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DO TERCEIRO MUNDO
AOS TERCEIROS MUNDOS:
AS ATRIBULAÇOES DE UM CONCEITO
14 -ROBERT CHAPUIS/THIERRYBROSSARD
II. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO
Contudo, ainda que, num primeiro tempo, o conceito seja geral.menos
marcada. A OCDE cria, em 1957, a expressão mais optimista plesmente de
«países em desenvolvimento» [26].
Mundo unificado pela sua pobreza, pela sua dependência do Ocidente em
1955, e em seguida em Belgrado, em 1961, os países do Terceiro zando o
«não envolvimento»,chamado pouco depois o «não alinha-económica com
justa partilha das riquezas nacionais e a paz» [33].A vaga de independência
dos países africanos, no início dos anos 1960,reafirma esta ideia.
Todavia, a partir dos anos 1950, certos factos mostram que a frente do
Terceiro Mundo é menos unida do que parece. Além das relações que os
Estados da América Latina mantêm, de bom ou mau grado,com os Estados
Unidos, constata-se que desde 1952, a Turquia adere à OTAN e que, em
1954, a Tailândia, as Filipinas e o Paquistão en-tram na OTASE (Organização
do Sudeste Asiático). Pelo contrário,a China, a Coreia do Norte, o Vietname,
Cuba,etc., tendem para Leste.Os outros, como a Índia (mas que concluiu
acordos com a URSS) e a Jugoslávia, querem persistir num verdadeiro não
alinhamento.É assim que em 1979 se confrontam, em Havana, Castro, pró-
soviético,e Tito, verdadeiro não alinhado [33].
Ph.Moreau Defarges nota que «no momento da descolonização (anos
50 e 60) e depois do frente-a-frente Norte-Sul (...), o Norte e o Sul não
“podem ser vistos como blocos bem distintos”(...). Estas oposições
maniqueístas cristalizam-se em torno de um desafio -se uma vez a questão,
senão resolvida, pelo menos ultrapassada» [35].
como sair do subdesenvolvimento. Alguns copiam o modelo soviético na
industrialização e na colectivização. Outros optam por um desen-tura para o
mercado mundial e no apelo aos capitais exteriores. Ou-
tros, enfim, posicionam-se entre estes dois modelos rígidos, com mais
ou menos planificação, socialização e abertura.
Enfim, depressa se constata que as divergências de interesses de diversos países
do Terceiro Mundo se traduzem nos factos. Combates opõem por três vezes a Índia
e o Paquistão, entre 1947 e 1971.A Índia luta com a China em 1959-1960 e 1962.
Marrocos e Argélia confrontam-se directa ou indirectamente a propósito do antigo
Sara espanhol. Mesmo os Estados comunistas se dilaceram mutuamente,como a
Índia e o Vietname em 1979. Mais recentemente Irão e Iraque lançam-se, durante
nove anos, numa guerra atroz.
Os dois choques petrolíferos de 1973-1974 e 1979-1980 revelam um corte
profundo entre os países produtores de petróleo, que enri-quecem, e os outros que
vêem a sua factura petrolífera disparar de uma forma dramática. A subida em
potência, desde os anos 1960, dos quatro dragões do Sudeste asiático mostra
igualmente que alguns dos países do Terceiro Mundo, submetidos aos mesmos
condicio-nalismos mundiais que outros, com a agravante de não terem recursos
naturais, são capazes de sair rapidamente do subdesenvolvimento e de virem criar
dificuldades aos países desenvolvidos no seu próprio terreno. Coloca-se pois a
questão da unidade do Terceiro Mundo.
INTRODUÇÃO-15
INTRODUÇAO-17
Em posição intermédia, outros admitem que o Terceiro Mundo nāo é tāo
unitário como se disse, mas que ele mantém determinados caracteres de unidade.
É a posição de Y. Lacoste que, depois de ter admitido a «muito grande diversidade
do Terceiro Mundo», escreve:«A gravidade dos conflitos no seio do Terceiro Mundo
(...) aniquila uma determinada concepção da sua unidade (...). O que desmorona
éapenas (e já é muito) a crença na unidade política do Terceiro Mundo;o que
desaparece é a ideia de que existe uma solidariedade funda-mental,natural entre
os numerosos Estados cujas populações sofre-ram o domínio colonial e continuam
a sofrer as suas sequelas (...).Mas não creio que por esse motivo se deva considerar
que o Terceiro Mundo não passa de um mito a atirar para os “caixotes do lixo da
História” (...). Hoje a situação em que se encontram os povos do Ter-ceiro Mundo
pode ser definida pela acentuação da distorção entre um muito rápido crescimento
das necessidades e o crescimento dos meios e dos recursos de que as populações
dispõem efectivamente para as satisfazer» [22].
Em Fevereiro de 1989, o jornal Le Monde publica um «cadernos e
documentos» intitulado «os Terceiros Mundos». No editorial pode ler--se: «Mais de
três decénios de tentativas, de esperanças e de fracassos transformaram a visão
monolítica de um Terceiro Mundo cujo sub-desenvolvimento constituiria o elo
profundo. Há sem dúvida hoje mais diferença entre o Brasil e o Mali do que entre a
Coreia do Sul e o Japão.» Mas o jornal prossegue: «Desigualmente repartidos, os
pro-gressos, mesmo até a real descolagem de alguns, nada retira contudo ao
conceito (...). São ainda quatrocentos milhões de seres humanos condenados à
sobrevivência num mosaico de Estados. A diversidade das evoluções merece
simplesmente um plural, para melhor compreen-der e talvez combater as
desvantagens maiores.»
Os antiterceiro-mundistas, quanto a eles, consideram que exis-tem não apenas
vários Terceiros Mundos, mas que o conceito em si jánão tem realmente
pertinência, ou pelo menos utilidade nos dias de hoje. Pensam igualmente que as
explicações através de factores es-sencialmente exógenos (colonialismo,
neocolonialismo, degradação dos termos de troca) são insuficientes. Na sua
perspectiva, intervêm tam-bém, e talvez sobretudo, factores endógenos, tais como:
«instabili-dade e imperfeição dos regimes políticos, corrupção dos
dirigentes,rigidez das estruturas sociais, inadaptação aos programas de desen-
volvimento» [9].
Em 1989, por exemplo, aparece sob a direcção de S. Brunel uma obra intitulada
«Terceiros Mundos» (no plural), com um subtítulo
mero de argumentos dos terceiro-mundistas [7]. No «O Estado do ceiro Mundo
tal como ele é), ressalta uma imagem muito contrastada modidade mas que é
plural e que comporta de facto hierarquias» [25].mundiais (...) torna pois
definitivamente obsoleta a noção de Terceiro relatório Ramsés de 1989, escreve
«que o Terceiro Mundo já nāo é o que era» e que a própria terminologia «se
revela desusada».
Determinados intelectuais do Terceiro Mundo abrandam eles pró-prios o
passo. D. Etounga-Manguelle, quadro camaronês (de um ga-binete americano,
é certo...) escreve: «A causa única (do desencontro entre democracia e
desenvolvimento em África), a que está na ori-gem de todos os desvios, é a
cultura africana, caracterizada pela sua auto-suficiência, pela sua passividade,
pela sua falta de ardor em ir ao encontro das outras culturas, antes de estas se
lhe imporem.»Segundo este mesmo autor «o bloqueio cultural essencial (é
consti-tuído por) a incompatibilidade entre a cultura africana e os objecti-vos
que se fixam os dirigentes do continente negro» (Le Monde 10.11.91).
Nos factos o Banco Mundial mostra, através das suas classifica-ções
estatísticas, que é cada vez mais difícil distinguir os países do Terceiro Mundo
dos outros. Constata-se que, nos países de baixo ren-dimento, não há apenas
Estados considerados tradicionalmente como sendo do Terceiro Mundo; com
efeito, cinco Repúblicas da ex-URSS encontram-se aí (quatro da Ásia Central e a
Geórgia), mais a Albânia.No que o Banco Mundial chama «a fatia inferior dos
rendimentos intermédios», figuram países da Europa considerados até aqui
como desenvolvidos (Roménia, Polónia, Bulgária,
Macedónia,Eslováquia,Croácia,todas as Repúblicas da ex-URSS, incluindo a
própria Rússia,encontram-se doravante nesta categoria). Na fatia superior
destes rendimentos intermédios, misturam-se países do Terceiro Mundo (12)e
Estados europeus (Hungria, Eslovénia, República Checa, Grécia).Entre os países
de rendimento elevado aparecem não somente dois pequenos países
produtores de petróleo (Emirados, Koweit), mas tam-bém Singapura,Hong-
Kong, Israel.
Enfim, durante as negociações do GATT, os países do Terceiro resses são
com frequência divergentes. Alguns deles, como o Brasil,
INTRODUÇAO-19
PRIMEIRA PARTE
UM TERCEIRO MUNDO
FRAGMENTADO
1
A DIVERSIDADE DOS TERRITÓRIOS
E DAS POPULAÇOES
Dos 136 milhões de km2 que o conjunto dos continentes totaliza (excluindo o
Antárctico), o Terceiro Mundo ocupa 98 milhões, ou seja 72%. Esta imensidade indica, por si
só, que não se está a lidar, evi-dentemente, nem com um território, nem com uma
população homo-géneas.
A) CLIMAS MALDITOS?
Verificou-se desde há muito que o Terceiro Mundo coincide, pelo menos
aproximativamente, com o conjunto das terras equatoriais,tropicais e áridas. E é verdade
que ele inclui a imensa maioria dos espaços equatoriais e tropicais, embora estes
transbordem para o
B) SOLOS INFÉRTEIS?
«O solo é frequentemente muito pobre. Nos países intertropicais a
laterite apresenta o aspecto, a cor... e a fertilidade do tijolo. Ela resulta em
geral do abuso dos fogos do mato que desguarneceram a terra da sua
cobertura vegetal protectora. Muitos outros solos são por natureza inférteis»,
escreve Y. Trotignon que exprime, uma vez mais a opinião habitual [33]. Como
para os climas, o diagnóstico émuito mais matizado.
Os solos desérticos não evoluídos ou pouco evoluídos não têm ou têm
pouco húmus; a subida da água prevalece sobre a percolação e favorece a
formação de crostas superficiais ou profundas. Os solos são evidentemente
inférteis. Pelo contrário, se a água doce é abun-dante (caso dos rios ou dos
ribeiros exógenos ou das nascentes), en-contramos solos moderadamente
férteis, os «tirs». A existência dos oásis prova que os desertos não são
forçosamente inférteis. Assim que a aridez se atenua, a vegetação adensa-se
e «dado que a biomassa é cinco a dez vezes mais abundante, o húmus é
menos raro e a crosta penetra em profundidade, daí ainda solos brunos de
estepe mas tam-bém solos castanhos de húmus suave em que a crosta está
profunda-mente enterrada»[15].
28-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
As reservas de minério de ferro do Terceiro Mundo sāo detidas medida, pela
Venezuela, Chile, Libéria e pela Mauritânia. O mesmo Brasil,Índia, China,
Suriname e pela Guiana, com o cobre pelo estanho pelo Brasil, China,
Indonésia, Bolívia, Zaire, etc.
Como se terá verificado, tirando o Médio Oriente para o petróleo,surgem com
muita frequência os mesmos nomes: China,Índia,vastos Estados com recursos
variados, enquanto outros nunca apare-cem.
Mas,sabemo-lo bem, não se pode falar propriamente de recursos,de condicionalismos
naturais no absoluto. Condicionalismos e recur-sos são relativos às sociedades que deles
dispõem e elas dependem em grande parte dos meios de acção e de informação, bem
como das re-presentações dessas mesmas sociedades. A utilização dos recursos depende
pois, em parte, da dimensão e da população dos Estados que deles dispõem. Ora estas são
de uma extraordinária variedade.
