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Com efeito, foram as vitórias no campo de batalha contra o Islão, que deram a D. Afonso
Henriques o prestigio e a autoridade necessários para reivindicar, junto das autoridades castelhana
e papal, o direito de usar o titulo de rei e ser aceite como soberano pelos seus súbditos. Foi ainda o
sucesso militar que lhe permitiu obter um território suficientemente amplo para viabilizar a
existência de Portugal como reino independente. Alargando a sua fronteira para sul até à linha do
Tejo -Sado, Afonso Henriques conquista a cidade de Santarém em 1147. A sua posse abriu-lhe
caminho à tomada de Lisboa, feito alcançado com a ajuda dos cruzados, em 14 de Outubro desse
mesmo ano. Seguiram-se-lhes as conquistas de Sintra, Almada e Palmela, fortalezas importantes
para a defesa de Lisboa, e mais tarde de Alcácer do Sal (1158-1160).
Para realizar estes objectivos, foram concedidos inúmeras cartas de Foral, criaram-se os
primeiros órgãos da administração central e fizeram-se importantes doações de terras e privilégios
às ordens religiosas e às ordens militares.
A conquista ou a tomada de posse por D. Afonso III, em 1249, das cidades e castelos do Algarve
que ainda se encontravam nas mãos dos mouros concretizaram o grande objectivo de estender as
fronteiras de Portugal até ao limite Sul do território até ao mar.
A definição do espaço territorial português ficou concluída em 1297 com a celebração do Tratado
de Alcanices entre D. Dinis, de Portugal e D. Francisco IV de Castela. Fixou-se assim de forma
praticamente definitiva, a fronteira Leste do País: O rei de Portugal assegurou a posse das praças
tomadas na terra de Riba-Côa, juntamente com Olivença, Campo Maior, Ouguela e São Feliz de
Galegos, assim como Moura e Serpa, já cedidas em 1295 mas não entregues em contrapartida,
desistiu das suas pretensões relativamente a Aracena, Aroche, Ferreira, Esparregal e Aiamonte.
Portugal estabelecia assim, ainda no século XIII, as fronteiras do seu território, que com pequenas
alterações posteriores, haveriam de permanecer até aos nossos dias.
Os elementos geográficos a Sul do Tejo, com excepção da costa algarvia, eram então, como ainda
o são ainda hoje, adversos a uma densidade populacional elevada pelo que os homens tendiam a
concentrar-se nas cidades, algumas das quais de dimensão significativa. O norte em especial a
região do litoral, dispunha de uma maior densidade humana, mas os seus núcleos populacionais
eram bastante reduzidos e muito dispersos.
Com efeito, no século XIII de norte e para sul, até ao vale do Tejo, apenas as cidades do Porto,
Coimbra, Braga e Guimarães apresentavam alguma dimensão – para os valores medievais,
evidentemente. Os maiores aglomerados populacionais situavam-se no Sul, onde sobrevivera a
forte tradição urbana romana e muçulmana e onde se destacava, Lisboa a Évora, entre outras
cidades de menor dimensão, como Santarém, Elvas, Silves, Faro e Tavira.
Mas as condições históricas resultantes dos avanços da Reconquista Cristã para Sul terão tido uma
influência mais marcante. A conquista e integração destes territórios no domínio português
implicaram importantes movimentos de populações originárias do Norte, mais povoado, para as
regiões que iam sendo tomadas aos Mouros, o que acabaria por favorecer a coesão étnica e
cultural do País.
Reis e Senhores (nobres e eclesiásticos) concederam cartas de foral às vilas e cidades de Portugal,
documentos de diversos tipos que, definiam um determinado conjunto de liberdades individuais e
colectivas, formas de autogoverno e normas relativas ao sistema de impostos e à administração da
justiça. Desta forma, foram criados muitos concelhos. Noutros casos, porém, as cartas de foral
mais não fizeram do que reconhecer a existência, uma vez que as suas populações já tinham a
tradição de se regerem segundo usos e costumes próprios.
