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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

FACULDADE DE CIENCIAS DE SAUDE


CURSO DE MEDICINA GERAL
1ºNIVEL
BIOQUIMICA I

ENOVELAMENTO INCORRETO DE PROTEINAS E DOENCAS PRIONICAS

CHUDY AMELIA SIMBINE


ETELVINA GOUVEIA CAETANO FARIAS
JANUÁRIO VIRGILIO DABALI
MARCELA RUI VERIMBO
PAULO MANUEL TCHACA
TALFURA FENIASSE THUBOI
YURAN STELLA BERNARDO CUTANE

CIDADE DE TETE
2022
Chudy Amelia Simbine
Etelvina Gouveia
Caetano Farias
Januário Virgilio Dabali
Marcela Rui Verimbo
Paulo Manuel Tchaca
Talfura Feniasse Thuboi
Yuran Stella Bernardo Cutane

ENOVELAMENTO INCORRETO DE PROTEINAS E DOENCAS PRIONICAS

Trabalho de pesquisa da cadeira de


Bioquimica I a ser entregue ao curso
de licenciatura em Medicina geral, na
Universidade Zambeze para fins
avaliativos.
Docente: Dr. Miguel Manuel

Cidade de Tete

2022
Resumo

O enovelamento proteico é o mecanismo de formação do arranjo tridimensional da proteína,


de grande importância fundamental para diversos processos celulares do organismo. Esse
mecanismo é determinado pelas interacções de proteína com o meio, sendo geralmente
aquoso. Assim, ao processo de enovelamento para uma mesma proteína é diferente, estando
ela isolada em solução ou em ambiente celular, onde há altas concentrações de outras
macromoléculas.As doenças priônicas, constituem um grupo de patologias crônicas,
progressivas, de ocorrência imprevisível, invariavelmente fatais, afetando principalmente o
sistema nervoso central, sem resposta imune nem tratamento.A importância deste trabalho é
de identificar métodos eficientes para o diagnóstico laboratorial de príons e doenças por
causadas, príons são moléculas proteicas e, portanto, não possuem ácidos nucleicos, ou seja,
eles actuam como agentes infecciosos capazes de multiplicar ou converter outras proteínas de
formato benigno para patogénico mesmo na ausência de material genético, actuando de forma
diferente de agentes infecciosos como vírus e bactérias.O diagnóstico de príons é feito através
de exames neuropatológico de tecido cerebral, que é essencial para estabelecer o diagnóstico.
No entanto existem alguns testes relevantes para suportar a suspeita clínica no diagnóstico. De
todos os exames de neuroimagem disponíveis a Ressonância Magnética (RMN) é a mais
capaz de fornecer dados importantes para a elaboração do diagnóstico, principalmente para a
variante CJD.Não existe cura nem tratamento efectivo actualmente identificado para as
doenças priónicas, as quais são inexoravelmente fatais. O tratamento disponível é apenas de
cuidados de suporte.

Palavras-chave: enovelamento incorrecto, Prião, Kuru, sCJD, vCJD, Encefalopatia.


Abstract

Protein folding is the mechanism of formation of the three-dimensional arrangement of the


protein, of great fundamental importance for several cellular processes of the organism. This
mechanism is determined by the interactions of the protein with the medium, which is
generally aqueous. Thus, the folding process for the same protein is different, whether it is
isolated in solution or in a cellular environment, where there are high concentrations of other
macromolecules. Prion diseases are a group of chronic, progressive pathologies, of
unpredictable occurrence, invariably fatal, mainly affecting the central nervous system,
without an immune response or treatment. The importance of this work is to identify efficient
methods for laboratory diagnosis of prions and diseases caused by them, prions are protein
molecules and, therefore, do not have nucleic acids, that is, they act as infectious agents
capable of multiplying or converting other proteins of benign to pathogenic even in the
absence of genetic material, acting differently from infectious agents such as viruses and
bacteria. The diagnosis of prions is made through neuropathological examination of brain
tissue, which is essential to establish the diagnosis. However, there are some relevant tests to
support the clinical suspicion in the diagnosis. Of all the neuroimaging exams available,
Magnetic Resonance Imaging (MRI) is the most capable of providing important data for the
elaboration of the diagnosis, especially for the CJD variant. There is currently no cure or
effective treatment identified for prion diseases, which are inexorably fatal. The available
treatment is supportive care only.

Keywords: misfolding, Prion, Kuru, sCJD, vCJD, Encephalopathy.


