּו
proibido locá-las,1244 para que não sejam trazidos "וְ ל ֹא1246 וְ נֶ ֱא ַמר1245בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲלְ תֹוכָ ּה ע
ídolos dentro delas,1245 pois está dito:1246 “Não trarás
abominação à tua casa”. É, no entanto, permitido
ֲא ָבל ַמ ְׂשּכִ יר לָ ֶהם."ָת ִביא תֹועֵ ָבה ֶאל ֵּב ֶיתָך
alugar-lhes casas para serem usadas como galpões de וְ ֵאין מֹוכְ ִרין לָ ֶהם ֵּפרֹות.ׂשֹותם אֹוצָ ר ָ ֲָּב ִּתים לַ ע
armazenagem. É proibido vender-lhes frutas, grãos 1247
.בּואה וְ כַ ּיֹוצֵ א ָּב ֶהם ִּב ְמ ֻח ָּבר לַ ַּק ְר ַקע
ָ ְּות
ou outros produtos enquanto estiverem fincados ֲא ָבל מֹוכֵ ר הּוא ִמ ֶּׁשּיָ קֹץ אֹו מֹוכֵ ר לֹו עַ ל
ao solo.1247 Eles poderão ser vendidos depois de ּומ ְּפנֵ י ָמה ֵאין מֹוכְ ִרין ִ 1248.ְמנָ ת לָ קֹץ וְ קֹוצֵ ץ
colhidos ou [até mesmo antes de serem colhidos] sob
a condição de que sejam colhidos e [o gentio] faça a
ל ֹא 1250
." "וְ ל ֹא ְת ָחּנֵ ם1249לָ ֶהן? ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
colheita.1248 Por que é proibido vender-lhes [terras ou ֶׁש ִאם ל ֹא יִ ְהיֶ ה1251ִת ֵּתן לָ ֶהם ֲחנָ יָ ה ַב ַּק ְר ַקע
qualquer coisa fincada ao solo]? Porque está dito:1249 1252
.לָ ֶהם ַק ְר ַקע יְ ִׁש ָיב ָתן יְ ִׁש ַיבת ֲע ַראי ִהיא
“Não tenha misericórdia deles”. [Essa frase1250 לֹומר ּכַ ָּמה
ַ וְ כֵ ן ָאסּור לְ ַס ֵּפר ְּב ִׁש ְב ָחן וַ ֲא ִפּלּו
também pode ser interpretada assim]: “Não lhes dê
um lugar para se instalarem na terra”,1251 ou seja –
se eles não possuírem terrenos, a estadia deles será
temporária.1252 Também é proibido tecer elogios [a
idólatras]. É proibido até mesmo dizer: “Como é bela
1239- O que removeria uma fonte de suporte aos sacerdotes e necessitados e impediria a observância das Mitsvót relacionadas
às plantações de Érets Israêl. Em Hilchót Terumót 1:10-12 consta que mesmo se uma pequena porção de Érets Israêl for
possuída por um gentio, todas as obrigações agriculturais permanecerão válidas, a não ser que o gentio realize todo o trabalho
da colheita e do preparo para venda.
1240- Vide a próxima Halachá.
1241- O Shulchan Aruch, Iorê Deá 151:9 (baseado no Tur), proíbe a venda de casas a gentios em uma vizinhança judaica.
Segundo os comentaristas, essa proibição visa impedir que os gentios façam mal aos judeus. Essa proibição é mencionada
com frequência por autoridades rabínicas contemporâneas para tentar impedir os judeus de migrarem dos bairros judaicos
em áreas metropolitanas que estiverem em processo de transformação.
1242- Mishná Avodá Zará 1:9.
1243- Em Érets Israêl ou na diáspora (Beit Iossêf, Iorê Deá 151). Segundo o Siftei Cohên (Iorê Deá 151:16), a opinião do Tossafót
e do Rabênu Nissim é que essa proibição só incide em Érets Israêl.
1244- O Beit Iossêf (loc. cit.) explica que na diáspora só é proibido vender uma casa a uma idolatria, e não a um idólatra; uma
vez que a casa deixe de pertencer a um judeu, este deixa de ser responsável pelo que ocorrer dentro dela.
1245- O Ramá (Iorê Deá 151:10) determina que atualmente não é proibido alugar casas para gentios por não ser mais
costumeiro trazer ídolos para dentro delas. O Siftei Cohên (loc. cit.), embora não rejeite a opinião do Ramá de um modo
geral, discorda dele com relação aos gentios de sua vizinhança, comentando que costumam manter ídolos dentro de casa.
1246- Devarím 7:26.
1247- Para que eles não permaneçam em Érets Israêl até depois da colheita.
1248- Mas não é necessário colhê-los imediatamente após a venda (Siftei Cohên 151:14).
1249- Devarím 7:2.
1250- O termo Techanêm tem relação com Chanaiá, que significa “lugar de descanso”.
1251- Avodá Zará 20a menciona essa e outras duas leis que são depreendidas da exegese desse versículo. Das declarações do
Rambam no Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 50) parece que ele considera essas leis como elementos complementares do
preceito da Torá, e não conceitos acrescentados posteriormente pelos sábios.
1252- Conforme o Rambam enfatiza na Halachá 6, até mesmo a presença temporária de idólatras em Érets Israêl é indesejável.
Veshinantam | 112
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
a aparência desse idólatra”;1253 quanto mais enaltecer ַקל וָ ח ֶֹמר1253.צּורתֹו ָ עֺובד ּכֺוכָ ִבים זֶ ה ְּב ֵ נָ ֶאה
os seus feitos ou ter apreço por suas palavras, ֶׁשּיְ ַס ֵּפר ִּב ְׁש ַבח ַמעֲ ָׂשיו אֹו ֶׁשּיְ ַח ֵּבב ָּד ָבר
conforme está dito:1254 “Não tenha misericórdia ל ֹא." "וְ ל ֹא ְת ָחּנֵ ם1254 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ִמ ִּד ְב ֵר ֶיהם
deles”. [Essa frase também pode ser interpretada
assim]: “Não olhe para eles favoravelmente”, pois ּגֹורם לְ ִה ַּד ֵּבק
ֵ ִמ ְּפנֵ י ֶׁש.יִ ְהיֶ ה לָ ֶהם ֵחן ְּבעֵ ינֶ יָך
isso fará com que você se aproxime deles e aprenda וְ ָאסּור 1255
.עִ ּמֹו וְ לִ לְ מֹד ִמ ַּמעֲ ָׂשיו ָה ָרעִ ים
o comportamento perverso deles.1255 [Também está נֹותן הּוא ֵ ֲא ָבל1256.לִ ֵּתן לָ ֶהם ַמ ְּתנַ ת ִחּנָ ם
implícito nessa frase do versículo que] é proibido ֲא ֶׁשר1260 "לַ ּגֵ ר1258 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1257.ּתֹוׁשב ָ לְ גֵ ר
dar-lhes1256 presentes. No entanto, para um Guêr " וַ ֲאכָ לָ ּה אֹו ָמכֹר לְ נָ כְ ִרי1259ִּב ְׁש ָע ֶריָך ִּת ְּתנֶ ּנָ ה
Tosháv é permitido dar presente,1257 pois está dito:1258
“O darás1259 ao peregrino1260 que estiver em teus . ִּב ְמכִ ָירה וְ ל ֹא ִבנְ ִתינָ ה-
portões para que o coma ou o venderás a um gentio”;
[i.e. a um idólatra] “ venderás”, mas não “darás”.
1253- Embora seja permitido louvar D-us por ter feito uma criação tão bonita (Késsef Mishnê; Shulchan Aruch, loc. cit.,
151:14, Orach Chaim 225:10). O Talmud Ierushalmi (Berachót 9:1) relata que após avistar uma mulher gentia bonita, o Raban
Gamliêl recitava uma bênção, louvando D-us por tê-la criado.
1254- Ibid.
1255- Vide Sefer Hachinuch (Mitsvá 426), que explica como nossas falas e ações influenciam o nosso comportamento.
1256- O Siftei Cohên (loc. cit., 151:18) declara que isso é aplicável a todos os gentios, até aos que não praticam idolatria.
1257- Um gentio que tenha aceito as sete leis universais ordenadas a Noach e seus descendentes, conforme explicado na Halachá 6.
1258- Devarím 14:21.
1259- Um animal que morrer sem o devido abate.
1260- Guêr em hebraico.
1261- Mesmo sendo idólatras.
1262- Guitín 62a.
1263- As espigas que caíram do ceifador (vide Vaikrá 19:9, 23:22; Hilchót Matnót Aniím, Capítulo 4).
1264- Feixes de espigas ceifadas deixados no campo por descuido (vide Devarím 24:19; Hilchót Matnót Aniím, Capítulo 5).
1265- Um canto do campo que deve ser deixado sem ser colhido (vide Vaikrá ibid.; Hilchót Matnót Aniím, Capítulos 2 e 3).
Esses três devem ser separados para os pobres em geral.
1266- Quando é grande a probabilidade de que isso os faça dar graças ao deus falso deles.
1267- Segundo determina o Shulchan Aruch, Iorê Deá 151:12, em prol da paz é permitido também visitar os seus doentes,
enterrar os seus mortos e confortar os seus enlutados.
1268- Mesmo nos dias em que eles não comemoram as suas festas (Guitín 62a).
1269- Já que basta cumprimentar uma vez para evitar rancor (Rashi, Guitín ibid).
1270- No texto original figura aqui a palavra Shalom. Por ser um dos nomes de D-us, o termo Shalom não deve ser mencionado
na casa de um gentio no dia em que ele estiver ocupado com a adoração de seu ídolo (Siftei Cohên, Iorê Deá 148:7). Para o
Siftei Cohên, ibid. e 148:12, mesmo quem opina que muitas dessas leis não são aplicáveis na atualidade, considera que essa lei
deve ser observada.
1271- Para evitar rancor.
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6. Tudo o que foi dito acima só vigora quando o povo מּורים ֶאלָ א ִ ֵאין ּכָ ל ַה ְּד ָב ִרים ָה ֵאּלּו ֲא.ו
de Israêl se encontra no exílio em meio a gentios, ou עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים אֹו ְ ִבזְ ַמן ֶׁשּגָ לּו יִ ְׂש ָר ֵאל לְ ֵבין ָה
quando os idólatras estão no poder. Quando, porém, ֲא ָבל ִּבזְ ַמן ֶׁשּיַ ד.עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ַּת ִּק ָיפה
ְ ֶׁשּיַ ד
o povo de Israêl detêm o poder sobre eles, é proibido
ter idólatras entre nós.1272 Até mesmo um residente יִ ְׂש ָר ֵאל ַּת ִּק ָיפה עֲ לֵ ֶיהם ָאסּור לָ נּו לְ ַהּנִ ַיח
temporário ou um mercador que viaja de um lugar יֹוׁשב יְ ִׁש ַיבתֵ וַ ֲא ִפּלּו1272.עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים ֵּבינֵ ינּו
ְ
para outro não deve ser autorizado a atravessar a חֹורה ל ֹא ָ עֹובר ִמ ָּמקֹום לְ ָמקֹום ִּב ְס ֵ עֲ ַראי אֹו
nossa terra enquanto não aceitar as sete leis universais יַ עֲ בֹר ְּב ַא ְרצֵ נּו עַ ד ֶׁשּיְ ַק ֵּבל ָעלָ יו ֶׁש ַבע ִמצְ ֹות
ordenadas a Noach e seus descendentes,1273 conforme "ל ֹא1274 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1273.נֹוח ַ ֶׁשּנִ צְ ַטּוּו ְבנֵ י
está dito:1274 “Eles não se instalarão1275 em tua terra”
– ou seja, nem mesmo temporariamente. A pessoa וְ ִאם. ְּב ַא ְרצְ ָך" ֲא ִפּלּו לְ ִפי ָׁשעָ ה1275יֵ ְׁשבּו
que aceita sobre si a observância dessas sete Mitsvót
1276
.ּתֹוׁשב
ָ ִק ֵּבל עָ לָ יו ֶׁש ַבע ִמצְ ֹות ֲה ֵרי זֶ ה ּגֵ ר
é chamada de Guêr Tosháv.1276 Um Guêr Tosháv só ּיֹובל
ֵ ּתֹוׁשב ֶאלָ א ִּבזְ ַמן ֶׁש ַה
ָ וְ ֵאין ְמ ַק ְּבלִ ין ּגֵ ר
poderá ser aceito quando as [leis do ano de] Iovêl ּיֹובל ֵאין ְמ ַק ְּבלִ ין
ֵ ֲא ָבל ֶׁשּל ֹא ִבזְ ַמן ַה1277.נֹוהג ֵ
(“Jubileu”) estiverem em vigor.1277 Mas quando as 1278
.ֶאלָ א ּגֵ ר צֶ ֶדק ִּבלְ ַבד
[leis do ano de] Iovêl não estiverem em vigor, só
poderá ser aceito quem se converter totalmente [ao
judaísmo, i.e. um Guêr Tsédek].1278
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2. Quando um judeu cortar os cabelos de um עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֶׁש ָהיָ ה ִמ ְס ַּת ֵּפר ִמּיִ ְׂש ָר ֵאל ֵ .ב
idólatra, ele deverá parar de cortar a três dedos em לֹוריתֹו ָקרֺוב ָׁשלׁש ֶאצְ ָּבעֹות ִ ּכֵ יוָ ן ֶׁש ִהּגִ יעַ לִ ְב
torno de toda a Blorít.1290 1290
.ׁשֹומט ֶאת יָ דֹו
ֵ רּוח ַ לְ כָ ל
3. Se um indivíduo judeu que detém cargo importante יׁשב ֵ ֵ יִ ְׂש ָר ֵאל ֶׁש ָהיָ ה ָקרֹוב לַ ַּמלְ כּות וְ צָ ִריְך ל.ג
em um reino gentio precisar se apresentar diante do לִ ְפנֵ י ַמלְ כֵ ֶיהם וְ ָהיָ ה לֹו ּגְ נַ אי לְ ִפי ֶׁשּל ֹא יִ ְד ֶמה
rei e tiver vergonha de não se assemelhar aos outros, ּבּוׁש ֶיהם ּולְ גַ ּלֵ ַח
ֵ ְלָ ֶהם ֲה ֵרי זֶ ה ֻמ ָּתר לִ לְ ּבֹׁש ְּב ַמל
é permitido que use roupas iguais às deles e raspe os
cabelos da frente da cabeça à maneira deles.1291
1291
.עֹוׂשים
ִ ּכְ נֶ גֶ ד ָּפנָ יו ּכְ ֶד ֶרְך ֶׁש ֵהן
4. É proibido1292 praticar superstição como os idólatras .עֺובד ּכֺוכָ ִבים ֵ ְ ּכ1292 ֵאין ְמנַ ֲח ִׁשין.ד
o fazem, pois está dito: “Não augurareis”. O
1293 1294
ּכֵ יצַ ד הּוא1294." "ל ֹא ְתנַ ֲחׁשּו1293ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
que é superstição? É quando alguém diz: “Já que o הֹואיל וְ נָ ְפלָ הִ אֹומ ִרים ְ ַהּנַ ַחׁש? ּכְ גֹון ֵאּלּו ֶׁש
pedaço de pão caiu da minha boca, ou a bengala
caiu da minha mão, eu não viajarei hoje para aquele ִפ ִּתי ִמ ִּפי אֹו נָ ַפל ַמ ְקלִ י ִמּיָ ִדי ֵאינִ י הֹולֵ ְך
lugar, pois se para lá eu for, meus desejos não serão לְ ָמקֹום ְּפלֹונִ י ַהּיֹום ֶׁש ִאם ֵאלֵ ְך ֵאין ֲח ָפצַ י
realizados”. [Ou]: “Já que à minha direita passou uma הֹואיל וְ עָ ַבר ׁשּועָ ל ִמ ִימינִ י ֵאינִ י יֹוצֵ אִ .נַ עֲ ִׂשים
raposa, eu não sairei hoje da minha porta, pois se eu ִמ ֶּפ ַתח ֵּב ִיתי ַהּיֹום ֶׁש ִאם ֵאצֵ א יִ ְפּגָ עֵ נִ י ָא ָדם
sair eu serei alvo de um vigarista”.1295 Similarmente, ּׁשֹומעִ ים צִ ְפצּוף ָהעֹוף ְ וְ כֵ ן ֵאּלּו ֶׁש1295.ַר ַּמאי
[essa categoria inclui] quem ouve o canto de
um pássaro e declara: “Acontecerá isso” ou “Não טֹוב1296.אֹומ ִרים יִ ְהיֶ ה כָ ְך וְ ל ֹא יִ ְהיֶ ה כָ ְך ְ ְו
acontecerá isso”;1296 “Faz bem fazer tal coisa” ou “Faz .לַ עֲ ׂשֹות ָּד ָבר ְּפלֹונִ י וְ ַרע לַ ֲעׂשֹות ָּד ָבר ְּפלֹונִ י
mal fazer tal coisa”. [Ela inclui também] aqueles que אֹומ ִרים ְׁשחֹט ַּת ְרנְ גֺל זֶ ה ֶׁש ָּק ָרא ְ וְ כֵ ן ֵאּלּו ֶׁש
dizem: “Abata esse galo que cantou como um corvo; ְׁשחֹט ַּת ְרנְ גֹלֶ ת זֹו ֶׁש ָּק ְר ָאה.)(עֺור ִביתְ עַ ְר ִבית
abata aquela galinha que cantou como um galo”.1297 וְ כֵ ן ַה ֵּמ ִׂשים ִס ָימנִ ים לְ עַ צְ מֹו1297.ּכְ מֹו ַּת ְרנְ גֹול
1290- Avodá Zará 29a. Um judeu não pode ajudar um gentio a criar uma Blorít, pois esse estilo de corte de cabelos é usado
em ritos pagãos.
1291- O Késsef Mishnê e outros comentaristas citam o exemplo de Avtulos ben Reuvên, que recebeu permissão dos sábios para
cortar os cabelos à maneira dos romanos (Sotá 49b). O Talmud relata em Meilá 17a que um judeu que cortasse seus cabelos
desse jeito não era reconhecido pelos romanos como judeu, podendo assim escapar de decretos dirigidos especificamente ao
povo judeu. Outros explicam que essa Halachá não se refere a alguém que pretendia ocultar a sua identidade judaica, mas a
um judeu que temia comprometer a sua posição comparecendo a um tribunal aparentando ser diferente dos gentios; em um
caso como esse foi permitido cortar, visto que o benefício reverteria para o povo como um todo.
1292- O Rambam dedica as próximas treze Halachót à discussão das proibições de diversas formas de adivinhação, astrologia,
feitiçaria e outros tipos de magia. Ele coloca todas essas proibições sob a categoria geral de leis que proíbem a idolatria, devido
à similaridade conceitual que há entre elas. Em seu Comentário à Mishná (Avodá Zará 4:7) ele explica que chefes tribais
usaram a adoração de ídolos como forma de unir seus povos e desenvolver uma identidade comum. Assim, eles atribuíram
a muitos corpos celestes o nome de um deus e uma personalidade e construíram templos para adorá-los. Foi assim que a
astrologia e a adoração de ídolos cresceram de mãos dadas. Os astrólogos descreviam os motivos e comportamentos dos
“deuses” com base nos movimentos dos corpos celestes, e os adoradores de ídolos criavam diferentes cultos para acalmar e
dar graças a essas divindades fictícias. Conforme afirmado claramente na Halachá 16, o Rambam acreditava que todas essas
magias eram “falsidades e mentiras”, criadas “para atrair os medíocres e levá-los a abandonar todos os caminhos da verdade”.
Ele atribuiu aos praticantes do ocultismo um único poder – o da persuasão, e explicou que a Torá proibiu essas práticas não
por tocarem em forças espirituais de origens indesejáveis, mas por se tratarem de tolices e não trazerem nenhum benefício
(Guia dos Perplexos, Vol. III, Capítulo 29). Por isso, em Iguéret Teimán, ele aconselha os seus leitores a “lavarem das mentes
essas ideias como se lava a sujeira de uma roupa”. A Torá declara em Devarím 18:13: “Tenha plena fé em D-us, teu Senhor”.
Nossa fé em D-us não deve ser uma mera aceitação abstrata de Seu domínio sobre a nossa existência, mas um sentimento
ativo de confiança, que percebe o quão envolvido Ele está em nossa vida cotidiana.
1293- Vaikrá 19:26.
1294- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 33) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 249) consideram essa como uma das 613 Mitsvót
da Torá.
1295- San-hedrín 65b.
1296- Ibid. 66a
1297- Ibid. 67b.
Veshinantam | 116
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
Similarmente, [essa categoria inclui] a pessoa que ִאם יֶ ֱא ַרע לִ י ּכָ ְך וְ כָ ְך ֶאעֱ ֶׂשה ָּד ָבר ְּפלֹונִ י וְ ִאם
pressagia para si mesma, [dizendo] por exemplo: “Se ּכֶ ֱאלִ יעֶ זֶ ר עֶ ֶבד- ל ֹא יֶ ֱא ַרע לִ י ל ֹא ֶאעֱ ֶׂשה
acontecer assim e assim, eu farei aquilo”. [Ou]: “ Se וְ כֵ ן ּכֺל ּכַ ּיֹוצֵ א ַב ְּד ָב ִרים ָה ֵאּלּו1298.ַא ְב ָר ָהם
não acontecer assim e assim, eu não farei aquilo”. É
proibido agir como Eliezer, o servo de Avraham,1298 עֹוׂשה ַמעֲ ֶׂשה ִמ ְּפנֵ י ָּד ָבר ֶ וְ כָ ל ָה.ַהּכֹל ָאסּור
e ter comportamentos similares. Quem executa
1299
.לֹוקהֶ ִמ ְּד ָב ִרים ֵאּלּו
qualquer das opções acima motivado por tais
presságios deve ser [punido com] chibatadas.1299
5. [É diferente quando] a pessoa diz: “Essa casa ִמי ֶׁש ָא ַמר ִּד ָירה זֹו ֶׁש ָּבנִ ִיתי ִס ָימן טֹוב.ה
que eu construí foi um bom sinal para mim”. [Ou]: אתי ְּוב ֵה ָמה זֹו ִ ִא ָּׁשה זֹו ֶׁשּנָ ָׂש.ָהיְ ָתה עָ לַ י
“Essa mulher com quem me casei e esse animal que ֵמעֵ ת ֶׁש ְּקנִ ִית ָיה,ֶׁש ָּקנִ ִיתי ְמב ֶֹרכֶ ת ָהיְ ָתה
eu comprei foram abençoados; desde o momento
em que os adquiri fiquei rico”. O mesmo se aplica
ּׁשֹואל לְ ִתינֹוק ֵאי זֶ ה ָפסּוק ֵ וְ כֵ ן ַה.ֶהעְ ַׁש ְר ִּתי
a quem se alegra e exclama: “Esse é um bom sinal”, לֺומד? ִאם ָא ַמר לֹו ָּפסּוק ִמן ַה ְּב ָרכֹות ֵ ַא ָּתה
quando pergunta a uma criança: “Qual versículo ּכָ ל ֵאּלּו וְ כַ ּיֹוצֵ א.ֹאמר זֶ ה ִס ָימן טֹוב ַ יִ ְׂש ַמח וְ י
você está estudando?” e a criança responde הֹואיל וְ ל ֹא כִ ּוֵ ן ַמעֲ ָׂשיו וְ ל ֹא נִ ְמנַ ע
ִ ָב ֶהן ֻמ ָּתר
recitando um versículo de bênção. É permitido agir ִמּלַ עֲ ׂשֹות ֶאלָ א עָ ָׂשה זֶ ה ִס ָימן לְ עַ צְ מֹו לְ ָד ָבר
dessas maneiras ou de maneiras similares, uma vez
que a pessoa nem toma nem deixa de tomar uma
. ֲה ֵרי זֶ ה ֻמ ָּתר1300ֶׁשּכְ ָבר ָהיָ ה
atitude [por causa do augúrio]. Tudo o que ela faz
é considerar algo já acontecido como sendo um
sinal;1300 é por isso que é permitido.
