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FILOSOFIA DA MENTE

Aula de 1 de Março de 2023


SUMÁRIO
(i.) Depois de muitos problemas científicos e filosóficos, estudo de tentativas de
resolução. Os vários paradigmas que foram sendo propostos ao longo dos séculos. Estudo
do Dualismo, com base no cap. 2 (K. T. Maslin). A longa e rica história intelectual, social
e religiosa do Dualismo.
(ii.) Dualismo de substâncias, dualismo de propriedades. As dificuldades da tarefa da
distinção.
(iii.) Leitura do texto na íntegra de Raymond Smullyan, «Um Dualista Desafortunado».
(iv.) A Teoria da Identidade Mente-Cérebro. Leitura parcial do texto U. T. Place, «Será a
Consciência um Processo Cerebral?». A projecção vasta da Teoria da Identidade na época
contemporânea.
(v.). Preenchimento do questionário Times Higher Education Supplement (THES) sobre
o Congresso Tucson II.
(vi.) Início do estudo do Funcionalismo.

CONCEITOS MAIS IMPORTANTES


Dualismo – Formas de dualismo (de substâncias e de propriedades) – Argumentos de
Platão a favor do dualismo – Argumentos de Descartes a favor do dualismo – Participação
de outros autores no debate (e.g. o paralelismo psicofísico de Leibniz e o ocasionalismo
de Malebranche) – Métodos (fenomenológico, thought experiments, analítico, etc.)

A.

1. A vasta, antiga e riquíssima história do Dualismo: as notícias do seu


desaparecimento foram precipitadas… A história filosófica do assunto, mas não se pode
esquecer a história religiosa e literária do assunto.

2. SUBSTÂNCIAS vs. PROPRIEDADES - «A distinção entre substâncias e


propriedades permite-nos compreender como pode haver uma variante fraca do dualismo,
qual seja, o dualismo de propriedade. O dualismo de propriedade evita a noção de
substâncias almas imateriais e sustenta, por outro lado, que o cérebro, uma coisa física
composta, possui fundamentalmente diferentes tipos de propriedades - elementos mentais

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e consciência em particular - que são de natureza não-física, bem como propriedades
físicas familiares, tais como massa, cor e textura.» (41)

EXERCÍCIO: fazer listas de propriedades da mente, do cérebro, de animais, de


computadores, de objectos inanimados, de processos naturais, de observações em
contextos difíceis (e.g. astronómicas, microbiológicas, fenómenos recém-descobertos).

3. DUALISMO PLATÓNICO

«Sócrates salienta então que um homem não usa somente suas mãos, mas o
corpo inteiro, e que, portanto, assim como uma pessoa é distinta da
ferramenta que usa, ou de um instrumento que toca, assim segue-se que ele
deve ser distinto de seu corpo. O argumento pode ser colocado mais
formalmente e se desenvolve resumidamente do seguinte modo:

1. O usuário de uma coisa e a coisa usada são numericamente duas


coisas diferentes e distintas, isto é, duas substâncias lógicas.
2. Uma pessoa usa seu corpo.
3. Portanto, uma pessoa deve ser numericamente diferente e distinta
de seu corpo, ou deve ser uma substância lógica não-corpórea, isto é, uma
alma.» (44)

LINHAS DE REFLEXÃO:
- fenomenologia do que é ter um corpo e do que é usar ferramentas;
- não esquecer as partes que “resistem” no nosso corpo e que não podemos aceder
a elas, como se todas elas fossem ferramentas;
- não esquecer que também não podemos aceder ao grau zero da vida mental nem
a dados inconscientes;
- ferramentas, objectos, armas, próteses externas e internas.

4. Tarefas complementares sobre a teoria da mente/alma de Platão: Alcibíades I,


Fedro, Fédon, A República, Timeu.

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5. DUALISMO CARTESIANO

«Pensar é um outro atributo da alma; e aqui descubro o que propriamente


pertence a mim mesmo. Somente isto é inseparável de mim. Eu sou - eu
existo: isto é certo, mas quão frequentemente? Tão frequentemente quanto
eu penso; pois poderia até acontecer que, parando eu inteiramente de pensar,
ao mesmo tempo pararia juntamente de ser. Eu agora não admito nada que
não seja necessariamente verdade: eu sou, portanto, falando com precisão,
somente uma coisa pensante.» (47)

LINHAS DE REFLEXÃO:
- res cogitans, res extensa.

