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SD01 - Manual do Estudante

Sequência Didática do Estudante

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 1


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EQUIPE
Governador do Estado da Paraíba
JOÃO AZEVEDO LINS FILHO

Vice Governadora do Estado da Paraíba


ANA LÍGIA COSTA FELICIANO

Secretário de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia


CLAUDIO BENEDITO SILVA FURTADO

Secretário Executivo de Gestão Pedagógica


GABRIEL DOS SANTOS SOUZA GOMES

Secretária Executiva de Adm. de Suprimentos e Logística


ELIS REGINA NEVES BARREIRO

Secretário Executivo da Ciência e Tecnologia


RUBENS FREIRE RIBEIRO

Gerente Executiva do Ensino Médio -GEEM


AUDILÉIA GONÇALO DA SILVA

Gerente Executiva de Educação Infantil e Ensino


Fundamental - GEEIEF
NEILZE CORREIA DE MELO CRUZ

Especialista Pedagógica
VIVIANNE DE SOUSA

Especialista em Gestão
JONATTA SOUSA PAULINO

Coordenação de Nivelamento
CLARA SUELEN CARVALHO PEREIRA
JARLEYDE ANDRESSA S. SALES DE OLIVEIRA
RENATO DA SILVA OLIVEIRA

Elaboração
ANA CARLA DIAS MEIRELES
ÂNGELA MARIA FERREIRA DE SOUZA BARROS
ANGÉLICA DENISE DA SILVA
AMANDA DIAS DA SILVA
CLARA SUELEN CARVALHO PEREIRA
MACELIO MACEDO DOS SANTOS
RENATO DA SILVA OLIVEIRA
RÍVIA VERÔNICA DA SILVA MAIA

Diagramador
FRANCISCO JEFFERSON RODRIGUES ROLIM

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COMPETÊNCIAS E HABILIDADES ABORDADAS

COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DA BNCC com ou sem apoio de ferramentas digitais, em qua-


dros, tabelas ou gráficos.
(EF69LP44) Inferir a presença de valores sociais, cul-
Competência Específica 1 turais e humanos e de diferentes visões de mundo,
Compreender a língua como fenômeno cultural, em textos literários, reconhecendo nesses textos
histórico, social, variável, heterogêneo e sensível aos formas de estabelecer múltiplos olhares sobre as
contextos de uso, reconhecendo-a como meio de identidades, sociedades e culturas e considerando a
construção de identidades de seus usuários e da co- autoria e o contexto social e histórico de sua produ-
munidade a que pertencem. ção.
Competência Específica 3
Ler, escutar e produzir textos orais, escritos e multis- HABILIDADES DE PROPULSÃO
semióticos que circulam em diferentes campos de H01 – Inferir uma informação implícita em um texto.
atuação e mídias, com compreensão, autonomia,
fluência e criticidade, de modo a se expressar e parti- H02 – Identificar a finalidade de textos de diferentes
lhar informações, experiências, ideias e sentimentos, gêneros.
e continuar aprendendo. H03 – Reconhecer diferentes formas de tratar uma
Competência Específica 6 informação na comparação de textos que tratam do
mesmo tema.
Analisar informações, argumentos e opiniões mani-
festados em interações sociais e nos meios de comu- H04 – Reconhecer posições distintas entre opiniões
nicação, posicionando-se ética e criticamente em relativas ao mesmo fato ou ao mesmo tema.
relação a conteúdos discriminatórios que ferem di-
reitos humanos e ambientais. H05 – Estabelecer relações entre partes de um tex-
to, identificando repetições ou substituições que
Competência Específica 10 contribuem para a continuidade de um texto.
Mobilizar práticas da cultura digital, diferentes lingua- H06 – Identificar a tese de um texto.
gens, mídias e ferramentas digitais para expandir as
formas de produzir sentidos (nos processos de com- H07 – Identificar o conflito gerador do enredo e os
preensão e produção), aprender e refletir sobre o elementos que constroem a narrativa.
mundo e realizar diferentes projetos autorais. H08 – Reconhecer o efeito de sentido decorrente da
escolha de uma determinada palavra ou expressão.
HABILIDADES DA BNCC H09 – Identificar efeitos de ironia ou humor em tex-
tos variados.
(EF69LP02) Diferenciar liberdade de expressão de H10 – Identificar as marcas linguísticas que evidenci-
discursos de ódio, posicionando-se contrariamente a
esse tipo de discurso e vislumbrando possibilidades am o locutor e o interlocutor de um texto.
de denúncia quando for o caso.
(EF69LP21) Posicionar-se em relação a conteúdos CAMPOS DE ATUAÇÃO
veiculados em práticas não institucionalizadas de • Campo jornalístico-midiático
participação social, sobretudo àquelas vinculadas a
manifestações artísticas, produções culturais, inter- • Campo de atuação na vida pública
venções urbanas e práticas próprias das culturas • Campo das práticas de estudo e pesquisa
juvenis que pretendam denunciar, expor uma pro- • Campo artístico-literário
blemática ou “convocar” para uma reflexão/ação,
relacionando esse texto/produção com seu contex- OBJETOS DE CONHECIMENTO
to de produção e relacionando as partes e semioses
presentes para a construção de sentidos. • Apreciação e réplica
• Estratégias e procedimentos de leitura
(EF69LP32) Selecionar informações e dados relevan-
tes de fontes diversas (impressas, digitais, orais etc.), • Reconstrução das condições de produção,
avaliando a qualidade e a utilidade dessas fontes, e circulação e recepção
organizar, esquematicamente, com ajuda do profes-
sor, as informações necessárias (sem excedê-las)

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SUMÁRIO
PONTO DE PARTIDA····························································08
ATIVIDADE 1 ·········································································07
ATIVIDADE 2 ········································································10
ATIVIDADE 3 ········································································15
ATIVIDADE 4 ········································································20
O SAEB “TÁ ON” EM PROPULSÃO ····································24
REFERÊNCIAS

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ANOTAÇÕES:

Disponível: https://www.politize.com.br/wp-content/uploads/2018/11/
Desigualdade-economica-imagem.jpg

Algumas situações do cotidiano geram discussões para


além do seu contexto, bem como são resultado de um proces-
so histórico e social que perpassa gerações e chega até os nos-
sos dias, levando-nos a questionamentos sobre a nossa vida e a
realidade que nos rodeia.
Nesse sentido, propomos por meio dos textos aqui elen-
cados a reflexão sobre as condições de vida de várias(os) brasi-
leiras(os) no cenário da pandemia do coronavírus e anteriores a
esse fato histórico. Em especial, lançamos um olhar sobre as
condições de vida da periferia, a partir da vivência de mulheres
pretas, campeãs olímpicas, escritoras, pesquisadoras e artistas.
Histórias de superação em meio ao descaso dos governantes
corruptos para com a população e a implementação das políti-
cas públicas de assistência social.
Como podemos, portanto, vislumbrar uma perspectiva
de futuro melhor em condições, digno e igual em direitos para
todas e para todos?

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os dias ia preso. Que a Radio Patrulha cançou de vir