Índice
CAPÍTULO I: INTRODUTÓRIO..........................................................................................5

1.1.Introdução………………………………………………………………………………..5

1.2. Problema...........................................................................................................................5

1.3. Justificativa.......................................................................................................................6

1.4. Objectivos.........................................................................................................................6

1.4.1. Objectivos gerais:..........................................................................................................6

1.4.2. Objectivos específicos:..................................................................................................6

1.5. Metodologia.....................................................................................................................6

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.................................................................7

2.1. Enovelamento incorreto de proteína................................................................................7

2.2. Doenças priónicas............................................................................................................8

2.2.1. Príons.............................................................................................................................8

2.2.2. Características gerais dos príons...................................................................................9

2.2.3. Patogênese...................................................................................................................10

2.2.4. Classificação das doenças prionicas............................................................................10

2.2.4.1. Doenças de Creutzfieldt- Jakob................................................................................10

2.2.4.2. Variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (vDCJ)....................................................11

2.2.4.3. Insónia fatal..............................................................................................................13

2.2.4.5. Kuru..........................................................................................................................15

2.2.4.5. Doença priônica associada à diarreia e neuropatia autonômica...............................17

3.Conclusão...........................................................................................................................19

4.Referências.........................................................................................................................20
CAPÍTULO I: INTRODUTÓRIO
1.1. Introdução

Príons são proteínas mal dobradas com capacidade de infectar um hospedeiro e provocar uma
série de entidades clínicas neurodegenerativas, denominadas encefaopatias espongiformes
transmissíveis (EET). Os príons se originam da alteração conformacional de uma proteína
expressa naturalmente, chamado de príon celular

Além de serem proteínas estruturais dos organismos, existindo em baixas concentrações nos
sistemas biológicos, proteínas do tipo príon quando na conformação PrPSC (forma alterada
estruturalmente da PrPC)são associadas às doenças neurodegenerativas de prognóstico
delicado e progressivo, que afetam homens e animais de forma totalmente divergente da
natureza convencional das doenças infecciosas clássicas causadas por agentes infecciosos
microbianos (DEAMOND; BOUZAMONDO,2002)

As doenças causadas por príons podem ser transmitidas por contato direto ou ingestão
deingestão de carne contaminada, por hereditariedade (fato que contribuiu para a elucidação
do caráter proteico do agente infeccioso) e mutações espontâneas no gene codificante da
PrPC. São doenças relativamente lentas, que requerem um período de incubação que pode
variar de 3 a 5 meses para se manifestar ou até mesmo anos (PEDERSON, 2002)
1.2. Problema
As doenças priónicas (T.S.E. - Transmissible Spongiform Encephalopathies) constituem um
grupo de patologias crónicas, progressivas, de ocorrência imprevisível, invariavelmente fatais,
afectando principalmente o sistema nervoso central, sem resposta imune nem tratamento.
Com um longo e imprevisível período de incubação, provocam alterações ou até disfunção
cerebral, numa duração média entre 6 e 12 meses, no máximo de 24 meses. A grande
característica neurológica comum encontrada é a vacuolização dos neurónios e da matéria
cinzenta do cérebro, com perda celular, astrocistose e ausência de resposta inflamatória.

Neste grande grupo de patologias englobam-se várias formas da doença, consoante o grupo de
mamíferos em causa: B.S.E. (Bovine Spongiform Encephalopathy), T.M.E. (Transmissible
Mink Encephalopathy), F.S.E. (Feline Spongiform Encephalopathy), Wasting Disease of
Deer, etc. Nos humanos existem formas destas doenças: Kuru (uma doença extinta que
afectou algumas tribos na Papua-Nova Guiné, relacionada com actos de canibalismo ou

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manipulação de cérebros humanos), O quê a literatura diz sobre prions e doenças por elas
causada?
1.3. Justificativa

Justifica-se a escolha deste tema, por sua importância, uma vez que, a primeira necessidade
básica para a sobrevivência do homem ( é o bem estar físico ou seja, estar de boa saúde sem
comprometimento de nenhuma doença. Portanto, se faz necessário conhecer as doenças
priónicas, as suas sintomas, o diagnóstico, o tratamento e bem como, as regras que devem ser
seguidas, para se prevenir dessas doenças.
1.4. Objectivos
1.4.1. Objectivos gerais:

 Abordar a epidemiologia, etiologia e clínica das doenças priónicas, nomeadamente as


humanas, mas aprofundar a mais comum: CJD, nomeadamente a forma esporádica
(sCJD) e a nova variante (vCJD
 Explicar o enovelamento incorrecto de proteínas e seus defeitos.
1.4.2. Objectivos específicos:

 Identificar o método mais eficaz para oestudoe diagnóstico de príons.


