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Ao discorrer o pensamento de Wittgenstein, devemos levar em conta suas duas fazes de

pensamento, tão opostas entre si a ponto de definirem como Primeiro e Segundo Wittgenstein.
O Primeiro Wittgenstein, em realidade, não declara muito a respeito da religião, pois
seu Tratado Lógico Filosófico visava uma reflexão sobre a linguagem, como uma
manifestação lógica de coisas existentes de maneira sensível, sendo inadequado
qualquer fala sobre realidades imateriais. Consequentemente, para este filósofo, a
religião e tudo o que se refere ao transcendente ou ao metafísico deve ser silenciado,
pois sua existência não pode ser provada pelas ciências positivas. Nesta perspectiva,
qualquer estudo religioso fica vetado, bem como toda tentativa de proselitismo ou
evangelização, pois, como transmitir a fé sem falar sobre a mesma? No entanto, o
Segundo Wittgenstein tem uma perspectiva mais religiosa. Porém, apesar de admitir e
apoiar a possibilidade de expressar-se sobre realidades imateriais, sua concepção de fé
está fundada em uma certa necessidade afetiva. Neste ponto discordo, de seu
pensamento, visto que a crença em Jesus não é um impulso sentimental, mas sim uma
decisão, não há dúvida que mais importante do que crer em Cristo é amá-lo, mas é
possível amar o que não se crê? Este filósofo comenta que a Bíblia, diante dele é apenas
um livro, de fato a Bíblia é apenas um livro para quem não crê, mas esta crença de que
esta obra seja “Palavra de Deus” faz-se necessária uma crença prévia no testemunho
daqueles que declaram isto, ou seja, na Tradição. Sem uma fé na Tradição não pode
existir uma crença na Escritura, bem como uma falta de crença nas declarações
maometanas impossibilita a crença na autoridade do Alcorão. Com isso, penso que a
religião não deve ser confundida com um manual de auto ajuda, ou uma compensação
de carências, mas uma decisão de crer em algo plausível, contudo, que ainda se mostra
com um véu de mistério, afinal: crer no que está totalmente claro não é crer, mas é
constatar o óbvio.
Enrique Dussel apresenta uma visão religiosa mui pouco transcendente, dando
primordialidade a atuação social, um engajamento sócio-político, motivado por uma
concepção um tanto equivocada a respeito da libertação descrita no livro do Êxodo. É
certo que a religião não deve ser um misticismo desencarnado, sem feitos concretos.
Mas, a doutrina cristã baseia-se no bem ao próximo por causa de Deus, visando no
pobre a pessoa do Cristo, e não um ato antropocêntrico. Me pergunto se, segundo
Dussel, a religião tem um cunho transcendente, um relacionamento, um “re-ligar” com
um Ser Supremo, ou se é apenas uma forma de usar um movimento previamente
existente para uma luta de classe menos radical que um comunismo declarado.

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