Você está na página 1de 26

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
PROPAGANDISTA FARMACÊUTICO

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

27
CURSO DE
PROPAGANDISTA FARMACÊUTICO

MÓDULO II

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição
do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido
são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/REV 4.0

28
MÓDULO II

2 A BASE TÉCNICA DO PROPAGANDISTA

Para que o propagandista farmacêutico possa oferecer informações de


qualidade no atendimento aos seus clientes, geralmente médicos, ele necessita ter
uma base de conhecimentos técnicos sobre o funcionamento do corpo humano e
das interações dos sistemas biológicos com os medicamentos.
Para tal, neste módulo, vamos construir essa base técnica a fim de que
nosso curso possa lhe ajudar a ter maior credibilidade durante a visita médica e que
suas informações promovam o uso racional dos medicamentos e a saúde de quem
irá utilizá-los.

2.1 FUNDAMENTOS DE ANATOMIA E FISIOLOGIA

Anatomia é a ciência que estuda a estrutura e a organização dos seres


vivos, tanto interna quanto externamente, enquanto a fisiologia estuda o
funcionamento do organismo.
Como são ciências extremamente relacionadas, muitas vezes, no decorrer
de nosso curso as abordaremos em conjunto.
Como podemos ver na figura seguinte, o corpo humano é constituído de
cabeça, pescoço, tronco, membros superiores e membros inferiores.

AN02FREV001/REV 4.0

29
FIGURA 11: DIVISÕES ANATÔMICAS DO CORPO HUMANO

FONTE: Disponível em:


<http://cienciasmorfologicas.webnode.pt/introdu%C3%A7%C3%A3o%20a%20anatomia/divis%C3%A
3o%20do%20corpo%20humano/>. Acesso em: 05 abr. 2013.

Para descrevermos com precisão a posição espacial dos órgãos, ossos e


demais componentes do corpo humano, nós utilizamos uma convenção que é
chamada: a “Posição Anatômica”.
Um corpo na posição anatômica (figura 12) deve estar de pé, com
calcanhares unidos e olhos voltados para o horizonte, os pés também devem estar
voltados para frente e perpendiculares ao restante do corpo, braços estendidos
paralelamente ao tronco e com as palmas das mãos voltadas para frente, com os
dedos estendidos e unidos (D'ANGELO; FATTINI, 2002). Quando o corpo humano
está na posição anatômica ele pode ser dividido conceitualmente em planos.
Observe na figura abaixo esses planos:

AN02FREV001/REV 4.0

30
FIGURA 12: POSIÇÃO ANATÔMICA

FONTE: Disponível em: <http://tsbbenitobios.blogspot.com.br/2011/01/planos-anatomicos.html>.


Acesso em: 05 abr. 2013

O corpo humano é composto estruturalmente de átomos, células, tecidos,


órgãos e sistemas. A seguir, vamos estudar cada sistema separadamente.

2.1.1 Sistema nervoso

O sistema nervoso é constituído de células nervosas, os neurônios, providas


de prolongamentos conhecidos com dendritos e axônios. É dividido em sistema
nervoso central, periférico e autônomo. Veja no esquema abaixo a organização de
nosso sistema nervoso.

AN02FREV001/REV 4.0

31
FIGURA 13: DIVISÕES DO SISTEMA NERVOSO

FONTE: Disponível em: <http://lidianenoberto.blogspot.com.br/2011/05/sistema-nervoso.html>.


Acesso em: 08 abr. 2013

O sistema nervoso tem por função perceber os estímulos, transmiti-los a


diversas partes do corpo e coordenar respostas. Juntamente com o sistema
endócrino, que atua através de glândulas e hormônios, coordena e integra as
funções do organismo.
O sistema nervoso tem uma atuação específica, pois pode atingir apenas
determinados grupos celulares. Por exemplo: quando queremos chutar uma bola, o
nosso sistema nervoso coordena movimentos específicos dos grupos musculares
necessários para o chute.

2.1.2 Sistema esquelético

O esqueleto ósseo humano está constituído por aproximadamente 210


ossos. Podendo ser dividido em axial e apendicular (FREITAS, 2004).

