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INTRODUÇÃO.
O objetivo deste trabalho e descrever o relacionamento entre entregadores e porteiros
– no condomínio onde trabalho – localizado no centro da cidade de Niterói, o
empreendimento possui 318 apartamentos, fato este que gera uma grande demanda de
pedidos, de múltiplas plataformas, ou melhor, aplicativos, sendo os mais ativos, IFood –
aplicativo que tem o fast food1, como principal atividade; Zé Delivery – aplicativo
especializado em bebidas; Uber – aplicativo de transporte de passageiros, similar ao táxi.
Temos ainda os entregadores que são contratados diretamente pelos restaurantes, sobre estes
vou apontar alguns contrastes que percebi durante minhas observações. A principal
metodologia deste trabalho são as entrevistas abertas (estas foram feitas através de bate papos
informais, durante o tempo que os profissionais aguardavam para entregar seus pedidos, logo
utilizarei pseudônimos nas discrições de algumas conversas). Trabalhar na portaria me
proporcionou observar as atividades que serão descritas neste artigo.
FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
O aumento do número de desempregados, ou seja, os profissionais de carteira assinada
– chamado de trabalhadores formais – acabou gerando um crescimento gigantesco nos
indivíduos que optaram por trabalhar de forma autônoma, contudo o que antes significava
trabalhar para si próprio se tornou trabalhar para empresas, que controlam tudo, sendo: tempo
produtividade e valores, “no início de 2019, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra
de domicílios (PNAD), 3,8 milhões de brasileiros tinham no trabalho por aplicativo sua
principal fonte de renda”. (ABÍLIO, 2020, p. 111), ainda segundo ABÍLIO (2020), esse
1
Fast Food é uma modalidade alimentar, essa expressão é de origem inglesa e consiste em um sistema de
preparo rápido de refeições, pode contar com uma padronização mecânica que auxilia na agilidade.
movimento onde as “empresas soberanas” mesmo de forma digamos disfarçada, como já dito
mantem o controle total sobre os indivíduos que escolher trabalhar para as mesmas, esse fato
para o autor criou o trabalhador, “just-in-time”, que é “autogente” do seu trabalho, contudo
nas entrelinhas se mantém “disponível e subordinado.
Para SILVA (2002), a noção de informalidade surge nos anos de 1980, contudo até os
dias de hoje não se tem uma palavra final sobre a questão, aqui irei comparar informalidade a
algo não oficial, não registrado, temos então, o empregado sem a carteira assinada, trazendo
para o contexto deste trabalho estamos falando de trabalhadores que não tem uma
regulamentação especificas para seu trabalho, fato esse que se agravou com a chegada da
pandemia do COVID, Como dito em:
Acompanhamos desde o início da pandemia de 2020 o trabalho dos
entregadores e motoboys, mototaxistas e motoristas de carros de aplicativos
e ambulantes. Esse olhar se deve principalmente pela observação das
dificuldades enfrentadas por esses grupos de trabalhadores a partir da
pandemia, que se encontram relacionadas às péssimas condições estruturais
e conjunturais do trabalho no Brasil e retroalimentam um vasto universo de
formas de sobrevivência nos modos do trabalho precário, hoje denominado
entre outras nomenclaturas por suas condições de trabalho uberizado.
(ANTUNES, ROCHA, 2021, p. 3.)
Aqui chegamos ao assunto principal deste trabalho que é analisar o conflito existente
entre dois personagens que passam despercebidos, o porteiro que é uma profissional
responsável, por receber indivíduos que queiram adentrar em ambientes privados ou de acesso
controlados como são os condomínios residências e os entregadores/motoristas que estão
sempre com pressa, já que sua remuneração depende da quantidade de pedidos ou de viajem
que estes conseguem realizar durante sua jornada de trabalho que podem facilmente passar de
12h por dia, “ o trabalhador uberizado inicia sua jornada sem ter qualquer garantia sobre qual
será sua carga de trabalho, sua remuneração e o tempo de trabalho necessário para obtê-la”
(ABÍLIO, 2020, p. 116). Nesse momento, a necessidade de identificação, e espera, acaba
tornando algo que pode ser percebido como simples em uma relação quase sempre ruidosa.