6. O que se entende por mago? É quem executa עֹוׂשה ַמעֲ ֶׂשה ִמ ְּׁש ָאר ֶ קֹוסם? זֶ ה ָה ֵ ֵאיזֶ הּו.ו
determinados procedimentos até atingir um estado ַה ַּמעֲ ִׂשּיֹות ּכְ ֵדי ֶׁשּיִ ּׁשֹם וְ ִת ָּפנֶ ה ַמ ֲח ַׁש ְבּתֹו ִמּכָ ל
de transe, ficando com a mente limpa de qualquer ֹאמר ְּד ָב ִרים ֶׁש ֲע ִת ִידין לִ ְהיֹות ַ ַה ְּד ָב ִרים עַ ד ֶׁשּי
pensamento para então predizer o futuro, dizendo:
“Acontecerá isso” ou “Isso não acontecerá”, ou .ֹאמר ָּד ָבר ְּפלֹונִ י עָ ִתיד לִ ְהיֹות אֹו ֵאינֹו הֺוֶ ה ַ וְ י
dizendo: “É bom que façam isso, cuidem de fazê- .ֹאמר ֶׁש ָראּוי לַ עֲ ׂשֹות ּכֵ ן וְ ִהּזָ ֲהרּו ִמּכָ ְך ַ אֹו ֶׁשּי
lo”! Há magos que manipulam areia ou pedras [para ּקֹוס ִמין ֶׁשהּוא ְמ ַמ ְׁש ֵמׁש ְּבחֹול אֹו ְ יֵ ׁש ִמן ַה
obter as suas respostas]. Outros se prostram no chão, .ּגֹוהר לָ ָא ֶרץ וְ יָ נּועַ וְ צֹועֵ ק
ֵ וְ יֵ ׁש ִמי ֶׁש.ַב ֲא ָבנִ ים
fazem movimentos bizarros e gritam. Outros olham וְ יֵ ׁש ִמי ֶׁש ִּמ ְס ַּתּכֵ ל ְּב ַמ ְר ָאה ֶׁשל ַב ְרזֶ ל אֹו
para um espelho de metal ou de cristal, representam
e falam. Outros ainda se apoiam em um bastão e נֺוׂשאֵ וְ יֵ ׁש ִמי ֶׁש.אֹומ ִרים ְ ְּומ ַד ִּמין ו ְ ַבעֲ ָׁש ִׁשית
batem nele até que entram em estado de transe e ּומּכֶ ה בֹו עַ ד ֶׁש ִּת ָּפנֶ הַ ַמ ֵּקל ְּביָ דֹו וְ נִ ְׁשעָ ן עָ לָ יו
1298- Chulín 95b. Eliezer confiou em um pressentimento, conforme consta (Bereshit 24:14): “E será [que] à moça a quem eu
disser: ‘Abaixa teu cântaro e eu beberei’, e ela responder: ‘Bebe, e também darei de beber a teus camelos’ – é ela quem destinaste
para teu servo Itschak, e por ela saberei que fizeste bondade com meu senhor”.
1299- A punição é administrada não por se ter especificado que um determinado evento serviria de presságio, mas por se ter
executado um ato tendo esse presságio como motivação.
1300- Os comentaristas apontam para Chulín 95b, onde está relatado o seguinte episódio: O Rav Iochanán estava ponderando
se deveria mudar para a Babilônia, para estudar sob a tutela do sábio Shemuel. Ao passar por um menino que estudava Torá
ele perguntou qual versículo ele estava aprendendo, e o menino respondeu que era Shemuel I 28:3, “E Shemuel morreu”.
Por causa dessa resposta, o Rav Iochanán cancelou os planos da viagem. Há histórias similares no Talmud. A maioria dos
comentaristas explica que os sábios não tomavam decisões baseados nas respostas das crianças, mas usavam as respostas
como reforço para decisões previamente tomadas. Já o Rabênu Nissim considera que por constar em Bava Batra 12b: “Às
crianças foi outorgada uma sombra de profecia”, é permitido usar a resposta de uma criança como presságio.
Veshinantam | 117
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
7. É proibido praticar magia1303 ou consultar um ֶאלָ א.ּקֹוסם ֵ ַ וְ לִ ְׁשאֹל ל1303 ָאסּור לִ ְקסֹם.ז
mago. Quem consulta um mago deve [ser penalizado 1304
ּקֹוסם ַמּכִ ין אֹותֹו ַמּכַ ת ַמ ְרּדּות
ֵ ַּׁשֹואל ל
ֵ ֶׁש ַה
com] “chicotadas por insubordinação”.1304 Já o mago, ּקֹוסם עַ צְ מֹו ִאם עָ ָׂשה ַמעֲ ֶׂשה ִמּכָ ל ֵ ֲא ָבל ַה
se tiver executado qualquer das opções acima ou
qualquer ato dessa natureza, deve ser [punido com]
"ל ֹא1305 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לֹוקה ֶ ֵאּלּו וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן
chibatadas, conforme está dito:1305 “Que não seja ."יִ ָּמצֵ א ְבָך ַמעֲ ִביר ְּבנֺו וְ גֺו׳ ק ֵֹסם ְק ָס ִמים
achado no meio de ti... aquele que pratica magia”.
9. É proibido praticar (esse tipo de) adivinhação.1307 ַאף ַעל ִּפי ֶׁשּל ֹא עָ ָׂשה1307. ָאסּור לְ עֹונֵ ן.ט
[Isso se aplica] até quando não se executa um ato, אֹותן ַהּכְ ִזָבים ֶׁש ַהּכְ ִסילִ ים
ָ ַהֹודיע ִ ַמעֲ ֶׂשה ֶאלָ א
mas apenas se conta falsidades que para os tolos
וְ כָ ל.ְמ ַד ִּמין ֶׁש ֵהן ִּד ְב ֵרי ֱא ֶמת וְ ִד ְב ֵרי ֲחכָ ִמים
representam palavras de verdade e sabedoria. Quem
age baseado em um cálculo astrológico ou adequa עֹוׂשה ִמ ְּפנֵ י ָה ִאצְ ַטגְ נִ ינּות וְ כִ ּוֵ ן ְמלַ אכְ ּתֹו אֹו
ֶ ָה
o seu trabalho ou as suas viagens a um dia sugerido הֹוב ֵרי ָׁש ַמיִ ם
ְ ֲהלִ יכָ תֹו ְּבאֹותֹו ָהעֵ ת ֶׁש ָּק ְבעּו
Veshinantam | 118
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pelos astrólogos deve ser [punido com] chibatadas,1308 ." "וְ ל ֹא ְתעֹונֵ נּו1309 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1308.לֹוקה
ֶ ֲה ֵרי זֶ ה
pois está dito:1309 “Não prognosticareis”. Também está רֹואים
ִ ּומ ַד ֶּמה ִּב ְפנֵ י ָה
ְ אֹוחז ֶאת ָהעֵ ינַ יִ ם
ֵ וְ כֵ ן ָה
incluído no âmbito dessa proibição quem executa 1310
עֺוׂשה ַמעֲ ֵׂשה ִת ָּמהֹון וְ הּוא ל ֹא עָ ָׂשה ֶ ֶׁש
truques de mágica e engana aqueles que o observam,
levando-os a pensar que faz maravilhas, embora não
1311
.לֹוקה
ֶ ְֲה ֵרי זֶ ה ִּבכְ לָ ל ְמעֹונֵ ן ו
as faça.1310 Ele também é considerado Meonên e deve
ser [punido com] chibatadas.1311
11. Se algué m tiver sido mordido por um escorpião ִמי ֶׁשּנְ ָׁשכֹו עַ ְק ָרב אֹו נָ ָחׁש ֻמ ָּתר לִ לְ חֹׁש.יא
ou por uma cobra, é permitido recitar encantamentos ּכְ ֵדי1315עַ ל ְמקֹום ַהּנְ ִׁשיכָ ה וַ ֲא ִפּלּו ְּב ַּׁש ָּבת
sobre a mordida até mesmo em Shabat,1315 com o intuito ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ֵאין.לְ יַ ֵּׁשב ַּד ְעּתֹו ּולְ ַחּזֵ ק לִ ּבֹו
de acalmar a sua mente e fortalecer os seus sentimentos.
1308- As declarações do Rambam aqui (e mais explicitamente no Sefer Hamitsvót) implicam que tanto o adivinho quanto o
seu seguidor transgridem essa proibição. Mas só o adivinho é punido com chibatadas.
1309- Vaikrá 19:26.
1310- No Sefer Hamitsvót (ibid.), o Rambam descreve essa pessoa como alguém que faz truques com mãos hábeis, e apresenta
alguns exemplos: uma pessoa que pega uma corda, coloca-a em sua capa e a retira depois de tê-la “transformado” em uma
cobra; uma pessoa que joga anéis no ar e em seguida os retira da boca de algum presente. O Siftei Cohên (Iorê Deá 179:17)
determina, com base em tais declarações, que os ilusionismos praticados pelos “mágicos” contemporâneos são proibidos.
1311- San-hedrín 65b.
1312- Não se aplica punição sem a realização de um ato de transgressão, e falar não é geralmente considerado um ato. Assim,
a não ser que o encantador realize concomitantemente um ato, ele não deverá ser punido com chibatadas.
1313- Devarím 18:10-11.
1314- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 35) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 512) consideram essa proibição como uma das
613 Mitsvót da Torá.
1315- Dia em que a conversa supérflua é proibida (Késsef Mishnê).
Veshinantam | 119
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
Embora [os encantamentos] sejam inúteis, como a ּומ ֻסּכָ ן הּוא ִה ִּתירּו
ְ הֹואילִ ַה ָּד ָבר מֹועִ יל ּכְ לּום
vítima corre risco de vida é concedida permissão, para 1316
.לֹו ּכְ ֵדי ֶׁשּל ֹא ִת ָּט ֵרף ַּדעְ ּתֹו עָ לָ יו
que ela não fique excessivamente perturbada.1316
13. O que se entende por “quem consulta os mortos”? ּדֹורׁש ֶאל ַה ֵּמ ִתים? זֶ ה ַה ַּמ ְרעִ יב ֶאת ֵ ֵאיזֶ הּו.יג
É alguém que se priva de alimentação e dorme em um עַ צְ מֹו וְ הֹולֵ ְך וְ לָ ן ְּב ֵבית ַה ְּק ָברֹות ּכְ ֵדי ֶׁשּיָ בֺא
cemitério para que um falecido lhe apareça em sonho 1322
.יֹודיעֹו ַמה ֶׁש ָׁש ַאל עָ לָ יו ִ ְֵמת ַּב ֲחלֹום ו
e responda às suas perguntas.1322 Há outros que vestem
roupas especiais, recitam encantamentos, queimam ּבּוׁשים יְ דּועִ ים
ִ ְלֹוב ִׁשים ַמל
ְ וְ יֵ ׁש ֲא ֵח ִרים ֶׁש ֵהם
um determinado tipo de incenso e dormem sozinhos, ּומ ְק ִט ִירין ְקט ֶֹרת יְ דּועָ ה ַ אֹומ ִרים ְּד ָב ִרים ְ ְו
para que um falecido venha a eles e converse com eles יׁשנִ ים לְ ַב ָּדן ּכְ ֵדי ֶׁשּיָבֹוא ֵמת ְּפלֹונִ י וִ ַיס ֵּפר ֵ ִו
em sonho. A regra geral é: Qualquer um que execute עֹוׂשה ּכְ ֵדי
ֶ ּכְ לָ לֹו ֶׁשל ָּד ָבר ּכָ ל ָה.עִ ּמֹו ַּב ֲחלֹום
um ato que tenha como intuito trazer um falecido para
"ל ֹא1323 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לֹוקה ֶ יֹודיעֹו ִ ְֶׁשּיָ בֺא ַה ֵּמת ו
prestar informações deve ser [punido com] chibatadas,
conforme está dito:1323 “Que não seja achado no meio
1324
."יִ ָּמצֵ א ְבָך ַמעֲ ִביר וְ גֺו׳ וְ ד ֵֹרׁש ֶאל ַה ֵּמ ִתים
de ti quem faça passar... ou que consulta os mortos”.1324
1316- Os comentaristas explicam que embora isso envolva uma transgressão, é permitido violar a lei diante de perigo de vida.
O efeito placebo do encantamento é necessário para permitir à pessoa superar a ameaça do veneno; por isso, ele é permitido
especificamente nesse caso. Mas segundo o Rav Kapach, até em caso de perigo de vida somos proibidos de chamar alguém
para fazer um encantamento; a intenção do Rambam aqui (baseado em San-hedrín 101a) é que com o intuito de acalmar os
sentimentos da vítima, é permitido fingir recitar encantamentos sobre a mordida (sabendo que não levará a nada).
1317- Em Hilchót Teshuvá 3:8 o Rambam afirma que a pessoa que renega a Torá não receberá uma porção no Mundo
Vindouro. O Talmud declara em San-hedrín 90a que a pessoa que sussurra um encantamento sobre uma ferida e cospe em
seguida, e então recita um versículo da Torá, não receberá uma porção no Mundo Vindouro.
1318- Mishlei 3:22.
1319- O Siftei Cohên 179:18 explica que a proibição só incide no caso de quem espera que o poder místico dos versículos
baste para curar. Se, no entanto, D-us for considerado a fonte de todas as curas e os versículos forem recitados com o intuito
de incrementar os méritos do doente, não há nada contra recitá-los.
1320- Os nossos sábios dedicaram extensas explicações quanto ao mérito sem igual da recitação de Tehilím (“Salmos”). Em
todas as comunidades judaicas ao redor do mundo, sempre que ocorre um perigo para um indivíduo ou para a comunidade,
costuma-se recitar capítulos de Tehilím. Algumas comunidades costumam recitar alguns capítulos diariamente, segundo uma
divisão que possibilita concluir o livro inteiro ao longo de um mês.
1321- Como exemplo dessa prática os comentaristas citam a recitação do Shemá antes de dormir (vide também Shevuót 15b;
Hilchót Tefilá 7:2).
1322- San-hedrín 65b. O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 38) afirma que os médiuns que tentam contatar pessoas mortas
estão “na verdade mortos, embora comam e sejam sensitivos”.
1323- Devarím 18:10-11.
1324- O Sefer Hamitsvót (ibid.) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 515) consideram essa proibição como uma das 613 Mitsvót da Torá.
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Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
14. É proibido consultar alguém que pratique . ָאסּור לִ ְׁשאֹל ַּבעַ ל אֹוב אֹו ַבעַ ל יִ ְּדעֹונִ י.יד
[necromancia com um] Óv ou Idoní, pois está "ל ֹא יִ ָּמצֵ א ְבָך ַמעֲ ִביר וְ גֺו׳ וְ ׁש ֵֹאל1325ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
dito:1325 “Que não seja achado no meio de ti quem את לָ ֵמד ֶׁש ַּבעַ ל אֹוב ָ ֵ נִ ְמצ1326."אֹוב וְ יִ ְּדעֹנִ י
faça passar... ou que consulta um Óv ou um Idoní”.1326
Depreende-se disso que o necromante de Óv ou Idoní וְ יִ ְּדעֹונִ י עַ צְ ָמן ִּב ְס ִקילָ ה וְ ַהּנִ ְׁש ָאל ָּב ֶהן ְּב ַאזְ ָה ָרה
deve ser [punido com execução por] apedrejamento, וְ ִאם ּכִ ּוֵ ן ַמעֲ ָׂשיו.ּומּכִ ין אֹותֹו ַמּכַ ת ַמ ְרּדּות ַ
e o consulente deve ser [punido com] “chicotadas 1327
.לֹוקהֶ וְ עָ ָׂשה ּכְ ִפי ַמ ֲא ָמ ָרן
por insubordinação” por transgredir um preceito
negativo. Quem planeja as suas atividades e ações
de acordo com as instruções deles deve ser [punido
com] chibatadas.1327
15. Um feiticeiro que tiver feito feitiçaria deverá וְ הּוא ֶׁשעָ ָׂשה1328. ַה ְּמכַ ֵּׁשף ַחּיָב ְס ִקילָ ה.טו
ser punido [com execução por] apedrejamento. 1328
אֹוחז ֶאת ָהעֵ ינַ יִ ם ֵ ֲא ָבל ָה.ַמעֲ ֶׂשה כְ ָׁש ִפים
Caso ele tenha meramente iludido os espectadores,
לֹוקהֶ וְ הּוא ֶׁשּיֵ ָר ֶאה ֶׁשעָ ָׂשה וְ הּוא ל ֹא ָע ָׂשה
fazendo-os achar que praticou [feitiçaria] embora na
verdade não a tenha praticado, deverá ser [punido ִמ ְּפנֵ י ֶׁשּלַ או זֶ ה ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1329.ַמּכַ ת ַמ ְרּדּות
com] “chicotadas por insubordinação”,1329 pois a "ל ֹא יִ ָּמצֵ א ְבָך" הּוא וְ לַ או1330ִּב ְמכַ ֵּׁשף ִּבכְ לָ ל
proibição contra a feitiçaria faz parte da proibição:1330 לֹוקין
ִ ֶׁשּנִ ַּתן לְ ַאזְ ָה ַרת ִמ ַיתת ֵּבית ִּדין הּוא וְ ֵאין
“Que não seja achado no meio de ti... [nem 1332
.""מכַ ֵּׁש ָפה ל ֹא ְת ַחּיֶ ה
ְ 1331 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.עָ לָ יו
feiticeiro]”. Ela é, no entanto, uma proibição punível
com execução pelo tribunal, pois está dito:1331 “Não
deixarás a feiticeira viver”. [Consequentemente], por
essa transgressão não se é punido com chibatadas.1332
16. Todas os tópicos mencionados acima são ְּוד ָב ִרים ָה ֵאּלּו ּכֻ ּלָ ן ִּד ְב ֵרי ֶׁש ֶקר וְ כָ זָב ֵהן.טז
falsidades e mentiras que os idólatras originais עֹוב ֵדי כֹוכָ ִבים ַה ַּק ְדמֹונִ ים ְ וְ ֵהם ֶׁש ִה ְטעּו ָב ֶהן
usaram para enganar os povos das nações, a fim de 1333
.לְ גֹויֵ י ָה ֲא ָרצֹות ּכְ ֵדי ֶׁשּיִ ּנְ ֲהגּו ַא ֲח ֵר ֶיהן
catequizá-los.1333 Não é apropriado que os judeus,
sábios instruídos, sejam atraídos para essas nulidades,
וְ ֵאין ָראּוי לְ יִ ְׂש ָר ֵאל ֶׁש ֵהם ֲחכָ ִמים ְמ ֻחּכָ ִמים
nem que considerem que elas possuem algum valor, לְ ִה ָּמ ֵׁשְך ַּב ֲה ָבלִ ים ֵאּלּו וְ ל ֹא לְ ַהעֲ לֹות עַ ל לֵ ב
pois está dito:1334 “Não há magia negra no meio "ּכִ י ל ֹא נַ ַחׁש1334 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ֶׁשּיֵ ׁש ּתֺועֶ לֶ ת ָּב ֶהן
de Iaakov, nem magia dentro de Israêl”. Também está "ּכִ י1335 וְ נֶ ֱא ַמר."ְּביַ עֲ קֹב וְ ל ֹא ֶק ֶסם ְּביִ ְׂש ָר ֵאל
dito:1335 “Essas nações que estás expulsando escutam אֹותם ֶאל ָ יֹורׁש ֵ ַהּגֹויִ ם ָה ֵאּלֶ ה ֲא ֶׁשר ַא ָּתה
os astrólogos e os magos. Não foi isso o que Hashem
teu D-us outorgou a ti”. O indivíduo que acredita em
ְמעֹנְ נִ ים וְ ֶאל ק ְֹס ִמים יִ ְׁש ָמעּו וְ ַא ָּתה ל ֹא כֵ ן
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práticas dessa natureza e acha que no fundo são reais, ּכָ ל ַה ַּמ ֲא ִמין ַּב ְד ָב ִרים ָה ֵאּלּו וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן.וְ גֺו׳
que são de fato sapiências proibidas pela Torá, é tolo e ּומ ַח ֵּׁשב ְּבלִ ּבֹו ֶׁש ֵהן ֱא ֶמת וְ ִד ְב ֵרי ָחכְ ָמה ֲא ָבל ְ
medíocre. Ele equivale a mulheres e crianças dotadas ּומ ַח ְס ֵרי
ֵ ּתֹורה ֲא ָס ָר ַתן ֵאינָ ן ֶאלָ א ִמן ַה ְּסכָ לִ ים ָ ַה
de intelectos subdesenvolvidos. Quem domina a
sabedoria e possui conhecimento pleno sabe com ַה ַּדעַ ת ִּובכְ לָ ל ַהּנָ ִׁשים וְ ַה ְּק ַטּנִ ים ֶׁש ֵאין ַּדעְ ָּתן
provas claras que todos esses artifícios que a Torá ֲא ָבל ַּבעֲ לֵ י ַה ָחכְ ָמה ְּות ִמ ֵימי ַה ַּדעַ ת.ְׁשלֵ ָמה
proibiu não são sapiências, mas nulidade e vacuidade, יֵ ְדעּו ִּב ְר ָאיֹות ְּברּורֹות ֶׁשּכָ ל ֵאּלּו ַה ְּד ָב ִרים
que atraíram os medíocres e os levaram a abandonar תֹורה ֵאינָ ן ִּד ְב ֵרי ָחכְ ָמה ֶאלָ א תֹהּו ָ ֶׁש ָא ְס ָרה
todos os caminhos da verdade. É por isso que a Torá, ao וָ ֶה ֶבל ֶׁשּנִ ְמ ְׁשכּו ָב ֶהן ַח ְס ֵרי ַה ַּדעַ ת וְ נָ ְטׁשּו ּכָ ל
advertir contra todas essas coisas vãs, aconselhou:1336
“Tenha plena fé em Hashem, teu D-us “.1337 תֹורהָ ּומ ְּפנֵ י זֶ ה ָא ְמ ָרה ִ .ַּד ְרכֵ י ָה ֱא ֶמת ִּבגְ לָ לָ ן
"ּת ִמים ָ 1336,ּכְ ֶׁש ִהזְ ִה ָירה עַ ל ּכָ ל ֵאּלּו ַה ֲה ָבלִ ים
1337
."ֹלהיָךֶ ִּת ְהיֶ ה עִ ם ה' ֱא
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2. A mulher que raspar a cabeça de um homem ou ָה ִא ָּׁשה ֶׁשּגִ ּלְ ָחה ְּפ ַאת רֹאׁש ָה ִאיׁש אֹו.ב
a própria cabeça não deverá [ser punida]. O dito:1350 "ל ֹא ַת ִּקפּו1350 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.טּורה ָ ֶׁשּנִ ְתּגַ ּלְ ָחה ְּפ
“Não cortareis os cantos das vossas cabeças e não ֹאׁשכֶ ם וְ ל ֹא ַת ְׁש ִחית ֵאת ְּפ ַאת ְ ְּפ ַאת ר
eliminareis os cantos da vossa barba” [vincula uma
proibição à outra].1351 Quem transgride [a proibição
ּכֺל ֶׁשּיֶ ְׁשנֹו ְּב ַ'בל ַּת ְׁש ִחית' יֶ ְׁשנֹו1351."זְ ָקנֶ ָך
de] raspar, trangride também [a proibição do] corte ְּב ַ'בל ַּת ִּקיף' וְ ִא ָּׁשה ֶׁש ֵאינָ ּה ְּב ַ'בל ַּת ְׁש ִחית' לְ ִפי
dos cantos. Portanto, já que, por serem imberbes,1352 לְ ִפיכָ ְך.' ֵאינָ ה ְּב ַ'בל ַּת ִקיף1352ֶׁש ֵאין לָ ּה זָ ָקן
as mulheres não transgridem [a proibição de] raspar, סּורין
ִ הֹואיל וְ יֵ ׁש לָ ֶהם זָ ָקן ֲא ִ 1353ָה ֲע ָב ִדים
elas [também] não transgridem [a proibição do] 1354
.ְּב ַה ָּק ָפה
corte dos cantos. Consequentemente, os escravos1353
são proibidos de cortar os cantos das cabeças, uma
vez que são barbados.1354
3. Todos os preceitos negativos da Torá incidem ּתֹורה ֶא ָחד ֲאנָ ִׁשים ָ ּכָ ל ִמצְ ֺות ל ֹא ַתעֲ ֶׂשה ֶׁש ַּב.ג
igualmente sobre homens e mulheres,1355 à exceção ' חּוץ ִמ ַ'בל ַּת ְׁש ִחית1355.וְ ֶא ָחד נָ ִׁשים ַח ִּיָבים
das proibições de raspar a barba, de cortar os cantos 1356
.ּו'בל יִ ַּט ָּמא' כ ֵֺהן לְ ֵמ ִתים ַ 'ּו'ּבל ַּת ִּקיף ַ
da cabeça e de sacerdotes contraírem impureza por
contato com um cadáver.1356 As mulheres não são וְ כָ ל ִמצְ וַ ת עֲ ֵׂשה ֶׁש ִהיא ִמּזְ ַמן לִ זְ ַמן וְ ֵאינָ ּה
obrigadas a observar nenhum dos preceitos positivos חּוץ ִמ ִּקּדּוׁש1357.ְּת ִד ָירה נָ ִׁשים ְּפטּורֹות
que vigoram de tempos em tempos e que não têm 1359
וַ ֲאכִ ילַ ת ַמּצָ ה ְּבלֵ ילֵ י ַה ֶּפ ַסח1358ַהּיֹום
vigência constante,1357 à exceção da santificação do dia 1361
' וְ ַ'ה ְק ֵהל1360ּוׁש ִח ָיטתֹוְ וַ ֲאכִ ילַ ת ַה ֶּפ ַסח
[de Shabat],1358 de comer Matsá na noite de Pessach,1359
de comer e oferecer o sacrifício pascal,1360 do Hakhêl1361
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5. Embora seja permitido à mulher raspar os cantos ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ָה ִא ָּׁשה ֻמ ֶּת ֶרת לְ גַ ּלֵ ַח ְּפ ַאת.ה
da própria cabeça,1370 ela não pode raspar os cantos סּורה לְ גַ ּלֵ ַח ְּפ ַאת רֹאׁש ָ ֲה ֵרי ִהיא ֲא1370ֹאׁשּה ָ ר
da cabeça do homem.1371 Ela é proibida até mesmo
. וַ ֲא ִפּלּו ָק ָטן ָאסּור לָ ּה לְ גַ ּלֵ ַח לֹו ֵּפ ָאה1371.ָה ִאיׁש
de raspar os cantos da [cabeça] de uma criança.