20
Menos de 5000 18
5000 a 50 000 31
50 000 a 500 000 14
500 000 a 1 000 000 11
1 000 000 a 2 000 000 6
Mais de 2 000 000
Total 100
2. DE DAVID A GOLIAS
e a China.
Os países do Terceiro Mundo estão pois em estádios muito dife-rentes da sua
transição demográfica (fig. 2). Um primeiro grupo si-tua-se em início de transição:
mortalidade em baixa (15 a 20‰), na-talidade quase natural (para lá de 40 e até
52‰ no Uganda).O crescimento é portanto forte (entre 2,5 e 3,5 por ano).
Encontramos aqui sobretudo países da África subsariana. Num segundo grupo,a
mortalidade baixou de forma mais acentuada (mantém-se entre 10 e 15‰),
enquanto a natalidade continua elevada (entre 30 e 45‰).O crescimento é pois
ainda forte (entre 2 e 3,5 por ano). Os Estados da África subsariana continuam a ser
ainda muito maioritários.
Num terceiro grupo a mortalidade é mais fraca do que nos outros grupos
precedentes (entre 4 e 10%), enquanto a natalidade continua elevada
(aproximadamente entre 30 e 40%). O crescimento continua pois elevado (entre 2,5
e 3,5% ao ano); refere-se a países da América Latina e do Mundo árabe-muçulmano.
No quarto grupo, a mortali-dade é equivalente à do precedente (entre 5 e 10‰),
mas é sobretudo a natalidade que é nitidamente mais baixa (entre 20 e 30‰).O
cres-cimento é pois relativamente fraco (1,5 a 2,5 % ao ano); este grupo inclui ao
mesmo tempo países da Ásia, entre os quais o mastodonte
A)JOB E CRESUS
Tradicionalmente, para medir o rendimento por habitante de um país, utiliza-se o
produto nacional bruto (PNB). Com este critério, as diferenças parecem enormes
entre os países do Terceiro Mundo. Que haverá de comum entre os 21 000$ por
habitante dos Emirados Ára-bes Unidos e os 120$ de Moçambique? Mesmo
eliminando os peque-nos países petrolíferos e, de forma mais geral, os países com
menos de 10 milhões de habitantes (bem como, recorde-se, os dragões asiáti-cos),
que diferença entre a Argentina (7 800$) e o mesmo Moçambique (120$)! A primeira
situa-se um pouco abaixo da Grécia e de Portugal,enquanto o outro aparece no
último lugar mundial. Mesmo compa-
Notar-se-á igualmente que o leque dos rendimentos difere de país para país, pois
nem todos os países do Terceiro Mundo são tão díspares como frequentemente se diz
(quadro 3).
Na verdade, na medida em que podemos confiar nas estatísticas no que se refere
a um tal assunto, constata-se que no Bangladesh, na Índia, na Indonésia e em
Marrocos, as diferenças de rendimento são inferiores às da França ou da mesma
ordem. Com efeito, os 20% das famílias mais pobres partilham 7 a 9% do rendimento
nacional (França 6%) e os 20% mais ricos entre 38 e 46%, como em França. Pelo con-
trário, na América Latina (sobretudo no Brasil, na Colômbia, na Venezuela), bem como
na Malásia, as diferenças são particularmente elevadas: os 20% das famílias mais ricas
partilham mais de 50% do rendimento nacional e por vezes dois terços. (Brasil).
QUADRO 3
Percentagem do rendimento das famílias por fatias de rendimento
Bangladesh
9 38
Marrocos.. 7 46
43
Indonésia...... 41
Paquistāo......... 8 40
Filipinas........... 6 48
Venezuela......... 4 58
Malásia........................ 5 54
Peru......................... 5 50
Costa do Marfim...... 7 44
Colômbia.......................... 4
56
2
Brasil.................................. 67
França.......... 6 42
dez pessoas são alfabetizadas. A maior parte destes estão localizadas resultados são
comparáveis aos de países desenvolvidos ou pouco atra-sados como Portugal.
Os alimentos intelectuais estão pois mal repartidos no Terceiro Mundo. O mesmo
acontece com os alimentos terrestres.
desenvolvidos (entre 300 e 700 habitantes por médico) ou por exemplo, têm
carenciados.
B) DE CASTRO A HASSAN II
A carta política do Terceiro Mundo parece dominada por «regi-era uma
passagem obrigatória para as nações que saíam de uma de-pendência colonial.
Na realidade, se raciocinarmos em número de habitantes envolvi-dos e não em
número de países, os regimes autoritários só concernem,se é legítimo dizê-lo, cerca
de metade da população do Terceiro Mundo,o que continua ainda a ser enorme.
Localizam-se essencialmente na China,na Indonésia, no Vietname, bem como na
maioria dos países árabe-muçulmanos e africanos. Convém ainda notar que estes
regi-mes autoritários diferem na realidade muito uns dos outros: monar-quia
absoluta na Arábia Saudita ou mais temperada em Marrocos,poder autocrático no
Iraque, ditadura de partido único (China) por vezes incarnada por um homem
(Castro), omnipotência da armada (Nigéria, Birmânia) por vezes pontuado de
eleições presidenciais (Indonésia), poder teocrático (Irão), etc. Por outro lado, certos
pode-res têm vindo a ser fissurados. A democracia ganha terreno,embora com muita
dificuldade, na África subsariana. Os regimes socialistas recuam por todo o lado no
Leste, pelo menos no domínio económico,quando não desabam, como em África.
Aliás, todos os sistemas mais ou menos democráticos estão re-presentados,
sobretudo desde que os regimes ditatoriais desertaram quase completamente da
América Latina. A Índia mantém-se a maior democracia parlamentar do mundo,
apesar das apreensões que se possam ter relativamente à sua solidez actual.
Regimes mais ou me-nos presidenciais floresceram na América Latina, embora nos
possa-mos interrogar sobre o grau de democracia de alguns, do México, por
exemplo. Restam ainda monarquias parlamentares, como a Tailândia ou a Malásia e
todo o leque possível entre verdadeira democracia e poder autoritário com fachada
democrática...
me ainda com muita frequência que uma das características essenciais do
Terceiro Mundo reside na sua suburbanização.
C) DO MUITO URBANIZADO AO MUITO RURAL
Considerados globalmente, os países do Terceiro Mundo são ainda em média
menos urbanizados do que os países desenvolvidos (40% de citadinos contra 65%).
Mas esta média não faz muito sentido. Três países com mais de 10 milhões de
habitantes, todos latino-america-nos (Argentina, Venezuela, Chile) são urbanizados
em mais de 80%,e sete são-no ainda em mais de 70%, enquanto na outra
extremidade,sete são urbanizados em menos de 20%, e por vezes em menos de
15%,como o Malávi, a Etiópia, o Uganda, o Nepal. Nos países com mais de 50
milhões de habitantes, as diferenças continuam a ser ainda consideráveis entre a
Etiópia e o Brasil (fig. 14). A urbanização galopante dos últimos quarenta anos, no
decorrer dos quais ós países do Terceiro Mundo viram a população das suas
cidades quadruplicar,não reduziu sensivelmente as diferenças, pois um certo
número de Estados da Ásia e da África estão apenas no início da sua fase de
urbanização.
A comparação entre dois países de dimensão comparável, o Brasil e o
Bangladesh, mostra bem a extrema diversidade da situação.O primeiro, urbanizado
em três quartos, dispõe de duas aglomera-ções com mais de 10 milhões de
habitantes, sendo uma delas São Paulo, com ares de cidade americana, e de uma
dezena com mais de um milhão. No Bangladesh, pelo contrário, nenhuma cidade
ultra-passa os 10 milhões de habitantes: Dacca atinge os 5 milhões.Chittagong
apenas um milhão e as duas não são muito mais do que amontoados de bairros de
lata, exceptuando alguns edifícios moder-nos do centro da cidade.
CONCLUSÃO
O Terceiro Mundo aparece pois, de facto, até aqui como um mo-saico: um meio
contrastado e não sistematicamente constrangedor,Estados de dimensões
desiguais, comportamentos demográficos heterogéneos, rendimentos e condições
de vida díspares, culturas multiformes, níveis de urbanização dissemelhantes.
A diversidade do meio fisico, sociocultural e histórico local, bem como a
multiplicidade das formas regionais de relação ao sistema--mundo induziram um
mosaico económico aparentemente igualmente variegado.
A DIVERSIDADE ECONÓMICA - 53
2
A DIVERSIDADE ECONÓMICA
I. OS MODELOS DE DESENVOLVIMENTO
A) O MODELO SOCIALISTA
A DIVERSIDADE ECONÓMICA-55
privatizaram uma grande parte da economia e instauraramum «so-cialismo
de mercado», ao ponto de a China surgir hoje mais como um modelo
económico intermédio.
. A maior parte dos países do Terceiro Mundo que seguiram esta via
socialista abandonaram-na hoje, total ou muito largamente, para irem no
sentido de uma certa forma de liberalismo económico. Na Ásia, mesmo entre
os melhores alunos, aqueles que foram classifica-dos de «países socialistas
de corpo inteiro», as deserções, parciais ou totais são inúmeras. A Coreia do
Norte, a Mongólia, o Vietname,o Camboja deixam uma parte cada vez mais
larga à economia de mer-cado. Apenas Cuba, ao mesmo tempo que se abre
ao turismo interna-cional, resiste, mas até quando, agora que lhe falta o
apoio maciço da ex-URSS que representava 40% do seu PNB, bem como 70%
da sua energia e da sua alimentação?
Entre os outros partidários do modelo, a grande maioria derivou agora,
mais ou menos claramente, mesmo aqueles que pareciam mais apegados a
ele, para uma economia de mercado. Na Tanzânia, durante muito tempo
considerada como uma modelo de desenvolvimento socialista africano, as
eleições de 1985 assistiram à derrota dos candi-datos marxistas e J. Nyerere
já não está no poder: foram privatizados certos domínios nacionalizados e
dá-se prioridade às culturas de ex-portação. A Argélia, que seguiu de perto o
modelo soviético (planifi-cação, nacionalização ou colectivização de uma
grande parte da eco-nomia, apoio sobre a siderurgia e os hidrocarbonetos
como indústrias industrializantes), orientou-se no sentido de uma via
reformista desde 1977: privatizações sobretudo na agricultura e no turismo,
desenvol-vimento e diversificação das exportações. Na Nicarágua, os sandi-
nistas foram afastados do poder. Em Madagáscar, deu-se uma vira-gem para
o liberalismo em 1986 com a privatização de empresas nacionais, a abertura
do sector bancário ao sector privado e a liberalização do comércio exterior.
Todos os países que haviam seguido mais ou menos de perto o modelo
soviético estão pois em diferentes estádios de evolução no sen-tido da
liberalização e da abertura da sua economia. Ei-los pois mais próximos dos
países que escolheram uma via intermédia entre socia-lismo e liberalismo
económico.
B) A VIA INTERMÉDIA
Como o seu nome indica, esta via intermédia colhe elementos dos dois
modelos rígidos que são o modelo soviético e o modelo liberal. Ao
o apoio prioritário aos recursos locais e ao mercado nacional, a cria-mentos
estrangeiros e das importações. Ela reserva ainda um lugar parte da economia
(energia, indústrias de base, transportes, bancos)e, por vezes, à reforma agrária.
produtos no mercado internacional. Visa-se igualmente diversificar as indústrias,
começando por aquelas que são susceptíveis de substi-tuírem produtos
importados por produtos nacionais; esta diversifica-ção é por vezes obtida
deixando o capital estrangeiro implantar-se em determinados segmentos
prioritários. A planificação apenas incide numa parte da economia e esta mantém-
se flexível. Largs sectores,geralmente os mais dispersos, escapam ao controlo do
Estado (pe-quena indústria, artesanato, comércio, agricultura) e, à excepção de
alguns produtos de base, os preços fixam-se livremente no mercado.As reformas
agrárias, quando se efectuaram, não resultaram na colectivização das terras, mas
antes na sua redistribuição em proveito de pequenos agricultores.