20 de julho [de 1955] buscá-lo. Arranjou serviço para ele na cadeia. Achei
graça. Dei risada!... Estendi as roupas rapidamente e fui
Deixei o leito as 4 horas para escrever. Abri a porta e catar papel. Que suplicio catar papel atualmente! Te-
contemplei o céu estrelado. Quando o astro-rei come- nho que levar a minha filha Vera Eunice. Ela está com
çou despontar eu fui buscar agua. Tive sorte! As mulhe- dois anos, e não gosta de ficar em casa. Eu ponho o
res não estavam na torneira. Enchi minha lata e zarpei saco na cabeça e levo-a nos braços. Suporto o peso do
(...) Fui no Arnaldo buscar o leite e o pão. Quando re- saco na cabeça e suporto o peso da Vera Eunice nos
tornava encontrei o senhor Ismael com uma faca de 30 braços. Tem hora que revolto-me. Depois domino-me.
centimetros mais ou menos. Disse-me que estava a Ela não tem culpa de estar no mundo.
espera do Binidito e do Miguel para matá-los, que eles Refleti: preciso ser tolerante com os meus filhos.
lhe expancaram quando ele estava embriagado. Eles não tem ninguem no mundo a não ser eu. Como é
Lhe aconselhei a não brigar, o crime não trás van- pungente a condição de mulher sozinha sem um ho-
tagens a ninguém, apenas deturpa a vida. Senti o chei- mem no lar.
ro de álcool, desisti. Sei que os ebrios não atende. O Aqui, todas impricam comigo. Dizem que falo mui-
senhor Ismael quando não está alcoolizado demonstra to bem. Que sei atrair os homens. (...) Quando fico ner-
sua sapiência. Já foi telegrafista. E do Circulo Exoterico. vosa não gosto de discutir. Prefiro escrever. Todos os
Tem conhecimentos bíblicos, gosta de dar conselhos. dias eu escrevo. Sento no quintal e escrevo.
Mas não tem valor. Deixou o alcool lhe dominar, embo- ... Não posso sair para catar papel. A Vera Eunice
ra seu conselho seja util para os que gostam de levar não quer dormir, e nem o José Carlos. A Silvia e o mari-
vida decente. do estão discutindo. Tem 9 filhos e não respeitam-se.
Preparei a refeição matinal. Cada filho prefere uma Brigam todos os dias.
coisa. A Vera, mingau de farinha de trigo torrada. O ... Vendi o papel, ganhei 140 cruzeiros. Trabalhei
João José, café puro. O José Carlos, leite branco. E eu, em excesso, senti-me mal. Tomei umas pilulas de vida*
mingau de aveia. e deitei. Quando eu ia dormindo despertava com a voz
Já que não posso dar aos meus filhos uma casa do senhor Antonio Andrade discutindo com a esposa.
decente para residir, procuro lhe dar uma refeição con-
digna. *Medicamento indicado como laxante ou purgante.
Terminaram a refeição. Lavei os utensilios. Depois (Nota do Editor)
fui lavar roupas. Eu não tenho homem em casa. É só eu
e meus filhos. Mas eu não pretendo relaxar. O meu so-
nho era andar bem limpinha, usar roupas de alto preço,
residir numa casa confortavel, mas não é possivel. Eu
não estou descontente com a profissão que exerço. Já
habituei-me andar suja. Já faz oito anos que cato papel.
O desgosto que tenho é residir em favela.
... Durante o dia, os jovens de 15 e 18 anos sentam
na grama e falam de roubo. E já tentaram assaltar o
emporio do senhor Raymundo Guello. E um ficou ca-
rimbando com uma bala. O assalto teve inicio as 4 ho-
ras. Quando o dia clareou as crianças catava dinheiro
na rua e no capinzal. Teve criança que catou vinte cru-
zeiros em moeda. E sorria exibindo o dinheiro. Mas o
juiz foi severo. Castigou impiedosamente.
Fui no rio lavar as roupas e encontrei D. Mariana.
Uma mulher agradavel e decente. Tem 9 filhos e um lar
modelo. Ela e o esposo tratam-se com educação. Visam
apenas viver em paz. E criar filhos. Ela tambem ia lavar
roupas. Ela disse-me que o Binidito da D. Geralda todos Ilustração: Vinicius Rossignol Felipe

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Sobre a autora: ção, ao lazer e à cultura, por exemplo. Trata-se de um


direito constitucional inerente à condição humana.

Infelizmente, no período da pandemia do vírus da CO-


VID-19, o Brasil voltou ao Mapa da Fome, que havia
sido erradicada em 2014, segundo dados da Organiza-
ção das Nações Unidas (ONU). Nos últimos meses foi
possível visualizar cada vez mais pessoas em situação
de rua, bem como o aumento de trabalhos informais,
quando possíveis de existir. A falta de Políticas Públi-
cas de assistência para a população corrobora com um
dos piores cenários do nosso país.
Fonte da imagem: Folha
Para contribuir com a discussão a seguir, assista ao
Nascida em Sacramento (MG) em 1914, Carolina Maria vídeo ‘TENHO ORGULHO DE SER CATADORA DE RECI-
de Jesus foi uma importante escritora brasileira. Filha de CLÁVEIS’, que traz o depoimento de Anne Caroline,
analfabetos, começou a estudar aos 7 anos e precisou também conhecida como Anne Catadora.
largar a escola no segundo ano, mas aprendeu a ler e
escrever. Em 1937, sua mãe faleceu, e Carolina decidiu se
mudar para São Paulo (SP), onde construiu sua própria
casa utilizando madeira, papelão e outros materiais. Para
sustentar a família, ela saía à noite para coletar papel,
guardando revistas e cadernos antigos que encontrava.
Em suas folhas, Carolina escrevia sobre sua vida na favela
e seu dia a dia, somando mais de 20 cadernos com teste-
munhos de seu cotidiano. Um desses cadernos deu ori-
gem ao seu livro mais famoso, Quarto de Despejo, publi- Link para acesso: https://www.youtube.com/watch?
cado em 1960, traduzido para 13 idiomas e vendido em v=dFDhsNoyXcc
mais de 40 países. Carolina aspirava se tornar cantora e
atriz, mas faleceu em 1977, vítima de insuficiência respira-
tória. (Texto: Jarid Arraes)

Dica de filme: ANOTAÇÕES:


Estamira (2004) é um filme-documentário brasileiro so-
bre uma mulher de 63 anos – a mes-
ma que nomeia o longa-metragem –,
que trabalha há mais de 20 anos em
um aterro sanitário no Rio de Janei-
ro. Esquizofrênica, mas muito caris-
mática, ela é a líder de uma pequena
comunidade de idosos vivendo do
lixo e tem uma atitude muito lírica e
filosófica em relação à vida.

RODA DE CONVERSA

O texto de Carolina Maria de Jesus traz-nos uma perspecti-


va da realidade de grupos de pessoas marginalizadas e que
se encontram em situação de extrema vulnerabilidade so-
cial, tendo em vista que os seus direitos básicos não são
garantidos. Todo ser humano deve ter direito à moradia, à
saúde, à segurança, ao trabalho, à alimentação, à educa-

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_____________________________________________
A partir dos pontos elencados, discuta com as(os) _____________________________________________
colegas: _____________________________________________
_____________________________________________
• Quais são os grupos mais marginalizados em nossa _____________________________________________
sociedade? _____________________________________________
• Quais as condições que essas pessoas vivem ou sobre-
vivem? 3. Todo o corpo textual revela a condição de vida de
• Quais ações e/ou estratégias poderiam ser mobiliza- Carolina Maria de Jesus e seus filhos, a qual não lhes
das para suprir/sanar as necessidades dessas pessoas, era favorável, não havia facilidades, nem remunera-
dessas realidades? ção fixa que os ajudasse. Qual(is) é(são) o(s) trecho(s)
que evidencia(m) essa realidade?
Fique à vontade para construir outros questionamen- _____________________________________________
tos, bem como trazer outras reflexões para comparti- _____________________________________________
lhar com a sua turma. _____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
DESFIANDO O TEXTO
4. No início do texto, a escritora chama-nos a atenção
1. O texto aqui apresentado compõe a obra ‘Quarto de para um episódio, uma cena. Que episódio é esse? O
Despejo’, na qual a autora relata sobre o seu cotidiano de que gerou o conflito entre as personagens envolvi-
catadora e denuncia a desigualdade social, da qual era das?
vítima, e constantes ataques por parte de sua vizinhança. _____________________________________________
Percebemos que existe uma forma (estrutura) de apre- _____________________________________________
sentar o texto, de modo que o particulariza, qualificando _____________________________________________
o gênero. Que gênero é esse? Quais são as suas principais _____________________________________________
características? _____________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________ 5. Para ‘costurar’ o texto de modo a fazer sentido a
_________________________________________________ construção das frases e de parágrafos, a autora utiliza
_________________________________________________ -se de pronomes do caso reto e do caso oblíquo para
fazer referência a algo que já foi mencionado anteri-
2. O registro escrito do dia a dia de Carolina Maria de Je- ormente por ela. No trecho a seguir, identifique a
sus evidencia o vasto conhecimento de mundo que a es- quem se refere cada um dos pronomes em destaque.
critora tinha consigo, fruto de suas leituras de materiais
coletados, ao passo que revela também os poucos anos “[...] Quando retornava encontrei o senhor Ismael
de estudo. Dessa maneira, existem algumas expressões com uma faca de 30 centimetros mais ou menos. Disse
ou palavras da língua que foram utilizadas de forma dife- -me que estava a espera do Binidito e do Miguel para
rente das normas ortográficas da Língua Portuguesa, mas matá-los, que eles lhe expancaram quando ele estava
que não causam prejuízos ao texto ou ao entendimento embriagado.
do(a) leitor(a). Destaque e liste alguns desses vocábulos. Lhe aconselhei a não brigar, o crime não trás van-
Em seguida, apresente suas formas de acordo com as nor- tagens a ninguém, apenas deturpa a vida. Senti o chei-
mas ortográficas da nossa língua. Caso exista alguma pa- ro de álcool, desisti. [...]”
lavra ou expressão que não seja do seu conhecimento, _____________________________________________
registre, pesquise e escreva os seus possíveis significados. _____________________________________________
_________________________________________________ _____________________________________________
_________________________________________________ _____________________________________________
_________________________________________________ _____________________________________________
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ANOTAÇÕES:
2
A pandemia expõe de forma escancarada a desigualdade
social
Mônica Dias Martins

