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FÓRUM • ALINHANDO ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS

ALINHANDO ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS


RESUMO
Diversos trabalhos vêm analisando o tema competência em seus diferentes níveis de entendimento e
aplicação ao contexto organizacional, o que demanda a construção de um modelo teórico que explicite
como esses diferentes conceitos se articulam e podem contribuir para o entendimento de propostas de
desenvolvimento das organizações. Este artigo procura responder às seguintes questões: qual a relação
entre competências organizacionais e estratégias competitivas nas empresas? No caso da formação de
cadeias produtivas, haveria diferenças na construção de competências em empresas situadas em diferentes
níveis? E quais seriam as implicações dessa inter-relação – estratégia e competências – para as ações da
gestão de RH? A partir dessas questões, e com base em uma pesquisa realizada em empresas do setor de
telecomunicações, procurou-se elaborar um modelo que fornecesse sustentação a essa discussão.

Maria Tereza Leme Fleury


FEA-USP

Afonso Carlos Correa Fleury


FEA-USP

ABSTRACT Competence, as a new concern among academics and practitioners, is being focused according to distinct conceptual approaches and
applied to different facets of the organizational reality. Clearly, this creates the demand for the development of a theoretical model through which
those distinct concepts might be integrated and applied to a better understanding of the organizational dynamics as well as an enhanced utilization
of organizational development propositions. The following questions require clear answers for that model building process: What to say about the
dynamic relationship between organizational competences and competitive strategies? In the case of the formation of productive chains would
there be differences in the construction of competences in companies situated in different levels? What would be the implications for Human
Resources Management? The theoretical model that was developed to provide support to the answering process, was empirically tested in a field
research conducted among firms in the Telecommunications industry.

PALAVRAS-CHAVE Gestão de competências, estratégia organizacional.


KEY WORDS Competence management, organizational strategy.

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MARIA TEREZA LEME FLEURY • AFONSO CARLOS CORREA FLEURY

INTRODUÇÃO trações de talentos particulares na prática) e de conhe-


cimentos (o que a pessoa precisa saber para desempe-
Diversos trabalhos vêm analisando o tema competência nhar uma tarefa) (McClelland, 1973).
em seus diferentes níveis de entendimento e aplicação Durante a década de 1980, Richard Boyatzis, reana-
ao contexto organizacional. Pode-se encontrar na litera- lisando os dados de estudos realizados sobre as com-
tura norte-americana e européia definições para compe- petências gerenciais, identificou um conjunto de ca-
tências essenciais, organizacionais e individuais, o que racterísticas e traços que, em sua opinião, definem um
demanda a construção de um modelo teórico que desempenho superior (Boyatzis, 1982). O trabalho des-
explicite como esses diferentes conceitos se articulam e se autor marcou significativamente a literatura norte-
podem contribuir para o entendimento de propostas de americana a respeito do tema competência (Spencer e
desenvolvimento organizacional. Spencer, 1993; McLagan, 1997; Mirabile, 1997).
Este trabalho procura responder às seguintes ques- Nessa perspectiva, o conceito de competência é pen-
tões: qual a relação entre competências organizacio- sado como um conjunto de conhecimentos, habilida-
nais e estratégias competitivas nas empresas? No caso des e atitudes que justificam um alto desempenho, na
de empresas que competem organizadas em cadeias medida em que há também um pressuposto de que os
produtivas, haveria diferenças na construção de com- melhores desempenhos estão fundamentados na inte-
petências entre empresas situadas em diferentes ní- ligência e na personalidade das pessoas. Nessa abor-
veis? E quais seriam as implicações dessa inter-rela- dagem, considera-se a competência, portanto, como
ção – estratégia e competências – para as ações da um estoque de recursos que o indivíduo detém. A ava-
gestão de RH? liação dessa competência individual é feita, no entan-
O trabalho está estruturado em três partes. A pri- to, em relação ao conjunto de tarefas do cargo ou da
meira é constituída por esta introdução. A segunda posição ocupada pela pessoa.
parte diz respeito à construção do modelo teórico: toma Nessa linha, a gestão por competências é apenas um
a origem do conceito de competência, apresenta-se o rótulo mais moderno para administrar uma realidade
conceito em seus vários níveis de compreensão e en- organizacional ainda fundada nos princípios do
caminha-se a elaboração de um modelo de análise. Na taylorismo-fordismo. A competência permanece liga-
terceira, procura-se ilustrar esse modelo a partir da da ao conceito de qualificação, usualmente definida
apresentação de uma pesquisa realizada entre empre- pelos requisitos associados à posição ou ao cargo – os
sas da indústria de telecomunicações. Essa pesquisa saberes ou o estoque de conhecimentos da pessoa, os
possibilitará referenciar empiricamente as questões quais podem ser classificados e certificados pelo siste-
propostas neste estudo. ma educacional. Assim definido, o conceito de com-
petência não atende às demandas de uma organização
complexa, mutável, em um mundo globalizado. Dito
CONSTRUINDO UM MODELO QUE em outras palavras, definir um estoque de recursos
ALINHE ESTRATÉGIA COMPETITIVA individuais necessários ao bom desempenho em cada
E FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIAS cargo ou posição não é condição suficiente para aten-
der a demanda por inovação e flexibilidade que se co-
O início do debate sobre competências loca às empresas.
O conceito de competência no contexto organizacional O conceito de competência que emerge na literatu-
começou a ser elaborado sob a perspectiva do indiví- ra francesa dos anos 1990 procurava ir além do con-
duo. Em 1973, McClelland publicou o artigo “Testing ceito de qualificação. Zarifian (1999) foca três muta-
for competence rather than intelligence”, que, de certa ções principais no mundo do trabalho que justificam
forma, iniciou o debate sobre competência entre os psi- a emergência do modelo de competência para a gestão
cólogos e administradores nos Estados Unidos. A com- das organizações:
petência, segundo o autor, é uma característica subja- • a noção de evento – aquilo que ocorre de maneira
cente a uma pessoa que pode ser relacionada com de- imprevista, não programada, vindo a perturbar o de-
sempenho superior na realização de uma tarefa ou em senrolar normal do sistema de produção, ultrapas-
determinada situação. Diferenciava, assim, competên- sando a capacidade rotineira de assegurar sua auto-
cia de aptidões (talentos naturais da pessoa, que po- regulação; isso implica que a competência não pode
dem vir a ser aprimorados), de habilidades (demons- estar contida nas predefinições da tarefa: a pessoa