Esta via intermédia foi sobretudo seguida por Estados-continen-tes, dotados
de recursos naturais de primeira ordem, de um mercado interno de grande
dimensão e de um peso internacional indiscutível para poder opor-se às pressões
externas visando à abertura do mer-cado nacional. A Índia, a Indonésia, o México,
o Brasil, e numa certa medida a Argentina, foram até aos meados dos anos 1980 os
repre-sentantes mais eminentes desta via intermédia. Relativamente pouco
numerosos, contam no entanto cerca de 1400 milhões de habitan-tes, ou seja,
aproximadamente um terço da população do Terceiro Mundo.
O caso da Índia é particularmente demonstrativo. Até à chegada ao poder de
Rajiv Gandhi, em 1984, o estado desempenha um papel preponderante. Os planos
quinquenais aplicam-se simultaneamente,timo é particularmente invasor, uma vez
que atinge a energia (gás,rurgia, indústria petrolífera), as indústrias mais ou menos
estratégi-mo indústrias ligeiras como a electrónica e a máquina-ferramenta.de
indústrias pesadas industrializantes e de substituição de importa-
56-ROBERTCHAPUIS/THIERRYBROSSARD
C) O MODELO LIBERAL
Este modelo é fundado sobre a economia de mercado, quer dizer,um sistema no
qual, pelo menos em teoria, a produção e a distribuição dos produtos e dos serviços
são assegurados por empresas em concor-rência e no qual igualmente a
confrontação da oferta e da procura determina o preço. A industrialização pode
fazer-se através de indús-trias não consideradas, no modelo precedente, como
industrializantes.Trata-se de indústrias de bens de consumo, mesmo tradicionais
como o têxtil, cujos produtos são na sua maioria exportados e que devem pois
encontrar um mercado internacional. Conta-se com o diferencial de salários entre
países desenvolvidos e países em desenvolvimento para atrair os investimentos
estrangeiros e para conquistar as partes de mercado mundial em alguns segmentos
bem visados.
Nos anos 50, este modelo, pelo menos no seu perfil puro, teve
relativamente pouco sucesso. Mesmo entre os futuros dragões asiáti-
cos,de quem se exalta com frequência o espírito liberal,o Estado
interveio largamente, pelo menos de início. Pratica então o que se
chamou um «intervencionismo liberal», quer dizer, de largas inter-
venções, mas no âmbito da economia de mercado. O Estado age atra-vés
de uma planificação flexível, indicativa e incitativa, bem como protecção
dos produtos nacionais, etc. Incita a uma política de substi-
Em face destes grandes ou destes quase grandes (pelo menos pelo seu PBN),
dezenas de Estados dispõem apenas de um PNB inferior a 5 mil milhões $ e, entre
eles, muitos não atingem mil milhões $.
Estas diferenças não se devem somente à massa da população,uma vez que o
PNB do Bangladesh (128 milhões de habitantes) não ultrapassa o de Porto Rico (4
milhões). Elas devem-se igualmente àprópria estrutura da economia destes países.
A DIVERSIDADE ECONOMICA-63
FIGURA 16-Repartiçāo da população activa por sectores económicos (1995)
(países com mais de 50 milhōes de habitantes)
1.BRASIL E MÉXICO
2. A CHINA E A ÍNDIA
66-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
A DIVERSIDADE ECONOMICA-67
cia. Primeiro país industrial do Terceiro Mundo pelo valor da sua a qual
doravante será preciso contar. A indústria chinesa, que progride fornece
agora cerca de 80% das exportações do país.
aço triplicou entre 1974 e 1980, duplicou uma vez mais entre 1980 e A China
é hoje o quarto construtor de navios. A tradicional indústria têxtil moderniza-
se; coloca-se em primeiro lugar no mundo e faz uma dura concorrência aos
produtos ocidentais.
Certas indústrias, desenvolvidas por razões estratégicas, detêm um lugar
eminente. Desde 1964,a China tornou-se uma potência nuclear.É hoje o
quinto produtor de armas do mundo. Certas tecnologias, àpartida militares,
passaram para o sector civil. Graças ao seu foguetão «longa marcha», o país
tornou-se um concorrente aeroespacial dos Es-tados Unidos e da Europa:
paradoxo, seis satélites americanos de comu-nicação foram postos em órbita
por foguetões chineses em 1992.Quatro centrais nucleares foram
recentemente terminadas e uma dezena de-verá estar a funcionar no final
deste século. São inteiramente concebi-das por engenheiros nacionais e
Pequim vende inclusivamente a sua tecnologia aos estrangeiros: um acordo
de cooperação nuclear, em prin-cípio civil, foi assinado com o Irão.
Mas algumas indústrias de bens de consumo estão igualmente em grande
progresso. De níveis de produção quase nulos, passou-se numa boa dezena
de anos a recordes: cerca de 10 milhões de máquinas de lavar (1.° do
mundo), 8 milhões de televisores a cores (3.°), 8 milhões de frigoríficos,25
milhões de vídeos, rádios, relógios, jogos que ali-mentam em 50% as firmas
de Hong-Kong. A produção de compu-tadores arrancou em 1983 e se a sua
produção de automóveis parti-culares é ainda negligenciável, a dos veículos
utilitários é duas vezes superiores à da França. Toda esta produção está longe
de estar total-mente sob dependência estrangeira dado que as Zonas
Económicas Especiais, onde se investe o essencial do capital estrangeiro,não
re-presentam senão 1% da produção industrial e 4% das exportações.
b) A Índia não pode certamente comparar os seus desempenhos
industriais aos do Brasil, nem aos da China uma vez que só num sector, o
têxtil, se coloca em boa posição no palmarés mundial.Por outro lado, a
indústria indiana, durante muito tempo muito prote-gida, é ainda fracamente
produtiva: os seus produtos são pois de um preço elevado e de uma
qualidade medíocre.
Todavia, as sua fábricas são capazes de fabricar a quase totali-dade dos
produtos de consumo corrente. Em certos sectores de ponta,tência nuclear
militar e dispõe hoje, a seguir à China, do potencial conquistado um lugar na
aeronáutica (aviões, helicópteros),mento, em 1980, de um foguetão e de
satélites de fabricação nacional.
A indústria indiana está também presente no fabrico de máquinas--
ferramenta,de relógios, de automóveis, de camiões, de motorizadas,quer
seja com capitais estrangeiros (Suzuki disfarçada em Marutti),ou com
capitais locais. Outros segmentos se abriram. Muito tempo atra-sada por
desejo de não fazer apelo senão a tecnologias nacionais, a informática
arrancou desde que em 1985 o governo aceitou, através do sistema das
«joint ventures» (associação de uma empresa local a uma empresa
estrangeira com vista a uma actividade comum), transferir tecnologias
ocidentais. Sinclair, Commodore, Olivetti constroem doravante
computadores em associação com firmas indianas [26].Cer-tas firmas
tornaram-se verdadeiras multinacionais que se implanta-ram no Sudeste
asiático e em África; hoje os capitais indianos investi-dos no estrangeiro são
superiores aos capitais estrangeiros que o são na Índia. Enfim, ainda que o
país continue pouco exportador (5% do seu PNB), os produtos
manufacturados ocupam cada vez um maior lugar nas exportações e
atingem hoje cerca de 75% do total.
Atrás destes grandes dragões ascendem pequenos dragões (cha-mados
por vezes «tigres-bebés»...) de dentes afiados, muitas vezes mais dinâmicos
do que os próprios Estados-continentes e cuja indús-tria já realiza entre 20 e
50 mil milhões $ cada ano. Todos eles per-tencem à Ásia do Sudeste.
A DIVERSIDADE ECONÓMICA- 69
cidades de exportações. Está situada no centro de uma zona econó-mica
próspera. A sua mão-de-obra de baixos salários, mas em rápida do
liberalismo económico: em 1989, mais de um terço das empresas públicas
foram privatizadas. A Indonésia vê pois serem investidos maciçamente
capitais vindos do Japão sobretudo, mas também de Taiwan, da Coreia do
Sul, países que desagradados com o aumento do custo da sua mão-de-obra,
procuram no exterior salários ainda bai-xos. Os ocidentais, e particularmente
os americanos e os alemães,procuram também aproveitar esta situação
interessante.
Só no ano de 1994, os estrangeiros investiram 23 mil milhões $,dos quais
três quartos foram para a indústria. Já hoje 15% da popula-ção activa
trabalha na indústria manufactureira (mais 5% nas mi-nas) e criam 20% do
PNB (mais 15% nas minas). Desde 1988, os pro-dutos manufacturados
representam mais de metade das exportações.
Até aqui os investimentos, nacionais ou estrangeiros, incidiram
preferencialmente sobre indústrias mais ou menos ligadas aos recur-sos
nacionais tais como a refinação de petróleo, a siderurgia, a fabri-cação de
alumínio (230 000 t), de estanho (2.° produtor mundial), de borracha ou de
certos produtos de base como o cimento, os fertilizan-tes, o papel, os
têxteis, etc. Mas um início de diversificação está em curso. Em suma, a
Indonésia está a sofrer uma evolução que os qua-tro dragões sofreram há
vinte anos, mas sobre bases um pouco dife-rentes. Em contrapartida, para
países como a Malásia ou a Tailândia,os processos são bastante semelhantes
aos que permitiram aos dra-gões descolar economicamente.
b) A Malásia é dos países do mundo onde a produção industrial aumenta
mais rapidamente (cerca de 15% ao ano) e onde os investi-mentos
estrangeiros são proporcionalmente mais importantes (dois terços do total).
Estes capitais são atraídos simultaneamente pelas riquezas minerais
(petróleo, gás, estanho), pelo bom nível escolar da população (que. tem
também a vantagem de falar em inglês), pela estabilidade política, por uma
política sistemática de criação dezo-nas francas e pela liberalização da
economia: a grande parte das agên-cias governamentais estão actualmente
privatizadas. Além disso, for-tes minorias chinesas (30% da população) e
indiana (10%) contribuem para dinamizar a economia local, apesar de uma
política favorável àetnia malaia.
Os capitais estrangeiros interessaram-se sobretudo pela refina-ção de
petróleo, pelas indústrias agro-alimentares, pela construção
A DIVERSIDADE ECONÓMICA - 71
Birmânia, a China e o Vietname: desde que a exploração da madeira
4.OS PRETENDENTES
5. OS ESQUECIDOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO
A DIVERSIDADE ECONÓMICA-73
A DIVERSIDADE ECONÓMICA-75
res de petróleo (México, Indonésia, Arábia Saudita) e os NPI expor-Entre 20
e 40 mil milhoes $ vêm essencialmente os produtores de
se esperaria da sua população ou mesmo do seu peso económico. En-
Colômbia, as exportações incidem sobre menos de 10 mil milhões $:0ao
estrangeiro e a Etiópia 300 milhões. A China e o México exportam só eles
tanto como os cerca de trinta países mais mal posicionados.4 Enfim,as
exportações de serviços, indicador de um certo grau de sofisticação
económica, são também elas reveladoras das disparidades do Terceiro
Mundo. Antes de mais, um terço dos Estados não exporta nenhum serviço e
um outro terço exporta menos de mil milhões de $.No último terço, apenas
alguns ultrapassam os 10 mil milhões $:China, Tailândia, Turquia, Egipto,
Brasil, México, Arábia Saudita.·
76-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
Bangladesh). Por si só, este grupo inclui perto de 60% da população
do Terceiro Mundo.
A DIVERSIDADE ECONÓMICA-77
cados, tal como faz o Banco Mundial, apenas em função do seu PNB fraco
rendimento (menos de 750$), as economias de rendimento in-tia superior
(3000 a 9000$), por fim as economias de rendimento ele-vado (mais de
9000$)?