 Esclarecer a manifestação e a ocorrência de doenças priónicas.
1.5. Metodologia
Para realizar o presente trabalho usou-se com base no estudo tipo exploratório com recurso ao
método de revisão bibliográfica, englobando a busca e seleção de materiais científicos como
livros, artigos, dissertações e teses publicada sobre enovelamento incorrecto e doenças
priónicas.

Pesquisa das produções científicas nos bancos de dados do período capes, Altavista,
webcrawler, Pubmied e Google Acadêmico, publicados recentemente, no período de 2019 à
2022, com palavras-chaves: Enovelamento incorrecto de proteínas; príons e doenças
priónicas.

Para o presente trabalho de pesquisa são utilizadas dois tipos de pesquisa (pesquisa
bibliográfica e documental.

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Pesquisa bibliográfica: será desenvolvida na base de uma busca sistemática sobre o assunto,
que já existe, material esse já discutido por autores diferentes, e elaborado a partir de material
já publicado na internet, constituído basicamente de livros e artigos.

Pesquisa documental: é semelhante a pesquisa bibliográfica, composto de materiais que não


recebem ainda um tratamento analítico, onde as fontes são documentos, diários, gravações,
memorandos, tabelas estatísticas não publicadas.

CAPÍTULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


2.1. Enovelamento incorreto de proteína
O enovelamento proteico é o mecanismo de formação do arranjo tridimensional da proteína,
de grande importância fundamental para diversos processos celulares do organismo. Esse
mecanismo é determinado pelas interações da proteína com o meio, sendo geralmente aquoso.
Assim, ao processo de enovelamento para uma mesma proteína é diferente, estando ela
isolada em solução ou em ambiente celular, onde há altas concentrações de outras
macromoléculas (GAMBETTI, 2020).
Embora complexo, o processo acontece em questões de segundos ou até milésimos de
segundos. Estudos realizados na década de 1960, sobre o problema de enovelamento proteico,
buscaram compreender como a informação contida na sequência de aminoácidos
direcionavam a proteína a atingir a sua conformação nativa. A total compreensão desses
mecanismos envolvidos ainda é um desafio para os pesquisadores.
Muitos são os processos celulares e mecanismos de controlo e regulação envolvidos, durante
a formação desses arranjos. Assim, podem ocorrer mutações nas sequências de aminoácidos,
ou interações ambientais distintas, dificultando o enrolamento e gerando proteínas com
conformação alterada à sua conformação nativa (GAMBETTI,2020).
Tal mecanismo pode alterar a função da proteína, resultando em doenças:
 Caso a proteína não seja produzida, a célula ou o organismo não irá desempenhar a
função correta, surgindo doenças como a fibrose cística, hemofilias ou talassemias
(GAMBETTI,2020).
 Se a proteína apresentar uma conformação incorrecta, poderá ser tóxica, resultando
em doenças priónicas (neurodegenerativas), como o Alzheimer e mal de Parkinson. E
outras doenças directamente relacionadas ao envelhecimento defeituoso de proteína
são as Encefalopatias Espongiformes (doença da vaca louca), a doença de Huntington,

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a diabetes tipo II, a fenilcetonúria e o câncer. Desta forma, o próprio organismo é o
causador dessas doenças, devido a incapacidade da síntese de proteínas em sua
conformação nativa (GAMBETTI,2020).

2.2. Doenças priónicas.


As doenças priónicas são patologias ou distúrbios encefálicos degenerativos, progressivos,
fatais e intratáveis, que resultam de enovelamento incorrecto de uma proteína cerebral normal
na superfície celular chamada proteína priónica celular (PrPC), cuja função exacta é
desconhecida. (ABRANTES, 2000).
As doenças priônicas, constituem um grupo de patologias crônicas, progressivas, de
ocorrência imprevisível, invariavelmente fatais, afetando principalmente o sistema nervoso
central, sem resposta imune nem tratamento. Com um longo e imprevisível período de
incubação, provocam alterações ou até disfunção cerebral, numa duração média entre 6 e 12
meses, no máximo de 24 meses até o óbito do paciente (ABRANTES, 2000).
As proteínas priónicas com enovelamento incorreto são chamadas príons ou PrP com scrapie
(PrPSc- do nome da doença priónica prototípica da ovelha).

