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Volta Redonda
2022
VICTORIA ALEXIA CAMPOS DE MEDEIROS
Orientadora:
Prof.ª Dra. Érica de Lana Meireles
Volta Redonda
2022
VICTORIA ALEXIA CAMPOS DE MEDEIROS
BANCA EXAMINADORA
Volta Redonda
2022
DEDICATÓRIA
Sou grata por alguns professores que me mostraram seu lado humano e fizeram
com que eu questionasse várias coisas, me dando orientações, amizade, apoio, o que
colaborou para me desenvolver como profissional e pessoa.
Sou um somatório das forças que cada um que se importa comigo deixou na
minha vida, o que me fortaleceu e ajudou a chegar até aqui.
“Que os vossos esforços desafiem as
impossibilidades, lembrai-vos de que as
grandes coisas do homem foram conquistadas
do que parecia impossível.”
(Charles Chaplin)
RESUMO
The Process-Based Therapy (PBT) is a new paradigm that arises questioning the
validity and usefulness of the current medical disease model, in which therapy is based
on protocols for syndromes. Associated with an evidence-based practice in psychology,
it proposes that there are central clinical competencies of the patient, and to achieve
them, evidence-based procedures would be used to change the patients' psychological
processes. It suggests a broadening of the patient's initial analysis, resulting in a more
complete, individualized, and empirically supported therapy. For this, tools such as
Functional Analysis, Network Model and Extended Evolutionary Metamodel (EEMM) are
used, in addition to constant progress assessments (feedback loops) and emphasis on
the therapeutic relationship. As it is a recent field, it still faces some challenges, such as
the lack of scientifically based studies that support its practices and explain its
processes, and the resistance of therapists in reworking their technique. The organizers
of this theory claim that it is rapidly becoming the vital core of Cognitive-Behavioral
Therapy, and may even become greater than it. PBT is also touted as the future of
evidence-based practice in psychology. However, it is necessary to find out if this new
clinical posture will have adherence, on the part of therapists and clients, applicability
and effective results. Over time, it is anticipated that various models of PBT will emerge,
using more traditional randomized controlled trials, thus furthering research, but with
greater attention to culture and context, usefulness of treatment, and client needs and
goals.
AC - Análise do Comportamento
ACT - Acceptance and Commitment Therapy (Terapia de Aceitação e Compromisso)
APA - American Psychiatric Association (Associação de Psiquiatria Americana)
DBT - Dialectical Behavioral Therapy (Terapia Comportamental Dialética)
DSM - Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual Estatístico e
Diagnóstico de Transtornos Mentais)
TBP - Terapia Baseada em Processos
TCC - Terapia Cognitivo-Comportamental
MMEE - Metamodelo Evolutivo Estendido
PBE - Psicologia Baseada em Evidências
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
1.1. Justificativa 11
1.2. Objetivo 13
4. DESAFIOS E CRÍTICAS 58
5. PERSPECTIVAS FUTURAS 61
6. CONCLUSÃO 63
REFERÊNCIAS 64
11
1. INTRODUÇÃO
1.1. Justificativa
No entanto, (Hayes e Hofmann, 2020) essa abordagem não chegou muito longe,
pois nos primeiros tempos da terapia comportamental, havia uma crença forte de que
os princípios e teorias da aprendizagem formavam uma base adequada para os
procedimentos clínicos. Paul abriu portas para uma ciência com a preocupação nos
procedimentos baseados em evidência contextualmente específicos, deixando os
processos de mudança como algo secundário.
Assim se faz relevante uma Terapia Baseada em Processos (TBP), uma vez que
colocar a ênfase nos processos trará resultados mais específicos para o tratamento
clínico.
1.2. Objetivo
Fonte: A autora.