Até ao século XIV, a assembleia municipal reunia em espaços abertos, na praça, no adro da igreja
ou num claustro suficientemente amplo para permitir a participação da comunidade na tomada de
decisões sobre as matérias relativas à vida publica do concelho. São por isso raros, até então, os
edifícios municipais.
A autonomia das comunidades concelhias era exteriorizada por certos símbolos: o selo municipal
em que cada concelho autenticava os seus documentos, o pelourinho era o local da execução das
sentenças que, para além de símbolo da autonomia, é também a representação visível da justiça
praticada no concelho; a bandeira e certos emblemas representativos do espírito de solidariedade
colectiva, como as muralhas, o castelo, o cavaleiro ou ainda certos elementos identificativos da
comunidade, como um barco, uma ponte, uma árvore ou até um animal característico.
De facto, o concelho é fundamentalmente uma comunidade de vizinhos, embora tal não exclua a
existência de diferentes categorias sociais e de direitos e obrigações desiguais para os seus
habitantes.
O rei estava sempre representado por um ou mais magistrados por ele nomeados: o alcaide, assim
designado se existia castelo ou cidadela; o almoxarife, encarregado de cobrar os direitos régios: o
mordomo do rei, administrador dos bens da Coroa existentes no concelho.
Nos finais do século XIII, princípios do século XIV, reflectindo o reforço da política de
centralização régia, foram introduzidas algumas reformas pelo poder central com o objectivo de
controlar melhor a vida concelhia. Foram assim criados os meirinhos-mores e os corregedores,
delegados do rei nos concelhos e representantes destes nas Cortes.
Como nos demais reinos europeus, em Portugal a nobreza era uma categoria social privilegiada,
distinguindo-se pelo exercício de funções politicas e militares, que faziam dela um auxiliar
imprescindível da Realeza. Os reis governavam através dos nobres, que aparecem muitas vezes na
documentação qualificados como fideles, os fiéis, e faziam a guerra com o apoio das suas armas e
dos seus homens. O uso das armas e do cavalo, a posse de terras e a sua familiaridade com o poder
davam-lhes uma enorme superioridade sobre o conjunto da população.
A nobreza como as restantes ordens sociais, não constituía uma categoria social semelhante. Na
realidade integravam-na grupos ou classes com níveis de rendimento e até de estatuto muito
diferenciados. Os ricos-homens, magnates conhecidos como nobres de pendão e caldeira – tinham
o poder e a autoridade para arregimentar sob o seu estandarte cavaleiros e peões e os meios para
os sustentar no decurso de uma campanha militar, aproveitaram as acções militares da luta contra
os mouros para conquistar os favores dos reis. A quem se encontravam ligados pelo sistema de
vassalidade, para obter imunidades, enriquecer e transformar-se no grupo mais importante de entre
os nobres. Abaixo destes homens-ricos situava-se um grupo muito mais numeroso de aristocratas
terratenentes que, na sua maioria, descendiam das antigas famílias de homens livres dos períodos
romano, suevo e visigodo, os infanções (nobres de nascimento) e ainda uma nobreza que vivia
fundamentalmente do serviço militar e que era constituída por cavaleiros e escudeiros.
A nobreza senhorial vivia da terra e das rendas dominiais, conjunto de bens em espécie, dinheiro
ou serviço, que cobrava aos camponeses que cultivavam as suas propriedades (as honras) e sobre
os quais exercia uma jurisdição limitada. As honras beneficiavam de um conjunto de privilégios e
imunidades muito favoráveis para os seus titulares, como o direito de proibição de entrada a
funcionários régios, a isenção do pagamento de impostos e a autonomia judicial e administrativa.
No entanto, a Realeza manteve sempre o controlo sobre o poder senhorial, reservando para si
determinados direitos, como a justiça maior (pena de morte ou corte de membros), ou mesmo
combatendo-o abertamente.
