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Sérgio Augustin1
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Doutor em Direito pela UFPR, Pesquisador e Coordenador do PPGDIR – Mestrado em Direito da
Universidade de Caxias do Sul/UCS.
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Mestranda em Direito na Universidade de Caxias do Sul/UCS.
Palavras-chave: Licitações Públicas Sustentáveis. Meio Ambiente.
Desenvolvimento.
INTRODUÇÃO
São apresentados índices do consumo verde por parte do Poder Público, que bem
demonstra a necessidade de implementação das licitações sustentáveis pelas administrações,
assim como são trazidos os fundamentos legais para inclusão de critérios ambientais nos
certames licitatórios, não mais como mera discricionariedade administrativa, mas como
imposição legal inclusa na Lei de Licitações em 2010, através da Lei nº 12.349. Assim, busca-
se contribuir para efetiva implementação das licitações públicas sustentáveis em todos os
âmbitos da administração.
Celina Souza (2007) traz algumas definições do que seja política pública. Mead
(1995) define como campo da política “que analisa o governo à luz de grandes questões
públicas”. Lynn (1980) diz ser o “conjunto de ações do governo que irão produzir efeitos
específicos”. Para Dye (1984) “o que o governo escolhe fazer ou não fazer”. E Laswell diz
que as “decisões e análises sobre política pública implicam responder às seguintes questões:
quem ganha o quê, porquê e que diferença faz” ou ainda traz a definição clássica de Lowi
“uma regra formulada por alguma autoridade governamental que expressa uma intenção de
influenciar, alterar, regular, o comportamento individual ou coletivo através do uso de sanções
positivas ou negativas”. A autora resume políticas públicas “como o campo do conhecimento
que busca, ao mesmo tempo, colocar o “governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável
independente) e, quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações
(variável dependente)”. (SOUZA, 2007)
Alguns autores reconhecem uma política pública pelo seu nível de operacionalização
em que apenas as macrodiretrizes poderiam ser consideradas como políticas públicas.
Contudo, Secchi filia-se ao entendimento que além destas que traçam parâmetros gerais
devem ser consideradas políticas públicas também as diretrizes operacionais e intermediárias,
que se centram na solução de problemas públicos municipais, regionais e relacionados à
organização interna.
Até para manutenção da soberania dos Estados é essencial e estratégico deter bens da
natureza. Édis Milaré (2004)acentua que:
Para Ulrich Beck (2000) e Anthony Giddens (1991) dizem que as sociedades
industriais ofereciam riscos relacionados a distribuição de riqueza e a luta era entre o capital e
o trabalho. Contemporaneamente, na sociedade de risco, o conflito reside na distribuição dos
efeitos maléficos oriundos do processo de modernização, especialmente pela dimensão
catastrófica difusa desta modernização que atinge todos os seres independentemente de sua
condição social, atingindo até mesmo os próprios causadores destes riscos,
independentemente do local do planeta onde se encontrem, pois as “comunidades de perigo”
transcendem as fronteiras políticas e geográficas. A difusão social destes riscos orienta para a
busca de um Estado de Bem estar social, com responsabilidade coletiva e a valorização do
movimento ambientalista que pode desvendar os problemas ainda ocultos relacionados ao
meio ambiente.
O crescimento a qualquer custo foi defendido pelo Brasil, em Estocolmo/1972,
quando na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano se alertava para a
galopante devastação ambiental em todo o mundo. Colhemos nos dias de hoje os resultados
daquelas decisões do regime militar. Conforme destaca MILARÉ (2004), citando o
Diagnóstico de Desertificação no Brasil, são verificadas grandes manchas de deserto no
pampa gaúcho, no noroeste do Paraná, no Nordeste e em vários pontos da Amazônia
Conforme relatório do IBGE de 2002, perde-se 18,6 KM2 de área verde por ano e o Estado de
São Paulo perde, por força da erosão, 190 milhões de toneladas de terra ao ano Além das
doenças oriundas da utilização de agrotóxicos e mercúrio.
De 1972 até os dias atuais a pressão social, tanto nacional como internacional,
acabou induzindo os governos à adoção de medidas, ainda que escassas, no sentido de
compatibilizar o desenvolvimento com a proteção ambiental, ao que se denominou de
desenvolvimento sustentável e é neste cenário catastrófico, mas cheio de oportunidades, que
se desafia propor a utilização das compras verdes por parte da Administração, como medida
preventiva ambiental.