AN02FREV001/REV 4.0

32
Crânio, coluna vertebral e toda a caixa torácica, incluindo as costelas e o
osso esterno, compõem o esqueleto axial e formam o eixo de sustentação do
organismo. Os ossos dos dois membros superiores e inferiores formam o esqueleto
apendicular (FREITAS, 2004).
Aparentemente nosso esqueleto parece ter poucas funções. Mas na
realidade ele acumula diferentes e importantes papéis, são elas:

a) Sustentação: em conjunto com os músculos, nosso esqueleto sustenta o corpo,


além de manter a postura e a forma.
b) Proteção: o nosso esqueleto envolve e protege vários órgãos, particularmente o
coração, os pulmões, o cérebro e a medula espinhal, protegendo-os de qualquer
trauma.
c) Movimentação: muitos ossos do esqueleto formam sistemas de alavancas que
associados aos músculos, permitem nossos movimentos.
d) Produção de células sanguíneas: na medula óssea, localizada no interior dos
nossos ossos, há a produção tanto de glóbulos vermelhos (hemácias ou eritrócitos),
como de glóbulos brancos ou leucócitos.

Com tantas funções, podemos concluir que o esqueleto é fundamental para


o nosso corpo.

2.1.3 Sistema digestivo

O sistema digestivo humano é completo, ou seja, possui boca e ânus. Nesse


sistema ocorre o processo de digestão dos alimentos, absorção de nutrientes e
eliminação de resíduos (GUYTON, 2011).
O processo de digestão começa na boca. Na boca ocorre a digestão
mecânica através da trituração dos alimentos pelos nossos dentes e a umidificação
pela saliva (GUYTON, 2011).
Também na boca, a digestão química é iniciada, pois alguns componentes
dos alimentos são atacados por uma enzima chamada ptialina ou amilase salivar. A

AN02FREV001/REV 4.0

33
amilase salivar tem função de iniciar a quebra de moléculas de amido, que é um tipo
de carboidrato dos alimentos. A mistura de alimento triturado e saliva forma o bolo
alimentar (GUYTON, 2011).
Por meio de movimentos coordenados, chamados de peristaltismo, o bolo
alimentar segue através da faringe e do esôfago e chega ao estômago. No interior
do estômago há o suco gástrico, composto principalmente de ácido clorídrico. Ao
chegar ao estômago, o bolo alimentar é atacado pelo suco gástrico, que contém
uma enzima denominada pepsina. A pepsina realiza a quebra das proteínas
(GUYTON, 2011).
O bolo alimentar parcialmente digerido pelo suco gástrico forma uma mistura
que passa então a ser chamada de quimo, que segue para o intestino delgado. No
intestino delgado o quimo sofre a ação de enzimas provenientes da própria parede
do órgão, o suco entérico. O suco entérico possui carboidrases, que são enzimas
que realizam a quebra de carboidratos; peptidases, que quebram os polipeptídios; e
nucleotidases, que rompem os nucleotídeos (GUYTON, 2011).
Ainda no intestino delgado, o quimo sofre ação da bile e do suco
pancreático. A bile é produzida no fígado e contém uma mistura de sais que
emulsificam as moléculas de lipídios, facilitando sua digestão. O suco pancreático
possui uma série de enzimas, entre elas: tripsina, que realiza a quebra de proteínas;
a lípase pancreática, que realiza a quebra dos lipídios; a amilase pancreática, que
hidrolisa moléculas de amido; e nucleases, que atacam os ácidos nucleicos como
DNA e RNA (GUYTON, 2011).
Somente após todas as quebras os nutrientes são transportados para a
corrente sanguínea é através do intestino delgado que os nutrientes são absorvidos.
O material não aproveitado, ou seja, resíduos não digeridos seguem para o
intestino grosso e são eliminados na forma de fezes através do ânus.
Observem na figura abaixo todos os órgãos que formam o sistema digestivo:

AN02FREV001/REV 4.0

34
FIGURA 14: O SISTEMA DIGESTIVO HUMANO

FONTE: Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/disciplinas/ciencias/sistema-digestivo-absorcao-


de-alimentos-e-eliminacao-de-residuos.htm>. Acesso em: 08 abr. 2013.

2.1.4 Sistema respiratório

A respiração humana é pulmonar, ou seja, ocorre através dos pulmões. O


processo tem início na inalação do ar atmosférico, que, através das narinas, penetra
nas fossas nasais, onde é filtrado e aquecido. Em seguida, o ar segue pela faringe,
laringe e traqueia, chegando aos pulmões (D'ANGELO; FATTINI, 2001).
No interior dos pulmões, o ar segue pelos brônquios até os bronquíolos, que
são ramificações dos brônquios que conduzem o ar até os alvéolos (GUYTON,
2011).
A hematose, ou troca gasosa entre o ar e o sangue ocorre nos alvéolos, que
possuem uma parede muito fina revestida por finíssimos vasos sanguíneos, os
capilares. Observe abaixo o esquema elucidativo da hematose pulmonar:

AN02FREV001/REV 4.0

35
FIGURA 15: HEMATOSE

FONTE: Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$hematose-pulmonar,2>. Acesso em: 05 abr. 2013.