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precisa estar sempre mobilizando recursos para re- “Um recurso é algo que a organização possui ou
solver as novas situações de trabalho; tem acesso, mesmo que esse acesso seja tempo-
• comunicação – comunicar implica compreender o rário [...] uma competência é uma habilidade para
outro e a si mesmo; significa entrar em acordo so- fazer alguma coisa [...] uma competência é cons-
bre objetivos organizacionais, partilhar normas co- truída a partir de um conjunto de ‘blocos’ deno-
muns para sua gestão; e minados recursos” (Mills et al., 2002, p. 9-14).
• a noção de serviço, de atender a um cliente externo
ou interno da organização, precisa ser central e es- No final dos anos 1980, Prahalad e Hamel deram
tar presente em todas as atividades; para tanto, a uma contribuição significativa para a construção des-
comunicação é fundamental. sa caracterização ao proporem o conceito de “compe-
tências essenciais” – core competence. Competência se-
O trabalho não é mais o conjunto de tarefas associa- ria a capacidade de combinar, misturar e integrar re-
das descritivamente ao cargo, mas torna-se o prolon- cursos em produtos e serviços (Prahalad e Hamel,
gamento direto da competência que o indivíduo mo- 1990). A competitividade de uma organização seria
biliza em face de uma situação profissional cada vez determinada pela inter-relação dinâmica entre as com-
mais mutável e complexa. petências organizacionais e a estratégia competitiva.
Dessa maneira, a abordagem dos recursos faz o pro-
Ampliando o zoom do conceito de competência cesso de formulação da estratégia e a formação de com-
O conceito de competência organizacional tem suas raí- petências formarem um círculo que se retroalimenta.
zes na abordagem da organização como um portfólio de Em outras palavras, as competências são formadas a
recursos – resource based view of the firm. Essa aborda- partir de recursos, e as estratégias são elaboradas a
gem considera que toda empresa tem um portfólio: físi- partir de grupos de recursos – competências essen-
co (infra-estrutura), financeiro, intangível (marca, ima- ciais. A implantação da estratégia gera novas configu-
gem etc.), organizacional (sistemas administrativos, cul- rações de recursos e novas competências que, por sua
tura organizacional) e recursos humanos. Para os defen- vez, irão influenciar novamente a formulação da es-
sores dessa abordagem, é esse portfólio que cria vanta- tratégia. Esse ciclo, segundo nossa perspectiva, pode
gens competitivas (Krogh e Roos, 1995). Dessa maneira, ser ilustrado da seguinte maneira:
a definição das estratégias competitivas deve começar com
um entendimento profundo das possibilidades estraté-
Figura 1 – Estratégia e competências essenciais.
gicas dadas por tais recursos (ver Figura 1).
Essa abordagem difere do conceito de Porter (1996)
de posicionamento estratégico, em que a análise par- Estratégia
te da indústria e do entendimento da posição compe-
titiva que a organização deve adotar na formulação
de sua estratégia. O foco da análise aqui é, claramen-
te, o mercado e os competidores, sendo a vantagem
Aprendizagem
competitiva derivada da exploração das oportunida-
des e tendências aí encontradas. Tidd et al. (1998)
classificam a abordagem de Porter como racionalis-
ta, e a da recursos da firma como incrementalista,
uma vez que incorpora e valoriza a noção de apren-
Competência
dizagem organizacional e de experiência para lidar
com a complexidade e a mudança como fatores rele-
vantes no processo estratégico e de obtenção de van-
tagem competitiva.
A abordagem dos recursos da firma enfatiza a maior Recursos
importância de se centrar a formulação estratégica em tangíveis e
intangíveis
um grupo específico de recursos – aqueles que garan-
tem lucratividade a longo prazo. Essa abordagem dis-
tingue entre recursos e competências.

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Prahalad e Hamel diferenciam competências organi- Competências da organização


zacionais e competências essenciais. As competências e competências individuais
essenciais seriam aquelas que obedecem a três critérios: Zarifian (1999) distingue diversos conteúdos em rela-
oferecem reais benefícios aos consumidores, são difí- ção às competências organizacionais que acabam por
ceis de imitar e dão acesso a diferentes mercados. Ao configurar diferentes áreas de desenvolvimento de com-
definir sua estratégia competitiva, a empresa identifi- petências:
ca as competências essenciais do negócio e as compe- • competências sobre processos: os conhecimentos so-
tências necessárias a cada função – as competências bre o processo de trabalho;
organizacionais. Dessa maneira, pode-se dizer que a • competências técnicas: conhecimentos específicos
organização possui diversas competências organizacio- sobre o trabalho que deve ser realizado;
nais, localizadas em diversas áreas; destas, apenas al- • competências sobre a organização: saber organizar
gumas são as competências essenciais, aquelas que a os fluxos de trabalho;
diferenciam e que lhe garantem uma vantagem com- • competências de serviço: aliar a competência técni-
petitiva sustentável perante as demais organizações. ca à pergunta “qual o impacto que este produto ou
Tal competitividade vai depender, no longo prazo, serviço terá sobre o consumidor?”; e
da administração do processo de aprendizagem orga- • competências sociais: saber ser, incluindo atitudes
nizacional, que vai reforçar e promover as competên- que sustentam o comportamento das pessoas. O
cias organizacionais e vai dar foco e reposicionar as autor identifica três domínios dessas competências:
estratégias competitivas. autonomia, responsabilização e comunicação.
Mills et al. (2002), procurando sistematizar esses
conceitos, propõem um quadro-síntese para definir os Observa-se que todas as áreas de competências iden-
vários níveis de competências organizacionais (ver tificadas por Zarifian (1999) dependem, em grande me-
Quadro 1). dida, da ação das pessoas. Assim, pode-se afirmar que
Alguns pontos merecem destaque nesse quadro: em o desenvolvimento das competências organizacionais
primeiro lugar, a diferenciação proposta entre as com- está intimamente relacionado ao desenvolvimento das
petências distintivas, reconhecidas pelos clientes, e as competências individuais e das condições dadas pelo
competências organizacionais. Esse ponto é muito contexto.
pouco enfatizado por outros autores e, em nossa ex- É nesse sentido que Hamel e Prahalad afirmam que
periência profissional, é algo que dificilmente as orga- as competências essenciais não correspondem a uma
nizações conhecem, embora partilhem o discurso so- tecnologia específica. Podem ser o resultado da exce-
bre a importância do cliente. Um outro ponto diz res- lência em qualquer função do negócio e são resultan-
peito ao conceito de competência organizacional: a tes do aprendizado coletivo na organização, especial-
nosso ver, ela pode perpassar as várias unidades de mente da coordenação das diversas habilidades de pro-
negócio e ser geral à organização. dução e da integração de múltiplas correntes de tec-

Quadro 1 – Competências.
Competências essenciais Competências e atividades mais elevadas, no nível corporativo, que são chave para a sobrevi-
vência da empresa e centrais para sua estratégia
Competências distintivas Competências e atividades que os clientes reconhecem como diferenciadoras de seus concor-
rentes e que provêm vantagens competitivas
Competências organizacionais Competências e atividades-chave, esperadas de cada unidade de negócios da empresa
ou das unidades de negócios
Competências de suporte Atividade que é valiosa para apoiar um leque de competências
Capacidades dinâmicas Capacidade de uma empresa de adaptar suas competências pelo tempo. É diretamente relaciona-
da aos recursos importantes para a mudança
Fonte: MILLS et al. (2002, p. 13).

