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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – DCIJUR


Curso de Direito

FICHAMENTO I

Carine Alana Santos Gonçalves

Ilhéus, BA
jul./2022
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – DCIJUR
Curso de Direito

FICHAMENTO I

Carine Alana Santos Gonçalves

Trabalho apresentado como atividade


avaliativa na disciplina Direito Financeiro,
ministrada pelo Prof. Harrison Ferreira Leite.

Ilhéus, BA
jul./2022
Os princípios orçamentários e sua aplicação no âmbito do
direito financeiro
HORVATH, Estevão. O orçamento no século XXI: Tendências e expectativas. São
Paulo, 2014.

O autor conceitua os princípios jurídicos como enunciados genéricos dotados de força


vinculante, que devem operar em equilíbrio e de forma ponderada, a depender do contexto
em que são inseridos. Apresenta-os como pilares fundamentais para a interpretação de um
sistema, os quais buscam condicionar e orientar o entendimento do ordenamento jurídico,
criando e interpretando novas normas, além de auxiliar nas lacunas existentes.

No contexto do Direito Financeiro, afirma que seus princípios estão abarcados pela
Constituição Federal, os quais associam-se e relacionam-se com outros ramos do direito,
uma vez que as disciplinas jurídicas são interdependentes. Para além disso, fazendo
menção a Aliomar Baleeiro e Hector Villegas, apregoa que grande parte dos princípios do
direito financeiro, isto é, os orçamentários, são mais práticos que axiológicos, pois foram
alicerçados em indicativos das finanças públicas cuja meta fundamental é de ordenar e
gerenciar o erário do Estado. Sendo assim, elenca os princípios básicos e mais importantes
que regem o orçamento público brasileiro.

O princípio da legalidade, assevera, está previsto no art. 5º da Carta Magna e faz


parte do ordenamento jurídico como um todo. No âmbito financeiro, é pressuposto para a
existência do orçamento, na medida em que nenhum gasto poderá ser realizado sem lei que
o autorize. Dentro desse contexto, a legalidade orçamentária pode ser observada, como por
exemplo, nos incisos I e II do art. 167 da Constituição, onde é vedado o início de programas
ou projetos não previstos na Lei Orçamentária Anual (LOA), bem como a realização de
despesas ou assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários.
O princípio da unidade, segundo o autor, prevê que todo o orçamento público deve
estar contido em uma única peça documental, cuja finalidade é o controle das contas
públicas, bem como frustrar operações fraudulentas. Tal princípio busca impossibilitar a
existência de orçamentos paralelos ou anexos. Ressalta-se que documento único não é
necessariamente um só documento ou um papel, sendo possível que todas as informações
deixem de constar em apenas um documento, na medida em que a LOA é composta dos
orçamentos fiscal, de investimento das estatais e da seguridade social.

O princípio da universalidade, sustenta, está estreitamente ligado à unidade


orçamentária, pois além do orçamento figurar em um único documento, deve ser constatado
em seu valor bruto. Dessa forma, todas as despesas e receitas governamentais devem fazer
parte do orçamento público, sem exclusão ou exceção, objetivando o controle do parlamento
sobre as finanças do Estado.

O princípio da anualidade, reitera, consiste na renovação da lei orçamentária a cada


ano, tal periodicidade está prevista na Constituição Federal e o período de um ano coincide
com o ano civil, de 1º de janeiro a 31 de dezembro. Em tese, as entradas e saídas de
recursos dos cofres públicos devem se dar no exercício em que elas ocorrem. Destaca
ainda que a anualidade orçamentária não se confunde com a anulidade tributária, onde o
tributo deveria ser autorizado todos os anos, e muito menos com a anterioridade, princípio
do direito tributário, inscrito no art. 150, inciso III, alínea b, da Carta Magna.

O princípio da não afetação, ratifica, tem como pressuposto a não vinculação das
receitas, ou seja, os recursos devem ser recolhidos a uma caixa única do Tesouro, livres de
qualquer vínculo a fundo especial ou serviços ou despesa predeterminada. Salienta que o
dito princípio consta no art. 167, IV, da Constituição Federal, onde quase toda a receita
proveniente dos impostos é desvinculada, existindo apenas algumas exceções
constitucionais que vinculam partes das receitas desses tributos. Os demais tributos
previstos no sistema tributário brasileiro, de forma direta ou indireta, são vinculados. Sendo
a receita dos impostos a margem para o Governo executar seu plano.

