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Victor Henrique Fróis da Silva

RA: 8132762
Prof. Tutor: Wagner Montanhini
Curso de Filosofia

A consciência como base da existência da pessoa.

Tentarei fazer uma reflexão sobre a existência humana, levando em consideração


principalmente a consciência do ser e a liberdade de seus atos. E tendo como base as seguintes
perguntas: o que é existir? Quem ou o que existe? A existência humana tem base no “ser” ou
no “reconhecer? A existência da “pessoa” termina ou se limita à existência orgânica? É
possível que um ser humano deixe de existir ainda estando com vida?
A existência, como ato de existir, penso ser algo simples, um objeto é ou não é. No
entanto, sempre com a possibilidade do devir, caso contrário, seria o Ser necessário, o qual
não pode menos do que ser, pois é o único que É e não pode vir a ser o que já não seja, nem
desejar o que não possui, pois a plenitude do ser esgota toda carência. Por isso, este Ser pleno,
o qual denominamos Deus, podemos dizer que não existe, mas simplesmente É. Esta
afirmação não contradiz minha afirmação inicial: a existência é o ato de ser, guardando a
possibilidade do vir a ser, portanto a “existência” do Ser como ato puro sem a eventualidade
da mudança é tão simplesmente um “Ser” que, paradoxalmente, se nos apresenta como algo
complexo, pois, quanto mais simples é uma realidade, tanto mais difícil se torna sua
explicação (como uma máquina de uma única peça). Em suma, a meu ver, a existência, dos
entes em geral, é o ato de ser, com um possível vir a ser.
Ao afirmar que Deus, como ato puro, não existe como os seres contingentes, mas
simplesmente “É aquele que É”, naturalmente vem o questionamento de quem ou o que
existe. Tudo o que está em ato e potência existe, mas a própria potencialidade coloca em risco
o ato de ser: uma árvore, em ato, pode vir a ser uma mesa, a qual pode ser lenha, depois uma
fogueira, fumaça, carvão e cinzas, sem guardar qualquer semelhança com o objeto primário.
Por isso a própria existência guarda uma certa insegurança. Mas, a complexidade da
existência humana vai muito além. Quando alguém morre, por exemplo, imediatamente deixa
de ser chamado de alguém para dirigir-se a mesma como algo, apenas a palavra “corpo” a
denomina: “O corpo foi cremado”, “O corpo foi sepultado”, etc. Com isso, entendemos que a
existência de um ser pessoal, seja humano ou não, é imprescindível uma atividade espiritual,
que é a consciência de si como um “eu” e das demais pessoas como outros “eus” em sua
individualidade. Quem, por cousa de alguma enfermidade física ou psicológica não pode fazer
uso de sua capacidade espiritual, ainda que continue existindo e sendo uma pessoa, na
consciência dos que abstraem sua personalidade, ela cessa sua percepção existencial, ainda
que exista em potencial.
O que dizer sobre a existência das coisas nas quais desconhecemos? Por ignorarmos o
que aconteceu em nosso planeta antes da invenção da escrita, chamamos este longo período
de pré-história, ou seja, antecedente à história, logo, fora de sua “existência”. Obviamente não
se trata de uma afirmação de que não tenha acontecido ou existido nada naqueles tempos, mas
por causa da carência da consciência dos fatos ocorridos, não considera-se seus sucessos
como fatos históricos “existentes na história”. Dessa maneira, deduz-se que a existência, para
a pessoa, se dá a partir do reconhecimento, da abstração do que é ao seu entorno ou do que
passou, esta consciência é que forma a história do mundo e das pessoas, porque sem esta
abstração (capacidade exclusiva dos seres espirituais), não seria possível a transmissão de
mensagens, por isso a história depende muito de quem a conta, pois a subjetividade é
inseparável da pessoa. Por mais imparcial que alguém procure ser em uma narração, ela
sempre colocará sua perspectiva. A existência de um herói na história, por exemplo, está mais
sujeito ao narrador dos seus feitos do que as obras em si, porque nem todo ato heroico é
motivado por uma heroicidade. Não obstante, é a intensão que o faz, de fato, um herói ou não,
mas esta intensão ou consciência pode ser reconhecida apenas pela pessoa em questão ou por
um ser onisciente. No entanto, sua existência heroica na história, em última instância depende
de quem narrou seus atos. Por isso as existências são relativas. Não quero dizer, com isso, que
a verdade seja relativa, pois esta é absoluta, e não pode menos do que se é. Mas a existência é
relativa a consciência da abstração de um fato ou de um ser, a qual nem sempre é um
fenômeno veraz, pois a abstração de algo pode estar envolvida em pré-conceitos, pelo
contexto, opiniões...
Ao me referir a “pessoa”, não me limito a dizer de seres humanos, mas de todos os
seres pessoais, aqueles que tem consciência de sua personalidade, de seu “eu”, e isso só é
possível a seres espirituais, os seres humanos, ou seres que sejam espíritos puros.
Consequentemente, a existência humana limita-se a existência física, mas não a existência da
pessoa. Creio na imortalidade da alma, e sendo esta espiritual e núcleo da personalidade
humana, seria errado afirmar que a pessoa é limitada a matéria. Mas, uma vez que ocorra a
separação da matéria e do espírito (corpo e alma), ainda que nenhuma das partes pode ser
denominada “ser humano”, a alma continua sendo uma pessoa, a qual chamamos apenas de
espírito pela pureza de seu ser.
A última pergunta foi a motivadora desta reflexão: “É possível que um ser humano
deixe de existir ainda estando com vida?” Mas, para mim, seria necessário ponderar sobre os
termos tratados acima.
A existência, como um ato de existir, não é possível perdê-la e manter-se vivo, mas a
existência pessoal como consciência de si, sim é possível perder-se, uma vez que seja perdida
ou impedida de ser praticada as capacidades espirituais. Mais acima nos referimos à
enfermidades que podem impedir a atividade espiritual humana. No entanto, todo processo de
massificação ou restrição da liberdade, a qual é própria do espírito, é um ato de
desumanização, que gera a intitulada “crise existencial”. Usando a personagem motivadora
desta reflexão, Viktor Frankl, tentaremos fazer um paralelo de seu contexto da Segunda
Guerra Mundial e o tempo pandêmico atual.
Penso que a existência da pessoa em si, é impossível deixar de ser, mas a existência da
pessoa para si, sim é possível uma perda. No entanto, sempre é um caso reversível, pois o
espírito não adoece, e a vontade é algo soberano nos seres espirituais (ou que possuem
espírito), consequentemente “enquanto há vida e vontade há esperança” como diz o psiquiatra
sobrevivente dos campos nazistas. A afirmação inicial deste parágrafo pede uma pequena
explicação, qual a diferença entre existir em si e para si? A “existência em si”, não se refere a
um existir ensimesmado, egocêntrico, mas uma existência como fato inegável, pois ao nascer
um ser humano, ainda que ele não tenha o conhecimento pessoal, a sua existência como
pessoa é evidente. No entanto, a “existência para si” é o conhecimento, a consciência do seu
ser pessoal. Ao ser privado quase totalmente de sua liberdade, a pessoa pode ver-se perdida de
si, e, gradativamente, perder a existência para si, é o que foi dito anteriormente sobre a “crise
existencial”. Os campos de concentração reduziram inumeráveis seres humanos um estado de
coisa, ou ainda inferior se for possível. Os tratamentos desumanos destes lugares, além do
sentimento de perda e frustração, em relação a pessoas e aos bens pessoais, a perda da
liberdade levou tantas pessoas ao suicídio, e a gravíssimas enfermidades mentais em muitos
sobrevivente, consequência de um vazio existencial. Hoje, depois de mais de um ano de
pandemia, estamos envolvidos no medo, a impossibilidade de realizar sonhos, as restrições
gerais, nos vemos impelidos a questionar “o que sou e quem sou”. Se faltar uma motivação
profunda para existir, podemos cair num conformismo, uma insensibilidade em relação a falta
de liberdade, aceitando a si mesmo e aos demais como algo e não alguém, perdendo dia-a-dia
a consciência pessoal, com isso a perda do que chamamos de “existência para si”.
Sem liberdade, não podemos falar de pessoa. Talvez de todas as crueldades ocorridas
ao longo da história, sejam provocadas pelo próprio homem ou por tantos fatores naturais, os
que mais afetaram a existência foi a privação da liberdade, pois sem esta, como as pessoas
podem saber que, de fato, é um ser único “uma pessoa”? Ainda que não conheça sua
personalidade, pois esta “existe em si”, mas de que serve se não existir para si? Apesar da
existência em si ser mais a importante, porque sem a mesma não há possibilidades de nada,
sem existência para si não resta nada além de frustrações. Eu não saberia responder: existir
sem a consciência de si, por alguma privação brutal, não seria pior do que o não ser?

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