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Currículo e á reas de conteú do educativo

UFCD_10650

761175 - Técnico/a de
Ação Educativa

25 horas
Currículo e áreas de conteúdo educativo UFCD 10650

Índice

Objetivos e conteú dos................................................................................................................................................................ 3

Modelos curriculares................................................................................................................................................................... 4

Definiçã o e fundamentos – referências teó ricas e valores........................................................................................... 4

Paradigmas e principais teorizadores................................................................................................................................ 10

Orientaçõ es curriculares e á reas de conteú do................................................................................................................ 11

Desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociá veis........................................................................14

Reconhecimento da criança ou do jovem como sujeito e agente do processo educativo..............................16

Á reas de conteú do a abordar - Metodologias.................................................................................................................. 17

Construçã o e gestã o do currículo......................................................................................................................................... 20

Papel do educador...................................................................................................................................................................... 20

Papel de outros profissionais de açã o educativa........................................................................................................... 23

Papel da criança.......................................................................................................................................................................... 26

Bibliografia e netgrafia............................................................................................................................................................. 30

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Objetivos:

 Identificar e distinguir diferentes modelos curriculares e pedagó gicos.

 Reconhecer os pensamentos dos principais teorizadores de diferentes paradigmas


educativos.

 Distinguir as diferentes á reas de conteú do educativo.

Conteú dos:

 Modelos curriculares

 Definiçã o e fundamentos – referências teó ricas e valores

 Paradigmas e principais teorizadores

 Orientaçõ es curriculares e á reas de conteú do

 Fundamentos e princípios educativos

 Desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociá veis

 Reconhecimento da criança ou do jovem como sujeito e agente do processo educativo

 Á reas de conteú do a abordar

 Metodologias

 Construçã o e gestã o do currículo

 Papel do educador

 Papel de outros profissionais de açã o educativa

 Papel da criança

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Modelos curriculares

Definição e fundamentos – referências teóricas e valores

Quando se planificam aulas, parte-se, frequentemente, de uma concepçã o restrita de


currículo que tende a preocupar-se apenas em definir o programa, isto é, em decidir sobre o
que os alunos necessitam saber faltando muitas vezes as atividades e os processos
(estratégias e metodologias) de aprendizagem.

Raramente os modelos curriculares sã o discutidos de forma explícita, havendo a tendência


para se assumir que todos temos a mesma perspetiva relativamente ao que designamos por
currículo.

Mas há , efectivamente, diferentes modelos e conceções de currículo, que configuram


diferentes, metodologias e estratégias e resultados de aprendizagem.

Modelo Baseado em Conteúdos

Conteúdo Curricular:

O conteúdo é selecionado de modo a exemplificar os conceitos estruturantes, critérios e


procedimentos que melhor representam a estrutura de um corpo de conhecimentos. Assume-
se que, no conhecimento, há diferentes tipos de raciocínio. Por ex.: “um juízo moral nã o é
vá lido da mesma forma que um teorema matemá tico, nem uma explicaçã o histó rica como uma
proposiçã o teoló gica”. Hirst (1975) sugere que todo o conhecimento se integra em domínios
específicos e afirma que a matemá tica, as ciências, as ciências humanas, a literatura, as artes, a
religiã o e a filosofia têm “formas de pensamento” distintas.

Resultados de Aprendizagem (Finalidades):

Especificar conceitos estruturantes, critérios e procedimentos como objetivos de


aprendizagem seria distorcer o currículo, uma vez que eles só têm sentido no contexto de um
determinado domínio [científico]. Deveriam, portanto, ser objecto de especulaçã o e nã o de
mestria [no sentido do behaviorismo e da pedagogia por objectivos]. O propósito do
currículo é ajudar o aprendente a pensar e a ver o mundo como um historiador, um
matemá tico, um designer industrial, etc. “Ao estudar um corpo de conhecimentos socialmente

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estabelecido, o aluno está preocupado com a “busca da verdade”. O currículo nunca é
deliberadamente vocacional e a verdade pode não ter qualquer utilidade prática imediata.

Actividades de Aprendizagem (Metodologia):

Cabe ao professor planificar atividades de aprendizagem. Mas estas devem constituir


processos que valham por si pró prios, e nã o meios com vista a atingir objetivos específicos de
aprendizagem. Estas atividades terã o um alargado conjunto de conteú dos cognitivos (ao
contrá rio dos jogos) e devem ser concebidas de modo a esclarecer os diferentes tipos de
raciocínio e juízo que sã o pró prios de um corpo de conhecimentos ou de uma determinada
disciplina.

Modelo Baseado em Objectivos Comportamentais

Conteúdo Curricular:

O conteú do é habitualmente seleccionado na base de um desempenho e está relacionado com


o que o aprendente “precisa de saber” para poder realizar certas tarefas.

Resultados da Aprendizagem (Finalidades):

Os resultados sã o especificados em termos do que os aprendentes serã o capazes de fazer no


fim do processo de aprendizagem. Os objectivos sã o escritos com um nível crescente de
especificidade (Davies 1975) e, desta forma, sã o “operacionalizados” objetivos gerais e
finalidades. Os conceitos estruturantes, os critérios e procedimentos também sã o expressos
em termos de objetivos específicos.

Atividades de Aprendizagem (Metodologia)

Ao recorrer-se a hierarquias de objectivos, nomeadamente à Taxonomia de Bloom (Bloom


1971), as atividades de aprendizagem podem ser concebidas de modo a corresponderem a
objetivos, por ex. compreender, aplicar, analisar, etc., começando-se com objetivos de nível
mais baixa e passando para níveis crescentes de complexidade.

Cabe ao professor planear objetivos de aprendizagem em conjunto com atividades


adequadas aos alunos. Por essa razã o, o Modelo baseado em Objetivos é, muitas vezes,
associado a uma perspetiva técnica e instrumental da aprendizagem.

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Modelo Baseado em Objetivos Expressivos

Conteúdo Curricular:

O conteú do é habitualmente selecionado de modo a proporcionar aos alunos algumas


atividades de exploraçã o ou de resoluçã o de problemas.