Quem percorreu um bom número destes países e pôde pois compará-los
sente, mesmo de forma muito intuitiva, que o nível e a natureza do próprio
desenvolvimento diferem do México para a China, de Marrocos para o
Quénia, por exemplo. Apercebemo-nos então que a pertença a esta ou
àquela grande área de cultura deve ter de facto a sua importância. Estas
áreas culturais, moldadas por uma história e/ou uma língua e/ou uma
religião e/ou uma ideologia e/ou um meio comuns, contribuíram para
modelar os modos de pensar, de sentir e de agir, e portanto atitudes ou
talvez atitudes capazes de integrarem mais ou menos bem a cultura
tecnicista que conduz ao desenvolvimento, pelo menos tal como o entende o
Ocidente.
A nossa tese é pois que os Terceiros Mundos podem ser reagru-pados em
quatro conjuntos: a América Latina, o mundo árabe-mu-çulmano, a Africa
subsariana e a Ásia. Com efeito, cada uma destas áreas reagiu, e reage ainda
de maneira diferente aos modelos económicos,políticos, sociais e culturais
propostos ou impostos pelos países ocidentais (incluindo o Japão) seja
directamente, através da colonização por exemplo, seja indirectamente
através da mundia-lização das trocas de produtos, de serviços, de capitais, de
informa-ções e de homens.-Cada um destes Terceiros Mundos atingiu pois
um nível de desenvolvimento diferente e apresenta características de
desenvolvimento originais, ainda que cada um, como veremos, revele
facetas regionais matizadas. Forneçamos algumas provas, antes de levar
mais longe a análise com a apresentação de cada um dos Tercei-ros Mundos.
Por várias vezes já, podemos verificar que estes quatro Terceiros Mundos
apresentam diferenças sensíveis. Pudemos constatar nomea-damente que a
sua transição demográfica era mais ou menos avançada
78-ROBERTCHAPUIS/THIERRYBROSSARD
(fig.2) e que as suas estruturas económicas estavam longe de serem
Uma primeira constatação se impõe. Para cada um dos critérios o leque abre-se
amplamente entre os extremos: duas vezes mais acti-vos agrícolas em África do que
na América Latina, quatro vezes me-nos energia consumida, PIB/habitante quatro
vezes inferior, cerca de duas vezes menos adultos alfabetizados, mortalidade infantil
mais de duas vezes inferior, fecundidade duas vezes mais fraca. Há real-mente um
mundo entre estes dois Terceiros Mundos!
Segunda constatação. Do que ressalta do aspecto económico (os quatro
primeiros critérios), a classificação mantém-se quase sempre idêntica: a América
Latina à cabeça, seguindo-se o mundo árabe-mu-çulmano e a Ásia, por último a
África sempre na cauda; o mundo árabe-muçulmano'só se encontra à cabeça no
referente ao consumo alimentar e energético.
Terceira constatação, no que respeita aos aspectos demográficos e sociais, a
América Latina vem sempre à cabeça mas, atrás,a ordem inverte-se uma vez que a
Ásia passa adiante do mundo árabe-muçul-mano: alfabetização um pouco melhor
na Asia, mortalidade infantil equivalente, fecundidade muito mais baixa. Em suma, a
Ásia asse-melha-se mais à América Latina do que à África.
Mas uma questão se levanta: estas médias não ocultarão, na rea-lidade,
situações muito contrastadas, de um Estado para o outro, no interior de cada um
dos Terceiros Mundos? Para responder a esta
QUADRO 4
Alguns indicadores relativos aos Terceiros Mundos
África
América
Mundo árabe-
Latina Subsariana
Activos agrícolas (em %)........... 27 35 60 59
Consumo de energia/hab.
(em kg-equivalente petróleo).
954 1195 446 250
PIB real/habitante ($)................ 5082 4390 2016 1270
Consumo de calorias/hab/dia ... 2753 3026 2528 2091
Alfabetizaçāo (em %) ...... 85 64 69 55
Mortalidade infantil (em ‰) ....... 41 51 52 93
Filhos por mulher......·.......... 3,1 4,6 3,1 6,3
A DIVERSIDADE ECONOMICA - 79
seguidas de classificações hierárquicas ascendentes, primeiro sobre a países com
mais de 10 milhões de habitantes que são os únicos repre-sentados nos gráficos.
A DIVERSIDADEECONÓMICA-81
A DIVERSIDADEECONÓMICA-81
mento económico: América Latina primeiro, seguindo-se o mundo um
do outro, os dois últimos estando bastante desfasados em relação um
ao outro.
A síntese relativa ao nível de vida, realizada com dois descodifi-cadores2,
fornece resultados bastante comparáveis. Os países organi-zam-se no gráfico
segundo uma parábola que vai dos países cujo nível de vida é menos elevado, em
cima à esquerda, em direcção àqueles em que ele é mais elevado, em cima à
direita (fig. 18). Os primeiros distinguem-se pelos seus maus resultados tanto na
sua escolarização (em todos os níveis de ensino) e alfabetização, como no seu
enqua-dramento médico, na sua alimentação, na sua taxa de motorização e
naturalmente no seu indicador do desenvolvimento humano e no seu PIB real,
como na sua fraca urbanização.
O grupo 1 apenas compreende, uma vez mais, países africanos,com excepção
de três Estados asiáticos penalizados nomeadamente por um crescimento
demográfico muito rápido (Bangladesh, Nepal,Afeganistão). O grupo 2 é 90%
africano. Os grupos 3 e 4 são maioritariamente asiáticos, sobretudo se levarmos
em consideração a população uma vez que os quatro países mais populosos
(China,Índia, Paquistão, Indonésia) dele fazem parte. O grupo 5,ligeiramente mais
bem colocado que o 4 é partilhado entre o mundo árabe-muçul-mano e a Ásia.
Enfim, os grupos 6 e 7 são a 85% latino-americanos.Encontramos pois
efectivamente aqui a ordem habitual que coloca a América Latina à cabeça,
seguida do mundo árabe-muçulmano, da Ásia, e finalmente a África.
Em contrapartida, a síntese demográfica, realizada a partir de oito
descodificadores 3 apresenta uma ordem modificada dado que,como iremos
constatar, a Ásia segue a América Latina de perto, en-quanto o mundo árabe-
muçulmano aparece aqui mais próximo da Africa.
Os 52 Estados com mais de 10 milhões de habitantes repartem-se novamente
por uma parábola que vai dos países onde a transição demográfica mal se iniciou
(em cima à esquerda), em direcção àque-
habitantes)
A DIVERSIDADE ECONÓMICA- 83
fraca percen-
A DIVERSIDADE ECONÓMICA- 83
FIGURA 19-AFC: Demografia (países com mais de 10 milhões de habitantes)
tagem de pessoas idosas, ligada nomeadamente a uma esperança de dentemente
pelos seus desempenhos inversos.
avançada, é partilhado entre a América Latina e a Ásia, com uma
CONCLUSÃO
O que se chama Terceiro Mundo é pois efectivamente um conjunto de
países cujo nível de vida e evolução demográfica formam um leque
extraordinariamente aberto. Que haverá de comum entre a
Etiópia,Moçambique e a Tanzânia por um lado, e a Argentina, o México e o
Brasil,por outro?
Mas, por outro lado, as análises precedentes indicam que se des-tacam,
globalmente pelo menos, quatro Terceiros Mundos no interior de cada um dos
quais os desempenhos económicos, as condições de vida, a evolução
demográfica aparecem como relativamente seme-lhantes, apesar dos matizes
regionais ou mesmo de algumas excep-ções notórias. São estes quatro
Terceiros Mundos que iremos agora analisar, por ordem do seu nível de
desenvolvimento económico. Amé-rica Latina e mundo árabe-muçulmano
seguem-se de bastante perto,mas a primeira assenta já um pé no
desenvolvimento enquanto a si-tuação do segundo é economicamente mais
frágil, apesar do petróleo,demograficamente mais inquietante, politicamente
mais incerta.namismo económico da primeira e a sua relativa sageza
demográfica subsariana decididamente está «mal lançada».
SEGUNDA PARTE
OS QUATRO
TERCEIROS MUNDOS
QUADRO 5
Os quatro mundos do Terceiro Mundo: indicadores
América Mundo
Latina árabe- África sub-
muçulmano sariana
Economia
Demografia
A AMÉRICA LATINA:
UM PÉ NO DESENVOLVIMENTO
92 -ROBERT CHAPUIS/THIERRYBROSSARD
população activa, ou seja duas vezes mais do que a da África e ainda minas e
na energia, é um quarto dos latino-americanos que estão ocupados na
indústria no sentido amplo do termo.
Estes números poderiam ser apenas meios recobrindo uma reali-dade
contrastada. Não é isso que se passa. Em todos os países com mais de 10
milhões de habitantes, que representam 85% da popula-ção total, a indústria
(no sentido amplo) ocupa sempre pelo menos um quarto dos activos, à
excepção do Peru (22%)e da Colômbia (19%).Nestes mesmos países, o sector
manufactureiro emprega sempre mais de 14% da māo-de-obra e mesmo um
quarto na Argentina, uma pro-porção equivalente à da França (mapa 5).
Nos pequenos países, aliás, a situação não é diferente. Apenas o Belize, as
Honduras e o Panamá não ocupam mais de 15% dos seus activos na indústria,
sem contar com o Haiti que, com 10%, é deste ponto de vista como de muitos
outros, mais africano do que latino--americano. Ao invés, no Uruguai, na
Jamaica, em Trindade, mais de 30% dos empregos são fornecidos pela
indústria.
Evidentemente, o lugar detido pela indústria na criação de rique-zas
nacionais é muito superior ainda. Um terço do PNB provém da indústria no
sentido amplo, número aparentemente comparável ao do mundo árabe-
muçulmano, mas estruturalmente muito diferente:neste último, a indústria
manufactureira não participa senão com um pouco mais da metade (o resto é
fornecido pela extracção petrolí-fera) enquanto ela representa três quartos na
América Latina. Esta épois fundamentalmente mais industrializada do que o
mundo árabe--muçulmano que conta mais com os seus recursos naturais. Por
todo o lado, tirando quatro excepções, das quais Cuba e a Bolívia, a indús-tria
manufactureira participa com 15% pelo menos para o PNB, e frequentemente
muito mais (32% no Brasil) (mapa 6).
O valor acrescentado pela indústria manufactureira latino-ame-ricana
(38% do conjunto dos Terceiros Mundos) é equivalente ao da Asia sem os
quatro dragões (42%), mas não esqueçamos que a América tra 3000 milhões
na Ásia... O mundo árabe-muçulmano e a África sóceiros Mundos. Os mapas
elaborados por D. W. Curran fazem sobres-
sair nitidamente que a América Latina é campeã no que se refere ao Por todo
o lado este valor situa-se entre 400 e 1000$, salvo nos países andinos e na
América Central (que se coloca entre 200 e 400$,en-quanto noutros partes,
apenas a Arábia Saudita atinge este resul.tado e unicamente seis outros países
(essencialmente árabe-muçul-manos) se posicionam entre 200 e 400 $ por
habitante.
Outros índices confirmam a importância, pelo menos relativa,desta
indústria. Nas cerca de 600 firmas importantes que fazem par-te dos T'erceiros
Mundos, aproximadamente 30% são latino-america-nas, dentre as quais dois
terços brasileiras. O consumo de energia,muito em correlação com o consumo
industrial, é um pouco inferior àdo mundo árabe-muçulmano, mas duas a
quatro vezes mais forte do que a da Ásia ou da África. À excepção de alguns
pequenos países,bem como do Equador ou do Peru, o consumo ultrapassa por
todo o lado os 600 kg de equivalente-petróleo por habitante (mapa 7).
