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Gabriel Henrique da Costa Peixoto ¹, Manoel Ferreira Lima Filho2, Diego Teixeira
Mendes3
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Estudante, Faculdade de História, henrique_peixoto@discente.ufg.br,
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Orientador, Museu Antropológico - UFG, limafilho@ufg.br,
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Co-orientador, Museu Antropológico - UFG, diegotmendes@ufg.br.
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Quando comecei no Museu Antropológico foi bem simples e interessante, de
início tínhamos marcado (eu e o Diego)1, que iria digitalizar os documentos
necessários para a pesquisa seguir adiante, isso inclui: fichas de identificação, de
localização, documentos comprobatórios e até mesmo imagens. Trabalho este que foi
concluído em maio, demorou pouco mais de um mês para digitalizar tudo. Durante a
digitalização das fichas algumas outras ideias foram surgindo, entre elas, como seguir
com o trabalho após a digitalização? A resposta para esta pergunta foi que, decidimos
que iríamos criar uma base de dados para essas informações digitais e posteriormente
iríamos pro laboratório de arqueologia, que se localiza atrás do MA, para limpar,
registrar e comparar as peças de cerâmica Karajá que o Diego trouxe da Ilha do
Bananal em seu último trabalho em campo, com o objetivo de saber quais peças da
exposição etnográfica faziam parte da história desse povo.
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Diego Teixeira Mendes, bacharel em Arqueologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás e
Mestre em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
Atualmente é Arqueólogo; e doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu
de Arqueologia e Etnologia da USP.
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Manuel Ferreira Lima Filho, atualmente é diretor do Museu Antropológico da UFG. Tem experiência
na área de Antropologia, com ênfase em Patrimônio Cultural, Memória Social, Cultura Material e
Etnologia Indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: patrimônio cultural, cidade, memória
coletiva, identidade social e Karajá.
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onde ficou marcado o nosso objetivo para poder começar, que seria criar uma base
de dados com os documentos digitalizados no MA, com o intuito de filtrar os
documentos para somente os que estivessem relacionados com a nossa pesquisa,
para que assim facilitasse as buscas. E também ficou esclarecido que não iríamos ver
todos os objetos Karajá, apenas os de cerâmica.
Após essa reunião, alguns dias depois o Diego disponibilizou uma planilha em
excel contendo essa filtragem, contendo apenas os documentos que tinham objetos
de cerâmica que nos interessavam. Depois de pronto, o documento foi enviado para
a coordenação do MA, onde eles iriam decidir quando e onde faríamos a digitalização
dos documentos, então no dia 18/03/2022, após uma breve reunião com a museóloga
Mayara, que trabalha na coordenação, ficou marcado que poderia começar
efetivamente no dia 22/03.
Ao decorrer dos dias ia aumentando a meta de digitalização das fichas, e logo
mais o Diego entrou para ajudar na digitalização, assim concluímos tudo na segunda
semana de maio. Durante o mês de abril fui ao laboratório de Arqueologia (LABARQ)
algumas vezes, e tive contato pela primeira vez com as cerâmicas retiradas da Ilha do
Bananal, lavei as peças como fui instruído e pude observar que algumas dessas peças
se completavam, como o Diego me disse “parece um quebra cabeça”.
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Figura 1
Mesa no LABARQ onde contém peças de cerâmica dos Karajá. Foto: Gabriel Henrique
Peixoto/ 2022.
Na foto acima tem uma pequena amostra de como foi esse dia no laboratório,
a pesquisa visa comparar essas peças com o material etnográfico do MA, para ver se
pertencem a uma mesma época ou aldeia. A ideia central da pesquisa se encaixa bem
com a frase no livro do Pedro Paulo Funari, “Como pode o arqueólogo ''escavar, não
coisas, mas pessoas’” (2003, p.33), quando olhamos para essas peças e olhamos a
base da pesquisa vemos que é um serviço sério e competente, que não busca mudar
o mundo todo, mas vai ajudar as pessoas ao redor a ter um pouco de humanidade e
curiosidade para buscar entender a história de vida de um povo esquecido pelo Brasil,
esses fragmentos de cerâmica podem contar toda uma história, basta ter paciência
para escutar.
“Os vestígios arqueológicos, a partir do momento em que são reintegrados
num contexto cultural em funcionamento como o nosso, tornam-se novamente
mediadores.” (FUNARI, 2003, p.34). Essa frase de Funari é bem necessária quando
falamos de descobertas de povos que viveram em épocas diferentes da nossa, deve-
se ver esses vestígios com outros olhos, sem o filtro ocidental e cultural enraizado em
nossas vidas desde criança, deve-se ter em mente que é uma civilização própria, com
suas próprias leis e costumes. A função dessa pesquisa é, com a ajuda dos Karajá,
fazer um apanhado de sua história, ajudando na descoberta ou redescoberta de sítios
na Ilha do Bananal, e depois expor isso para as outras pessoas de forma clara e
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objetiva, sem preconceitos ou julgamentos.
