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O limite daqueles que amam demais

É muito comum que em algum momento da vida sintamos o medo de sermos


abandonados ou talvez uma mudança repentina de humor durante o dia, que são
fatores que podem estar presentes em momentos mais difíceis do cotidiano dos
indivíduos. No entanto, o cenário é completamente diferente quando o assunto é o
transtorno de personalidade limítrofe ou borderline (TPL/TPB).
Uma situação comum é o ato de acordar bem, pressentindo que o dia será o
melhor de todos e então… Algo não vai como esperado. E é nesse momento que o
dia está arruinado, várias emoções passando pela mente do indivíduo com
transtorno de personalidade borderline, popularmente conhecido como border. Logo
após, seu parceiro não reage da forma que ele esperava, um sorriso a mais ou a
menos pode mudar tudo. Então os pensamentos começam, seria traição?
Escondendo algo? E o ciclo se repete. É dessa forma que o indivíduo border lida
com suas emoções, que variam dezenas de vezes durante o dia.
Os transtornos de personalidade, explica a médica psiquiatra Ana Beatriz
Barbosa Silva, são jeitos de ser. Dessa forma, entende-se que essa é uma condição
sem cura, sendo sua origem fruto de diversos fatores e experiências presentes ao
decorrer da vida, inclusive na infância, do sujeito. Além disso, ser border inclui muito
mais que mudanças repentinas e marcantes de humor durante o dia, uma vez que
observa-se uma grande instabilidade nas relações interpessoais que a pessoa
possui, abrangendo sentimento de grande euforia, alegria, tristeza, vazio e
abandono muito mais intensos que em pessoas sem o transtorno.
Dados da Associação Psiquiátrica Americana (APA) apontam que pessoas
com TPL representam 2% da população mundial, de modo que o diagnóstico muitas
vezes é confundido pelo Transtorno Bipolar por ser mais popular, ainda que difira
em muitos aspectos importantes na vida do paciente. Ainda, estudos indicam que o
TPB exibe características neurológicas de baixo funcionamento adaptativo, assim
como na memória, atenção e processamento emocional. Isto posto, é evidente que
os sintomas são prejudiciais tanto para o border, quanto para as pessoas à sua
volta, e é por isso que existe tratamento psicológico e farmacológico para pacientes
que apresentam o transtorno.
De acordo com a revisão de literatura de Lucas Andrade Costi e Bruno
Cezario Reis (2022), o estabilizador de humor Lamotrigina e antipsicótico Asenapina
são os medicamentos com maior quantidade de prescrição para casos de transtorno
de personalidade limítrofe. No entanto, apesar desses e outros fármacos serem na
maioria das vezes eficazes no controle dos sintomas, é mister que haja
acompanhamento psicológico para um tratamento mais eficiente, o qual,
infelizmente, é pouco abordado por profissionais da saúde no tratamento de
doenças mentais, fazendo com que a população se sustente apenas em
medicamentos e não obtenha resultados terapêuticos plenos.
Os borders são pessoas conhecidas por “amarem demais” por conta de suas
intensas emoções, contrastando de forma acentuada com o transtorno de
personalidade antissocial, que representa 1% da população mundial. Sendo assim,
diante de taxas tão baixas, é interessante refletir sobre a importância da criação de
mais programas gratuitos para a saúde mental da população e se a forma com que
tratamos pessoas não só com transtorno de personalidade, mas outros tipos de
doenças mentais é justa e humana.
Yasmin Araujo da Silva

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