O Poder Régio:
À cabeça do Reino encontrava-se o Rei. O rei chefiava o exército, administrava a justiça, garantia
a ordem e a paz internas e dirigia as relações externas. Pertencia-lhe ainda, em exclusivo, o direito
de cunhar a moeda ou de desvalorizar a moeda. Por outro lado, os tribunais reais reservavam para
sim, também em exclusivo, a aplicação da justiça maior (pena de morte os corte de membros),
constituindo este facto uma limitação da jurisdição senhorial e ao mesmo tempo uma afirmação
clara da supremacia da justiça real.
Outra regalia régia era o direito de aposentadoria a que se obrigavam as terras onde o monarca e a
sua corte se instalavam nas deslocações do País. O rei tinha a seu cargo os aspectos mais diversos
da administração pública e beneficiava de uma autoridade indiscutível sobre os restantes corpos
sociais e políticos do País.
Aparentemente, os poderes do rei não conheciam limites, já que das suas decisões não existia
apelo. No entanto, o rei jurava obedecer às leis e manter os privilégios e as liberdades do Reino, o
que representava uma notável limitação ao seu poder. Por outro lado, reforçadas pelas doações
territoriais e pela evolução das imunidades que se vão transformando em verdadeiros senhorios
jurisdicionais, as hierarquias superiores do clero e a alta nobreza dos ricos-homens não deixavam
de reagir contra os reis quando se encontravam em causa as suas prerrogativas.
No desempenho das suas atribuições, o Rei era auxiliado por um grupo de altos funcionários com
funções bem determinadas: o alferes-mor, a quem competia a chefia do exército na ausência do
monarca; o mordomo da corte, responsável pela administração da casa real; o chanceler, guarda
do selo real utilizado na autenticação dos documentos. Até ao termo da Reconquista com D.
Afonso III, o mais importante destes cargos era o de alferes-mor, facto que se explica pela
situação de guerra que se viveu até então. Terminada a Reconquista e numa altura em que a
Realeza deu especial atenção à produção legislativa, foi o chanceler a ocupar o primeiro lugar na
hierarquia dos altos funcionários do Estado. Organizou-se, a partir de então, a chancelaria régia, à
frente da qual se encontrava o chanceler, auxiliado por escrivães, encarregados da redacção dos
diplomas, e por notários, a quem competia submeter os documentos para efeitos de validação.
A crescente complexidade das tarefas administrativas e financeiras obrigou a Coroa a criar novos
funcionários, homens especializados em determinadas tarefas, como o porteiro-mor, que
superintendia à cobrança dos impostos, e o tesoureiro-mor, que tinha o encargo de guardar o
dinheiro nos cofres reais.
A partir do século XIII, a Cúria deu origem a dois órgãos distintos: O conselho régio, composto
por prelados, ricos-homens e militares que frequentavam a corte e as Cortes.
As Cortes eram assembleias que o rei convocava para ouvir o parecer dos membros do clero e da
nobreza – a partir de 1254 (Cortes de Leiria), passaram a participar também os procuradores dos
concelhos – em matérias importantes para a governação, como o lançamento de impostos, a
modificação do valor da moeda e a promulgação de leis.
A reunião das Cortes era também uma oportunidade para os representantes das várias ordens
apresentarem as suas petições ou queixas e sugerirem medidas de resolução para situações
anormais.
As cortes mais antigas de que há notícia realizaram-se em Coimbra, em 1211, no reinado de D.
Afonso II. A sua importância deriva do facto de terem sido aí aprovadas as primeiras leis gerais
que se conhecem em Portugal. Em 1254, as Cortes de Leiria contaram já com a activa participação
dos representantes dos concelhos, facto que revela o reconhecimento real do papel do terceiro
Estado na administração do Reino. Ao mesmo tempo, esta participação foi aproveitada pela
Realeza para estabelecer uma espécie de aliança com este grupo social heterógeneo e reforçar a
sua autoridade sobre o clero e a nobreza.
Este objectivo de reforço do poder real passou também por um controlo mais rigoroso da
administração local dos concelhos e dos senhorios. Para isso, a Coroa recorreu ao aumento do
número e dos poderes de intervenção dos funcionários régios e as medidas legislativas de combate
à expansão senhorial o que, gerou reacções e conflitos vários.
Glossário: