Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
×
A crise política está afetando seus negócios? O JOTA PRO Poder te ajuda e enfrentar a
instabilidade política, com análises aprofundadas e alertas por WhatsApp. Conheça!
CARREIRA
01/07/2017 08:59
Atualizado em 21/06/2018 às 19:46
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 1/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
CAPÍTULO 1
Ao julgar o pedido de suspeição feito pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
contra o desembargador João Pedro Gebran Neto por ter relação de amizade
“estreita e íntima” com o juiz de primeiro grau Sérgio Moro, os desembargadores
da 4ª Seção do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) consideraram que “a
relação de amizade entre juízes não constitui motivo legal para o afastamento de
magistrados. Ademais, não está comprovada a amizade íntima entre o julgador de
primeira instância e o desembargador que apreciou a exceção oposta em face do
primeiro”.
O que mais chamou atenção neste julgamento foi uma argumentação não tão
usual nos tribunais utilizada pela relatora, a desembargadora Cláudia Cristina
Cristofani. A magistrada foi além da dogmática jurídica que os brasileiros estão
acostumados a ler nas sentenças e teorizou sobre os incentivos e custos de se
propor uma ação como esta, que os julgadores consideraram descabida.
Em seu voto, Cláudia argumentou que “se o cumprimento das sanções pode ser
adiado ou evitado a determinado custo, o agente estará mais motivado a despendê-
lo quanto mais grave for a punição prevista – no caso de pessoas com projeção
política, pode ser considerada sancionatória a drasticidade das consequências
reputacionais decorrentes de eventual condenação penal”.
“Assim, supondo que exista um custo a ser despendido para evitar a aplicação de
sanções (X), este custo poderá ser usado como uma medida da fraqueza da
capacidade administrativa do Estado de obrigar à obediência legal: nenhuma sanção
será aplicada se exceder X, e quando a sanção for maior que X o agente irá arcar
com este custo, de forma eficiente, para evadir da sanção”.
Para ela, “diante disso, o Estado-Juiz precisa estar munido de correspondente força,
a se contrapor às tentativas de fuga de responsabilização de requeridos em
Oprocesso
JOTA faz usojudicial, que,
de cookies parase bem-sucedidas,
oferecer revelariam
uma melhor experiência a você.intolerável, desnecessário e
Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
inconstitucional
serviços, você concordagrau de fraqueza
com essa estatal”.
prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 2/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
Cláudia Cristofani cita ainda o professor e juiz americano Richard Posner, um dos
bastiões da Law & Economics, ao dizer que “ao tender a aplicar a legislação
consolidada, dando guarida aos “contratos legais” pretéritos, o Poder Judiciário
fomenta a durabilidade dos arranjos legislativos, desincentivando acertos e
guinadas imediatistas, e dificultando que a Constituição seja continuamente
reinterpretada conforme a preferência dos legisladores correntes, ou dos grupos de
interesses atuais”.
Este tipo de argumentação usada pela magistrada está se tornando cada vez mais
presente na academia e – embora ainda incipiente – até mesmo nos tribunais do
país. Trata-se da chamada Law & Economics (Direito e Economia), Economia
Aplicada ao Direito ou Análise Econômica do Direito (AED).
CAPÍTULO 2
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 3/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
“Pouco mais é necessário para erguer um Estado, da mais primitiva barbárie até o
mais alto grau de opulência, além de paz, de baixos impostos e de boa
administração da Justiça: todo o resto corre por conta do curso natural das coisas”.
Não por acaso, o economista Adam Smith, que disse essa frase numa conferência
em 1755, cita a Justiça como um dos elementos centrais de um Estado que
funciona de maneira adequada. Considerado o pai da economia moderna, Smith era
versado em Direito – tanto que em 1762 recebeu o título de Doutor em Direito pela
Universidade de Glasglow, na Escócia.
Por muitas décadas, ao menos no Brasil, desde que a Economia se tornou uma
disciplina autônoma do Direito, a intersecção entre as duas áreas do conhecimento
foi completamente relegada. Enquanto nos Estados Unidos, a Law & Economics
despontou com força na década de 60 e passou a ser objeto de estudo nas
melhores faculdades de Direito, no Brasil apenas na última década é que a
intersecção entre as duas áreas começou a ser mais difundida e discutida.
“Boa parte das melhores universidades tem uma equipe de professores PHDs em
economia full-time dentro da escola de Direito. Eles já compreenderam bem a
importância de se ter uma análise, uma visão econômica do Direito”, afirma a
economista Luciana Yeung, professora do Insper e pesquisadora da área.