2.2.1. Príons
Os príons são moléculas proteicas e, portanto, não possuem ácidos nucleicos, ou seja, eles
actuam como agentes infecciosos capazes de multiplicar ao converter outras proteínas de
formato benigno para patogénico mesmo na ausência de material genético, actuando de forma
diferente de agentes infecciosos como vírus e bactérias. No entanto, já se demonstrou que os
ácidos nucleicos podem ser necessários para a formação de proteína príon patogénica como
PrPSc: a prion anormal, também denominada proteína prion Scrapie. Isto é, eles podem
funcionar como catalisadores da conversão da proteína prion não patogénica para a sua forma
patogénica.
Toda proteína é formada por uma sequência de moléculas menores, os aminoácidos (como
uma corrente é formada por elos unidos entre si).Esta sequência é “dobradas” em um formato
característico para cada tipo de proteína. Príons são proteínas anormais dobradas de modo
incorreto. A composição e a sequência de aminoácidos e um príon são idênticas à de uma
proteína normal. Entretanto, o seu formato tridimensional é diferente, como mostra a imagem
abaixo (COSTA,2015).

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Figura 1-Representação de um príon (esquerda) e a proteína normal que deu
origem à ele (direita). Cores-fantasia.

2.2.2. Características gerais dos príons


 Autorreplicação: PrPSc induz a transformação conformacional da PrPC, criando
duplicatas de PrPSc que, por reação em cadeia, induz a continuação da transformação
da PrPC em PrPSc. Esse processo de transformação dissemina a PrPSc para várias
regiões do cérebro.
 Quanto a sua estrutura, eles não possuem ácidos nucleicos, mas sim fragmentos de
proteínas anormais provenientes de determinadas células. Além disso, conseguem
existir em múltiplas e variadas formas.
 Não são proteínas imunogênicas, ou seja, não são capazes de estimular uma resposta
imune do hospedeiro. Eles são seres extremamente resistentes, conseguindo sobreviver
em situações como inativação por enzimas denominadas nucleases, pH ácido e
exposição a radiações ultravioleta.
 A PrPC normal é hidrossolúvel e sensível à protease, mas boa parte da PrPSc é
hidroinsolúvel e extremamente resistente à degradação da protease, resultando em
acúmulo celular lento, mas inexorável e morte das células neuronais.
 É encontrada naturalmente no sistema nervoso de mamíferos, mais especificamente
nos neurônios presentes nas suas células gliais. Estudos demonstram que essa forma
infecciosa surge devido a mutações em seus aminoácidos, sendo assim, aquela PrP
normal possui risco de se converter em uma forma infecciosa. Essa mudança de seu
aspecto infeccioso tem relação com o seu formato tridimensional, através de mudanças
nas estruturas α-hélices para lâminas-β, tornando a proteína infecciosa.

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2.2.3. Patogênese
As patologias priónicas são causadas principalmente pela ação de proteína priónica Scrapie no
sistema nervoso central do hospedeiro. O principal mecanismo de lesão é através da
vacuolização dessas proteínas em neurônios, e isso ocorrerá de maneira progressiva e gradual.
Além disso, outros fatores patogênicos também parecem estar associados, como hipertrofia do
tecido, proliferação da astróglia e alteração na consistência da substância cinzenta.

São doenças extremamente fatais e ainda não foram descritos na literatura casos de
recuperação de indivíduos que contraíram essas infecções.
 Nos seres humanos, essa proteína causa doenças basicamente por três formas
diferentes: esporádica, hereditária ou infecciosa. Quando a doença tiver sua
patogênese nas formas esporádicas e/ou hereditárias, esses príons vão aparecer de
maneira espontânea, e além disso, essa constitui a principal forma responsável por
causar doenças nos seres humanos (chegando até a 90%) (GAMBETTI,2020).

2.2.4. Classificação das doenças prionicas


De com a GAMBETTI (2020), as doenças priónicas podem ser:
 Esporádicas;
 Familiares;
 Adquiridas.

 As Doenças priónicas esporádicas ocorrem espontaneamente, sem nenhuma razão


conhecida. Doenças priónicas causadas por prións esporádicas são as mais comuns de
todas as causadas em humanos, sendo 85% a 90% dos casos (GAMBETTI,2020).
Segundo GAMBETTI (2020), á três tipos de doenças esporádicas causadas por prions:
 Doenças de Creutzfieldt- Jakob;
 Insónia fatal;
 Prionopatia variavelmente sensível a protease.