Resultados da Aprendizagem (Finalidades):

Um objetivo expressivo descreve um “encontro educativo”. Especifica o comportamento que o


aluno deve adquirir. Aos olhos de quem concebe o currículo, sã o muitas vezes os resultados
inesperados que sã o realmente importantes. Eisner clarificou a sua definiçã o da seguinte
forma:

“(...) um objectivo expressivo é o resultado de um encontro ou actividade que foi planeado/a


(pelo professor) de modo a dar ao aluno a oportunidade de personalizar a aprendizagem. É
precisamente devido à riqueza destes encontros ou actividades e ao cará cter ú nico do
resultado que o objectivo expressivo se torna tã o difícil de descrever antecipadamente”.
Eisner acrescenta ainda: “Penso que uma grande percentagem de professores (...) tende a
pensar em objetivos nestes termos”.

Atividades de Aprendizagem (Metodologia):

Um objetivo expressivo dá ao professor e ao aprendente a oportunidade de explorarem


questõ es de particular interesse para este. O compromisso, no sentido de motivação
intrínseca do aluno, é um critério fundamental utilizado pelos professores na selecçã o de
actividades de aprendizagem. No entanto, reconhece-se que os alunos podem necessitar de
conhecimentos e competências anteriormente adquiridos (cf. Modelo Baseado em Objetivos
Comportamentais) de modo a serem capazes de explorar questõ es/problemas levantados
pelos objectivos expressivos.

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Modelo Baseado na Resolução de Problemas

Conteúdo Curricular:

O ponto de partida para a aprendizagem é um problema ou uma questã o que o aluno deve
resolver. O conteú do, neste modelo, nasce do trabalho sobre esse problema ou questão.

Resultados da Aprendizagem (Finalidades):

Os resultados da aprendizagem nã o podem ser identificados com uma grande


especificidade, porque os alunos são responsáveis pela procura dos conhecimentos de
que necessitam para abordarem o problema. Contudo, é habitualmente o professor que, tendo
exposto o problema em primeiro lugar, tem uma ideia clara das necessidades gerais dos
alunos e dos recursos que os poderã o ajudar a clarificar esse problema. Espera-se que os
alunos, em pequenos grupos, trabalhem sobre cada um dos subproblemas separadamente e
recorram a métodos de aprendizagem experimentais. Consequentemente, tanto as
competências de trabalho em equipa como as competências reflexivas constituem uma
componente importante dos resultados da aprendizagem.

Actividades de Aprendizagem (Metodologia):

Um elemento importante num currículo baseado na resoluçã o de problemas é que,


assumindo que os professores possuem boas capacidades de planificação, os alunos ficam
motivados e adotam abordagens mais profundas no processo de aprendizagem. Muitas
vezes, o “aprender a aprender” e as competências de aprendizagem em grupo fazem parte
das atividades realizadas no início das unidades didácticas definidas segundo este modelo
curricular. No entanto, a investigaçã o tem mostrado que as competências deste tipo, incluindo
as de resoluçã o de problemas, sã o mais facilmente adquiridas através da reflexã o sobre
experiências reais do que através [do estudo] de conceitos abstractos.

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Paradigmas e principais teorizadores

Sendo o currículo um conceito polissémico que envolve variadíssimas dimensõ es, que vã o
desde o currículo oficial ao currículo real, que vã o desde o currículo como plano (curriculum-
as-plan) ao currículo como experiência vivida (curriculum-as-lived-experience) (Aoki,
1986), ou entã o, currículo-como-vida (Sousa, 2012), passando por outras definiçõ es que
abarcam os conceitos de currículo formal, currículo informal, currículo expresso,
currículo oculto (Kelly, 1981), currículo ideológico, currículo percebido, currículo
operacional e currículo experiencial (Goodlad, 1979), currículo intencional (onde cabem
o currículo escrito, ensinado e testado) e currículo aprendido (Glatthorn, 2012), interessa-
nos, extrair o que têm todas estas dimensõ es em comum, ou seja, a sua ligação com a escola:
tudo aquilo que se aprende na escola (ou fora dela, mas por responsabilidade da escola).

Se pusermos de parte o currículo oculto, no caso em que nã o é consciencializado pelo


professor, e que alguns consideram como um subproduto do currículo (portanto, nã o
currículo), diremos entã o que o currículo resulta de uma intencionalidade mais ou menos
explícita, que requer uma determinada organização, implicando, por isso mesmo, a sua
avaliaçã o: uma avaliaçã o, nã o apenas como a etapa final de um processo, como os modelos
tecnoló gicos lineares apontavam, nem uma avaliaçã o apenas remetendo à verificaçã o da
adequação dos objetivos, como indicavam os modelos tecnoló gicos circulares.

Enquanto o primeiro modelo se desresponsabilizava pelo sucesso ou pelo fracasso alcançados


(principalmente os falhanços eram culpa do aluno, porque era “burro”, estivera desatento, nã o
havia trabalhado o suficiente, etc.), o segundo assumia a sua quota-parte de responsabilidade,
abrindo caminho à reformulaçã o dos objetivos entã o traçados e/ou à reformulaçã o dos
conteú dos, dos métodos ou da pró pria avaliaçã o.

 Seriam os objetivos inadequados ao nível de desenvolvimento psicológico dos alunos


daquelas idades?

 Teriam sido os conteú dos mal selecionados, porque desfasados da realidade cultural
dos aprendentes?

 Seriam os métodos utilizados impeditivos de uma boa aprendizagem?

 Faltariam os recursos necessá rios?

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 Teria sido a avaliaçã o dissonante relativamente à prá tica metodoló gica adotada, ao
longo das aulas?

Estas questõ es remetem para a diferenciação entre o que é a avaliação da aprendizagem


do aluno e a avaliação do próprio currículo.

A avaliação do currículo, a ser levada a sério, tem que ter em conta uma multiplicidade de
fatores que nã o se esgota nos simples resultados dos testes aplicados aos alunos.