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nologia; assim, é fundamental ao modo de organizar o da por essa autora em seu trabalho Industrial
trabalho e de entregar valor. Organization, e desde então ratificada por inúmeros au-
Dessa maneira, pode-se dizer que as competências tores (por exemplo, Slack, 1995), consideramos que em
– tanto as essenciais como as organizacionais – são cada empresa as competências essenciais estão relacio-
constituídas a partir da combinação de recursos e de nadas a três diferentes áreas ou funções: Operações, Pro-
múltiplas competências individuais, de tal forma que dutos/Serviços e Vendas/Marketing. As demais funções
o resultado total é maior do que a soma das competên- – finanças, tecnologia de informação e gestão de recur-
cias individuais. sos humanos – são de apoio.
A competência do indivíduo não é um estado, não Um segundo ponto do trabalho de Woodward,
se reduz a um conhecimento ou know how específico. fundamental para estruturação de nosso modelo de
Le Boterf (1995) coloca a competência como resulta- análise, é a constatação de que, dependendo dos ti-
do do cruzamento de três eixos: a formação da pessoa pos de produto/mercado, uma dessas três funções
– sua biografia e socialização –, sua formação educa- vai ser mais importante no plano estratégico, por
cional e sua experiência profissional. Segundo Le desempenhar um papel de integração e coordena-
Boterf, a competência é um saber agir responsável e, ção das duas outras.
como tal, reconhecido pelos outros. Implica saber No enfoque adotado neste trabalho, consideramos
como mobilizar, integrar recursos e transferir os co- que o modelo proposto, alinhando estratégia e com-
nhecimentos, recursos e habilidades em um determi- petência, pode ser utilizado tanto para empresas in-
nado contexto profissional. dustriais como para empresas de serviços. Nesses dois
A nosso ver, a noção de competência aparece, assim, tipos de empresa existe a alternativa de se produzir:
associada a verbos e expressões como: saber agir, mobi- a) produtos ou serviços padronizados, em massa; b)
lizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos, produtos ou serviços diferenciados, para nichos espe-
saber aprender, saber se engajar, assumir responsabili- cíficos de mercado; e c) produtos ou serviços sob en-
dades e ter visão estratégica. Do lado da organização, as comenda. No caso específico de serviços, Silvestro
competências devem agregar valor econômico para a (1999) propõe a seguinte classificação: serviços de
organização e valor social para o indivíduo (Fleury e massa, serviços de loja – shop service – e serviços pro-
Fleury, 2000). fissionais.
Observa-se que essas competências não são apenas Quanto à estratégia, para os fins deste estudo, é mais
conhecimentos ou habilidades, são conhecimentos e importante adotar uma tipologia que possibilite um
habilidades em ação. As competências individuais se- entendimento geral do comportamento estratégico das
rão diferentes conforme a pessoa atue em uma ou em empresas do que uma abordagem minuciosa de como
outra organização. se estabelecem estratégias competitivas. Partimos, as-
A introdução da locução verbal “agregar valor” im- sim, da proposta de Treacy e Wiersema (1995) e con-
plica que o desenvolvimento e a combinação das com- sideramos três tipos de estratégia que as empresas po-
petências individuais deve resultar no desenvolvimento dem privilegiar para atuarem no mercado: Excelên-
de competências organizacionais e competências es- cia Operacional, Liderança em Produto e Orientação
senciais, alinhadas à estratégia organizacional. Um para Clientes. A relação dinâmica entre competên-
outro conceito fundamental a ser incorporado é o de cias essenciais e estratégias competitivas é elaborada
entrega (Dutra, 2001), ou seja, o que a pessoa real- a seguir.
mente deseja entregar à organização. O desafio de uma companhia que adota a estraté-
gia de Excelência Operacional é oferecer ao merca-
Alinhando a estratégia competitiva do um produto que otimize a relação qualidade/pre-
e as competências na organização ço. O exemplo típico de Excelência Operacional é a
Não cabe no escopo deste texto retomar a discussão so- indústria automobilística. Em geral, produtos padro-
bre estratégias empresariais, mas apresentar uma tipolo- nizados, do tipo commodity, exigem esse tipo de es-
gia que auxilie na construção de um modelo. Assim, pro- tratégia.
curamos construir uma tipologia que desse sustentação A função crítica para o sucesso da empresa é Ope-
ao processo de formulação das estratégias e ao desenvol- rações, que inclui todo o ciclo logístico: suprimento,
vimento de competências, remetendo ao trabalho clássi- produção, distribuição e serviços pós-venda. É para
co de Woodward (1965). Seguindo a abordagem utiliza- essa função que a empresa tem de, prioritariamente,