2.2.4.1. Doenças de Creutzfieldt- Jakob


A doença de Creutzfeldt-Jakob é a doença priônica humana mais comum. Ocorre
em todo o mundo e tem várias formas e subtipos. Os sintomas da doença de
Creutzfeldt-Jakob são demência, mioclonia, Diminuição de coordenação motora e

10
outros deficits do SNC (perda de memoria e confusão); esse é um problema que atinge
pessoas entre 40 e 60 anos e que, infelizmente não tem cura. A morte geralmente
ocorre em 4 meses a 2 anos depois da infecção, dependendo da modalidade e do
subtipo da DCJ (MSD,2020).
Segundo GAMBETTI (2020), a doença de Creutzfeldt-Jakob tem três formas:
 Esporádica (eDCJ);
 Familiar;
 Adquirida.

Esporádicas
A Doenca de Creutzfeldt-Jackob esporádica é o tipo mais comum, sendo responsável por
cerca de 85% dos casos. A doença de Creutzfeldt-Jakob esporádica geralmente afeta pessoas
com mais de 40 anos de idade (média etária de cerca de 65 anos), (GAMBETTI,2020).

Familiar
A doença de Creutzfeldt-Jakob familiar é o resulato de uma mutacao no gene para PrPC,
que faz com que a proteína PrPC normal se transforme em prion causador da doença. Ela
ocorre em cerca de 5 a 15% dos casos. A doença de Creutzfeldt familiar geralmente é herdada
como uma doença autossómica dominante. Isso significa que a mutação não se localiza nos
cromossomos sexuais (X e Y) é que somente um gene para a doença é herdada de um dos pais
(GAMBETTI,2020).

Adquirida
A doença de Creutzfeldt-Jakob adquirida é provavelmente responsável por 1% dos casos.
Ela ocorre após a ingestão de carne contaminada por príons (na variante da doença de
Creutzfeldt-Jakob [vDCJ]). A doença de Creutzfeldt-Jakob iatrogênica (iDCJ) pode ser
adquirida pelo uso de transplante durais ou de córneas de cadáveres, eléctrodos estereotáxicos
intracerebrais ou hormônio do crescimento preparado com hipófise humana. Cerca de metade
dos casos de iDCJ envolve alterações semelhantes às da doença de Alzheimer, sugerindo que
na iDCJ, um distúrbio que se assemelha à doença de Alzheimer (além da doença de
Creutzfeldt-Jakob) pode ser adquirido iatrogenicamente (GAMBETTI, 2020).

2.2.4.2. Variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (vDCJ)


A variante da doença de Creutzfeldt e adquirida ao se ingerir carne ou produtos derivados de
gado que tenha encefalopatia espongiforme bovina. Ela e relacionada a epidemia de encefalite
11
espongiforme bovina ( EEB) em gado e conhecida como “ doença de vaca louca”, que ao
contrario da forma clássica, afeta predominantemente pessoas jovens, abaixo dos 30 anos de
idade, com quadro atípico , sintomas iniciais psiquiátricos ou sensoriais proeminentes e com
anormalidade neurológicas tardias ( cerca de 6 meses a 2 anos após os sintomas psiquiátricos),
incluindo a ataxaia, demência e mioclona tardias, com duração da doença de 6 meses a 1 ano
e meio até o óbito ( GAMBETTI, 2020).
Após o aparecimento de sintomas neurológicos a doença progride para um acontecimento
cognitivo global, movimentos involuntários, incontinência urinaria e imobilidade progressiva,
cegueira cortical, disfagia, levando ao aumento da dependência, falta de contacto e
comunicação, entre outras complicações (GAMBETTI,2020).

Sinais e sintomas da doença de Creutzfeldt-Jakob


Cerca de 70% dos pacientes com doença de Creutzfeldt-Jakob apresentam perda de memória
e confusão, que com o tempo se desenvolve em todos os pacientes; 15 a 20% apresentam falta
de coordenação e ataxia, que muitas vezes surgem no início da doença. A mioclonia
provocada por ruído ou outros estímulos sensoriais (fenómeno do susto exagerado)
geralmente desenvolve-se nos estágios médio e tardio da doença. Pessoas com vDCJ
apresentam sintomas psiquiátricos (p. ex., ansiedade, depressão), em vez de perda de
memória. Sintomas tardios são semelhantes em ambas as formas (GAMBETTI, 2020).
Os sintomas pioram, geralmente com muito mais rapidez que no mal de Alzheimer,
resultando em demência grave (GAMBETTI,2020).