6. Os sábios não dimensionaram quantos [cabelos] ֵּופ ָאה זֹו ֶׁש ַּמּנִ ִיחים ַּבּצֶ ַדע ל ֹא נָ ְתנּו בֺו.ו
devemos deixar nos cantos das têmporas.1372 Mas וְ ָׁש ַמעְ נּו ִמּזְ ֵקנֵ ינּו ֶׁש ֵאינֹו1372.ֲחכָ ִמים ִׁשעּור
segundo a tradição de nossos anciãos, é preciso deixar ּומ ָּתר
ֻ 1373.ַמּנִ ַיח ָּפחֺות ֵמ ַא ְר ָּבעִ ים ְׂש ָערֹות
ao menos quarenta fios de cabelo.1373 É permitido
cortar os cabelos dos cantos [da cabeça] com tesoura. ל ֹא נֶ ֱא ַסר ֶאלָ א.לְ לַ ֵּקט ַה ֵּפאֹות ְּב ִמ ְס ָּפ ַריִ ם
Só é proibido removê-los completamente através de
1374
.ַה ְׁש ָח ָתה ְב ַת ַער
uma lâmina.1374
1362- Embora, em um sentido mais amplo, essa expressão se refira a todas as formas de celebração, aqui em particular está
se referindo à oferenda de sacrifícios de paz relacionados à Festa (vide Hilchót Chaguigá 1:1). Nesse caso a Torá menciona
especificamente a obrigação das mulheres de participarem das celebrações, conforme consta em Devarím 16:14: “E te
alegrarás, tu, teu filho, tua filha, teus servos e tuas servas”.
1363- Similarmente, as mulheres são obrigadas a cumprir a maioria dos preceitos positivos cuja observância não está ligada a
um tempo específico – como, por exemplo, a crença em D-us, Mezuzá e Tsedaká. Há, no entanto, diversos preceitos positivos
cuja observância não está ligada a um tempo específico mas que as mulheres não são obrigadas a cumprir – como por
exemplo o estudo da Torá, a redenção do primogênito e a lembrança de Amalêk (vide também o Comentário à Mishná do
Rambam, Kidushín 1:7).
1364- O termo Tumtum tem como radical Atum, que significa “um bloco sólido” e se refere a uma pessoa cuja genitália é
encoberta pela pele, tornando impossível determinar se é um homem ou uma mulher (vide também Hilchót Ishut 2:25). Caso
um Tumtum seja operado e se revele que se trata de um homem ou de uma mulher, ele passa a ficar vinculado às leis que
incidem sobre o gênero correspondente.
1365- O termo Andróguinos é uma combinação das palavras gregas “andro” (homem) e “gyne” (mulher) e refere-se a uma
pessoa que possui órgãos sexuais de ambos os gêneros (vide também Hilchót Ishut 2:24).
1366- I.e. é duvidoso se eles são governados pelas leis que incidem sobre os homens ou pelas leis que incidem sobre as
mulheres.
1367- As obrigações de cumprir todos os preceitos positivos que são vinculados ao tempo e os diversos outros preceitos que
cabem ao homem cumprir mas não à mulher.
1368- Bikurím 4:3 explica que isso se refere à proibição de Ichud (ficar a sós com homens) e às leis de impureza ritual, que
incidem sobre a mulher.
1369- Não se inflige punição quando há dúvida quanto à obrigação da pessoa.
1370- Conforme mencionado na Halachá 2.
1371- Conforme consta naquela Halachá, ela não deve ser punida se o fizer. O Raavad e o Késsef Mishnê consideram essa
como uma proibição de origem rabínica. Para outras autoridades rabínicas, no entanto, a proibição é derivada da Torá.
1372- O Shulchan Aruch, Iorê Deá 181:1, define “cantos” como sendo o lugar em que o crânio se encontra com a mandíbula.
O Beit Lechem Iehudá escreve que o Ari Zal estendia para um pouco acima da altura das orelhas a região que deixava sem
cortar.
1373- Em uma Responsa, o Rambam escreve que a região proibida tem o tamanho aproximado de um polegar.
1374- Makót 20a. Conforme explicado adiante, há um debate entre autoridades rabínicas quanto à permissibilidade de
remover os cabelos usando tesouras ou algum outro apetrecho em substituição à lâmina.
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7. Os sacerdotes pagãos costumavam remover עֺוב ֵדי כֹוכָ ִבים ָהיָ ה לְ ַה ְׁש ִחית ְ ֶּד ֶרְך ּכ ֲֺהנֵ י.ז
as suas barbas. É por isso que a Torá proibiu a 1375
.תֹורה לְ ַה ְׁש ִחית ַהּזָ ָקן
ָ זְ ָקנָ ם לְ ִפיכָ ְך ָא ְס ָרה
remoção da barba.1375 A barba tem cinco “cantos”: לֶ ִחי ָהעֶ לְ יֹון וְ לֶ ִחי ַה ַּת ְחּתֹון.וְ ָח ֵמׁש ֵּפאֹות יֵ ׁש ּבֹו
a mandíbula superior e a mandíbula inferior, à
direita e à esquerda, e [o quinto à altura] dos pelos לֹוקהֶ ְ ו1376.ִמּיָ ִמין וְ כֵ ן ִמ ְׂשמֺאל וְ ִׁשּבֹלֶ ת ַהּזָ ָקן
do queixo.1376 [A raspagem de] cada canto implica וְ ִאם נְ ָטלָ ן ּכֻ ּלָ ן ּכְ ַא ַחת1377.ַעל ּכָ ל ֵּפ ָאה ֵּופ ָאה
uma condenação.1377 Se a pessoa raspar todos eles וְ ֵאינֺו ַחּיָב עַ ד ֶׁשּיְ גַ ּלְ ֶחּנּו1378.לֹוקה ָח ֵמׁש ֶ
de uma vez, deverá [ser punida] com cinco medidas "וְ ל ֹא ַת ְׁש ִחית ֵאת ְּפ ַאת1379 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ְב ַתעַ ר
de chibatadas.1378 Só quem raspa por meio de uma לְ ִפיכָ ְך ִאם.ּלּוח ֶׁשּיֵ ׁש ּבֹו ַה ְׁש ָח ָתה ַ ִ ּג- "זְ ָקנֶ ָך
lâmina deve ser penalizado, pois está dito:1379 “Não
eliminareis os cantos da vossa barba”. [Infere-se disso וְ ֵאין ַה ִּמ ְתּגַ ּלֵ ַח.ּגִ ּלַ ח זְ ָקנֹו ְּב ִמ ְס ָּפ ַריִ ם ָּפטּור
que só] uma raspagem que elimine completamente וְ ִא ָּׁשה ֻמ ֶּת ֶרת לְ ַה ְׁש ִחית. ַלֹוקה עַ ד ֶׁשּיְ ַסּיֵ ע ֶ
[os pelos faciais é punida]. Portanto, quem remove וְ ִאם ִה ְׁש ִח ָיתה.זְ ָקנָ ּה ִאם יֵ ׁש לָ ּה ֵׂשעָ ר ַּבזָ ָקן
a barba com uma tesoura é isento de punição. 1380
.טּורהָ זְ ַקן ָה ִאיׁש ְּפ
Se a pessoa que se deixa raspar não participar
[da raspagem], ela não deverá ser [punida com]
chibatadas. Uma mulher que tenha pelos faciais
pode raspá-los. Se raspar a barba de um homem, ela
será isenta de punição.1380
8. É permitido raspar com lâmina o bigode – ou וְ הּוא ַה ֵּׂשעָ ר. ַה ָּׂש ָפם ֻמ ָּתר לְ גַ ּלְ חֹו ְּב ַתעַ ר.ח
seja, os pelos acima do lábio superior – e, da mesma ֶׁשעַ ל ּגַ ב ַה ָּׂש ָפה ָהעֶ לְ יֹונָ ה וְ כֵ ן ַה ֵּׂשעָ ר ַה ְּמ ֻדלְ ָּדל
forma, os pelos abaixo do lábio inferior.1381 Embora
וְ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשהּוא1381.ִמן ַה ָּׂש ָפה ַה ַּת ְחּתֹונָ ה
a remoção [desses pelos] seja permitida, os judeus
têm o costume de não removê-los inteiramente,1382 ֶאלָ א1382ֻמ ָּתר ל ֹא נָ ֲהגּו יִ ְׂש ָר ֵאל לְ ַה ְׁש ִחיתֹו
só aparando parcialmente para que não interfiram
1383
.ּוׁש ִתּיָ ה
ְ יְ גַ ּלַ ח ְקצָ תֹו עַ ד ֶׁשּל ֹא יְ עַ ּכֵ ב ֲאכִ ילָ ה
na ingestão de comida ou bebida.1383
9. A Torá não proibiu a remoção de pelos de outras ַהעֲ ָב ַרת ַה ֵּׂשעָ ר ִמ ְּׁש ָאר ַהּגּוף ּכְ גֹון ֵּבית.ט
partes do corpo – por exemplo, das axilas ou da ּתֹורה
ָ ַה ֶּׁש ִחי ֵּובית ָהעֶ ְרוָ ה ֵאינֹו ָאסּור ִמן ַה
genitália. No entanto, nossos sábios proibiram וְ ַה ַּמ ֲע ִבירֹו1384.סֹופ ִריםְ ֶאלָ א ִמ ִּד ְב ֵרי
fazê-lo.1384 O homem que remover [os pelos desses
locais] deverá [ser punido] com “chicotadas por
ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים 1385
.ַמּכִ ין אֹותֹו ַמּכַ ת ַמ ְרּדּות
insubordinação”.1385 Aonde isso se aplica? A lugares מּורים? ְּב ָמקֹום ֶׁש ֵאין ַמעֲ ִב ִירין אֹותֹו ֶאלָ א ִ ֲא
onde só as mulheres costumam remover esses pelos,
1375- O Sefer Hamitsvót (ibid.) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 252) consideram essa proibição como uma das 613 Mitsvót da Torá.
1376- Segundo o Shulchan Aruch (Iorê Deá 181:11), com relação à definição desses cinco “cantos” há opiniões diversas. Sendo
assim, “quem teme ao céu não deve cortar nenhum trecho da barba com uma lâmina, e estará assim obedecendo a todas as opiniões”.
1377- Pois consta no versículo (Vaikrá 19:27): “Os cantos da vossa barba”, e não apenas “A vossa barba” (Sefer Hamitsvót, ibid.).
1378- Makót 20a. Independentemente dela ser considerada uma única Mitsvá, e não cinco.
1379- Vaikrá ibid.
1380- Embora seja proibida de fazê-lo, conforme o disposto na Halachá 1.
1381- Moêd Katán 18a permite a raspagem desses pelos, uma vez que não fazem parte dos cinco “cantos” da barba.
1382- Diversas autoridades rabínicas proíbem a remoção do bigode. Para o Rabênu Chananel, as duas pontas do bigode são
os dois “cantos” inferiores da barba. Outros (dentre eles o Rabênu Ioná e o Bait Chadash) vinculam a remoção do bigode às
proibições de seguir os costumes dos gentios e adornar-se à maneira das mulheres.
1383- Os sábios explicaram que é apropriado remover os pelos que interferem com a ingestão de alimentos. Até mesmo os
cabalistas, que jamais cortavam as barbas, aparavam os seus bigodes (Ben Ish Chai).
1384- Como uma extensão da proibição do homem se embelezar à maneira da mulher.
1385- Nazír 58b. A punição pela violação de qualquer regulamento rabínico.
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10. A mulher não pode enfeitar-se com adornos ּכְ גֹון1388. ל ֹא ַתעְ ֶּדה ִא ָּׁשה עֲ ִדי ָה ִאיׁש.י
masculinos1388 – por exemplo, ela não pode usar na אֹו1389כֹובע ַ ֹאׁשּה ִמצְ נֶ ֶפת אֹו ָ ֶׁש ָּת ִׂשים ְּבר
cabeça um turbante ou um chapéu [masculino],1389 ֹאׁשּה
ָ ִּתלְ ַּבׁש ִׁש ְריָ ן וְ כַ ּיֹוצֵ א בֹו אֹו ֶׁש ְּתגַ ּלַ ח ר
ou usar armadura ou algo semelhante. Ela não
pode cortar [os cabelos] da cabeça à maneira dos
ּכְ גֹון1391 וְ ל ֹא יַ ְע ֶּדה ִאיׁש ֲע ִדי ִא ָּׁשה1390.ּכְ ִאיׁש
homens.1390 O homem não pode enfeitar-se com ֶׁשּיִ לְ ַּבׁש ִּבגְ ֵדי צִ ְבעֹונִ ין וַ ֲחלִ י זָ ָהב ְּב ָמקֹום ֶׁש ֵאין
adornos femininos1391 – por exemplo, ele não pode אֹותן ַהּכֵ לִ ים וְ ֵאין ְמ ִׂש ִימים אֹותֹו ָ לֹוב ִׁשין ְ
vestir roupas coloridas ou pulseiras douradas aonde 1392
.ַה ֲחלִ י ֶאלָ א ּנָ ִׁשים ַהּכֹל ּכְ ִמנְ ַהג ַה ְּמ ִדינָ ה
tais vestes e adornos só costumam ser usados por ִאיׁש ֶׁש ָע ָדה ֲע ִדי ִא ָּׁשה וְ ִא ָּׁשה ֶׁש ָע ְד ָתה
mulheres. Tudo deve seguir o costume local.1392 O
homem que se enfeita com adornos femininos, e
ַה ְּמלַ ֵּקט ְׂשעָ רֹות לְ ָבנֹות.לֹוקין ִ עֲ ִדי ִאיׁש
a mulher que se enfeita com adornos masculinos,
1393
ִמּתֹוְך ַה ְּׁשחֹורֹות ֵמרֹאׁשֹו אֹו ִמּזְ ָקנֹו
devem ser [punidos com] chibatadas. Se um homem לֹוקה ִמ ְּפנֵ י ֶׁשעָ ָדה ֶ ִמ ֶּׁשּיְ לַ ֵּקט ַׂשעֲ ָרה ַא ַחת
remover fios brancos em meio aos fios escuros de sua וְ כֵ ן ִאם צָ ַבע ְׂשעָ רֹו ָׁשחֹור1394.ֲע ִדי ִא ָּׁשה
cabeça ou barba,1393 ele deverá ser [penalizado com] 1395
.לֹוקהֶ ִמ ֶּׁשּיִ צְ ַּבע ַׂשעֲ ָרה לְ ָבנָ ה ַא ַחת
chibatadas mesmo se remover um único fio, por ter se
embelezado à maneira de uma mulher.1394 Da mesma
עֹוטף ּכְ ִא ָּׁשה ֵ ֵאינֹו1396ֻט ְמטֺם וְ ַאנְ ְּדרֺוּגִ ינֹוס
forma, se ele tingir de preto os seus cabelos, ele deverá
ser [penalizado com] chibatadas mesmo se tingir
um único fio.1395 O Tumtum e o Andróguinos1396 não
podem envolver as cabeças [com um véu] à maneira
das mulheres, ou cortar [os cabelos das] suas cabeças
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à maneira dos homens.1397 Se assim fizerem, eles não וְ ִאם עָ ָׂשה כֵ ן 1397
.וְ ל ֹא ְמגַ ּלֵ ַח רֹאׁשֹו ּכְ ִאיׁש
deverão ser [penalizados com] chibatadas.1398 1398
.לֹוקהֶ ֵאינֹו
11. A tatuagem que a Torá proíbe1399 envolve fazer uma 1399
ּתֹורה
ָ מּורה ַב ָ "ּכְ ת ֶֹבת ַקעֲ ַקע" ָה ֲא.יא
incisão na pele da pessoa e preencher a ranhura com הּוא ֶׁשּיִ ְׂשרֹט עַ ל ְּב ָׂשרֹו וִ ַימּלֵ א ְמקֹום ַה ְּׂש ִר ָיטה
pó pigmentado, tinta preta ou qualquer outra tintura 1400
.רֹוׁש ִמים
ְ ּכ ַֹחל אֹו ְּדיֹו אֹו ְׁש ָאר צִ ְבעֹונִ ים ָה
que deixe uma marca.1400 Esse era o costume dos
idólatras, que faziam marcas em seus corpos em prol
רֹוׁש ִמין
ְ עֺוב ֵדי כֺוכָ ִבים ֶׁש ְ וְ זֶ ה ָהיָ ה ִמנְ ַהג ָה
de seus ídolos,1401 como que dizendo que eram servos לֹומר ֶׁשהּוא ַ ְ ּכ1401בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲעַ צְ ָמן לַ ע
vendidos a seus ídolos e marcados para servi-los.1402 ּומעֵ תֵ 1402
.בֹוד ָתּה
ָ ֲּומ ְר ָׁשם לַ ע ֻ עֶ ֶבד ָמכּור לָ ּה
Quem se marca com uma das substâncias que deixam רֹוׁש ִמין ַא ַחר ְ ֶׁשּיִ ְרׁשֹם ְּב ֶא ָחד ִמ ְּד ָב ִרים ָה
inscrição após fazer uma incisão em qualquer lugar de ֵּבין ִאיׁש,ֶׁשּיִ ְׂשרֹט ְּב ֵאי זֶ ה ָמקֹום ִמן ַהּגּוף
seu corpo deve [ser penalizado com] chibatadas, seja
homem ou mulher. Se a pessoa escrever1403 sem tatuar
וְ ל ֹא ָר ַׁשם ְּבצֶ ַבע1403 ּכָ ַתב.לֹוקה ֶ ֵּבין ִא ָּׁשה
com tinta, ou tatuar com tinta sem escrever cortando אֹו ֶׁש ָר ַׁשם ְּבצֶ ַבע וְ ל ֹא כָ ַתב ִּב ְׂש ִר ָיטה ָּפטּור
[a pele], ela não deverá ser penalizada; só [deverá "ּוכְ ת ֶֹבת1404 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.עַ ד ֶׁשּיִ כְ ּתֹב וִ ַיקעֲ ַקע
ser penalizada] se escrever e tatuar, conforme está כֹותב
ֵ מּורים? ְּב ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא1405."ַקעֲ ַקע
dito:1404 “[Em vossa carne não] tatuareis escrita”.1405 A ֲא ָבל זֶ ה ֶׁשּכָ ְתבּו ִּב ְב ָׂשרֹו וְ ִקעְ ְקעּו בֹו ֵאינֹו ַחּיָב
quem isso se aplica? Ao tatuador. Mas o tatuado não
[deve ser penalizado], a não ser que tenha auxiliado
א ָבל ִאם.ה ֲ ֶאלָ א ִאם ִסּיַ ע ּכְ ֵדי ֶׁשּיֵ עָ ֶׂשה ַמ ֲע ֶׂש
o tatuador a ponto de se considerar que ele mesmo .לֹוקה
ֶ ל ֹא עָ ָׂשה ּכְ לּום ֵאינֹו
fez o ato. Mas se não tiver feito nada, ele não deve ser
[penalizado com] chibatadas.
12. A pessoa que corta a própria carne por um .לֹוקה ֶ ּׂשֹורט ְׂש ִר ָיטה ַא ַחת עַ ל ַה ֵּמת ֵ ַה.יב
morto deve ser [penalizada com] chibatadas, pois "וְ ֶׂש ֶרט לָ נֶ ֶפׁש ל ֹא ִת ְּתנּו1406ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
está dito:1406 “Não fareis incisões por um morto em 1408
.ּכֹוהן וְ ֶא ָחד יִ ְׂש ָר ֵאל
ֵ ֶא ָחד1407."ִּב ְב ַׂש ְרכֶ ם
vossa carne”.1407 Essa [proibição] incide tanto sobre
o Cohên (“sacerdote”) quanto sobre o Israêl.1408 ָׂש ַרט ְׂש ִר ָיטה ַא ַחת עַ ל ֲח ִמ ָּׁשה ֵמ ִתים אֹו
1409
A pessoa que se corta uma única vez por cinco .לֹוקה ָח ֵמׁש ֶ ָח ֵמׁש ְׂש ִריטֹות עַ ל ֵמת ֶא ָחד
mortos,1409 ou que se corta cinco vezes por um único .וְ הּוא ֶׁש ִה ְתרּו בֹו עַ ל ּכָ ל ַא ַחת וְ ַא ַחת
morto, deve ser [penalizada com] cinco medidas de
1397- Pois, conforme o Rambam afirma na Halachá 4, “devem ser aplicados a eles todos os rigores que são aplicáveis ao
homem e à mulher”.
1398- Bicurím 4:2. Pois não temos certeza de seus gêneros. Consequentemente, não há como determinar se houve ou não
uma transgressão.
1399- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 41) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 253) consideram essa proibição como uma das
613 Mitsvót da Torá.
1400- O Minchát Chinuch (Mitsvá 253) afirma que a ordem mencionada pelo Rambam é intencional. Se ela for invertida e a
tinta for colocada na pele antes da incisão ser feita, a pessoa não deve ser penalizada.
1401- Marcando-se como servos da deidade.
1402- No Sefer Hamitsvót (ibid.), o Rambam acrescenta que em sua época algumas seitas do Egito seguiam essas práticas.
1403- Cortando a pele.
1404- Vaikrá 19:28.
1405- Makót 21a. As duas palavras “tatuareis escrita” implicam que a pessoa só deve ser penalizada quando ambos os atos
forem realizados.
1406- Ibid.
1407- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 45) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 467) consideram essa proibição como uma das
613 Mitsvót da Torá.
1408- Kidushín 36a.
1409- Makót 20b e Sifra depreendem esse conceito através da exegese do versículo de Vaikrá citado acima. Embora tenha
executado um único ato, o versículo nos ensina que ela é responsabilizada por cada pessoa que tiver tido em mente.
