Você está na página 1de 4

TEORIA DOS CUSTOS DE TRANSAÇÃO (FIANI)

Tradicionalmente, a teoria econômica somente dá um maior enfoque, dentro da


questão dos custos, para os custos de produção. Através da função de produção dadas as
quantidades de vários insumos necessários ao processo produtivo, produz-se uma
quantidade y de produto, a partir disso e dos preços do produto e dos insumos calcula-se
a quantidade de equilíbrio que maximiza o lucro da empresa. Nesse cenário, não se dava
a importância necessária à questão dos custos de transação, acreditava-se que eles
poderiam ser negligenciados porque o estudo era focado somente no mercado, porém uma
série de etapas do processo produtivo ocorrem fora do mercado. Tal cenário começou a
mudar com a publicação pioneira A Natureza da Firma de Ronald Coase, pensando no
mundo real, o autor questiona-se “Por que existem empresas? Por que existem
organizações dirigindo o processo produtivo em que relações hierárquicas, definidas pela
subordinação dos empregados à direção da empresa, determinam como se deve organizar
a produção?”. Na realidade, dentro de grandes unidades fabris organizadas
hierarquicamente há uma integração das etapas do processo produtivo, não indivíduos
que trocam entre si em todas as etapas do processo produtivo. Isso ocorre justamente
devido a existência dos custos de transação, que são aqueles incorridos pela firma na
atividade de comprar e vender. O estudo desses custos é foco da Teoria dos Custos de
Transação (TCT), que aponta a relevância deles e como afetam a tomada de decisão de
alocação de recursos da economia.

Natureza e Fatores Determinantes dos Custos de Transação

Alguns autores da TCT, como Coase, definem os custos de transação como


resultantes da divisão de tarefas no processo produtivo, ou seja, quando os agentes vão
ao mercado para adquirir algum insumo necessário à produção, e é preciso negociar,
redigir e garantir o cumprimento de um contrato. Nesse sentido, se os mercados não
existissem, os custos de transação seriam nulos.

Porém, Oliver Williamson, apontando a falha da definição anterior, expande a


definição para além dos mercados, custos de transação são os custos de se organizar o
funcionamento do sistema econômico, dada a divisão das etapas do processo produtivo
dentro e fora da firma. Em outras palavras, são os custos resultantes quando um ativo
passa de uma etapa do processo de trabalho para outra.
Os custos de transação são diferentes dependendo do modo de organização e suas
diferentes características. Os seguintes fatores fazem com que os custos de transação
sejam importantes, pois geram problemas na contratação de uma transação via mercado:

a) Racionalidade limitada: o comportamento humano tenta ser racional, mas possui


limitações neurofisiológicas e de linguagem;
b) Incerteza e complexidade: o ambiente econômico não é simples e previsível,
conjuntamente com a racionalidade limitada, gera assimetrias de informação entre
as partes envolvidas na transação;
c) Oportunismo: manipulação de assimetrias de informação, visando à apropriação
de fluxos de lucros. Gera problemas na execução e renovação de contratos devido
a promessas feitas pelo agente que ele mesmo sabe que não cumprirá;
d) Especificidade de ativos: devido ao número reduzido de produtores capazes de
ofertá-los e os demandantes interessados em adquiri-los eles entram em uma
relação quase exclusiva, o que torna uma parte refém da outra. Uma parte pode
tornar-se vulnerável a ameaças da outra parte ameaça, que usará essas condições
para obter condições mais vantajosas.

A Natureza dos Contratos

Há quatro tipos básicos de contratos:

1) Contratos que especificam no presente uma determinada performance no futuro:


não permitem flexibilizações e não incorrem a custos significativos de transação;
2) Contratos de cláusulas condicionais: especificam no presente uma determinada
performance no futuro, condicionada à ocorrência no futuro de eventos definidos
antecipadamente. As dificuldades estão relacionadas ao problema de prever os
eventos futuros e a necessidade de verificar com precisão e a baixo custo quais as
circunstâncias que estão vigorando em um dado instante. Por isso, é limitado a
situações não muito complexas e incertas, e a ativos que possuem moderada
especificidade;
3) Contratos de curto prazo sequenciais: não estabelece um vínculo, realizado em
um mercado à vista e ocorre quando há necessidade, por isso não é preciso antever
eventos futuros. As dificuldades estão relacionadas à necessidade de um mercado
à vista com baixos custos de acesso e à possibilidade de adquirir informações
privilegiadas e, consequente, vantagem. Devem ser utilizados em situações onde
não há o interesse em preservar os vínculos entre comprador e vendedor, e onde
a transformação fundamental não se verifique;
4) Contratos com relação de autoridade: estabelecidos hoje com o direito de
selecionar no futuro uma performance específica dentro do conjunto de
performances estipulado previamente. Nesse caso, não é necessário prever os
eventos futuros e mudar o contrato a cada mudança na situação. Esse tipo de
contrato é incompatível com transações no mercado, é adequado a ativos
altamente específicos, ambientes de complexidade e incerteza