Já foram referidas, mais acima, as indústrias brasileiras e mexica-nas, para
se sublinhar nomeadamente a sua variedade; não voltare-mos a focar este
ponto. Aliás, a indústria é certamente menos variada e menos desenvolvida,
mas está longe de ser inexistente. Na Venezuela para além da refinação de
petróleo (16. capacidade mundial) e da petroquímica, uma política de
substituição de importações diversifi-cou a indústria para sectores como o
agro-alimentar (açúcar, leite), o tabaco, o papel, o têxtil, o alumínio, o material
eléctrico e de transpor-te (estaleiros navais). Na Colômbia, à utilização dos
recursos naturais (petróleo, gás natural, carvão, ouro), juntou-se uma indústria
compe-titiva no agro-alimentar (açúcar, café, cerveja), tabaco, o têxtil,a quí-
mica, o aço, o automóvel (Renault), os aparelhos electrodomésticos,etc. A
Argentina, apesar de ter falhado a sua descolagem económica,continua a ser o
sexto país industrial dos Terceiros Mundos.
Focos de menor envergadura existem aliás, no Chile, no Uruguai,na
América Central onde, paralelamente aos sectores agro-alimenta-res e têxtil
tradicionais, se desenvolvem, em parte graças a investido-res estrangeiros,
novas indústrias químicas, metalúrgicas, mecâni-cas mais dinâmicas: 80% das
trocas praticadas no âmbito do Mercado Comum Centro-Americano incidem
sobre produtos manufacturados.Nas Caraíbas, durante muito tempo apenas
emergia Porto Rico, onde os Estados Unidos haviam maciçamente investido na
petroquímica,na farmácia, na electrónica, bem como em Trindade, cuja
actividade as zonas francas multiplicam-se um pouco por toda a parte, a favor
94-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
actualmente 300000 empregos na zona caraíba, entre os quais
dades. Veremos que ela contribuiu pesadamente para endividar a çāo selvagem de
certos recursos, tais como o minério de ferro na tria está igualmente muito
dependente do estrangeiro, sobretudo dos mentos estrangeiros directos efectuados
nos Terceiros Mundos. O caso multinacionais que acumulam 51% do emprego e 55%
do valor acres-rente, visto queuma boa parte do investimento diz respeito às céle-
fronteira americana, representam 15% do emprego mexicano ecria-ram um
emprego em quatro entre 1982 e 1990. A entrada do país na ALENA reforçou esta
tendência dado que, em 1995, 70% dos investi-mentos estrangeiros se efectuaram
nas maquiladoras que, além disso, assistiram à criação de 100 000 empregos.
Contudo, uma parte dos empréstimos contraídos foi desperdiçada.O essencial
serviu ainda assim para melhorar as infra-estruturas indis-pensáveis para a produção
a para a comercialização dos produtos indus-triais (vias de comunicação,
nomeadamente), bem como para inves-tir directamente nas minas, na energia e na
indústria manufactureira.
Por outro lado, os investidores estrangeiros, que durante muito tempo
suscitaram quase por todo o lado tanta desconfiança, são hoje cortejados: as bruxas
multinacionais transformaram-se hoje em fa-das benfazejas... [7]. Segundo A.
Debrusson e A.Vanneph, os benefǐ-cios das maquiladoras estão longe de serem
negligenciáveis. Com efeito, o México cobra uma taxa sobre o valor acrescentado,
vende a energia bem como certos serviços e aufere salários. Além do mais,depois de
uma primeira geração de empresas apenas interessadas na mão-de-obra feminina
«jovem, disponível, barata, sem reivindica-ções ou greves», uma segunda geração se
instala. Mais sofisticada (electrónica, automóvel), necessita de uma melhor
qualificação da mão-de-obra (logo salários mais elevados), ocasiona transferências
tecnológicas utilizáveis noutros lugares e permite, por conseguinte, o nascimento de
uma «cultura industrial».
habitantes) nas ilhas Caimão (ex-ilhas da Tartaruga) povoadas com das 18 000
QUADRO 6
Percentagem do rendimento das famílias
por fatias de rendimento na América Latina
Quinto
Primeiro quintil Segundo Terceiro Quarto
quintil
(o mais pobre) quintil quintil quintil
(o mais rico)
Brasil......... 2 5 9 17 67
Colômbia.. 4 8 13 20 55
Peru........... 5 10 14 21 50
Venezuela.. 4 7 12 19 58
França....... 6 12 17 24 41
B) A URBANIZAÇÃO TRIUNFANTE
A América Latina vai assistir, com efeito,à realização «do maior
empreendimento de urbanização da história (dado que) em três sé-culos foram
fundadas cerca de um milhar de cidades (...) No final do século xvıII, a América
Latina é a região mais urbanizada do pla-neta»[8].
Após uma certa acalmia, a urbanização reanima-se com mais vi-gor a partir
dos meados do século xx. Entre 1950 e 1980, a população citadina aumenta 4,1%
ao ano, quando a dos campos apenas progride 0,8%. Desde 1960, o número de
citadinos ultrapassa o dos rurais e hoje, com 73% da sua população nas cidades, a
América Latina dis-tancia-se muito do mundo árabe-muçulmano (56%) e mais
ainda do da Ásia (27%) e da África (30%). Ela conta com algumas das maiores
aglomerações urbanas do mundo: Cidade do México (19 milhões de habitantes e
30 para a região urbana), São Paulo (16), Rio de Janeiro (10), Buenos Aires (11),
Lima (8), Bogotá (6) e frequentemente mais de 40%o de citadinos residem na
capital. Uma pessoa em cada quatro reside numa cidade com mais de 500 000
habitantes. Em todos os grandes países à excepção do Equador, pelo menos dois
terços dos habitantes vivem na cidade. Apenas alguns pequenos Estados da
América Central, assim como a Bolívia e o Paraguai, são menos urbanizados (mapa
28).
Entre 1980 e 2000, o crescimento deverá prosseguir, ao mesmo tempo que
abranda um pouco: 2,9% ao ano, contra 0,4% nos campos.No final do período, 200
milhões de latino-americanos viveriam em aglomerações com mais de 500 000
habitantes e a Cidade do México poderia atingir uns trinta milhões, São Paulo 26,
Rio de Janeiro 19,Buenos Aires 12, mas desconfiaremos apesar de tudo das
previsōes,frequentemente excessivas, dos demógrafos da ONU...
Esta urbanização rápida ou até selvagem é geralmente
funesta.prostituição, delinquência, etc., acompanham-na as mais das
vezes.camente, foi a cidade que foi factor de progresso económico,
social,
verificado por vezes muito elevado, como na Inglaterra do século
xIx.
Com efeito, de um ponto de vista económico,a passagem do campo dário ou
terciário traduz-se, como dissemos, num ganho de produti-Uma vez na cidade, três
em cada quatro migrantes vêem os seus gan-Nordeste brasileiro triplica o seu salário
no Rio e um trabalhador agrícola do Nordeste. O migrante revela-se frequentemente
um ele-mento positivo para a cidade: verificámos que na Colômbia e no Brasil os
migrantes que residiam desde há longa data na cidade ti-nham frequentemente
rendimentos mais elevados do que os citadi-nos de nascença.
Enfim, o crescimento urbano dá lugar a economias de escala na produção e
fornecimento de água, de electricidade, de saúde, etc.Esquecemo-nos amiúde que as
condições de vida médias são bem melhores na cidade do que no campo. Por
exemplo, a percentagem de citadinos que têm acesso aos serviços de saúde e de água
potável éduas vezes mais elevado do que o dos rurais (cerca de 80% contra 40);para o
saneamento, é cinco vezes mais. A percentagem de população abaixo do limiar de
pobreza é quase duas vezes mais forte no campo do que na cidade. Em suma, a
pobreza urbana dá nas vistas e é provo-cadora, mas não maioritária; a pobreza rural é
discreta mas mais generalizada.
Cada partida para a cidade é igualmente benéfica para o campo.Este,por vezes já
superpovoado, continua a ver a sua população a aumentar apesar do êxodo rural.
Este contribui pois para limitar,nas regiões mais pobres, a miséria rural; ele
desempenha o papel de uma válvula de segurança.
Cada vez mais vozes se elevam para sustentar esta tese. P.Mauroy,durante um
congresso realizado em Lille, em 1991, sobre o tema«As cidades, trunfos ou freios do
desenvolvimento do Terceiro Mundo»afirmava: «A cidade dos países do Terceiro
Mundo aparece como um de todos os riscos sociais, de todos os ataques à dignidade
humana, ao do desenvolvimento económico, social e cultural dos países do Terceiro
Mundo» (Le Monde 10.12.91).
114-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
Este discurso, proferido pelo Presidente da Cámara de uma grande
cidade francesa, poderá parecer pouco objectivo.Ele é no entanto Mundo.
Durante o mesmo congresso, M. Arcot Ramachandran, di.tempo de
abandonar a ideia de que a urbanização nos países em vias versível» e M.
Diagne, presidente da Câmara de Longa,no Senegal,cultura, uma
microeconomia para reanimar o nosso sector privado.sar dos males de que
padecem?»
Basta, de resto, constatar a correlação positiva entre o grau de
urbanização dos Terceiros Mundos e o indicador de desenvolvimento
humano para não se ter dúvidas de que a urbanização é actualmente um
trunfo para a América Latina e uma garantia de desenvolvimento para o
futuro.
C) FRAGMENTAÇÃO E RECOMPOSIÇÃO
A uma colonização antiga sucedeu uma descolonização precoce.Salvo
raras excepções (Guianas, algumas ilhas caraíbas), a indepen-dência foi
alcançada entre 1816 e 1825 ou, no pior dos casos no se-gundo quartel do
século xix. O Império Português mantém a sua uni-dade,para dar o Brasil,
enquanto o império espanhol se fragmenta em cerca de vinte pedaços.
Os generais que dirigiram as guerras de independência tomaram
frequentemente o poder («caudilhismo»). De igual modo, a estrutura social
presta-se à instalação de um clientelismo favorável ao poder pessoal: uma
oligarquia de proprietários de grandes domínios (fazen-das, haciendas,
estancias) domina uma massa de peones (trabalhado-res agrícolas sem
terras) e de minúsculos proprietários. São pois fre-quentemente os crioulos
que assumem o poder e que mantêm as estruturas coloniais e culturais
(língua, religião).
Mas esta estrutura não garante por si a estabilidade. A América Latina
vai tornar-se rapidamente terra de pronunciamentos e de lante entre
democracia e autoridade, de princípios democráticos mes o PRI mexicano no
poder há meio século), de generais-opereta e de
da imagem de um <liberalismo democrático idealizado [ que ue
1952 e 1962, e a Bolivia tantos presidentes quantos os anos
desde a e o ressurgimento de ditaduras militares em todos os
grandes paises
Ora, eis que a década de 80 transforma completamente a paisa-guidamente no
presidente Aristides foi expulso em 1991 para a democracia seja reforçada pelo
Estados Unidos.
Desde a independência, com efeito, as relações entre Estados fo-ram
restringidas e as cooperações mais ainda. Após um período de indecisão, cada um
deles, ao contrário, havia-se mais ou menos con-solidado em nação, a favor da
estabilidade das fronteiras. Dos trinta e três Estados-nação soberanos «dois em
cada três têm uma existên-cia institucional anterior à da maior parte dos Estados-
nação da ve-lha Europa» [8] e chegou-se mesmo a dizer que os países da América
Latina haviam sido o campo de experimentação do Estado-nação.
A partir do pós-guerra, e sobretudo a partir dos anos 60, manifes-tou-se uma
vontade de cooperação. Desde 1948, por iniciativa das Nações Unidas, a
Comissão Económica para a América Latina (CEPAL)reúne-se em Santiago, apesar
das reticências dos Estados Unidos. Ela estabeleceu como objctivo «a elevação do
nível de vida,da industrialização e da diversificação da economia americana e a
melhor distribuição do seu comércio internacional» [8]. A este jun-tar-se-ão, a
partir de 1954, a planificação do desenvolvimento, a re-forma fiscal e agrária, a
cooperação técnica e novas abordagens no investimento estrangeiro.