Veshinantam | 127
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
13. Uma única [proibição incide sobre] cortar- ּוכְ ֵׁשם ֶׁש ָהיּו.ּוׂש ִר ָיטה ַא ַחת ִהיא ְ ּגְ ִד ָידה.יג
se e talhar-se. Assim como os pagãos talhavam as ׂשֹור ִטים ִּב ְב ָׂש ָרם עַ ל ְ עֹוב ֵדי כֹוכָ ִביםְ ָה
próprias peles quando se enlutavam por seus mortos חֹובלִ ין ְּבעַ צְ ָמם ְ ֵמ ֵת ֶיהם ִמ ְּפנֵ י ַהּצַ עַ ר ּכָ ְך ָהיּו
devido ao sofrimento, eles também se mutilavam
por seus ídolos,1410 conforme está dito:1411 “E eles se "וַ ּיִ ְתּג ְֹדדּו1411 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1410.בֹודת כֹוכָ ִבים ַ ֲלַ ע
mutilaram conforme seus costumes”.1412 Também .תֹורה ָ ּגַ ם זֶ ה ָא ְס ָרה 1412
."ּכְ ִמ ְׁש ָּפ ָטם
isso é proibido pela Torá, conforme está dito:1413 ֶאלָ א ֶׁש ַעל1414." "ל ֹא ִת ְתּג ְֹדדּו1413ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
“Não vos mutilareis”.1414 [A diferença entre as duas .לֹוקהֶ ֵמת ֵּבין ָׂש ַרט ְּביָ דֹו ֵּבין ָׂש ַרט ִּבכְ לִ י
modalidades é que cortar-se por] um morto, usando 1415
ֹבֹודת כֹוכָ ִבים ִּבכְ לִ י ַחּיָב ַמלְ קּות ְּביָ דו ַ ֲלַ ע
as próprias mãos ou um instrumento, é [punível
com] chibatadas, [enquanto que cortar-se] por um
1416
.ָּפטּור
ídolo [só] é [punível com] chibatadas caso tenha sido
utilizado um instrumento;1415 se [o corte tiver sido
feito] usando as próprias mãos, ele não é punível.1416
14. Nesse preceito está incluída também [a proibição] ִּובכְ לָ ל ַאזְ ָה ָרה זֹו ֶׁשּל ֹא יִ ְהיּו ְׁשנֵ י ָב ֵּתי.יד
de haver em uma mesma cidade dois tribunais que נֹוהג
ֵ נֹוהג ּכְ ִמנְ ָהג זֶ ה וְ זֶ ה
ֵ ִּדינִ ין ְּבעִ יר ַא ַחת זֶ ה
sigam costumes diferentes, pois isso pode causar de ּגֹורם לְ ַמ ְחלֺוקֺות ֵ ֶׁש ָּד ָבר זֶ ה.ּכְ ִמנְ ָהג ַא ֵחר
grandes controvérsias. [Devido à similaridade dos
radicais hebraicos desses termos],1417 a proibição de ל ֹא- " ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "ל ֹא ִת ְתּג ְֹדדּו1417.ּגְ דֹולֺות
cortar-se [pode ser interpretada] como significando:
1418
.ֵתעָ ׂשּו ֲאגֻ ּדֹות ֲאגֻ ּדֹות
“Não vos separeis em diferentes grupos”.1418
15. A pessoa que calvejar parte dos seus cabelos por 1419
.לֹוקה
ֶ ּקֹור ַח ָק ְר ָחה עַ ל ַה ֵּמת ֵ ַה.טו
um morto deve ser [penalizada com] chibatadas, 1419
"וְ ל ֹא ָת ִׂשימּו ָק ְר ָחה ֵּבין עֵ ינֵ יכֶ ם1420ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
conforme está dito:1420 “Não fareis calva entre ֶא ָחד יִ ְׂש ָר ֵאל וְ ֶא ָחד ּכ ֵֺהן ֶׁש ָּק ַרח עַ ל1421."לָ ֵמת
vossos olhos pelo morto”.1421 Tanto sobre o Cohên
(“sacerdote”) quanto sobre o Israêl que calvejar parte ּקֹור ַח ַא ְר ַּבע
ֵ ַה.לֹוקה ֶאלָ א ַא ַחת ֶ ַה ֵּמת ֵאינֹו
dos cabelos por um morto incide [a punição de] uma לֹוקה ּכְ ִמנְ יַ ן
ֶ אֹו ָח ֵמׁש ָק ְרחֹות עַ ל ֵמת ֶא ָחד
medida de chibatadas. A pessoa que calvejar quatro ou וְ הּוא ֶׁש ִה ְתרּו בֹו עַ ל ּכָ ל ָק ְר ָחה.ַה ָּק ְרחֹות
1410- O Késsef Mishnê explica que essa mutilação não fazia parte dos rituais de idolatria – pois se fizesse, o transgressor
mereceria pena de execução – mas era um ato voluntário, destinado a atrair a atenção da divindade.
1411- Melachím I, 18:28.
1412- O versículo se refere aos profetas do Baal, que confrontaram o profeta Eliáhu no Monte Carmel.
1413- Devarím 14:1.
1414- Essa determinação não é considerada um preceito à parte, mas uma explicação adicional da Mitsvá anteriormente
regulamentada.
1415- Conforme a continuação do versículo de Melachím I: “Com as suas espadas e lanças “.
1416- Makót 21a. Embora isso seja proibido (Tsemach Tsédek).
1417- O radical גדדsignifica tanto “corte” quanto “grupo”.
1418- Iebamót 14a. Essa Halachá não foi decretada como lei pelo Shulchan Aruch. Todas as autoridades rabínicas
contemporâneas concordam que cada grupo deve aderir a seus costumes nativos sem alterações. Essa pluralidade de
perspectivas é uma expressão – e não uma negação – da unidade abrangente que permeia o judaísmo da Torá (vide Ezrat
Cohên, Responsum 103.)
1419- O Sefer Hamitsvót (Preceito Negativo 171) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 468) consideram essa proibição como uma das
613 Mitsvót da Torá.
1420- Ibid.
1421- Menachót 37b explica que aqui não se está falando da região que fica literalmente “entre os olhos”, mas do centro da cabeça.
Veshinantam | 128
Rambam: sexta-feira Rambam: Hilchót Avodát Kochavím Vechukoteihem
16. Quem calvejar parte da cabeça ou cortar a ּׂשֹורט ִּב ְב ָׂשרֹו עַ ל ֵ ּקֹור ַח רֹאׁשֹו אֹו ַה ֵ ַה.טז
própria pele por sua casa ter ruído ou por seu ֵּביתֹו ֶׁשּנָ ַפל וְ עַ ל ְס ִפינָ תֹו ֶׁשנִ ְט ְבעָ ה ַבּיָ ם
barco ter naufragado não deverá ser [punido ֶאלָ א עַ ל ַה ֵּמת ִּבלְ ַבד1427.לֹוקה ֶ ָּפטּור וְ ֵאינֺו
com] chibatadas.1427 Só deverá ser [punido com]
chibatadas [quem fizer esses atos] por uma pessoa
ּקֹור ַח
ֵ ַה1428.בֹודת ּכֺוכָ ִבים ַ ֲּׂשֹורט לַ ע ֵ אֹו ַה
morta, ou quem se cortar por um ídolo.1428 [As regras ּׂשֹורט ְׂש ִר ָיטה ֵ ָק ְר ָחה ְּברֹאׁשֹו ֶׁשל ֲח ֵברֹו וְ ַה
a seguir se aplicam] quando a pessoa criar uma calva ּכֹותב ּכְ ת ֶֹבת ַקעֲ ַקע ִּב ְב ָׂשרֹו ֵ ִּב ְב ַׂשר ֲח ֵברֹו וְ ַה
na cabeça de um colega, cortar a pele de um colega ִּבזְ ַמן ֶׁש ְּׁשנֵ ֶיהן. ֶַׁשל ֲח ֵברֹו וְ ָהיָ ה ֲח ֵברֹו ְמ ַסּיֵ ע
ou tatuar a pele de um colega com a ajuda dele. Se ֶא ָחד ׁשֹוגֵ ג וְ ֶא ָחד ֵמזִ יד.לֹוקין ִ ְמזִ ִידין ְׁשנֵ ֶיהן
a intenção deles for transgredir a proibição, ambos
deverão ser [punidos com] chibatadas. Se um deles
.לֹוקה וְ ַהּׁשֹוגֵ ג ָּפטּורֶ ַה ֵּמזִ יד ִמ ְּׁשנֵ ֶיהם
transgredir a proibição inadvertidamente mas o
outro transgredi-la propositadamente, aquele que
agir intencionalmente deverá ser [punido com]
chibatadas, mas o seu colega não deverá [ser punido].
Veshinantam | 129
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
1. Quem transgredir qualquer uma das Mitsvót da ֵּבין1430ּתֹורה ֵּבין עֲ ֵׂשה ָ ּכָ ל ַה ִּמצְ וֹות ֶׁש ַּב.א
Torá, seja um preceito positivo1430 seja um negativo, ל ֹא ַתעֲ ֶׂשה ִאם עָ ַבר ָא ָדם עַ ל ַא ַחת ֵמ ֶהן
de propósito1431 ou acidentalmente,1432 ao fazer ּכְ ֶׁשּיַ ֲע ֶׂשה1432 ֵּבין ִּב ְׁשגָ גָ ה1431ֵּבין ְּבזָ דֹון
Teshuvá1433 se arrependendo1434 e retornando de
seu pecado1435 deverá confessar1436 perante D-us, ַחּיָב1435ֹ ֵמ ֶח ְטאו1434 וְ יָ ׁשּוב1433ׁשּובה ָ ְת
abençoado seja,1437 conforme está dito:1438 “Quando
1437
.לִ ְפנֵ י ָה ֵאל ָּברּוְך הּוא 1436
לְ ִה ְתוַ ּדֹות
um homem ou uma mulher cometerem qualquer "איׁש אֹו ִא ָּׁשה ּכִ י יַ עֲ ׂשּו ִמּכָ ל ִ 1438ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
das transgressões que os homens cometem... eles אתם ֲא ֶׁשר ָ ַחּטֹאת ָה ָא ָדם וְ גֺו' וְ ִה ְתוַ ּדּו ֶאת ַח ָּט
deverão confessar o pecado que cometeram”. Essa
1430- A pessoa que deixa de cumprir um preceito positivo não é punida pelo tribunal. No entanto, agir assim é considerado
um ato de rebelião contra D-us. No Talmud (Berachót 26a) é aplicado o versículo “Um delito que nunca poderá ser corrigido”
a negligenciar a recitação do Shemá. Similarmente, em Zevachím 7b consta que a pessoa que não se arrepende por ter deixado
de cumprir um preceito positivo é considerada perversa. Os seus sacrifícios não são aceitos por D-us.
1431- Executando conscientemente um ato contra a vontade de D-us. Há duas divisões nessa categoria: (1) pecados cometidos
devido à predominância dos desejos, chamados de Avón; e (2) pecados cometidos em desafio aberto à vontade de D-us,
chamados de Pesha.
1432- Até uma transgressão involuntária requer Teshuvá pois se a pessoa tivesse tomado os devidos cuidados, ela não teria
pecado nem mesmo acidentalmente. Por outro lado, alguém que tenha sido coagido a cometer um pecado não tem nenhuma
obrigação de se arrepender (Rambam, Comentário à Mishná, Iomá 8:6, Aruch Hashulchan, Orach Chaím 602:7).
1433- O significado literal de Teshuvá é “retorno”, embora geralmente se conceba esse termo como significando “arrependimento
pelos pecados”. “Retorno” reflete uma perspectiva radicalmente diferente sobre a relação que nós compartilhamos com D-us.
Cada judeu possui uma alma Divina que é uma centelha de D-us. Esse potencial Divino representa o âmago do nosso ser, o
nosso verdadeiro “eu”. Fazer Teshuvá implica retornar a esse âmago essencial, buscando contato com esses poderes internos,
e estabelecendo-os como força dominante em nossas vidas. Assim, ninguém está acima da Teshuvá. Todos devemos fazer
Teshuvá não só por termos pecado, mas principalmente por termos nos distanciado de D-us. Mesmo as pessoas mais refinadas
e desenvolvidas são limitadas pela própria natureza da sua humanidade. Fazer Teshuvá envolve elevar-se acima da natureza
humana e expressar a essência Divina infinita. Ao longo do ano esse aspecto da Teshuvá pode estar oculto. Mas durante os Dez
Dias de Arrependimento, quando os serviços do mês de Elul e de Rosh Hashaná tiverem sido concluídos, esse nível superior
de Teshuvá pode ser alcançado (Rebe de Lubavitch, compilado de Likutei Sichót).
1434- I.e. sentindo remorso.
1435- I.e. decidindo não tornar a pecar.
1436- O Targum Ionatán (Bamidbar 5:7) interpreta o termo hebraico Vidui (“confissão”) como derivando de Hodaá
(“admissão”), pois confissão envolve a admissão da culpa. Já para o Targum Onkelos (ibid.) o termo Vidui deriva de Vadá
(“reconhecer”). Outros comentaristas notam a semelhança com a palavra Iada (“bradar”) pois o objetivo da confissão é purgar
a alma e descarregar o comportamento pecaminoso (Rambam Leám).
1437- A confissão deve ser feita “perante D-us”, e não em público (vide Capítulo 2, Halachá 5; Shulchan Aruch, Iorê Deá, cap. 607).
1438- Bamidbar 5:6-7.
Veshinantam | 130
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
é a confissão verbal,1439 e essa confissão é uma וִ ּדּוי זֶ ה ִמצְ וַ ת1439. זֶ ה וִ ּדּוי ְּד ָב ִרים."עָ ׂשּו
Mitsvá positiva.1440 Como deve ser feita a confissão? ,אֹומר ָ'אּנָ א ַה ֵׁשם ֵ ? ּכֵ יצַ ד ִמ ְתוַ ִּדין1440.ֲע ֵׂשה
A pessoa deve dizer: “Ó D-us, eu pequei, eu לְ ָפנֶ יָך וְ עָ ִׂש ִיתי ּכָ ְך1441אתי עָ וִ ִיתי ָּפ ַׁשעְ ִּתיִ ָח ָט
transgredi, eu cometi iniquidade1441 diante de Ti ao
fazer tal e tal.1442 Acontece que fiquei arrependido e וַ ֲה ֵרי נִ ַח ְמ ִּתי ּוב ְֹׁש ִּתי ְּב ַמעֲ ַׂשי ּולְ עֹולָ ם1442וְ כָ ְך
envergonhado dos meus atos. Nunca mais voltarei וְ זֶ הּו עִ ָיקרֹו ֶׁשל1443.'ֵאינִ י חֹוזֵ ר לְ ָד ָבר זֶ ה
a agir assim novamente”.1443 Essa é a essência da ּומ ֲא ִריְך ְּבעִ נְ יָ ן
ַ וְ כָ ל ַה ַּמ ְר ֶּבה לְ ִה ְתוַ ּדֹות.וִ ּדּוי
prece confessional. Quem confessar profusamente 1445
וְ כֵ ן ַּבעֲ לֵ י ַח ָּטאֹות1444.זֶ ה ֲה ֵרי זֶ ה ְמ ֻׁש ָּבח
e se estender no assunto será digno de louvor.1444 נֹות ֶיהן עַ ל ֵ ְּבעֵ ת ֶׁש ְּמ ִב ִיאין ָק ְר ְּב1446וַ ֲא ָׁשמֹות
Também o indivíduo que trouxer oferendas por
pecados1445 ou por culpa1446 deverá [confessar ִׁשגְ גָ ָתן אֹו עַ ל זְ דֹונָ ן ֵאין ִמ ְתּכַ ֵּפר לָ ֶהן ְּב ָק ְר ָּבנָ ם
os seus pecados] ao oferecer sacrifícios por suas .ׁשּובה וְ יִ ְתוַ ּדּו וִ ּדּוי ְּד ָב ִרים ָ עַ ד ֶׁשּיַ עֲ ׂשּו ְת
transgressões, inadvertidas ou propositadas. Os 1448
." "וְ ִה ְתוַ ָּדה ֲא ֶׁשר ָח ָטא עָ לֶ ָיה1447ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
sacrifícios não expiarão os seus pecados enquanto ּומ ֻח ֵּיְבי ַמלְ קּות ְ וְ כֵ ן ּכָ ל ְמ ֻח ֵּיְבי ִמיתֹות ֵּבית ִּדין
ele não fizer Teshuvá, se arrependendo e confessando ֵאין ִמ ְתּכַ ֵּפר לָ ֶהן ְּב ִמ ָית ָתן אֹו ִּבלְ ִקּיָ ָתן עַ ד
verbalmente, conforme está dito:1447 “Ele confessará
o pecado cometido”.1448 Similarmente, quem tiver חֹובל ֵ וְ כֵ ן ַה. וְ יִ ְתוַ ּדּו1449ׁשּובה ָ ֶׁשּיַ עֲ ׂשּו ְת
sido sentenciado por um tribunal a execução ou ַּב ֲח ֵברֹו וְ ַה ַּמּזִ יק ָממֹונֹו ַאף ַעל ִּפי ֶׁש ִּׁשּלֵ ם
chicoteamento não alcançará expiação ao ser morto
ou chicoteado sem fazer Teshuvá,1449 se arrependendo
e confessando. Igualmente, quem ferir outrem ou
1439- A confissão deve ser verbalizada. A mera decisão mental de abandonar o pecado não basta para expiá-lo. Kidushín 49b
implica que mesmo uma pessoa totalmente perversa pode se transformar em completamente justa com um pensamento de
Teshuvá. No entanto, isso se aplica ao seu status futuro. Para expiar o seu comportamento anterior, a pessoa deve confessar
os pecados que cometeu (Ór Zarúa 112). O Dérech Mitsvotêcha (pág. 38) explica a necessidade de uma confissão verbal. A
pessoa expia o seu desejo de pecar através dos seus sentimentos de pesar. No entanto, esses sentimentos não são suficientes
para expiar o próprio ato do pecado, e “um ato de arrependimento” se faz necessário. Como a fala também é considerada um
ato em certos contextos (Bava Metsia 90B), recitar a confissão permite, graças à bondade de D-us, que a pessoa alcance uma
expiação completa.
1440- O Sefer Hamitsvót (Preceito Positivo 73) e o Sefer Hachinuch (Mitsvá 364) consideram esse como um dos 613 preceitos
da Torá.
1441- Essas expressões figuram em Iomá 66a, onde estão descritas as orações confessionais recitadas pelo Cohên Gadól
(“sumo sacerdote”) em Iom Kipur. Os pecados são mencionados em ordem crescente de severidade: “eu pequei” se refere
a atos acidentais; “eu transgredi” a transgressões intencionais; e “eu cometi iniquidade” a pecados cometidos com intenção
rebelde contra D-us (Iomá 36b; vide também Daniel 9:5).
1442- O pecado específico deve ser mencionado, conforme consta no Capítulo 2, Halachá 3.
1443- Conforme enfatizado no Capítulo 2, Halachá 2, um arrependimento completo inclui arrepender-se pelos atos passados
e assumir a correção do comportamento futuro.
1444- O Sefer Hamitsvót (loc. cit.) afirma: “Ele deve elaborar na questão e pedir expiação, de acordo com a sua própria
eloquência”. Isso implica que a pessoa deve rogar perdão a D-us usando as suas próprias palavras. O Chovót Halevavót, assim
como outros textos, inclui no texto da confissão um pedido de perdão.
1445- Para expiar pela transgressão acidental de determinadas proibições da Torá é preciso trazer uma oferenda por pecado
(Vaikrá 4:27-30).
1446- Uma oferenda por culpa deverá ser trazida pela violação intencional dos seguintes pecados: juramento falso negando
a posse de um bem deixado em confiança, roubo ou apropriação indébita de fundos (Vaikrá 5: 21-25); e relações com uma
criada parcialmente casada com outro homem (ibid. 19:20-21). Da mesma forma, uma oferenda por culpa deverá ser trazida
pelo uso inadvertido para fins privados de objetos consagrados ao Templo Sagrado (ibid. 19:14-16), ou quando houver dúvida
quanto ao cometimento de determinados pecados.
1447- Vaikrá 5:5.
1448- Shevuót 13a. Os profetas enfatizaram com frequência que para conquistar o favor Divino o sacrifício apenas não basta.
“’Para que servem os múltiplos sacrifícios que a Mim ofereceis’ – declara D-us... ‘Eu não me satisfaço com o sangue de touros
ou de cordeiros... Não Me trazeis mais as vossas oferendas vãs’” (Ieshaiáhu 1:10-13); “Eu nada falei nem ordenei a vossos
ancestrais quanto às oferendas queimadas e aos sacrifícios, mas ordenei-lhes o seguinte: ‘Obedecei a Minha voz’” (Irmiáhu
7:22-23). Mishlei 21:27 declara com palavras duras: “É abominação o sacrifício do malvado”.
1449- San-hedrín 43b. Pois as punições da Torá têm como objetivo primário trazer expiação à pessoa.
Veshinantam | 131
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
2. Já que o bode expiatório [que é mandado para o לְ ִפי ֶׁשהּוא כַ ָּפ ָרה1453 ָׂש ִעיר ַה ִּמ ְׁש ַּתּלֵ ַח.ב
Azazêl (jogado no precipício)]1453 expia por todo o ּכ ֵֺהן ּגָ דֹול ִמ ְתוַ ֶּדה עָ לָ יו עַ ל1454ַעל כָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל
povo de Israêl,1454 o Cohên Gadól (“sumo sacerdote”) "וְ ִה ְתוַ ָּדה עָ לָ יו1455 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.לְ ׁשֹון ּכָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל
deve confessar sobre ele como porta-voz de todo o
povo de Israêl, conforme está dito:1455 “E confessará ָׂשעִ יר ַה ִּמ ְׁש ַּתּלֵ ַח."ֶאת ּכָ ל עֲ וֹנֺות ְּבנֵ י יִ ְׂש ָר ֵאל
sobre ele todos os pecados dos filhos de Israêl.” O ַה ַּקּלֹות1456.ּתֹורה ָ ְמכַ ֵּפר עַ ל ּכָ ל עֲ ֵברֹות ֶׁש ַּב
bode expiatório expia todas as transgressões, leves ou ֵּבין ֶׁשעָ ַבר ְּבזָ דֹון ֵּבין ֶׁשעָ ַבר.וְ ַה ֲחמּורֹות
severas, que constam na Torá;1456 pelas transgressões הֹודעַ הּודע לֹו ֵּבין ֶׁשּל ֹא ַ ֵּבין ֶׁש1457ִּב ְׁשגָ גָ ה
propositadas e acidentais;1457 pelas que [o transgressor] 1459
. ַהּכֹל ִמ ְתּכַ ֵּפר ַּב ָׂשעִ יר ַה ִּמ ְׁש ַּתּלֵ ַח1458לֹו
tiver ciência e pelas que ele desconhecer1458 – todas
são expiadas pelo bode jogado [no Azazêl]1459 desde ֲא ָבל ִאם ל ֹא1460.ׁשּובה ָ וְ הּוא ֶׁשעָ ָׂשה ְת
que [o transgressor] faça Teshuvá.1460 Se ele não se ׁשּובה ֵאין ַה ָּׂשעִ יר ְמכַ ֵּפר לֹו ֶאלָ א עַ ל ָ עָ ָׂשה ְת
arrepender, o bode só expiará pelos seus [pecados] ?ּומה ֵהן ַה ֲחמּורֹות ָ ּומה ֵהן ַה ַּקּלֹות ָ .ַה ַּקּלֹות
leves. Quais pecados são leves e quais são severos? ַה ֲחמּורֹות ֵהן ֶׁש ַח ִּיָבין עֲ לֵ ֶיהן ִמ ַיתת ֵּבית ִּדין
Pecados severos são aqueles pelos quais a pessoa é בּועת ָׁשוְ א וָ ֶׁש ֶקר ַאף עַ ל ִּפי ַ ּוׁש ְ 1461.אֹו כָ ֵרת
sentenciada a execução pelo tribunal ou por Carêt.1461
1450- O Talmud (Bava Kama 92a) explica que só é concedida expiação pela inflição de sofrimento a outrem quando, além de
compensá-lo financeiramente, se pede perdão a ele. Além disso, como causar prejuízo constitui uma transgressão também
contra D-us, é preciso pedir perdão também a Ele (vide Késsef Mishnê; Meíri, Chibur Hateshuvá). Vide Capítulo 2, Halachá 9.
1451- O pagamento das obrigações deve anteceder a confissão (Shaarei Teshuvá, Rabênu Ioná, parte 4:18).
1452- Bamidbar 5:6.
1453- Vaikrá 16:7-11 descreve o serviço do Cohên Gadól (“sumo sacerdote”) em Iom Kipur: “E tomarás dois bodes e os porá
diante de D-us... Aharón sorteará os dois bodes: um será para D-us e o outro para o Azazêl... Aharón fará expiação por meio
dele e o enviará para o Azazêl no deserto”.
1454- Em Shevuót 2b e 12b e em Iomá 66a e 67a está relatado que se amarrava nos chifres dele uma fita escarlate, simbolizando
os pecados de Israêl, e que essa fita era amarrada a uma pedra. Quando o bode era jogado para a morte a fita embranquecia,
revelando que os pecados dos judeus foram expiados, conforme profetizado em Ieshaiáhu (1:18): “Ainda que os vossos
pecados sejam como o escarlate, eles ficarão alvos como a neve”.
1455- Vaikrá 16:21.
1456- Segundo o Meíri (Chibur Hateshuvá), o que expia os pecados de Israêl é a Teshuvá despertada pelo sacrifício do bode, e
não o próprio bode. Essa colocação se baseia nas palavras do Rambam no Guia dos Perplexos (vol. III, cap. 46): “O bode que
é mandado [para o Azazêl] serve para induzir ao arrependimento por todos os pecados... Pecados não são uma carga para
poderem ser transferidos da pessoa para a cabra. Portanto, todas as práticas [relacionadas ao sacrifício do bode] são metáforas
destinadas a motivar temor na pessoa a fim de incitá-la à Teshuvá”.
1457- Uma oferenda por pecado só pode expiar pelos pecados que tiverem sido cometidos inadvertidamente. Conforme a
Halachá anterior explicou, uma oferenda por culpa (Ashám) é trazida por determinados pecados cometidos intencionalmente.
Mas, de uma maneira geral, não há como oferecer um sacrifício individual para expiar pelas transgressões intencionais. No
entanto, o bode mandado para o Azazêl expia também por esses pecados.
1458- Uma oferenda por pecado só pode ser trazida por uma transgressão descoberta mais tarde. Não se pode trazer uma
oferenda por pecado sem estar consciente do cometimento de uma transgressão específica. Mas o bode mandado para o
Azazêl expia todos os pecados, mesmo aqueles que não eram sabidos.