Pelo princípio da exclusividade, preconiza, que na LOA não pode conter matéria
distinta à previsão de receitas e fixação de despesas. O art.165,§8º, da Constituição é
contundente ao dispor sobre o princípio da exclusividade. Portanto, as chamadas ‘’caudas
orçamentárias’’ são vedadas na referida lei.
O princípio da especialidade, alega, é aquele onde as despesas e receitas devem
ser apresentadas de forma detalhada no orçamento, a fim de que fique evidente a origem e
a destinação de recursos. O orçamento não pode ser genérico,ou seja, estabelecer gastos
sem precisão ou utilizar-se de termos ambíguos, sendo vedadas as dotações globais, totais,
indiferenciadas. Há duas exceções no que diz respeito à especialidade: os programas
especiais de trabalho que não podem ser detalhados e a reserva de contingência, a qual
atende aos passivos contingentes e outros riscos e eventos fiscais imprevistos.

O princípio da programação, declara, consiste no planejamento de medidas, sendo


o elo entre o planejamento e ações governamentais.Por esse viés, o orçamento público é
planejado, revelando todo o conteúdo da programação orçamentária, bem como fixa os
detalhes de receitas e gastos públicos. Os planos ou programas nacionais, regionais ou
setoriais devem estar contidos no Plano Plurianual.

O autor elenca também o princípio da sinceridade orçamentária, o qual anuncia que


as receitas e despesas previstas na LOA devem corresponder à realidade, dando a noção
da real situação financeira do Estado. Menciona que o dito princípio é aplicado na
Administração Pública francesa, servindo de parâmetro para as finanças públicas brasileira.
No entanto, cita a crítica do professor Sorbonne, no que diz respeito à elevação da
sinceridade orçamentária como princípio fundamental do direito financeiro, pois nem sempre
haverá objetividade e cientificidade, além do orçamento e as contas públicas estarem em
um ambiente de escolhas políticas. Além disso, ressalta que o princípio da sinceridade
orçamentária é relevante para o orçamento brasileiro, na medida em que no orçamento deve
ser espelhado o real estado das contas públicas.

O princípio da transparência, atesta, se identifica com a sinceridade orçamentária.


Apesar de ser peça técnica e complexa, o orçamento deve ser claro, a fim de facilitar o seu
entendimento tanto para o parlamento como para a sociedade, que seja na sua elaboração
ou na execução. Ressalta que o princípio da transparência está implícito no princípio da
publicidade, pois ambos possuem o mesmo objetivo qual seja o de propiciar o controle do
agir público em todas as suas áreas. Para que esse controle seja efetivo deve haver maior
clareza na execução do orçamento. Dessa forma, o povo, dono da ‘’coisa pública’’, ao ter
acesso à atividade financeira do Estado, terá a consciência de que deve cobrar a
administração e gestão responsável por parte de quem foi indicado para fazê-lo.
O princípio do equilíbrio, apregoa o autor, não é um princípio em si, mas um anseio a
realizar-se, isto é, ao elaborar o orçamento, o legislador deve ser inspirado na busca pelo
equilíbrio. No que diz respeito ao princípio da eficiência, conforme o art. 77, caput, da
Constituição, é aplicável a toda Administração Pública. Assim, deve estar presente em toda
espécie de orçamento, clareando todas as etapas da orçamentação e sua execução. Ao
administrador incumbe gerir as finanças da melhor forma, para que haja melhor resultado e
menor gasto.

Para explicar o princípio da razoabilidade utiliza-se do entendimento do professor


Ricardo Lobo Torres, o qual entende se tratar de um princípio de interpretação dos
dispositivos da lei. Influencia na elaboração do orçamento, ao governar as escolhas trágicas
e as opções pela alocação de verbas. Resulta, pois, do equilíbrio razoável entre a
economicidade e legalidade, o qual informa a legitimidade orçamentária.

Em suma, por conta da evolução do próprio orçamento, novas técnicas que surgiram,
reflexos das mudanças na sociedade e no próprio Estado, foram acrescidos outros
princípios orçamentários aos chamados clássicos. Devendo, desse modo, serem aplicados
em todo o processo orçamentário para que a orçamentação seja beneficiada.

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