Para que o problema seja incluído na agenda são verificadas três condições: possuir a
atenção da coletividade, as ações propostas devem ser factíveis e precisa atingir
responsabilidades administrativas (SECCHI, 2012).
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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as
presentes e futuras gerações.§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:I - preservar e
restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a
diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que
se dará publicidade;V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos os níveis
de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na
forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os
animais a crueldade. § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. § 3º - As condutas e atividades
consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e
Federal encontramos esta determinação, também o art. 1704 que trata dos princípios da
atividade econômica, eleva a proteção ambiental como um de seus princípios norteadores, na
busca de normatizar o esperado desenvolvimento sustentável.
Em 1981 foi instituída a Política Nacional de Meio Ambiente, pela Lei nº 6.938, que
em seu art. 2º, I5, já definira como um de seus princípios a ação governamental na
manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio
público a ser necessariamente assegurado e protegido.
As compras da administração pública são regradas pela Lei das Licitações, Lei nº
8.666/93, e esta visa vincular a contratante com os licitantes, concedendo-lhes igualdade de
condições nas contratações públicas e buscando atender ao interesse público, nesta esteira,
quando contratar também deverá proteger e preservar o meio ambiente. Enquanto atividades
administrativas, as licitações devem obediência aos princípios constitucionais da
Administração Pública, insculpidos no art. 376, dentre eles o da legalidade.
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Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:VI - defesa do
meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus
processos de elaboração e prestação(grifo acrescentado);
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Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da
qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios:
I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um
patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; (grifo acrescentado)
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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,
também, ao seguinte:
Com o administrador, é o inverso que ocorre. Está ele vinculado ao princípio da
legalidade, segundo o qual só terá os poderes que lhe transferir, para atingir as
finalidades pretendidas por esta.
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Art 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: - I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-
social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
Estados devem reduzir e eliminar os modos de produção e de consumo não viáveis e
promover políticas demográficas apropriadas.” (grifo acrescentado).
CONCLUSÃO
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Compras públicas sustentáveis: revolução silenciosa e lenta, Correio Braziliense, em 21 de janeiro de 2013.
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http://www.comprasnet.gov.br/, acesso em 10 de setembro de 2013.
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Compras públicas sustentáveis: revolução silenciosa e lenta, Correio Braziliense, em 21 de janeiro de 2013.
As administrações não incluem em seus processos licitatórios a variável ambiental,
mesmo não havendo carência legislativa para que seja colocada em prática, inclusive mesmo
antes da lei mencionada, pois não desejam ter suas compras emperradas em delongas
discussões judiciais, pois tais inclusões poderiam ferir princípios como da isonomia, equidade
e competitividade entre os licitantes.
A aplicação das licitações sustentáveis se mostra como mais uma forma de proteção
ambiental, porque o consumo do poder público representa uma fatia significativa do mercado
nacional e se as aquisições e contratações públicas orientarem o mercado neste sentido mais o
setor privado e público se direcionarão a adoção de um modelo empresarial e de gestão
pública voltados para os princípios da ecoeficiência.
O atual padrão de consumo não pode mais ser suportado pela natureza e ações neste
sentido mediante responsabilização coletiva visando a compatibilização do desenvolvimento
com a proteção ambiental, demonstram que a aplicação das licitações sustentáveis por parte
da administração pública contribuirá para proteção ambiental.
Ao final o estudo analisa o ciclo das políticas públicas, esboçando as etapas que
devem ser seguidas para obtenção de êxito em sua implantação, bem como o aparto legal que
garante segurança aos gestores públicos para concretização da proteção ambiental
compatibilizada com o desenvolvimento sustentável, aplicando as licitações sustentáveis
enquanto política pública ambiental, visando, assim, contribuir para que as administrações
implantem efetivamente as licitações públicas sustentáveis em todos os âmbitos setores.
REFERÊNCIAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Trad. Plínio Dentzien. São Paulo: Zahar, 2000.
FREIRIA, Rafael Costa. Direito, gestão e políticas públicas ambientais. São Paulo/SP:
Editora Senac, 2011.
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro, 18ª Ed. São Paulo/SP:
Malheiros. 2010.
SECCHI, Leonardo. Políticas públicas: conceitos, esquemas de analise, casos práticos. São
Paulo/SP: Cengage Learning, 2012.