1459- O Rambam não pretende implicar que a pessoa que é obrigada a trazer uma oferenda por pecado ou culpa fica
desobrigada de fazê-lo por causa do bode mandado para o Azazêl. Ao contrário, em Hilchót Shegagót 3:9 consta claramente
que esses sacrifícios devem ser oferecidos (à exceção do Ashám Talui, uma oferenda por culpa trazida quando a pessoa não
sabe com certeza se cometeu a transgressão). Mas a implicação é que o bode que é mandado para o Azazêl complementa a
expiação daqueles que já tiverem oferecido esses seus sacrifícios.
1460- Shevuót 12b.
1461- Carêt envolve morte prematura pela mão de D-us e outras punições. Vide Capítulo 8, Halachá 1, para uma definição
mais precisa desse termo.
Veshinantam | 132
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
3. Atualmente, devido à inexistência do Templo e ִּבזְ ַמן ַהּזֶ ה ֶׁש ֵאין ֵּבית ַה ִּמ ְק ָּדׁש ַקּיָ ם וְ ֵאין לָ נּו.ג
do Altar de expiação,1464 nada mais nos resta além ׁשּובה
ָ ַה ְּת.ׁשּובה ָ ֵאין ָׁשם ֶאלָ א ְת1464ִמ ַזְּבח ּכַ ָּפ ָרה
da Teshuvá. A Teshuvá expia todos1465 os pecados.
ֲא ִפּלּו ָר ָׁשע ּכָ ל1465.ְמכַ ֶּפ ֶרת עַ ל ּכָ ל ָהעֲ ֵברֹות
Até quem for perverso a vida toda e se arrepender
em seus momentos finais de vida não será lembrado ׁשּובה ָּב ַא ֲחרֹונָ ה ֵאין ַמזְ ּכִ ִירין לֹו ָ יָ ָמיו וְ עָ ָׂשה ְת
de nenhum aspecto da sua iniquidade,1466 conforme "וְ ִר ְׁשעַ ת 1467
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר 1466
.ׁשּום ָד ָבר ֵמ ִר ְׁשעֹו
está dito:1467 “A maldade do perverso não o fará 1468
."ָה ָר ָׁשע ל ֹא יִ ּכָ ֶׁשל ָּבּה ְּביֹום ׁשּובֹו ֵמ ִר ְׁשעֹו
tropeçar no dia em que retornar da sua ruindade”.1468 1469
.ּפּורים ְמכַ ֵּפר לַ ָּׁש ִבים ִ ִוְ עַ צְ מֹו ֶׁשל יֹום ַהּכ
O próprio Iom Kipur expia quem se arrepende,1469 1471
." "ּכִ י ַבּיֹום ַהּזֶ ה יְ כַ ֵּפר עֲ לֵ יכֶ ם1470ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
conforme está dito:1470 “Esse dia expiará por vós”.1471
1462- Pois quem jura falsamente profana a santidade do nome de D-us. É por isso que consta em Shevuót 39a que o mundo
tremeu imensamente após ser ordenado a não jurar em falso. É o único caso de pecado na Torá onde D-us declara que não
deixará impune quem o cometer.
1463- Todos os preceitos positivos, à exceção da circuncisão e do sacrifício pascal (Keritót 1:1).
1464- O Rambam menciona tanto a falta do Templo Sagrado quanto do Altar pois, conforme consta em Hilchót Beit Habechirá
(2:4), mesmo na falta do Templo, se o Altar estiver erigido em seu devido lugar, todos os sacrifícios podem ser oferecidos.
1465- Em geral, a Teshuvá atenua a gravidade e facilita a expiação de todos os pecados. Em particular, conforme explicado
na próxima Halachá, há graus diferentes de expiação causados pela Teshuvá, dependendo da natureza do pecado envolvido.
1466- Em Kidushín 40b essa afirmação é seguida pelo comentário de que a pessoa que tiver sido justa a vida toda mas se rebelar
contra D-us nos momentos finais da sua vida, perderá todo o seu mérito anterior. É por isso que os sábios sempre aconselharam
a aproveitar os últimos momentos de vida com arrependimento e boas ações. Vide também Capítulo 2, Halachá 1.
1467- Iechezkêl 33:12.
1468- Segundo o Maharshá (em Kidushín, loc. cit.), o versículo implica que o pecador tenha se arrependido de todos os seus
delitos. Mas se o arrependimento dele for apenas parcial, os pecados não serão todos absolvidos.
1469- A Halachá anterior menciona o debate entre o Rabi Iehudá Hanassí e os sábios (Shevuót 13a) quanto a se basta o próprio
Iom Kipur para alcançar expiação, ou se é preciso também fazer Teshuvá. Embora o Rambam aceite a opinião dos sábios,
ele menciona que é a “essência de Iom Kipur” e não a Teshuvá que traz expiação – pois a Teshuvá é um nível preliminar que
prepara a pessoa para a influência purificadora do Iom Kipur. Mas se não se arrepender, ela não deixa a influência purificadora
do Iom Kipur afetá-la (vide Likutei Sichót do Rebe de Lubavitch, vol. 4, Iom Kipur).
1470- Vaikrá 16:30.
1471- Poder-se-ia perguntar: Como pode a mera passagem desse dia, por mais sagrado que seja, trazer expiação à pessoa de
todos os seus pecados? Os comentaristas explicam que cada judeu possui uma essência espiritual que vive ligada eternamente
a D-us. Em Iom Kipur, essa conexão essencial aflora. A sua revelação obscurece totalmente todos os pecados passados, pois
nesse nível de conexão não há nada que possa separar um judeu de D-us. Assim, o que traz expiação é a ligação espiritual
compartilhada com D-us que fica expressada em Iom Kipur, e não a mera passagem do dia.
1472- I.e. ela tem um efeito atenuante sobre todos os pecados, conforme segue.
1473- Como explicado, mesmo quando Iom Kipur não traz expiação completa, ele exerce um efeito atenuante.
1474- Vide Iomá 86a.
1475- I.e. qualquer preceito positivo exceto circuncisão e sacrifício pascal.
Veshinantam | 133
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
respeito desses pecados está dito:1476 “Retornai, filhos ׁשֹוב ִבים ָ "ׁשּובּו ָּבנִ ים1476 ָּוב ֵאּלּו נֶ ֱא ַמר.לֹו
incrédulos! Eu curarei os vossos atos rebeldes”.1477 Se עָ ַבר עַ ל ִמצְ וַ ת1477."ֶא ְר ָּפה ְמׁשּוב ֵֹתיכֶ ם וְ גֺו׳
alguém transgride uma proibição que não é punível ל ֹא ַתעֲ ֶׂשה ֶׁש ֵאין ָּבּה ּכָ ֵרת וְ ל ֹא ִמ ַיתת ֵּבית
por Carêt ou por execução pelo tribunal e se arrepende,
a sua Teshuvá tem um efeito provisório1478 e o Iom וְ יֹום1478ׁשּובה תֹולָ ה ָ ְּת- ׁשּובה ָ ִּדין וְ עָ ָׂשה ְת
Kipur traz expiação.1479 A respeito deles está dito:1480 "ּכִ י1480 ָּוב ֵאּלּו נֶ ֱא ַמר1479.ּפּורים ְמכַ ֵּפר ִ ִַהּכ
“Esse dia expiará por vós”. Se alguém transgride uma עָ ַבר עַ ל ּכָ ֵרתֹות."ַבּיֹום ַהּזֶ ה יְ כַ ֵּפר עֲ לֵ יכֶ ם
proibição que é punível por Carêt ou por execução pelo ׁשּובה ָ ְּת- ׁשּובה ָ ּומיתֹות ֵּבית ִּדין וְ עָ ָׂשה ְת ִ
tribunal e se arrepende, a sua Teshuvá e o Iom Kipur ּסּורין ַה ָּב ִאין ִ ִוְ י 1481
ּפּורים ּתֹולִ ין ִ ִוְ יֹום ַהּכ
têm um efeito provisório1481 e os sofrimentos que o
infligirem1482 concluirão a sua expiação. Enquanto não ּולְ עֹולָ ם ֵאין.ּגֹומ ִרין לֹו ַהּכַ ָּפ ָרה ְ 1482עָ לָ יו
padecer desses sofrimentos ele não conseguirá uma מּורה עַ ד ֶׁשּיָבֹואּו עָ לָ יו ָ ְִמ ְתּכַ ֵּפר לֹו ּכַ ָּפ ָרה ּג
expiação completa, pois a respeito desses [pecados] "ּופ ַק ְד ִּתי ְב ֵׁש ֶבט ָ 1483
ָּוב ֵאּלּו נֶ ֱא ַמר.ּסּורין
ִ ִי
está dito:1483 “Eu punirei as iniquidades deles com um ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים1484."ִּפ ְׁשעָ ם ִּובנְ גָ עִ ים עֲ וֹנָ ם
bastão e as transgressões deles com pragas”.1484 Quando מּורים? ְּב ֶׁשּל ֹא ִחּלֵ ל ֶאת ַה ֵּׁשם ְּב ָׁשעָ ה ִ ֲא
essas regras se aplicam? Quando a transgressão não
envolver a profanação do nome de D-us.1485 Mas a ֲא ָבל ַה ְּמ ַחּלֵ ל ֶאת ַה ֵּׁשם ַאף 1485
.ֶׁש ָע ַבר
pessoa que profanar o nome de D-us, mesmo se fizer ּפּורים ִ ִׁשּובה וְ ִהּגִ יעַ יֹום ַהּכ ָ עַ ל ִּפי ֶׁשעָ ָׂשה ְת
Teshuvá, mantiver-se arrependida na chegada de Iom ּסּורין ֵאינֹוִ ִׁשּובתֹו ָּובאּו עָ לָ יו י ָ עֹומד ִּב ְתֵ וְ הּוא
Kipur e padecer de sofrimentos, não conseguirá uma ֶאלָ א.מּורה עַ ד ֶׁשּיָ מּות ָ ְִמ ְתּכַ ֵּפר לֹו ּכַ ָּפ ָרה ּג
expiação completa enquanto não morrer. Mas os três ּסּורין ְׁשלָ ְׁש ָּתן ּתֹולִ ין ִ ִּפּורים וְ י ִ ִׁשּובה יֹום ַהּכָ ְת
[fatores] – Teshuvá, Iom Kipur, e sofrimento – terão um
efeito provisório e a morte trará expiação, conforme "וְ נִ גְ לָ ה ְב ָאזְ נֵ י 1486
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ּומ ָיתה ְמכַ ֶּפ ֶרת ִ
está dito:1486 “Foi revelado em meus ouvidos [pelo] ה' צְ ָבאֹות ִאם יְ כֻ ַּפר ֶהעָ וֹן ַהּזֶ ה לָ כֶ ם עַ ד
Senhor das hostes, certamente essa transgressão não 1487
."ְּת ֻמתּון
será expiada até que morras”.1487
Veshinantam | 134
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
1488- Na Halachá 2 o Rambam descreve as condições comprobatórias de que o arrependimento da pessoa foi completo e
ela não voltará a pecar. Neste caso, no entanto, a abstinência do pecado é prova suficiente de ter alcançado esse nível (Meíri,
Chibur HaTeshuvá).
1489- Iomá 86b.
1490- Segundo o Mabit (Beit Elo-him, Shaar Hateshuvá), a expressão Baal Teshuvá significa “dono da Teshuvá” e implica que
a pessoa “subjugou” o atributo da Teshuvá, convertendo-o em um aspecto permanente de sua natureza.
1491- Kohélet 12:1.
1492- O Ialkut Shimoní (Parashat Balak) declara: “Os indivíduos totalmente perversos do povo de Israêl que se enchem de
remorso e arrependimento na hora da morte merecem uma porção no Mundo Vindouro”.
1493- Kohélet, 12:2.
1494- Vide Shabat 151b.
1495- Embora seja concedida expiação até à pessoa que só se arrepender à beira da morte, é muito melhor se arrepender
durante a vida. O homem foi criado para viver a vida inteira conectado com D-us dentro do contexto de nosso mundo
material. Assim, quem é absolvido do castigo arrependendo-se em seus momentos finais não terá cumprido a finalidade da
sua criação.
Veshinantam | 135
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
2. Qual é a definição de Teshuvá? Que o pecador חֹוטא ֶ ׁשּובה? הּוא ֶׁשּיַ עֲ זֹב ַה ָ ּומה ִהיא ַה ְּת ַ .ב
abandone os seus pecados, os remova de seus וְ יִ גְ מֹר ְּבלִ ּבֹו 1496
ֶֹח ְטאֹו וִ ִיסירֺו ִמ ַּמ ֲח ַׁש ְבּתו
pensamentos1496 e assuma no [fundo de seu] coração "יַ עֲ זֹב1497 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ֶׁשּל ֹא יַ עֲ ֵׂשהּו עֹוד
jamais tornar a repeti-los, conforme está dito:1497
“Que o perverso abandone os seus caminhos...” E que . וְ כֵ ן יִ ְתנַ ֵחם ַעל ֶׁשעָ ַבר."ָר ָׁשע ַּד ְרּכֹו וְ גֺו׳
se arrependa [pelas transgressões que cometeu no] וְ יָ עִ יד."ׁשּובי נִ ַח ְמ ִּתי
ִ "ּכִ י ַא ֲח ֵרי1498ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
passado, conforme está dito:1498 “Pois após retornar יֹודעַ ַּתעֲ לּומֹות ֶׁשּל ֹא יָ ׁשּוב לְ זֶ ה ַה ֵח ְטא ֵ עָ לָ יו
[a Ti], eu fiquei arrependido”. [Ele deve alcançar ֹלהינּוֵ ֹאמר עֹוד ֱא ַ ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וְ ל ֹא נ.לְ עֹולָ ם
1499
o nível em que] D-us, que sabe de todo o oculto, וְ צָ ִריְך לְ ִה ְתוַ ּדֹות ִּב ְׂש ָפ ָתיו."לְ ַמעֲ ֵׂשה יָ ֵדינּו וְ גֺו׳
seja testemunha de que jamais voltará a cometer o
pecado, conforme está dito:1499 “Não tornaremos
1500
.לֹומר עִ נְ יָ נֹות ֵאּלּו ֶׁשּגָ ַמר ְּבלִ ּבֹו
ַ ְו
a dizer que as obras de nossas mãos são os nossos
deuses”. As decisões tomadas [no fundo de] seu
coração deverão ser confessadas verbalmente.1500
3. Quem verbaliza uma confissão sem ter decidido ּכָ ל ַה ִּמ ְתוַ ֶּדה ִּב ְד ָב ִרים וְ ל ֹא גָ ַמר ְּבלִ ּבֹו לַ עֲ זֹב.ג
[no fundo de] seu coração renunciar [ao pecado] ֶׁש ֵאין1501טֹובל וְ ֶׁש ֶרץ ְּביָ דֹו ֵ ְּדֹומה ל ֶ ֲה ֵרי זֶ ה
pode ser comparado a quem mergulha [em 1502
.ַה ְּט ִבילָ ה מֹועֶ לֶ ת לֺו עַ ד ֶׁשּיַ ְׁשלִ יְך ַה ֶּׁש ֶרץ
um Micve] tendo [a carcaça de] um animal rastejante
na mão:1501 enquanto a carcaça não for abandonada,
1504
.""ּומֹודה וְ עֹזֵב יְ ֻר ָחםֶ 1503
אֹומר
ֵ וְ כֵ ן הּוא
a sua imersão de nada vale.1502 Esse princípio é
1507
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר 1506
.ֶאת ַה ֵח ְטא 1505
וְ צָ ִריְך לִ ְפרֹט
depreendido da declaração:1503 “Quem confessa [as "אּנָ א ָח ָטא ָהעָ ם ַהּזֶ ה ֲח ָט ָאה גְ דֹלָ ה וַ ּיַ עֲ ׂשּו ָ
suas transgressões] e renuncia a elas será tratado com 1508
."ֹלהי זָ ָהב ֵ לָ ֶהם ֱא
misericórdia”.1504 É preciso especificar claramente1505
o pecado cometido,1506 conforme se depreende [da
confissão de nosso mestre Moshé]:1507 “Eu rogo a Ti.
O povo cometeu um terrível pecado ao fazer para si
um ídolo de ouro”.1508
1496- O Meíri escreve: “Um Baal Teshuvá deve inspecionar todos os seus atos e pensamentos, eliminando todos os atributos
ruins tais como raiva, ódio e inveja de dentro de si. Ele deve ser tão cuidadoso com o pensamento quanto com o próprio pecado,
pois ao menor descuido, fica difícil se separar deles. Inevitavelmente, o pensamento conduz à ação” (Chibur Hateshuvá).
1497- Ieshaiáhu 55:7.
1498- Irmiáhu 31:18.
1499- Hoshêa 14:4.
1500- Ao fazer essa confissão a pessoa revela os sentimentos de remorso que se encontram no fundo de seu coração. Além
disso, essa revisão dos pecados cometidos incrementa os seus sentimentos de arrependimento e reduz as chances de uma
futura recaída (vide Sefer Hachinuch, Mitsvá 364).
1501- Uma pessoa que se encontra ritualmente impura pode recuperar a sua pureza ritual através da imersão em um Micve.
No entanto, tocar em certos animais rastejantes (como ratos e lagartos) transmite impureza ritual. Portanto, neste caso, ela
permanece ritualmente impura por não ter largado a fonte de impureza.
1502- Taanít 16a. Com base nesse mesmo princípio o Sefer Hachinuch (loc. cit.) declara que a confissão de alguém que rouba
um objeto ou danifica um bem de um vizinho não tem valor enquanto ele não o indenizar.
1503- Mishlei 28:13.
1504- O versículo deixa claro que além de confessar, a pessoa deve modificar o seu comportamento e abandonar os seus pecados.
1505- Em vez de simplesmente confessar: “Eu pequei”, é preciso explicitar o pecado específico e pedir perdão por ele. Assim,
em sua descrição da Mitsvá da confissão (Capítulo 1, Halachá 1), o Rambam acrescenta a frase: “Eu cometi iniquidade diante
de Ti ao fazer tal e tal.”
1506- Vide Iomá 86b.
1507- Shemót 32:31.
1508- Aqui Moshé explicita o pecado cometido pelo povo.
Veshinantam | 136
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
5. É digno de grande louvor o indivíduo que ao ִ ְ וְ ֶׁש ַבח ּגָ דֹול לַ ָּׁשב ֶׁשּיִ ְתוַ ֶּדה ָּב ַר ִּבים ו.ה
ַיֹודיע
fazer Teshuvá confessa os seus pecados em público ּומגַ ּלֶ ה עֲ ֵברֹות ֶׁש ֵּבינֹו לְ ֵבין ְ 1519ְּפ ָׁשעָ יו לָ ֶהם
e os leva ao conhecimento dos outros,1519 revelando אֹומר לָ ֶהם ָ'א ְמנָ ם ֵ ְ לַ ֲא ֵח ִרים ו1520ֲח ֵברֹו
as transgressões que cometeu contra o próximo.1520
Ele deve dizer-lhes: “Embora tenha pecado אתי לִ ְפלֹונִ י וְ עָ ִׂש ִיתי לֹו ּכָ ְך וְ כָ ְך וַ ֲה ֵרינִ י ַהּיֹום
ִ ָח ָט
contra fulano e tenha feito isso e aquilo, eu estou ַמֹודיע
ִ וְ כָ ל ַה ִּמ ְתּגָ ֶאה וְ ֵאינֺו.'ּומ ְתנַ ֵחם ִ ָׁשב
arrependido e expresso o meu remorso”. Quem, por .מּורה ָ ְׁשּובתֹו ּג ָ ֶאלָ א ְמכַ ֶּסה ְפ ָׁשעָ יו ֵאין ְּת
orgulho, esconde os seus pecados e não os revela, 1522
.""מכַ ֶּסה ְפ ָׁשעָ יו ל ֹא יַ צְ לִ ַיח ְ 1521ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
não consegue atingir uma Teshuvá completa, pois
está dito:1521 “Não terá êxito quem esconder os seus
Veshinantam | 137
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
pecados”.1522 A quais circunstâncias isso se aplica? מּורים? ַּבעֲ ֵברֹות ֶׁש ֵּבין ָא ָדם ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא
A pecados no âmbito do homem e seu próximo. ֲא ָבל ַּבעֲ ֵברֹות ֶׁש ֵּבין ָא ָדם לַ ָּמקֹום.לַ ֲח ֵברֹו
Mas pecados no âmbito do homem e D-us não é ֵאינֹו צָ ִריְך לְ ַפ ְר ַסם עַ צְ מֹו וְ עַ ּזּות ָּפנִ ים ִהיא
preciso divulgar; na verdade, revelá-los denotaria
arrogância.1523 O correto é a pessoa se arrepender ֶאלָ א ָׁשב לִ ְפנֵ י ָה ֵאל ָּברּוְך. ִאם ּגִ ּלָ ם1523לֹו
perante D-us, bendito é Ele,1524 e explicitar diante ּומ ְתוַ ֶּדה
ִ 1525ּופֹורט ֲח ָט ָאיו לְ ָפנָ יו ֵ 1524
הּוא
Dele os pecados que cometeu.1525 Em público ela טֹובה ִהיא לֹו ָ ְ ו.עֲ לֵ ֶיהם לִ ְפנֵ י ַר ִּבים ְס ָתם
1526
deverá fazer [apenas] uma confissão genérica.1526 Não "א ְׁש ֵרי נְ ׂשּוי
ַ 1527 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ֶׁשּל ֹא נִ ְתּגַ ּלָ ה עֲ ֹונֹו
divulgar os pecados cometidos será benéfico para 1528
."ֶּפ ַׁשע ּכְ סּוי ֲח ָט ָאה
ela, pois está dito:1527 “Feliz daquele cuja transgressão
é perdoada, cujo pecado é encoberto”.1528
1522- O Rambam interpreta o insucesso mencionado no versículo como se referindo a uma Teshuvá incompleta. Essa
interpretação está fundamentada na continuação do versículo: “Mas quem confessa e abandona [os seus pecados] será tratado
com misericórdia”, implicando que o versículo todo está centrado no conceito do arrependimento.
1523- Berachót 34b.
1524- O Ialkut Shimoní (Hoshêa 14) declara: “Geralmente, quando alguém se desculpa após perturbar um outro judeu em
público, este responde: ‘Já que você me envergonhou em público, traga todos aqueles que viram você me perturbando e
diante deles eu aceitarei as suas desculpas’. D-us não age dessa maneira. Mesmo quando alguém zomba Dele e O despreza em
público, D-us lhe diz: ‘Arrependa-se em particular, só Eu e você presentes, e Eu aceitarei a sua Teshuvá’”.
1525- Mencionando cada pecado individualmente, conforme exigido pela Halachá 3.
1526- Declarando apenas: “Eu pequei”, sem enumerar cada um dos pecados.
1527- Tehilím 32:1.
1528- No entanto a pessoa pode fazer uma confissão pública, se houver motivo para tal. Similarmente, Bereshit 38:26 conta
que Iehudá confessou as relações que teve com Tamar para salvá-la da punição capital (Perí Chadásh).
1529- De fato, três vezes por dia em nossas preces rogamos a D-us: “Faz com que retornemos, nosso Pai, para a Tua Torá...
Traz-nos de volta a Ti em arrependimento sincero”. Similarmente, na Halachá 4, o Rambam declara: “Fazem parte dos
caminhos da Teshuvá clamar a D-us continuamente”.
1530- Esses dias são chamados de “Dez Dias de Arrependimento”. De fato, os dias entre Rosh Hashaná e Iom Kipur são apenas
sete, mas os dias de arrependimento totalizam dez por incluírem também os dois dias de Rosh Hashaná e o dia de Iom Kipur.
Em seu Sidur, o Rav Itschak Luria, o Ari Hakadósh, escreve que essa semana possui o potencial de elevar todos os dias do
ano anterior. Arrependendo-se no domingo dos Dez Dias de Arrependimento, a pessoa pode expiar todos os pecados que
cometeu nos domingos ao longo do ano que passou. Igualmente, arrepender-se na segunda-feira desse período expia os
pecados que ela cometeu nesse dia da semana durante todo o ano anterior. O Maharshá (Ievamót 49b) explica da seguinte
forma o significado desses dias: D-us julga o mundo em Rosh Hashaná e sela o decreto em Iom Kipur. Os dias intermediários
podem ser aproveitados para anular quaisquer sentenças severas através da Teshuvá. O Meíri (Rosh Hashaná 16b) enfatiza
a importância de utilizar a natureza única desses dias e usa termos muito rigorosos para descrever quem não se vale dessa
oportunidade para se arrepender.
1531- Ieshaiáhu 55:6.
1532- Embora D-us esteja presente em todos os elementos da existência, a Sua Presença não está manifesta. Durante os
Dez Dias de Arrependimento, D-us fica mais acessível para o homem e oferece a ele a oportunidade de um relacionamento
próximo. Além disso, nesses dias Ele estimula o seu coração e o incita a servi-Lo.
1533- Para cada indivíduo é concedida essa oportunidade especial de ficar mais perto de D-us durante os Dez Dias de
Arrependimento.