Os movimentos respiratórios são controlados pelo sistema nervoso central,


mais especificamente por uma região próxima ao cerebelo, chamada de bulbo.
O oxigênio que chega do sangue, através do processo de hematose, chega
a todas as células do nosso corpo por meio da hemoglobina presente nos glóbulos
vermelhos do sangue. Nas células, esse oxigênio participará das reações celulares
fundamentais para a sobrevivência dos nossos tecidos. Como produto dessas
reações celulares é produzido o gás carbônico, que, chegando ao sangue e aos
capilares que revestem os alvéolos, será eliminado durante e expiração, fechando
um ciclo fundamental à vida (GUYTON, 2011).

AN02FREV001/REV 4.0

36
2.1.5 Sistema circulatório

Nosso sistema circulatório é considerado fechado, pois não há a mistura


entre sangue arterial e sangue venoso, além disso, o sangue circula exclusivamente
no interior dos vasos (D'ANGELO; FATTINI, 2001).
O sistema circulatório humano é composto por coração, vasos e sangue. O
coração possui quatro cavidades, dois ventrículos e dois átrios. Como podemos
conferir na ilustração a seguir:

FIGURA 16: O CORAÇÃO HUMANO

FONTE: Disponível em:<http://nathalyemaria.blogspot.com.br/2011/07/circulacao.html>.


Acesso em: 09 abr. 2013

O sangue trafega no interior de veias e vênulas em sentido ao coração, já o


sangue que é bombeado e parte do coração trafega no interior de artérias e
arteríolas.
O sangue que chega ao coração, portanto através de veias, ou venoso,
acessa o átrio direito pela veia cava superior e inferior, passando pela válvula
tricúspide esse sangue chega ao ventrículo direito. Do ventrículo direito, o sangue é

AN02FREV001/REV 4.0

37
bombeado e enviado aos pulmões através das artérias pulmonares, direita e
esquerda (GUYTON, 2011).
No pulmão, como já vimos anteriormente, ocorrerá a hematose, o sangue
será oxigenado e retornará ao coração através das veias pulmonares esquerda e
direita. Essa circulação entre coração e pulmão é chamada de circulação pulmonar
ou pequena circulação (GUYTON, 2011). Após passar pela pequena circulação, o
sangue chega ao coração pelo átrio esquerdo, logo após passa pela válvula
bicúspide e chega ao ventrículo esquerdo.
Do ventrículo esquerdo, o sangue será impulsionado para o restante do
corpo através da artéria aorta. A circulação que compreende o coração bombeando
sangue para todo o organismo através da aorta e o retorno desse sangue através
das veias cavas é chamada de grande circulação, ou circulação sistêmica
(GUYTON, 2011).
O movimento de contração do coração é chamado de sístole e o de
relaxamento, diástole.
Os vasos que compõem o sistema circulatório podem ser divididos em:

 Veias e vênulas;
 Artérias e arteríolas;
 Capilares.

Os capilares são os vasos mais finos, pois são formados apenas por uma
camada de células endoteliais, são importantes nas trocas entre sangue e tecido,
por exemplo, na absorção de nutrientes e na hematose.
As veias e as artérias apresentam, além do endotélio, uma camada
muscular. A camada muscular das artérias é bem desenvolvida, o que permite que
esses vasos suportem altas pressões sanguíneas, por isso são sempre vasos que
conduzem sangue no sentido do coração aos tecidos. Já as veias, por serem vasos
de menor resistência que as artérias, conduzem sangue que exercem menor
pressão sobre o vaso, ou seja, o sangue que retorna ao coração, para isso esses
vasos possuem válvulas que impedem o refluxo do sangue.

