PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO
3ª Câmara de Direito Público

Registro: 2017.0000323101

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Reexame Necessário

nº 1016498-66.2014.8.26.0196, da Comarca de Franca, em que é recorrente
JUIZO EX OFFICIO, é recorrido PAULO HENRIQUE DA SILVA SOUZA (JUSTIÇA
GRATUITA).

ACORDAM, em 3ª Câmara de Direito Público do Tribunal de

Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento à
remessa necessária V.U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores

ANTONIO CARLOS MALHEIROS (Presidente sem voto), JOSÉ LUIZ GAVIÃO DE
ALMEIDA E AMORIM CANTUÁRIA.

São Paulo, 9 de maio de 2017

KLEBER LEYSER DE AQUINO

RELATOR
Assinatura Eletrônica
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SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO
3ª Câmara de Direito Público

Voto nº 01407
Remessa Necessária nº 1016498-66.2014.8.26.0196
Impetrante: PAULO HENRIQUE DA SILVA SOUZA
Impetrado: DIRETOR TÉCNICO DA 21ª CIRCUNSCRIÇÃO DE TRÂNSITO
DE FRANCA
Vara da Fazenda Pública da Comarca de Franca
Magistrado: Dr. Aurélio Miguel Pena

REMESSA NECESSÁRIA MANDADO DE SEGURANÇA INFRAÇÃO

DE TRÂNSITO Pretensão de alteração da pontuação da infração
de trânsito de 7 (sete) para 3 (três) pontos Sentença de
concessão da segurança Auto de infração lavrado em desfavor
do apelado por conduzir motocicleta com a viseira do capacete
levantada, com base no artigo 244, inciso I, do Código de Trânsito
Brasileiro Infração de trânsito praticada sob a vigência da
Resolução CONTRAN nº 203, de 29/09/2.006, que,
posteriormente, foi revogada pela Resolução CONTRAN nº 453, de
26/09/2.013 Resolução posterior mais benéfica, que prevê a
pena de multa e caracteriza a infração como sendo de natureza
leve Aplicação, por analogia, do princípio da retroatividade da
lei penal mais benéfica, previsto no artigo 5º, inciso XL, da
Constituição Federal de 1.988 Sentença mantida Remessa
necessária não provida.

Trata-se de remessa necessária da r. sentença (fls.

Reexame Necessário nº 1016498-66.2014.8.26.0196 - Franca - Voto nº 01407

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76/88), proferida nos autos do mandado de segurança, ajuizado por Paulo

Henrique Da Silva Souza em face de ato do Diretor Técnico da 21ª
Circunscrição de Trânsito de Franca, que concedeu a segurança, no
sentido de aplicar a retroatividade da resolução Contran nº 453/2.013 ao caso
do impetrante, para atribuir à infração por “dirigir sem o uso de viseira em
capacete” o caráter de “infração leve”. Não houve condenação ao pagamento
da verba honorária advocatícia, nos termos do artigo 25 da Lei Federal nº
12.016, de 07/08/2.009.

Na ação principal, o impetrante visa a aplicação da

Resolução Contran nº 453/2.013 ao seu caso, uma vez que foi autuado por
dirigir sem o uso da viseira no capacete e a essa infração foi atribuída a
característica de “gravíssima”, de acordo com a Resolução Contran nº
203/2.006, que foi revogada pela Resolução Contran nº 453/2.013.

Ausente recurso voluntário, os autos vieram a este C.

Tribunal de Justiça por força de remessa necessária (fl. 101).

A Procuradoria Geral da Justiça manifestou-se pela sua

não intervenção (fls. 65/67).

Relatado de forma sintética, passo a fundamentar e

decidir.

Sustenta o impetrado que foi autuado em 17/05/2.013 por

“dirigir com capacete sem viseira e sem óculos de proteção” e, em decorrência
dessa infração, teve instaurado o processo administrativo nº 3859/2.013, que
resultou na imputação de 7 (sete) pontos em sua CNH, bem como na
suspensão do seu direito de dirigir.

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Pois bem, o auto de infração foi lavrado em

17/05/2.013, com fundamento no artigo 244, inciso I, do Código de Trânsito
Brasileiro (Lei Federal nº 9.503, de 23/09/1.997). “Verbis”:

Art. 244. Conduzir motocicleta, motoneta e ciclomotor:

I. sem usar capacete de segurança com viseira ou óculos de proteção
e vestuário de acordo com as normas e especificações aprovadas pelo CONTRAN;
(...)
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa e suspensão do direito de dirigir;
Medida administrativa - Recolhimento do documento de habilitação;
(negritei)

Por ocasião da lavratura do refeito auto de infração,

vigorava a Resolução CONTRAN nº 203, de 29/09/2.0061, que preconizava:

Art. 4º. O não cumprimento das disposições contidas nesta Resolução implicará
nas sanções previstas nos incisos I e II do art. 244 do Código de Trânsito
Brasileiro, conforme o caso.