Fronteira entre os bairros de Paraisópolis e Morumbi, na cidade


de São Paulo

I. As maiores vítimas da pandemia são, inegavelmente, os


trabalhadores temporários e sub-remunerados, os que
vivem de atividades informais, os desempregados e os
sem teto por habitarem as áreas mais precárias das gran-
des cidades brasileiras. No Ceará, os dados mostram que
na capital Fortaleza, a taxa de mortalidade apresenta vari-
ações decorrentes das desigualdades socioeconômicas e
de moradia, sendo relativamente baixa nos casos do Mei-
relles (5%) e Fátima (11,9%) e bastante elevada na Barra do
Ceará (28,57%) e Jangurussu (21, 42%).

Apesar de haver muitas pessoas infectadas nos bairros


ricos, poucas morrem; as mortes são mais numerosas em
bairros populares, conjuntos habitacionais e favelas, en-
fim, no que chamamos de “periferias”. Nestes locais as
condições habitacionais e a infraestrutura são precárias,
faltam equipamentos urbanos e serviços básicos. Não
menos importante, os moradores destas áreas periféricas
e desassistidas pelo poder público sofrem preconceitos,
humilhações e, em decorrência, tem uma baixa autoesti-
ma. Essa dimensão subjetiva do cotidiano das famílias tra-
balhadoras agrava o quadro de pobreza, que não pode
ser medido apenas por estatísticas, embora estas sejam
valiosos instrumentos de análise, como mostra o Mapa a
seguir.
Alguns diriam: mas isso é Nordeste! Na verdade, podemos
observar o mesmo fenômeno da desigualdade na capital
paulista: no Morumbi, bairro nobre da burguesia, foram
registrados 297 casos positivos e 7 mortes, ao passo que
em Brasilândia, bairro de operários e imigrantes, os infec-
tados somavam 89 e os mortos 54 pessoas. Na grande
potência mundial, os EUA, está comprovada a alta inci-
dência da COVID-19 entre afro-americanos, conforme arti-
go recente de Jamelle Bouie, publicado no New York Ti-
mes.

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Este quadro desalentador é


agravado pela crise da saúde
pública, da falta de planeja-
mento, de recursos humanos
e financeiros, de pesquisa ci-
entífica, entre outros fatores.
De fato, o Sistema Único de
Saúde (SUS), devastado por
décadas de políticas neolibe-
rais, vem sendo demolido em
nome da eficiência do setor
privado e da rentabilidade
econômica da indústria farma-
cêutica, seus laboratórios e
hospitais. Reconhecer a atual
fragilidade do sistema de saú-
de pública ainda não é o bas-
tante para compreender a de-
sigualdade em tempos de co-
ronavírus.

II. Mas quem define o que é desigualdade social? Segundo relatório do Pro-
grama das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de dezembro de
2019, o Brasil é o sétimo país do mundo com maior desigualdade social
(índice de Gini de 0,533), apesar do Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) relativamente alto (0,761). Seria aceitável entender a desigualdade so-
cial medida apenas pelo IDH, cujos indicadores são renda, educação e longe-
vidade? Talvez, seja decorrente de comportamento individual: pobre tem
muito filho, é preguiçoso, não sabe poupar, investir etc.? Ou ainda uma casu-
alidade, um efeito indesejado do sistema econômico, uma falha passível de
ser corrigida com política públicas compensatórias?
Compartilho da concepção que a desigualdade é estrutural ao capitalismo,
sistema socioeconômico que descarta e incorpora características da socieda-
de de classes existente em meados do século XIX, no Ocidente. É uma rela-
ção social que nos exige responder: desigual em relação ao que e a quem?
A sociedade brasileira moderna, industrial, urbana do século XX tem raízes
na sociedade colonial, patriarcal, escravagista. O que mudou de fato no Brasil independente e republicano? Em
que medida se alterou a estrutura social estabelecida em que milhares de pessoas das classes trabalhadoras, em
especial indígenas e negras, são:

• relegadas a trabalho subalternos (agricultura, doméstico, construção civil),


• recusadas em atividades industriais (reservadas em parte aos imigrantes europeus) ou mais bem remuneradas,
• maltratadas como cidadãos de segunda classe,
• perseguidas em suas manifestações culturais e religiosas,
• violentadas em seus direitos,
• jogadas nas ruas (a população de rua é inviabilizada, nem sequer entra nas estatísticas demográficas cuja unidade é o
domicílio),
• encarceradas em massa (o Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo, em sua maioria composta de
jovens negros),
• submetidas ao genocídio, à chacina e ao extermínio.

Ao longo dos séculos, se construíram e consolidaram padrões sociais que vem pautando o comportamento pes-
soal e político da maioria da população brasileira. Se a sociedade não é democrática, mas extremamente desi-
gual, como ter um Estado democrático de direito? A igualdade é fruto de lutas por direitos, incluída nas constitui-

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ções no aspecto da formalidade jurídica. Na vida real, (Disponível em: https://www.clacso.org/a-pandemia-expoe-de-


existem muitas formas de desigualdade, umas às claras forma-escancarada-a-desigualdade-social/. Acesso em 04. ago.
outras disfarçadas com hipocrisia, por exemplo, o racis- 2021 às 09h15. Adaptado.)
mo. Os grandes esquecidos são os moradores de rua e
os presos! Sobre a autora:
Professora e coordenadora do Programa de Pós-
III. Graduação em Sociologia PPGS-UECE, Dra. Mônica Dias
No Brasil atual, a igualdade é uma quimera, uma mira- Martins, é também coordenadora do grupo de pesqui-
gem. O cenário se apresenta trágico: desemprego em sa Observatório das Nacionalidades, editora da revista
alta, precariedade do trabalho, salário achatado, desin- acadêmica Tensões Mundiais e membro do Conselho
dustrialização etc. Em meio a tantas incertezas, uma Diretor do CLACSO. Texto apresentado em videoconfe-
certeza: enquanto persistirem estes padrões de desi- rência sobre o tema Pandemia, Demografia e Desigual-
gualdade, são os trabalhadores, suas famílias e comuni- dade Social, promovida pela
dades que vão sucumbir à COVID-19. Estão sendo em- Secretaria de Ciência, Tecno-
purrados a uma escolha perversa e mentirosa entre a logia e Educação Superior do
atividade econômica, assegurando o alimento, ou o Estado do Ceará (SECITECE),
isolamento social, garantindo a sobrevivência. Mas que em 21 de abril de 2020.
economia se salva, quando não há mais trabalhadores
para fazê-la funcionar? O Brasil tornou-se laboratório
de um experimento totalitário neoliberal. É preciso
quebrar os padrões das desigualdades antes que nos
quebrem!

RODA DE CONVERSA
LEITURA:
‘MAIS DE 160 MILHÕES DE PESSOAS SÃO EMPUR- O texto aponta uma realidade do nosso país, que
RADAS PARA A POBREZA DURANTE A PANDEMI- se agravou nos dois últimos anos devido à pande-
A’ mia do vírus da COVID-19. O Brasil é um dos países que
Link para acesso: mais apresenta desigualdade social e isso se reflete em
https://almapreta.com/sessao/cotidiano/desigualdade-mata- diversos aspectos e esferas de nossa sociedade.
mais-de-160-milhoes-de-pessoas-sao-empurradas-para-a-
pobreza-durante-a-pandemia Para contribuir com a discussão, sugerimos alguns ví-
deos que permitem entender os conceitos e de quais
DICA DE FILME: maneiras as desigualdades sociais se caracterizam por
aqui.
Que horas ela volta? (2015) é um drama brasileiro que
ilustra a desigualdade social do país, representada por
meio da relação entre as personagens da mulher do- 1- ‘DESIGUALDADE SOCIAL: O QUE É?’
méstica Val, vivida por Regina
Casé, e sua empregadora Bárbara
(Karine Teles), mulher de classe
média alta. A partir dos contrapon-
tos de cada uma das realidades
apresentadas, é possível perceber
o abismo social no qual se funda
as relações de poder e oportunida-
des no Brasil.
O filme Parasita (2019) também é Link para acesso: https://
uma ótima indicação sobre a temática da desigualda- www.youtube.com/watch?
de de classe. Quanto às perspectivas de gênero e ra- v=MdFkCbfizAM
ça, o longa-metragem Estrelas Além do Tempo (2016)
é uma ótima pedida.