AN02FREV001/REV 4.0

38
2.1.6 Sistema excretor

O sistema excretor é responsável pela remoção dos resíduos provenientes


do metabolismo celular, ou seja, das substâncias que não foram aproveitadas pelas
células ou são tóxicas aos organismos. A excreção humana é realizada pelos rins.
Cada rim contém milhares de pequenas unidades funcionais, os néfrons. No interior
de cada néfron há uma estrutura, a cápsula de Bowman, composta de uma rede de
pequenos capilares, na forma de um novelo, chamada de glomérulo de Malpighi
(D'ANGELO; FATTINI, 2001).
Nos capilares presentes no glomérulo, por intermédio de uma elevada
pressão, há um processo de filtração do sangue, onde pequenas partículas
dissolvidas no plasma sanguíneo podem ser filtradas e conduzidas ao duto coletor e
por fim ao ureter (GUYTON, 2011).
Nos néfrons, além da filtração, há o processo de reabsorção, no qual
moléculas ainda úteis para o organismo, principalmente água e glicose, depois de
filtrados, são reabsorvidos no interior dos néfrons e retornam a circulação. Por outro
lado, moléculas que não foram filtradas, mas que precisam ser excretadas, acessam
o ducto coletor através do processo denominado secreção renal.
Observe os processos de filtração, reabsorção e secreção renal que ocorrem
em um néfron e formam a urina no esquema elucidativo abaixo:

FIGURA 17: ETAPAS DA FORMAÇÃO DA URINA

FONTE: Disponível em: <http://curlygirl.no.sapo.pt/excrecao.htm>. Acesso em: 10 abr. 2013.

AN02FREV001/REV 4.0

39
O sangue filtrado deixa os rins através da veia renal. O produto resultante
dos processos de filtração, reabsorção e secreção renal é chamado de urina. A urina
segue pelos ureteres até a bexiga, onde é armazenada, da bexiga a urina passa
para o meio externo através da uretra.

2.1.7 Sistema reprodutor

A reprodução humana ocorre através de um processo de fecundação interna


que ocorre quando há o encontro entre os gametas masculino e feminino,
respectivamente espermatozoide e óvulo (GUYTON, 2011).
Os órgãos sexuais masculinos externos são o pênis e os testículos. No
testículo há a produção dos espermatozoides, no interior dos túbulos seminíferos.
Dos túbulos seminíferos, até o momento da ejaculação, os espermatozoides
permanecem em uma região chamada epidídimo. Do epidídimo parte o canal
deferente, no interior do qual os espermatozoides misturam-se às secreções
produzidas pela próstata e pelas vesículas seminais, essa mistura de secreções e
espermatozoides, constitui o esperma ou sêmen. Durante a ejaculação, o sêmen
segue pela uretra através do pênis até o meio externo (GUYTON, 2011).
Os órgãos sexuais femininos, exceto a vulva, são internos. A vulva consiste
de dois conjuntos de pele dobrada (grandes lábios e pequenos lábios) que cobrem a
abertura dos órgãos sexuais femininos e uma pequena saliência de tecido sensível e
erétil (clitóris). Localizados no abdômen, os dois ovários são os maiores órgãos
sexuais femininos, produzem os óvulos e também o hormônio sexual feminino
estrógeno. Quando o óvulo está maduro ocorre a ovulação, ou seja, um folículo se
rompe liberando-o no interior das tubas uterinas, onde, na presença de
espermatozoides, ocorre a fecundação (GUYTON, 2011).
O óvulo fecundado, ou zigoto, segue para o útero, onde se fixa ao
endométrio, ou melhor, à parede do útero, que se encontra preparada para receber
o embrião. É no útero que o bebê se desenvolve. Na ausência de fecundação, o
óvulo não fecundado, ou ovócito, é eliminado, culminando com a menstruação
(GUYTON, 2011).

AN02FREV001/REV 4.0

40
Observe os órgãos sexuais femininos e masculinos no esquema abaixo:

FIGURA 18: ÓRGÃOS SEXUAIS FEMININOS E MASCULINOS

FONTE: Disponível em: <http://saude.hsw.uol.com.br/reproducao-humana4.htme


http://saude.hsw.uol.com.br/reproducao-humana2.htm> Acesso em: 10 abr. 2013

2.2 FUNDAMENTOS DE FARMACOLOGIA

A Farmacologia é a ciência que estuda os efeitos das drogas sobre os


sistemas biológicos, ou seja, sobre os organismos vivos.
Como a farmacologia estuda as drogas, os fármacos e os medicamentos,
primeiramente vamos compreender e distinguir esses conceitos:

 Uma droga pode ser definida como qualquer substância capaz de


promover alterações fisiológicas ou modificar quadros patológicos, com
ou sem a intenção de beneficiar o indivíduo, podendo até prejudicá-lo.
 Fármacos são os princípios ativos dos medicamentos e são
unicamente drogas que possuem ações preventivas, paliativas ou
curativas.
 Medicamentos, por sua vez, são produtos com finalidades preventivas,
paliativas ou de tratamento, constituídos por fármacos e outros

AN02FREV001/REV 4.0

41
compostos inertes, chamados de excipientes. Os medicamentos
apresentam-se sempre sob uma forma farmacêutica, tais como
comprimidos, drágeas, cápsulas, xaropes, soluções, suspensões,
colírios, pomadas, cremes, etc.