Para se ter uma ideia de quão incipiente ainda é esta intersecção no país basta olhar
os números de faculdades. São nada menos que 1.171 cursos de Direito ante
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 4/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
Para a professora Susan, “se os advogados se preocuparem apenas com a lei, isso
pode fazer com que eles ignorem as consequências das normas legais no mundo
real e limitar as propostas de mudanças apenas para as já formalmente ‘legais’, o
que não trará muitos benefícios sociais”.
Por outro lado, a economista reconhece que “é verdade que estudiosos de Law &
Economics não estão comumente equipados para lidar com questões mais amplas
de Justiça social. Eles podem recomendar maneiras de promover um objetivo justo
da maneira mais eficaz e efetiva, mas não terão qualquer expertise em especial para
determinar qual é este objetivo. Muitos advogados, por outro lado, também não são
os mais competentes para decidir questões envolvendo este assunto. O significado
de Justiça não é apenas um conceito técnico ensinado numa faculdade de Direito”.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 5/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
CAPÍTULO 3
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 6/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
O debate jurídico no início do século XX, tanto nos Estados Unidos quanto nos
países escandinavos, provocou o surgimento de uma nova corrente chamada de
realismo jurídico, que pregava, de forma geral, que os operadores do Direito
deveriam deixar de ser burocratas fiéis aplicadores da norma para extrair sentido do
que de fato estava acontecendo na realidade dos tribunais.
“Nós perdemos este salto histórico”, lamenta Oscar Vilhena, para quem sempre
tivemos uma escola formalista e dogmática, completamente distinta da abordagem
proposta pelos realistas. “Nós tivemos uma academia jurídica muito descolada da
realidade, que gira em torno de si em seus próprios debates — muitas vezes
dogmáticos e alheios à realidade. Ainda hoje há este deslocamento”. Em resumo,
não temos uma corrente forte de Law & Economics no país porque queimamos uma
etapa ainda anterior ao surgimento desta intersecção.
Para Luciano Timm, este pensamento ganhou força nos Estados Unidos porque não
encontrou um “predador”. A situação foi diferente na América Latina. “Temos um
predador ideológico aqui. Nosso pensamento é muito mais em favor do mais fraco e
pouco pragmático. Não nos livramos do efeito do ‘perfeito idiota latino-americano’,
socialista e protetor dos fracos e oprimidos. Além disso, a dogmática jurídica resiste
a pensamentos atuais, mais novos”, diz.
Outra visão
Na pesquisa Law and Economics in the Civil Law World: The Case of Brazilian
Courts, o advogado brasileiro Bruno Salama, professor visitante de Law &
Economics na Universidade de Berkeley, elencou, em coautoria com Mariana
Pargendler, da FGV Direito São Paulo, nove possíveis razões já citadas na literatura
que explicariam por que a disciplina floresceu nos Estados Unidos enquanto
encontra resistências em países de tradição Civil Law.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 7/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
Para Salama, contudo, trata-se de uma lenda a afirmação de que os juízes brasileiros
não levam em conta argumentos econômicos ao julgarem. “Intuitivamente, os juízes
pensam sobre incentivos muitas vezes. Os juízes estão ávidos por formulações
sobre impactos de decisões judiciais”, afirma. “Dado que o Poder Judiciário brasileiro
migrou da periferia do arranjo político para o centro, tornou-se importante em muitos
casos pensar nos incentivos gerados por suas decisões. Esse é um tema que
precisa ser digerido pelos nossos juristas e explorados eventualmente”.
Por outro lado, Salama concorda que a educação jurídica se beneficiaria de uma
discussão maior sobre incentivos econômicos. “É um movimento em curso no país.
Isso tem que estar na graduação porque ao fim e ao cabo aplicar bem o Direito é um
exercício de prudência. E exercer a prudência, em alguns casos, envolve questões
consequenciais”.
E a Jurimetria?
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 8/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
CAPÍTULO 4
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 9/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
No STJ
O ministro citou uma obra de Luciano Timm em que o advogado afirma “que a
análise econômica do Direito permite medir, sob certo aspecto, as externalidades do
contrato (impactos econômicos) positivas e negativas, orientando o intérprete para
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
o caminho
serviços, que gere
você concorda commenos prejuízo
essa prática. à coletividade,
Saiba mais oudemais
em nossa Política eficiência social.