1534- Uma comunidade é considerada uma entidade e não simplesmente um conjunto de indivíduos. Sendo assim, ela possui
mérito adicional. É por isso que Rosh Hashaná 18a declara que a Teshuvá de uma comunidade pode anular até mesmo um
decreto celestial rigoroso já determinado e selado.
Veshinantam | 138
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
8. A prece confessional usualmente recitada por ֲ ַהּוִ ּדּוי ֶׁשּנָ ֲהגּו בֹו ּכָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל.ח
"א ָבל
todo o povo de Israêl é: “Pois nós1547 pecamos...” Essa וְ הּוא עִ ַקר." ָח ָטאנּו כֻ לָ נּו1547ֲאנַ ְחנּו
é, em essência, a prece confessional.1548 Os pecados עֲ ֵברֹות ֶׁש ִה ְתוַ ָּדה עֲ לֵ ֶיהן ְּביֹום1548.ַהּוִ ּדּוי
Veshinantam | 139
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
que forem confessados em um Iom Kipur deverão ּומ ְתוַ ֶּדה עֲ לֵ ֶיהן ְּביֹוםִ ּפּורים זֶ ה חֹוזֵ ר ִ ִַהּכ
ser confessados [novamente] em outro Iom Kipur,1549 עֹומד
ֵ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשהּוא1549ּפּורים ַא ֵחר ִ ִַהּכ
mesmo se a pessoa permanecer firme em seu "ּכִ י ְפ ָׁשעַ י ֲאנִ י ֵא ָדע 1550
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ׁשּובתֹו
ָ ִּב ְת
arrependimento, pois está dito:1550 “Eu reconheço
as minhas transgressões e os meus pecados estão
1551
."אתי נֶ גְ ִּדי ָת ִמידִ וְ ַח ָּט
sempre diante de mim”.1551
9. A Teshuvá e o Iom Kipur só expiam pecados no ּפּורים ְמכַ ְּפ ִריןִ ִׁשּובה וְ ל ֹא יֹום ַהּכ ָ ֵאין ַה ְּת.ט
âmbito do homem e D-us,1552 como o de alguém que ּכְ גֹון ִמי1552ֶאלָ א עֲ ֵברֹות ֶׁש ֵּבין ָא ָדם לַ ָּמקֹום
consumiu um alimento proibido ou que manteve
סּורה ָ ֶׁש ָאכַ ל ָּד ָבר ָאסּור אֹו ָבעַ ל ְּבעִ ילָ ה ֲא
relações sexuais proibidas, ou algo do gênero. Já
pecados no âmbito do homem e seu próximo, como ֲא ָבל עֲ ֵברֹות ֶׁש ֵּבין ָא ָדם לַ ֲח ֵברֹו.וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן
o de alguém que feriu1553 ou amaldiçoou outrem1554 אֹו ַה ְּמ ַקּלֵ ל1553חֹובל ֶאת ֲח ֵברֹו ֵ ּכְ גֹון ַה
ou que o tenha roubado, ou algo do gênero, só são אֹו גֹוזְ לֹו וְ כַ ּיֹוצֵ א ָב ֶהן ֵאינֹו נִ ְמ ָחל1554ֲח ֵברֹו
perdoados após indenizá-lo e apaziguá-lo. Indenizá- לֹו לְ עֹולָ ם ַעד ֶׁשּיִ ֵּתן לַ ֲח ֵברֹו ַמה ֶׁשהּוא ַחּיָב לֹו
lo apenas não basta; é necessário apaziguá-lo e pedir
ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ֶה ֱחזִ יר לֹו ָממֹון ֶׁשהּוא.וִ ַירּצֵ הּו
o seu perdão. Quem aborrece o próximo até mesmo
através de palavras deve apaziguá-lo e insistir [pelo ַחּיָב לֹו צָ ִריְך לְ ַרּצֹותֹו וְ לִ ְׁשאֹל ִמ ֶּמּנּו ֶׁשּיִ ְמחֹל
seu perdão], até ele perdoar. Se ele não quiser ֲא ִפּלּו ל ֹא ִה ְקנִ יט ֶאת ֲח ֵברֹו ֶאלָ א ִב ְד ָב ִרים.לֹו
perdoar, será preciso trazer um grupo de três amigos 1555
.צָ ִריְך לְ ַפּיְ סֹו וְ לִ ְפּגֹעַ ּבֹו עַ ד ֶׁשּיִ ְמחֹל לֹו
e diante deles pedir o seu [perdão].1555 Se nem assim ׁשּורה ֶׁשל ָ ל ֹא ָרצָ ה ֲח ֵברֹו לִ ְמחֹל לֹו ֵמ ִביא לֹו
ele aceitar [perdoar], esse processo deverá ser
ּומ ַב ְּק ִׁשין
ְ לׁשה ְבנֵ י ָא ָדם ֵמ ֵרעָ יו ּופֹוגְ עִ ין ּבֹוָ ְׁש
repetido1556 uma segunda e uma terceira vez.1557 Se
nem assim ele aceitar [perdoar], o ofensor poderá ל ֹא נִ ְת ַרּצָ ה לָ ֶהן ֵמ ִביא לֹו ְׁשנִ ּיָ ה1556.ִמ ֶּמּנּו
desistir1558 e não precisará mais dar continuidade [à
1558
ל ֹא ָרצָ ה ַמּנִ יחֹו וְ הֹולֵ ְך לֹו1557.יׁשית ִ ִּוׁשל
ְ
1549- Essa afirmação é objeto de debate entre sábios em Iomá 86b. Lá o Rabi Elazar ben Iaakov menciona esse parecer. No
entanto, outros sábios opinam que não só inexiste obrigação de no ano seguinte voltar a confessar os pecados cometidos,
como é inadequado fazê-lo, comparando esse comportamento ao de “um cão voltando para lamber seu vômito”. Embora o Tur
(Orach Chaím 607) apoie a opinião contrária à repetição da confissão, o Shulchan Aruch e autoridades posteriores consideram
essa repetição louvável.
1550- Tehilím 51:5.
1551- O Rashi interpreta o versículo como significando: “Eu não sinto que me foi concedida expiação por eles, e eles estão
sempre diante de mim”. O Sefer Hatánia, Igueret Hateshuvá (cap. 11), explica que o termo Negdí, traduzido como “diante de
mim”, deve ser interpretado como “de longe,” assim como no versículo (Bamidbar 2:2): “Eles deverão acampar ao redor do
Santuário, de longe”. Assim, o versículo do Tehilím implica que a pessoa deve sempre se lembrar dos seus pecados e, assim,
ser humilde. No entanto, tê-los sempre em mente não deve causar falta de alegria em seu serviço a D-us. Ao contrário, a
renovação da conexão com D-us através da Teshuvá deve ser uma fonte de felicidade.
1552- Iomá 85b depreende esse princípio de Vaikrá 16:30: “Sereis limpos de todos os vossos pecados diante de D-us”. Pode-
se inferir que Iom Kipur só limpará a pessoa que tiver cometido pecado “diante de D-us”, i.e. no âmbito do homem e D-us.
1553- A esse respeito consta em Bava Kama 92a claramente: “Mesmo se indenizar [a vítima] a pessoa não é perdoada enquanto
não pedir perdão”. Como fundamento do conceito o Talmud cita o comportamento do Avimélech para com Avraham e Sará
(Bereshit, Capítulo 20). Além de devolver Sará, ele presenteou a Avraham “ovelhas, gado, escravos e escravas” com o intuito
de apaziguá-lo.
1554- Dirigir imprecações contra um próximo judeu é essencialmente um pecado contra D-us. Portanto: (1) o imprecador
deve receber pena de chicotadas e não de indenização financeira (Hilchót San-hedrín 26: 2); e (2) o imprecador deve receber
pena de chicotadas mesmo se for perdoado pela vítima (ibid. 6). No entanto, como a imprecação também embaraça e perturba
a vítima, considera-se também um pecado no âmbito do homem e seu próximo.
1555- Iomá 87a depreende esse conceito de Mishlei 6:2-3: “Se tu fores emboscado pelas palavras de tua boca... faz isso, e se
entregue... humilha-te e faz teu próximo superior”.
1556- Mudando o fraseado do pedido de desculpas e do pedido de perdão (Maharíl, Bait Chadash, Orach Chaím, 606).
1557- Uma alusão a isso pode ser encontrada nos apelos dos irmãos de Iossêf para que este os perdoasse (Bereshit 50:16). A
expressão “por favor” é mencionada três vezes: “Nós apelamos a ti, por favor. Por favor, desconsidera... Por favor, desculpa”
(Iomá, loc. cit.).
1558- Segundo o Mordechai (Iomá, loc. cit.), o ofensor precisa juntar dez indivíduos e informá-los das tentativas já feitas para
apaziguar a vítima, para não parecer aos olhos deles orgulhoso demais para pedir perdão.
Veshinantam | 140
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
questão. Daí em diante] o indivíduo que se recusou וְ ִאם ָהיָ ה1559.חֹוטא ֵ וְ זֶ ה ֶׁשּל ֹא ָמ ַחל הּוא ַה
a perdoar é que passa a ser o pecador.1559 [Isso não ַרּבֹו הֹולֵ ְך ָּובא ֲא ִפּלּו ֶאלֶ ף ְּפעָ ִמים עַ ד ֶׁשּיִ ְמחֹל
se aplica] caso [a vítima] seja o seu mestre. [Sendo 1560
.לֹו
esse o caso], é preciso continuar insistindo pelo seu
perdão até mesmo mil vezes, até ele perdoar.1560
11. Se uma pessoa fez mal a outrem e este morreu ּומת ֲח ֵברֹו ק ֶֹדם ֶׁש ַּיְב ֵּקׁש ֵ ַה.יא
ֵ חֹוטא לַ ֲח ֵברֹו
1559- Iomá (loc. cit.) depreende esse último princípio das declarações de Shemuel ao povo (Shemuel I 12:23): “Longe de mim
pecar contra D-us, deixando de rezar por vós”. O Talmud nota que anteriormente (ibid. vers. 19) o povo havia reconhecido
os seus erros: “Acrescentamos aos nossos pecados essa maldade”, e declara que a obrigação de conceder perdão só se aplica
quando a parte culpada reconhece os delitos cometidos.
1560- Iomá (loc. cit.) relata que certa vez o Rav estava explicando trechos da Torá diante dos sábios quando o Rabi Chia entrou
no recinto. A chegada dele fez com que o Rav reiniciasse o estudo. Quando o Bar Kapara entrou o Rav reiniciou o estudo.
Quando o Rabi Shimon, o filho do Rabi, entrou, o Rav reiniciou o estudo. Mas quando o Rabi Chaniná bar Chama entrou, ele
disse: “Será que preciso ficar voltando ao início tantas vezes?” e não reiniciou o estudo. Acontece que o Rabi Chaniná levou
esse gesto a mal. Durante treze anos, todo Iom Kipur, o Rav foi até o Rabi Chaniná para pedir o seu perdão.
1561- O Talmud cita o comportamento de Avraham perdoando Avimélech e rezando pela sua recuperação (Bava Kama 92a).
1562- Vide Pirkei Avót 5:11.
1563- Citando o exemplo do Rabi Chaniná, que se recusou a perdoar o Rav (mencionado na Halachá anterior), o Ramá
(Orach Chaím 607) declara que a pessoa pode se recusar a perdoar se tiver como intenção o bem-estar do outro.
1564- Iomá 87a traz diversos exemplos de sábios que saíam de seus caminhos usuais só para dar chance a quem lhes tivesse
feito algum mal de pedir perdão.
1565- Pelo contrário, pois quem busca vingança ou guarda rancor, transgride um preceito negativo (vide Vaikrá 19:18).
1566- Muitos comentaristas (o Mordechai, o Sefer Mitsvót Gadól, o Hagahót Maimoní) consideram que a pessoa não precisa
perdoar quem a tiver difamado pelas costas, embora o próprio Rambam não tenha feito essa distinção.
1567- Ievamót 79a afirma que os judeus se distinguem por possuírem três características: “Eles são misericordiosos, sensíveis
à vergonha e generosos”.
1568- Literalmente: “os gentios de coração incircunciso”. Essa frase foi pinçada de Iechezkêl 44:7.
1569- Essa frase foi pinçada de Amós 1:11.
1570- Shemuel II 21:2.
1571- Quando o rei Shaul perseguiu David, ele matou muitos guivonitas na cidade de Nóv e por muitos anos os guivonitas
carregaram a lembrança daquele derramamento de sangue. D-us percebeu a indignação de seus corações e puniu Israêl pelos
atos de seu líder. Durante três anos, a terra sofreu uma forte seca. Quando o rei David questionou a razão para a falta de
chuvas, D-us lhe ordenou a apaziguar os guivonitas. Eles inicialmente se recusaram a perdoar os pecados cometidos contra
eles, até que lhes foram entregues sete dos filhos de Shaul para matarem. Eles os mataram a sangue frio e penduraram os
corpos em público. Ao se dar conta de que eles não possuíam os traços básicos de bondade inerentes ao povo judeu, David
decretou que jamais teriam permissão de se casar com israelitas.
Veshinantam | 141
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
sem que ela lhe tivesse pedido perdão,1572 será preciso ֵמ ִביא עֲ ָׂש ָרה ְבנֵ י ָא ָדם1572ִמ ֶּמּנּו ְמ ִחילָ ה
que ela leve dez pessoas diante do túmulo dele1573 e ֺאמר ִּב ְפנֵ ֶיהם ַ וְ י1573ּומעְ ִמ ָידן עַ ל ִק ְברֹו ַ
diga o seguinte diante deles: “Eu pequei perante וְ לִ ְפלֹונִ י 1574
ֹלהי יִ ְׂש ָר ֵאלֵ אתי לַ ה' ֱא ִ ָ'ח ָט
D-us, o Senhor de Israêl,1574 e perante este fulano,
pois fiz isso e aquilo contra ele”.1575 Se ficou devendo וְ ִאם ָהיָ ה ַחּיָב 1575
.'זֶ ה ֶׁשּכָ ְך וְ כָ ְך עָ ִׂש ִיתי לֹו
dinheiro, ela deverá devolvê-lo aos herdeiros. יֹודעַ לֹו ֵ ל ֹא ָהיָ ה.יֹור ִׁשים ְ ַלֹו ָממֹון יַ ְחזִ ירֹו ל
Caso não tenha conhecimento da identidade dos .יֹור ִׁשין יַ ּנִ ֶיחּנּו ְּב ֵבית ִּדין וְ יִ ְתוַ ֶּדה
1576
ְ
herdeiros, ela deverá deixar [o valor devido nas
mãos do] tribunal1576 e [em seguida] fazer confissão.
1572- Só deve ir até o túmulo de um próximo para pedir perdão quem o tiver prejudicado enquanto vivo. Quem o tiver
caluniado após a sua morte pode pedir perdão a ele em qualquer lugar (Maguên Avraham, Orach Chaím 606:7).
1573- Caso se more longe do túmulo do falecido o Iám Shel Shelomó (Iomá 87a) permite o envio de um representante para
apaziguá-lo.
1574- Pois, como mencionado, prejudicar um próximo também é considerado um pecado contra D-us.
1575- Também nesse caso é necessária uma confissão particular, com a menção individual de cada pecado.
1576- Que o guardará em confiança para entregá-lo aos herdeiros, ou que o distribuirá caso eles não sejam encontrados
(Rambam, Comentário à Mishná, Bava Kama 9:5).
1577- Consta em Berachót 57a que até “os pecadores de Israêl estão cheios de Mitsvót como as sementes de uma romã”.
1578- Pois “não há justo que [só] tenha feito o bem sem nunca pecar” (Kohélet 7:20).
1579- Conforme explicado na Halachá 2, o cálculo de méritos e pecados não é apenas uma questão quantitativa. Pelo
contrário, D-us, em Sua infinita sabedoria, faz esse cômputo considerando tanto a natureza quanto a soma de nossas ações.
1580- O Rav Saadiá Gaón explica que esse termo deve ser interpretado em um sentido relativo, significando “mais justo
que outros” (Emunót Vedeót, disc. 5, cap. 2). Similarmente, o Sefer Hatánia, Likutei Amarim (cap. 1) declara que aqui as
expressões “justo” e “mediano” são “termos emprestados, usados dentro do contexto de recompensa e punição, aplicáveis a
quem é considerado ‘justo’ em relação ao veredicto... mas quanto à verdadeira definição de ‘justo’, os nossos sábios declararam
(Berachót 61b): ‘O justo é governado [inteiramente] pela [sua] boa inclinação’”.
1581- Berachót (ibid.) descreve o malvado como “governado [inteiramente] pela [sua] má inclinação”.
1582- Berachót (ibid.) descreve o mediano como “governado por ambas [as inclinações]”. Segundo o Sefer Hatánia, Likutei
Amarim (cap. 12), “muito embora as suas ações sejam impecáveis, dentro do seu coração há uma luta contínua entre as
induções das suas inclinações, a boa e a má”.
1583- Mesmo havendo muitos justos em uma nação, ela é julgada como um todo e o seu destino é determinado pelo
comportamento de todos os seus habitantes (Talmud Ierushalmi, Taanít 3:4).
1584- Kidushín 40b.
Veshinantam | 142
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
2. Se os pecados de uma pessoa suplantarem os ּיֹותיו ִמּיָ דָ ֹֻונֹותיו ְמ ֻר ִּבין עַ ל זְ כ ָ ֲ ָא ָדם ֶׁשע.ב
méritos, ela morrerá prontamente devido à sua "עַ ל רֹב 1586
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר 1585
.הּוא ֵמת ְּב ִר ְׁשעֹו
perversidade,1585 conforme está dito:1586 “[Eu te ֹונֹות ָיה ְמ ֻר ִּבין ֶ ֲ וְ כֵ ן ְמ ִדינָ ה ֶׁשע1587."עֲ וֹנֵ ְך
feri...] devido ao teu excesso de transgressões”.1587
Similarmente, uma nação com muitos pecados será "זַ ֲע ַקת ְסדֹם1588 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.אֹוב ֶדת ֶ ִמּיָ ד ִהיא
prontamente eliminada, conforme está dito:1588 "É וְ כֵ ן ּכָ ל ָהעֹולָ ם ּכֻ ּלֹו."וַ עֲ מ ָֹרה ּכִ י ָר ָּבה וְ גֺו׳
1589
grande o clamor de Sedóm e Amorá..."1589 O mesmo ּיֺות ֶיהן ִמּיָ ד ֵהן ֵ ֹֻונֹות ֶיהם ְמ ֻר ִּבין ִמזְ כ
ֵ ֲִאם ָהיּו ע
se dá com o mundo inteiro. Se os pecados [dos ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וַ ּיַ ְרא ה' ּכִ י ַר ָּבה ָרעַ ת.נִ ְׁש ָח ִתין
1590
habitantes do mundo] superarem os seus méritos, וְ ִׁשּקּול זֶ ה ֵאינֹו לְ ִפי ִמנְ יַ ן ַהּזְ כֻ ּיֹות1591."ָה ָא ָדם
eles serão prontamente destruídos, conforme está
dito:1590 “D-us viu que a maldade do homem era יֵ ׁש זְ כּות ֶׁש ִהיא1592.וְ ָהעֲ ֹונֹות ֶאלָ א לְ ִפי ּגָ ְדלָ ם
grande [e disse: ‘Eu destruirei o homem’]”.1591 Esse "יַ עַ ן1594 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1593.ּכְ נֶ גֶ ד ּכַ ָּמה ֲעֹונֹות
cálculo não leva em conta [apenas] a quantidade de וְ יֵ ׁש עָ ֹון ֶׁשהּוא ּכְ נֶ גֶ ד1595."נִ ְמצָ א בֹו ָּד ָבר טֹוב
méritos e pecados, mas também a magnitude deles.1592 חֹוטא ֶא ָחד יְ ַא ֵּבד ֵ ְ "ו1596 ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.ּכַ ָּמה זְ כֻ ּיֹות
Há méritos que eclipsam muitos pecados juntos,1593
conforme está dito:1594 “Porque nele foi encontrada
uma boa qualidade”.1595 E há pecados que eclipsam
muitos méritos juntos, conforme está dito:1596 “Um
1585- O Raavad questiona as afirmações do Rambam, notando que muitas pessoas más vivem vidas longas. Ele concorda
que aos ímpios será negada a oportunidade de viver o período integral (citando Ievamót 50a), mas argumenta que é óbvio
que a sentença contra eles não é executada de imediato. As afirmações do Rambam são defendidas por muitos comentaristas.
O Késsef Mishnê explica que como o cômputo dos pecados e dos méritos é realizado “de acordo com a sabedoria de D-us,
o Sabedor”, é possível que indivíduos que aparentam ser ímpios possuam méritos que superam as suas transgressões. O
Léchem Mishnê explica que a “morte” mencionada na Halachá é a morte no Mundo Vindouro, ou seja, receber o veredicto de
Guehinóm (purgatório). No entanto, é difícil de entender essa opinião em termos de continuidade da Halachá, uma vez que
ela discute o destino de uma nação e também de todo o mundo. O Ramban (Shaar Haguemul) sustenta que esse julgamento se
aplica a vida e morte neste mundo e explica que há Mitsvót que são mais propícias para uma vida longa. Assim, se um ímpio
cumprir uma dessas Mitsvót, ele será recompensado com vida longa mesmo que não merecesse essa sentença no julgamento.
1586- Irmiáhu 30:14.
1587- O versículo enfatiza que o próprio D-us delibera o julgamento e que os pecados de Israêl são a causa direta do castigo recebido.
1588- Bereshit 18:20.
1589- Os indivíduos justos residentes nessa nação não perecerão, conforme se depreende da queixa de Avraham a D-us
antes da destruição de Sedóm (Bereshit 18:23): “Tu destruirás o justo com o mau?” (Léchem Mishnê). Mas por terem ligação
com uma nação perversa eles sofrerão e perderão os seus bens (Merkavát Hamishnê). Outros comentaristas explicam que a
obliteração de uma nação mencionada nessa Halachá não implica necessariamente que todos os habitantes dela perecerão,
mas que a identidade nacional do povo é que estará condenada ao esquecimento.
1590- Bereshit 6:5;7.
1591- Nesse caso também, ao escolher como exemplo o dilúvio, o Rambam implica que os justos serão salvos, assim como
Noach (Léchem Mishnê).
1592- Similarmente Avót 2:1 ensina: “Seja tão cuidadoso no [cumprimento de uma] Mitsvá [aparentemente] menor como no
[cumprimento de uma Mitsvá aparentemente] maior, pois você não conhece a recompensa dada pelas Mitsvót”.
1593- É importante enfatizar que o julgamento aqui referido diz respeito ao destino da pessoa em geral. É dentro desse contexto
que uma Mitsvá pode “eclipsar muitos pecados”. Mas, em particular, os pecados são também levados em consideração e D-us
não deixa de considerar apropriadamente cada pecado ao fazer o julgamento (Rambam, Comentário à Mishná, Avót 4:28; vide
também Ramban, Seforno em Devarím 10:17).
1594- Melachím I 14:13.
1595- A narrativa citada pelo Rambam descreve a morte de Aviá, cujo pai, Ierovám, foi o primeiro rei das dez tribos. Ierovám
já tinha instituído ídolos em Dan e Beit El. No entanto, quando o seu filho adoeceu, ele pediu à sua esposa para ir disfarçada
até Achiá de Shiló, o profeta que ungiu Ierovám, para que rezasse pela recuperação de seu filho. O profeta logo reconheceu a
mulher de Ierovám e disse-lhe que todos os seus descendentes seriam condenados pelos pecados de seu marido. Aviá também
morreria, mas ele seria mais afortunado do que qualquer um de seus irmãos pois seria o único a ser enterrado e lamentado
por Israêl, “porque nele foi encontrada uma boa qualidade”. Moêd Katán 28b explica que embora Aviá tivesse emulado os
maus caminhos de seu pai, ele possuía uma qualidade meritória – ele retirou a guarda instituída por seu pai que impedia as
pessoas de se dirigirem a Ierushalaim nas festas de peregrinação. Essa atitude foi suficiente para fazê-lo merecer o privilégio
de ser sepultado.
1596- Kohélet 9:18.
Veshinantam | 143
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
pecado pode obscurecer muita bondade”. O cômputo ׁשֹוקלִ ין ֶאלָ א ְב ַדעְ ּתֹו ֶׁשל
ְ וְ ֵאין."טֹובה ַה ְר ֵּבה
ָ
é feito pela sabedoria do Onisciente D-us. Ele sabe עֹורכִ ין ַהּזְ כֻ ּיֹות
ְ ּיֹודעַ ֵה ַיאְך
ֵ ֵאל ֵּדעֹות וְ הּוא ַה
como contrapor méritos a pecados.1597 1597
.ּכְ נֶ גֶ ד ָה ֲעֹונֹות
3. Todo aquele que se arrepende das Mitsvót que ּכָ ל ִמי ֶׁשּנִ ַחם עַ ל ַה ִּמצְ וֹות ֶׁשעָ ָׂשה וְ ָת ָהה עַ ל.ג
realizou e renega os méritos [a que fez jus], dizendo ?ַהּזְ כֻ ּיֹות וְ ָא ַמר ְּבלִ ּבֹו ַּומה הֹועַ לְ ִּתי ַּבעֲ ִׂשּיָ ָתן
para si mesmo: "De que me valeu cumpri-las?