Segundo Guba & Lincoln (1981), a avaliaçã o de um currículo deve contemplar dois
aspetos: o seu mérito e a sua utilidade. O mérito tem a ver com o valor intrínseco do
currículo, independentemente de qualquer aplicaçã o ou contexto, refletindo uma teoria
só lida, baseada em investigaçã o; a utilidade, pelo contrá rio, é o valor que esse currículo tem
relativamente a um contexto em particular ou a uma determinada aplicaçã o. Ora, como é que
estes dois elementos podem ser valorados?

Neste momento, temos de fazer uma pausa para reflectir sobre o seguinte: o significado de
mérito e de utilidade pode variar enormemente, de investigador para investigador, pois
importa saber em que paradigma científico ele se situa, o que, no campo das ciências humanas
e sociais, como é o nosso, envolve uma determinada visão do mundo, do homem e da
sociedade. Como diz Kuhn, “paradigms provide scientists not only with a map but also with
some of the directions essential for map-making”

(Kuhn, 1970, p. 109), para mais adiante esclarecer que o termo “paradigma” é usado em dois
diferentes sentidos:

“On the one hand, it stands for the entire constellation of beliefs, values, techniques, and so on
shared by the members of a given community. On the other, it denotes one sort of element in that
constellation, the concrete puzzle-solutions which, employed as models or examples, can replace
explicit rules as a basis for the solution of the remaining puzzles of normal science”. (KUHN,
1970, p. 175).

O currículo é a fonte de inspiração para o planeamento da prática diária das


instituições de ensino, dos professores, como também o compromisso para com os
instruendos, pois os mesmos necessitam e devem ser ouvidos, só assim a aprendizagem será
democrá tica, uma vez que os debates sã o utilizados a fim de desvelar a significâ ncia dos
conhecimentos prévios.

Tais debates sã o as interacçõ es entre tendências metodoló gicas anteriores e as actuais. É


válido dizer que a democratização da escola cumpre um papel na democratizaçã o da

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sociedade, e esse pressuposto parte a partir da elaboraçã o do currículo escolar. Mas o
currículo não é apenas planificação, mas também a prática em que se estabelece o
diálogo entre os agentes sociais, os técnicos, as famílias, os professores e os alunos.

O currículo é determinado pelo contexto, e nele adquire diferentes sentidos conforme os


diversos protagonistas. Desse modo, pode-se dizer que o currículo é muito importante no
processo de ensino pois é a partir dele que sã o definidos os limites a serem atingidos. O
currículo constituiu assim um dos factores que maior influência possui na qualidade do
ensino.

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Orientações curriculares e áreas de conteúdo

Fundamentos e princípios educativos

O que é gestão curricular, afinal? Nã o será apenas programar a calendarizaçã o dos


conteú dos, realizar algumas atividades conjuntas ocasionais, como já vimos fazendo? Falar de
currículo nã o se resume, afinal, a discutir os conteú dos dos programas? Embora boa parte
destas ideias nã o sejam totalmente erradas, situam-se num plano que está desajustado da
situaçã o real do presente, e merecem reflexã o e algum aprofundamento conceptual.

Muito frequentemente se considera, entre professores, que as questões do currículo sã o


irrelevantes, até porque se pressupõ e que todos sabemos muito bem o que é isso de currículo.
Nã o se trata realmente de inventar um conceito, obviamente conhecido, embora pouco
elaborado entre nó s em termos teó ricos, diferentemente por exemplo da prá tica das
universidades e escolas anglo-saxó nicas ou norte-americanas. Trata-se sim de refletir sobre o
sentido do conceito, no quadro concreto do tempo que vivemos, por contraposiçã o ao modo
como talvez o tenhamos interiorizado numa escola que se reportava ao esquema daquele
diretor que há mais de quatro décadas me acolheu como professora, entregando-me um
horá rio, um livro ú nico da disciplina, as datas das avaliaçõ es e a recomendaçã o de me “dar ao
respeito”, dada a pouca idade... Nã o muito terá mudado na iniciaçã o das geraçõ es de
professores que me seguiram, quanto a estes persistentes referentes de senso comum da
atividade docente – matéria, avaliaçõ es, manual e controlo.

Currículo é um conceito passível de múltiplas interpretações no que ao seu conteú do se


refere e quanto aos inú meros modos e variadas perspetivas acerca da sua construçã o e
desenvolvimento (Pacheco, 1996; Ribeiro, 1990). Mas, se procurarmos defini-lo
diacronicamente, no quadro histó rico-cultural da relaçã o da escola com a sociedade, entã o
podemos dizer que currículo escolar é – em qualquer circunstâ ncia – o conjunto de
aprendizagens que, por se considerarem socialmente necessá rias num dado tempo e contexto,
cabe à escola garantir e organizar.

O que se considera desejável varia, as necessidades sociais e econó micas variam, os valores
variam, as ideologias sociais e educativas variam e/ou conflituam num mesmo tempo – e o
currículo escolar corporiza, ao longo dos tempos e em cada contexto, essa variaçã o e essa
conflitualidade. Por sua vez, também contribui para, e interage com, essas vá rias forças, e dá -

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lhes forma ao instituir em câ nones determinadas aprendizagens e práticas. Nisto nã o é o
currículo escolar diferente de qualquer outra prá tica social – sempre frutos e fontes das
interaçõ es e dos atores em presença.

Assim, torna-se claro que os programas nacionais que todos conhecemos, aprendemos e
ensiná mos, enquadrados no funcionamento uniforme da escola e do sistema que é o nosso,
constituem currículo e corporizam uma determinada forma de o gerir, adequada à s
finalidades de um longo período da história da escolas e dos sistemas.

Esse currículo, concebido como um conjunto de programas nacionais universais –


largamente dominante ainda no contexto do sistema português e nã o só – começa, contudo,
claramente, a nã o dar resposta à s necessidades sociais atuais e sobretudo futuras.