A articulação dos três elementos da PBE pode ser uma tarefa difícil, uma vez
que ao se utilizar da melhor evidência disponível, o psicoterapeuta pode não ter a
habilidade clínica para conduzi-la, bem como ao priorizar somente a preferência do
cliente podemos ter uma psicoterapia que pode não contar com a melhor pesquisa no
momento, acarretando em prejuízos ao tratamento. A integração entre os três pode não
ser a perfeita, mas deve-se tentar trabalhar da melhor maneira possível.
A palavra “processo” vem de uma raiz latina que significa “avançar”, como em
um desfile ou uma procissão, e sua definição moderna é uma série de ações
destinadas a alcançar algum resultado. Um processo em TBP é uma sequência de
eventos que são conhecidos por influenciar o bem-estar de uma pessoa (Hofmann,
Hayes & Lorscheid, 2021).
Por exemplo, uma criança chora no supermercado com seus pais, pedindo
determinado doce. Os pais, diante do comportamento de choro, reagem dando à
criança o doce que ela queria. A criança, em consequência disso, para de chorar.
Verifica-se que, com o passar do tempo, o comportamento da criança de chorar no
mercado com os pais aumenta de frequência. O que mantém o comportamento da
criança é um reforçador positivo (aumenta a frequência e magnitude de uma ação e
acrescenta um estímulo). A função do comportamento da criança, neste caso, é receber
o doce dos pais.
Análises como essa são úteis para se conduzir os casos clínicos, onde aplica-se
situações problema da vida do paciente e o terapeuta faz o trabalho de entender a
função dos comportamentos indesejados, para gerar consequências reforçadoras mais
funcionais, diferente das atuais, que provavelmente têm trazido consequências
disfuncionais. No exemplo, os pais ao entender que a função do comportamento (choro)
é para que a criança ganhe o doce (consequência), podem controlar a emissão da
causa do comportamento, seja tentando um processo de extinção (não dar o doce
mediante o choro), ou de um modo lúdico fazê-la compreender que não é necessário
birra para conseguir o que se quer, entre outros.
No entanto, a TBP é mais ampla na gama de processos considerados e
adaptados para uso clínico. Embora a análise funcional tenha sua importância notada,
seu uso ainda é em maior grau na AC. A TBP está reenfatizando a análise funcional, e
recentemente (Hayes et al., 2019) descreveu como vincular o modelo da TBP a um
novo tipo de análise funcional baseada em processos.
Aplicar análise funcional baseada em processos é o primeiro passo para a
alteração de processos psicológicos através de procedimentos baseados em evidência.
Como clínicos, monitoramos a função e circunstâncias das cognições, mudanças de
atenção, senso de si, motivação e comportamentos do cliente, além de aumentar a
conscientização sobre os aspectos biofisiológicos e domínios socioculturais relevantes
(Hofmann, Hayes e Lorsheid, 2021).
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percebemos que as épocas das férias aumentam o nível de stress dos empregados. Ou
seja, o estresse no trabalho será um mediador, ou seja, um componente importante sob
o qual a variável independente (férias) influencia na variável dependente (comer mais
fast-food). Ao se notar um mediador, pode-se construir intervenções para manejá-lo, a
fim de reduzir os efeitos indesejados sobre a variável dependente.
Podemos classificar os processos de mudança na ciência da intervenção em seis
dimensões psicológicas (afeto, cognição, atenção, self, motivação e comportamento
evidente), aninhado em dois níveis adicionais de seleção (biofisiológico e sociocultural)
(Hofmann, Hayes e Lorsheid, 2021). E em cada uma dessas dimensões e níveis,
variação, seleção, retenção e contexto são centrais (ou seja, mudança, função, hábitos
ou padrões, e ajuste e suporte) (Hofmann, Hayes e Lorsheid, 2021).
No entanto ele não é um guia prescritivo, mas sim uma linguagem na qual
considerar e comparar modelos de processos de mudança.
Já vimos algumas características, a seguir veremos a classificação dos
processos, que foi somente citada até então.