ֲה ֵרי זֶ ה ִא ֵּבד ֶאת- אֹותן ָ ַהלְ וַ אי ל ֹא עָ ִׂש ִיתי
Quem me dera não tê-las realizado", perde tudo;
nenhum mérito lhe será mantido, conforme está .ּכֻ ּלָ ן וְ ֵאין ַמזְ ּכִ ִירים לֹו ׁשּום זְ כּות ָּבעֹולָ ם
dito:1598 “A retidão do justo não o livrará no dia de "צִ ְד ַקת ַהּצַ ִּדיק ל ֹא ַתּצִ ילֶ ּנּו ְּביֹום1598ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
sua transgressão”.1599 Isso só se aplica a quem renega תֹוהה עַ ל ֶ ֵאין זֶ ה ֶאלָ א ְּב1599."][ּפ ְׁשעֺו ִ )ִ(ר ְׁשעֹו
os [atos] realizados.1600 Assim como os méritos e ּׁשֹוקלִ ין זְ כֻ ּיֺות ָא ָדם
ְ ּוכְ ֵׁשם ֶׁש 1600
.ָה ִראׁשֹונֹות
pecados da pessoa são pesados no momento da
ֹונֹותיו ִּב ְׁשעַ ת ִמ ָיתתֹו ּכָ ְך ְּבכָ ל ָׁשנָ ה וְ ָׁשנָ ה
1601
ָ ֲוַ ע
sua morte,1601 da mesma maneira são pesados os
pecados e méritos de cada habitante do mundo,1602
1602
ׁשֹוקלִ ין עֲ ֹונֹות ּכָ ל ֶא ָחד וְ ֶא ָחד ִמ ָּב ֵאי ָהעֹולָ ם
ְ
todo ano, na festa de Rosh Hashaná. Quem recebe o ִמי.ּיֹותיו ְּביֹום טֹוב ֶׁשל רֹאׁש ַה ָּׁשנָ ה ָ ֻעִ ם זְ כ
veredicto de justo é selado para a vida. Quem recebe ִּומי ֶׁשּנִ ְמצָ א ָר ָׁשע.ֶׁשּנִ ְמצָ א צַ ִּדיק נֶ ְח ָּתם לְ ַחּיִ ים
o veredicto de malvado é selado para a morte.1603 [A וְ ַה ֵּבינֹונִ י ּתֹולִ ין אֺותֺו עַ ד1603.נֶ ְח ָּתם לְ ִמ ָיתה
sentença de] quem recebe o veredicto de Beinoní
.ׁשּובה נֶ ְח ָּתם לְ ַחּיִ יםָ ִאם עָ ָׂשה ְת.ּפּורים ִ ִיֹום ַהּכ
(mediano) permanece pendente até Iom Kipur. Se ele
se arrepender, será selado para a vida; caso contrário,
1604
.וְ ִאם לַ או נֶ ְח ָּתם לְ ִמ ָיתה
será selado para a morte.1604
4. Muito embora o toque do Shofar em Rosh Hashaná ׁשֹופר ְּברֹאׁש ָ ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ְּת ִקיעַ ת.ד
seja um decreto da Torá, ele contém uma alusão. É לֹומר
ַ ְ ּכ.ַה ָּׁשנָ ה ּגְ זֵ ַרת ַהּכָ תּוב ֶר ֶמז יֵ ׁש ּבֹו
como se dissesse: Acordem, os que dormem, de seus וְ נִ ְר ָּד ִמים ָה ִקיצּו1605עּורּו יְ ֵׁשנִ ים ִמ ִּׁשינַ ְתכֶ ם
sonos;1605 vocês que cochilam, levantem de vosso
cochilo!1606 Examinem os seus atos,1607 façam Teshuvá
1607
וְ ַח ְּפׂשּו ְּב ַמעֲ ֵׂשיכֶ ם1606ִמ ַּת ְר ֵּד ַמ ְתכֶ ם
1597- D-us pesa a natureza da Mitsvá ou do pecado, a natureza da pessoa e de seu serviço espiritual, e também as circunstâncias
relacionadas à ação, para chegar ao Seu veredicto. O conhecimento de todos esses fatores e o equilíbrio deles na balança do
julgamento só é possível graças à Sua infinita sabedoria.
1598- Iechezkêl 33:12.
1599- No Capítulo 1, Halachá 3, é citada a continuação desse versículo: “A maldade do perverso não o fará tropeçar no dia em
que retornar da sua ruindade”, para enfatizar que “até quem for perverso a vida toda e se arrepender em seus momentos finais
de vida não será lembrado de nenhum aspecto da sua iniquidade”. Assim como o pesar sincero sobre os pecados cometidos
pode limpar as manchas causadas por eles, o arrependimento inapropriado também pode apagar o mérito anterior que a
pessoa possuía.
1600- Kidushín 40b.
1601- Para determinar se ela merecerá uma porção no Mundo Vindouro ou se sofrerá no Guehinóm (Rosh Hashaná 16b).
1602- Dessa frase, citada de Rosh Hashaná 16a, pode-se depreender que D-us julga cada uma de Suas criações em Rosh
Hashaná e não só o povo judeu.
1603- No entanto, através de arrependimento sincero, a pessoa pode reverter o veredicto contra ela.
1604- O Talmud relata que três livros são abertos em Rosh Hashaná: um para os completamente perversos, um para os
completamente justos e um para os medianos. Os completamente justos são inscritos e selados para a vida imediatamente.
Os completamente ímpios são inscritos e selados para a morte imediatamente. O [veredicto] dos medianos permanece em
aberto de Rosh Hashaná a Iom Kipur. Se merecerem eles serão inscritos para a vida; se não merecerem, eles serão inscritos
para a morte (Rosh Hashaná 16b).
1605- O Shofar exerce um efeito amedrontador em quem o escuta, conforme Amós profetiza (Amós 3:6): “Será possível que
o Shofar seja tocado na cidade e o povo não estremeça”? Similarmente, a Pessikta Derav Cahana explica que o chamado do
Shofar tem a intenção de atemorizar os ouvintes e motivá-los para uma Teshuvá sincera.
1606- Ao dormir a pessoa fica insensível ao mundo que a rodeia. Assim, também, muitas vezes ficamos tão envolvidos com
assuntos materiais que perdemos a consciência das realidades espirituais.
1607- Segundo o Vaikrá Rabá 29:6, o radical do nome Shofar ( )שופרalude à necessidade de aperfeiçoarmos ( )שפרo nosso
comportamento.
Veshinantam | 144
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
1608- Essa frase não parece se referir aos ensinamentos anteriores a respeito do toque do Shofar, mas às primeiras três
Halachót deste capítulo, que descrevem como D-us julga o mundo.
1609- Assim, o comportamento de cada pessoa pode influir no futuro do mundo inteiro.
1610- Kidushín (ibid.) deriva esse conceito do Kohélet 9:18: “Um pecado pode obscurecer muita bondade”, i.e. um pecado
pode fazer com que a balança penda para o lado da culpa, e todo o mérito das Mitsvót realizadas conquistado pela pessoa
pode ser perdido.
1611- Mishlei 10:25.
1612- Desse modo, a existência de todo o mundo depende do comportamento de cada indivíduo. Esse é um conceito muito
fundamental. Se a pessoa percebesse que o seu futuro pessoal e o de todo o mundo é dependente do seu comportamento, ela
nunca pecaria.
1613- Isso se refere aos dois conceitos mencionados acima: a descrição do processo de julgamento e o chamado inspirador
do Shofar.
1614- Conforme consta em Rosh Hashaná 17a: “Quem é misericordioso com as criações merece a misericórdia Divina”.
1615- Segundo o Shulchan Aruch, Orach Chaím 58:1, costuma-se começar a recitação dessas preces, chamadas de Selichót,
no início do mês de Elul. O Ramá observa que o costume ashkenazita é começar a recitar Selichót alguns dias antes de Rosh
Hashaná. Em algumas comunidades, não se recita Selichót depois de Rosh Hashaná.
1616- Eichá 2:19 declara: “Levanta-te e clama à noite, no início das vigílias”. O Hagahót Maimoní afirma que as últimas horas
da noite constituem um horário adequado para estimular a misericórdia Divina.
1617- Rosh Hashaná 17a relata que depois de D-us ter aceito a Teshuvá dos judeus pelo pecado do Bezerro de Ouro, Ele
envolveu-se em um Talít e mostrou a Moshé a ordem das orações, ensinando-lhe os Treze Atributos de Misericórdia. Ele
prometeu: “Sempre que o povo de Israêl pecar ele deverá recitar essa oração diante de Mim para que Eu o perdoe”. A recitação
desses Treze Atributos é o clímax das orações de Selichót.
Veshinantam | 145
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
5. Quando os pecados da pessoa e seus méritos ּׁשֹוקלִ ין עֲ ֹונֹות ָא ָדם עִ ם ְ ְּב ָׁשעָ ה ֶׁש.ה
são contados,1618 [D-us] não leva em consideração ֵאין ְמ ַח ְּׁש ִבין עָ לָ יו עָ ֹון ֶׁש ָח ָטא בֺו1618ּיֹותיו ָ ֻזְ כ
o primeiro pecado nem o segundo, só do terceiro 1619
.יׁשי וְ ֵאילַ ְךִ ְִּת ִחּלָ ה ּבֹו וְ ל ֹא ֵׁשנִ י ֶאלָ א ִמ ְּׁשל
em diante.1619 Se do terceiro em diante os pecados
da pessoa superarem os méritos, os primeiros dois יׁשי וְ ֵאילַ ְך ְמ ֻר ִּבין ִ ִֹונֹותיו ִמ ְּׁשל
ָ ֲִאם נִ ְמצְ אּו ע
pecados que ela tiver cometido serão também אֹותם ְׁשנֵ י עֲ ֹונֹות ִמצְ ָט ְר ִפין וְ ָדנִ ין ָ ּיֹותיו ָ ֻעַ ל זְ כ
levados em conta, e ela acabará sendo julgada por ּיֹותיו
ָ ֻוְ ִאם נִ ְמצְ אּו זְ כ 1620
.אֹותֹו עַ ל ַהּכֹל
todos os seus pecados.1620 Se o peso dos seus méritos 1621
יׁשי וְ ֵאילַ ְךִ ִֹונֹותיו ֲא ֶׁשר ֵמעָ ֹון ְׁשל ָ ֲּכְ נֶ גֶ ד ע
equivaler ao dos pecados cometidos do terceiro לְ ִפי.ֹונֹותיו ִראׁשֹון ִראׁשֹון ָ ֲַמעְ ִב ִירים ּכָ ל ע
em diante,1621 [D-us] perdoará um pecado atrás do
outro, i.e. – o terceiro pecado [será perdoado por ser] יׁשי נֶ ְח ָׁשב ִראׁשֹון ֶׁשּכְ ָבר נִ ְמ ֲחלּו ִ ִֶׁש ַה ְּׁשל
considerado como um primeiro pecado, uma vez que וְ כֵ ן ָה ְר ִביעִ י ֲה ֵרי הּוא ִראׁשֹון ֶׁשּכְ ָבר.ַה ְּׁשנַ יִ ם
os dois pecados anteriores já terão sido perdoados. ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים.סֹופן ָ וְ כֵ ן עַ ד.יׁשי ִ ִנִ ְמ ַחל ַה ְּׁשל
Similarmente, depois que o terceiro pecado for "הן ּכָ ל ֵאּלֶ ה ֶ 1622
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר.מּורים? ְּבּיָ ִחיד ִ ֲא
perdoado, o quarto pecado será considerado como ֲא ָבל."יִ ְפעַ ל ֵאל ַּפעֲ ַמיִ ם ָׁשלֹוׁש עִ ם ּגָ ֶבר
sendo o primeiro [e será perdoado com base no
mesmo princípio]. O mesmo [padrão é seguido], até .יׁשיִ ִּוׁשלְ ַהּצִ ּבּור ּתֹולִ ין לָ ֶהן עָ ֹון ִראׁשֹון ֵׁשנִ י
que [todos os pecados] sejam perdoados. Quando ֹלׁשה ִּפ ְׁשעֵ י יִ ְׂש ָר ֵאל וְ עַ ל ָ "עַ ל ְׁש1623ֶׁשּנֶ ֱא ַמר
isso se aplica? Quando se trata de um indivíduo, ּוכְ ֶׁש ְּמ ַח ְּׁש ִבין לָ ֶהם."ַא ְר ָּבעָ ה ל ֹא ֲא ִׁש ֶיבּנּו
conforme está dito:1622 “Tudo isso D-us executa .עַ ל ֶּד ֶרְך זֶ ה ְמ ַח ְּׁש ִבין לָ ֶהן ֵמ ְר ִביעִ י וְ ֵאילַ ְך
duas ou três vezes com o homem”. Mas com relação ִאם ָהיָ ה ִּבכְ לָ ל ֶמ ֱחצָ ה עֲ ֹונֹות1624ַה ֵּבינֹונִ ים
a uma comunidade, [a punição pelos] primeiro,
segundo e terceiro pecados é suspensa, pois está
dito:1623 “Por três pecados de Israêl [eu suspenderei
a punição], mas pelo quarto Eu não suspenderei”.
Quando o cômputo [dos méritos e dos pecados]
for feito com base no padrão acima, a contagem
começará a partir do quarto [pecado]. Quanto ao
Beinoní [o "mediano",1624 que tem equivalência de
méritos e pecados], se tiver entre os seus pecados [a
omissão da Mitsvá da colocação de] Tefilín [a ponto
1618- Para compreensão dessa Halachá é preciso citar duas passagens talmúdicas que o Rambam usou como fontes. A
primeira passagem é Rosh Hashaná 17a, onde consta que Michá 7:18 descreve D-us como quem “perdoa a iniquidade”. A
academia do Rabi Ishmaêl ensinou: “[Isso implica que] Ele os perdoa um a um...” O Rava declarou: “[Embora] o pecado [seja
relevado] ele não é apagado. Se [a pessoa] possuir uma maioria de pecados, ele é recontado entre eles”. A segunda passagem
é Iomá 86a, onde o Rabi Iosse bar Iehudá afirma: “Se a pessoa transgride um pecado uma vez, ela é perdoada. [Se transgride]
pela segunda vez, ela é perdoada. [Se transgride] pela terceira vez, ela não é perdoada”. Em seguida essa passagem descreve
as diferenças entre um indivíduo e uma comunidade, conforme citado pelo Rambam, que considera essas duas passagens
talmúdicas correlacionadas.
1619- Pois os primeiros dois pecados são perdoados “um a um”, conforme o ensino da academia do Rabi Ishmaêl.
1620- “O pecado não é apagado”, conforme o ensino do Rava.
1621- Ele é julgado como justo e não se dá mais nenhuma atenção aos primeiros pecados cometidos que foram mantidos em
suspenso. Isto lhe permite um recomeço totalmente limpo, como o Rambam passa a explicar.
1622- Ióv 33:29.
1623- Amós 2:6.
1624- Vide Halachá 1.
Veshinantam | 146
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
de] nunca tê-los colocado,1625 ele será julgado de ָּדנִ ין1625ֶׁשּלָ ֶהן ֶׁשּל ֹא ִהּנִ ַיח ְּת ִפּלִ ין ֵמעֹולָ ם
acordo com os seus pecados,1626 embora mereça uma . וְ יֵ ׁש לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא1626אֹותֹו ּכְ ִפי ֶח ְטאֺו
porção no Mundo Vindouro. Similarmente, todos os ֹונֹות ֶיהן ְמ ֻר ִּבים ָּדנִ ין
ֵ ֲוְ כֵ ן ּכָ ל ָה ְר ָׁשעִ ים ֶׁשע
ímpios que têm mais pecados [do que méritos] serão
julgados de acordo com os seus pecados,1627 embora וְ יֵ ׁש לָ ֶהן ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם1627אֹותן ּכְ ִפי ַח ָט ֵא ֶיהם
ָ
mereçam uma porção no Mundo Vindouro1628 – ֶׁשּכָ ל יִ ְׂש ָר ֵאל יֵ ׁש לָ ֶהם ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם 1628
.ַה ָּבא
uma vez que todos os israelitas terão uma porção no ֶׁשּנֶ ֱא ַמר "וְ עַ ֵּמְך.ַה ָּבא ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ָח ְטאּו
1629
Mundo Vindouro mesmo tendo pecado, conforme ֶא ֶרץ1630."ּכֻ ּלָ ם צַ ִּד ִיקים לְ עֹולָ ם יִ ְירׁשּו ָא ֶרץ
está dito:1629 “Teu povo, todo de justos; eles herdarão לֹומר ֶא ֶרץ ַה ַחּיִ ים וְ הּוא ָהעֹולָ ם ַ ְ ּכ.זֹו ָמ ָׁשל
a terra para sempre”.1630 “A terra” alude à “terra da
vida”, i.e. ao Mundo Vindouro.1631 Também os “pios יֵ ׁש1632 וְ כֵ ן ֲח ִס ֵידי ֻאּמֹות ָהעֹולָ ם1631.ַה ָּבא
das nações do mundo”1632 têm uma porção no
1633
.לָ ֶהם ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא
Mundo Vindouro.1633
1625- Zechariá (13:9) profetiza: “Eu os farei passar... pelo fogo e os refinarei como se refina a prata”. Rosh Hashaná 17a
explica que o versículo fala dos “’pecadores de Israêl com os seus corpos’. A quem esse termo se refere? À fronte sobre a qual
nunca se tenha colocado Tefilín”. O Talmud prossegue explicando: “Mesmo se um indivíduo tiver equilíbrio entre pecados
e méritos e portanto for normalmente absolvido das punições do Guehinóm (purgatório) conforme explicado, se ele for um
dos ‘pecadores de Israêl com os seus corpos’, i.e. se tiver negligenciado a Mitsvá de Tefilín, ele terá de passar pelos fogos do
Guehinóm”. A Mitsvá de Tefilín é considerada tão importante por ser um dos ‘sinais’ (vide Devarím 6:8) do relacionamento
entre os judeus e D-us. Nesse contexto Menachót 35b interpreta Devarím 28:10: “Então todos os povos da terra verão que o
nome do Eterno é invocado sobre ti e te temerão” como uma referência ao Tefilín colocado na cabeça. Ao colocar os Tefilín ao
menos uma vez, um judeu deixa uma marca espiritual permanente em sua cabeça e em seu braço. Com base nesse princípio,
pode-se apreciar quão importante é cumprir essa Mitsvá, até mesmo uma única vez na vida. Vale notar que o Ramban (Shaar
Haguemul) e outros comentaristas explicam que o Talmud em Rosh Hashaná (loc. cit.) não se refere apenas aos Tefilín, mas
a todas as Mitsvót, e apenas menciona os Tefilín como exemplo. Assim, “pecadores de Israêl com os seus corpos” se refere a
quem negligencia o cumprimento de qualquer Mitsvá.
1626- E condenado ao Guehinóm.
1627- E serão sentenciados ao Guehinóm. Eduiót 2:10 declara que o julgamento do perverso no Guehinóm não leva mais de
um ano. Eruvín 17a é ainda mais generoso, explicando que Avraham só deixa o perverso permanecer no Guehinóm por alguns
momentos pois logo ele mesmo desce e o redime.
1628- Desde que os seus pecados tenham sido expiados através do sofrimento no Guehinóm.
1629- Ieshaiáhu 60:21
1630- San-hedrín 10:1 (90a), a fonte dessas declarações, cita a continuação do versículo de Ieshaiáhu: “Eles são o ramo de
Minha plantação, a obra de Minhas mãos”, implicando que D-us é a origem de cada alma judaica. Assim, essa frase explica a
frase anterior: cada indivíduo judeu acabará merecendo uma porção no Mundo Vindouro pois a sua alma emana de D-us. Por
mais desabonadores que tenham sido os atos que realizou, eles são apenas manchas que obscurecem temporariamente a sua
natureza Divina essencial. É verdade que para limpar-se dessas manchas ele poderá ser castigado, mas no final das contas a sua
essência aflorará e ele será capaz de assumir o seu lugar no Mundo Vindouro (vide Teshuvót Ubiurím do Rebe de Lubavitch).
1631- O Rambam dedica o Capítulo 8 à descrição do Mundo Vindouro.
1632- Em Hilchót Melachím 8:10-11, o Rambam define essa expressão como gentios que aceitam as sete leis universais
outorgadas a Noach, pois elas foram ordenadas como parte da Torá.
1633- San-hedrín 105a. Consta em San-hedrín 10:1 que Bilaam não mereceu uma porção no Mundo Vindouro. Assim, pode-
se inferir que a gentios justos esse privilégio é concedido, pois de outro modo não haveria necessidade de excluir Bilaam
explicitamente (Rambam, Comentário à Mishná). Em Hilchót Issurei Biá 14:4, o Rambam escreve que o Mundo Vindouro
será concedido apenas “aos justos, isto é, Israêl”, implicando aparentemente que os gentios não têm parte nesse bem eterno.
Talvez a discrepância entre essas duas declarações possa ser resolvida de acordo com o Zôhar Chadásh (Rut 78), que relata que
também aos gentios será concedida uma porção no Mundo Vindouro, separada e distinta da porção concedida aos judeus.
1634- Embora a Halachá tenha declarado que “todos os israelitas terão uma porção no Mundo Vindouro”, há exceções a esse
princípio. A alguns indivíduos esse privilégio é negado, devido à natureza grave dos pecados que cometeram.
1635- Ao Guehinóm.
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Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
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1655- O Midrash Tehilím afirma: “Os Miním declaram que o mundo é uma entidade independente”. Similarmente, Berachót
12b define o termo Mín citando Tehilím 14:1: “O tolo diz em seu coração: ‘D-us não existe’”.
1656- San-hedrín 37a. Segundo Shemót Rabá 29:1 os Miním seguem muitos deuses. Isso contraria os princípios fundamentais
da fé judaica, conforme consta em Hilchót Iessodei Hatorá 1:7: “D-us é um. Ele não é dois ou mais, mas um... Ele não é como
uma categoria que consiste de muitos entes individuais... pelo contrário, Ele é absolutamente unificado, e não existe nenhuma
unidade que se assemelhe à Sua”.
1657- Vide Chaguigá 16a. O princípio de que D-us não possui fisicamente ou espiritualmente nem corpo nem forma é discutido
pelo Rambam em Hilchót Iessodei Hatorá (1:8-9). Nessas Halachót ele enfatiza como todas as referências antropomorfas nos
Escritos Sagrados e nos Midrashím constituem metáforas de qualidades espirituais.
1658- Vide San-hedrín 38a. Hilchót Iessodei Hatorá começa com as palavras: “O fundamento de todos os fundamentos e o
pilar da sabedoria é saber que há um Ser Primordial que trouxe à existência tudo o que existe”.
1659- Essa é a interpretação simples do termo Mazal. Segundo a Kabalá, esse termo se refere à origem espiritual de uma
criação em nosso mundo físico.
1660- Consta em Avodá Zará 26b: “Quem é um Mín? É um idólatra”.
1661- Vide os Treze Princípios da Fé do Rambam (Comentário à Mishná, San-hedrín, cap. 10). Vide também Hilchót Avodát
Kochavím 1:1.
1662- I.e. basta assumir apenas uma dessas crenças equivocadas para fazer parte dessa categoria.
1663- Em seu Comentário à Mishná, San-hedrín 10:1, o Rambam define Epikores como: “Um termo aramaico implicando falta
de consideração pela autoridade, zombaria da Torá ou de seus estudiosos”. Segundo explica o Rav Ovadiá de Bartenura (Avót
2:14), o radical do termo Epikores é Hefker, significando rejeição da autoridade. Segundo o Aruch, Epikores foi o nome de um
filósofo grego que não acreditava na eternidade da alma. Após a sua morte os sábios aplicaram o seu nome a todo aquele que
zombasse dos sábios e de seus ensinamentos.
1664- Hilchót Iessodei Hatorá (7:1) declara: “Um dos fundamentos da fé é saber que D-us concede profecia ao homem”.
1665- Além da aceitação do princípio geral da profecia, a fé judaica gira em torno do princípio da supremacia da profecia de
Moshé. Assim, o Rambam considera a crença na singularidade da profecia de Moshé um princípio separado em seus Treze
Princípios da Fé. Vide também Hilchót Iessodei Hatorá 7:6.
1666- Em seus Treze Princípios da Fé o Rambam afirma: “[Crer], ao contrário da opinião dos que sustentam que ‘D-us abandonou
a terra’, que Ele tem conhecimento dos atos do homem e não o abandonou”. Vide também Hilchót Iessodei Hatorá 2:10.