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2. ‘DESIGUALDADE RACIAL NO BRASIL- 2 MINUTOS pela autora Conceição Evaristo, tido como um dos
PARA ENTENDER!’ mais importantes romances me-
morialistas da literatura contem-
porânea brasileira. Conceição tra-
duz, a partir de seus muitos perso-
nagens, a complexidade humana e
os sentimentos profundos dos
que enfrentam cotidianamente o
desamparo, o preconceito, a fome
e a miséria; dos que a cada dia têm
a vida por um fio. Sem perder o
Link para acesso: https://www.youtube.com/watch? lirismo e a delicadeza, a autora
v=ufbZkexu7E0
discute, como poucos, questões
profundas da sociedade brasileira.
3. ‘AS ESTATÍSTICAS QUE REVELAM A DESIGUALDADE
RACIAL NO BRASIL E NOS EUA’ (Fonte do texto: Amazon)

ANOTAÇÕES:

Link para acesso: https://www.youtube.com/watch?


v=d45Woc456DY

4. ‘IGUALDADE DE GÊNERO’

Link para acesso: https://www.youtube.com/watch?


v=ZCGLC-vziRc

5. 'CLASSES SOCIAIS: POR QUE TODA ESSA DESIGUAL-


DADE?’

DESFIANDO O TEXTO
Link para acesso: https://www.youtube.com/watch?
v=fMspc9AtDpA 1. O texto apresentado pela professora Dra. Mônica
Dias tem um tom formal ou informal? O que nos faz
Ainda sobre a desigualdade social no Brasil, suge- perceber isso em relação à estrutura do texto?
rimos a leitura do livro ‘Becos da Memória’, escrito ______________________________________________

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_______________________________________________ ANOTAÇÕES:
_______________________________________________
_______________________________________________

2. Embora o texto passe-nos a impressão de que há uma


subjetividade implícita por parte da autora em sua com-
posição, a linguagem e o tratamento dado às informa-
ções perfazem um caminho inverso. De que maneira é
possível perceber isso? Como são apresentadas as in-
formações apontadas pela autora? Comente.
_______________________________________________
_______________________________________________
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_______________________________________________
_______________________________________________
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3. Qual é a temática principal explorada pelo texto?


Qual a tese sustentada pela autora?
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_______________________________________________
_______________________________________________
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_______________________________________________
_______________________________________________
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_______________________________________________

4. Que relação é possível de estabelecer entre a primei-


ra imagem (Fronteira entre os bairros de Paraisópolis e
Morumbi, na cidade de São Paulo) e a temática aborda-
da pelo texto? Disserte.
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________

5. Ao longo do texto, é possível perceber uma marca-


ção (posicionamento) da presença da autora que o
compôs. Nesse sentido, destaque o(s) trecho(s) que
revela(m) a participação da professora no texto.
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Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 14


SD01 - Manual do Estudante

Rebeca aterrissa nas tripas de Borba Gato

A superação é a narrativa da Casa-Grande para encobrir a falta de políticas públicas para aqueles que o Brasil mantém
na Senzala

A ginasta Rebeca Andrade depois de receber a medalha de ouro em Tóquio .LINDSEY WASSON/REUTERS

Eliane Brum
03 AGO 2021 - 18:18 BRT

Rebeca é linda e, além de linda, Rebeca voa. Evocou o melhor do Brasil num momento em que o Brasil exibe
todas as suas tripas em praça pública, a começar por Jair Bolsonaro, nascido e criado nos intestinos do país que
mais longe levou a escravidão e o genocídio continuado dos pretos e dos indígenas. Me alegro com Rebeca e tudo
o que ela representa: a menina negra criada na favela por uma mãe solo que alcançou a medalha olímpica ao som
de funk, apesar de ter toda a estrutura de um país contra ela. E fez tudo isso no momento em que o Brasil que tem
vergonha — tem vergonha de si mesmo. É maravilhoso e precisamos muito de beleza. Mas sinto incômodo com a
narrativa da “superação” e sobre como a “glória” de Rebeca pode estar sendo usada, em muitos casos com boa
intenção, para encobrir as tripas. Ou para encobrir que o Brasil ainda é muito mais de Borba Gato do que de Rebe-
ca. Enquanto Rebeca voava como exceção, a violência corria solta na senzala que o Brasil nunca deixou de ser e,
com Jair Messias Bolsonaro, ampliou o sangue no chão.
De modo algum quero reduzir a realização de Rebeca. Ela fez uma enormidade. E ter uma menina preta da
favela fazendo enormidades é uma mensagem poderosa para outras meninas pretas e um recado certeiro para o
Brasil escravagista. Mas a narrativa de superação é prima-irmã da narrativa da meritocracia. Ela enaltece o indiví-
duo que teria conseguido por seu próprio esforço pessoal um feito extraordinário, uma espécie de milagre indivi-
dual do herói, no caso a heroína, que vence todas as adversidades por uma extraordinária força de vontade. Em
mais de 30 anos como jornalista, nunca vi nenhum ser humano assim, nem mesmo os considerados gênios. É claro
que há méritos pessoais, mas eles só se realizam porque por algum caminho houve oportunidades. Certamente um
perfil à altura da vida de Rebeca, de sua família e de seu país vai mostrar as oportunidades e encontros decisivos
que Rebeca teve na vida e contextualizar sua realização no campo do coletivo e da partilha, da comunidade e dos
(escassos) programas de Governos.
O que quero dizer é que não acredito em superação, acredito em políticas públicas. Sempre que se louva o
indivíduo como produto de si mesmo, se enaltece o capitalismo que produz uma desigualdade tão abissal que nega
à maioria das meninas negras a chance até mesmo de se alimentar de forma saudável. A narrativa da superação
comete ainda uma violência adicional contra os já tão violentados, a de que poderiam ter sido Rebeca se tivessem
se esforçado mais, a de que mães sozinhas, às voltas com o sustento e os filhos, aviltadas de tantas formas, teriam
“produzido” Rebecas se tivessem se dedicado mais. Também por Rebeca e por tudo o que ela representa, porque
representa, essa narrativa feita seguidamente em nome do bem precisa ser colocada abaixo como as estátuas dos
assassinos. Não devemos usar Rebeca contra todas as Rebecas. Nem mesmo quando precisamos muito de boas
notícias e de redenção.
E, assim, obrigatoriamente, precisamos falar da estátua de Borba Gato. Apenas alguns dias antes do salto de