Privacidade. A
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 10/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
coletividade deixa de ser encarada apenas como a parte fraca do contrato e passa a
ser vista como a totalidade das pessoas que efetivamente ou potencialmente
integram um determinado mercado de bens e serviços, como no caso do crédito”.
No TJ-SC
No voto, Rosa questionou se, num país de extrema exclusão social, em que os
recursos e meios para garantia do acesso à Justiça são escassos, deveria-se
aceitar toda e qualquer demanda posta em juízo com pedido de gratuidade. Logo
em seguida, respondeu que não. Segundo ele, pelos levantamentos do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, um processo custava à época, em média, R$ 1 mil.
Nas palavras dele, como o exercício do Direito de demandar em Juízo não nasce em
árvore, “em face dos limitados recursos do Poder Judiciário e de sua capacidade de
assimilação, a propositura de ações abusivas, frívolas ou de cunho meramente
patrimonial e repetitivas, sem custo, pode gerar o excesso de litigância”. Além disso,
“o custo de um processo é assimilado pela coletividade e pelos demais usuários na
forma de uma externalidade negativa”.
Por isso, argumentou o magistrado, “a mera declaração de pobreza não pode mais
ser aceita pelo Poder Judiciário, justificando-se, a exigência de documentos outros
que demonstrem, de fato, a ausência de condições materiais”. No caso em questão,
considerou, “andou com acerto a decisão que indeferiu a gratuidade, razão pela qual
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
a petição
serviços, você inicial é com
concorda indeferida, atéSaiba
essa prática. para não
mais emgerar mais custos
nossa Política de gestão (pedido
de Privacidade. de
ESTOU CIENTE
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 11/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
A preparação de um magistrado
O juiz federal Erik Navarro, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, está fazendo
doutorado em Harvard sobre Law & Economics. “Meu objetivo é aplicar a análise
econômica do Direito no Processo Civil aí no Brasil”, afirma o juiz.
Navarro afirma que tem percebido um interesse maior e mais discussões sobre a
disciplina em terras brasileiras, talvez porque, em suas palavras, “o Direito no Brasil
não deu certo”. “É só olhar par ao sistema de Justiça para ver que ele não funciona.
Temos que se arrumar uma solução e talvez ela seja a junção do Direito a matérias
mais consequencialistas, como a Economia”, afirma.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 12/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
CAPÍTULO 5
A cada dia útil são criadas no Brasil inacreditáveis 46 novas regras tributárias. Além
disso, de 1988 até 2014, em média, foram publicadas 522 normas a cada dia
versando sobre diversos temas. “Nós sabemos que essas leis são criadas com
base em achismos. Alguém, às vezes, com boas intenções cria regras do nada sem
nenhum tipo de mensuração de impacto. Depois somos nós que pagamos a conta”,
analisou a economista Luciana Yeung, na aula inaugural da especialização em
Direito e Economia da Unicamp.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 13/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
Brasil vai só um pouco melhor: fica na 123ª colocação, atrás de potências como
Suazilândia, Kosovo, Vietnã e até Paraguai.
“Jurista sozinho não consegue melhorar a qualidade das leis. Economista sozinho
também não consegue. Sem econometria não dá para medir impacto, nem saber se
uma lei vai ser melhor ou pior”, afirma Luciana.
A questão da saúde
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 14/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
um remédio de alto custo não coberto pelo sistema de saúde. Se o gestor segue
as regras e nega o tratamento, será visto como um monstro insensível à dor da
família. Se, por outro lado, ele autoriza a compra do fármaco, será censurado por
ter agido de forma antirrepublicana, passando por cima dos interesses de um
número muito maior de pacientes que não padecem de moléstias midiáticas”.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 15/16
01/11/2021 07:00 Análise Econômica do Direito chega aos tribunais do país - JOTA
tratamento que vamos oferecer para todos. O plano de saúde privado pode custear
tudo, mas poucas pessoas vão ter condições para pagar o valor da mensalidade de
um plano assim”, argumenta Eduardo Gil, diretor jurídico da Amil. No caso em
particular do tratamento que não é aprovado pela Anvisa a estimativa é que cada
etapa do tratamento custe R$ 2 milhões.
O JOTA faz uso de cookies para oferecer uma melhor experiência a você. Ao utilizar nossos
ESTOU CIENTE
serviços, você concorda com essa prática. Saiba mais em nossa Política de Privacidade.
https://www.jota.info/especiais/analise-economica-do-direito-chega-aos-tribunais-do-pais-01072017 16/16