1667- O denominador comum entre esses três é que eles não aceitam o princípio básico de que D-us se preocupa com o
comportamento do homem e concedeu-lhe um meio de se relacionar com Ele.
1668- O Talmud (San-hedrín 99a) interpreta Bamidbar 15:31: “A palavra de D-us desprezou... Aquela alma deverá ser
completamente extirpada” como se referindo a quem diz que a Torá não se origina de D-us.
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Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
1669- Um dos Treze Princípios da Fé afirma que “a Torá veio do Céu... e nos foi dada inteiramente por D-us. Moshé foi como
um escriba do que lhe foi ditado. [Assim], não há diferença entre... ‘Timná era a concubina de Elifaz’ e ‘Eu sou D-us, o teu
Senhor’... Ninguém tem como dizer que isso é o coração da Torá e aquilo é o casco dela, pois cada palavra da Torá contém
sabedoria e maravilhas”. Em outras palavras, um indivíduo que disser que um versículo na Torá é “uma verdade maravilhosa”,
“um princípio ético profundamente relevante”, “uma faísca da percepção Divina” – tudo menos “uma parte integral da
revelação no Sinai”, estará “renegando a Torá”.
1670- San-hedrín ibid. O Rambam começa a sua introdução ao Mishnê Torá assim: “Todos os preceitos outorgados a Moshé
no Sinai foram concedidos juntamente com as suas respectivas explicações, conforme está dito (Shemót 24:12): ‘Eu te darei as
tábuas de pedra, a Torá e a Mitsvá’. ‘Torá’ se refere à Torá Escrita, e ‘Mitsvá’ à explicação dela... que é chamada de Torá Oral”.
1671- Os sábios. Hilchót Talmud Torá 6:11 afirma que a pessoa que despreza os sábios “não tem parte no Mundo Vindouro e
se inclui na categoria de ‘quem a palavra de D-us desprezou’”.
1672- Em seu Comentário à Mishná, Avót 1:3, o Rambam traz o Avót Derabi Natán 5:2 que relata que Antígonos de Sochó
tinha dois discípulos talentosos, Tsadók e Beitus. Quando ouviram o mestre declarar: “Não sejam como os escravos que
servem o amo em prol de recompensa”, eles ficaram desconcertados, pois entenderam errado e acharam que ele ensinara
que não há recompensa pelo cumprimento das Mitsvót. De comum acordo decidiram então rejeitar a Torá. Eles começaram
a juntar dissidentes que rejeitavam a essência da prática judaica e cobiçavam a riqueza material. Quando se deram conta de
que não conseguiriam convencer a maioria das pessoas a rejeitar a Torá inteiramente, decidiram adotar uma tática diferente.
Eles declararam que eram fiéis à Torá, mas que a única Torá realmente Divina era a Lei Escrita; para eles a Lei Oral não
passava de invenção humana. Esta teoria foi apenas um ardil para afastar as pessoas da observância das Mitsvót. Assim, os
sábios passaram a chamar aqueles que renegavam a Torá e a sua tradição de saduceus (“seguidores de Tsadók”) ou baitusseus
(“seguidores de Baitus”).
1673- Hilchót Iessodei Hatorá (9:1) declara: “Está claro e explícito na Torá que as suas leis têm vigência eterna e não são
passíveis de modificação, redução ou adição... D-us não é homem para hesitar”.
1674- A frase entre colchetes faz parte do texto original do Mishnê Torá mas foi omitida da maioria das edições devido à
censura. Vide também Hilchót Melachím, cap. 11, particularmente a parte que foi omitida da maioria das edições pela censura.
1675- Mumar em hebraico.
1676- Na maioria dos aspectos da lei da Torá, não há diferença entre as duas categorias. No entanto há algumas distinções.
Por exemplo, um Mumar no que diz respeito a toda a Torá é proibido de trazer sacrifícios ao Templo Sagrado. Mas se a sua
apostasia limita-se a uma determinada Mitsvá, os seus sacrifícios podem ser aceitos (Chulín 5a). Da mesma forma, o Shulchan
Aruch, Iorê Deá, cap. 2, diferencia entre os dois com relação ao abate ritual.
1677- I.e. que não envolve a punição de Carêt.
Veshinantam | 150
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
[pecado] for cometido com a intenção de irritar עֺוב ֵדי כֺוכָ ִבים ְּב ָׁשעָ ה ֶׁשּגֹוזְ ִרין גְ זֵ ָרה וְ יִ ְּד ַּבק
ְ ָה
D-us.1678 O apóstata em relação a toda a Torá é quem, ֹאמר ַמה ֶּבצַ ע לִ י לְ ִה ַּד ֵבק ְּביִ ְׂש ָר ֵאל ַ ָּב ֶהם וְ י
por exemplo, se volta à fé dos gentios quando eles
decretam aniquilações [i.e. decretos severos contra
ֶׁש ֵהם ְׁש ָפלִ ים וְ נִ ְר ָּד ִפים טֹוב לִ י ֶׁש ֶא ַּד ֵבק ְּב ֵאּלּו
os judeus] e adere a elas, alegando: “De que me vale מּומר
ָ (עֺוב ֵדי כֺוכָ ִבים) ֶׁשּיָ ָדם ַּת ִּק ָיפה ֲה ֵרי זֶ ה ְ
ser fiel [à fé do povo de] Israêl se ele se encontra .ּתֹורה ּכֻ ּלָ ּה
ָ (עֲ ַב ְריָ ן) לְ כָ ל ַה
desmoralizado e perseguido? É melhor abraçar
quem detém o poder”. Uma pessoa assim é apóstata
em relação a toda a Torá.
10. [A categoria dos] “que fazem o público pecar” ַמ ְח ִט ֵיאי ָה ַר ִּבים ּכֵ יצַ ד? ֶא ָחד ֶׁש ֶה ֱח ִטיא.י
inclui quem faz com que [muitos] cometam um וְ צָ דֺוק1679ְּב ָד ָבר ּגָ דֹול ּכְ גֺון יָ ָר ְבעָ ם
pecado severo, assim como o fizeram Ierovám,1679
וְ ֶא ָחד ֶׁש ֶה ֱח ִטיא ְּב ָד ָבר ַקל ֲא ִפּלּו1680.ַּוביְ תֹוס
Tsadók ou Beitus;1680 e também quem faz com que
[muitos] cometam um pecado leve, até mesmo a וְ ֶא ָחד ָהאֹונֵ ס ֲא ֵח ִרים עַ ד.לְ ַב ֵּטל ִמצְ וַ ת עֲ ֵׂשה
anulação de um preceito positivo. Essa [categoria] הֹורג ֶאת יִ ְׂש ָר ֵאל ֵ ֶׁשּיֶ ֶח ְטאּו ּכִ ְמנַ ֶּׁשה ֶׁש ָהיָ ה
inclui [tanto] quem força outros a pecar, como אֹו ֶׁש ִה ְטעָ ה1681בֹודת ּכֹוכָ ִבים ַ ֲעַ ד ֶׁשּיַ עַ ְבדּו ע
Menashé que matava os judeus que não fizessem 1682
. ֲַא ֵח ִרים וְ ִה ִּד ָיחם ּכְ יֵ ׁשּוע
idolatria,1681 quanto quem induz os outros e os
desencaminha,1682 como Ieshua.
11. A pessoa “que se afasta da comunidade” [pode ּפֹורׁש ִמ ַּד ְרכֵ י צִ ּבּור ַאף עַ ל ִּפי ֶׁשּל ֹא ֵ ַה.יא
ser classificada assim] mesmo sem ter transgredido ֶאלָ א נִ ְב ַּדל ֵמעֲ ַדת יִ ְׂש ָר ֵאל 1683
עָ ַבר עֲ ֵברֹות
nenhum pecado.1683 A pessoa que se afasta da עֹוׂשה ִמצְ ֹות ִּבכְ לָ לָ ן וְ ל ֹא נִ כְ נָ ס ְּבצָ ָר ָתן
ֶ וְ ֵאינֺו
comunidade de Israêl e não cumpre Mitsvót junto
dela, que não compartilha de suas dificuldades nem
1684
וְ ל ֹא ִמ ְתעַ ּנֶ ה ְּב ַתעְ נִ ָיתן ֶאלָ א הֹולֵ ְך ְּב ַד ְרּכֹו
adere aos seus jejuns [comunais], mas segue o seu ּכְ ֶא ָחד ִמּגֹויֵ י ָה ָא ֶרץ ּוכְ ִאּלּו ֵאינֹו ֵמ ֶהן ֵאין
caminho individual1684 como se fizesse parte de עֹוׂשה עֲ ֵברֹות ֶ ָה1685.לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא
outro povo e não [de Israêl], não tem uma porção ֵּבין ֶׁשעָ ָׂשה ַקּלֹות1686ְּביָ ד ָר ָמה ּכִ יהֹויָ ִקים
no Mundo Vindouro.1685 Aquele “que se orgulha ֵּבין ֶׁשעָ ָׂשה ֲחמּורֹות ֵאין לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם
de cometer pecados em público”, assim como o fez
Iehoiakím,1686 quer perpetre pecados leves quer
perpetre pecados severos, não tem uma porção no
Veshinantam | 151
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
Mundo Vindouro.1687 Esse tipo de comportamento .'ּתֹורהָ וְ זֶ הּו ַה ְּנִק ָרא ְ'מגַ ּלֶ ה ָּפנִ ים ַּב1687.ַה ָּבא
é classificado como “agir afrontosamente contra ִמ ְּפנֵ י ֶׁש ֵהעֵ ז ִמצְ חֹו וְ גִ ּלָ ה ָּפנָ יו וְ ל ֹא בֹוׁש ִמ ִּד ְב ֵרי
a Torá” por configurar uma atitude insolente, um 1688
.תֹורהָ
[desafio] ostensivo, sem a menor vergonha das
palavras da Torá.1688
12. Há dois [tipos] dos “que denunciam judeus às ּמֹוסר ֲח ֵברֹו ְּביַ ד ְ ְׁשנַ יִ ם ֵהם ַה.יב
ֵ ַה.ּמֹוס ִרין
[autoridades] gentias”: (1) Quem trai outrem aos ּמֹוסר
ֵ וְ ַה1689.עֺובד ּכֺוכָ ִבים לְ ָה ְרגֹו אֹו לְ ַהּכֹותֹו
ֵ
gentios para que eles o matem ou o agridam.1689 (2)
עֺובד ּכֺוכָ ִבים אֹו ְּביַ ד ַאּנָ ס
ֵ ָממֹון ֲח ֵברֹו ְּביַ ד
Quem entrega o dinheiro de outrem a gentios ou
ao encarregado de apropriagem, que é considerado ּוׁשנֵ ֶיהם ֵאין לָ ֶהם ֵחלֶ ק
ְ .עֺובד ּכֺוכָ ִבים
ֵ ְֶׁשהּוא ּכ
gentio. Nenhum dos dois tem uma porção no Mundo
1690
.לָ עֹולָ ם ַה ָּבא
Vindouro.1690
13. “Aqueles que atemorizam o povo com fins ַמ ִּטילֵ י ֵא ָימה עַ ל ַהּצִ ּבּור ֶׁשּל ֹא לְ ֵׁשם.יג
diversos que não o serviço de D-us” se refere aos רֹודה צִ ּבּור ְּב ָחזְ ָקה וְ ֵהם יְ ֵר ִאים ֶ ָׁש ַמיִ ם זֶ ה ָה
que governam a comunidade com rigor e [fazem
וְ כַ ּוָ נָ תֹו לִ כְ בֹוד עַ צְ מֹו.ּומ ַפ ֲח ִדים ִמ ֶּמּנּו ַה ְר ֵּבה
ְ
com que se] os respeitem e os temam, tendo como
intento a própria honra e benefício próprio, sem וְ כָ ל ֲח ָפצָ יו ֶׁשּל ֹא לִ כְ בֹוד ָׁש ַמיִ ם ּכְ גֹון ַמלְ כֵ י
pretensão alguma da honra de D-us; por exemplo, .עֺוב ֵדי ּכֺוכָ ִבים
ְ
os reis gentios.
14. Todos os vinte e quatro [tipos] de indivíduos ֺ ְ ֶ ּכָ ל ֶא ָחד וְ ֶא ָחד ֵמע.יד
ש ִרים וְ ַא ְר ָּבעָ ה ֲאנָ ִׁשים
relacionados acima1691 não têm uma porção no ַאף עַ ל ִּפי ֶׁש ֵהן ִמיִ ְׂש ָר ֵאל ֵאין1691ֵאּלּו ֶׁש ָּמנִ ינּו
Mundo Vindouro, mesmo sendo judeus.1692 Há וְ יֵ ׁש עֲ ֵברֹות ַקּלֹות1692.לָ ֶהם ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא
pecados menos severos do que os mencionados. No
entanto, os nossos sábios disseram que a pessoa que
ֵמ ֵאּלּו וְ ַאף עַ ל ִּפי כֵ ן ָא ְמרּו ֲחכָ ִמים ֶׁש ָה ָרגִ יל
os comete com frequência não tem uma porção no
1687- A severidade da sentença não resulta diretamente da gravidade do pecado específico cometido, mas da atitude de
desafio público com o qual foi realizado. Assim, Pirkei Avót 3:11 afirma que essa é a punição recebida por quem se orgulha
de cometer pecados em público, até mesmo se tiver feito muitas boas ações. Isso pode ser depreendido de Bamidbar 15:30:
“Quando a pessoa comete um pecado intencionalmente... ela está blasfemando a D-us e essa alma será cortada de seu povo”
(Rambam, Comentário à Mishná, Avót, loc. cit.).
1688- O Rabênu Ioná (Avót, loc. cit.) inclui nessa categoria pessoas que insultam a autoridade da Torá.
1689- Bava Metsia 83b declara que quando a pessoa é culpada não se deve entregá-la às autoridades gentias, pois o Rabi Elazar
ben Rabi Shimon agiu assim com os ladrões que apreendeu e foi censurado pelo Rabi Iehoshua ben Korchá: “Como você pode
entregar a nação de nosso D-us para ser morta”? O Rabi Elazar respondeu protestando: “Eu só estou aparando os arbustos
espinhosos [i.e. os malvados] do vinhedo [i.e. do povo de Israêl]”! Ao que o Rabi Iehoshua retrucou: “Deixe que o dono do
vinhedo [i.e. D-us] apare o Seu vinhedo”! Similarmente, Guitín 7a relata que o Mar Ukvá perguntou ao Rav Elazar: “O que
devo fazer? Há pessoas me incomodando e posso conseguir que o rei mande prendê-los. Posso denunciá-los”? O Rav Elazar
respondeu: “Aprendemos em Tehilím 39:2 que ‘Amordaçarei a minha boca enquanto o perverso estiver diante de mim’”. Vide
também Hilchót Chovêl Umazík 8:9.
1690- Rosh Hashaná 17a. Além disso, pode-se até matar um indivíduo para impedi-lo de entregar a gentios a vida ou o
dinheiro de um judeu (Hilchót Chovêl Umazík 8:10). Em Bava Kama 117a há o relato de que o Rav Kahaná matou um homem
por ele ter dito que entregaria a gentios o dinheiro de outro judeu.
1691- As 24 categorias são: 5 Miním (“renegados”); 3 Epikorsím (“hereges”); 3 que rejeitam a Torá; os que renegam a
ressurreição dos mortos; os que renegam a chegada do Mashiach; 2 apóstatas; os que fazem o público pecar; os que se apartam
da comunidade; os que se orgulham de cometer pecados em público; 2 que denunciam judeus às autoridades gentias; os que
atemorizam o povo; assassinos; caluniadores; e quem estende o prepúcio.
1692- Uma vez que cada judeu possui uma essência Divina eterna, segue-se que ele merecerá uma porção no Mundo Vindouro.
Contudo, os pecados cometidos por esses indivíduos, de tão terríveis, cortam a conexão deles com esse potencial Divino.
Veshinantam | 152
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
Mundo Vindouro,1693 e [nos aconselharam a] evitá- ּוכְ ֵדי1693ָּב ֶהן ֵאין לָ ֶהם ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא
los e a nos cuidarmos deles.1694 São eles: apelidar . וְ ֵאּלּו ֵהן1694.לְ ִה ְת ַר ֵחק ֵמ ֶהן ּולְ ִהּזָ ֵהר ָּב ֶהן
[depreciativamente]1695 um colega;1696 chamar ּקֹורא לַ ֲח ֵברֹו ֵ וְ ַה1696ֹ לַ ֲח ֵברו1695ַה ְמכַ ּנֶ ה ֵׁשם
um colega usando um apelido [depreciativo];1697
humilhar um colega em público;1698 se vangloriar
1698
וְ ַה ַּמלְ ִּבין ְּפנֵ י ֲח ֵברֹו ָּב ַר ִּבים1697ְּבכִ ּנּויֺו
com a degradação de outrem;1699 desonrar sábios da וְ ַה ְּמ ַבּזֶ ה ַּתלְ ִמ ֵידי1699וְ ַה ִּמ ְתּכַ ֵּבד ִּב ְקלֹון ֲח ֵברֹו
Torá; desonrar os mestres;1700 desprezar as Festas;1701 וְ ַה ְּמ ַבּזֶ ה ֶאת1700ּבֹותיו ָ ֲחכָ ִמים וְ ַה ְּמ ַבּזֶ ה ַר
profanar as consagrações.1702 Quando é que essa 1702
. וְ ַה ְּמ ַחּלֵ ל ֶאת ַה ֳּק ָד ִׁשים1701ַהּמֹועֲ דֹות
colocação, de que esses [tipos de] indivíduos não מּורים ֶׁשּכָ ל ֶא ָחד ֵמ ֵאּלּו ֵאין לֹו ִ ַּב ֶּמה ְּד ָב ִרים ֲא
têm uma porção no Mundo Vindouro, se aplica?
Quando eles morrem sem ter feito Teshuvá.1703 Mas
1703
.ׁשּובה
ָ ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא? ּכְ ֶׁש ֵּמת ְּבל ֹא ְת
se uma pessoa dessas se arrepender1704 de seus atos ּומת וְ הּוא ַבעַ ל ֵ ֲא ָבל ִאם ָׁשב ֵמ ִר ְׁשעֹו
perversos e morrer como Baal Teshuvá, ela merecerá ֶׁש ֵאין. ֲה ֵרי זֶ ה ִמ ְּבנֵ י ָהעֹולָ ם ַה ָּבא1704ׁשּובה ָ ְּת
o Mundo Vindouro, pois nada pode obstruir o ֲא ִפּלּו1705.ׁשּובה ָ עֹומד ִּב ְפנֵ י ַה ְּת
ֵ לְ ָך ָּד ָבר ֶׁש
caminho da Teshuvá.1705 Até quem rejeita a existência 1707
ּכָ ל יָ ָמיו ָּוב ַא ֲחרֹונָ ה ָׁשב1706ּכָ ַפר ָּבעִ ָיקר
de D-us1706 durante a vida inteira e se arrepende em
seus momentos finais de vida1707 merece uma porção
1709
ֶׁשּנֶ ֱא ַמר1708.יֵ ׁש לֹו ֵחלֶ ק לָ עֹולָ ם ַה ָּבא
no Mundo Vindouro,1708 pois está dito:1709 “’Paz, ָא ַמר1710"ׁשלֹום ָׁשלֹום לָ ָרחֹוק וְ לַ ָּקרֹוב ָ
paz, ao distante e ao próximo’,1710 declara D-us;1711
‘Eu o curarei’”. Todo aquele que for ímpio, apóstata
1693- O Rav Avraham, filho do Rambam, cita o seu pai ao explicar que esses indivíduos não receberão uma porção no Mundo
Vindouro não por causa da severidade dos pecados cometidos mas porque esse tipo de comportamento impede a pessoa de
conquistar os méritos necessários para fazer jus a uma porção no Mundo Vindouro (Maassê Rokêach).
1694- O Rabênu Ioná explica que é feita uma advertência especial em relação esses pecados por não costumarmos considerá-
los transgressões graves.
1695- O acréscimo entre colchetes está baseado em Hilchót Deót 6:8, onde consta: “Deve-se tomar muito cuidado para não
envergonhar uma pessoa em público... Não se deve chamá-la por um nome que a embarace”.
1696- O Talmud (Bava Metsia 58b) menciona que uma pessoa assim “descerá para o Guehinóm e de lá jamais voltará”.
1697- Segundo o Rashi (Bava Metsia 58b), isso se aplica até quando o uso do apelido tiver se tornado tão comum que a pessoa
não se envergonha mais de ser chamada assim. O Rav Ada bar Ahavá disse aos seus discípulos que merecia vida longa por
nunca ter se referido a outrem pelo apelido (Taanít 20b).
1698- Bava Metsia 58b compara envergonhar outrem a assassiná-lo. Em ambos os casos, o aspecto da vítima muda de saudável
para pálido e esbranquiçado.
1699- Vide Talmud Ierushalmi, Chaguigá 2:1; Hilchót Deót 6:3.
1700- San-hedrín 99b equipara esses indivíduos a Epikorsím e a quem comete pecados ostensivamente em público.
1701- Avót 3:11. Em Hilchót Shevitát Iom Tov 6:15, o Rambam usa essa expressão para descrever quem come uma refeição
farta pouco antes do início de uma Festa, e assim, não se regozija nos banquetes festivos. O Rashbam, em Pessachím 118a,
explica que isso se refere a quem trabalha em Chol Hamoêd.
1702- Avót ibid. Causando intencionalmente Pigul (desqualificação de um sacrifício) ou fazendo Meilá (uso pessoal de objetos
consagrados).
1703- Embora conste no Capítulo 1, Halachá 4, que a morte expia pelos pecados, isso só se aplica quando ela for precedida
por Teshuvá (Rambam, Comentário à Mishná, Avót 3:13).
1704- Dentre esses 24 indivíduos há alguns que cometeram pecados que “impedem a Teshuvá”. No entanto, conforme será
devidamente explicado, se desejarem de verdade, até mesmo eles poderão se arrepender de seus pecados.
1705- A essência de todo judeu, não importa o quão baixo ele tenha caído, é uma centelha de D-us. Teshuvá significa “retorno”,
o restabelecimento da conexão com a essência Divina infinita. Uma vez restabelecida a conexão, nada pode impedir a
Divindade infinita de ser expressa.
1706- Essa expressão em hebraico, Cafár Baikár, significa literalmente: “Renegou o princípio fundamental”.
1707- Vide Capítulo 2, Halachá 1.
1708- Kidushín 40b.
1709- Ieshaiáhu 57:19.
1710- Segundo San-hedrín 99a, o versículo é endereçado ao “(transgressor) distante que se aproxima (i.e. se arrepende)”.
1711- I.e. Ele aceita a sua Teshuvá e concede expiação.
Veshinantam | 153
Rambam: Shabat Rambam: Hilchót Teshuvá
1712- O Rambam pede tolerância e consideração diante de pessoas como essas. Na conclusão de sua epístola Kidush Hashem,
ele escreve: “Não é apropriado afastar aqueles que profanam o Shabat... Pelo contrário, devemos aproximá-los e exortá-los a
realizar Mitsvót. Os nossos sábios, de abençoada memória, explicaram que até alguém que tiver pecado propositadamente, ao
entrar em uma sinagoga para rezar, deve ser aceito; não se deve desdenhá-lo. Eles basearam as suas declarações nas palavras
de Shelomó (Mishlei 6:30): ‘Não desprezai o ladrão quando ele vem para roubar’, interpretando-a como: ‘Não desprezem os
pecadores de Israêl quando eles vêm secretamente arrebatar Mitsvót’”.
1713- O Késsef Mishnê observa que em Hilchót Avodát Kochavím 2:5 o Rambam escreve que o arrependimento de idólatras
e Miním jamais poderá ser aceito. Essa aparente contradição foi levada na época à atenção do Rambam. Em uma de suas
Responsas (101) ele esclareceu a dúvida, explicando que as suas declarações em Hilchót Avodát Kochavím referiam-se à atitude
do povo judeu, que nunca deve considerar tal indivíduo como Baal Teshuvá pois é possível que ele esteja apenas fingindo ter
se arrependido, a fim de ganhar a aceitação do público. Por outro lado, a presente Halachá está se referindo à aceitação por
D-us, que enxerga os verdadeiros sentimentos de cada indivíduo. Se o arrependimento da pessoa for sincero, D-us irá aceitá-
lo, independentemente da gravidade de seus pecados anteriores.
1714- Irmiáhu 3:22.
1715- Avodá Zará 7a. Aceita por D-us, conforme pode ser depreendido da continuação do versículo: “E Eu curarei a vossa
iniquidade”. O Ór Sameach explica que D-us curar os Seus “filhos infiéis” implica que Ele os trará para o nível de Teshuvá completa.
Veshinantam | 154