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orientar seus esforços de aprendizagem e inovação. Ao sistemas. Em função de sua proximidade com os clien-
desenvolver competências nas outras áreas – Desen- tes, especializam-se em satisfazer, e até antecipar,
volvimento de Produto e Vendas & Marketing –, isso suas necessidades e propor soluções.
deve estar orientado para alavancar o desempenho Embora essas empresas entreguem um produto, é o
competitivo da primeira competência. Por isso, a ino- serviço que fornecem a parte mais importante do ne-
vação incremental é desejável e a inovação no proces- gócio. A competência forte é a de relacionamento, de
so é tão relevante quanto a inovação em produto. Na marketing, que aciona, orienta e coordena as funções
relação com os clientes, o papel de Vendas & Marke- de Desenvolvimento de Produtos e Operações. A lu-
ting é de “fazer os clientes se adaptarem ao modo cratividade dessas empresas decorre de poderem co-
operacionalmente excelente de fazer negócios da em- brar um preço também mais alto pelo serviço
presa” (Treacy e Wiersema, 1995). customizado que oferecem. A IBM costumava ser con-
As empresas que competem em termos de Produtos siderada o exemplo dessa estratégia (Wheelwright e
Inovadores estão continuamente investindo para criar Hayes, 1985). A Caterpillar também era considerada
conceitos radicalmente novos de produtos para clien- um outro caso de proximidade com o cliente (Treacy e
tes e segmentos de mercado específicos. A função crí- Wiersema, 1995, p. 126).
tica é Pesquisa & Desenvolvimento. Por isso, as infor- A função de Desenvolvimento de Produtos tem de
mações mais relevantes para a estratégia da empresa combinar a orientação para o cliente com conhecimen-
vêm dos laboratórios de Pesquisa & Desenvolvimen- tos técnicos específicos; não há necessidade de se bus-
to. As indústrias relacionadas às tecnologias de infor- car a otimização das condições de operação nem de de-
mação – telecomunicações, informática etc. – são senvolver projetos radicalmente inovadores, como no
exemplos típicos. Empresas como Intel, Nokia e caso anterior.
Motorola são algumas das líderes nesse segmento.
As empresas que escolhem essa estratégia garan- Os níveis da competência na organização
tem seu sucesso econômico por meio da introdução A dinâmica entre os diversos níveis de competência que
sistemática de produtos radicalmente novos no mer- se formam na organização pode ser explicada da seguin-
cado, o que torna obsoletos os antigos. Sobrevivem te maneira: em um nível mais geral, temos as competên-
e prosperam devido à alta lucratividade que desfru- cias organizacionais, que se formam nas unidades e fun-
tam durante o tempo em que conseguem manter uma ções; destas, algumas são consideradas competências es-
posição de monopólio no mercado (Abernathy e senciais e são básicas quando da elaboração da estratégia
Utterback, 1975). competitiva; as competências essenciais produzem atri-
A função de Vendas & Marketing difere do caso an- butos que constituem as competências distintivas perce-
terior, uma vez que cabe a ela preparar o mercado para bidas pelos clientes.
os novos produtos e “educar” os potenciais clientes. Essas competências são formadas a partir da com-
Assim, os esforços de marketing são baseados, princi- binação de recursos da organização e de competências
palmente, em competências técnicas. O papel de Ope- individuais.
rações também difere. O que importa é a evolução da Vale ressaltar a característica de inter-relação entre
idéia do novo produto para a escala industrial; não se os diversos níveis de competência, ou seja, a relação de
trata de ser “enxuto”, embora esse objetivo possa ser mão dupla que se estabelece entre eles. A escolha estra-
buscado em um estágio posterior. tégica é feita a partir do mapeamento dos recursos e das
O caso das empresas aeronáuticas, como a Embraer, competências organizacionais e da análise do ambien-
é ilustrativo. Elas têm como desafio desenvolver no- te. As competências organizacionais são formadas a
vos conceitos de avião, que são vendidos a clientes partir das competências individuais na utilização e ex-
sensíveis à inovação muito antes de o produto ser pro- ploração dos recursos organizacionais. A aprendizagem,
jetado em suas características reais, testado e posto intrínseca a esse processo, cria novas competências in-
em um sistema de produção em escala. dividuais em um círculo virtuoso (ver Figura 2).
As empresas com Orientação para o Cliente es-
tão voltadas a atender às necessidades de clientes A gestão das competências e o
especiais, criando soluções e serviços específicos. papel da área de recursos humanos
Para tanto, formam competências e conhecimentos Nos últimos anos, as mudanças no enfoque sobre a atua-
necessários para o desenvolvimento de soluções e ção da área de RH têm tido muitos defensores, entre eles,

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Ulrich (1998), que enfatiza o papel estratégico da área processo de desenvolvimento de competências, agre-
para as mudanças organizacionais. gue-se também valor para o indivíduo. Em outras pala-
No final da década de 1980, Storey (1989) já obser- vras, o papel da gestão de recursos humanos nesse con-
vava, com muita propriedade, o uso elástico da expres- texto é complexo e envolve a negociação de interesses.
são “gestão estratégica de recursos humanos”. Segundo Essas observações contextualizam a terceira questão
esse autor, era possível identificar uma versão soft do proposta neste artigo, referente às ações da área de re-
termo e uma versão hard. A versão hard enfatiza os as- cursos humanos no desenvolvimento de competências.
pectos quantitativos, de administrar recursos humanos
de forma racional, objetivando a estratégia do negócio.
A versão soft enfatiza os aspectos de comunicação, mo- ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS NA
tivação e liderança. Ou seja, a definição de uma estraté- INDÚSTRIA DE TELECOMUNICAÇÕES
gia de recursos humanos para se obter uma força de
trabalho altamente comprometida com a organização Com o objetivo de ilustrar o uso desse modelo para aná-
deve preceder as demais estratégias organizacionais. lise da estratégia e do desenvolvimento de competências,
Na gestão de um modelo baseado em competências, apresentaremos um estudo realizado em empresas do
essa ambigüidade fica mais evidente. Por um lado, a setor de telecomunicações.
área de recursos humanos deve assumir um papel im-
portante no desenvolvimento da estratégia da organi- A indústria de telecomunicações
zação, na medida em que cuida com mais propriedade Nas últimas décadas, a indústria de telecomunicações
de atrair, manter e desenvolver as competências ne- passou por profundas transformações em quase todo o
cessárias à realização dos objetivos organizacionais. mundo. Fransman (2002) analisa a transformação da
Nesse sentido, é fundamental que explicite e organize a “velha” indústria de telecomunicações que, em meados
relação entre as competências organizacionais e as in- da década de 1980, é desmontada com a extinção do
dividuais. Por outro lado, é ela que garante que, nesse monopólio até então vigente em países como Japão, Es-
tados Unidos e Reino Unido. Essa onda de liberalização
atinge a Europa como um todo e os países da América
Figura 2 – Estratégia, competências organizacionais
Latina nos anos 1990. Segundo esse autor, ainda mais
e competências individuais.
importante foi a evolução tecnológica que dá origem à
indústria de infocomunicação, que se apóia em uma tríade
Estratégia de tecnologias: packet-switching, internet protocol e world
wide web.
Na transição de um modelo para outro, delimitar as
fronteiras entre as diversas atividades e identificar os
agentes e suas estratégias tornou-se cada vez mais di-
fícil. De acordo com Nicholls-Nixon e Jasinski (1995),
Aprendizagem antes de 1995 as fronteiras da indústria de telecomu-
nicações eram claramente definidas: companhias tele-
fônicas e produtores de equipamentos desempenha-
vam, cada um, seu papel na infra-estrutura de comu-
nicação em duas vias.
Competências
O advento da tecnologia digital e a extinção do mo-
essenciais e
nopólio das operadoras nos diversos países precipita-
competências
ram tanto o nascimento de novas empresas que ali-
organizacionais mentavam a expectativa de se tornarem competidores
nesse jogo quanto atraíram a entrada de competidores
Aprendizagem provenientes de diferentes setores. Provocou-se uma
redefinição de produtos, serviços e fornecedores.
A capacidade para digitalizar a informação – que
Competências possibilita a criação das information highways, que li-
indivuduais gam escritórios, casas, empresas, universidades, etc.

