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Universidade Federal de Campina Grande

Centro de Formação de Professores – CFP


Bacharelado em Medicina

Teníase e Cisticercose
Disciplina: Parasitologia
Docente: Geofábio Sucupira
Discentes: Brígida Tavares Monteiro Lins
Francisca Paloma Bezerra Nascimento
Wesley Vanderson Vieira Coutinho
PERGUNTA
Vocês sabem o porquê nosso seminário deve englobar
as duas doenças?
Vocês sabem o porquê nosso seminário deve
englobar as duas doenças?
São duas parasitoses distintas, com sintomas diferentes, mas
que são causados pelo mesmo verme. A teníase é adquirida ao
consumir carne mal cozida contendo a larva da Taenia solium
ou saginata, que no intestino torna-se adulta e provoca
sintomas intestinais, além de haver reprodução e liberação de
ovos. Já na cisticercose a pessoa ingere os ovos da Taenia
solium que podem romper no organismo da pessoa, havendo
liberação da larva, conhecida por cisticerco, que atinge a
corrente sanguínea e chega em várias partes do corpo, como
músculos, coração, olhos e cérebro, por exemplo.
MORFOLOGIA
MORFOLOGIA
A Taenia solium e a Taenia saginata A Taenia solium possui como
são os parasitas responsáveis pela hospedeiro os suínos .
teníase, apresentam cor branca, corpo
O verme adulto da Taenia solium
achatado em forma de fita e podem
possui a cabeça com ventosas e
ser diferenciados quanto ao seu
rostro, que corresponde a uma
hospedeiro e características do verme
estrutura formada por acúleos em
adulto.
formato de foice e que permitem a
Tanto a T. solium como a T. saginata, adesão à parede intestinal. Além de
na fase adulta ou reprodutiva, vivem causar a teníase, a Taenia solium
no intestino delgado humano. também é responsável pela
cisticercose.
MORFOLOGIA

A Taenia saginata possui como hospedeiro


os bovinos e só está associada com a
teníase. O verme adulto da Taenia saginata
possui a cabeça desarmada e sem rostro,
apenas com ventosas para fixação do
parasita à mucosa do intestino. Além disso,
as proglotes gravídicas da Taenia solium são
maiores que as da Taenia saginata.
FORMAS
EVOLUTIVAS
OVOS
Ovos: Tem uma casca espessa com aspecto
radiado, contendo no interior um embrião
hexacanto com 3 pares de acúleos e dupla
membrana. Já é liberado na forma
infectante, por esse motivo existe
possibilidade de reinfecção.
Obs.: nos ovos, tanto a sollium quanto a
saginata tem acúleos, mas nos adultos
somente a sollium.
VERME ADULTO
Tem uma cor branco leitosa com
superfícies lisa e brilhante repleta
de microvilosidades que são
responsáveis pela nutrição e
excreção desse parasita no
intestino.
PROGLOTES
Proglotes Maduras: Nelas podemos temos ramificações em ambos os
enxergar os órgãos reprodutores. lados como em paralelo. Outra
coisa interessante é que ela tem
Proglotes gravídicas: Não uma musculatura que permite
conseguimos ver com clareza as que ela se movimente, podendo
estruturas internas porque o útero até ser eliminada nas fezes.
está lotado de ovos com inúmeras
ramificações do útero. ● Na sollium: O número de
ramificações diminui e tem um
● Na saginata: Temos um maior aspecto dendrítico onde uma
número de ramificações, com ramificação gera várias outras,
aspecto dicotômico, ou seja, como uma árvore.
PROGLOTES
TENÍASE
A teníase, popularmente conhecida como solitária, é uma
verminose causada pelo verme adulto de Taenia sp. que pode
dificultar a absorção dos nutrientes dos alimentos e provocar
sintomas como enjoos, diarreia, perda de peso ou dor
abdominal, por exemplo. A teníase é transmitida pela ingestão
de carne de boi ou de porco crua ou mal cozida que está
contaminada com o parasita.
CICLO BIOLÓGICO
CICLO BIOLÓGICO
O humano tem uma tenia adulta no Quando o humano ingere a carne
intestino com a proglóte repleta de bovina ou suína infectada, vai ingerir
ovos que vão ser liberados junto com esta forma, o cisticerco, que no
as fezes. Se essas fezes não tiverem o intestino vai se desenvagina sob a
destino adequado, elas caem no meio ação da bile, usando as ventosas e o
ambiente infectando os pastos rostro para se fixar, até crescer e
podendo infectar os bois ou porcos. virar adulto.
No momento que o ovo é ingerido, o Neste ciclo então, temo o hospedeiro
embrião hexacanto é liberada e se dirige definitivo: homem com forma adulta;
para a musculatura desses animais Hospedeiro intermediário: bois e
onde vai se desenvolver para cisticerco. porcos.
SINTOMAS
SINTOMAS
Frequentemente é assintomático, mas Dentre os sintomas podemos ter
podem causar fenômenos tóxicos tontura, astenia, apetite excessivo,
alérgicos por substâncias excretadas; náuseas, vômitos, alargamento e
hemorragias pela fixação na mucosa e dores abdominais, constipação
destruição do epitélio, além de intestinal ou diarreia, perda de peso.
inflamação com hipo ou hipersecreção Porém, geralmente, desencadeiam
de muco. um quadro mais brando.
DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico laboratorial da teníase baseia-se no encontro de proglotes nas
fezes. Os anéis de T. solium são expulsos de forma passiva, em grupos de 3 a
6 proglotes, enquanto que os da T. saginata são eliminados de forma ativa,
forçando a passagem pelo orifício anal, em qualquer momento do dia ou da
noite. A clarificação das proglotes com ácido acético permite o diagnóstico
diferencial entre as duas espécies de Taenia, com base no aspecto e número
de ramificações uterinas dos proglotes.
Os ovos podem ser encontrados no exame parasitológico de fezes e pelo
método da fita adesiva transparente.
TRATAMENTO
TRATAMENTO
O tratamento para teníase geralmente é iniciado com o uso de remédios
antiparasitários, administrados sob a forma de comprimidos, que podem ser
feitos em casa, mas que devem ser prescritos por um clínico geral ou
gastroenterologista. Estes remédios podem ser tomados em dose única ou
divididos em 3 dias, e normalmente incluem um dos seguintes:
● Niclosamida;

● Praziquantel;

● Albendazol.
TRATAMENTO
O tratamento com estes remédios elimina apenas a versão adulta da tênia
que está no intestino através das fezes, não eliminando os seus ovos.
Por esse motivo, a pessoa que está fazendo o tratamento pode continuar
infectando outras pessoas até que todos os ovos sejam eliminados do
intestino.
Assim, é aconselhado que durante o tratamento se mantenha os cuidados
que evitam a transmissão da doença, como cozinhar bem os alimentos, evitar
beber água não engarrafada e lavar bem as mãos depois de ir ao banheiro,
assim como antes de cozinhar.
PROFILAXIA
PROFILAXIA
Para prevenir a teníase é recomendado não consumir carne crua ou mal
cozida, beber água mineral, filtrada ou fervida, lavar bem os alimentos
antes de consumir e lavar bem as mãos com água e sabonete,
principalmente após usar o banheiro e antes das refeições.
Além disso, é importante também dar água limpa aos animais e não adubar a
terra com fezes humanas, pois assim é possível prevenir não só a teníase,
mas também outras doenças infecciosas.
CASO CLÍNICO
TENÍASE: UMA CAUSA RARA DE
APENDICITE AGUDA
E.D.S, 30 anos, masculino, branco, procedência remota, São Paulo e
procedência atual, Marília-SP. Procurou o pronto atendimento do Hospital
Universitário da Faculdade de Medicina e Enfermagem da Universidade de
Marília(UNIMAR) com quadro clínico sugestivo de apendicite aguda.

Referia dor epigástrica tipo cólica com localização no quadrante inferior direito
que teve início seis horas antes da internação.
Negava febre, anorexia, vômito ou diarréia.
O exame físico do abdômen apresentava dor à palpação superficial e profunda
da fossa ilíaca direita e sinal de Blumberg presente. O hemograma e o exame
de urina tipo I estavam sem alteração. O diagnóstico foi feito baseado na
história clínica e no exame físico compatível com peritonite no quadrante
inferior direito. Foi indicada a laparotomia por meio da incisão de McBuney.

No intra-operatório o apêndice cecal apresentava-se hiperemiado e


edemaciado sem evidência de secreção ou pus intra-cavitário. Foi realizada a
apendicectomia pela técnica clássica sem maiores problemas.
A evolução pós operatória foi satisfatória. O paciente recebeu dieta no 1º dia
pós operatório e teve alta 48 horas após a operação.
O exame anatomopatológico do apêndice cecal mostrou "infiltrado
neutrofílico na lâmina própria e na camada muscular e também revelou a
presença de ovos compatíveis com Taenia sp. na camada muscular do
órgão".
Além disso, foi encontrado um parasito dentro da luz apendicular compatível
com proglote de tênia.
No retorno ambulatorial uma semana após a apendicectomia, o paciente
estava assintomático e foi prescrito praziquantel, 10mg/Kg em dose única
oral, para tratamento da teníase.
Provavelmente, a fisiopatologia da apendicite parasitária por tênia esteja
relacionada à obstrução intra-luminal do apêndice vermiforme pelo parasita;
no caso específico da tênia, pelos proglotes.
A obstrução mecânica do lúmen apendicular por um proglote, por si só,
poderia ser suficiente para causar estase, aumento da produção de muco,
proliferação bacteriana, diminuição da drenagem linfática e venosa, isquemia
e conseqüente inflamação do órgão.

A apendicite parasitária se manifesta por sintomas semelhantes aos


observados na apendicite aguda clássica e o diagnóstico usualmente é dado
pelo exame anatomopatológico. O tratamento é o mesmo proposto para a
apendicite aguda, ou seja, apendicectomia.
CISTICERCOSE
A cisticercose é uma parasitose causada pela ingestão de água ou de
alimentos como legumes, frutas ou verduras contaminados com os
ovos de um tipo específico de Tênia, a Taenia solium. Pessoas que têm
esta tênia no intestino, podem não desenvolver cisticercose, mas
liberam ovos nas fezes que podem contaminar legumes ou carnes,
provocando a doença em outras pessoas.
CICLO BIOLÓGICO
CICLO BIOLÓGICO
A cisticercose é adquirida pelo homem através da ingestão de água ou
alimentos contaminados por fezes de porco que contém ovos da Tênia.
Os ovos, cerca de 3 dias após serem ingeridos, rompem e liberam as larvas
que conseguem passar do intestino para a corrente sanguínea, onde
circulam pelo corpo e se alojam em tecidos como cérebro, fígado, músculos
ou coração, causando cisticercose humana.
CICLO BIOLÓGICO
Após três dias da ingestão dos ovos da Tênia, eles passam do intestino para
a corrente sanguínea e se alojam nos tecidos como músculo, coração, olhos
ou cérebro, formando larvas, conhecidos como cisticercos, que podem atingir
o sistema nervoso e resultar na cisticercose cerebral ou neurocisticercose.
SINTOMAS
SINTOMAS
Os sintomas da cisticercose variam de acordo com o local afetado, sendo:

■ Cérebro: dor de cabeça, convulsões, confusão mental ou coma;


■ Coração: palpitações, dificuldade em respirar ou respiração ruidosa;
■ Músculos: dor local, inchaço, inflamação, cãibras ou dificuldade nos
movimentos;
■ Pele: inchaço na pele, que geralmente não causa dor e que pode ser
confundido com um cisto;
■ Olhos: dificuldade para enxergar ou perda de visão.
A cisticercose é a
parasitose mais frequente
do SNC sendo responsável
por muitas internações
hospitalares e sequelas
neurológicas graves.
Ao mesmo tempo, é muito
comum a identificação de
cisticercos mortos, em
Cistos ativos
exames de imagem
realizados de rotina, e que
não apresentam mais risco.
Cistos calcificados
As formas da doença que geralmente
precisam de tratamento cirúrgico são
aquelas que evoluem com aumento da
pressão intracraniana: dor de cabeça
forte, vômitos e alteração do nível de
consciência. Esses sintomas podem
aparecer, pois o cisto pode se comportar
como um tumor e causar uma inflamação
muito grande e consequentemente
inchaço cerebral ou pode obstruir a
circulação do líquido céfalo-raquidiano
(liquor).
Cisto gigante – tratamento cirúrgico
Caso de Cisticercose Ocular
DIAGNÓSTICO
DIAGNÓSTICO
Exames de imagem, como raios X (identifica apenas cisticercos calcificados),
tomografia computadorizada e ressonância nuclear magnética (identificam
cisticercos em várias fases de desenvolvimento) apontam suspeitas de
cisticercose, a qual pode ser confirmada através de estudos sorológicos
específicos (fixação do complemento, imunofluorescência e hemaglutinação)
no soro e líquido cefalorraquidiano.
TRATAMENTO
TRATAMENTO
O tratamento para a cisticercose geralmente é feito com remédios como o
Praziquantel, Dexametasona e Albendazol, por exemplo.