Por isso estamos a viver a tão falada mudança. Falar de mudança é intemporal, pois tudo o
que é vivo muda, as sociedades e as escolas como tudo o resto. O que importa é saber que
mudança estamos a atravessar e nã o falar da mudança como se viéssemos de um mundo
relativamente parado que se pô s subitamente a mudar…

A mudança que as nossas sociedades estão atualmente a viver, no plano educacional,


enquadra-se numa dinâ mica, como os historiadores da linha de Fernand Braudel lhe
chamariam. Esta mudança é caracterizada pela pressão social sobre a escola no sentido
de, mais uma vez, ajustar/reconstruir o seu currículo e o modo de o gerir, na tentativa,
historicamente sempre repetida, de ajustar a adequaçã o da oferta à s necessidades.

Nã o se trata pois de “inventar” a ideia de currículo, mas de tomar consciência da sua


natureza histórico-social – realidade socialmente construída, e construção em
permanente devir. Pensar historicamente o currículo e a escola implica assim tomar
consciência da mutabilidade da realidade com que lidamos e abandonar uma visã o está tica e
irrealista das instituiçõ es e das suas funçõ es – como se elas existissem desde sempre e
permanecessem confortavelmente imutá veis, tal como nos habituá mos a vê-las.

Também a noção de gestão curricular, na mesma ló gica, nada tem de novo. Novo será
talvez só o uso – e até abuso – linguístico que dela se faz hoje no discurso educativo. Sempre
se geriu o currículo e sempre terá de se gerir, isto é, decidir o que ensinar e porquê,
como, quando, com que prioridades, com que meios, com que organizaçã o, com que
resultados… Mas a maioria dessas decisõ es passavam-se distantes da escola e dos
professores, a nível central, quase limitando a gestã o curricular – as decisõ es – dos
professores, no plano coletivo, à distribuiçã o dos conteú dos pelos trimestres e à atribuiçã o
das classificaçõ es, e, no plano individual, à planificação das suas aulas quotidianas.

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As decisões e a gestão central obviamente permanecerã o sempre, mesmo em sistemas que
tenderã o a descentralizar-se cada vez mais. As decisõ es desse tipo operam nos aspetos globais
e a nível nacional. Mas uma larga maioria das decisõ es virã o a entrar cada vez mais no campo
específico da gestão curricular de cada escola e dos seus docentes. Essa é a diferença que
dá maior visibilidade ao processo – e ao conceito – de gestã o curricular e maior
responsabilidade aos gestores locais do currículo – as escolas e os professores concretos,
trabalhando profissionalmente para uma determinada comunidade com os seus alunos
específicos

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Desenvolvimento e aprendizagem como vertentes indissociáveis

O desenvolvimento motor, social, emocional, cognitivo e linguístico da criança é um


processo que decorre da interaçã o entre a maturaçã o bioló gica e as experiências
proporcionadas pelo meio físico e social.

As relações e as interações que a criança estabelece com adultos e com outras crianças ,
assim como as experiências que lhe sã o proporcionadas pelos contextos sociais e físicos em
que vive constituem oportunidades de aprendizagem, que vã o contribuir para o seu
desenvolvimento. Deste modo, a aprendizagem influencia e é influenciada pelo processo de
desenvolvimento físico e psicoló gico da criança, sobretudo numa fase da vida em que essa
evoluçã o é muito rá pida. Por isso, em educaçã o de infâ ncia, nã o se pode dissociar
desenvolvimento e aprendizagem.

A interligação das características intrínsecas de cada criança (o seu patrimó nio genético),
do seu processo de maturaçã o bioló gica e das experiências de aprendizagem vividas, faz de
cada criança um ser ú nico, com características, capacidades e interesses pró prios, com um
processo de desenvolvimento singular e formas próprias de aprender.

Assim, as normas do desenvolvimento estabelecidas ou as aprendizagens esperadas


para uma determinada faixa etária/idade nã o devem ser encaradas como etapas pré-
determinadas e fixas, pelas quais todas as crianças têm de passar, mas antes como referências
que permitem situar um percurso individual e singular de desenvolvimento e
aprendizagem.

Embora muitas das aprendizagens das crianças aconteçam de forma espontâ nea, nos
diversos ambientes sociais em que vivem, num contexto de educaçã o de infâ ncia existe uma
intencionalidade educativa, que se concretiza através da disponibilizaçã o de um ambiente
culturalmente rico e estimulante, bem como do desenvolvimento de um processo
pedagógico coerente e consistente, em que as diferentes experiências e oportunidades de

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aprendizagem têm sentido e ligação entre si. Neste processo, o desenvolvimento de
relaçõ es afetivas está veis, em que a criança é acolhida e respeitada, promove um sentimento
de bem-estar e a vontade de interagir com os outros e com o mundo.

Contudo, cada criança não se desenvolve e aprende apenas no contexto de educação de


infância, mas também noutros em que viveu ou vive, nomeadamente no meio familiar,
cujas prá ticas educativas e cultura pró pria influenciam o seu desenvolvimento e
aprendizagem. Neste sentido, importa que o/a educador/a estabeleça relaçõ es pró ximas com
esse outro meio educativo, reconhecendo a sua importâ ncia para o desenvolvimento das
crianças e o sucesso da sua aprendizagem

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Reconhecimento da criança ou do jovem como sujeito e agente do processo educativo

O desenvolvimento e aprendizagem da criança ocorrem num contexto de interaçã o social,


em que a criança desempenha um papel dinâ mico. Desde o nascimento, as crianças sã o
detentoras de um enorme potencial de energia, de uma curiosidade natural para compreender
e dar sentido ao mundo que as rodeia, sendo competentes nas relaçõ es e interaçõ es com os
outros e abertas ao que é novo e diferente.

O reconhecimento da capacidade da criança para construir o seu desenvolvimento e


aprendizagem supõ e encará -la como sujeito e agente do processo educativo, o que significa
partir das suas experiências e valorizar os seus saberes e competências ú nicas, de modo a que
possa desenvolver todas as suas potencialidades.

Esse papel ativo da criança decorre também dos direitos de cidadania, que lhe sã o
reconhecidos pela Convenção dos Direitos da Criança (1989), a saber:

o direito de ser consultada e ouvida, de ter acesso à informaçã o, à liberdade de


expressã o e de opiniã o, de tomar decisõ es em seu benefício e do seu ponto de vista ser
considerado.