Tipos de Transações e Estruturas de Governança

Relacionadas ao grau de especificidade dos ativos existem: transações com ativos


específicos, transações com ativos não específicos e transações mistas. Para as transações
com ativos específicos é indispensável para fornecedores e compradores assegurar sua
continuidade ao longo do tempo para estimular a decisão de investimento e preservar o
investimento já feito, por isso são transações recorrentes, ao contrário do que ocorre com
transações ocasionais. Em função da especificidade existem as seguintes formas de
implementar as transações, através das estruturas de governança, que são o arcabouço
institucional no qual a transação é realizada:

a) Governança pelo Mercado: adequada a transações não específicas (recorrentes),


não há esforço para sustentar a relação, na avaliação as partes precisam consultar
apenas sua própria experiência. É o caso que mais se aproxima da noção ideal de
mercado “puro”;
b) Governança Trilateral: adequada a transações ocasionais (mistas ou específicas),
uma terceira parte é especificada na avaliação da execução e na solução de algum
conflito
c) Governança Específica de Transação: adequada a transações específicas, valem a
pena quando a transação ocorre recorrentemente Dois tipos de estruturas podem
então surgir: contrato de relação (as partes preservam sua autonomia) e uma
estrutura unificada e hierarquizada, isto é, uma empresa.

Com o aumento da especificidade dos ativos e da recorrência da transação, também


aumenta a tendência de substituição das transações por meio do mercado para transações
com estruturas de governança mais específicas, o limite é a verticalização: a realização
da transação dentro da própria empresa.
A decisão em relação a forma institucional, via mercado ou via estrutura hierárquica
da empresa, depende da comparação entre economias de escala e custos de transação.
Isso, pois, as economias de escala pressupõem um mercado bastante extenso, ou seja,
ativos não específicos, sem complexidade e risco, assim a firma pondera o custo de
produzir ele mesmo o insumo e perder a escala tornado o produto mais caro e os custos
de transação incorridos ao comprar no mercado.

São identificadas quatro fontes de especificidade dos ativos:

1) Especificidade de localização: decisões prévias, visando minimizar custos de


estocagem e transporte, podem gerar ativos com especificidade de localização,
que uma vez estabelecidos o transporte pode ser difícil ou impraticável;
2) Especificidade física: características de design podem reduzir o valor do ativo em
uma aplicação alternativa;
3) Especificidade de capital humano: surge por meio de processos de “aprender
fazendo” dos empregados de uma empresa;
4) Especificidade de ativos dedicados: surge nos casos em que o fornecedor faz um
investimento que, exceto pela promessa da venda de uma quantidade expressiva
de produto para um determinado cliente, não seria feito.

Aplicações da Teoria dos Custos de Transação

a) Defesa da concorrência: mudanças na política de concorrência estadunidense nos


anos 1960 que considerava a verticalização como uma ameaça à concorrência,
com a TCT passou-se a considerar que a empresa praticava a verticalização com
o intuito de diminuir seus custos de transação
b) Regulação econômica: contraposição ao argumento de que a regulação
governamental seria desnecessária na concessão de serviços públicos e que
deveria ser substituída por renovações periódicas por meio de leilão. Pois, como
a TCT aponta, se os contratos fossem de curto prazo não haveria estímulo para
investimentos de longa maturação e, mesmo se os contratos fossem de longo
prazo, sugeriam os problemas da necessidade de cláusulas condicionais que
antecipem todas as circunstâncias relevantes no futuro. Isso em ambiente de
complexidade e incerteza pode dar margem a atitudes oportunistas por parte tanto
da empresa regulada como do regulador.

Você também pode gostar