ERGONOMIA
Trabalhando sentado
Postura e mobiliário adequados evitam problemas
Alison Alfred Klein
É hábito comum a tendência de sentar
na primeira oportunidade, seja para assis-
tir um filme ou desempenhar sua ativida-
de profissional. Fazendo desta, a posição
mais utilizada no decorrer do dia da maior
parte da população, em especial dos traba-
lhadores de setores administrativos, na
prolongada rotina de buscar a posição mais
cômoda para compensar o ritmo e a carga
Alison Alfred Klein - Fisioterapeuta do Trabalho e Diretor da SEFIT
– Serviços Especializados de Fisioterapia do Trabalho Ltda
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de trabalho. Nestas situações, em geral,
os trabalhadores podem estar expostos a
riscos que desconhecem ou até mesmo
causarem danos sem nenhuma intenção,
seja por sentar com uma postura inade-
quada, por não ter como fazer diferente,
ou simplesmente não saber regular sua
cadeira ou adequar seu local de trabalho.
Postura sentada ideal, é aquela onde a
configuração estática da coluna é respeita-
da, não gera dor nem é cansativa, princi-
palmente por não exigir grande esforço
para manter-se nesta posição, possibilitan-
do sua utilização por tempo prolongado.
A utilização desta postura favorece o
aparecimento de alguns vícios posturais,
tais como sentar sobre uma das pernas,
utilizar-se da cadeira em altura inadequa-
da, não apoiar as
costas, sentar na borda ou ainda manter o
tronco em inclinação ou rotação. Estas
situações podem provocar alterações das
curvaturas da coluna vertebral, podendo
elevar a possibilidade de degeneração de
discos intervertebrais, dores lombares,
cefaléia tensional, perturbações circulató-
rias como varizes nas pernas, hemorrói-
das, artrite, desigualdade na altura dos
ombros, bursite dos ombros, entre outras.
ANÁLISE
Os cuidados ergonômicos têm a cada
dia conquistado maior importância nas
empresas, em alguns casos por exigência
legal, e em outros por investimento no
processo produtivo e/ou no trabalhador.
A análise ergonômica do posto de tra-
balho, é a ferramenta capaz de indicar qual
deve ser a posição do trabalhador para
exercer suas funções. Visa elucidar, além
de outras questões ergonômicas, o bom
uso do corpo humano, valendo ressaltar
que a NR 17 indica que todo trabalho, sem-
pre que possível, deverá ser realizado sen-
tado, devido ao menor consumo energé-
tico, porém, encontra-se facilmente na li-
teratura especializada a indicação da
alternância de postura como sendo a me-
lhor posição para o trabalhador.
Desta forma, a AET (Aná-
lise Ergonômica
GABRIEL RENNER
MAIO // 2006
MAIO 2006
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Dicas sobre uso do mobiliário são essenciais
do Posto de Trabalho) deve observar as
possibilidades e indicar as ações que favo-
reçam esta situação, além de realizar uma
investigação valendo-se também das aná-
lises biomecânicas do trabalho e verifican-
do quando existe o risco de desenvolver
algum distúrbio osteomuscular, e quais
ações devem ser tomadas para que este
seja eliminado ou pelo menos minimizado.
CARGAS
Em relação às posturas em pé e deita-
do, a posição sentada é a que gera maior
pressão nos discos intervertebrais, a fle-
xão de tronco sem apoio é a que mais fa-
vorece este aumento, em especial na re-
gião anterior do disco, levando à compres-
são do anel fibroso nesta região e um es-
tiramento deste anel na região posterior.
Com uma inclinação de apenas 20º para
frente pode-se ter um aumento de 30%
da força de compressão no terceiro e quar-
to disco lombar. Esta grande variação de
pressão favorece o aparecimento de hér-
nias de discos, situação em que o disco
intervertebral rompe seus limites e for-
ma uma “bolsa” externa. Muitas vezes es-
ta hérnia pode se projetar dentro do canal
medular, gerando além de muita dor, o ris-
co de compressão da medula que entre
outras conseqüências pode fazer com que
o indivíduo perca o movimento ou a sensi-
bilidade daquele ponto para baixo. Outro
risco da manutenção da flexão é um au-
mento da atividade muscular que ocasio-
na uma perda ainda maior de líquido do
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disco vertebral. Vale ressaltar que cargas
de torção e inclinação do tronco criam
maior stress no disco do que cargas com-
pressivas, portanto, se inclinar para pegar
objetos no chão, ou ainda se torcer para
pegar a bolsa que está atrás do banco, é
uma atitude de muito perigo.