Numa TBP, nem todos os processos terão o mesmo peso. Para o clínico saber
de onde partir, deve identificar quais os processos mais relevantes na vida do cliente,
através da observação do quadrado com maior quantidade de setas. No exemplo
acima, a “luta para se defender” parece o evento mais relevante, por ter maior
quantidade e espessura de setas, se tratando da dimensão do self. O trabalho agora é
analisar procedimentos eficazes para conseguir mexer na rede e torná-la mais
adaptativa, dentro da dimensão do processo encontrado como mais relevante
inicialmente. Se aplicarmos no exemplo, uma intervenção como “registro de
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Observe que após a intervenção, a seta que indica a relação entre os eventos
perde cor, ou seja - a relação mal adaptativa vai sendo enfraquecida, até ser extinta.
a) autogerenciamento
b) competências interpessoais
c) controle de estímulos
d) desfusão cognitiva
e) escolha e explicitação de valores
f) manejo de contingências
g) mindfulness
h) modelagem
i) modificação de crenças centrais
j) motivação
k) regulação emocional
esse estímulo está ausente. Algumas intervenções para atingir esse processo podem
ser citadas como: economia de fichas, lista de vantagens e desvantagens, etc.
Motivação
Escolha e explicitação de
valores ativação comportamental;
entrevista motivacional;
Intenções
réguas motivacionais
Objetivos
auto-avaliação compassiva
Fonte: A autora.
m) Além das técnicas reunidas em livros para lidar com casais (Terapia
cognitivo-comportamental com casais: uma revisão, de Peçanha e Rangé, 2008),
grupos (Terapia cognitivo-comportamental em grupos: das evidências à prática, Neufeld
e Rangé, 2017), crianças e adolescentes (Terapias cognitivo-comportamentais para
crianças e adolescentes, Petersen e Wainer, 2009), e para o paciente, como
psicoeducação (Vença a depressão antes que ela vença você, A mente vencendo o
Humor, Não acredite em tudo que você sente, etc.)
classes, contará com links de direcionamento com artigos, livros, cursos, vídeos,
escalas, formulários etc. sobre as técnicas presentes. Site: www.div12.org/treatments/
Algumas das competências da TCC, que colocam mais foco sobre processos
baseados em evidências ligados a procedimentos baseados em evidências, visam
processos terapêuticos específicos (por exemplo, flexibilidade cognitiva e
desfusão/distanciamento) enquanto outras competências representam estratégias de
tratamento específicas (por exemplo, exposição).
A TCC moderna está diminuindo o foco nos protocolos para tratamento das
síndromes e aumentando o foco sobre processos baseados em evidências ligados a
procedimentos baseados em evidências, a exemplo as Terapias Contextuais. A ACT e
DBT por exemplo foram citadas no presente trabalho. A agenda sugerida pela TBP é
positiva, possível e progressiva (Hayes e Hofmann, 2018).
Como citado anteriormente, a aplicação da TBP ainda não é prática, devido aos
estudos serem escassos pelo campo ser relativamente novo. Mas podemos discutir o
que temos até o momento, como o cenário da psicologia mundial vem se desdobrando
e parece estar receptivo e necessitado de práticas não mais voltadas para protocolos,
levantando questões que não são mais solucionadas com as ferramentas e
metodologias atuais.
O MMEE combinado com a análise de rede fornece uma estrutura para uma
abordagem relevante para o tratamento baseado em processos. Podemos usar essas
ferramentas para organizar uma nova forma de análise funcional baseada em
processos, que orientará uma abordagem de diagnóstico com utilidade de tratamento
com base em processos de mudança conhecidos (Hofmann, Hayes e Lorsheid, 2021).
b) Identificar o problema
Com base nesses dados, reconsidere a rede, incluindo modificações que surgem
à luz de protótipos nomotéticos extraídos de trabalho analítico funcional idiográfico.