Mas aqueles objetos reintegrados pelo arqueólogo passam a possuir novas
funções e a exercer mediações no interior das relações sociais em que foram
inseridos. Estes artefatos podem adquirir funções ideológicas, tanto no sentido de
fazer com que as pessoas endossem as ideias dominantes, como que as critiquem.
(FUNARI, 2003, p.34).
Ao trazer esses objetos para o século XXI deve-se estar atento ao contexto e
tudo que o cerca, não apenas pensar no passado, mas também no presente e no
futuro. Ao decorrer da pesquisa, além de ajudarmos o MA, digitalizando as peças,
também fomos surpreendidos com algumas descobertas, como já citado, o sítio na
Ilha do Bananal de Fontoura, encontramos algumas peças que até então estavam
“perdidas”, então começamos a procurar tudo a respeito, sobre o ano, nome de
pesquisadores, como Iluska e Acary, nome de cidades e estado também. Essas peças
encontradas parecem ser peças Karajá, elas possuem características que podem ser
atribuídas as peças produzidas por esse povo.
E assim, possivelmente, encontramos os indícios do sítio de Fontoura,
documentos, cerâmicas, fotos; agora, após o processo de digitalização que durou
mais de um mês, vamos explorar a área etnográfica do museu junto com esses
documentos digitalizados, e assim passar um filtro sobre as informações, para poder
criar a base de dados que ficou definida logo no início da pesquisa.
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Acary Passos de Oliveira, integrou à Comissão de construção de Brasília e foi designado para
assessorar o Presidente da Fundação Brasil Central. sendo responsável pela “Operação Bananal”. De
1969 a 1981 foi diretor do Museu Antropológico da UFG.
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segunda foi continuar uma pesquisa que havia sido iniciada no ano anterior sobre
cemitérios Karajá, e assim relatar suas formas primária e secundária de sepultamento.
Com isso em mente, os pesquisadores se dirigiram às aldeias e logo estavam
conversando com os ceramistas e após encomendar algumas peças, que seriam
levadas para o MA, eles foram atrás das pessoas mais velhas da aldeia para buscar
saber onde que se localizavam seus cemitérios. Mas tais informações só seriam
obtidas em outra localidade que ficava a cerca de 3-4H de distância por meio de vias
fluviais. Então com a ajuda do Cacique Cap. Pereira, foi que conseguiram chegar ao
cemitério; a situação em que se encontrava era de abandono, com urnas funerárias
amontoadas sem identificação ou quebradas, pela ação do tempo.
Por que não voltaram nesse cemitério? Com base no relatório, não voltaram
pois o acesso ao local deveria ser feito com alguém nativo do local e sem presença
de tal pessoa ali, os Karajá não aceitariam a presença de forasteiros. Na primeira
viagem, a ida ao cemitério além de complicada e cansativa, só foi possível graças a
cooperação dos indígenas, e mesmo após conseguir, a visita durou apenas um dia,
mostrando que o local não era para visitantes.
Por que os exploradores foram nesse cemitério? Por que consideraram esse
cemitério um sítio arqueológico? Um dos motivos que levaram os pesquisadores a
campo, foi ir atrás do cemitério para tentar entender o modo como os Karajás lidavam
com a morte e o sobre o funeral. Até então sabemos que esse povo fazia da seguinte
maneira: após a morte o corpo era enterrado e deixado para entrar em decomposição,
depois de alguns dias eles desenterraram o corpo e limpavam os ossos e colocavam
os restos mortais em urnas funerárias feitas de cerâmica.
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Figura 2.
No dia 03/05/2022 fui a uma reserva técnica juntamente com o Diego e mais
duas pessoas, com o intuito de encontrar peças de cerâmica que estavam sem
registro; depois de uma busca encontramos pouco mais de 20/25 peças, que possuem
traços e provavelmente pertenciam aos Karajá; sabemos disso por conta de sua
estrutura e forma, assim como alguns ingredientes que foram adicionados na argila
que são visíveis a olho nu, e também por algum tipo de desenho que esteja claro.
Na mesma pasta onde contém o relatório existem outros registros de viagem,
como recibos das despesas, que para os padrões da época, eram relativamente
caros. Na década de 70, a moeda em tramitação no Brasil era o cruzado (Cr$), é
importante deixar isso claro; alguns objetos que foram comprados na viagem como,
colares de madeira, cachimbos, lanças, entre outros, que somados com outros itens
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deram um total de Cr$372, hoje simplesmente sairiam de graça com o Real (R$), é
bem interessante comparar épocas e se deparar com mudanças tão drásticas de
preço e economia.
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REFERÊNCIAS
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. Editora Contexto – São Paulo. 2003.
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