Diagnóstico da doença de Creutzfeldt-Jakob


Os principais diagnósticos para a doença de Creutzfeldt- Jakob são:
 Ressonância magnética (RM).
 Analise do liquido cefalorraquidiano (obtida por punção lombar)
 Eletroencefalografia.
Os médicos consideram a existência de Creutzfeldt em idosos se todos seguintes sintomas
estiverem presentes:
 A função mental se deteriora rapidamente.
 Os músculos apresentam espasmos involuntariamente.
 O andar é descoordenado e cambaleante.

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O diagnóstico da doença de Creutzfeldt- Jakob pode ser difícil. Porque, outras doenças
causam sintomas semelhantes; logo, os médicos verificam tais doenças, particularmente
aquelas que podem ser tratadas (GAMBETTI, 2020).
O teste mais útil é a ressonância magnética (RM). É possível detectar mudanças
características no cérebro, incluindo algumas que ocorrem somente nas pessoas com DCJv
(GAMBETTI,2020).

Prognóstico da doença
Em geral, ocorre morte após 6 a 12 meses, muitas vezes decorrente de pneumonia. A vDCJ se
desenvolve em pessoas com faixa etária mais baixa na doença de Creutzfeldt-Jakob
esporádica e a expectativa de vida é maior (em média de 1,5 ano), (GAMBETTI, 2020).

Tratamento da doença
 Cuidados de suporte.

Prevenção da doença de Creutzfeldt-Jakob


 Como não há tratamento eficaz, é essencial a prevenção da doença.
 Recomenda-se autoclavagem a vapor ou imersão em hidróxido de sódio ou solução de
hipoclorito de sódio a 10% por 1 hora para materiais que entram em contato com
tecidos de pacientes com suspeita ou confirmação de doença de Creutzfeldt-Jakob.

2.2.4.3. Insónia fatal


Insónia fatal, que inclui (insónia familiar fatal e insónia fatal esporádica) é um grupo de
doenças priónicas hereditárias raras ou esporádicas que provoca dificuldade de sono e leva a
deterioração da função mental e perda de coordenação. A morte ocorre em alguns meses ou
ate alguns anos (GAMBETTI,2020).
De acordo com GAMBETTI (2020), a insónia fatal tem duas (2) formas:
 Familiares: esta forma, chamada insónia familiar fatal, e herdada. E devida a uma
mutação especifica no gene para uma proteína normal chamada proteína príon celular
(PrPC).
 Esporádicas: esta forma ocorre espontaneamente, sem uma mutação genética.
A insónia familiar fatal e a insónia fatal esporádica distinguem-se de doenças causadas por
príons porque afetam predominantemente uma zona do cérebro que induz o sono, o tálamo.

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Na insónia familiar fatal, os sintomas podem começar quando a pessoa chega ao fim dos 20
anos ate o inicio dos 70 anos de idade (a media e aos 40 anos). A morte geralmente ocorre
entre sete e 73 meses depois do inicio dos sintomas. A forma esporádica tem um inicio um
pouco depois, e a expectativa de vida e um pouco maio.

Sintoma de insónia fatal


Na insónia familiar, os sintomas iniciais incluem pequenas dificuldades em conciliar e
manter o sono e espasmos musculares ocasionais, alem de rigidez. Durante o sono as pessoas
podem de mover muito e dar pontapés. Finalmente não conseguem mais dormir. Mais tarde, a
função mental e deteriorada e a coordenação e perdida (chamada ataxia). A frequência
cardíaca pode ficar rápida, a pressão sanguínea pode aumentar e as pessoas podem suar muito
(GAMBETTI, 2020).
Na forma esporádica, os sintomas iniciais incluem um declínio rápido na função mental e
perda de coordenação. As pessoas com esta forma podem não relatar problemas de sono, mas
os estudos do sono podem detectar anormalidades (GAMBETTI,2020).

Diagnósticos de insónia fatal


 Avaliação de um médico
 Polissonografia e tomografia por emissão de positrões;
 Para a forma familiar, testes genéticos.

Os médicos consideram a insónia fatal como um diagnostico raro possível quando as pessoas
apresentam sintomas típicos, como deterioração rápida da função mental, perda de
coordenação e ou problemas de sono. Os seguintes exames são feitos para confirmar o
diagnóstico:

 Polissonografia, que pode detectar anormalidades nos padrões de sono.


 Tomografia por emissão de positrões (PET), que pode detectar certas anormalidades
no tálamo.
O diagnóstico de insónia familiar fatal é confirmado pelo exame genético
(GAMBETTI,2020).

Tratamento de insónia fatal


 Cuidados de suporte.

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Não há tratamento disponível. O tratamento de insónia fatal está focado no alívio dos
sintomas e na procura de maior conforto possível para a pessoa (MSD, 2020).