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 15


SD01 - Manual do Estudante

Rebeca, Paulo Lima, conhecido como Galo, e outros ativistas botaram fogo na estátua do bandeirante Borba Gato,
em São Paulo. Realizaram o ato em nome da “Revolução Periférica”, duas palavras que colocadas juntas assustam
bastante a minoria mais rica do Brasil. Galo é a liderança mais interessante surgida no Brasil urbano do centro-sul
nos últimos anos. Articulador do movimento dos entregadores antifascistas, “preto e pobre”, Galo representa os
mais aviltados entre os aviltados pelo capitalismo contemporâneo, que assumiram particular protagonismo no mo-
mento em que fizeram a ponte entre aqueles que podiam fazer home office, durante a pandemia, e os supermerca-
dos, as lojas, as farmácias, os restaurantes etc., cortando as cidades e arriscando-se nas ruas e avenidas infectadas
pela covid-19 como um exército de escravos de um mundo distópico. São também eles a fazer o corte entre a su-
posta redenção tecnológica dos apps e mostrar que ela nada mais é do que uma nova fase da exploração do corpo
dos trabalhadores. Além de todo o conteúdo político do movimento, esse grupo de motoboys colocou-se frontal-
mente contra o fascismo no Brasil.
A repercussão ao incêndio da estátua de Borba Gato tirou a máscara mesmo de quem a usou corretamente
durante a pandemia e revelou todo o conservadorismo das elites brasileiras, mesmo as intelectuais. E de várias ma-
neiras, das mais explícitas às mais sutis. Anunciar-se como antirracista, sim, mas botar fogo numa estátua, mesmo
que a estátua homenageie, na figura de Borba Gato, os bandeirantes que destruíram, escravizaram e mataram ne-
gros e indígenas a partir do século 16, isso não. Não porque é arte, não porque seria o mesmo que negar a história,
não porque supostamente colocaria pessoas em risco, todos esses argumentos foram enfileirados de forma ele-
gante. Não porque tudo isso precisaria ser discutido publicamente, como se vários grupos e parlamentares não
estivessem tentando fazer isso há anos, sem sucesso. Não pelas mais variadas razões. E, como de hábito, houve
quem afirmasse que os ativistas não entendem nada de história porque Borba Gato nem seria tão ruim assim. O
último argumento a ser lançado como pedra é sempre o da ignorância dos protagonistas que ousaram agir sem
pedir autorização ou consultoria a quem realmente entende de História, assim, com “H” maiúsculo.
O espanto não deveria ser provocado pelo ato de incendiar a estátua de Borba Gato, mas pelo fato de que ela
continua lá, depois de tudo. Antes de seguir, preciso dizer algo sobre o fogo. Na Amazônia, o fogo é instrumento
dos destruidores. O fogo criminoso queima a floresta, incinerou grande parte do Pantanal, incendiou as casas e as
ilhas de ribeirinhos expulsos pela hidrelétrica de Belo Monte e, neste momento, tem incendiado as casas de lide-
ranças indígenas e camponesas, ateado pelas milícias armadas dos grileiros, base de Bolsonaro na floresta. Não
gostamos do fogo que queimou o Museu da Língua Portuguesa (agora finalmente reinaugurado) nem do fogo que
queimou o Museu Nacional nem do fogo que há pouco queimou a Cinemateca, estes sim incêndios criminosos, pa-
trimônio público deixado para queimar. Não gostamos de fogo, mas não serei eu a dizer como aqueles que têm a
história gravada a ferro — e fogo — no corpo devem lutar. O que quero dizer é que, na Amazônia, sabemos muito
bem que, no fogo contra fogo, é sempre o mesmo lado que acaba queimado porque, no Brasil, a matéria morta
das estátuas vale mais do que a carne viva dos negros e dos indígenas.
Este é outro ponto do nó. Borba Gato pegou fogo, mas quem queimou foi Galo. Ele assumiu a autoria do ato e
foi preso. Sua mulher, que estava em casa quando a manifestação política foi realizada, chegou a ser presa e só
depois foi libertada. A prisão é agora uma violência a mais em seu corpo preto. No momento em que este texto é
publicado, Galo segue preso. O clamor para que Galo seja solto é muito menor do que deveria porque a maioria
dos que costumam se declarar antirracistas querem que aqueles que lutem o façam com boas maneiras. Queimar
estátuas seria de mau gosto porque, em alguma camada subconsciente, quem tem privilégios tem medo de até
onde pode chegar o fogo. Então, por favor, vamos discutir tudo isso ao redor de uma mesa enquanto você segue
arriscando o seu corpo e eu o compenso com uma boa gorjeta.
No lado oposto, também há um problema. Como posso dizer ao Galo o quanto seu gesto foi extraordinário se
não é o meu corpo que está em risco, mas sim o dele. Penso que é necessário ter cuidado quando quem vai preso é
o outro. Se vou dizer a ele que, sim, que gesto histórico ele fez, preciso estar disposta a botar meu corpo ao lado
do dele, a dividir a prisão com ele. E a questão é que, sendo branca de classe média, isso jamais vai acontecer. Ou
jamais vai acontecer como acontece com ele. O meu risco é infinitamente menor do que o do Galo. Então, não bas-
ta bater palmas a ele. Se é para de fato se colocar ao lado de Galo na luta contra os Borbas Gatos contemporâneos,
num estado em que a sede do Governo se chama Palácio dos Bandeirantes, é preciso que estejamos dispostos a
pagar o preço de protegê-lo das arbitrariedades que virão. O que quero dizer é que não dá para fazer rebelião com
o corpo dos outros.
Um dia antes de Rebeca Andrade ganhar a primeira medalha de prata olímpica da ginástica artística brasileira
nasceu Suzi, uma menina também preta. Ela foi arrancada dos seios de sua mãe preta logo que saiu do útero, no
Hospital Universitário, em Florianópolis, porque o Conselho Tutelar decidiu que Andrielle Amanda dos Santos não
tem condições de criá-la. Adrielle tem apenas um ano a menos que Rebeca, chegou a viver na rua e usar drogas,
perdeu uma filha ainda bebê e perdeu a tutela de duas outras. Segundo reportagem do portal Catarinas, ela foi hu-

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 16


SD01 - Manual do Estudante

milhada durante o parto e impedida de seguir amamentando Suzi, que seguirá para uma instituição. Quando ten-
tou vê-la, disseram que as visitas estavam proibidas. Também os avós paternos foram impedidos de registrar o be-
bê. “Na senzala, levavam as nossas crianças. Daí, os nossos seios, cheios de leite, foram romantizados, e vejam só,
nos chamaram de mães de leite, de mães pretas, apesar das nossas crianças ancestrais terem sido vendidas, se-
questradas”, escreveu em suas redes sociais a professora e intelectual Jeruse Romão. A retirada da filha dos bra-
ços da mãe é considerada por movimentos sociais que apoiam Andrielle como um sequestro pelo Estado baseado
em racismo institucional.

No domingo em que Rebeca fez o salto que a colocou no ponto mais alto do pódio olímpico, Galo estava na
prisão por queimar uma estátua que celebra a escravidão e o extermínio dos corpos dos ancestrais de Rebeca, uma
estátua que celebra o avanço sobre a natureza em busca de ri-
quezas como o ouro da medalha de Rebeca. Uma estátua que
continua lá. Suzi e Andrielle estavam apartadas, a filha preta am-
putada da mãe preta como nos tempos da senzala. Em vez de
políticas públicas para amparar a mãe em dificuldades, sequestro
institucional. Sim, o salto de Rebeca é lindo e significa, mas não
há nenhuma superação. O Brasil segue esmagando os mesmos
corpos, queimando os mesmos corpos, atravessando à bala os
mesmos corpos. Não aviltemos Rebeca e seu salto forjando uma
mistificação redentora que é só isso mesmo, mistificação. Para
cada Rebeca que salta, há milhões de outras agarradas pelas per-
nas para que não possam saltar e violentadas de várias maneiras,
Estátua em homenagem ao bandeirante Borba Gato, em São até mesmo quando dão à luz a suas filhas pretas.
Paulo, danificada após incêndio. LELA BELTRÃO Borba Gato não é uma estátua à toa. Ela segue lá porque represen-
ta. Quem está na cadeia não são seus sucessores contemporâneos,
mas aquele que, em legítima defesa, reagiu a tudo o que os bandeirantes e a exaltação a eles representam. Quem
está na cadeia são os que sempre estiveram na cadeia. Quem está morrendo é quem sempre foi assassinado. Bor-
ba Gato está tão vivo quanto sempre e sua mais mal acabada versão é hoje presidente do Brasil. Se Rebeca conse-
guiu saltar é por representar séculos de resistência contra todas as formas de morte promovidas e apoiadas pelo
Estado brasileiro e suas elites. Não há redenção. Não há superação. Não há meritocracia. Há luta. E há luto. E o luto
tem a cor de Rebeca.
(Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2021-08-03/rebeca-aterrissa-nas-tripas-de-borba-gato.html. Acesso em 04. ago.
2021 às 11h10.)

Sobre a autora: DICA DE FILME:

Eliane Brum é escritora, repórter M8 - Quando a Morte Socorre a Vida (2019) é


e documentarista. Autora de sete um longa-metragem que traz a história de
Maurício, um jovem negro, que começa a
livros, entre eles ‘Brasil, constru- estudar na renomada Universidade Federal
tor de ruínas: um olhar sobre o de Medicina. Em sua primeira aula de anato-
país, de Lula a Bolsona- mia, ele conhece M8, o cadáver que servirá
ro’ (Arquipélago). de estudo para ele e os amigos. Durante o
semestre, o mistério da identidade do corpo
só pode ser desvendado depois que ele en-
Fonte da Imagem: El País
frentar suas próprias angústias.