Garantir à criança o exercício destes direitos tem como consequência considerá -la o
principal agente da sua aprendizagem, dando-lhe oportunidade de ser escutada e de
participar nas decisõ es relativas ao processo educativo, demonstrando confiança na sua
capacidade para orientar a sua aprendizagem e contribuir para a aprendizagem dos outros.

Cabe ao/à educador/a apoiar e estimular esse desenvolvimento e aprendizagem, tirando


partido do meio social alargado e das interaçõ es que os contextos de educaçã o de infâ ncia
possibilitam, de modo a que, progressivamente, as escolhas, opiniõ es e perspetivas de cada

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criança sejam explicitadas e debatidas. Deste modo, cada criança aprende a defender as
suas ideias, a respeitar as dos outros e, simultaneamente, contribui para o desenvolvimento e
aprendizagem de todos (crianças e educador/a).

Áreas de conteúdo a abordar - Metodologias

As á reas de conteú do sã o á reas em que se manifesta o desenvolvimento humano ao longo da


vida e são comuns a todos os graus de ensino.

Consideram-se as "áreas de conteúdo" como âmbitos de saber, com uma estrutura


pró pria e com pertinência sociocultural, que incluem diferentes tipos de aprendizagem, nã o
apenas conhecimentos, mas também atitudes, disposições e saberes-fazer. Deste modo, a
criança realiza aprendizagens com sentido, sendo capaz de as utilizar noutras situaçõ es
quotidianas, desenvolvendo atitudes positivas face às aprendizagens e criando
disposições favorá veis para continuar a aprender.

O tratamento das diferentes áreas de conteúdo baseia-se nos fundamentos e princípios


comuns a toda a pedagogia para a educação de infância, pressupondo o desenvolvimento
e a aprendizagem como vertentes indissociá veis do processo educativo e uma construçã o
articulada do saber em que as

A perspetiva holística, que caracteriza a aprendizagem da criança e que está subjacente


ao brincar, estará também presente na abordagem das diferentes áreas de conteúdo. Ao
brincar, as crianças vã o-se apropriando de conceitos que lhes permitem dar sentido ao mundo

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e em que o/a educador/a pode reconhecer o contributo para a aprendizagem de diversos
tipos de conhecimento, tais como, a língua, a matemá tica, as ciências. É esta curiosidade e
interesse das crianças por explorar e compreender que dará progressivamente lugar à sua
participaçã o no desenvolvimento de projetos de aprendizagem mais complexos, que
mobilizam diferentes á reas de conteú do. Nã o há , assim, uma oposiçã o, mas uma
complementaridade e continuidade, entre o brincar e as aprendizagens a realizar nas
diferentes áreas de conteúdo.

Esta perspetiva de continuidade entre brincar e aprender articula-se com o


reconhecimento da criança como sujeito e agente do processo educativo, que lhe garante o
direito de ser escutada nas decisõ es relativas à sua aprendizagem e de participar no
desenvolvimento do currículo. No contexto relacional e de interação social do jardim de
infâ ncia, e partindo das experiências e saberes ú nicos da criança, considerada como capaz de
construir a sua aprendizagem, cada uma aprende e contribui para a aprendizagem e
progresso das outras.

A distinção entre áreas de conteúdo corresponde a uma chamada de atençã o para


aprendizagens a contemplar, que devem ser vistas de forma articulada, dado que a
construçã o do saber se processa de forma integrada, e há inter-relações entre os diferentes
conteúdos, bem como aspetos formativos que lhes sã o comuns. As á reas de conteú do sã o,
assim, referências a ter em conta na observaçã o, planeamento e avaliaçã o do processo
educativo e nã o compartimentos estanques a serem abordados separadamente.

Baseando-se nestes princípios e fundamentos, a designaçã o das á reas de conteú do


apresenta algumas semelhanças com as utilizadas noutros níveis do sistema educativo. Esta
designaçã o, com o intuito de favorecer a articulaçã o da educaçã o pré-escolar com o ensino
bá sico e facilitar a comunicaçã o entre educadores e professores, nã o significa que a educaçã o
pré-escolar se deva centrar numa preparação para o 1.º ciclo, mas sim num
desenvolvimento de saberes e disposiçõ es, que permitam a cada criança ter sucesso, nã o só na
etapa seguinte, mas também na aprendizagem ao longo da vida.

O/A educador/a tem um papel fundamental no processo de aprendizagem de forma a:

articular a abordagem das diferentes áreas de conteúdo e domínios, para que se


integrem num processo flexível de aprendizagem que corresponda à s suas intençõ es
pedagó gicas e que, tendo a participaçã o da criança, faça sentido para ela. Esta articulaçã o
poderá partir da escolha de uma "entrada" por uma á rea ou domínio, para integrar outros;

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planear oportunidades de aprendizagem progressivamente mais complexas,
tendo em conta o que observa e avalia sobre o desenvolvimento e aprendizagem de cada
criança e a evoluçã o do grupo;

apoiar cada criança para que atinja níveis a que não chegaria por si só, facilitando
uma aprendizagem cooperada, que dê oportunidade à s crianças de colaborarem no processo
de aprendizagem umas das outras;

diferenciar o processo de aprendizagem, propondo situaçõ es que sejam


suficientemente interessantes e desafiadoras para a criança, mas de cuja exigência nã o resulte
desencorajamento e diminuiçã o da autoestima.

