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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

Polo: Colombo Disciplina: História Contemporânea III


Professor Formador: Itamar Cardozo Lopes
Tutores on-line: Vanderley de Paula Rocha
Aluno: Fernanda Stockler RA: 173270389
Atividade: II Unidade: II
Proposta da Atividade:

Na década de 1950, o escritor Albert Memmi redigiu seu famoso “Retrato do


colonizado precedido do retrato do colonizador”. Em pouco tempo, o livro se tornou um texto
clássico de crítica ao imperialismo. Quase seis décadas depois, o escritor voltou à carga e
resolveu publicar o seu “Retrato do descolonizado árabe-muçulmano e de alguns outros”,
livro em que procura discutir criticamente a situação atual das nações descolonizadas. Após
ler o trecho do livro que foi selecionado, responda: qual o retrato que Albert Memmi faz das
jovens nações descolonizadas e de seus cidadãos?

Os países africanos e asiáticos no fim do século XIX sofreram o impacto do


colonialismo, que consistia na partilha dos territórios entre as potências europeias, que
visavam as riquezas presentes nesses países.
A Ásia e a África demonstraram interesse em desvincular-se desse regime e “muitas
das motivações que estiveram presentes durante a Segunda Guerra Mundial também
influenciaram diretamente os movimentos em busca de libertação que tiveram lugar na Ásia e
na África” (LOPES, 2011, p.50). Outro ponto importante que influenciou a descolonização,
foi a Conferência de Bandung em 1955, que permitiu aos países de terceiro mundo serem
vistos e mais respeitados por todos os continentes, e em especial a Europa.
O que devemos destacar é que o processo de descolonização não foi o mesmo nos
dois continentes, pois a Ásia se difere em sua organização cultural, são providos de mais
união entre si e prezam pelos costumes, e também tem a consciência que não precisam
considerar-se menos intelectuais que os europeus. Já o caso da África, reflete o contrário,
visto que há uma fragmentação da cultura entre os povos e em certos momentos ocorrendo
conflitos internos, o que prejudicaram e tardaram a sua libertação. (LOPES, 2011).
Após a libertação dos dois continentes, nós podemos perceber na visão do escritor
Albert Memmi (2007), que quando os países que vivem sob o regime de colonização e sofrem
com as pressões que esse sistema impõem, em liberdade, eles têm a oportunidade de seguir o
seu próprio caminho, contemplando as suas vontades. Porém, na prática não é bem assim que
aconteceu, os governantes que assumiram o poder estabeleceram regras tão rígidas e
prejudiciais à população, quanto às dos chefes anteriores. “Tudo continua a mesma coisa;
muda-se apenas de senhor, e o atual é por vezes mais tirânico que o anterior; como as
sanguessugas jovens, as novas classes dirigentes são frequentemente até mais ávidas
(MEMMI, 2007, p.18)
Os governantes não se preocupavam em modificar a situação do país, tirar o povo da
pobreza, porque simplesmente não consideravam isto o mais importante. Podemos refletir que
mesmo os países com riquezas naturais, como o petróleo, são detentores de números
alarmantes de pessoas desnutridas, doentes, com habitação precária. E em contrapartida,
oferecem muitas vezes belas opções turísticas, mas que não são mostradas, porque certamente
deixariam o visitante perplexo.
Ainda temos os países que têm menos recursos naturais e que conseguiram
estabelecer condições sociais e econômicas melhores para os seus. O que responde a esse
cenário distinto é a forma como os governantes administram e distribuem a renda, eles
expõem as pessoas a uma condição de vida muito difícil. Podemos dizer que “é este o
paradoxo: ao menos globalmente, o terceiro mundo não é pobre, e morre de inanição; ele teria
como prover as necessidades de todos os seus habitantes se não sofresse de uma organização e
de uma distribuição defeituosas, absurdas e escandalosas (MEMMI, 2007, p. 22)
Outro problema que Memmi (2007) ressalta, é a corrupção nesses países, onde tem
em larga escala um recurso natural muito importante, o que permite prosperidade econômica,
o petróleo. Mas, a intenção dos chefes de Estado em garantir a sua riqueza particular está
acima dos interesses em promover o crescimento econômico, reduzir a taxa de desemprego e
possibilitar melhores condições de vida às pessoas.
É comum em muitos países da África e da Ásia os governos com nepotismo, onde
seus familiares chefiam setores importantes da economia, o que por sua vez, faz com que as
informações financeiras fiquem longe do acesso a outras pessoas, garantindo-lhes o benefício
de não prestar contas e favorecer os seus ganhos. Podemos analisar também a questão de
abuso de poder e fraudes fortemente elaboradas, como “votos aterrorizados, eleições
manipuladas, nas quais a unanimidade a seu favor é tão completa que faz com que o
estrangeiro sorria e os cidadãos se encolerizem” (MEMMI, 2007, p. 30). Também podemos
destacar que a mídia exerce um papel fundamental na manipulação em relação ao povo, pois
ficam reféns das propagandas idealizadas para que os governantes sejam vistos com bons
olhos, já que proíbem e até perseguem quem faz ou transmite ideias e notícias que não forem
autorizadas, ou seja, os chefes de estados fazem uma seleção do conteúdo que as pessoas
devem ter acesso, porque devem atender à exigência de enaltecer uma figura boa e generosa
do seu governante, a qual faz inaugurações públicas e sorri para todos. No entanto, são
tentativas para encobrir os prejuízos sociais e econômicos causados à população.
Contudo, entre tantos motivos que fazem com que os países permaneçam pobres e
ineficientes, a força e o autoritarismo têm seu protagonismo, já que conseguem dessa forma
impor a vontade do governo sobre a população. A exemplo, destacamos as mulheres que têm
uma série de imposições a serem seguidas, como cobrirem todo o corpo com uma roupa
especial, que de certa forma acaba como outras medidas coercitivas ao público feminino,
deixando mais uma parte da população fora de acontecimentos importantes, estando em
condição limitada. (MEMMI, 2007)
Como último ponto a ressaltar, é que os governantes dos países descolonizados
adotaram uma postura subversiva, onde desvinculam toda a sua culpa de um gestor corrupto e
ineficiente, para atribuir aos europeus. É de certo modo, uma tentativa bastante eficiente em
mascarar a realidade, porque consegue não só livrar-se da culpa como isentar a população
também. Mas, o fato é que o imperialismo não teve só pontos negativos sobre os países, de
alguma forma implantaram benefícios “técnicos, políticos e até mesmo culturais, como ocorre
nos contatos entre civilizações. Em inúmeros domínios, a África do Sul continua a viver com
base nas antigas aquisições” (MEMMI, 2007, p38).
Dessa forma, se os países africanos e asiáticos ainda vivem em condições
econômicas e sociais precárias, o ônus não é exclusivo dos países europeus. Esses tiveram sua
parcela de culpa sim, mas que em contrapartida também forneceram privilégios aos
colonizados. Sem dúvida, os fatores da corrupção, eleições fraudadas, da imposição militar,
da inversão da culpa de falta de estrutura de políticas adequadas, do potentado e do paradoxo
da pobreza são fatores cruciais para a deficiência socioeconômica africana e asiática, que não
permite o progresso, o avanço cultural e a liberdade das pessoas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LOPES, I. C; SILVA, J. A. da.  História contemporânea III. Ponta Grossa:


UEPG/NUTEAD, 2011, p. 45-63.

MEMMI, Albert. Retrato do descolonizado árabe-muçulmano e de alguns outros. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, p. 17-42

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