Texto 01
RODA DE CONVERSA

Para esse momento, propomos uma reflexão a partir


dos textos a seguir.

Arte: Dinelli (Fonte: Instagram/@1dinelli)

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 17


SD01 - Manual do Estudante

Texto 02 Texto 04

[...] ‘MOÏSE KABAGAMBE: O QUE SE SABE SOBRE A MORTE


A carne mais barata do mercado é a carne negra DO CONGOLÊS NO RIO’
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra Link para acesso:
A carne mais barata do mercado é a carne negra https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/01/31/moise-
kabamgabe-o-que-se-sabe-sobre-a-morte-do-congoles-no-rio.ghtml
(Só serve o não preto)
A partir da leitura dos textos elencados, discuta com as
Que vai de graça pro presídio
(os) colegas:
E para debaixo do plástico
Que vai de graça pro subemprego
• Que relação de intertextualidade faz-se possível
E pros hospitais psiquiátricos [...]
entre a letra da canção (Texto 02) e o Texto 03?
• O que, em seu ponto de vista, corrobora para que
Trecho da canção ‘A CARNE’, inter-
crimes de racismo como este continuem aconte-
pretada brilhantemente pela can-
cendo no Brasil?
tora e compositora Elza Soares,
• É possível perceber resquícios de uma herança es-
que faleceu no dia 20 de janeiro de
cravocrata no Brasil de hoje? De qual(is) maneira
2022, aos 91 anos de idade. Ela
(s)?
usou da potência de sua voz para
• É direito de alguém submeter outro ser humano a
reivindicar espaços e lutar pelos
maus-tratos, tortura ou qualquer outro tipo de vio-
direitos das pessoas pretas, mulhe-
lência - como a morte - em detrimento de sua cor?
res e pessoas LGBTQIAP+, dentre Fonte: 29horas.com.br/
tantas outras comunidades.

Texto 03 ANOTAÇÕES:

[...]
Qual o valor de uma vida negra?
Moïse estava empregado em um quiosque na praia da
Barra no Rio de Janeiro, trabalhava durante muitas horas
e recebia pouco, situação essa vivenciada por milhares
de pessoas nesse país, e principalmente ao povo negro,
povo esse que por conta do racismo estrutural está sujei-
to aos subempregos, povo esse que trabalha por jorna-
das exaustivas porque no final do dia precisa alimentar
sua família.
Moïse foi espancada até a morte pura e simplesmente
porque cobrou o pagamento de duas diárias que não ha-
via recebido, dinheiro esse que era fruto de seu trabalho,
trabalho esse mal remunerado e realizado em más condi-
ções, mas que era feito porque era a única opção para
ele naquele momento.
Moïse deixa sua família, amigos, e principalmente sua
mãe, e não há nada no mundo que recupere a perda de
um filho.
Hoje uma mãe preta chora pela perda de seu filho.
Amanhã, outras milhares de mães chorarão também.
Qual o valor da sua vida? Quanto vale o sonho de um jo-
vem negro congolês de 24 anos? DESFIANDO O TEXTO
Bom, duas diárias… Eu acho.
1. O texto aqui apresentado provoca algumas refle-
(Disponível em: https://www.geledes.org.br/a-carne-mais-barata-do- xões acerca do cenário brasileiro, mesclando situações
mercado-continua-sendo-a-carne-negra/. Acesso em: 03 de fev. 2022.
diferentes, mas que encontram pontos em comum de
Adaptado.)
nossa realidade e contexto histórico. Percebemos que

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 18


SD01 - Manual do Estudante

existe uma configuração (estrutura) textual para apre-


ANOTAÇÕES:
sentar as informações, de modo que o singulariza em
relação aos demais gêneros de texto. Que gênero é es-
se? Quais são as suas principais características?
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2. É possível perceber na tessitura do texto a mistura de


fatos e pontos de vista e modalizações da escritora. Nes-
se sentido, destaque a seguir:

a) os fatos trazidos pela autora para ancorar (sustentar)


sua argumentação:
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b) os pontos de vista e impressões da autora para cons-


truir (defender) sua argumentação:
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3. Nessa “espécie” de texto, por assim dizer, é possível


também sensibilizar as/os interlocutoras/es (leitores/as)
a respeito da(s) temática(s) abordada(s). Nesse sentido,
que temática é abordada por analogia no excerto: “Se
Rebeca conseguiu saltar é por representar séculos de
resistência contra todas as formas de morte promovidas
e apoiadas pelo Estado brasileiro e suas elites. Não há
redenção. Não há superação. Não há meritocracia. Há
luta. E há luto. E o luto tem a cor de Rebeca.”? Comente
sua resposta.
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4. Que relação se faz possível entre esse texto e o relato


do diário pessoal de Carolina Maria de Jesus? Explore as
possibilidades em sua resposta.
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SD01 - Manual do Estudante

4
TEXTO I —————————
Sobre a autora:
Existe a pandemia e o pandemônio
E a gente sabe muito bem quem é.
Aquele que faz pouco caso pras mortes
e justifica usando a fé.
A tua falta de respeito com a população brasileira me
consome
Ano passado, por causa dos teus desejos mimados,
Mais de 19 milhões de brasileiros passaram fome.
Você tem noção do descaso?
Não tem vacina no braço, nem comida no prato.
Apenas uma febre: que esse corona não nos leve
E uma vontade danada que o diabo carregue essa má
condução.
País que não se cuida do povo pobre
O estômago cola no chão. Fonte da imagem: Arquivo pessoal da cantora
Ah, é! Deus! Tem muito mais que um vírus querendo me (Instagram)
matar:
Ou de fome, ou de sede, o desejo do rico é fazer o po- Cantora, compositora, poetisa e rapper, Bianca Mani-
bre cada vez mais pobre ficar. congo, também conhecida por seu nome artístico Bi-
E, eu te peço, por todas as mães brasileiras que não po- xarte, é bicampeã estadual do Slam da Paraíba, finalista
dem parar o corre do Slam Brasil e ganhadora do Festival de Música da
Se correr, covid pega; se ficar, de fome morre. Paraíba. Aos 18 anos, lançou seu primeiro trabalho mu-
Quantas famílias vão precisar ser dilaceradas para essa sical, chamado "Revolução". E, aos 19, suas mixtapes
vacinação acelerar, "Faces" e "Faces Remix". Além de levar temas relacio-
Enquanto você brinca de ser político? nados à periferia e pretitude para as suas composições,
Tem um plano de extermínio indígena para vocês termi- Bixarte faz de sua vivência, enquanto pessoa trans, de-
narem de executar, né? núncia e reivindicação social por meio de sua voz.
Sônia Guajajara, nós não vamos te abandonar!
Se o penhor dessa igualdade conseguimos conquistar
de braço forte,
Pra o Brasil voltar a sorrir
É impeachment nele e vacina no braço para brecar a
morte.*

*Texto transcrito do Slam em vídeo publicado por Bixar-


te em sua página no Instagram em o2 de maio de 2021.

(Disponível em: https://www.instagram.com/tv/


COYc4uqDDe9/. Acesso em 05. ago. 2021 às 16h.)
Para assistir ao vídeo, aponte a câmera do seu celular
para o Código QR a seguir:

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 20


SD01 - Manual do Estudante

TEXTO II ————————— de poesias passam por etapas ao longo do ano, de fevereiro


a novembro, são compostos de três rodadas e o vencedor,
Slam: literatura e resistência! escolhido por cinco jurados da plateia, é premiado com li-
vros e participa do Campeonato Brasileiro de Slam (Slam
Josi de Paula Br). O poeta vencedor dessa etapa competirá na Copa do
Mundo de Slam, realizada todo ano em dezembro, na Fran-
ça. (...)
O que é slam? Cynthia Agra de Brito salienta que os slammers querem
O slam é uma competição de poesia falada criada nos ser “considerados escritores como quaisquer outros auto-
Estados Unidos por Marc Smith, mais especificamente em res nacionais”, pois essa literatura “marginal e periférica”
Chicago nos anos 1980 e trazido ao Brasil em 2008 por Ro- rompe com a linguagem culta e incomoda quem apenas
berta Estrela D’Alva. valoriza parâmetros tradicionais literários. O slam é um gri-
to, atitude de “reexistência”, termo criado com a fusão das
Originário do inglês, o termo slam quer dizer batida.
palavras existência e resistência, de acordo com a professo-
Algo semelhante a uma pancada. No entanto, resumir essa
ra Ana L. S. Souza. O artigo ressalta também a importância
palavra a apenas um significado é uma tarefa difícil porque de se levar os slams para as escolas, na medida em que for-
qualquer descrição que se faça nunca dará conta da amplitu- ma alunos leitores e escritores conscientes, dispostos a rei-
de que essa vertente da cultura urbana alcançou nem do vindicarem mudanças educacionais e sociais.
impacto que ela tem na vida de inúmeras pessoas.
Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-humanas/slam-
As batalhas de poesia falada seguem algumas regras:
e-voz-de-identidade-e-resistencia-dos-poetas-contemporaneos/.
poesias autorais de até três minutos sem a utilização de ob- Acesso em: 05 de ago. 2021 às 17h)
jetos cênicos e sem acompanhamento musical. Corpo e voz
são elementos fundamentais! As notas são dadas por um júri
popular que é escolhido no momento da competição. Esta
DICA DE FILME:
normalmente ocorre em três fases: geral, semifinal e a final,
que revela o poeta vencedor daquela edição. A Morte e Vida de Marsha P. Johnson
(2017) é um documentário sobre o legado
Num slam são recitadas poesias de temas livres, mas
político deixado por Marsha P. Johnson,
verifica-se, ao longo do tempo, que grupos historicamente
estrela da TV norte-americana e lendária
excluídos vêm se utilizando dessa expressão artística como
figura do gueto gay de Nova York, conheci-
forma de reivindicar seus lugares de direito, de dar visibilida-
de às suas lutas e se colocar como protagonistas de suas da por muitos como a "Rosa Parks do mun-
próprias histórias. do LGBT". Ao lado de Sylvia Rivera, Marsha
foi a responsável por fundar a Transvesti-
tes Action Revolutionaries, um grupo de
TEXTO III ————————— ativistas trans do país. Boa parte das filmagens ocorre enquan-
to a ativista Victoria Cruz investiga a morte de sua amiga Mars-
“Slam” é voz de identidade e resistência dos poetas ha P. Johnson, em 1992, ao enfrentar uma onda de violência
contemporâneos contra mulheres trans.

Cynthia Agra de Brito Neves (Fonte do texto: Adoro Cinema/Netflix. Adaptado.)

A poesia falada e apresentada para grandes platei-


as não é um fato novo, porém, a grande diferença é RODA DE CONVERSA
que hoje a poesia falada se apresenta para o povo e
não para uma elite — estamos falando da poesia slam. Já conversamos sobre algumas das desigualdades sociais que
(...) assolam nosso país, como as desigualdades de classe e raça,
A poetry slam, também chamada “batalha das le- destacadas anteriormente. Nesse bloco, trazemos como foco
tras”, tornou-se, além de um acontecimento poético, um olhar sobre a pluralidade de gêneros da diversidade hu-
um movimento social, cultural e artístico no mundo mana, abordando a luta histórica por direitos em detrimento
todo, um novo fenômeno de poesia oral em que poe- da exclusão de oportunidades e a violência sofrida pela popu-
tas da periferia abordam criticamente temas como ra- lação LGBTQIAP+.
cismo, violência, drogas, entre outros, despertando a
plateia para a reflexão, tomada de consciência e atitu- Para tanto, propomos a visualização e leitura de alguns mate-
de política em relação a esses temas. Os campeonatos riais que irão ajudar na reflexão dos pontos aqui elencados.

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 21


SD01 - Manual do Estudante

1. ‘VEREADORAS TRANS NO BRASIL ENFRENTAM RO- A) Lei Estadual n° 7.309/2003 e seu regulamento,
TINA DE PRECONCEITO, AMEAÇAS E VIOLÊNCIA’ Decreto nº 27.604/2006, proíbem e punem atos de
discriminação em virtude de orientação sexual;

B) Lei Estadual n° 10.895/2017, que dispõe sobre a


obrigatoriedade de afixação de cartaz em estabe-
lecimentos comerciais e órgãos públicos, infor-
mando que a Lei Estadual nº 7.309/2003 proíbe e
pune atos de discriminação em virtude de orienta-
ção sexual e dá outras providências.

• O que você, estudante, compreende sobre o te-


ma Educação Sexual na Escola? Você considera
Link para acesso: https://globoplay.globo.com/ importante abordar essa temática?
v/9559680/
• Por que mulheres ainda são minoria em espaços
políticos e em frentes de trabalho?
2. ‘SEIS EM CADA 10 PESSOAS LGBTQIA+ PERDERAM
• Por que mulheres não ocupam tantas posições
RENDA OU EMPREGO NA PANDEMIA’
de destaque, embora sejam a maior parte da po-
Link para acesso: https://www.cnnbrasil.com.br/business/seis-em-
pulação?
cada-10-pessoas-lgbtqia-perderam-renda-ou-emprego-na- • Por que as mulheres recebem salários inferiores
pandemia/ aos dos homens, ainda que ocupem cargos supe-
riores ou iguais a eles?
3. ‘FORA DE CASA: A VIDA DOS LGBTIs EXPULSOS PE-
LA FAMÍLIA E ACOLHIDOS NAS RUAS’

Link para acesso: https://casavogue.globo.com/Arquitetura/Cidade/ ANOTAÇÕES:


noticia/2020/06/fora-de-casa-vida-dos-lgbtis-expulsos-pela-familia-e-
acolhidos-nas-ruas.html

4. ‘#PORQUEMULHER GANHA MENOS | EPISÓDIO 7 -


NUNCA TE PEDI NADA’

Link para acesso: https://www.youtube.com/


watch?v=TQF1EKvSXHM

Para contribuir com a reflexão deste tópico, alguns


pontos:

• Qual(is) é(são) a(s) possível(is) raiz(ízes) do pre-


conceito em relação ao gênero e à orientação
sexual das pessoas, principalmente àquelas que
são LGBTQIAP+?
• Por que o reconhecimento da diversidade de
identidades de gênero e de orientação sexual
promove tanta discussão?
• De que modo é possível garantir acesso e condi-
ção de vida para pessoas LGBTQIAP+?
• O que você acha das seguintes Leis Estaduais:

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 22


SD01 - Manual do Estudante

DESFIANDO O TEXTO 4. De acordo com o slam da cantora Bixarte, é possível


inferir que o texto promove um discurso a favor ou
1. Analisando a composição textual da escritora e contra o atual presidente da República? Justifique sua
slammer Bixarte, como podemos perceber a presença resposta com trecho(s) do texto.
das características pontuadas por Josi de Paula e _____________________________________________
Cynthia Agra em seus textos? _____________________________________________
_____________________________________________ _____________________________________________
_____________________________________________ _____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
5. É possível perceber no slam algumas elaborações
discursivas que imprimem um efeito de ironia, provo-
2. A temática trabalhada por Bixarte em sua declama- cando a crítica pretendida pela cantora. Destaque-as.
ção tem a ver com as temáticas abordadas ao longo _____________________________________________
dessa sequência didática, presentes nos textos de Ca- _____________________________________________
rolina Maria de Jesus, Mônica Dias e Eliane Brum. Que _____________________________________________
temática é comum a esses textos? Disserte a respeito _____________________________________________
de sua resposta. _____________________________________________
_____________________________________________ _____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
ANOTAÇÕES:::
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________
_____________________________________________

3. Por tratar-se de uma poesia falada, o texto apresen-


ta diversas marcas da oralidade, sejam elas ortográfi-
cas (relacionadas à escrita/pronúncia de algumas pala-
vras), ou utilização de gírias, expressões comuns à
fala oral e a algumas comunidades de fala. No verso 16
é apresentada a expressão linguística “o corre” que,
aparentemente, não tem relação de sentido
(significado) com o verbo “correr”, posto no verso 17.
Contextualmente, qual(is) significado(s) é(são) possí-
vel(is) de atribuir a essa expressão? Comente sua res-
posta.
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Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 23


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TEXTO II

QUESTÃO 01.
Leia os textos para responder a questão abaixo:

TEXTO I
In: CEREJA, William Roberto. Português: linguagens, 9º. Ano. São
A moda e a publicidade
Paulo: Atual, 2006.
Ana Sánchez de la Nieta
Comparando os dois textos, pode-se dizer que tratam do
[...]
mesmo tema, porém
Se antes os ídolos da juventude eram os desportistas
e os atores de cinema, agora são as modelos. [...]. Se, no
(A) o texto 1 informa sobre o problema da anorexia e o 2,
passado, as mulheres queriam presidir Bancos, dirigir em-
de forma humorística, faz uma crítica à magreza das mo-
presas ou pilotar aviões, hoje muitas só sonham em desfi-
delos.
lar pela passarela e ser capa da “Vogue”.
(B) o texto 1 critica as modelos por seguirem a civilização
A vida de modelo apresenta-se para muitas adolescen-
da imagem e o 2 defende a perspectiva da civilização da
tes como o cúmulo da felicidade: beleza, fama, êxito e
imagem.
dinheiro. [...]
(C) o texto 1 defende as modelos que sofrem de anorexia
[...] Os aspectos relacionados com o físico são engran-
e o texto 2 indica os problemas mais comuns das mode-
decidos. Esta é uma constante da chamada civilização da
los.
imagem, imperante na atualidade. [...] O tipo de atração
(D) o texto 1 explica os problemas decorrentes da anore-
que hoje impera é o de uma magreza extrema. Esta é a
xia e o texto 2 elogia a magreza extrema das modelos.
causa principal de uma enfermidade que ganha cada vez
mais importância na adolescência: a anorexia, uma per-
QUESTÃO 02.
turbação psíquica que leva a uma distorção, a uma falsa
Leia os textos abaixo.
percepção de si mesmo. Na maioria dos casos, esta enfer-
midade costuma começar com o desejo de emagrecer. Se
TEXTO I
alguém se julga gordo sente-se rejeitado por esta razão.
Vaca Estrela e boi Fubá
Pouco a pouco deixa de ingerir alimentos e perde peso.
Patativa do Assaré
No entanto, a pessoa continua a considerar-se gorda,
persiste a insegurança e começa a sentir-se incapaz de
Eu sou filho do Nordeste, não nego meu naturá
comer. Esta enfermidade leva a desequilíbrios psíquicos
Mas uma seca medonha me tangeu de lá pra cá
que podem acompanhar a pessoa para o resto da sua
Lá eu tinha o meu gadinho, num é bom nem imaginar,
vida e em não raras ocasiões provoca a morte.
Minha linda Vaca Estrela e o meu belo Boi Fubá
Quando era de tardezinha eu começava a aboiar
Fonte: http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo346.shtml
Ê ê ê ê la a a a a ê ê ê ê Vaca Estrela,
Ô ô ô ô Boi Fubá.

Disponível em: http://letras.terra.com.br/jovens-


talentos/448501/. Fragmento.

TEXTO 2

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 24


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A Triste Partida (A) Discursa no plenário.


Luíz Gonzaga (B) Opta pelo lado animal e não pelo humano.
(C) A corrupção veste terno e gravata.
...Sem chuva na terra (D) A indiferença anda pelas ruas.
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro Y) O que a autora quer dizer com “engorda o próprio
E o mesmo verão salário”?
Meu Deus, meu Deus
Entonce o nortista (A) Os políticos aumentam, por conta própria, os seus
Pensando consigo salários.
Diz: “isso é castigo (B) São obesos porque se alimentam com exageros.
não chove mais não” (C) Seus salários precisam de reajustes.
Ai, ai, ai, ai (D) Todas estão corretas.
Apela pra Março
Que é o mês preferido Z) Quando a autora diz “A indiferença anda pelas ruas”,
Do santo querido ela quer dizer que:
Sinhô São José...
(A) As pessoas não são indiferentes às causas sociais.
Disponível em: http://letras.terra.com.br/luiz-gonzaga/82378/. (B) A sociedade não se compromete com os problemas
Fragmento. do país.
(C) A população é solidária com o seu próximo.
Esses textos falam sobre (D) Nossos dirigentes estão atentos ao social.

(A) a vegetação do nordeste. QUESTÃO 04. (SEDUC/MA - Adaptada)


(B) a seca do nordeste.
(C) o clima do nordeste. DÚVIDA
(D) o sertão nordestino.
Dois compadres viajavam de carro por uma estrada de
fazenda quando um bicho cruzou a frente do carro.
QUESTÃO 03. Um dos compadres falou:
–Passou um largato ali?
Leia o texto abaixo e responda as questões X, Y e Z. O outro perguntou:
– Lagarto ou largato?
Poema O primeiro respondeu:
Ivanei Nunes – Num sei não, o bicho passou muito rápido.

A corrupção veste terno e gravata Disponível em: http://educacao.globo.com/provas/


Discursa no plenário, engorda o próprio salário enem2013/questoes/132.html. Acesso em: 12 de junho de
É insensível com a fome e a miséria 2019. Adaptado.
Honestidade banida do seu dicionário. No texto, o efeito de humor ocorre porque um dos per-
sonagens
A covardia usa fuzil AR-15
Assedia criança pobre, influencia a área nobre (A) conhece a norma padrão da língua.
Toma conta do morro, da favela (B) desconhece a espécie de animal avistado.
Infiltra-se no poder, na justiça, ela tudo pode. (C) responde de forma inusitada à pergunta do amigo.
(D) mostra duas possibilidades de pronúncia para uma
A indiferença anda pelas ruas palavra.
Esconde-se num pano, troca o carro todo ano
Não vê o verdadeiro valor da vida
Opta pelo lado animal e não pelo lado humano.

X) Em que oração, adaptada no texto, ocorre a personifi-


cação do político corrupto?

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 25


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ESCALA DE DESEMPENHO
Atribua uma pontuação ao seu desempenho em cada um dos objetivos apresenta-
dos, segundo a escala:

4 EXCELENTE 3 BOM 2 RAZOÁVEL 1 RUIM

ATIVIDADE 01
Consigo reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração 4 3 2 1
de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos.

ATIVIDADE 02
Consigo reconhecer diferentes formas de tratar uma informação 4 3 2 1
na comparação de textos que tratam do mesmo tema.

ATIVIDADE 03
Consigo distinguir um fato da opinião relativa a esse fato. 4 3 2 1

ATIVIDADE 04
Consigo reconhecer o efeito de sentido decorrente da escolha de 4 3 2 1
uma determinada palavra ou expressão.

DESENVOLVIMENTO PESSOAL
Participei ativamente das aulas 4 3 2 1
Fiz e respondi perguntas pertinentes ao (s) conteúdo (s) estudado 4 3 2 1
(s).
Ainda preciso estudar mais para entender o que foi visto. 4 3 2 1

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 26


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RESULTADO
Agora, somando todos os pontos atribuídos, verifique seu desempenho geral no
caderno e a recomendação feita por você.

- De 24 a 18 pontos, ATENDE ÀS EXPECTATIVAS, se julgar necessário, re-


veja alguns conteúdos para reforçar o aprendizado.
- De 17 a 12 pontos, ATENDE PARCIALMENTE ÀS EXPECTATIVAS, sen-
do assim, você precisa revisitar os conteúdos.
- De 11 e 06 pontos, NÃO ATENDE ÀS EXPECTATIVAS. É recomendável
solicitar a ajuda do professor ou dos colegas para rever conteúdos essenciais.

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 27


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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB. 9394/1996. São Paulo: Saraiva,
1996.
Governo da Paraíba. Proposta Curricular do Estado da Paraíba - Ensino Infantil e Ensino Funda-
mental. Secretaria de Estado de Educação, da Ciência e Tecnologia. João Pessoa, 2018.
Governo da Paraíba. Proposta Curricular do Estado da Paraíba - Ensino Médio. Secretaria de Esta-
do de Educação, da Ciência e Tecnologia. João Pessoa, 2021.
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada. São Paulo: Ática, 2014.
PAULA, Josi de. Slam: literatura e resistência! Revista Educação Pública, v. 19, nº 30, 19 de no-
vembro de 2019. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/19/30/slam-
literatura-e-resistencia. Acesso em 05 ago. 2021 às 16h30.)
NEVES, Cynthia Agra de Brito. Slams – letramentos literários de reexistência ao/no mundo con-
temporâneo. Linha D’Água, São Paulo, v. 30, n. 2, p. 92-112, out. 2017. ISSN: 2236-4242. Disponível
em: <http://www.revistas.usp.br/linhadagua/article/view/134615>. Acesso em: 8 nov. 2017.

Sequência Didática I | Língua Portuguesa | 9ª Ano (2022) 28


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