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– está mudando, no entanto, tanto a natureza do meio de telecomunicações e, especialmente, quando as em-
usado para transmitir a informação, como os instru- presas fazem parte de redes interorganizacionais inter-
mentos para enviar e receber as informações. nacionais? Há diferenças na construção de competên-
As empresas de equipamentos, em especial, viram cias entre os fornecedores de equipamentos e os prove-
a oportunidade de criação de novos mercados com dores de serviços, como as operadoras? E qual o papel
seu conhecimento e suas competências acumulados de recursos humanos no desenvolvimento de compe-
e começaram a fornecer tecnologia e a desenvolver tências?
projetos inovadores. Quanto às operadoras, a partir Para responder a essas questões, realizamos um es-
de 1995 observa-se que, cada vez mais, deixam a área tudo em empresas do setor: três subsidiárias de em-
de Pesquisa & Desenvolvimento relacionada aos equi- presas fornecedoras de equipamentos – uma euro-
pamentos para as empresas especializadas fornece- péia, uma japonesa e uma norte-americana – e três
doras de tecnologia. operadoras de comunicação móvel – duas européias
Mais recentemente, esse modelo está sendo novamen- e uma brasileira. Embora o projeto de pesquisa fosse
te redefinido: as atividades mais rotineiras de manufa- mais abrangente, para efeito deste estudo apresenta-
tura e operações, assim como os serviços de pós-venda, remos os resultados da pesquisa na cadeia de telefo-
estão sendo terceirizadas para companhias globais cria- nia móvel. Uma análise de documentos das empresas
das recentemente – Celestica, Solectron e outras. selecionadas, inclusive relativos a diretrizes estraté-
Conforme se pode depreender dessa movimentação gicas e competências, precedeu o trabalho de campo.
e redefinição de papéis, as fronteiras entre as empre- Foram realizadas entrevistas com pessoas da direto-
sas estão se tornando cada vez mais nebulosas e o per- ria, responsáveis por planejamento e definição da
fil de competências em cada empresa redefine-se a cada estratégia e pela gestão de recursos humanos. Em uma
momento. das empresas, tivemos a oportunidade de realizar um
workshop com diretores e gestores, em que foi possí-
Estratégia e competências na vel aprofundar a discussão sobre as competências or-
indústria de telecomunicações no Brasil ganizacionais.
No caso brasileiro, após a privatização do setor de tele- As entrevistas foram semi-estruturadas e focadas nos
comunicações no final dos anos 1990, há um movimento seguintes aspectos: estratégia competitiva, funções crí-
de empresas que buscam se posicionar no país. Obser- ticas, relações a montante e a jusante, desenvolvimen-
va-se não só a chegada de grandes empresas estrangei- to de produto e serviços, gerenciamento e atividades
ras, especialmente as de origem norte-americana e ibé- de operações, e administração de recursos humanos.
rica, mas também a entrada de grandes empresas brasi- Em cada empresa procuramos a caracterização da es-
leiras de outros setores de atividade – informações e tratégia competitiva, o papel das três funções básicas
entretenimento – ao lado de novos competidores recém- – Operações, Desenvolvimento de Produtos/Serviços
constituídos. A nosso ver, um dos pontos críticos da e Vendas & Marketing – e os esforços e investimentos
dinâmica das empresas passa a ser a “produção de ser- na construção de competências organizacionais. As
viço” (Zarifian e Gadrey, 2002), que no contexto pré- competências individuais foram apenas mencionadas,
privatização recebia pouca atenção. Dadas as caracte- mas não trabalhadas em profundidade na pesquisa.
rísticas da indústria e do mercado local, há um perma- Buscando maior compreensão do mercado e dos as-
nente processo de criação e produção de serviços que pectos tecnológicos, dois grandes usuários dos servi-
criam condições de pesquisa bastante favoráveis ao tema ços de telecomunicações – um banco e uma empresa
em pauta – decisões estratégicas e formação de compe- jornalística, ambos brasileiros – e o Centro para Pes-
tências organizacionais. quisa e Tecnologia em Telecomunicações – CPqD –
também foram entrevistados.
Um estudo empírico na indústria de
telefonia móvel – aspectos metodológicos Estratégia e competências nas empresas operadoras
Retomando as questões colocadas inicialmente e dire- As operadoras estão segmentando o mercado de acordo
cionando-as mais especificamente para o setor de tele- com três tipos de cliente/serviço que, mais uma vez
comunicações, objeto empírico de nossa análise, per- referenciando a tipologia proposta por Silvestro (1999),
guntamos: qual é a relação entre as competências orga- seriam serviços de massa, “loja de serviços” e serviços
nizacionais e as estratégias competitivas na indústria profissionais. O comportamento das empresas opera-

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FÓRUM • ALINHANDO ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS

doras em termos da definição de estratégias e compe- ço, a função de marketing assume um papel crítico,
tências será avaliado segundo essa tipologia. tendo como principal encargo a identificação de per-
O primeiro, serviços de massa, inclui os clientes que fis dos clientes para que as escolhas por “novos pro-
demandam apenas o serviço básico: transmissão de voz. dutos” possa ser otimizada, reduzindo os riscos do
A estratégia das empresas busca aumentar a escala e mi- investimento associados aos lançamentos. É a área na
nimizar os custos para otimizar a margem por cliente. qual o CRM – Customer Relationship Management – é
Para aumentar a escala, as atividades de marketing se- mais relevante. A relação com fornecedores nesse tipo
guem o receituário de mercados impessoais de grande de produto/mercado passa a ser cooperativa na medi-
volume: preço, promoção, publicidade e ponto de ven- da em que a introdução de novos produtos/serviços
das. Esse esforço para capturar clientes nem sempre é requer desenvolvimento de hardwares e softwares es-
seguido pelo de fidelizá-los, como recomendado pela pecíficos.
literatura – como o mercado ainda está em crescimen- O terceiro tipo de estratégia é direcionada ao mer-
to, aspectos de fidelização e de recuperação de clientes cado corporativo, que é tratado de forma totalmente
não constituem ainda preocupação para as empresas pes- individualizada. Esse mercado envolve a transmissão
quisadas. Na relação com fornecedores, as operadoras de voz e o desenvolvimento de sistemas para a trans-
costumam adotar “táticas duras”, visando a minimizar missão de altos volumes de dados. É o mercado mais
o custo dos insumos. Dado o alto poder de barganha, incipiente e considerado o mais promissor. O objetivo
utilizam mecanismos impessoais, inclusive comércio é criar soluções e sistemas para as demandas de gran-
eletrônico, sendo o preço de compra o critério mais im- des clientes, incluindo corporações e instituições go-
portante. Assim, podemos afirmar que essa parte da vernamentais. Em geral, isso implica a formação e o
empresa, em sua relação com clientes e mercados, se- gerenciamento de grandes equipes de projeto, incluin-
gue o modelo da Excelência Operacional, inclusive no do fornecedores de equipamento e empresas de con-
seu front office: atividades de marketing de massa e call sultoria gerencial e tecnológica. Esse tipo de serviço
center estruturado a partir de uma rígida lógica de tem- requer um conjunto de competências completamente
pos. Esse comportamento foi verificado em todos os diferente em termos de administração do projeto e de
casos, com leves nuanças de adaptação dos mecanis- estabelecimento da relação com o cliente. Essas com-
mos de relacionamento com clientes em função de es- petências assemelham-se às de uma consultoria: equi-
pecificidades locais. pes são criadas e os trabalhadores de linha de frente
O segundo tipo de estratégia atende clientes que, precisam entender profundamente o negócio do cliente
além do serviço de transmissão de voz, demandam e o potencial de aplicação das telecomunicações. Nes-
serviços complementares. São clientes de certa forma se segmento, as operadoras seguem uma estratégia de
propensos à inovação, às novidades, para os quais a Orientação para o Cliente. Tal comportamento foi ve-
indústria de telecomunicações pode desenvolver pro- rificado nas três empresas, não obstante em escalas
dutos e serviços diferenciados, de nicho. totalmente distintas. Duas delas, as mais avançadas,
As operadoras têm esse mercado de loja de serviços estavam procurando estabelecer as bases para passa-
subdividido, dependendo do tipo de cliente/serviço. Elas rem a gerenciar os serviços de telecomunicações de
atendem clientes individuais – pessoas, residências, grandes clientes – bancos, nesses casos.
Soho-small office home office – com serviços como short O Quadro 2 sistematiza as competências segundo
message service, transmissão de fotos, broadband, entre os tipos de estratégia de produto/mercado e segundo
outros. No segmento corporativo, elas vendem capaci- as funções Operações, Desenvolvimento de Produtos
dade de transmissão para viabilizar serviços projetados /Serviços e Vendas & Marketing. Observa-se que a
e operados por outras empresas; nesses casos, a opera- redação de cada competência é uma elaboração dos
dora funciona apenas como transportador-carrier. En- pesquisadores, fruto das informações coletadas e de
tre as três operadoras estudadas, uma é tida como ino- discussão posterior com os entrevistados. Trata-se de
vadora, investindo bastante nesse segmento, no qual o um quadro de síntese, não refletindo a ponderação
risco é considerável, dele extraindo cerca de 20% de encontrada nas diferentes empresas operadoras. Na
seu faturamento, com tendência crescente. A segunda é realidade, a priorização das competências e dos in-
considerada seguidora e a terceira tem pouca presença vestimentos feitos no desenvolvimento de competên-
nesse tipo de serviço/mercado. cias ainda era objeto de grandes discussões dentro
Quando a operadora funciona como loja de servi- das empresas. Isso pareceu-nos plenamente justificado

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MARIA TEREZA LEME FLEURY • AFONSO CARLOS CORREA FLEURY

em função da turbulência ambiental e do fato de que a gestão adotadas e da posição secundária da área em
indústria de telecomunicações é caracteristicamente de relação às decisões estratégicas das empresas. O
rápido ciclo de mudanças – fast clockspeed (Fine, 1998). único investimento significativo realizado era vol-
Em nosso entendimento, as operadoras de rede es- tado para a área de treinamento, principalmente o
tão especialmente preocupadas em explorar segmen- treinamento técnico.
tos de mercado distintos e, para tanto, utilizam estra- Assim, o desafio assumido pelas empresas privati-
tégias diversificadas, apoiadas em configurações dife- zadas foi o de desenvolver novas competências, re-
rentes de competências. As relacionadas à função Ope- crutando pessoas, na maioria das vezes, de outros seg-
rações são essenciais para o segmento de serviços bá- mentos produtivos. Atrair, desenvolver e reter pes-
sicos, em que a estratégia de Excelência Operacional é soas para um negócio em expansão e contínua recon-
buscada. No segmento de lojas de serviços, verifica-se figuração, com um quadro enxuto de funcionários,
uma composição entre Excelência Operacional, Ino- passou a ser o desafio da área. A dificuldade, obser-
vação em Produtos/Serviços e Orientação para o Clien- vada em nossa pesquisa e corroborada em outros tra-
te com as três funções – Operações, Desenvolvimento balhos (Silva, 2002), era alinhar as competências in-
e Marketing – agindo de maneira muito integrada. Fi- dividuais com as organizacionais. Em outras pala-
nalmente, no mercado corporativo, a estratégia é cla- vras, nas empresas pesquisadas, os profissionais de
ramente de Orientação para o Cliente. RH conseguiram listar as competências a serem busca-
Foi possível observar que, nessas empresas, a área das nas pessoas – em alguns casos, dialogando, inclusi-
de recursos humanos vem assumindo um papel cada ve, com as competências identificadas na matriz –, mas
vez mais estratégico. Estudos anteriores, realizados não conseguiam ainda alinhá-las às competências or-
entre empresas desse segmento no período pré-pri- ganizacionais.
vatização (Fleury e Fleury, 1995), observaram que Um outro aspecto ainda pouco trabalhado nas em-
a gestão de pessoas pautava-se por padrões bastante presas pesquisadas diz respeito à formação do tecido
tradicionais, em termos das políticas e práticas de de uma “nova” cultura organizacional. Tecer uma nova

Quadro 2 – Competências das operadoras de rede de telefonia móvel.


Função organizacional
OPERAÇÕES DESENVOLVIMENTO DE VENDAS & MARKETING
Tipos de
serviços/mercado PRODUTOS/SERVIÇOS
• Saber utilizar a infra-estru- • Saber adquirir a tecnologia • Desenvolver o marketing de
tura para atender clientes, necessária para prover ser- massa (preço, ponto de ven-
minimizando custos e am- viço padronizado da, promoção, publicidade)
SERVIÇOS DE MASSA pliando o atendimento • Saber relacionar-se com o
• Saber gerenciar a cadeia cliente pelo call center de
de suprimentos massa
• Saber operar dentro de pa- • Saber utilizar recursos in- • Saber segmentar o mer-
drões de qualidade e se- ternos e articular parceiros cado
gurança mais rigorosos, externos para rápida intro- • Saber identificar os quesi-
LOJAS DE SERVIÇOS com a flexibilidade neces- dução de novos serviços/ tos para o marketing de re-
sária para introdução e ex- produtos lacionamento
clusão de serviços
• Saber operar grandes vo- • Saber desenvolver soluções • Saber identificar os quesi-
lumes de dados e informa- específicas para os clientes tos específicos de cada cli-
ções, atendendo às mais individuais ente para o relacionamen-
SERVIÇOS PROFISSIONAIS
estritas condições contra- • Saber desenvolver sistemas to personalizado
tuais de entrega complexos, envolvendo ou-
tras firmas