Sob esses conceitos é importante sabermos que muitas substâncias


dependendo da finalidade de uso podem ser consideradas ou não medicamentos.
Um exemplo clássico é o das vitaminas, que se obtidas por meio dos
alimentos são consideradas nutrientes, mas se forem administradas para correção
de estados patológicos são consideradas medicamentos.
Inicialmente, neste módulo, vamos abordar conceitos fundamentais de
farmacologia, como a farmacocinética e a farmacodinâmica. Logo a seguir veremos
a farmacologia clínica, parte destinada a estudar a eficácia e segurança dos
medicamentos.

2.2.1 Processos farmacocinéticos

A Farmacocinética estuda o caminho percorrido pelo medicamento no


organismo, desde a sua administração até a sua eliminação. Envolve os processos
de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação dos fármacos ou dos seus
metabólitos (WANNMACHER; FERREIRA, 1999).
O primeiro processo farmacocinético que iremos abordar é a absorção de
fármacos, que é a passagem de um fármaco de seu local de administração para a
corrente sanguínea (GOODMAN; GILMAN 2005).
A via de administração que não necessita de absorção é a via endovenosa,
já que nessa via os medicamentos são administrados diretamente na corrente
sanguínea, portanto não precisam ultrapassar barreiras celulares para alcançar o
sangue. Em outras vias, muitas vezes, a absorção não é necessária para a ação do
fármaco, um bom exemplo é a utilização tópica de pomadas para um efeito local na
pele. Mas de um modo geral, para haver efeito farmacológico é importante que haja
absorção.

AN02FREV001/REV 4.0

42
As vias de administração são fatores importantes que impactam na absorção
e consequentemente na ação terapêutica. Após um fármaco ser absorvido ele será
distribuído. De acordo com Goodman e Gilman (2005), a distribuição é a passagem
do fármaco da corrente sanguínea para o líquido intersticial e intracelular. Assim,
quanto maior a perfusão sanguínea de um órgão maior a distribuição e quantidade
de fármaco naquele órgão.
A seguir, após a distribuição, outro fenômeno farmacocinético pode ocorrer:
a metabolização ou biotransformação das drogas. A biotransformação é uma
modificação que ocorre na estrutura química da droga ou fármaco por meio de
enzimas. O objetivo da biotransformação é facilitar a excreção das drogas ou
fármacos. Após uma droga, ou fármaco, ser biotransformada recebe a denominação
de metabólito. O fígado é o maior órgão metabolizador do nosso organismo, mas em
menor grau, outros tecidos também desempenham a metabolização (RANG; DALE,
2012).
A última etapa farmacocinética é a eliminação das drogas ou fármacos. A
principal via de excreção é a renal, ou seja, através da urina. Porém existem outras
vias de excreção de fármacos, como através da pele, das glândulas salivares e
lacrimais, e até das fezes.
Além disso, as drogas, fármacos ou mesmo seus metabólitos, também
podem ser excretados através do leite materno, por isso para se evitar que um
lactente receba qualquer substância nociva, o uso de alguns medicamentos é
restrito durante o período em que a mulher está amamentando.

2.2.2 Farmacodinâmica

A Farmacodinâmica estuda os efeitos das drogas ou fármacos nos


organismos, seus mecanismos de ação e a relação entre a dose do fármaco e efeito
(GOODMAN; GILMAN, 2005).

AN02FREV001/REV 4.0

43
De acordo com o seu mecanismo de ação os fármacos podem ser divididos
em dois grupos:

 Os estruturalmente inespecíficos são aqueles que dependem única e


exclusivamente de suas propriedades físico-químicas para promoverem o efeito
biológico, ou seja, não se ligam a nenhum componente celular para desencadear
seu efeito. Um bom exemplo são os antiácidos estomacais conhecidos como “sal de
frutas”, eles atuam diminuindo diretamente a acidez do suco gástrico por suas
propriedades físico-químicas (TERUYA, 2001).
 Os estruturalmente específicos exercem seu efeito biológico pela interação
seletiva com um determino componente celular, como um alvo na célula, que pode
ser uma enzima, um canal iônico ou uma proteína sinalizadora, conhecida por
receptor. Podemos dizer que o reconhecimento entre o fármaco e seu alvo pode ser
simplificadamente ilustrado pelo modelo chave-fechadura (TERUYA, 2001).

