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Perguntas da Especialidade

CURSO DE PREPARAÇÃO – EQUIVALÊNCIA 2021


PSIQUIATRIA

Drogas Ilícitas
Relevância A
Catarina Oliveira
catarinafpo@gmail.com
Perguntas da Especialidade

Esta aula é utilizada no curso de EQUIVALÊNCIA e na preparação para a prova


de acesso à residência médica (PNA), pois os dois exames têm a mesma
bibliografia. Podem por isso aparecer algumas referências à PNA nas aulas. mas
mantém-se a sua aplicabilidade para a Prova de Reconhecimento Específico.

RECONHECIMENTO ESPECÍFICO
Perguntas da Especialidade

SUMÁRIO
1. Introdução
2. Epidemiologia
3. Mecanismo da doença
4. Malefícios do Uso de Substâncias
5. Diagnóstico
6. Prevenção
7. Tratamento
8. Uso nocivo de substâncias específicas
- Opióides
- Canábis
- Psicoestimulantes – anfetaminas, cocaína, MDMA
- Alucinogénicos
- Feniciclidina e Quetamina
- Substâncias voláteis Nota:
9. Dicas para Casos Clínicos Recordar primeiro o capítulo de Alcoolismo
Perguntas da Especialidade

INTRODUÇÃO

CIRCUITO DA RECOMPENSA / PRAZER E O CICLO DA ADICÇÃO

Dopamina
Perguntas da Especialidade

EPIDEMIOLOGIA
USO ILÍCITO DE SUBSTÂNCIAS

EUA(Substance Abuse and Mental Health Services Administration, 2010):


• 8,7% ≥12 anos consumiram alguma substância ilícita no último mês;
• Maior consumo entre desempregados de 16 a 25 anos;
• Substância mais consumida: canábis (58% uso exclusivo de canábis).

Reino Unido (Psychiatric Morbidity Survey, 2009):


• 9,2% adultos consumiram alguma substância ilícita no último ano;
• Maior consumo entre homens do que em mulheres;
• Substância mais consumida: canábis (7,5%);

Europa (European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs, 2011):
• 15/16 anos: 21% rapazes e 15% das raparigas experimentaram alguma substância ilícita;
• Substância mais consumida: canábis (++ na República Checa);
• Diminuição de 16% do consumo de drogas ilícitas nos adolescentes no Reino Unido entre 1995-2011.
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EPIDEMIOLOGIA
USO ILÍCITO DE SUBSTÂNCIAS

EUA(Substance Abuse and Mental Health Services Administration, 2010):


• 8,7% ≥12 anos consumiram alguma substância ilícita no último mês;
• Maior consumo entre desempregados de 16 a 25 anos;
• Substância mais consumida: canábis (58% uso exclusivo de canábis).

Reino Unido (Psychiatric Morbidity Survey, 2009):


• 9,2% adultos consumiram alguma substância ilícita no último ano;
• Maior consumo entre homens do que em mulheres;
• Substância mais consumida: canábis (7,5%);

Europa (European School Survey Project on Alcohol and Other Drugs, 2011):
• 15/16 anos: 21% rapazes e 15% das raparigas experimentaram alguma substância ilícita;
• Substância mais consumida: canábis (++ na Republica Checa);
• Diminuição de 16% do consumo de drogas ilícitas nos adolescentes no Reino Unido entre 1995-2011.
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EPIDEMIOLOGIA

DEPENDÊNCIA DE SUBSTÂNCIAS ILÍCITAS

Reino Unido (Psychiatric Morbidity Survey, 2009):


• Prevalência no último ano de 4,1%;
• Mais em homens do que em mulheres;
• Grupo etário: 16-24 anos;
• Substância: canábis (3,4%);
• População mais afetada:
o classe social baixa em ambiente urbanos (adolescentes);
o sem-abrigo;
o presidiários.
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MECANISMO DA DOENÇA
Etiologias específicas incertas
Fatores de Risco

1. Disponibilidade de O uso ocasional pelos jovens deixa de ser visto como anormal;
substâncias 3 VIAS de obtenção mais comuns:
1. legalmente sem prescrição (nicotina e álcool);
2. prescrição médica (BZD; opióides);
3. mercado negro (ilegal); [e compra online!]
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MECANISMO DA DOENÇA
Etiologias específicas incertas
Fatores de Risco

1. Disponibilidade de O uso ocasional pelos jovens deixa de ser visto como anormal;
substâncias 3 VIAS de obtenção mais comuns:
1. legalmente sem prescrição (nicotina e álcool);
2. prescrição médica (BZD; opióides);
3. mercado negro (ilegal); [e compra online!]
2. Fatores individuais • Famílias destruturadas – consumo em idade jovem;
Personalidade vulnerável • Mau rendimento escolar; absentismo escolar; delinquência;
• Traços personalidade: necessidade de sensações fortes, impulsividade;
• História familiar: de doença mental ou perturbação da personalidade na família;
• Factores genéticos – grande contributo para as pert. de uso de substâncias.
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MECANISMO DA DOENÇA
Etiologias específicas incertas
Fatores de Risco

1. Disponibilidade de O uso ocasional pelos jovens deixa de ser visto como anormal;
substâncias 3 VIAS de obtenção mais comuns:
1. legalmente sem prescrição (nicotina e álcool);
2. prescrição médica (BZD; opióides);
3. mercado negro (ilegal); [e compra online!]
2. Fatores individuais • Famílias destruturadas – consumo em idade jovem;
Personalidade vulnerável • Mau rendimento escolar; absentismo escolar; delinquência;
• Traços personalidade: necessidade de sensações fortes, impulsividade;
• História familiar: de doença mental ou perturbação da personalidade na família;
• Factores genéticos – grande contributo para as pert. de uso de substâncias.
3. Ambiente social adverso • Influência por pares ou familiares;
• Desemprego e sem-abrigo → grupo de risco.
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MECANISMO DA DOENÇA
Etiologias específicas incertas
Fatores de Risco

1. Disponibilidade de O uso ocasional pelos jovens deixa de ser visto como anormal;
substâncias 3 VIAS de obtenção mais comuns:
1. legalmente sem prescrição (nicotina e álcool);
2. prescrição médica (BZD; opióides);
3. mercado negro (ilegal); [e compra online!]
2. Fatores individuais • Famílias destruturadas – consumo em idade jovem;
Personalidade vulnerável • Mau rendimento escolar; absentismo escolar; delinquência;
• Traços personalidade: necessidade de sensações fortes, impulsividade;
• História familiar: de doença mental ou perturbação da personalidade na família;
• Factores genéticos – grande contributo para as pert. de uso de substâncias.
3. Ambiente social adverso • Influência por pares ou familiares;
• Desemprego e sem-abrigo → grupo de risco.
4. Fatores farmacológicos • Alterações neuroadaptativas com o uso prolongado (dopamina e circuito de recompensa);
• Tolerância cruzada (ex. BZD e álcool);
• Ação positiva (uso abusivo) → Ação negativa (privação) → DEPENDÊNCIA;
• Estímulo/craving → uso pós período de abstinência → recaída → reinstatement effect.
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MECANISMO DA DOENÇA

Correlatos Neurobiológicos e Comportamentais

Do uso abusivo à dependência:


➢ Uso continuado – efeito de tolerância e modelação de recetores e neurotransmissão (dopaminérgica; noradrenérgica);
➢ Diminuição do processo reflexivo pré-frontal e aumento da atividade estriatal → alteração do juízo crítico e da reflexão sobre a
decisão;
➢ Sintomas privação (hiperativação noradrenérgica:taquicardia; tremor; HTA; ansiedade) e craving

Reforço negativo → transição do consumo impulsivo para o consumo compulsivo


Perguntas da Especialidade

MALEFÍCIOS DO USO DE SUBSTÂNCIAS

Consequências Físicas Medidas de Redução de Risco


Negligência do auto-cuidado; Acompanhamento pelos serviços sociais;
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MALEFÍCIOS DO USO DE SUBSTÂNCIAS

Consequências Físicas Medidas de Redução de Risco


Negligência do auto-cuidado; Acompanhamento pelos serviços sociais;
Uso intravenoso (opióides; BZD; metanfetaminas): Prevenção das Infeções e doenças infectocontagiosas:
Efeitos Locais: trombose venosa; infeção dos locais de punção; danos - programas de troca de seringas;
arteriais
Efeitos Sistémicos: endocardite bacteriana; hepatite B (30-50%); - informar e educar sobre os riscos para a saúde;
hepatite C (50-80%);VIH; overdose acidental - programas de substituição opióide (com
metadona/buprenorfina);
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MALEFÍCIOS DO USO DE SUBSTÂNCIAS

Consequências Físicas Medidas de Redução de Risco


Negligência do auto-cuidado; Acompanhamento pelos serviços sociais;
Uso intravenoso (opióides; BZD; metanfetaminas): Prevenção das Infeções e doenças infectocontagiosas:
Efeitos Locais: trombose venosa; infeção dos locais de punção; danos - programas de troca de seringas;
arteriais
Efeitos Sistémicos: endocardite bacteriana; hepatite B (30-50%); - informar e educar sobre os riscos para a saúde;
hepatite C (50-80%);VIH; overdose acidental - programas de substituição opióide (com
metadona/buprenorfina);
Nas mulheres considerar:
- Responsabilidades parentais e sociais; - Cuidados pré-natais diferenciados;
- História de vitimização e abuso sexual;
- Barreiras sociais na obtenção de ajuda; - Acompanhamento pelos Serviços Sociais;
- Se gravidez e puerpério → risco para mãe e feto (malformações - Referenciação a Equipas de Tratamento de
fetais; síndrome de privação neonatal; infeções; cuidados ao bebé → toxicodependência ou por serviços de Saúde Mental
necessidade de acompanhamento em equipa especializada. diferenciados;
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MALEFÍCIOS DO USO DE SUBSTÂNCIAS

Co-morbilidades Psiquiátricas Redução do Risco


Patologia Dual (muito comum) = perturbação
aditiva + doença psiquiátrica (++ pert. personalidade; - Existência de equipas diferenciadas e multidisciplinares no tratamento
depressão e ansiedade); de patologia aditiva;
A doença mental (por ex. depressão) como resultado - Tratamento prolongado (residências e comunidades terapêuticas);
direto do uso de substâncias e vice-versa;
- Acompanhamento pelos serviços sociais a longo-prazo;
Menor adesão terapêutica
- Garantir settings psicoterapêuticos (de grupo);
Maior risco de violência, suicídio - uso apropriado de medicação (ex. clozapina é mais eficaz se
PIOR PROGNÓSTICO CLÍNICO E SOCIAL esquizofrenia e patologia aditiva)
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MALEFÍCIOS DO USO DE SUBSTÂNCIAS

Consequências Sociais
O estado de intoxicação crónica afeta o comportamento levando ao desemprego,
a acidentes, a problemas familiares (negligência infantil e violência);

Recurso ao roubo, favores sexuais ou outras condutas ilícitas por forma a obter
dinheiro para comprar substâncias;
Pressão de pares para associação em atividade anti-social ou criminosa;

Custos económicos elevados → Reino Unido foram estimados em cerca de 15£


biliões anualmente.
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DIAGNÓSTICO

Diagnóstico mais precoce → Melhor prognóstico e mais sucesso

Sinais Físicos • Marcas de picada de agulha


• Tromboflebite
• Abcessos subcutâneos
• Hepatite

Comportamento • Absentismo escolar / emprego


• Negligência do auto-cuidado
• Isolamento social
• Atos minor de criminalidade e prostituição
Recurso aos Serviços de Saúde • Pedido de drogas analgésicas sob falso pretexto de dor
• Complicações relacionadas com o consumo (infeções; celulite; hepatite; overdose etc)
• Reconhecem dependência e pedem ajuda (poucos)
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DIAGNÓSTICO

HISTÓRIA CLINICA
Colher elementos de forma cronológica;
Questionar sobre a presença de craving e de sintomas de privação →
importante para o dx de dependência;
Caracterizar comportamentos de risco (partilha de seringas; uso de droga
intravenosa e com escolha de locais de risco – pescoço ou virilha);

Caracterizar períodos de abstinência e quais os motivos que motivaram o


sucesso desses períodos;
Esclarecer triggers para a recaída;
Overdose acidentais no passado ?;
Caracterizar problemáticas familiares, ocupacionais e legais.
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DIAGNÓSTICO
Diagnóstico Laboratorial – sempre que possível!

Na urina:

➢ fáceis, comuns e menos invasivas;

Na saliva:
➢ menor probabilidade de fraude;
Cromatografia:
➢ quando o rastreio urinário é incongruente com a história clínica;
➢ Falsos positivos: fármacos psicotrópicos.
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PREVENÇÃO

1º Medidas importantes dependem da vontade política;

2º Identificação precoce de grupos ou indivíduos de risco (ambiente escolar) e oferecer intervenções psicossociais especializadas;

3º Psicoeducação de jovens sobre saúde mental e patologia aditiva (programa curricular e media);

4º Reduzir a prescrição de fármacos com potencial uso aditivo (BZD);


5º Abordar as problemáticas familiares (por ex. terapia familiar; treino de competências parentais);
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TRATAMENTO

A eficácia do tratamento depende muito do grau de motivação

Modelo Transteórico de Mudança


Prochaska and DiClemente (1986)

Entrevista motivacional
Oferecer apoio psicossocial
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TRATAMENTO
• Adaptação individual e social à abstinência;
Objetivos • Quando não é possível abstinência → programas de redução de risco e minimização de danos;
• Disponibilizar apoio psicossocial em equipas multidisciplinares especializadas.

• Contexto hospitalar: infeções, abcessos, sépsis, doenças infetocontagiosas, overdose;


Complicações • Saúde oral e cuidados de nutrição;
• Imunização para hepatite B.

• Para a maioria das substancias → ambiente hospitalar tem maior sucesso do que em ambulatório;
Desintoxicação • Considerar o risco posterior de depressão e suicídio.

• Doente não abdica do consumo (++ se uso de opióides) → oferecer a prescrição de substâncias com maior tempo de
semi-vida e menor potencial aditivo (metadona);
Manutenção • Integrar os indivíduos em programas de substituição opióide → metadona → melhor outcome!!
• Acompanhamento psicossocial e promover a motivação para a abstinência;
• Promover a prevenção da recaída, a reabilitação e a integração em sociedade.
Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


Perguntas da Especialidade

OPIÓIDES
OPIÓIDES → Agonistas dos recetores opióides (+µ) → sedativos, analgésicos
→ Heroína, morfina, metadona, buprenorfina
Epidemiologia • Opióides com prescrição médica (oxicodona; tramadol) > abuso que heroína → problemática EUA;
• UK: 0,1% dependência opióide;
• Percentagens mais elevadas em contexto prisional e nos sem-abrigo.
Administração • Via endovenosa → + supressão respiratória, overdose e morte; subcutânea; fumada; inalada.

Curso da • Dependência rápida e desenvolvimento de tolerância marcado (diminui rapidamente após abstinência → risco de overdose
Dependência acidental na recidiva);
• Maioria dos casos → curso com várias recaídas.
Efeitos • Euforia, analgesia, obstipação, anorexia, depressão do centro respiratório.

Privação • Craving intenso, inquietação, insónia, dores musculares e articulares intensas, rinorreia, lacrimejo, cólicas, vómitos, diarreia,
piloereção, sudorese, midríase, taquicardia, hipo/hipertremia;
• Surge 6h após ultimo consumo, com pico às 36 a 48h.
Prognóstico • Mortalidade até 20%/10 anos → overdose; suicídio; doenças infectocontagiosas (VIH, hepatite);
• 50% a 10 anos remite consumos
• Fatores protetores: casamento e emprego;
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OPIÓIDES

INTERVENÇÃO NA CRISE
Procura de serviços médicos

Na privação;
Na overdose;
Complicações agudas do uso intravenoso; → clonidina

Substituição opióide aguda;


Referenciação para ET;
Integração em programa de substituição opióide.

INTERVENÇÃO PLANEADA – Programas de Desintoxicação


→ Fundamental garantir gestão psicológica;
→ Programa de desintoxicação (4 semanas em hospital; 12 semanas em comunidade terapêutica);
→ Fármacos adjuvantes: loperamida/metoclopramida (sint GI); AINES (dor); clonidina/lofexidina (sint. simpáticos);
→ Integração em programa de substituição opióide metadona / buprenorfina; ingresso em comunidades terapêuticas.
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OPIÓIDES
Opióides e gravidez

• Risco de prematuridade e baixo peso;


• Síndrome de privação neonatal (irritabilidade, inquietação, choro agudo):
→ Surge em dias após nascimento se mãe consumidora de heroína ou, em semanas, se terapêutica com metadona;
• Melhor prognóstico se mãe em programa de substituição com metadona;
• Desintoxicação durante a gravidez → preferencialmente no 2º trimestre
Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


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CANÁBIS

• Extraída da planta Cannabis sativa;


• Epidemiologia: 23% (a longo da vida); 2,7% com dependência;
• Componentes: canabidiol (mais ansiolítico; analgésico) + tetrahidrocanabinol (+ THC → mais efeitos adversos);
• Canábis medicinal vs canábis de alta potencia vs canábis sintética;

Efeitos → variam com a dose expectativa, humor basal (parece exagerar positivo/negativo) e contexto social;
• Sem efeitos adversos descritos em consumo intermitente (doses baixas);
• Ansiedade, pânico, confusão, vivência paranóide, psicose (doses altas ou canábis de alta potência);
• Aumento das experiências estéticas distorção da percepção do tempo e espaço, olhos vermelhos, boca seca taquicardia, irritação da
via respiratória e tosse;

• Não indicado na gravidez (sem prova evidente de teratogenicidade);


• Não seguro durante a condução.
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CANÁBIS

CANÁBIS E DOENÇA MENTAL


✓ Pior prognóstico;
✓ Sintomas positivos + graves;
Esquizofrenia: modifica o curso da doença ✓ + recaídas;
→ dúvidas no efeito causal de doença; ✓ Internamentos + prolongados;
→ 2,5x – 6x risco relativo para consumidores;
→ Os que estão mais predispostos à esquizofrenia estão mais predispostos ao uso de canábis?
→ Aumento do risco de 2x para psicose em consumidores jovens sem fatores de risco para esquizofrenia;
→ Se história familiar → risco aumenta de 1 em 10 para e 1 em 5;

Consumo nos adolescentes → piores outcomes psicossociais (+ sintomas afetivos;- rendimento; + acidentes desemprego);

Tolerância e dependência: 9% (nicotina 32%, heroína 23%, cocaína 17%, álcool 15%);

Síndrome de privação (doses altas): irritabilidade, náusea, insónia, anorexia;

Tratamento: incerto; psicoterapia; difícil abstinência a longo prazo.


Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


Perguntas da Especialidade

PSICOESTIMULANTES - ANFETAMINAS
Mecanismo • Libertação e bloqueio do reuptake da dopamina e noradrenalina;

Epidemiologia • 8,6% consumiu;


(Reino Unido) • 0,2% dependência.
Aplicações • Perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA);
clínicas • Narcolepsia.
Vias de uso • Oral, endovenosa; inalada → se cristalizada forma mais potente
Laboratório • Amostra de urina se suspeita (rapidamente eliminadas); no sangue eliminada em 2 dias.

Efeitos • Efeito imediato no humor, aumento da conversação, reatividade aumentada, mucosas secas;
Clínicos • Insónia, disforia aguda, irritabilidade, confusão, anorexia, midríase, taquicardia, aumento da tensão arterial, ansiedade,
pânico;
• Doses elevadas: arritmia, crise hipertensiva, AVC, choque cardiogénico, convulsões, coma;
• Complicações obstétricas: aborto, parto prematuro, descolamento da placenta.

Psicose induzida por anfetaminas → uso prolongado em doses elevadas


• comportamento repetitivo estereotipado;
• Psicose paranóide esquizofrenia-like (delírio persecutório, alucinações, comportamento agressivo);
• Geralmente persiste semanas, pode durar meses.
Perguntas da Especialidade

PSICOESTIMULANTES - ANFETAMINAS
(continuação)

Prevenção • Restrição da prescrição;


• Restrição do acesso a substâncias ilícitas;
Dependência • Muitos utilizadores recreacionais não progridem para uso nocivo e dependência;
• Rápida;
História Sugestiva • Episódios de hiperatividade e euforia, alternados com depressão e apatia

Síndrome de Privação • Ligeiro → disforia, cansaço;


• Moderado/grave → depressão severa, ansiedade, tremor, letargia, pesadelos, ideação suicida;
• BZD amenizam sintomas.
Overdose • Sedação e reversão de hipertermia e arritmia cardíaca;
• Antipsicótico se necessário.
Desintoxicação • Difícil (craving elevado);
• Psicoterapia;
• Regime de internamento.
Programas de manutenção • Dexanfetamina oral;
• Pouca evidência de sucesso.
Perguntas da Especialidade

PSICOESTIMULANTES - COCAÍNA
Mecanismo • Libertação e bloqueio do reuptake da dopamina e noradrenalina;

Epidemiologia • 6,3% consumiu;


(Reino Unido) • 0,4% dependência.
Vias de uso • Injetada, fumada, snifada (perfuração do septo nasal);
• Forma cristalizada: crack (fumado) → início rápido de ação → + dependência e + efeitos adversos;
Efeitos • Euforia, aumento da energia, pensamentos de grandiosidade, capacidade de julgamento diminuída, desinibição sexual,
Clínicos ideação paranóide (comportamento agressivo);
• Taquicardia, aumento da tensão arterial, midríase marcada;
• Doses elevadas → alucinações visuais e auditivas, psicose paranóide, comportamento violento;

Cocaine bug syndrome


→ Sensação de insetos a rastejar debaixo da pele;
→ Formicação;
→ Consumidores mais pesados.
Perguntas da Especialidade

PSICOESTIMULANTES - COCAÍNA
(continuação)

Complicações

Ressaca • 24horas → ansiedade, irritabilidade, hipersonolência, anedonia;


• Se consumo prolongado → craving intenso, depressão severa, ideação suicida;
Tratamento agudo • Benzodiazepinas e antipsicóticos;
• Tratamento de complicações médicas.
Desintoxicação • Difícil; psicoterapia; regime internamento.
Programas de Manutenção • Sem benefício.
Perguntas da Especialidade

PSICOESTIMULANTES - MDMA (ECSTASY)


Mecanismo • Aumenta níveis de dopamina e serotonina (propriedades alucinogénicas);

Vias de uso • Comprimido ou cápsula (50 150 mg), efeitos duram 4 a 6h;
Efeitos • Humor positivo, euforia, sociabilidade, intimidade, novos insights e percepção aumentada;
Clínicos • Perda de apetite, taquicardia, bruxismo, sudorese;
• Raro: reações adversas graves e morte → hipertermia, arritmia, hemorragia intracerebral, hepatite tóxica (outros
compostos da mistura?);
• Associado a psicose aguda e crónica (indivíduos vulneráveis?);
• Flashbacks: recorrência de experiências anormais semanas meses após ingestão;
• Uso repetido → depressão, ansiedade e despersonalização, alterações de memória em ex consumidores;
Tolerância • Tolerância desenvolve-se rapidamente;

Prevenção • Risco de perigo baixo;


• Informar sobre riscos agudos e a longo prazo (défice cognitivo, sequelas psiquiátricas);
• Consumos elevados e perturbação psiquiátrica pré existente associados → + reações adversas;
• Educação sobre evitar aumento da temperatura (pausa na dança e fluidos isotónicos);
• Beber água isolada por causar hiponatrémia fatal.
Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


Perguntas da Especialidade

ALUCINOGÉNIOS
Mecanismo • LSD; psilocibina (cogumelos mágicos), metildimetoxiamfetamina;
• Agonistas parcial do recetor 5-HT2A;
• Em investigação para novas terapias farmacológicas (depressão, abuso substâncias);
Epidemiologia • 3,5% já consumiram LSD, 5% cogumelos mágicos (Reino Unido).

Efeitos • Efeitos variáveis, em 2h, duração de 8 a14 h;


Clínicos • Simpaticomiméticos: taquicardia, aumento tensão arterial, midríase;
• Distorção e intensificação da perceção sensorial; confusão (sons percebidos visualmente e movimentos percebidos
auditivamente, objetos fundem-se/movem-se ritmadamente); distorção do tempo;
• Experiências parecem ter um significado profundo;
• Distorção do corpo angustiante, sentimento de estar fora do corpo (medo de insanidade); perigo de auto lesão /suicídio
(menos comum por estratégias de segurança pelos consumidores);
• RISCO: ataque de pânico, ansiedade, comportamento imprevisível;
• Sem evidência de consequência a longo prazo do pensamento/comportamento;
• Flashbacks (psicadélicos) semanas a meses após toma.
Tolerância • Tolerância pode ocorrer, síndrome de privação nunca descrito e dependência é rara;

Prevenção • Consumo seguro:


- estar acompanhado; explicar ao doente que as alterações experienciadas rsultam do consumo;
- diazepam é eficaz.
Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


Perguntas da Especialidade

FENCICLIDINA E QUETAMINA
FENCICLIDINA QUETAMINA

Mecanismo de • Antagonista receptores NMDA • Antagonista receptores NMDA


ação • Menor semi-vida, bom perfil de segurança; duração 1-2h,

Utilização • Policonsumo: álcool e canábis; • Anestésico


• Na urina até 72 h • Investigação para tratamento de depressão resistente
Efeitos • Doses baixas: embriaguez, analgesia dos dedos, • Doses baixas: elevação do humor (!!);
anestesia; • Doses maiores: distorção sensitiva e da percepção, experiências
• Doses maiores: ataxia, rigidez muscular, fora do corpo, alucinações, perturbação do pensamento e
TRATAMENTO:
convulsões, ausência de resposta; confusão;
- Haloperidol
• Intoxicação: agitação, depressão de • Intoxicação: hiperactividade simpática, dor torácica, taquicardia,
- Diazepam
consciência, agressividade, sintomas psicóticos- palpitações, náuseas, vómitos, dispneia, ataxia, mutismo, paralisia
- Complic. Médicas
like, nistagmo, HTA; temporária;
• Overdose: crises simpaticomiméticas (IC • Raramente: agitação severa e rabdomiólise.
- X Cloropromazina
hipertensiva, AVC, hipertermia maligna), mal TRATAMENTO SINTOMÁTICO
(+ ef.
epilético, rabdomiólise (insuficiência renal); - Benzodiazepinas e das complicações médicas;
anticolinérgicos)
• Morte: por crise hipertensiva, depressão - Antipsicóticos sem efeito.
respiratória e suicídio
Tolerância • Tolerância ocorre;
Dependência • Raramente síndrome de privação.
Perguntas da Especialidade

USO NOCIVO DE SUBSTÂNCIAS ESPECÍFICAS

Opióides Psicoestimulantes
Alucinogénicos
(heroína, Canábis (anfetaminas,
(LSD)
morfina…) cocaína, MDMA)

Fenciclidina Quetamina Voláteis


Perguntas da Especialidade

SUBSTÂNCIAS VOLÁTEIS
Mecanismo • Aumento da função GABA e diminuição da atividade do recetor NMDA;

Tipos • Solventes, inalantes (derivados do petróleo; cola; tintas; produtos extintores de fogo, acetona);
• Nitrito de amilo “poppers” → recreativo/atividade sexual (chemsex).
Epidemiologia • População jovem sem abrigo da América do Sul;
• Consumo mais frequente em jovens, sexo masculino, baixo nível socioeconómico, em grupo.
Efeitos • Semelhantes ao álcool: euforia, visão turva, discurso impercetível, náusea, vómitos, coma, alucinações visuais;
Clínicos • Uso crónico: neurotoxicidade/neuropatia periférica, disfunção cerebelar, encefalite, demência.

• Risco de morte súbita → arritmia cardíaca, depressão respiratória, trauma, asfixia;


Tolerância • Dependência se uso regular, síndrome de privação incomum (perturbação do sono, irritabilidade, náusea, taquicardia,
e dependência alucinações/delírios);
• Tolerância se consumo sustentado 6 a12 meses.
Diagnóstico • Sugerido por cola nas mãos/face/roupas, hálito a químico, intoxicação rápida, desorientação;
• Rash facial característico – glue sniffer’s rash
Prevenção • Aconselhamento para consumidores esporádicos;
• Policonsumo (álcool e opióides) → equipas de tratamento de toxicodependência;
• Apoio psicossocial.
Perguntas da Especialidade

DICAS PARA OS CASOS CLÍNICOS

✓ A problemática de consumo de substâncias ilícitas tem vindo a mudar: heroína → crack; drogas sintéticas; canabinóides;
✓ Os quadros de dependência opióide devem ser sempre manejados em Equipas de Tratamento, sendo os programas de
substituição opióide como os de maior eficácia;
✓ O curso de dependência de opióides é geralmente crónico;
✓ O consumo de canábis tem implicação no desenvolvimento de doenças psicóticas (quanto mais jovem pior);
✓ Após a admissão hospitalar de um doente com problemática de consumo (previamente não conhecido) deve ser feita a
referenciação para a equipa de psiquiatria de ligação;
✓ As drogas psicadélicas/alucinogénicas têm vindo a ser investigadas para o uso na prática clínica para o tratamento de
depressão resistente (quetamina; psilocibina);
✓ Existe risco de suicido aumento tanto nos períodos de intoxicação como nos períodos de privação;
✓ Os psicofármacos mais utilizados para tratamento sintomático de intoxicação são os antipsicóticos (por ex.haloperidol) e
as benzodiazepinas → sedação e controlo de agitação e sintomas psicóticos;
✓ O apoio psicossocial é muito importante no manejo de doentes com toxicodependência.
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BIBLIOGRAFIA E OUTRAS REFERÊNCIAS

Harrison P., Cowen P., Burns T., and Fazel M. Shorter (2017). Shorter Oxford Textbook of Psychiatry, 7 ed. Oxford University Press.

Cleck JN, Blendy JA. Making a bad thing worse: adverse effects of stress on drug addiction. J Clin Invest. 2008;118(2):454-461.
https://doi.org/10.1172/JCI33946.
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