6. A questão cartesiana das mentes dos animais

«[Os animais nunca poderiam] usar palavras ou outros signos construídos,


como nós fazemos para declarar nossos pensamentos aos outros... [Em
segundo lugar,] enquanto eles poderiam fazer muitas coisas tão bem, ou
melhor, do que nós, eles falhariam, impreterivelmente, em outras, revelando
que não agem segundo o conhecimento, mas somente a partir da disposição
de seus órgãos. Pois enquanto a razão é um instrumento universal que pode
servir em todos os tipos de circunstâncias, esses órgãos necessitam de um
arranjo especial para cada acção particular; assim que é imoralmente
impossível que uma máquina pudesse conter tantos arranjos variados para
que pudesse agir em todos os eventos da vida do modo que a razão nos
permite agir.» (48)

LINHAS DE REFLEXÃO

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- A velha e rica história da identificação do que é exclusivo ao ser humano
(linguagem, alma, criatividade, remorso, consciência, responsabilidade, liberdade,
culpa…).
- A terceira pessoa a tentar saber da primeira pessoa.
- Categorias pouco claras: pessoa.
- O grande desconhecimento que ainda temos acerca dos animais: etologia
precisa-se! Recorde-se: árvore evolucionária cheia de surpresas; regiões com vida
desconhecida; zonas híbridas vida/não vida; seres unicelulares a fazerem matemática
avançada; polvos; esporos submarinos; as preferências dos animais e as suas
manifestações de prazer, dor e brincadeira; etc.
- A questão dos autómatos e animais como autómatos.

7. DESCARTES: da glândula pineal à união substancial

«Eu não estou presente em meu corpo meramente como um piloto está em
seu navio; eu estou mais firmemente ligado a ele, como se estivesse
misturado a ele, de modo que ele e eu formamos uma unidade. Senão, quando
o corpo é ferido, eu, que sou simplesmente um ser consciente, não sentiria
dor devido a isso, mas perceberia o ferimento por um simples acto de
compreensão, como o piloto percebe pela visão qualquer dano causado por
quebra que possa haver no navio; e quando o corpo necessita de comida ou
bebida, eu devo explicitamente compreender o facto, e não ter sensações
confusas de fome e sede.» (51).

«Os seres humanos são feitos de corpo e alma, não pela mera presença ou
proximidade de um com o outro, mas por meio de uma união substancial...
Se um ser humano é considerado, é considerado em si mesmo, como um
todo, ele é uma união essencial, porque a união que liga um corpo humano e
uma alma um ao outro não é acidental a um ser humano, mas essencial, uma
vez que um ser humano sem ela não é um ser humano.» (52)

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8. ARGUMENTO DA DÚVIDA CARTESIANA

«Sem dúvida, então, eu existo, uma vez que eu sou iludido, e deixe-o iludir-
me comei ele possa, ele nunca poderá me persuadir de que não sou nada,
enquanto eu estiver consciente de que sou alguma coisa. Para que ele deva,
em conclusão, ser mantido, todas as coisas sendo madura e cuidadosamente
consideradas, que esta proposição. Eu sou, Eu existo, é necessariamente
verdadeira a cada vez que ela é expressa por mim, ou concebida em minha
mente.» (55)

«Então eu considerei atentamente o que eu era; e eu vi que, embora eu


pudesse fingir que não tinha corpo, que não havia mundo, e que não havia
lugar algum no qual pudesse estar, eu não podia fingir que eu não existia; ao
contrário, a partir do mero facto de que eu pensei duvidar de outras verdades,
segue-se evidente e certamente que eu existia... A partir disto eu reconheci
que era uma substância, cuja essência total ou natureza é a de ser consciente,
e cujo ser não requer lugar algum e não depende de qualquer coisa material.
Consequentemente, este eu, quer dizer, a alma por meio da qual eu existo, é
inteiramente- te distinta do meu corpo, e é até mesmo mais facilmente
conhecida; e até mesmo se o corpo não existisse de todo, a alma seria
simplesmente o que ela é.» (56)

LINHA DE REFLEXÃO: LEI DE LEIBNIZ

«De acordo com a Lei de Leibniz, se uma coisa A e uma B são uma e a
mesma coisa, então todas as propriedades de A devem ser as mesmas que
todas as propriedades de B. Uma consequência desse princípio é que se há
ao menos uma propriedade, ou traço que A e B não compartilham, então A
e B devem ser numericamente coisas diferentes. […]

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Uma vez que o corpo de alguém e “Eu” diferem sob este aspecto, ou seja,
que a existência do corpo pode ser posta em dúvida, mas a existência do “Eu”
não pode, então, de acordo com a Lei de Leibniz, parece resultar que a pessoa
ou consciência não pode ser idêntica ao corpo, mas deve ser diferente e
distinta dele.» (56)

«1. Lois Lane sabe que o repórter com o qual ela trabalha é Clark Kent.
2. Ela não sabe que o repórter com o qual trabalha é o Super-Homem.
3. Portanto, Clark Kent não pode ser o Super-Homem.» (57)

«Por meio deste padrão de argumento, então, Descartes não pode estabelecer
que ele é uma substância não-corpórea, distinta de seu corpo. Porque, no
entanto, ele acredita ter estabelecido isto, e consequentemente logrado
desvencilhar-se de todos os seus traços corporais, deixando para trás o único
atributo do pensamento ou consciência, ele conclui não meramente que ele é
uma coisa pensante - uma conclusão que poderia ser cabível -, mas que ele é
somente uma coisa pensante, isto é, uma coisa cuja única essência ou
natureza consiste em nada mais do que consciência. Uma vez que agora
estou consciente, enquanto escrevo isto, segue- -se que sou uma entidade
consciente, isto é, a consciência é um traço meu, No entanto, não se segue
que tudo o que eu sou seja consciência, que este traço esgote totalmente a
minha natureza.» (57)

9. ARGUMENTO DA CLAREZA E DA DISTINÇÃO

«Eu sei que qualquer coisa que eu compreendo clara e distintamente pode
ser feita por Deus assim como eu o compreendo; então a minha habilidade
de compreender uma coisa clara e distintamente separadamente uma da outra
é suficiente para me assegurar que elas são distintas, porque Deus ao menos

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as pode separar. Agora, eu sei que existo, e, ao mesmo tempo, observo que
não há absolutamente nada que pertença à minha natureza ou essência
excepto o mero facto de que eu sou um ser consciente; a partir somente disto
posso inferir validamente que minha essência consiste simplesmente no fato
de que eu sou um ser consciente. E realmente possível [...] que eu tenha um
corpo estreitamente ligado a mim mesmo, mas ao mesmo tempo eu tenho,
por outro lado, uma ideia clara e distinta de mim próprio tomada
simplesmente como uma consciência, não um ser extenso, e, por outro lado,
uma ideia distinta de corpo, tomada simplesmente como um ser extenso, não
consciente; consequentemente, é certo que sou distinto de meu corpo, e
poderia existir sem ele.» (58)

«1. Eu não constato coisa alguma que pertença à minha natureza ou essência, à
exceção do pensamento.
2. Eu constato que nada mais realmente pertence à minha natureza ou essência, à
exceção do pensamento.» (58)

10. O ARGUMENTO CARTESIANO DA DIVISIBILIDADE

«Este argumento pode ser breve e formalmente exposto da seguinte


forma:
1. O corpo é divisível em partes.
2. A mente não é divisível em partes.
3. Portanto, a mente deve ser de uma natureza inteiramente diferente
da natureza do corpo, isto é, ela deve ser essencialmente não-física.»

11. Problemas para o dualismo

(a.) A posse de uma mente é tudo ou nada

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(b.) O cérebro é destituído de uma função

«Pois, a partir do fato de que ela [a alma] não age de forma tão perfeita no
corpo de uma criança quanto no de um adulto, e que a acção dela possa
seguidamente ser impedida pelo vinho ou outras coisas corporais, segue-se
somente que, enquanto a mente for unida ao corpo, ela usa o corpo como um
instrumento naquelas operações nas quais ele é usualmente ocupado, não que
ela se torne mais perfeita, ou menos, por meio do corpo... Tenho ... com
frequência distintamente mostrado que a mente pode operar
independentemente do cérebro; pois certamente o cérebro não pode ter
serventia alguma para a compreensão pura, mas somente à imaginação e à
sensação.» (65)