Neste modelo, o fármaco é a chave e o alvo celular é a fechadura. Neste


caso específico, “abrir a porta” ou “não abrir a porta” representariam as respostas
biológicas desta interação. Observe na figura a seguir este modelo:

FIGURA 19: MODELO CHAVE E FECHADURA

FONTE: Disponível em: <http://qnint.sbq.org.br/qni/visualizarTema.php?idTema=15>.


Acesso em: 10 abr. 2013

AN02FREV001/REV 4.0

44
Vamos explorar ainda mais a figura acima. Perceba que existem dois
conceitos farmacodinâmicos interessantes pontuados na ilustração. São eles a
afinidade e a atividade intrínseca. Resumidamente:

 Afinidade é a capacidade da droga ou fármaco de se ligar ao seu alvo, no


modelo representado pela habilidade da chave entrar na fechadura.
 Atividade intrínseca é a capacidade de, uma vez ligado, a droga ou fármaco
promover uma ação dentro da célula.

Importante: Um fármaco ou droga não cria uma ação no metabolismo da célula, ele
altera atividades que já são desempenhadas pelas células.

Quando um fármaco possui afinidade e atividade intrínseca positiva ele é


classificado como um “agonista”, ou seja, agonistas se ligam aos alvos e promovem
uma ação celular.
Antagonistas, por outro lado, são fármacos que possuem afinidade, mas a
atividade intrínseca é igual a zero. Esses fármacos se ligam aos seus alvos, mas
não promovem ação celular. Porém, mesmo tendo atividade intrínseca nula eles
possuem efeitos farmacológicos, uma vez que ao se ligarem a seus sítios alvos
podem estar bloqueando a atividade de alguma outra substância que promoveria
outra ação nesse sítio. Assim são os fármacos anti-histamínicos, usados como
antialérgicos, se ligam a receptores e bloqueiam a ligação de alérgenos nesses
receptores, assim seu efeito biológico é conter a alergia.

2.3 PRINCIPAIS CLASSES TERAPÊUTICAS DE MEDICAMENTOS

Abordaremos a farmacologia clínica de uma maneira extremamente prática.


Para tanto, iremos discorrer sobre algumas classes terapêuticas de medicamentos
importantes para o propagandista farmacêutico.

AN02FREV001/REV 4.0

45
2.3.1 Analgésicos

São medicamentos utilizados para aliviar dor, sem causar a perda da


consciência. Agem diminuindo ou interrompendo as vias de transmissão nervosa
dos impulsos dolorosos.
Entre os fármacos analgésicos estão aqueles que são da classe dos anti-
inflamatórios não esteroidais (AINEs), tais como: a dipirona, o ácido acetil salicílico
(AAS) ou o paracetamol.
Outra categoria de analgésicos são os fármacos com propriedades
narcóticas, ou seja, provocam sonolência e reduzem ou eliminam a sensibilidade.
Entre esses analgésicos podemos destacar a morfina, o tramadol e o demerol. Vale
a pena ressaltar que esses analgésicos possuem venda controlada e são indicados
em casos de dores mais severas, como por exemplo, nos estados de câncer
avançado ou estados de pós-cirúrgia.

2.3.2 Antitérmicos

Os antitérmicos são medicamentos utilizados para aliviar os estados febris,


que podem ser causados por inflamações, infecções e desidratações. Esses
medicamentos também estão incluídos na classe dos AINEs. Como exemplos estão
o paracetamol, a dipirona e o AAS.

2.3.3 Anti-inflamatórios

Anti-inflamatórios são medicamentos utilizados para amenizar os sinais e


sintomas de um estado inflamatório. A inflamação é uma defesa inespecífica do

AN02FREV001/REV 4.0

46
organismo contra uma agressão tecidual. Entretanto, em alguns momentos esse
processo se intensifica e é necessário o uso de medicamentos para contê-lo.
Basicamente existem duas subclasses de anti-inflamatórios, os esteroidais
ou corticoides e os não esteroidais ou AINEs. Os anti-inflamatórios corticoides são
amplamente usados na clínica, têm ação anti-inflamatória por impedir a produção de
substâncias mediadoras da inflamação, entre eles podemos destacar a
dexametasona, a mometasona, a betametasona, a predinisolona, a hidrocortisona,
etc. Apesar de serem potentes anti-inflamatórios, esses medicamentos possuem
diversos efeitos colaterais, entre eles o desenvolvimento da “síndrome de Cushing”.
Observe na figura abaixo a ilustração dos sinais dessa síndrome:

FIGURA 20: SÍNDROME DE CUSHING

FONTE: Disponível em:<http://fabianacamilo.com/tag/sindrome-de-cushing/>.