Ainda sobre a postura sentada é impor-
tante observar que outras regiões das
vértebras também podem ser afetadas,
entre elas estão os processos articulares,
estruturas que servem de guia e limitan-
tes de movimento da coluna vértebra.
Quando a coluna está ereta, as vértebras
recebem as forças tanto de compressão
quanto de cisalhamento. Esta última di-
retamente nos processos articulares na
sua porção proximal e quando em flexão
diminuem as forças de compressão e au-
mentam as forças de cisalhamento. Po-
rém, neste caso, ocorrem na porção dis-
tal do processo articular, área sem muita
resistência e exposta à fratura, que uma
vez ocorrida, possibilita o deslizamento de
uma vértebra sobre a outra, gerando dor
intensa e risco de lesão medular.
A manutenção de vícios posturais pode
levar às alterações das curvaturas natu-
rais da coluna vertebral gerando grande
desconforto.
DICAS
Uma forma eficiente de contornar esta
situação é observar o tipo de mobiliário
adequado para cada função. O que faz uma
cadeira ser ou não ergonômica, não é ape-
nas seguir uma ou outra norma, e sim, ser
adequada à demanda do trabalhador. Por
exemplo, um sofá pode ser muito confor-
tável e ergonômico para descansar ou as-
sistir TV, porém não é adequado para o
trabalho de digitação ou escrita. Não exis-
tem móveis ergonômicos para todas as
atividades ou funções. O que define cada
situação é a Análise Ergonômica do Tra-
balho (AET) somada a uma análise bio-
mecânica do trabalho. Com estes dados o
profissional pode indicar se o mobiliário
existente ou o que a empresa pretende
comprar atende ou não as necessidades
do trabalhador e do trabalho.
Outra forma importante é a orientação
sobre a forma de se utilizar adequadamen-
te o mobiliário disponível. De que serve
comprar uma cadeira com todas as regu-
lagens possíveis e a utilizar como se esti-
vesse sentando numa caixa de tomate?
A base de referência para a configuração
das alturas de um mobiliário é o próprio
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 ERGONOMIA
Vícios posturais podem alterar as curvaturas naturais da coluna vertebral
trabalhador, que quando sentado deverá
estar com os pés no chão, com o quadril e
coxa apoiados e com o peso distribuído
de forma homogênea pelo assento (com
o joelho entre 80º e 110º). Para melhorar
a condição das pernas, o uso de apoio para
os pés que permita a manutenção da po-
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sição neutra do tornozelo é um investi-
mento importante. Deve-se evitar apoiar
os pés em aros de cadeiras ou em supor-
tes menores que os pés, que exigem o
apoio em pequenos pontos, criando um
ponto de concentração de peso.
As costas devem estar apoiadas colo-
cando o encosto na região onde já se pal-
pam costelas, deve-se preferir cadeiras
que dêem bom suporte, dando condições
de trabalhar sempre com a coluna bem
apoiada.
Já a mesa de trabalho deve estar na al-
tura dos cotovelos, ou um pouco acima
(até cinco cm). O indivíduo será favoreci-
do se, ao sentar-se apoiar seus braços na
mesa. Portanto, esta deverá ter espaço
suficiente para este apoio, que nunca deve-
rá ser sobre quina viva, sobre fios ou estru-
turas que concentrem o peso em peque-
nas áreas do braço, estas atitudes previ-
nem de forma eficiente o aparecimento
de tendinites.
Outra dica importante é não colocar
nada mais distante do que o comprimen-
to dos braços, pois respeitando esta ori-
entação não se exigirá esforço demasiado
dos músculos do ombro, que em geral já
são muito exigidos no dia-a-dia.
Os cuidados ergonômicos da posição de
trabalho sentado vão muito além da esco-
lha da cadeira e das orientações ineren-
tes, a atenção pessoal com estes critéri-
os facilitam muito o bem-estar de cada
um. E, por último, é importante ressaltar
que ninguém é mais interessado na sua
saúde do que você mesmo.
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