Organize a rede em um conta integrada e baseada em processos de desenvolvimento e
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h) Intervenção
i) Avaliação
j) Reorganização
4. DESAFIOS E CRÍTICAS
Outro desafio é que, com o avanço das Terapias Contextuais pensou-se que
haveria um progresso em direção à TCC como uma versão vibrante da TBP, porém ele
foi retardado depois de um começo promissor (Hofmann e Hayes, 2018).
5. PERSPECTIVAS FUTURAS
Hayes e Hofmann afirmam que a TBP está se tornando o núcleo vital da TCC
(Hofmann e Hayes, 2018) e será o futuro da PBE (Hofmann, Hayes e Lorsheid, 2021)
Ao visar as necessidades individuais do paciente e manter o foco nos processos
de mudança, podem ser desenvolvidos programas de pesquisa de intervenção que
integrem mais plenamente as abordagens idiográficas (com a premissa de que
indivíduos são seres únicos e individuais) e nomotéticas (baseada na suposição de que
indivíduos são semelhantes entre si) (Hayes et. al, 2019).
Hayes e Hoffman forneceram uma estrutura para esse fenômeno na forma de
uma abordagem de “tabela periódica funcional” multidimensional e multinível, mas
evidenciam que é possível haver outras formas de resumir e discutir diferenças entre
modelos baseados em processos.
Ao passar do tempo, vários modelos de TBP surgirão, usando ensaios de
controle randomizados mais tradicionais, fomentando então a pesquisa, mas com maior
atenção à cultura e contexto, utilidade do tratamento e necessidades e objetivos do
cliente. Para Hayes et. al (2019), esse programa de pesquisa provavelmente fornecerá
informações nomotéticas mais ricas e clinicamente úteis aplicáveis a indivíduos que
procuram ajuda de terapeutas e outros agentes de mudança de comportamento.
Quando a teoria e os processos de mudança são colocados em primeiro plano,
será necessário o treinamento em filosofia da ciência, estratégia científica, ética e em
uma ampla gama de domínios a partir dos quais os princípios podem surgir (Hayes e
Hofmann, 2020). Além disso, deve ser dada maior ênfase à conexão de procedimentos
a princípios, bem como à adequação de procedimentos às necessidades específicas de
um caso específico, de maneira ética e sensível à evidência.
Segundo Hayes et. al (2019), a ciência clínica pode ver um aumento de modelos
testáveis, o surgimento de novas formas de diagnóstico baseadas em análise funcional,
e um movimento em direção a processos que especificam elementos modificáveis.
Essas mudanças podem integrar ou unir diferentes orientações de tratamento,
configurações e até culturas.
63
6. CONCLUSÃO
Ao passar do tempo, a TBP contará com maior respaldo científico a partir do uso
de ensaios de controle randomizados mais tradicionais, porém englobando também a
cultura e contexto, utilidade do tratamento e necessidades e objetivos do cliente (Hayes
et. al, 2019).
REFERÊNCIAS
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transtornos da personalidade. Artmed Editora, 2005.
DUAN, Li; ZHU, Gang. Psychological interventions for people affected by the COVID-19
epidemic. The lancet psychiatry, v. 7, n. 4, p. 300-302, 2020.
HAYES, Steven C. et al. The role of the individual in the coming era of process-based
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HAYES, Steven C.; HOFMANN, Stefan G. The third wave of cognitive behavioral
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HOFMANN, Stefan G.; HAYES, Steven C.. TCC Moderna CBT: movendo-se em direção
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KHAKPOOR, Sahel; SAED, Omid; ARMANI KIAN, Alireza. Emotion regulation as the
mediator of reductions in anxiety and depression in the Unified Protocol (UP) for
transdiagnostic treatment of emotional disorders: double-blind randomized clinical trial.
Trends in psychiatry and psychotherapy, v. 41, p. 227-236, 2019.
PASSOS, Jonatas. Quem tem medo de Análise Funcional? Portal Comporte-se, 2016.