Acesso em: 10 abr. 2013

Os anti-inflamatórios não esteroidais, ou AINEs, combatem a inflamação por


inibirem a atividade de uma enzima, a ciclo-oxigenase (COX), produtora de
mediadores inflamatórios.
Esses anti-inflamatórios também possuem ação analgésica e antipirética ou
antitérmica.

AN02FREV001/REV 4.0

47
Como efeito colateral está o risco do uso desencadear gastrites e úlceras
gástricas. Como exemplos de AINES mais utilizados para o combate da inflamação
podemos destacar o diclofenaco, o ibuprofeno e a indometacina.

2.3.4 Antialérgicos

Os antialérgicos são medicamentos usados principalmente para o controle


das alergias. Podem ser anti-histamínicos ou corticoides.
Os antialérgicos anti-histamínicos são antagonistas dos receptores da
histamina, uma substância que promove a alergia. Dessa forma, os anti-histamínicos
bloqueiam a atividade da histamina e reduzem os sinais da alergia. Entre eles
podemos destacar a dexclorfeniramina, muito utilizada clinicamente.
Como efeito colateral os anti-histamínicos provocam sono, entretanto a
indústria farmacêutica já produz alguns anti-histamínicos que não alcançam o
sistema nervoso central e assim não provocam sonolência, esse é o caso da
loratadina.

2.3.5 Antiulcerosos

Os medicamentos antiulcerosos são como o próprio nome indica, utilizados


no tratamento de úlceras pépticas. As úlceras pépticas são lesões que acometem a
mucosa do estômago (úlcera gástrica) ou do duodeno (úlcera duodenal). Esses
medicamentos também são utilizados clinicamente no tratamento de esofagite de
refluxo e hemorragia gastrintestinal.
Podem ser divididos em: antiácidos, antagonistas histaminérgicos do tipo
dois e inibidores da bomba de próton. Entre os antiácidos estão os famosos “sais de
frutas”. Entre os antagonistas histaminérgicos do tipo dois estão a cimetidina,
ranitidina e famotidina. Finalmente, omeprazol, pantoprazol e lanzoprazol são
exemplos de inibidores da bomba de próton.

AN02FREV001/REV 4.0

48
2.3.6 Antiespasmódicos

Os antiespasmódicos são utilizados para diminuir a frequência e a força de


contração da musculatura lisa, aliviando assim a dor gerada por essas contrações,
em geral essas dores são denominadas cólicas. Como exemplo, podemos destacar
a Hioscina ou Escopolamina.

2.3.7 Descongestionantes nasais e broncodilatadores

Os descongestionantes aliviam a congestão nasal e diminuem a coriza.


Possuem, em sua maioria, princípios ativos vasoconstritores da mucosa nasal,
portanto promovem a desobstrução das vias aéreas superiores. É importante
ressaltarmos que o uso prolongado de alguns descongestionantes nasais contendo
cloridrato de oximetazolina e o cloridrato de fenoxazolin pode provocar efeitos
colaterias no sistema cardiovascular, entre eles a taquicardia.
Os boncodilatadores são medicamentos que provocam a broncodilatação,
ou seja, a expansão pulmonar, com isso alivia crises de asma e bronquite. Os
broncodilatadores são agonistas B-adrenérgicos como o salbutamol e o fenoterol
(Berotec), seu uso é através de inalação e o efeito colateral mais comum é a
taquicardia.

2.3.8 Antibióticos

Os antibióticos são substâncias capazes de inibir o crescimento


(bacteriostáticos) ou destruir bactérias (bactericida), controlando assim quadros
infecciosos causados por bactérias.