Prionopatia variavelmente sensível a protease.


A Prionopatia Variavelmente Sensível à protease é uma doença causada por príon que
provoca alterações no humor e no comportamento, problemas na fala e comprometimento da
função mental, foi identificada em 2008 e é responsável por cerca de 3% de todas as doenças
causadas por príons em pessoas e afecta cerca de duas a três em cada 100 milhões de pessoas.
Normalmente se desenvolve por volta dos 70 anos e a expectativa de vida é de
aproximadamente 24 meses após o desenvolvimento dos sintomas (FORTIN et al., 2020).
 As manifestações clínicas diferem daquelas da doença de Creutzfeldt-Jakob e a PrPSc
é menos resistente à digestão pelas proteases; algumas variantes são mais sensíveis a
proteases do que outras, daí o nome: variavelmente sensível à protease
(GAMBETTI,2020).

Sitomas
 Pacientes têm sintomas psiquiátricos, problemas na fala (afasia e/ou disartria), e
comprometimento cognitivo. Ataxia e parkinsonismo podem se desenvolver. A média
da faixa etária ao início é de 70 anos, e a sobrevida é 24 meses. Cerca de 40% dos
pacientes têm história familiar de demência (MSD,2020).

Diagnóstico
O diagnóstico da prionopatia sensível à protease variável é difícil. A resonancia magnetica
( RM), EEG e testes da proteína 14-3-3 e tau geralmente não são úteis, e nenhuma mutação
foi observada na região de codificação do gene da PrP. (GAMBETTI, 2020)

Tratamento

 Cuidados de suporte.
2.2.4.5. Kuru

A febre Kuru consiste em uma rara doença neurodegenerativa, infecciosa, causada por um
príon. A palavra Kuru é de origem indígena e significa “tremendo de febre e frio”, sendo este
um dos sintomas apresentados pelos portadores desta doença (MELDAU, 2015).

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Esta moléstia foi descrita pela primeira vez na década de 1950, na Nova Guiné. A princípio,
acreditava-se que se tratava de uma patologia hereditária, uma vez que acometia indivíduos de
uma mesma tribo de nativos, em Nova Guiné. Contudo, pesquisas realizadas por D. Carleton
Gadjusek, elucidou a real etiologia (MELDAU, 2015).

Esta tribo praticava o canibalismo em rituais fúnebres, consumindo o cérebro de indivíduos


falecidos, com o objetivo de adquirir sabedoria (MELDAU, 2015).

Deste modo, acabavam adquirindo o agente infectante príon e, consequentemente, a febre


Kuru. Seu desenvolvimento é lento, apresentando período de incubação de quase 30 anos.
Quando há a manifestação dos sintomas, o paciente vai a óbito dentro de, no máximo, 1 ano.
Todavia, tipicamente a maior parte dos pacientes morrem dentro de 3 a 6 meses. Estes príons
levam a alterações nas células nervosas, com consequente formação de tecido cerebral
anormal, ocasionando lesões progressivas e incuráveis no cérebro (PAWEL, et al., 2016).
Existem três estágios da febre Kuru, de acordo com a evolução das manifestações clínicas:
 A fase ambulatorial, caracterizada por tremores generalizados, perda de coordenação
dos movimentos, disartria e presença de danos cerebrais 31 incipientes (MELDAU,
2015).
 O estágio sedentário, caracteriza-se pela perda de capacidade de deambular de modo
independente, tremores mais severos, ataxia e sintomas psiquiátricos (instabilidade
emocional, depressão e bradipsiquia), esta fase, a degeneração muscular ainda não é
evidente e os reflexos tendinosos encontram-se preservados (MELDAU, 2015).
 A fase terminal, que consiste na perda da independência, ataxia severa, tremores,
disartria, incontinência urinária e fecal, disfagia, ulcerações cutâneas e convulsões que
levam à morte (MELDAU, 2015).
Anteriormente, a prevalência desta doença era de 14%, sendo que destes, a maior parte era
composta por mulheres e os cozinheiros responsáveis pela preparação do cérebro para seu
consumo. Após a abolição do canibalismo na região, esta doença foi praticamente dizimada,
sendo considerada atualmente como uma doença prestes a ser erradicada (MELDAU, 2015).

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Sintomas do kuru
 Os sintomas da kuru começam com tremores (que lembram calafrios) e ataxia.
Distúrbios do movimento, como coreoatetose, fasciculações e mioclonia se
desenvolvem mais tarde, seguidos por demência (MSD,2020).

