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A INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA EFETIVAÇÃO DO DIREITO

À SAÚDE E O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES

Introdução: O direito saúde é estabelecido pela Constituição Federal, o Estado tem o


dever de garantir que este direito seja positivado. Entretanto quando o Estado falha em
seu dever, o judiciário vêm sendo procurado como ferramenta para a positivação do seu
direito. Apesar do princípio da Separação dos Poderes, o Poder Judiciário vem
decidindo de forma contrária ao Estado, estabelecendo que o direito à saúde deve ser
cumprido.
Objetivo: Analisar a positivação da garantia constitucional do direito à saúde, em
detrimento ao princípio da separação dos poderes, também estabelecido
constitucionalmente.
Desenvolvimento: A Constituição Federal, ainda vigente, consagrou ao longo de seus
artigos, os direitos fundamentais, essenciais para a convivência harmônica em
sociedade, tais como educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, entre outros. Para Silva (2011, p. 286): “Direitos
sociais, são prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente,
que possibilitam melhores condições de vida aos mais fracos, direitos que tendem a
igualização de situações sociais desiguais.”. O mesmo ainda define que: “[...] situações
jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem
mesmo sobrevive.” (SILVA, 2011, p. 178). Com a normatização dessa garantia, estes
direitos deixaram de ser apenas um desejo, e passaram a ser normas de aplicação
imediata, produzindo efeitos em todas as esferas do direito. Por se tratarem de direitos
fundamentais positivos, exigem um agir do Estado, quando este é omisso, nasce para a
população o direito de ver sua pretensão garantida, podendo reivindica-los
judicialmente. No entanto, a Constituição Federal, estabelece a divisão dos poderes em
Executivo, Legislativo e Judiciário, ambos harmônicos e independentes entre si. O
princípio da separação dos três poderes surgiu, como teoria política, nos pensamentos de
Locke. A partir da premissa de que o Estado é detentor do poder emanado do povo, a
tripartição de funções delimita o uso do poder, evitando abusos através do sistema de
mútua fiscalização, denominado freios e contrapesos. Segundo Alexandre de Moraes
(2017, p. 587): “Não existirá, pois, um Estado democrático de direito, sem que haja
Poderes de Estado e Instituições, independentes e harmônicos entre si, bem como
previsão de direitos fundamentais e instrumentos que possibilitem a fiscalização e a
perpetuidade desses requisitos.”. O sistema de freios e contrapesos visa ao equilíbrio
dos poderes, mediante o qual, pela distribuição de competências, controlam-se e
limitam-se reciprocamente. Cada um dos poderes tem sua função estabelecida, estas
funções são divididas em funções típicas, e funções atípicas, que tipicamente pertencem
a outro dos poderes instituídos, mas que são permitidas para que exista harmonia entre
os poderes. De acordo com Pedro Lenza (2019, p. 870): “A função típica do poder
legislativo, consiste na edição de regras gerais, abstratas, impessoais e inovadoras da
ordem jurídica, denominadas leis.”. Ao Judiciário cabe dizer o direito aplicável às lides
que lhe são postas. Para Aderson de Menezes (1992, p. 251): “O Poder executivo é o
que tem a função primordial de administrar a coisa pública, aplicando a lei e adotando
outras providências subsequentes.”. Para Walber de Moura Agra (2018, p. 837-838): “A
saúde, é um direito de todos e dever do Estado, que deve possibilitar o seu acesso à
população. Caso os entes públicos se neguem a prestar esse atendimento fundamental à
cidadania, é possível recorrer ao Poder Judiciário, a fim de que o mandamento
constitucional seja obedecido.”. Resta claro e fundamentado a atuação jurisdicional nas
demandas que pleiteiam o acesso ao direito à saúde, através de fornecimento de
medicamentos ou submissão a certos tratamentos. Apesar de eventual sentença
apresentar uma invasão do Poder Judiciário, nos demais poderes, o judiciário tem o
dever de garantir o direito fundamental à saúde frente a uma possível lesão a parte, não
podendo deixar de assegura-lo. Não pode, simplesmente, recorrer ao argumento de que
os serviços públicos de saúde a serem prestados pelo Estado são escolhas do Poder
Legislativo e que a forma como devem ser prestados cabe apenas ao mérito
administrativo do Poder Executivo. A judicialização do direito à saúde necessariamente
acarretará uma redução da liberdade do administrador e do legislador. Assim, a proteção
do direito à saúde através do Judiciário sempre implicará ingerência dos juízes nas
escolhas políticas tomadas pelos demais órgãos estatais, gerando uma tensão potencial
com o princípio da separação dos poderes.
Conclusão: O princípio da separação dos poderes não deve ser totalmente
desconsiderado, deve o judiciário buscar formas de racionalizar suas decisões
garantindo a segurança jurídica e preservando o princípio da separação dos poderes.
Sendo o direito a saúde um direito fundamental garantido constitucionalmente, sua
exigibilidade perante o Judiciário deve ser sempre acolhida, não podendo o judiciário
deixar de acolher o pedido, sendo sua função típica afastar qualquer lesão ou ameaça de
lesão a este direito.
Referências:
MENEZES, Aderson de. Teoria Geral do Estado. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32ª ed. Rev. E
atual. – São Paulo: Malheiros Editores, 2009.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional. 23. ed. São Paulo: Saraiva Jur, 2019. p. 1-2613.

MORAES, Alexandre De. Direito Constitucional . 34. ed. São Paulo: Editora Atlas,
2017. p. 1-1245.

AGRA, W. D. M. Curso de Direito Constitucional . 9. ed. Belo Horizonte: Editora


Fórum, 2018. p. 1-868.

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