AN02FREV001/REV 4.0

49
Os primeiros antibióticos descobertos eram produzidos por fungos, como a
penicilina, atualmente são sintéticos ou semissintéticos.
Como existem diversas espécies e cepas bacterianas que acometem o ser
humano, causando-lhes infecção, subclasses específicas de antibióticos também
existem para combater cada tipo de infecção. Certamente, o profissional clínico
optará pela melhor antibioticoterapia, ou seja, aquela mais eficaz e segura.
Um grande problema no uso inadequado de antibióticos é a resistência
bacteriana, que é a capacidade dos microrganismos de resistirem aos efeitos de um
antibiótico. Em consequência a esse processo os agentes antimicrobianos vão se
tornando cada vez menos eficazes.
No Brasil, para evitar o uso indiscriminado de antibiótico pela população e
conter o avanço dos casos de contaminação por superbactérias, em 28 de
novembro de 2010 entrou em vigor a resolução RDC 44 da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) para a venda de antibióticos nas farmácias.
Atualmente, os antibióticos só podem ser vendidos com a retenção da prescrição
médica, em duas vias, pelos estabelecimentos farmacêuticos.

2.3.9 Antidiabéticos orais

Os antidiabéticos controlam os níveis de glicose no sangue (glicemia), uma


vez que o diabetes é caracterizado por um estado hiperglicêmico.
Entre os antidiabéticos orais, a metformina é utilizada mais no início da
doença. Outros medicamentos, os secretagogos, estimulam a produção de insulina
através do pâncreas, e são indicados para pacientes não obesos ou pacientes
obesos cuja glicemia não foi controlada por mudanças do estilo de vida e
metformina. A glibenclamida é um exemplo clássico de um secretagogo.

AN02FREV001/REV 4.0

50
2.3.10 Anti-hipertensivos

Os anti-hipertensivos são uma classe de medicamentos usados no


tratamento da pressão arterial elevada ou hipertensão, que é um grande problema
de saúde pública.
Segundo Goodman e Gilman (2005), a hipertensão promove alterações
patológicas vasculares e causa hipertrofia do ventrículo esquerdo, pode levar a um
acidente vascular cerebral (AVC), infarto e morte súbita.
Diferentes classes de medicamentos são utilizadas para controlar a pressão
arterial:

 Diuréticos como a hidroclorotiazida, a furosemida e a espirolactona;


 Bloqueadores do sistema simpático como o propranolol, a prazosina e o
carvedilol;
 Vasodilatadores como o nitroprussiato;
 Bloqueadores de canais de cálcio como o verapamil, a nifedipina e anlodipina;
 Inibidores da enzima conversora da angiotensina (iECA) como o captopril e o
enalapril;
 Antagonistas dos receptores de angiostensina II como alosartana e
valsartana.

2.4 USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS

O objetivo do propagandista farmacêutico é promover a venda de


medicamentos, entretanto cabe-lhe fazer isso por meio de preceitos éticos e do uso
racional de medicamentos.
Segunda a OMS, o “uso racional de medicamentos” é a situação na qual os
pacientes recebem os medicamentos apropriados às suas necessidades clínicas na
dose correta por um período de tempo adequado e um custo acessível.

AN02FREV001/REV 4.0

51
Os medicamentos são produtos destinados ao auxílio, restabelecimento e
para a manutenção da saúde em momentos necessários, porém o uso incorreto
pode levar a uma série de efeitos indesejáveis, chamados de reações adversas ou
até mesmo a morte. Por isso, o uso racional garante que os medicamentos terão os
efeitos desejados.
Após um diagnóstico clínico estabelecido, o médico deverá definir o
tratamento adequado. Caso haja a necessidade de tratamento farmacológico, ou
seja, uso de medicamentos, ele tem a obrigação de se basear de acordo com o uso
racional de medicamentos.
O uso racional de medicamentos envolve inclusive medidas tomadas pelo
médico ao atender seu paciente, entre essas medidas está a qualidade das
informações referentes ao medicamento repassadas ao paciente.
A propaganda direcionada aos prescritores muitas vezes é feita de maneira
incorreta em nosso país, gerando práticas prescritivas incorretas. Obviamente que o
propagandista farmacêutico deve promover os produtos que representa, entretanto
deve-se tomar cuidado com as informações dispensadas aos prescritores.
Um propagandista bem preparado contribui positivamente para a qualidade
das informações que o médico dispensará aos seus pacientes e na escolha dos
medicamentos que serão prescritos. Entretanto, a escolha do médico pelos
medicamentos mais adequados para a prescrição deve ser feita sempre se
baseando em evidências clínicas e científicas.

FIM DO MÓDULO II

AN02FREV001/REV 4.0

52

Você também pode gostar