Para clarificar melhor o desenvolvimento e aprendizagem em cada á rea e a sua


articulaçã o com outras, adotou-se uma estrutura global, com adaptaçõ es em alguns
domínios que fazem parte da Á rea de Expressã o e Comunicaçã o e cujas razõ es serã o
explicitadas na introduçã o a esta á rea. Assim, cada área contempla:

um texto introdutório, que fundamenta o seu sentido e algumas relaçõ es com outras
á reas e domínios. Estas articulaçõ es, também retomadas ao longo do texto, sã o apresentadas a
título indicativo, cabendo a cada educador/a encontrar outras possibilidades;

especificação de diferentes componentes, que integram o desenvolvimento da á rea,


com indicaçã o das aprendizagens globais a promover em cada uma;

apresentação de exemplos de algumas situações que ilustram a evoluçã o do


processo de aprendizagem. Estes exemplos nã o constituem listas de verificaçã o, nem esgotam
as aprendizagens a realizar, constituindo referências para situar a observaçã o do/a
educador/a e os progressos das crianças.

exemplos de estratégias, que poderã o ser utilizadas pelo/a educador/a para


promover essas aprendizagens. Estas sã o também indicadas a título exemplificativo, cabendo
a cada educador/a escolher as mais adequadas ao seu contexto e grupo ou definir outras.

no final, é apresentada uma síntese das aprendizagens a promover em cada


componente, seguida de um conjunto de sugestõ es de reflexã o, que o/a educador/a poderá
utilizar individualmente ou em conjunto com outros profissionais.

Esta forma de apresentação tem como finalidade apoiar o/a educador/a na


construçã o e gestã o do currículo, nã o pretendendo ser limitativa das suas opções, práticas
e criatividade.

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Construção e gestão do currículo

Papel do educador

Qualquer que seja a composição do grupo, a relação individualizada que o/a


educador/a estabelece com cada criança é facilitadora da sua inclusão no grupo e das
relaçõ es com as outras crianças. Na educaçã o de infâ ncia, cuidar e educar estã o intimamente
relacionados, pois ser responsá vel por um grupo de crianças exige competências profissionais
que se traduzem, nomeadamente, por prestar atençã o ao seu bem-estar emocional e físico e
dar resposta às suas solicitações (explícitas ou implícitas). Este cuidar ético envolve assim a
criaçã o de um ambiente securizante, em que cada criança se sente bem e sabe que é
escutada e valorizada.

A relação que o/a educador/a estabelece com as crianças assume diversas formas, que
têm de ser intencionalmente pensadas e adaptadas à s situaçõ es. Estar atento/a e escutar as
crianças, ao longo dos vá rios momentos do dia, permite ao/à educador/a perceber os seus
interesses e ter em conta as suas propostas para negociar com elas o que será possível fazer,
ou para se decidir em conjunto o que é de continuar ou o que está terminado, para se passar a
uma nova proposta. Neste processo relacional, o/a educador/a:

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apoia as atividades escolhidas pelas crianças e a realizaçã o das que propõ e;

valoriza de forma empá tica os trabalhos apresentados pelas crianças, as suas


descobertas e as soluçõ es que encontram para resolver problemas e dificuldades;

estimula quem tem mais dificuldade em partilhar o que pensa;

modera debates e negociaçõ es; propõ e ainda ideias que levem as crianças a terem
vontade de melhorar o seu trabalho.

As dinâmicas de interação que se estabelecem têm implicaçõ es nos processos de


aprendizagem, no sentido de promover:

 Respeito por cada criança e sentimento de pertença a um grupo - a forma como


o/a educador/a está atento/a e se relaciona com as crianças, apoia as interaçõ es e relaçõ es no
grupo, contribuem para o desenvolvimento da autoestima e de um sentimento de pertença
que permite à s crianças tomar consciência de si mesmas na relaçã o com outros. A vivência
num grupo social alargado constitui ainda a base do desenvolvimento da á rea de Formaçã o
Pessoal e Social e da aprendizagem da vida democrá tica, o que implica que o/a educador/a
crie situaçõ es diversificadas de conhecimento, atençã o e respeito pelo outro, bem como de
desenvolvimento do sentido crítico e de tomada de decisões baseada na negociação.

 Trabalho cooperado - O trabalho entre pares e em pequenos grupos, em que as


crianças têm oportunidade de confrontarem os seus pontos de vista e de colaborarem na
resoluçã o de problemas ou dificuldades colocadas por uma tarefa comum, alarga as
oportunidades educativas, ao favorecer uma aprendizagem cooperada em que a criança se
desenvolve e aprende, contribuindo para o desenvolvimento e para a aprendizagem das
outras. Trabalhar em grupos constituídos por crianças com diversas idades ou em
momentos diferentes de desenvolvimento permite que as ideias de uns influenciem as dos
outros. Este processo contribui para a aprendizagem de todos, na medida em que constitui
uma oportunidade de explicitarem as suas propostas e escolhas e como as conseguiram
realizar.

 Entendimento da perspetiva do outro - O desenvolvimento social faz-se através de


duas vertentes contraditó rias: a necessidade de relaçã o de proximidade com os outros e o
desejo de afirmação e de autonomia pessoal.

Neste sentido, o/a educador/a deve apoiar a compreensã o que as crianças têm, desde
muito cedo, dos sentimentos, intençõ es e emoçõ es dos outros, facilitando o desenvolvimento
da compreensã o do que os outros pensam, sentem e desejam. Cabe também ao/à

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educador/a, em situaçõ es de conflito, apoiar a explicitaçã o e aceitaçã o dos diferentes pontos
de vista, favorecendo a negociaçã o e a resolução conjunta do problema.

 Regulação da vida em grupo - A participaçã o das crianças no processo educativo


através de oportunidades de decisã o em comum, de regras coletivas indispensá veis à vida
social e à distribuiçã o de tarefas necessárias à organização do grupo constituem
experiências de vida democrá tica que permitem tomar consciência dos seus direitos e
deveres.

As razões das normas que decorrem da vida em grupo (por exemplo, esperar pela sua vez,
arrumar o que desarrumou, etc.) terão de ser explicitadas e compreendidas pelas
crianças, como o respeito pelos direitos de cada uma, indispensá veis à vida em comum. Estas
normas e outras regras adquirem maior força e sentido se todo o grupo participar na sua
elaboraçã o, bem como na distribuiçã o de tarefas necessá rias à vida coletiva (por exemplo,
regar as plantas, tratar de animais, encarregar-se de pô r a mesa, distribuir refeiçõ es, etc.).