Note-se que a resolução acima fazia remissão às sanções

previstas no artigo 244, incisos I e II, do Código de Trânsito Brasileiro (Lei
Federal nº 9.503, de 23/09/1.997), que compreendiam a multa e a suspensão
do direito de dirigir.

Ocorre, contudo, que a mencionada resolução foi

expressamente revogada pelo artigo 8º da Resolução CONTRAN nº 453, de
26/09/2.013, a qual, em seus artigos 3º e 4º, também alterou as disposições

1Resolução CONTRAN nº 203, de 29/09/2.006. Disciplina o uso de capacete para condutor e passageiro de
motocicleta, motoneta, ciclomotor, triciclo motorizados e quadriciclo motorizado, e dá outras providências.
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sobre a citada infração, da seguinte forma:

Art. 3º. O condutor e o passageiro de motocicleta, motoneta, ciclomotor, triciclo

motorizado e quadriciclo motorizado, para circular na via pública, deverão utilizar
capacete com viseira, ou na ausência desta, óculos de proteção, em boas
condições de uso.
(...)
Art. 4º. Dirigir ou conduzir passageiro em descumprimento às disposições contidas
nesta Resolução implicará nas sanções previstas no CTB, conforme abaixo:
(...)
II. utilizando viseira ou óculos de proteção em descumprimento ao disposto no art.
3º ou utilizando capacete não afixado na cabeça conforme art. 1º: art. 169 do
CTB; (negritei)
(...)
Art. 8º. Ficam revogadas as Resoluções CONTRAN nº 203, de 29 de setembro de
2.006, nº 257, de 30 de novembro de 2.007 e nº 270, de 15 de fevereiro de 2.008.

Como pode ser observado, o artigo 4º, inciso II, da

Resolução CONTRAN nº 453, de 26/09/2.013, faz referência ao artigo 169 do
Código de Trânsito Brasileiro (Lei Federal nº 9.503, de 23/09/1.997), que
preconiza:

Art. 169. Dirigir sem atenção ou sem os cuidados indispensáveis à segurança:

Infração - leve;
Penalidade - multa.

Assim, verifica-se claramente que a Resolução CONTRAN

nº 453, de 26/09/2.013 traz regra mais benéfica do que a Resolução CONTRAN
nº 203, de 29/09/2.006.

Se antes a resolução fazia referência às sanções de multa

e suspensão do direito de dirigir, caracterizando a infração como sendo de
natureza gravíssima; agora, com a nova resolução, houve o abrandamento da

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penalidade, remetendo-se ao preceito legal que prevê apenas a sanção de

multa, configurando-se infração de natureza leve.

Assim, deve-se aplicar a norma mais benéfica com base

no disposto no artigo 5º, inciso XL, da Constituição Federal, por analogia, que
assim prevê:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes:
(...)
XL. a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Sobre a matéria esta C. 3ª Câmara de Direito Público já

decidiu:

AGRAVO DE INSTRUMENTO PRETENSÃO À SUSPENSÃO DOS EFEITOS DO AUTO

DE INFRAÇÃO DE TRÂNSITO ADMISSIBILIDADE Presença dos requisitos legais
ensejadores da medida Penalidade administrativa prevista no art. 244, I, do CTB,
porque teria o infrator conduzido a motocicleta com a viseira levantada do
capacete Resolução nº 453/2013, do Contran, que alterou a natureza da infração
e correspondente sanção administrativa Decisão reformada. Recurso provido.
(Agravo de Instrumento nº 2102571-59.2016.8.26.0000; Rel. Des.
Marrey Uint; Comarca: Ribeirão Preto; Órgão julgador: 3ª Câm. de Direito
Público; Data do julgamento: 11/10/2.016; Data de registro:
14/10/2.016).

APELAÇÃO AÇÃO DECLARATÓRIA, APLICAÇÃO DA RETROATIVIDADE DA

RESOLUÇÃO CONTRAN Nº 453/2013, INFRAÇÃO DE NATUREZA GRAVÍSSIMA
COMETIDA POR CONDUZIR MOTOCICLETA SEM O USO DE VISEIRAS, NOS
TERMOS DO ART. 244, DO CTB A resolução nº 453/2013, cuja aplicação se
almeja, revogou expressamente a resolução nº 203/2006, abrandando a sanção à

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infração, com punição atual, nos termos do art. 169, do CTB, para infração de
natureza leve Possibilidade Prescrição corretamente afastada que deve ser
mantida, sentença de parcial procedência mantida Recurso desprovido
(Apelação nº 0007238-36.2014.8.26.0081; Rel. Des. Amorim Cantuária;
Comarca: Adamantina; Órgão julgador: 3ª Câm. de Direito Público; Data
do julgamento: 15/03/2.016; Data de registro: 01/04/2.016).

Desta forma, deve ser mantida a r. sentença de 1ª

instância.

Assim, desnecessários mais argumentos.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO à remessa

necessária, para manter a r. sentença questionada, por seus próprios
fundamentos, acrescidos dos aqui expostos.

KLEBER LEYSER DE AQUINO

RELATOR

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