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FÓRUM • ALINHANDO ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS

cultura em empresas estatais privatizadas, passando está implementando um programa denominado


por processos de fusão, é um desafio pouco trabalha- Competence Shift – mudança de competências – e alte-
do nas empresas pesquisadas – o que foi encontrado rando sua política de vendas, desmembrando produ-
também por outros pesquisadores (Rodrigues, 2002). tos e serviços.
Também nas empresas fornecedoras de equipamen-
Estratégia e competências nas empresas tos é interessante utilizar a classificação de produtos
fornecedoras de equipamentos de massa, produtos/serviços diferenciados e produtos
Duas das empresas de equipamentos pesquisadas já atu- /serviços sob encomenda. Os produtos de massa são
avam no país antes da privatização. Devido às caracterís- equipamentos padronizados produzidos em grande
ticas do mercado local – em termos de demanda e regu- escala; é o caso típico dos telefones celulares. Os pro-
lação –, elas adotavam uma estratégia localizada, produ- dutos/serviços diferenciados são “soluções de prate-
zindo equipamentos sob encomenda para a Telebrás, de leira”, como sistemas de transmissão/recepção que são
acordo com as especificações do CPqD e utilizando co- adaptados de acordo com as especificações de deter-
nhecimento tecnológico oriundo das matrizes. As espe- minados clientes. E os produtos/serviços sob encomen-
cificidades do contexto local implicavam que essas sub- da referem-se a grandes projetos para grandes clientes
sidiárias contassem com fortes competências em Desen- corporativos, como os anteriormente mencionados para
volvimento de Produtos e Operações, especialmente as empresas operadoras.
manufatura. A terceira empresa que se instalou no país O Quadro 3 sistematiza as informações pesquisa-
na segunda metade dos anos 1990 já adotava como es- das segundo três tipos de estratégia de produto/mer-
tratégia a Excelência Operacional, produzindo localmente cado observados nas operadoras: serviços de massa,
produtos mundiais de acordo com projetos desenvolvi- lojas de serviços e serviços profissionais.
dos em sua matriz e exportando de acordo com sua es- Em termos da gestão de pessoas, essas empresas já
tratégia global. adotavam políticas e práticas mais avançadas do que
No período pós-privatização, a estratégia dessas for- as operadoras, mesmo antes da privatização (Fleury e
necedoras de equipamentos foi de passar a oferecer “pa- Fleury, 1995). O foco principal eram as ações dirigi-
cotes” de produtos – turn key projects – para a parte de das à área operacional: programas de qualidade, de trei-
infra-estrutura e novos equipamentos e softwares para namento e comprometimento dos funcionários com
viabilizar novos serviços. Assim, essas empresas passa- os objetivos de qualidade e produtividade da empresa.
ram a incorporar competências como “desenvolvedoras Com a terceirização da maioria das atividades opera-
de soluções integradas” – integrated solution providers –, cionais ligadas à manufatura, o foco de atuação da área
utilizando projetos de produtos desenvolvidos nas ma- deslocou-se para o desenvolvimento da expertise pro-
trizes, com pequenas adaptações para atender às condi- fissional, aliando-se diferentes competências – tecno-
ções locais, e reforçando suas competências no desen- lógicas, de vendas e de comunicação. Há uma preocu-
volvimento de softwares, o que possibilita ao equipa- pação com a gestão do conhecimento, em termos de
mento atender às demandas locais e ser compatível com como organizar o conhecimento interno, buscá-lo em
a infra-estrutura já existente. empresas especializadas e disseminá-lo. Com a mu-
Esse novo posicionamento estratégico, de provedor dança no modelo de gestão de pessoas adotado, ou seja,
de soluções, levou ao reposicionamento da função Ope- não se valorizando mais a estabilidade do emprego e a
rações. Seguindo tendências internacionais, as empre- retenção das pessoas, problemas como criar uma me-
sas locais passaram a manufatura, a logística e o pós- mória organizacional com os conhecimento desenvol-
venda de rotina para terceiros e focaram suas ativida- vidos ou adquiridos, desenvolver as competências nas
des, cada vez mais, ao mercado final e ao serviço aos pessoas e depois mantê-las na empresas tornam-se
clientes. importantes. Nas entrevistas realizadas, observamos
A tendência de priorizar o serviço ao cliente foi que essas questões foram mencionadas, mas não
crescendo rapidamente, o que levou as empresas a in- equacionadas.
vestirem na formação de competências requeridas para Um outro ponto diz respeito ao alinhamento entre
compreender o cliente – tanto a operadora quanto seus as competências individuais e as organizacionais; nes-
mercados – e seus planos de negócios, com o objetivo se caso, também observamos as dificuldades das em-
de identificar oportunidades para o desenvolvimento presas em realizarem tal intento.
e a venda de serviço. Uma das empresas, por exemplo, Em suma, a indústria de telecomunicações é um caso

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MARIA TEREZA LEME FLEURY • AFONSO CARLOS CORREA FLEURY

em que a mudança tecnológica é rápida, a incerteza O caso apresentado, da indústria de telecomunica-


do mercado é alta e a regulação local é relevante. Nes- ção no Brasil, procurou ilustrar como as empresas desse
sas circunstâncias, observamos a emergência gradual setor vêm definindo suas estratégias e competências
do conceito de serviço como o maior determinante da organizacionais em um cenário turbulento, pós-priva-
formação de competências e da formulação da estraté- tização. Observamos também que o modelo proposto
gia nos diversos níveis da rede interorganizacional. As foi referência importante para análise das menciona-
competências de serviços são cruciais para o atingi- das estratégias e competências organizacionais das
mento das estratégias locais, enquanto as competên- empresas pesquisadas, em diferentes partes da cadeia
cias não tão específicas podem estar localizadas em produtiva. O uso da tipologia, segmentando o merca-
qualquer outro ponto da rede. Para implementar a es- do/produto em serviços de massa, loja de serviços e
trutura organizacional com sucesso, as empresas têm serviços profissionais, possibilitou evidenciar as com-
de desenvolver competências diferenciadas para a co- petências necessárias pelas operadoras vis-à-vis às com-
ordenação efetiva. petências necessárias aos fornecedores de equipamen-
tos, objetivo proposto neste estudo.
Um ponto que consideramos relevante foi o da
CONCLUSÃO dificuldade que as empresas têm no alinhamento de
competências e estratégias. No nível do discurso dos
Este artigo procurou trazer uma contribuição para a dirigentes entrevistados, essa premissa é colocada
construção de um modelo relacionando competências como imperativa. Não obstante, as dificuldades
e estratégia organizacional. Nessa elaboração, avança- para a operacionalização revelaram-se particular-
mos na discussão conceitual sobre competências essen- mente severas na indústria de telecomunicações,
ciais, organizacionais e individuais e procuramos em que a velocidade e a direção das mudanças é de
relacioná-las à definição de estratégia organizacional. difícil previsão.
Procuramos, assim, responder ao primeiro objetivo pro- De maneira geral, admitem os entrevistados, seria
posto, relacionando estratégias e competências em um necessário desenvolver competências ou reorganizar
modelo analítico. as competências antes de se passar a mudanças nas

Quadro 3 – Competências de fornecedores de equipamentos.