Participação no planeamento e avaliação – Ao participarem no planeamento e avaliaçã o, as


crianças estã o a colaborar na construçã o do seu processo de aprendizagem. Planear e avaliar
com as crianças individualmente, em pequenos grupos ou no grande grupo sã o oportunidades
de participaçã o e meios de desenvolvimento cognitivo e da linguagem. Esta participaçã o é
uma condiçã o de organizaçã o democrá tica do grupo, sendo também suporte da aprendizagem
nas diferentes áreas de conteúdo.

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Papel de outros profissionais de ação educativa

As organizações educativas são contextos que exercem determinadas funções, dispondo


para isso de tempos e espaços pró prios e em que se estabelecem diferentes relaçõ es entre os
intervenientes. A organização dinâmica destes contextos educativos pode ser vista
segundo uma perspetiva sistémica e ecoló gica. Esta abordagem assenta no pressuposto de
que o desenvolvimento humano constitui um processo dinâ mico de relaçã o com o meio, em
que o indivíduo é influenciado, mas também influencia o meio em que vive.

Para compreender a complexidade do meio, importa considerá -lo como constituído por
diferentes sistemas que desempenham funçõ es específicas e que, estando em interconexã o, se
apresentam como dinâ micos e em evoluçã o. Assim, o indivíduo em desenvolvimento interage
com diferentes sistemas que estão eles próprios em evolução.

Nesta abordagem, importa distinguir os sistemas restritos e imediatos, com


características físicas e materiais particulares — a casa, a sala de jardim de infâ ncia, a rua, etc.
— em que há uma interaçã o direta entre atores que aí desempenham diferentes papéis — pai
ou mã e, filho/a, docente, aluno/a, etc. — e desenvolvem formas de relaçã o interpessoal,
implicando-se em atividades específicas que se realizam em espaços e tempos pró prios. Sã o

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exemplos destes sistemas restritos, com particular importâ ncia para a educaçã o da criança, o
meio familiar e o contexto de educação pré-escolar.

As relações que se estabelecem entre estes e outros sistemas restritos formam um outro
tipo de sistema com características e finalidades pró prias (as relaçõ es entre famílias e o
contexto de educaçã o de infâ ncia). Por seu turno, estes sistemas são englobados por
sistemas sociais mais alargados que exercem uma influência sobre eles (por exemplo, a
organizaçã o da educaçã o de infâ ncia no sistema educativo e no sistema social influenciam o
funcionamento dos jardins de infâ ncia).

A abordagem sistémica e ecológica constitui, assim, uma perspetiva de compreensã o da


realidade que permite adequar, de forma dinâ mica, o contexto do estabelecimento educativo
à s características e necessidades das crianças e adultos, tornando-se, ainda, um instrumento
de aná lise para que o/a educador/a possa adaptar a sua intervenção às crianças e ao meio
social em que trabalha, pois possibilita:

compreender melhor cada criança, ao conhecer os sistemas em que esta cresce e se


desenvolve, de forma a respeitar as suas características pessoais, cultura e saberes já
adquiridos, apoiando a sua maneira de se relacionar com os outros e com o meio social e
físico;

contribuir para a dinâmica do contexto de educação pré-escolar na sua interaçã o


interna (relaçõ es entre crianças e crianças e adultos) e na interaçã o que estabelece com
outros sistemas que também influenciam a educaçã o das crianças (relaçã o com as famílias) e

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ainda com o meio social envolvente e a sociedade em geral, de modo a que esse contexto se
organize para responder melhor às suas características e necessidades;

perspetivar o processo educativo de forma integrada, tendo em conta que a criança


constró i o seu desenvolvimento e aprendizagem, de forma articulada, em interaçã o com os
outros e com o meio;

permitir a utilização e gestão integrada dos recursos do estabelecimento educativo


e de recursos que, existindo no meio social envolvente, podem ser dinamizados;

acentuar a importância das interações e relações entre os sistemas que têm uma
influência direta ou indireta na educaçã o das crianças, de modo a tirar proveito das suas
potencialidades e ultrapassar as suas limitaçõ es, para alargar e diversificar oportunidades
educativas das crianças e apoiar o trabalho dos adultos.

Tendo em conta os diferentes sistemas em interação, analisam-se seguidamente algumas


características relevantes para a organizaçã o do ambiente educativo na educação pré-
escolar:

 Organizaçã o do estabelecimento educativo

 Organizaçã o do ambiente educativo da sala

 Organizaçã o do grupo

 Organizaçã o do espaço

 Organizaçã o do tempo

 Relaçõ es entre os diferentes intervenientes.

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Organização do estabelecimento educativo

O estabelecimento educativo deve organizar-se como um contexto facilitador do


desenvolvimento e da aprendizagem das crianças, proporcionando também oportunidades de
formaçã o dos adultos que nele trabalham. Estabelece procedimentos de interaçã o entre os
diferentes intervenientes (entre crianças, entre crianças e adultos e entre adultos), tem um
papel na gestão de recursos humanos e materiais, o que implica a prospeçã o de meios para
melhorar as funçõ es educativas da instituiçã o. O estabelecimento educativo tem uma
influência determinante no trabalho que o/a educador/a realiza com o seu grupo de crianças
e pais/famílias, bem como na dinâmica da equipa educativa.

Cada estabelecimento educativo tem as suas características pró prias e uma especificidade
que decorre da rede em que está incluído (pú blica, privada solidá ria ou privada cooperativa),
da dimensã o e dos recursos materiais e humanos de que dispõ e, diferenciando-se ainda pelos
níveis educativos que engloba. Muitos estabelecimentos educativos, para além da educaçã o
pré-escolar, incluem outros níveis educativos como a creche ou os ensinos bá sico e
secundá rio. Esta inserçã o num contexto organizacional mais vasto permite tirar proveito de
recursos humanos e materiais, facilitando ainda a continuidade educativa.

A dinâmica própria de cada estabelecimento educativo está consignada no seu projeto


educativo, como instrumento de orientaçã o global da sua açã o e melhoria, complementado
pelo regulamento da instituiçã o, que prevê as funçõ es e formas de relaçã o com os diversos

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grupos que compõ em a comunidade (ó rgã os de gestã o, profissionais, pais/famílias e alunos).
Estas linhas gerais de orientação, e nomeadamente o projeto educativo de
estabelecimento educativo/agrupamento de escolas, enquadram o trabalho educativo dos
profissionais e a elaboraçã o do projetos curriculares de grupo. A contribuiçã o dos educadores
na elaboraçã o do projeto educativo e o modo como o concretizam confere-lhes também um
papel na sua avaliação.