Além disso, pode ser necessário o uso de remédios anticonvulsivantes para


evitar as convulsões, assim como corticóides ou cirurgia para a retirada da
larva da Tênia, dependendo do estado de saúde do indivíduo e da gravidade
da doença.
PROFILAXIA
PROFILAXIA
● Higienizar sempre as mãos, principalmente antes de se alimentar e após
usar o banheiro; não utilizar fezes humanas como adubo.
● Não irrigar a horta com água de rio; tomar água apenas tratada ou
filtrada.
● Não defecar em locais impróprios.
● Bloqueio de foco do complexo teníase/cisticercose
● Fiscalização de origem da carne comercializada; fiscalização de produtos
de origem vegetal.
● Cuidados na criação de porcos; saneamento básico para deposição
adequada de dejetos.
CASO CLÍNICO
Homem de 39 anos de idade, procedente do bairro Vila Bandeirante, zona
urbana de Teresina, Piauí procurou assistência com as queixas de vertigem,
dificuldades médicas para falar, cefaléia e parestesias no membro inferior
esquerdo. Hemograma, glicose, ácido úrico, cálcio sérico e ácido úrico normais;
VDRL negativo e eletroencefalograma normal.

A tomografia computadorizada de crânio (TC) apresentou múltiplas lesões


vesiculares, algumas com escólex visível, típicas de neurocisticercose.
O paciente recebeu tratamento com albendazol e prednisona.

Nova TC demonstrou uma persistência de algumas vesículas. Foi repetido o


tratamento com albendazol e prednisona. Em uma nova TC as lesões
desapareceram.
Após seis meses, o paciente retornou apresentando convulsões. Outra TC foi
realizada demonstrando novas lesões sugestivas de neurocisticercose.

Apesar de esta TC não mostrar cisticercos visíveis, optamos por ter um


tratamento com albendazol e prednisona, também foi iniciado o uso de
carbamazepina. Uma TC de controle foi realizada no paciente 17 meses após,
demonstrando o desaparecimento das lesões.
O diagnóstico da neurocisticercose é baseado na avaliação clínica, na
epidemiologia, nos exames de neuroimagem e exame de líquido
cefalorraquidiano (LCR). No paciente em estudo não foi realizado exame de
LCR, pela não disponibilidade das reações imunológicas para cisticercose no
Piauí, à época da ocorrência do caso.

No entanto, segundo Del Brutto e colaboradores, uma TC evidenciando a


presença de lesões císticas mostrando o escólex – o que ocorreu no caso
relatado – é suficiente para diagnóstico de certeza da neurocisticercose.
Este caso ilustra não apenas a ocorrência de neurocisticercose, mas também
uma excelente resposta terapêutica.

É possível que tenha havido reinfestação dado o grande intervalo de tempo


até o ressurgimento do caso clínico, apesar de não ter sido possível comprovar
isso com métodos complementares.
REFERÊNCIAS
Neves, DP. Parasitologia Humana, 11ª ed, São Paulo, Atheneu, 2005.

MONTEIRO, Alexandre Vitor Tapety e Silva do Rego et al. NEUROCISTICERCOSE EM ZONA URBANA DO ESTADO
DO PIAUÍ . SciELO, Teresina, 24 jan. 2006 DOI:
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0004-282X2006000200030. Disponível em:
http://old.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-282X2006000200030&script=sci_arttext. Acesso em: 19 jun. 2022.

TEIXEIRA, F. V. et al. Teníase: uma causa rara de apendicite aguda. SciELO, [s. l.], 18 mar. 2008 DOI:
https://doi.org/https://doi.org/10.1590/S0100-69912008000100016. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rcbc/a/3m5cr9gMV3GwWxm7qQFgKKt/?lang=pt. Acesso em: 19 jun. 2022.

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