Função organizacional
OPERAÇÕES PROJETO DE VENDAS & MARKETING
Tipos de
serviços /mercado PRODUTOS/SERVIÇOS
• Desenvolver critérios para A empresa como um todo precisa: • Desenvolver as atividades
make or buy na manufatura • Desenvolver projetos de pro- de marketing (preço, pro-
• Saber terceirizar a manu- dutos, plataforma e derivati- moção, ponto de venda e
fatura e os serviços roti- vos publicidade)
neiros • Articular e comandar alianças
PRODUTOS DE MASSA • Desenvolver parcerias na estratégicas
cadeia de suprimentos A subsidiária não precisa ter
esta competência, pois os pro-
dutos são globais, a não ser em
softwares
• Saber implantar produtos • Customizar produtos/ • Desenvolver o marketing
PRODUTOS DIFERENCIADOS customizados serviços para operadores de relacionamento
de rede
• Saber desenvolver e im- • Desenvolver soluções especí- • Desenvolver o marketing
plantar projetos turn key ficas para os clientes indivi- de relacionamento com o
PRODUTOS SOB ENCOMENDA • Saber atuar em parcerias duais cliente final e eventuais
em projetos contratados parceiros

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FÓRUM • ALINHANDO ESTRATÉGIA E COMPETÊNCIAS

orientações estratégicas. Mas, em um ambiente tão BOYATZIS, R. E. The competent manager: A model for effective performan-
ce. New York: John Wiley & Sons, 1982.
turbulento, o que prevalece é a abordagem clássica de
definir estratégias e proceder ao desdobramento –
DAVIES, A.; TANG, P.; BRADY, T.; HOBDAY, M.; RUSH, H.; GANN, D.
muitas vezes usando o Balanced Scorecard –, chegan- Integrated solutions: The new economy between manufacturing and services.
do até as competências organizacionais necessárias. O Brighton: SPRU, 2001.
passo seguinte, de desdobramento para as competên-
cias individuais, apresenta descontinuidades. DUTRA, J. S. Gestão por competências: Um modelo avançado para o geren-
Isso se reflete na atuação da área de RH, terceiro ciamento de pessoas. São Paulo: Gente, 2001.
ponto pesquisado neste estudo. É uma área que vem
ganhando espaço organizacional, buscando participar FINE, C. H. Clockspeed: Winning industry control in the age of temporary
advantage. Massachusetts: Perseus Books, 1998.
das decisões estratégicas e investindo na definição de
novas políticas e práticas de gestão.
FLEURY, A.; FLEURY, M.T. Aprendizagem e inovação organizacional: As ex-
Entretanto, os desafios enfrentados são muito signi- periências do Japão, Coréia e Brasil. São Paulo: Atlas, 1995.
ficativos e refletem a ambigüidade da atuação dos pro-
fissionais de RH. Desde os primórdios do processo de FLEURY, M. T.; FLEURY, A. Estratégias empresariais e formação de compe-
privatização da indústria de telecomunicações no Bra- tências. São Paulo: Atlas, 2000.
sil, tanto as empresas fornecedoras de equipamentos
como as operadoras precisaram rever princípios que FRANSMAN, M. Telecoms in the internet age. Oxford: Oxford University
pautavam seus modelos de gestão, como o da estabili- Press, 2002.

dade e o do comprometimento do quadro de funcioná-


KROGH, G.; ROOS, J. A perspective on knowledge, competence and
rios. Colocou-se no lugar o modelo de desenvolvimen-
strategy. Personnel Review, v. 24, n. 3, p. 56-76, 1995.
to de competências, o qual representou avanços, mas
também dificuldades em relação ao anterior. Entre elas, LE BOTERF, G. De la compétence – Essai sur un attracteur étrange. Paris:
mencionaríamos: Les Editions d’organisation, 1995.
• a dificuldade em relacionar as competências indi-
viduais e as organizacionais; MCCLELLAND, D. C. Testing for competence rather than intelligence.
• o desenvolvimento de competências e a retenção das American Psychologist, n. 28, p. 1-4, 1973.
pessoas em um ambiente instável e competitivo; e
• a criação de um novo tecido cultural que dê susten- MCLAGAN, P. A. Competencies: The next generation. Training and
Development, May, p. 40-47, 1997.
tação a determinados valores e práticas de gestão.
MILLS, J.; PLATTS, K.; BOURNE, M.; RICHARDS, H. Strategy and perfor-
Retomando as colocações iniciais, observamos que a mance: Competing through competences. Cambridge: Cambridge
gestão estratégica de recursos humanos nessas empre- University Press, 2002.
sas parece estar pautada muito mais pela versão hard,
de garantir apenas o alinhamento estratégico aos obje- MIRABILE, R. J. Everything you wanted to know about competency
modeling. Training and Development, v. 51, n. 8, p. 73-77, 1997.
tivos organizacionais. E, no conceito de competências
individuais adotado, a ênfase fica no sentido de agregar
NICHOLLS-NIXON, C.; JASINSKI, D. The blurring of industry boundaries:
valor à organização, e muito pouco é trabalhado para An explanatory model applied to telecommunications. Industrial and
as pessoas. O modelo de gestão de competências está Corporate Change, v. 4, n. 4, p. 757-770, 1995.
em construção: coloca ao pesquisador desafios teóri-
cos e, aos profissionais, o desafio do equacionamento PORTER, M. E. What´s strategy? Harvard Business Review, v. 74, n. 6, 1996.
da ambigüidade entre discurso e prática.
PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The core competence of the corporation.
Harvard Business Review, v. 68, n. 3, p. 79-91, 1990.
Artigo recebido em 28.05.2003. Aprovado em 10.11.2003.
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Maria Tereza Leme Fleury


Professora e Diretora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo. Interesses de pesquisa em gestão de pessoas, gestão de competências e cultura organizacional.
E-mail: mtfleury@usp.br
Endereço: Av. Prof. Luciano Gualberto, 908, Sala E-116, Butantã, São Paulo – SP, 05508-900.

Afonso Carlos Correa Fleury


Professor Titular e Chefe do Departamento de Engenharia de Produção da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo. Interesses de pesquisa em gesta estratégica, gestão de tecnologia, organização do trabalho.
E-mail: acfleury@usp.br
Endereço: Av. Prof. Almeida Prado, Trav. 2, 128, Butantã, São Paulo – SP, 05508-070.

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