Algumas destas ideias são postas em execução, nomeadamente 1960 é
diferente. O Paraguai está, com efeito, atrasado em rela-sil do que aos seus
16
Activos na indústria manuf.(%) 23 20 17
50 45
Activos no terciário (%) 58 47 32 36
Agricultura no PNB(%) 8 10 13
Minas no PNB (%) 6 8 15 5 1
20 0
Indústria manufact. no PNB (%) 26 26 22
3
Demo grafia
Nível d e vida
Alfabetizados (%) 95 86 86 81 70
Alunos no primário (%) (3) 100 100 98 98
Alunos no secundário (%) (3) 69 46 55 56 34
Estudantes na universidade (%) (3) 34 13 26 18 14
Números de habitantes/médico 570 764 1018 2543 2142
Calorias por dia e por hab. 2780 2955 2419 2520 2408
Número de habitantes/automóvel 13 12 40 80 83
Citadinos (% da pop. total) 83 76 72 58 47
Indicador do Desenvolv. Humano 868 814 780 636 632
122-ROBERTCHAPUIS/THIERRYBROSSARD
34 milhões de argentinos» [8]. A região metropolitana de Buenos Aires
concentra sô ela 11 milhões do pessoas em 3800 km", ou seja, meio
departamento francês. No Chile cinco sextos estão urbanizados e um
chileno em cada três mora no Grande Santiago. Nove uruguaios em cada
dez moram na cidade, e mais de metade em Montevideo ou nos seus
subúrbios. Mesmo o Paraguai, onde os citadinos são ligeira-mente
minoritários, é afectado pela macrocefalia: a Grande Assunción ultrapassa
um milhão de habitantes num país que no total não conta mais de quatro.
Apesar da desclassificação económica que conheceu nas décadas de 70
e 80, o Cone Sul mantém o melhor nível de vida da América Latina. Com
um PIB real de mais de 5600$ por habitante (contra 5080 em média), uma
ração calórica por habitante equivalente à do Japão (2780 contra 2860), um
enquadramento sanitário análogo ao da França, uma alfabetização quase
total, uma escolarização de bom nível (aproximadamente 70% dos jovens
no ensino secundário,30%na Universidade), um IDH que se aproxima dos
900 pontos, o Cone Sul não tem nada a invejar, pelo menos globalmente a
Portugal, àGrécia e aos países do Leste.
No entanto, as disparidades espaciais e sociais, tradicionalmente menos
gritantes do que noutras partes, acentuaram-se de há duas décadas para
cá. Na Argentina, segundo os autores da Géographie Universelle, 22% da
população estava, em 1980, abaixo do limiar de pobreza e, em 1984,
metade dos assalariados da Grande Buenos Aires «ganhavam no máximo o
equivalente a 1,2 salário mínimo vital», situação que levou a sublevações
em 1989. Outros exem-plos foram dados mais acima. A retoma actual do
crescimento (cerca de 5% ao ano desde o início dos anos 90) deveria
reconduzir o Cone Sul a uma situação mais em conformidade com um
passado mais brilhante.
o MUNDO ÁRABE-MUÇULMANO:
ISLAO E PETROLEO
Qatar aproxi-
naLíbia,no
134-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
tamentos,etc.) que conheceram os pafses petroliferos entre a
subid
As fábricas de dessalinização da águn do mar multiplicaram-se os anos 100
milhoes de ma de água; nos Emirados Arabes Unides,existiam; uma outra funciona
em Oman. OKoweitdispõe de seis 150 milhōes de m. Várias zonas industriais e
portuárias viram a luz do dia no Irão, no Iraque, na Arábia Saudita.
35% do total, cifra ainda modesta mas em rápido cresci-Tunísia, por 6 na Arábia
136-ROBERT CHAPUIS/THIERRYBROSSARD
menos do que na Ásia ou em África, onde seis activos em cada dez sāo todos os países
pequenos países (Emirados Árabes população activa no trabalho da terra (mapa 2).
Estes números são tanto mais surpreendentes que o mundo ára-be-muçulmano
corresponde, salvo raras excepções (litoral do Medi-terrâneo e do mar Negro, certas
montanhas), a um vasto conjunto de estepes e de desertos onde as culturas estão
submetidas a condições climatéricas fortes ou extremas que fazem oscilar a produção do
sim-ples para o dobro (ou mesmo pior) de um ano para o outro.
Apenas os países mais bem colocados (Magrebe, Turquia) ou aque-les que instalaram
uma rede de irrigação (Egipto, países do crescente fértil) conseguiram dotar-se, pelo menos
localmente e em certas ex-plorações modernas, de uma agricultura de bom nível,
simultanea-mente produtiva e competitiva. É o caso de Marrocos que exporta
citrinos,legumes de Inverno e flores, da Tunísia (azeite), da Turquia (passas, amêndoas), do
Egipto (algodão).
Os investimentos faraónicos de determinados países para irriga-rem o deserto e aí
cultivarem trigo resultam mais de um desejo de autonomia alimentar e de prestígio do que
de uma preocupação de eficácia e de rentabilidade. É o caso das obras levadas a cabo desde
1984 pela Líbia para realizar o Grande Rio artificial que deveria le-var as águas dos lençóis
freáticos do Sul para Tripoli e Benghazi, ao longo de 4000 km. Eles deveriam aumentar a
superfície irrigada em 160 000 ha e custar 25 mil milhões $. A Arábia Saudita, que realizou
grandes e dispendiosas obras nos seus desertos, dispõe agora de 430 000 hectares irrigados;
triplicou é verdade a sua produção de trigo, mas paga-o aos seus produtores três a cinco
vezes o preço mun-dial, e exporta, mas evidentemente a perder...
A agricultura é pois dual. Ao lado das explorações modernas sub-siste uma massa de
pequenas explorações arcaicas, ainda largamente autárcicas, e que se dedicam
essencialmente a culturas de subsistên-cia (trigo e cevada sobretudo) de fraco rendimento
(com frequência menos de 15 quintais por hectare).
Nos números pelo menos, a criação de gado parece ocupar um percorrem as
estepes da região, entre as quais 40% no Irão e na Tur-nos mesmos países, são criados
nas zonas mais húmidas. Mas trata-
que a do Brasil) que Saddam Hussein quis pôr a mão na mina de ouro
koweitiano.
Pode-se no entanto pensar que, para além do Iraque ainda sujeito às
sanções da ONU, a saúde dos países produtores de petróleo,e logo a
dosbancos, deveria melhorar rapidamente, à semelhança dos poços de
petróleo koweitiano que foram postos em funcionamento duas vezes mais
depressa do que o previsto e da reconstituição dos haveres do Koweit no
estrangeiro, já realizada pela metade em 1996...
Os transportes beneficiaram igualmente, durante o período de euforia,
de um rápido crescimento. Os países petrolíferos do Médio Oriente, e em
menor medida os outros, investiram muito nas estra-das, auto-estradas, nos
aeroportos, nos portos. Em toda a Península Arábica, os portos foram
modernizados; Dubai é considerada como a «Roterdão do Golfo de tal
modo a sua actividade é importante» [32].Fizeram o mesmo na Argélia e em
Marrocos. Viu-se por vezes dema-siado grande,e os imensos cais para os
superpetroleiros de 500 000toneladas estão frequentemente desertos. Os
Emirados Árabes Uni-dos contam seis aeroportos internacionais.
Mas a circulação rodoviária e auto-rodoviária desenvolveu-se ainda
mais. Doravante, com um automóvel por cada 40 habitantes, o mundo
árabe-muçulmano é ultrapassado pela América Latina, mas ultra-passa de
longe a África e a Ásia (mapa 11). A densidade média das imensos, mas ela
é relativamente boa nos territórios habitados.O turismo deveria ficar assim
favorecido.
Cabilia longo dos últimos dez anos; apesar das limitações que
na Alemanha.
nao enriquecem globalmente o mundo árabe-muçulmano,mas se assim se pode
viviam nos países do Golfo, para uma -muçulmano, o outro terço era originário do
148-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
Aanálise do nível escolar conduz às mosmas constatações
foi tar.Latina, e as mulheres são ainda menos, dado que apenas 45%
NÃO CONTROLADO
A) UM CASO MUITO PARTICULAR
muito ligado ao seu rendimento. Geralmente, à medida que o nível passa. O
mundo árabe-muçulmano permanece,juntamente com a em África), exibe uma
fecundidade superior em 50% à da América Latina e da Asia. Que se passa então?
Afastemos a ideia com demasiada facilidade admitida da poliga-mia.Em parte
nenhuma ela ultrapassa os 10% das famílias; é atéinferior a 3% na Argélia, no
Egipto e na Síria (Ph. Fargues,PS,n.°198) e não é certo que ela seja, em si mesma,
factor de fecundidade.Como noutros países, a família numerosa é considerada ao
mesmo tempo uma força de trabalho e uma segurança para a velhice. Em país
muçulmano, junte-se a ideia de que a contracepção não é compa-tível com a
religião. No entanto, este tipo de crença exista na América Latina, mas ele não
impediu a fecundidade de aí baixar rapidamente.
A razão essencial deve-se pois ao facto de, no mundo árabe-mu-çulmano, a
religião se ter mantido mais impregnante do que noutros sítios e a organização
tradicional da família ter resistido melhor. Se-gundo Ph. Fargues, três tradições-
chave explicam a manutenção desta fecundidade: o dote,«a endogamia da
patrilinhagem» e a condenação anos de poupanças, reforça o poder do homem
sobre a mulher.asamento precoce e reforça o poder da família sobre o indivíduo.
Por Juta,tanto para o homem como para a mlher». Desejo de familia
O MUNDO ÁRABE-MUÇULMANO:ISLAOEPETRÓLEO-153
ram. Vai alcangar a Asia central a norte, a fndia e a Indonésin a leste
m undo rabe na e enão um dos cinco espaços islamizados,negro-
africano[28].. Mas ele tem esta originalidade de ser o coração do islão.
pregna o islão dos alauitas sírios e dos druses do Líbano e da Síria na vida
alto nível
astronomia, as matemáticas, a geografia,a medicina,a
agricultura.
3. A CIDADE NO CORAÇÃO
164-ROBERTCHAPUIS/THIERRYBROSSARD
tudo o sectorterciáriodetêm um maior lugar no emprego. Em omelhante ao
dos outros patses do Medlio orien te sen d e e
rudo se passa como se estes pequenos países nao tivessem anda
tido tempo,,ou vontade,
B) O MÉDIO ORIENTE
Poder-se-ia esperar, no Médio Oriente, uma diferenciação notável entre os
grandes países petrolíferos por um lado (Arábia Saudita,Irão, Iraque antes da
guerra do Golfo) e os outros países pouco provi-dos ou mesmo desprovidos de
petróleo (Jordânia, Líbano, Síria, Tur-quia, Iémen). Ora, não é de facto o que
sucede. Excluindo o Líbano,devastado pela guerra, e o Iémen, cujo atraso
tradicional foi agrava-do por problemas internos, os Estados não petrolíferos
fazem boa figura perante os bem providos.
Os primeiros compensaram a sua falta de petróleo com uma in-dustrialização
mais avançada. A parcela da indústria manufactureira no PNB é 50% mais
elevada do que nos produtores (quadro 8).Recordemo-nos que a Turquia
aparece agora como um verdadeiro pretendente ao título de NPI e a própria Síria
industrializa-se rapi-damente. O sector terciário é mais desenvolvido nos países
não pe-tário é até melhor nos países não petrolíferos. A transição demográfica
filhos por mulher desceu aí para 4,5 (5,4 nos países petrolíferos). Nǎo
Médio
Pequenos Grandes Oi
Estados Estados
rente
ã África
petroliferos petroliferos
o
Sentrional
petrolifero
Econo
mia
Demo grafia
Nível d evida
Alfabetizados (%) 69 67 74 53
Alunos no primário (%) (3) 92 96 95 91
Alunos no secundário (%)(3) 53 60 55 61
Estudantes na universidade (%) (3) 11 15 15 14
Número de habitantes/médico 942 2437 1623 2102
Mortalidade infantil (‰) 42 46 62 48
Esperança de vida (em anos) 63 68 64 63
Calorias por dia e por hab. 3202 2694 3195 3158
Número de habitantes/automóvel 9 34 45 43
Citadinos (% da população total) 63 64 58 48
PIB real(em $) 5831 5070 3794 4169
Indicador do Desenvolv. Humano 798 726 659 633
(1) Centenas de g. nutritivos/ha.