(b.) A falácia do homúnculo

(c.) Kant e a contagem das almas

«Descartes afirma que uma, e somente uma, alma está associada com um
dado corpo humano e age por meio dele. Mas, pergunta Kant, o que diria o
cartesiano à sugestão de que, tanto quanto ele possa dizer, milhares ou
milhões de tais almas, todas pensando o mesmo pensamento, falem por meio
da boca de um ser humano individual? Além disso, ao longo do tempo, por
que não deveria uma sucessão de substâncias de almas serem associadas a
um ser humano, cada substância de alma transmitindo seus estados ao
próximo membro da série, do mesmo modo que cada membro de uma série
de bolas elásticas, cada bola sendo batida e batendo por sua vez em outra
bola transmite seu momentum à próxima bola na fileira, e assim por diante,
ao longo da série?
O ponto que Kant está levantando é fundamentalmente este: Como se
pode contar almas? Com que critério ou critérios se decide a um momento

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dado quantas almas estão presentes? Quando se pode dizer que uma alma
termina, por assim dizer, e estamos passando à próxima? Em outras palavras,
como uma alma é individuada, isto é, dita separada como um indivíduo
distinto e separado, de outra alma em um dado momento? Além disso, como
se pode dizer que ao longo do tempo almas sejam separadas? Como é que se
pode distinguir a situação na qual uma e a mesma alma seja encontrada
novamente após um lapso de tempo daquela situação na qual uma alma
qualitativamente similar, mas qualitativamente distinta é encontrada?» (66)

12. A objecção de Espinosa

«Ninguém até agora estabeleceu limites aos poderes do corpo, isto é,


ninguém ainda foi ensinado pela experiência o que o corpo pode realizar
exclusivamente pelas leis da natureza, na medida em que ela é considerada
como extensão.» (49)

LINHAS DE REFLEXÃO
- Explorar o que efectivamente Espinosa está a propor.
- Recordar as Conferências de Manágua de Chomsky: o pouco que
sabemos ainda sobre o corpo.

13. LEIBNIZ: PARALELISMO PSICOFÍSICO


«De acordo com o proponente do paralelismo, a alma e o corpo são como
dois relógios aos quais Deus deu corda e sincronizou, a fim de que haja uma
correlação apropriada entre eventos mentais e corporais - por exemplo, que
um ferimento no corpo seja acompanhado por dor. Mas o corpo não afecta a
mente, nem a mente o corpo; há só a aparência de interacção, não a
realidade.» (52)

REFLEXÃO

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- Confrontar este texto com o do moinho: resposta inteligente a um
desespero intelectual?

14. MALEBRANCHE: OCASIONALISMO

«O ocasionalismo também requer a intervenção de Deus e,


consequentemente, está aberto à mesma objecção que o paralelismo. Mas ele
é uma teoria menos elegante, na medida em que Deus é representado como
tendo de estar presente em toda e qualquer ocasião para assegurar que a
correspondência correcta ocorra entre os eventos mentais e físicos. Ele está
assim condenado a ser um eterno intrometido, diferentemente do Deus de
Leibniz, que meramente dá corda e sincroniza os relógios mentais e físicos
de uma vez, e depois se retira, deixando que as coisas se ocupem de si
mesmas.» (53)

15. ASSUNTOS PENDENTES


(i.) Como mero exemplo de uma outra proposta de traços comuns à mente, e

a benefício de um ponto de vista alternativo, veja-se a lista que propõe


Michael Tye, que acantona o vasto problema da mente à sua parte mais
difícil, a consciência fenoménica (Ten Problems of Consciousness, The MIT
Press, 1995):

Dez Problemas da Consciência Fenoménica

I. O Problema da Propriedade (The Problem of Ownership)


II. O Problema da Subjectividade Perspectival (The Problem of
Perspectival Subjectivity)
III. O Problema do Mecanismo (The Problem of Mechanism)
IV. O Problema da Causalidade Fenoménica (The Problem of
Phenomenal Causation)

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V. O Problema da Super-Visão-Cega (The Problem of Super
Blindsight)
VI. O Problema dos Duplos (The Problem of Duplicates)
VII. O Problema do Espectro Invertido (The Problem of the
Inverted Spectrum)
VIII. O Problema da Transparência (The Problem of
Transparency)
IX. O Problema da Localização Sentida e do Vocabulário
Fenoménico (The Problem of Felt Location and Phenomenal
Vocabulary)
X. O Problema do Membro Fantasma (The Problem of the Alien
Limb)

(ii.) A velha questão da localização. Se a Filosofia da Mente tem um objecto no seu


próprio nome, onde está, por exemplo, esse objecto?