Diagnostico da kuru
Testes do líquido cerebrospinal parecem não ser úteis. Alguns outros testes foram reportados.
 Nenhuma alteração diagnóstica foi identificada no gene da PrP das pessoas com kuru.
No entanto,uma variação no gene da PrP que protege contra a doença priônica foi
identificada em pessoas da população de Papua que não contraíram kuru . Autópsia
pode mostrar PrPSc típica contendo placas, com a maior densidade no cerebelo
(GAMBETTI,2020).
 A morte geralmente ocorre em 2 anos após o início dos sintomas; a causa da morte
geralmente é pneumonia ou infecção devido a úlceras de pressão ( GAMBETTI,2020).

Tratamento da kuru
 Cuidados de suporte

2.2.4.5. Doença priônica associada à diarreia e neuropatia autonômica


A doença priônica associada a diarreia e neuropatia autonômica, descreve uma nova
doença príônica herdada que se manifesta com sintomas periféricos, em vez de sintomas do
sistema nervoso central. Ela foi identificada em 2013 em parentes distantes de uma família
britânica. Uma doença semelhante foi relatada em uma família italiana (GAMBETTI, 2020).
As doença priônica associada a diarreia e neuropatia autonômica, difere de outras doenças
priônicas porque:
 Amiloides priônicos não se limitam ao sistema nervoso central, mas distribuem-se
pelos nervos periféricos e órgãos internos; assim, os sintomas periféricos predominam
inicialmente, e os sintomas do sistema nervoso central ocorrem tarde
(GAMBETTI,2020).
 Está associada a uma nova mutação no gene priônico (mutação Y163X; mutação
Y162X na família italiana) que resulta na truncagem da proteína priônica mutada;

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assim, a proteína mutada não apresenta a âncora que tipicamente prende a proteína
priônica a membranas celulares, presumivelmente favorecendo a flutuação dessa
proteína nos líquidos fisiológicos e a migração para outros tecidos
(GAMBETTI,2020).
Essa nova doença priônica mostra que uma nova mutação pode alterar radicalmente o local
onde as proteínas anormais se depositam e quais sintomas provocam, e sugere que o
diagnóstico da doença priônica deve ser considerado em pacientes com neuropatia e diarreia
crônica inexplicadas ou com uma síndrome inexplicada semelhante à polineuropatia amiloide
familiar (que causa neuropatia autonômica e periférica), (MSD,2020).

Sintomas
Segundo GAMBETTI (2020), os sintomas começam no início da idade adulta; eles incluem:

 Diarreia aquosa crônica.


 Insuficiência autonômica (p. ex., retenção urinária, incontinência urinária,
hipotensão ortostática) e principalmente polineuropatia sensorial periférica.
 Declínio cognitivo e convulsões ocorrem quando os pacientes têm 40 ou 50 anos.
A doença progride ao longo de décadas; os pacientes podem viver até por 30 anos depois
que os sintomas se desenvolvem (GAMBETTI,2020).

Tratamento
 O único tratamento para essa doença é sintomático

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3.Conclusão

Apesar de doenças raras as doenças priónicas conduzem inevitavelmente à morte. É urgente a


sensiblização dos profissionais de saúde e a continuação dos estudos no sentido de encontrar
algum fármaco que traga esperança a estes doentes, nomeadamente a imunoterapia que parece
ser mais promissora.

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4.Referências

COSTA, T. Moléculas Infecciosas: Príons.Rio de Janeiro: Fiocruz, 2015

DEAMOND, A.J.; BOUZAMONDO, E. Fundamentals of Prion Biology and Diseases,


Toxicology. v.27, n.181-182, p. 9-16, 2002

FORTIN; SHARMA; BELL; HACKING. Prionopatia sensível à protease.


Radiopaedia.org.2020

GAMBETTI, P. Considerações gerais sobre doenças causadas por príons. EUA:

MSD, 2020.

GAMBETTI, P. Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ). Case Western Reserve

University, 2020

GAMBETTI, P. Doenças causadas por prions associadas com diarreia e

neuropatia autônoma. Case Western Reserve University, 2020.

GAMBETTI, P. Prionopatia Variavelmente Sensível à Protease.Case Western

Reserve University, 2020.

GAMBETTI, P. Sindromede Gerstmann-Sträussler-Scheinker-GSS. EUA: MSD,

2020.

PEDERSON, N.S.; SMITH, E. Prion Diseases: Epidemiology in Man. APMIS: acta


pathologica, microbiologica, et immunologica scadinavica, v.110, n.1, p.14-22, 2002.

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