(2) Em kg de equivalente petróleo.
(3) % do grupo de idade.
C) A ÁFRICA SETENTRIONAL
CONCLUSÃO
O Terceiro Mundo árabe-muçulmano encerra pois efectivamente em si uma
originalidade evidente. A unidade dada pelo islão e pela língua árabe é reforçada
pela implementação de um tipo de desenvol-vimento fundado geralmente sobre o
petróleo, quer este seja vendido cou frequentemente a agricultura. Contudo, este
desenvolvimento,frágil. É-o tanto mais que um crescimento demográfico ainda
bastante volvimento social. Deste ponto de vista, o mundo árabe-muçulmano certos
aspectos, do que a Ásia, como iremos ver agora.
A ÁSIA:
UM TERCEIRO MUNDO BEM LANÇADO
pode coexistir lado a lado com a riqueza mais louca. Na In.têm fortunas
colossais que chocam tanto mais por se exibirem,em A China, mais igualitária
174-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
pessoas pormédico)
masdisparidades mais
vida,tal como noutros sítios, à melhoria dos rendimentos e da ção de citadinos duplicou.
Não obstante, nestas regiões em que o apego islamizado (estamos a pensar particularmente
Continuam a haver pois 1,8 mil milhões de pessoas que vivem Ihas
guerras, com frequência de facto apenas nos anos 50. Por tura. Os dois
produçáo.A
(20 a 50% nos nivel de vida dos campos e um início de motorização:o país conta
Na Índia, atéaos anos 70, os progressos são lentos, entrecortados mesmo por
regressões dramáticas. Subsiste ainda na nossa memória a última fome a que o
país assistiu em 1966, e no decurso de um mau ano como o de 1979, não se
colhem mais cereais do que em 1971 [1].Verificaram-se mesmo assim progressos
bastantes notáveis. Desde 1974, a produção de chá e de milho aumentou 50%, a
do trigo, do arroz,da borracha e da juta duplicou, a da batata e do açúcar
triplicou,a da seda quadruplicou. Os ovinos aumentaram 40%. Estes progres-sos
são tanto mais interessantes que, durante esse tempo, a popula-ção não
aumentou (se assim se pode dizer) mais de um bom terço, o que permitiu pois
aumentar a alimentação.
《 revolução verde». Ela consiste na introdução de novos métodos de esta ainda
não existia, utilização mais massiva de fertilizantes e de
Tamil Nadu no Sul. Não obstante,se como se diz por por isso empobreceu os
e portadora de produto e ea d o
e e e e e e e e ao da
o nar-se igualmente tanto um NPI como um NPIA, o que
signi ea
Em resumo, se se raciocinar pelo menos ao nível dos Estados,a
espectaculares: modernização técnica, aumento dos rendimentos,nacionais.
Por todo o lado, excepto na Coreia do Norte e no Nepal, a res) é beneficiária,
geralmente pouco mas por vezes muito, como na uma franja de países,
povoados com cerca de 200 milhões de habi-tantes (menos de 10% da
população total), fica de fora deste movi-mento geral de desenvolvimento
agrícola. Progressos, mais espec-taculares ainda, foram realizados no sector
industrial, mesmo fora dos quatro dragões que, recordemo-lo, não são tidos
em consideração neste estudo.
India,com 15%,encon
confirma, à primeira abordagem, uma constataçāodesubindus-
Tudo isto
2 Hong-Kong tornou-se ela própria uma destas ZES desde que foi integrada na China.
2.ESTADOS SÓLIDOS
economia.
(espera que)
Portodo o lado,
CONCLUSÃO
A Ásia está em andamento. Atada por razões diversas (em parti-cular por escolhas de
desenvolvimento autocentrado) a um nível eco-nómico muito fraco, assistiu entre 1965 e
1980 a um crescimento rápido (cerca de 6% ao ano). Entre 1980 e 1990, este crescimento
em média acelerou-se mais ainda (mais de 7% ao ano), em particular gra-ças à China, e
apesar da estagnação das Filipinas, ainda perturbadas por problemas internos. Vai ainda
continuar a acelerar-se nos anos vindouros, como vimos mais acima.
Apesar de um aumento ainda rápido da sua população, excepto na China, o
crescimento do seu PIB/habitante melhorou constantemente:2,5% ao ano entre
1960 e 1970, 3,1% entre 1970 e 1980,ainda na ordem nos anos 50 como os
condenados do Terceiro Mundo, os asiáticos mos-Os africanos fizeram a mesma
demonstração mas em negativo.
A ÁFRICA:
UM TERCEIRO MUNDO 《MAL LANNÇADO》
I. O CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO
MAIS FORTE DOS TERCEIROS MUNDOS
A África consegue a proeza de ter ao mesmo tempo a mais forte
demográfico do mundo. Quer dizer que ela está na primeira fase da ainda
226-ROBERT CHAPUIS/THIERRYBROSSARD
vendida ao desbarato (os pedaços inferiores de carne de vaca da CEE chegavam por
vezes aos portos africanos a 4 F o quilo...) e fixar os baixo preço possível, o que não
incita os agricultores a produzirem.O agricultor é, em suma, o garante da paz
urbana e do enriqueci-mento dos protegidos do poder.
Nos países produtores, o petróleo sinistrou por vezes a agricul-tura. Na Nigéria,
no final dos anos 60, a agricultura representa 55%do PNB e assegura 65% das
receitas de exportação. Em 1980 caiu-se para um terço do PNB e para 3% das
exportações; as importações cerealíferas absorvem então 20% das receitas
petrolíferas. Os inves-timentos públicos voltaram-se essencialmente para o sector
industrial.Recorreu-se pois maciçamente às importações alimentares e à polí-tica
de manutenção artificial da moeda nacional a um nível elevado desencorajou as
veleidades de exportação. Hoje a balança agrícola apresenta um défice de cerca de
mil milhões $.
O investimento público na agricultura é geralmente negligenciado.No Congo,
representa no início dos anos 80 apenas 1,2% dos investi-mentos totais realizados
pelo Estado, enquanto 40% da população trabalha neste sector [32]. O Congo é
apenas um exemplo entre os muitos destas políticas de efeitos desastrosos. De
igual modo apenas 5% dos fundos de ajuda pública internacional ao
desenvolvimento vão para as culturas de subsistência pluviais, base da alimentação
local. A investigação agronómica incide prioritariamente sobre as culturas de
exportação e muito pouco sobre as plantas de subsistên-cia locais como o milho
miúdo. O investimento privado é também ele restrito pois os agricultores,
demasiado pobres, não têm como pou-par para se modernizarem.
Os efeitos destas políticas inadaptadas foram agravados quando foram levadas a
cabo tentativas de colectivização forçada (fazendas de Estado, reagrupamento das
populações em aldeias, controlo esta-tal dos mercados) por regimes de inspiração
marxista: Angola, Burkina Faso, Madagáscar, Moçambique, Quénia, Zâmbia e
Etiópia, sofreram particularmente disto. Estes três últimos países foram particular-
mente vítimas de uma política de reagrupamento em aldeias («aldeização») que
deslocou 10 milhões de pessoas só na Tanzânia e
Todos os Estados que tentaram esta experiência já abandonaram tónica na
necessidade de uma agricultura que satisfaça tanto quanto
228-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
À excepção da África do Sul, pode-se dizer, sem forçar a carica-minas, o que só deixa
As razões desta situação são complexas. Para além dos factores exógenos que
perturbaram, e por vezes perturbam ainda a industria-lização dos países em vias de
desenvolvimento (sequelas do sistema colonial, organização actual dos mercados,
papel das multinacionais,etc.),factores que não são particulares à África, um certo
número de outros factores, que lhe são específicos, podem explicar o seu atraso
industrial, ou pelo menos o de algumas das suas regiões.
Pode-se pensar na desigual repartição dos recursos do subsolo.Estes são
globalmente apreciáveis, mas mal repartidos, com regiões menos bem dotadas do
que outras. É o que acontece com os países do Sahel que quase não dispõem do
minério de ferro da Mauritânia e dos fosfatos do Senegal, mas também com a África
Oriental,ainda menos bem provida. Mas há muito que se sabe que os trunfos natu-
rais e o desenvolvimento industrial não vão forçosamente a par. Vários países
africanos dão o exemplo disso. O pior é o imenso Zaire, quatro vezes o tamanho da
França, povoado com 40 milhões de habitantes,dispondo de verdadeiros tesouros
no seu subsolo, mas cujo valor acres-
C) UM SECTOR TERCIÁRIO
EXTREMAMENTE DEFICIENTE
Tiveram de novo tendência para subir nos anos 90. Por exem-reencontra o seu
sensíveis, sem contar o petróleo que concerne e fazem variar o PNB de uma forma
espectacular.
O problema agrava-se quando um país exporta quase exclusiva-quente nos
Terceiros Mundos já estudados é, em contrapartida, muito é demonstrativo. Com
efeito, aproximadamente 50% das suas expor-tações são fornecidas pelo café e pelo
cacau de que vimos mais acima as variações de preços. Graças, entre outras coisas,
ao aumento das exportações destes dois produtos, assim como de óleo de palma e
de algodāo,em 20 anos o país tinha multiplicado o seu PIB por 10 e o rendimento
por habitante progredia 3% ao ano, apesar de um rápido aumento da população. A
partir de 1981, com a queda dos preços do cacau e do café, o país viu o seu PIB
baixar,primeiro lentamente,depois rapidamente: entre 7 e 9% ao ano de 1988 a
1990. Tendo con-traído muitos empréstimos no momento do crescimento, foi-lhe
im-possível reembolsar a sua dívida em 1987 e 1988 e esta foi reescalonada. A
recuperação está em curso, houve uma retoma do crescimento a partir de 1994 e a
Costa de Marfim conserva um PIB real superior à média.
O caso da Nigéria é também ele instrutivo. Depois de ter conhe-cido, como
todos os produtores de petróleo, um extraordinário cres-cimento desde 1973,
sofreu duramente os contrachoques petrolífe-ros que se seguiram, provindo 97%
das suas exportações do ouro do petróleo». A inflação ultrapassa os 50% ao ano.
Apesar de um ainda 30 mil milhões $ actualmente, ou seja, praticamente o equi-
país, classificado algum tempo pelo Banco Mundial entre os países
A) UM RENDIMENTO DESASTROSO
Se nos ativermos unicamente ao PNB/ habitante, a África sub-sariana está
um pouco menos bem colocada do que a Ásia, com 525$contra 590. No
entanto, duas observações se impõem. Se se retirar a África do Sul que, com os
seus 42 milhões de habitantes e os seus 3100$ por habitante tem um peso
extremamente pesado, o PNB mé-dio da África cai para 400$, quer dizer,
nitidamente abaixo do da Ásia.Por outro lado, sabemos que o PNB/hab é um
indicador muito medío-cre do nível de vida. Se atendermos ao PIB real, a
vantagem vai desta vez nitidamente para a Ásia, onde os preços são muito mais
baixos.A África não atinge senão 1270$ por habitante, enquanto a Ásia
estáacima de 2000. Se pusermos à parte os países da África Austral, em que o
PIB real ultrapassa 2 500$ todas as outras regiões estão entre os 800 e 1600$. À
escala dos Estados com mais de 10 milhões de habi-tantes, e continuando a pôr
à parte a África Austral, apenas o Gana e a Costa do Marfim ultrapassam um
pouco os 1500$, bem como os Camarões e a Nigéria cujos PIB são aumentados
um pouco artificial-mente pelo petróleo (mapa 13).