A rotina em uma portaria não é fácil, o porteiro e responsável por identificar veículos,
pedestres; além de receber e protocolar as entregas recebidas – correias e transportadoras – de
forma paralela, também precisa avisar aos moradores a chegada de seus pedidos de deliveries,
por padrão, tendo como base a segurança, a entrada dos entregadores depende de
confirmação, ou seja, o entregador informa a unidade que fez o pedido e o porteiro interfona
para confirmar. Contudo, por diversos motivos, o morador pode não atende, nesse momento
surge um dos diversos conflito que irei citar, pois para o entregador é obrigação do porteiro
“dar seu jeito” para avisar ao morador, já para nós porteiros o entregador dever entrar em
contato com o morador através do aplicativo2, algo que demora e cria outro conflito, como
apenas o entregador teve contato com o morador, a entrada dele não é permitida, tendo o
mesmo que aguardar do lado de fora, essa situação para alguns entregadores torna-se
humilhante, pois eles entendem que estamos desconfiando e os comparando a criminosos,
infelizmente como o crescimento do uso por parte de criminosos de utensílio usados por
entregadores, realmente cresceu as medidas de segurança com relação ao serviço. Segue a fala
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Os aplicativos não disponibilizam o número pessoal do cliente para os entregadores, o contato é feito através de
uma central de atendimento, esta faz a ligação e coloca o cliente em contato com o entregado. Fiquei ciente desse
procedimento em bate papo com um entregado do aplicativo IFood.
de um entregado na situação: “o morador pediu para deixar o pedido na portaria, já fiz o seu
trabalho ligando e o “senhor” não quer receber, não sou bandido, sou trabalhador”
(ENTREGADOR, IFOOD). Conversando com um entregador que vou chamar de WW. de 25
anos, fiquei sabendo que na maioria dos condomínios que o mesmo faz entrega eles não
entram, mesmo depois que o morador confirma que fez o pedido, nas palavras de WW, “Cara,
aqui vocês ainda recebem, isso adianta nossa correria, por ai temos que ficar esperando a boa
vontade dos riquinhos”, isso porque no condomínio que trabalho, uma vez confirmado como o
morador, recebemos o pedido é o morador pega diretamente na portaria, os pedidos que não
estão pagos são retirados como o entregado, mas o mesmo aguarda dentro do condomínio.
Seguindo, ainda, falta falar dos dias de chuva, nestes dias os ânimos ficam exaltados
de ambas as partes, isso acontece por dois motivos, nos dias de chuva os moradores demoram
para descer de contrapartida os entregadores, não querem ficar na chuva, e nós porteiros, não
podemos deixar eles entrarem de imediato, logo as reclamações aumentam, em outro bate
papo, agora com quem chamarei de YY, 45 anos, ele explica como são os dias de chuvas,
Poxa! Temos que trabalhar, mas em dias como estes, bem que poderia ser
acrescentado um valor a mais, ficamos na chuva e nem rola um gorjetinha –
rsrsrs – você nem imagina como fica complicado, além de está na chuva, se
o lanche molhar, corremos o risco de não receber, já que chatão,
almofadinha que pede, vai lá para o aplicativo reclamar. Eu não peço nada
na chuva, tenho pena dos parceiros (YY, ENTREGADOR DO ZÉ
DELIVERY).
CONCLUSÃO
Como vimos o crescimento do desemprego, a pandemia do novos coronas vírus –
COVID19 – e as novas reformas propostas pelo governo, tornaram o campo fértil para as
empresas aplicativos, que com isso aumentaram a adesão de novos “cadastros”. Mesmo
assim, esse fato, ainda não foram percebidos como um problema pelas autoridades que se
mantém afastadas do problema, de contrapartida vem surgindo novos conflitos, em um campo
ainda novo que precisa ser observado.
BIBLIOGRAFIA
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04/07/2022.