A tradição da localização das funções cerebrais; o papel do coração e do fígado;


as vísceras; a glândula pineal cartesiana, a localização para os materialistas é, obviamente,
diferente para os espiritualistas ou dualistas.

– “Where Am I?”, de Daniel C. Dennett (reeditado, por exemplo, em The Mind’s


I: Phantasies and Reflections on the Self and Soul, referência dada abaixo).

(iii.) AINDA A EXPLORAR: UM DUALISTA DESAFORTUNADO conexão com


Descartes

Alguns aspectos interessantes da proposta:


- As consequências imaginadas: “o corpo continuaria a agir como se ainda tivesse
uma alma”;
- A verificação impossível, assunto recorrente no debate (o velho e cansado tema
do teste decisivo para clarificar uma questão): o amigo, a esposa ou o observador mais
próximo não reparariam na alteração;
- O próprio Dualista saberia que tomou o medicamento, mas a questão é esta: o
que seria diferente ANTES e DEPOIS de o fazer?

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- É fantasia mesmo ou, diferentemente, aproxima-se da realidade de casos que
conhecemos? Comparar, por exemplo, com Karen Ann Quinlan, zombis haitianos,
Blindsight.

(iv.) O questionário THES / TUCSON 2

16. SERÁ A CONSCIÊNCIA UM PROCESSO CEREBRAL? (U. T.


Place)

(i.) A tese da identidade mente-cérebro: “uma hipótese científica razoável”.

(ii.) O que está em causa não deverá ser rejeitado apenas por considerações lógicas. Deste
ponto de vista, dois conjuntos de observações não podem apontar para o mesmo processo
e para processos diferentes.

(iii.) O que está sobre a mesa: “podemos identificar a consciência com um dado padrão
de actividade cerebral, se pudermos explicar as observações introspectivas do sujeito por
referência aos processos cerebrais com que elas estão correlacionadas” (p. 53)

EM CONSEQUÊNCIA: denúncia da alegada “falácia fenomenológica”, a ideia


errada de que descrições das aparências das coisas são descrições do estado de coisas real
num misterioso ambiente interno (p. 53).

(iv.) Pressupostos: fisicismo, behaviorismo, abordagem disposicional das categorias da


vida mental (comichão, por exemplo, será uma disposição para fazer qualquer coisa,
como coçar-se?). E actividades cognitivas, como conhecer, acreditar, compreender,
recordar, serão também meras disposições comportamentais?

CARTAS SOBRE A MESA: Place reconhece que há “um resíduo intratável” (p.
54); reconhece que é falso que os enunciados sobre a consciência sejam enunciados sobre
o cérebro; admite que no futuro se venha a encontrar uma explicação behaviorista para a
consciência.

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(v.) “A CONSCIÊNCIA É UM PROCESSO NO CÉREBRO”

- não é necessariamente verdadeiro nem falso


- não é auto-contraditório
- não é evidente
- sim é uma hipótese científica razoável
- atenção à subtileza: apartar o “é” de identidade e o “é” de composição

(vi.) Três exemplos complementares:

- “a mesa dele é um velho caixote”


- “uma nuvem é uma massa de gotas ou outras partículas em suspensão”
- “um relâmpago é um movimento de cargas eléctricas”

(vii.) A perplexidade citada de Sir Charles Sherrington (Prémio Nobel em Medicina e


Fisiologia, 1932)

Um texto muito rico, que capta na perfeição a perplexidade de um grande cientista


a respeito da mente senciente.

(viii.) A falácia fenomenológica

“A falácia fenomenológica em que este argumento se baseia


depende do pressuposto erróneo de que devido à nossa capacidade
para descrever coisas no nosso ambiente depender da consciência que
delas temos, as descrições que fazemos das coisas são em primeiro
lugar descrições da nossa experiência e, só em segundo lugar, são
indirectamente e inferencialmente descrições de objectos e
acontecimentos nos nossos ambientes.” (p. 61)

(vi.)

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(vii.) SUGESTÃO DE ACTIVIDADES COMPLEMENTARES

- leitura dos 1, º, 2.º e 3.º capítulo Maslin, do texto humorístico de R. Smullyan e do ensaio
de U.T. Place na Antologia;
- reflectir sobre o rgumento paralelo: cérebro numa cuba (brain in a vat);
- estudar os fenómenos do Blindsight e das feromonas: o que estas condições dizem sobre
o objecto mental?
- ver os filmes já recomendados: trilogia Matrix.

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