1. FAMÍLIA E ETNIA
B) OS LEGADOS DA COLONIZAÇÃO
Paradoxalmente, a colonização trouxe para a África simultanea-mente elementos
de estruturação e fermentos de desestruturação.
1.ELEMENTOS DE ESTRUTURAÇÃO
As línguas não são o menor contributo do exterior dado a África.Já antes do início
da colonização, a zona do Sahel havia sido progres-sivamente islamizada e tinha pois
adoptado a língua árabe, parcial ou totalmente como no Sudão. O próprio suaíli, de
base banto, havia--se «enriquecido de milhares de influências de origem árabe» [32].
O contributo exógeno essencial veio contudo das línguas europeias,mais ou menos
impostas pelos colonizadores, em particular pelos fran-ceses que, em nome de uma
política de assimilação, impuseram a sua língua como língua oficial, associada
eventualmente a línguas africa-nas ou ao árabe, em todas as antigas possessões
francesas e belgas,Sahel ao Zaire. O mesmo acontece com o inglês no Sul e no Este da
português em Angola e Moçambique, sem contar o africânder na África do Sul.
2.FERMENTOS DE DESESTRUTURAÇÃO
O tráfico dos negros levado a cabo pelos europeus foi muito certa-mente
um dos elementos mais desestruturantes para a Africa. Tanto mais que o
havia precedido um tráfico árabe: praticado sobretudo na África Oriental,
este teria incidido sobre efectivos porventura tão importantes como o tráfico
europeu. Já antes da chegada dos euro-peus, o Sul da Etiópia e a região dos
Grandes Lagos haviam sido es-vaziados pelos mercadores árabes que
vendiam os escravos no Médio Oriente e a escravatura só foi suprimida na
Etiópia em 1936, à che-gada dos italianos! O próprio tráfico europeu,
praticado frequente-mente com a participação dos chefes locais, atingiu
milhões de indi-víduos e contribuiu para esvaziar o Oeste africano e para
desestruturar as sociedades locais.
O outro acontecimento, mais capital ainda para a época recente,foi o
retalhamento da África pelas potências coloniais, oficializada pela
conferência de Berlim em 1885. Este recorte arbitrário, que ignorava os
dados locais, reagrupou por vezes em unidades factícias etnias concorrentes,
culturas diferentes; por vezes, pelo contrário,separou por uma fronteira
artificial entidades que tinham tido até aíuma realidade colectiva, quer ela
fosse cultural, étnica ou histórica.
A Nigéria é o verdadeiro exemplo destas construções artificiais: ao lado
dos Haussas, dos Iorubas e dos Ibos, que formam 55% da popula-ção,
encontra-se uma massa de outros povos diferentes e concorrentes.Outro
caso, os Camarões onde, à complexidade linguística referida mais acima, se
sobrepõe uma extraordinária complexidade étnica (uma cen-tena de etnias)
e religiosa: o islão coexiste com o animismo e com ou-tras religiões. Alguns
destes povos camaroneses transbordam para ládas fronteiras e reencontram-
se no Gabão e no Congo.
se tivesse havido reestruturações no momento das independências.Mas
estas não foram realizadas.
C) A INDEPENDÊNCIA: UMA BALCANIZAÇÃO ACEITE
Foi em 1963 que a Organização da Unidade africana (OUA), que acabava de
nascer, proclamava «a intangibilidade das fronteiras her-dadas da descolonização». O
medo de uma multiplicação das reivindi-cações territoriais e portanto de inevitáveis
guerras civis ou exterio-res foi mais forte do que o desejo de novo recorte que
poderia ter reconhecido os direitos de certas etnias maltratadas pelas delimita-ções
coloniais.
Esta decisão fez pois da África um puzzle de 47 Estados sobera-nos, dos quais 6
totalizam menos de 1 milhão de habitantes, 18 mais de 10 milhões e apenas dois
mais de 50 (Etiópia e Nigéria). Nestas condições, os mercados locais, já limitados
pelos baixos rendimentos,são ainda amputados pela dimensão reduzida das
populações nacio-nais. As economias da maior parte dos países africanos
dificilmente podem contar com um mercado interno que as estabilizaria, mas são
obrigatoriamente dependentes ou dos seus vizinhos ou dos mercados mundiais. Esta
dependência económica é acompanhada por uma de-pendência política de que já
vimos o exemplo com a zona franca.Para limitar esta dependência económica e
política, os Estados africanos criaram efectivamente estruturas de colaboração e de
cooperação,mas estas apenas tiveram, até à data, resultados limitados.
A mais conhecida destas organizações é a OUA que fixa como objectivo reforçar a
unidade, a solidariedade e a estabilidade dos Es-tados africanos independentes.
Vimos que uma das primeiras medidas consistiram em imobilizar os Estados dentro
das suas fronteiras coloniais. Desde então, a sua acção foi relativamente limitada, em
virtude dos interesses divergentes dos diferentes Estados e dos regi-mes
contrastados de que África se dotou, uma vez que estes iam do «socialismo
científico» etíope ao Império de Bokassa na República Centro-Africana. O seu papel
parece no entanto vir a afirmar-se desde há alguns anos para cá.
Menos conhecidas são as instituições que visam promover a integração e a
cooperação regionais. São numerosas, cerca de 200,mas a sua eficácia é limitada
devido ao facto de os poderes públicos,em delegar qualquer poder e em cumprir as
obrigações financeiras que daí decorrem.
Os melhores resultados foram obtidos pela CEAO (Comunidade Faso,
pela Costa do Marfim, pela Mauritânia, pelo Níger e pelo
D) A«PRIMAVERA DA ÁFRICA»?
256-ROBERT CHAPUIS/THIERRYBROSSARD
çōes Unidas para a recuperação económica da África, um delegado da pois
da independência, devemos render-nos à perturbadora evidên-
contribuição importante para as orientações nacionais. Os direitos estão
cada vez mais ausentes da cena africana»(Le Monde, 13.03.90).
No entanto, a partir 1989-1990, «a África passou pelo “efeito Gorbatchev”e pelo
“efeito Ceausescu” conjugados para a sua salva-ção: o primeiro liberta a palavra,
restaura a verdade, reanima a de-mocracia; o segundo acusa as ditaduras familiares,
fragiliza os pode-res pessoais, faz reflectir os chefes» (ibid.). E não apenas os
chefes...Mas também os estudantes, os citadinos das classes médias e popula-res que
reclamam a reunião de «conferências nacionais». Estas, espé-cies «de Estados gerais à
africana congregam partidos, Igrejas, asso-ciações e sindicatos» e reclamam liberdade,
multipartidarismo e economia de mercado. O Benim deu o exemplo em 1990, seguido
pelo Gabão, Congo, Mali, Níger, Zaire, etc. Mais de vinte Estados têm cons-tituições
que reconhecem o multipartidarismo e organizaram as elei-ções. Uma dezena de
ditadores caíram. Raros são os Estados que es-capam, pelo menos provisoriamente a
uma questionação de um poder presidencial autoritário. No entanto, a situação está
longe de estar estabilizada. «Assiste-se a reviravoltas contra dirigentes eleitos, que não
cumpriram as suas promessas, ou que não souberam afrontar as dificuldades (...)
golpes de Estado no Níger, insurreições na República Centro-africana, na Guiné.» [20].
Poder-se-ia acrescentar: guerra civil no Zaire. Na Nigéria, as promessas dos militares
não foram mantidas:estes continuam a dispor do poder.
Esta«segunda independência» da África não decorre pois sem turbu-lências. Ela
também não resolverá de uma vez só todos os problemas,não mais do que a primeira
não o tivesse feito. Os riscos de explosões internas e de fricções externas são
evidentes. O dogma da integridade territorial dos Estados saídos da descolonização
começa a ser contes-tado, como na Somália onde o Movimento Nacional Somali
proclamou uma《República da Somalilândia» e na Etiópia onde a Eritreia obteve a sua
independência em 1993. Cerca de vinte países estão sob a amea-tários têm contido
até aqui ou utilizaram em seu beneficio.
nifesta em África é infelizmente a de uma pobreza generalizada,salvo raras
excepções.
262-ROBERTCHAPUIS/THIERRY BROSSARD
CONCLUSÃO
Incontestavelmente, «a África negra está mal lançada».Em certos casos,
perguntamo-nos mesmo se ela alguma vez chegou a lançar-se.Noutros casos,
depois de um arranque nos anos 60 e no início dos anos 70, estancou a meio do
caminho, vítima ao mesmo tempo dos outros e de si própria.
O desastre não é geral pois determinados países conseguem sair--se um
pouco melhor. E alguns elementos permitem ter esperança.Depois de ter vivido
acima dos seus meios, a África volta a ter mais rigor na gestão da sua economia,
mas na verdade ela paga caro este retrocesso e num momento de viva
concorrência internacional.A África compromete-se na democracia e na
economia de mercado;serão trunfos incontestáveis, na condição de não cair
nem na anar-quia, nem num liberalismo selvagem. Na África Austral, se a trans-
missão de poder da minoria branca para maioria negra continuar sem
demasiados sobressaltos e se as facções negras não se dilacera-rem
mutuamente, poderia desenvolver-se uma esfera de co-prosperi-dade em torno
da potência económica da África do Sul. Após uma cura de austeridade, a
produção voltou a arrancar em vários países desde 1994, assim como vimos
mais acima.
Mas a África terá necessidade de ser ajudada directamente: assis-tência em
alguns dos seus esforços (escolarização, formação, irriga-ção, etc.), aliviamento
da sua dívida, apoio concedido aos preços de certos produtos (como no âmbito
dos acordos de Lomé com a CEE),bem como à sua moeda (exemplo da zona
franca), etc., mas a África terá também de se ajudar a si mesma tentando, tal
como fizeram certos países da Ásia, conciliar valores tradicionais (em particular
o sentido de solidaridade) e eficácia económica, tentando, em suma,ser mais
eficaz sem no entanto perder a sua alma.
CONCLUSĀO GERAL-267
CONCLUSÃO GERAL
[19] GOUROU, P.,Terres de Bonne Espérance, le monde tropical, 1982, Paris, Plon.
[20] Images économiques du monde, 1996-1997,Paris, Sedes.
BIBLIOGRAFIA-269
[21] KAYSER,B.,Géographie: entre espace et développement,1990,Toulouse,Presses Universitaires
du Mirail.
[22] LACOSTE,Y.,Contre les anti-tiers mondistes (et contre certains tiers-mondistes),1986,Paris, La
Découverte.
[23] Le nouvel état du monde: bilan de la décennie 1980-1990, 1990, Paris, la Découverte.
[24] L'état du monde, 1997, Paris, La Découverte.
[25] L'état du tiers monde, 1989,Paris, La Découverte.
[26] Le tiers monde (ou la fortune d'un jeu de mots), 1988, APHG, Pays de la Loire.
[27] MESSAROVITCH, Y., VALLAUD P. (dirigido por), L'économie internationale en
mouvement,1991,Paris, Hachette.
Le Monde
Le Monde Diplomatique
Problèmes d'Amérique latine (PAL)
Problèmes économiques (PE)
1 - População (1995) 31
2 - A transição demográfica (1995) 33
3 - Fecundidade (1992) ..344 - PNB por habitante (1995)
..36
5 - Motorização (1993) 39
6- Escolarização (1993) 41
7 - Alfabetização(1995) 42
8 - Situação alimentar (1992) 43
9 - Esperança de vida (1993) 44
10 - Mortalidade infantil (1994) 45
11 - Enquadramento médico 46
12 - Fecundade e mortalidade infantil(1995) 49
13 - Indicador do desenvolvimento humano (1993) 50
14 - População urbana (1992) 50
15 - PNB total (1995) 61
16 - Repartição da população activa por sectores económicos (1995) 63
17 - AFC: Nível de desenvolvimento económico. 80
18 - AFC: Nível de vida 82
19 - AFC:Demografia. 83