Os estabelecimentos educativos proporcionam, também, um espaço alargado de


desenvolvimento e aprendizagem de todas as crianças, em que a partilha dos espaços comuns
(entrada, corredores, refeitó rio, biblioteca, giná sio, etc.) deverá ser planeada em conjunto
pela equipa educativa.

O estabelecimento educativo deverá também favorecer as relaçõ es, e o trabalho em equipa,


entre profissionais que têm um papel na educaçã o das crianças. Esse trabalho em equipa
pode realizar-se a vários níveis:

Reuniões regulares da equipa que trabalha com o mesmo grupo de crianças:


educador/a, auxiliar de açã o educativa/assistente operacional, animadores/as da
componente de apoio à família ou outros profissionais que intervenham com as crianças em
tempo letivo (professor/a de educaçã o especial ou professor/a com especialidade numa
determinada á rea). Este trabalho é indispensável para desenvolver uma ação articulada,
que se integra na dinâ mica global do grupo e no trabalho que se está a realizar.

Encontros periódicos entre todos/as os/as educadores/as do


estabelecimento/departamento de educaçã o pré-escolar, para debater e refletir sobre a açã o
pedagó gica desenvolvida e tomar decisõ es conjuntas sobre aspetos que dizem respeito ao seu
trabalho, no estabelecimento educativo. Esta relaçã o de cooperaçã o, em que os/as
educadores/as coordenam, planeiam e avaliam, em conjunto, a sua açã o, constitui um meio de
desenvolvimento profissional e de melhoria das prá ticas com efeitos na educaçã o das
crianças. Cabe ao diretor/a pedagógico/a ou coordenador/a pedagógico/a, em
colaboraçã o com os educadores, encontrar as formas e os momentos deste trabalho de equipa.
Estas equipas podem ainda beneficiar do apoio de outros profissionais, tais como psicó logos,
trabalhadores sociais, etc., que, enriquecendo o trabalho da equipa, facilitam a procura de
respostas mais adequadas à s crianças e à s famílias.

Encontros entre profissionais de diferentes níveis educativos que, no


estabelecimento educativo, estiveram ou irã o estar encarregados da educaçã o das mesmas
crianças, nomeadamente educadores/as de creche, educadores/as do jardim de infâ ncia e

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professores/as do 1.º ciclo. Não cabe apenas individualmente ao/à educador/a, mas a
toda a organizaçã o educativa garantir a articulaçã o e a continuidade do processo na educaçã o
de cada criança.

Papel da criança

O acesso à educação é também um direito de todas as crianças, especificando-se que essa


educaçã o tem como base uma igualdade de oportunidades (Convençã o dos Direitos da
Criança, 1989, art.º 28 e 29).

Dada a importância das primeiras aprendizagens, é atribuído à educaçã o de infâ ncia um


papel relevante na promoçã o de uma maior igualdade de oportunidades relativamente à s
condiçõ es de vida e aprendizagens futuras, sobretudo para as crianças cuja cultura familiar
está mais distante da cultura escolar. Porém, os resultados da investigaçã o indicam que
essa contribuiçã o depende muito da qualidade do ambiente educativo e do modo como este
reconhece e valoriza as características individuais de cada criança, respeita e dá resposta às
suas diferenças, de modo a que todas se sintam incluídas no grupo.

Assim, todas as crianças, independentemente da sua nacionalidade, língua materna,


cultura, religiã o, etnia, orientaçã o sexual de membro da família, das suas diferenças a nível
cognitivo, motor ou sensorial, etc., participam na vida do grupo, sendo a diversidade encarada
como um meio privilegiado para enriquecer as experiências e oportunidades de
aprendizagem de cada criança.

A inclusão de todas as crianças implica a adoçã o de prá ticas pedagó gicas diferenciadas, que
respondam à s características individuais de cada uma e atendam à s suas diferenças, apoiando

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as suas aprendizagens e progressos. A interaçã o e a cooperaçã o entre crianças permitem que
estas aprendam, nã o só com o/a educador/a, mas também umas com as outras. Esta
perspetiva supõ e que o planeamento realizado seja adaptado e diferenciado, em funçã o do
grupo e de acordo com características individuais, de modo a proporcionar a todas e a
cada uma das crianças condiçõ es estimulantes para o seu desenvolvimento e aprendizagem,
promovendo em todas um sentido de segurança e autoestima.

Para a construção de um ambiente inclusivo e valorizador da diversidade, é também


fundamental que o estabelecimento educativo adote uma perspetiva inclusiva, garantindo
que: todos (crianças, pais/famílias e profissionais) se sintam acolhidos e respeitados; haja um
trabalho colaborativo entre profissionais; pais/famílias sejam considerados como parceiros;
exista uma ligação próxima com a comunidade e uma rentabilização dos seus recursos.
Uma permanente intençã o de melhoria dos ambientes inclusivos deve considerar o
planeamento e avaliaçã o destes aspetos, com o contributo de todos os intervenientes.

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Bibliografia e netgrafia
 FARIA, A. R. de. O desenvolvimento da criança e do adolescente segundo Piaget. 4. ed.
Sã o Paulo, 1998.

 GARRISON, K. C.; KINGSTON, A. J.; BERNARD, H. W. Psicologia da criança: estudo geral e


meticuloso do desenvolvimento e da socializaçã o. Sã o Paulo: IBRASA, 1971.

 GRIFFA, M. C.; MORENO, J. E. Chaves para a psicologia do desenvolvimento, tomo 1:


vida pré-natal, etapas da infâ ncia. Sã o Paulo: Paulinas, 2001.

 JERSILD, A.T. Psicologia da criança. Belo Horizonte: Itatiaia Limitada, 1973.

 (Excertos e adaptaçã o de um texto original disponível em


lmu.uce.ac.uk/crumpton/curriculum-design.htm

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