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AVALIAÇÃO

ANÁLISE DO FILME: “ MILAGRE NA CELA 7 ”

Curso: Direto -2°Periodo


Turno: Noturno
Disciplina: Direito Penal I
Doscente: Cláudio Jenner
Discente:Camile Fonseca Silva

FEIRA DE SANTANA-BA
2022
O direito penal é um ramo do direito público,detentor de um conjunto de normas,que
descrevem condutas e sanções, no intuito de proteger os bens jurídicos. Isso ocorre
mediante a imposição de pena ou medida de segurança.É através da sanção, que a
reiteração de condutas criminosas no meio social são previnidas, protegendo a todos,dos
danos que possam lesionar os valores, e por em risco uma convivência de harmonia social.
Nesse sentido, vale ressaltar que apesar dos avanços e mudanças ao longo da história,
bem como o estabelecimento de princípios que norteiam o direito penal, existe a
possibilidade da sua ultilização tornar-se em determinadas situações,meramente uma
função simbólica (disfarçada), que favorece aos interesses dominantes.
Diante disso, o filme “Milagre na Cela 7”, aborda uma história complexa, que chama a
atenção para a falta de respeito no que tange a interpretação das normas penais. O enredo
é um exemplo clássico de que a promoção das injustiças,por vezes, parte dos próprios
aplicadores do direito. Dirigido por Mehmet Ada Oztekin, “Milagre na Cela 7” é um
remake (nova versão de um filme) turco,adaptado de uma versão sul-coreana. Lançado
em 2019, o longa retrata o dilema de Memo. Em síntese: Morador de um simples vilarejo
na Turquia, o mesmo vive na companhia de sua filha Ova e sua avó Fátima ( que falece
ao decorrer da trama). Mesmo possuindo um atraso intelectual,saia para cuidar de
ovelhas. Em uma dessas saídas, ele acaba envolvido em um episódio,que culminou com
a morte acidental da filha do comandante do Exército.Ultilizando-se da sua posição de
poder, o oficial age parcialmente,ordenando a prisão do acusado,o condenando a
morte,sob a acusação do assassinato da criança.
Considerando que o contexto da história,situa-se por volta da década de 80,quando ainda
era admitida a pena de morte no país onde ocorreram os fatos, podemos fazer uma análise
contemporânea ,sob a ótica do atual Código Penal Brasileiro. Vale salientar que a pena
de morte foi abolida em território turco,exceto em casos de combate, fato que se
assemelha ao que se expressa no inciso XLVII, do artigo 5º, da Constituição Federal –
CF, ao constar que em nossa nação não haverá penas de morte, salvo em caso de guerra
declarada (alínea “a”). Dito isto, “embora haja mesmo previsão legal expressa da pena
capital no país, esta só pode ser aplicada em situações específicas (crimes militares) e
apenas em período não comum (guerra declarada). Portanto a base legal para aplicação
da pena de morte no Brasil é a alínea “a” do artigo 55 e artigo 56, ambos do Código Penal
Militar – CPM, de 1969. Por isso,admite-se no nosso cotidiano,somente as penas
restritivas de direito e as penas privativas de liberdade”.
Nesse sentido, de início observa-se que a acusação que pessou sobre Memo não possui
fundamentos legais, tendo em vista que a sanção penal só pode ser imposta ao agente da
infração. A inexistência de um flagrante delito, caberia ao mesmo,a ultilização de um dos
subprincipios da reserva legal,denominado princípio da culpabilidade,ou seja, “ninguém
deve ser punido se não tiver agido ao menos com culpa ou dolo.”( Nullum crime sine
culpa). Outro ponto a ser levantado é a tortura sofrida pelo acusado, mediante agressões
físicas e psicológicas, a ponto de ser obrigado a assumir o ato ilícito mediante
coação(considerado crime e tipificado no art.344 do nosso Código Penal). Vale pontuar
que nossa “Lei 9.455/97, dentre as condutas ilícitas descritas, prevê que quem constrange
alguém a prestar informação ou declaração, sob ameaça ou violência, resultando em
sofrimento físico ou mental, comete o crime de tortura”.
Considerando que,o crime deve possuir as características de fato típico,antijuridico e
culpável, a queda da menina não foi um fato previsto ou dirigido pela vontade acusado .
Além disso, o nexo de causalidade exige uma relação de causa e efeito diante da conduta
do agente (art.13.CP), Memo não poderia assumir a responsabilidade sob a acusação de
ter causado a morte, uma vez que havia uma certa distância entre ele e a vítima, e a mesma
estava à frente de Memo, que até a alerta-la verbalmente, acerca do perigo que corria
sobre as rochas do penhasco. Desse modo o acusado não deveria ser condenado,sem que
“ conduta fosse previamente tipificada (com clareza e precisão) como crime”. Portanto se
Memo não quis que a garota caísse, ou assumiu o risco da queda, ele não agiu
dolosamemte. E como não houve negligência, imprudência ou imperícia da sua parte, não
se configura como ação culposa, como expressa o art.18 do CP.
O auxílio da professora para garantir as visitas de Ova ao pai, aponta a importância do
conhecimento dos direitos, afim de faze-los cumprir. Prova disso é “ o art.41, inciso X,
da Lei de Execução (brasileira),assegura ao preso o direito de visita de parentes,em
cumprimento aos princípios constitucionais da reintegração do preso à sociedade. Visa,
igualmente, a manutenção do convívio entre o detento e sua família, entidade que é
constitucionalmente protegida pelo Estado”.
A exposição ao perigo, sem o direito de defesa,é um outro fator que vai contra o princio
da dignidade humana. Como se não bastasse a prisão injusta, o preso foi inserido em um
ambiente ocupado por criminosos que poderiam tirar sua vida antes mesmo do
enforcamento.Todavia a convivência na sela (que nós remete as falhas carcerária do nosso
sistema prisional), possibilitou que os outros detentos conhecem a história de Memo e
acreditassem em sua inocência. Desse modo,tentaram ajudá-lo comunicando ao diretor a
existência da única testemunha(um soldado desertor, que viu a menina se desequilibrar e
cair da rocha). A tentativa foi frustada , pois o soldado acabou o assassinado pelo seu (pai
da vítima morta) afim de ocultar os fatos e manter a condenação de Memo. Considerando
portanto a sua inocência, seus companheiros, juntamente com o diretor do presídio e um
guarda,articularam um plano afim de livra-lo da força. Tendo em vista que o preso Yusuf
cometeu um crime que lhe cabia uma pena proporcional de enforcamento. O mesmo
justificou a morte da filha como uma espécie de defesa da honra, no entanto se dispôs a
ser peça fundamental do plano, substituindo o inocente e antecipando a própria
condenação,o que foi proporcional diante do delito cometido.Por fim Memo recebe a
liberdade, reencontra sua filha e saem do país a fim de recomeçar a vida longe de um
Estado que permitia a promoção da injustiça, e possuía leis com características da teoria
Absoluta, com o foco voltado para a reprovação da conduta e a retribuição por meio de
punição.
Destarte, a história retratada no filme deixa explícita a consequências de se imputar um
crime a um inocente. Por isso, o Direito Penal deve guiar-se não apenas pelo cumprimento
legal e material das normas,mais também observar a aplicabilidade dos princípios,
mantendo-se sempre de acordo as ações que eliminem os riscos a dignidade da vida,
garantido respeito a liberdade.Por fim a garantia dos valores humanos é uma abrange todo
o mundo e deve ser respeitada, ainda que muito semelhante a Memo precisem de um
“milagre” pra alcançar tal garantia.

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