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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Beatriz Pires Meneghetti

Maquiavel e os Príncipes da Política Brasileira.

VILA VELHA
2022
Beatriz Pires Meneghetti

MAQUIAVEL E OS PRÍNCIPES DA POLÍTICA BRASILEIRA.

Trabalho apresentado para a


Disciplina de Filosofia, ministrada
pelo Prof. Ernesto Charpinel para a
turma da TQIVV1

Vila Velha – ES
2022
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................ 04
1.Contexto Histórico.................................................................................... 04
1.1 O equilíbrio................................................................................... 05
2. Príncipe................................................................................................... 05
2.1 É melhor ser temido, ou amado?.................................................. 06
3. Aplicando na história Brasileira............................................................... 06
3.1 Getúlio Vargas...............................................................................06
3.2 Luís Inácio Lula da Silva............................................................... 08
4. Conclusão............................................................................................... 09
5. Referências............................................................................................. 10
MAQUIAVEL E OS PRÍNCIPES DA POLÍTICA BRASILEIRA.
Beatriz Pires Meneghetti, 1° Ano TQI.

CONTEXTO HISTÓRICO E CARACTERÍSTICAS DE UM PRÍNCIPE

“Mas estava tudo bem, estava tudo certo, a batalha chegara ao fim. Ele
conquistara a vitória sobre si mesmo. Winston amava o Grande Irmão. ”
1984 – George Orwell.

O Livro “Príncipe” escrito por Nicolau Maquiavel, e publicado somente em 1532,


cinco anos após sua morte, será de fato o foco de toda esta pesquisa descrita.
Entretanto, a frase inicial ainda que provinda de outro escritor, em outro tempo, em
outro ideal, nos traz exatamente o resultado de um bom príncipe: o amor e respeito
do povo, apesar de qualquer disparidade de pensamento.
Nicolau, antes um respeitado político da República oligárquica de Florença, agora,
passava seus dias em uma casa de campo, fora da vida pública, já que, a então
República deposta havia sido substituída por uma Monarquia sólida da família
Médici.
Contudo, é visível a instabilidade política da região da atual Itália, visto que Florença
era apenas uma mínima região entre inúmeros principados, reinos, repúblicas
pequenas que estavam constantemente guerreando e eram raros os governos da
época duravam mais de cinco anos.
A questão que circundava, portanto, não era unicamente “como chegar ao poder? ”,
mas “como se manter no poder? ”. Estas divagações serão citadas e respondidas
por Nicolau, que escreve diretamente ao novo governador de Florença (o “Magnífico
Lorenzo de Médici”) na tentativa de demostrar seu valor ao governo e, por
conseguinte, retornar seu serviço como conselheiro.
O fundamento deste escrito é o “equilíbrio”. Um príncipe deve ser capaz de
habilidosamente circundar e controlar a visão do povo para com ele. Visto que a
população nunca haverá de concordar plenamente com algo, é papel do líder tomar
decisões a favor de parte da população, e os revoltados restantes devem ser
“pacificados”.
Um príncipe bom não deve ser bom, o que segundo Maquiavel é até um empecilho,
mas sim, deve aparentar a pureza da bondade, ou senão a pureza do conhecimento
(o famoso “Não entendi nada, mas parece que ele sabe o que faz”). Entre as
necessárias qualidades de um Príncipe, se destaca: Piedade, Humanidade,
Fidelidade, Religiosidade e Integridade. Que novamente, não devem ser tidas, mas
aparentemente tidas.
Em adição, se é necessário agir por vezes “contra a vontade do povo”, para agradar
outros, de que forma agiria um príncipe? Com dureza? Com condescendência? Qual
é a maneira perfeita de tomar uma decisão polêmica?
A maneira necessária. Nicolau afirmou que um príncipe está acima da ética e da
moral do restante de seu povo. É justamente por isso, que por muito tempo, o senso
comum atribuiu a frase “Os fins justificam os meios. ” erroneamente a ele, já que
apesar de acreditar num limite de poder de um príncipe (visto em suas raízes
republicanas), defendia a ideia de uma “liberdade” concedida ao governador, para
que este, tome as devidas decisões necessárias.
Um bom governo, é reflexo de sim, um bom governante. Entretanto, Nicolau chama
atenção a um importante detalhe dentro de um “centro político”. Um Príncipe deve
ter Virtude (virtù), e oportunidades (Fortù). Virtudes neste caso, se desprendem da
tradução cristianizada da palavra, mas sim, recebem um único sentido de
“habilidade”, “negociação”, e até uma benigna “manipulação”. A estes, já se faz
mencionado acima. Mas é as oportunidades que este parágrafo se atém. Se
tratando de uma região instável (como era o caso de Florença), um governante deve
ser ainda mais astuto para perceber onde estão suas oportunidades de ação, pois
decerto, não se trata de um governo pacífico e intuitivo, não será recebido com
flores, e deve rapidamente demonstrar sua capacidade de governar corretamente ao
povo. É, portanto, através de um excelente discernimento, que um Príncipe
consegue manter sua imagem e ao mesmo tempo, seu governo.
Em suma, Maquiavel responde uma importante pergunta a qual se dedica durante
todo o capítulo XV: “É melhor ser temido, ou amado? ”
“Nasce daqui uma questão: se vale mais ser amado que temido ou temido
que amado. Responde-se que ambas as coisas seriam de desejar; mas
porque é difícil juntá-las, é muito mais seguro ser temido que amado,
quando haja de faltar uma das duas. Porque dos homens que se pode dizer,
duma maneira geral, que são ingratos, volúveis, simuladores, covardes e
ávidos de lucro, e enquanto lhes fazes bem são inteiramente teus,
oferecem-te o sangue, os bens, a vida e os filhos, quando, como acima
disse, o perigo está longe; mas quando ele chega, revoltam-se.”
Em outras palavras, o melhor é que se pudesse ser amado quando se deve ser
amado, e temido quando se deve ser temido. Entretanto, se jaz a necessidade de
escolher entre apenas um, que seja temido, já que o amor mantém o povo próximo,
e a proximidade pode levar a deposição. Entretanto, o temer nunca deve levar ao
ódio, pois o ódio do povo leva necessariamente a ruína de seu governador.

APLICANDO NA HISTÓRIA BRASILEIRA.

“O Príncipe” é um grande contribuinte e explicador parcial das estratégias políticas


atuais. Portanto, é notório que se poderá encontrar exemplos claros de “Príncipes”
da Política Brasileira.

GETÚLIO VARGAS

Getúlio Vargas é um dos Príncipes mais


conhecidos e fiéis aos termos descritos por
Maquiavel.
Nascido no Rio Grande do Sul, no ano de
1882, iniciou sua carreira política após sua
formação em Direito, curso no qual iniciou
quando saiu do exército.
Conhecido por seu governo de 18 anos e seu
fim trágico, Getúlio Vargas traz à história
brasileira um governo de dúbia posição e um
balanceamento entre esquerda e direita.
É no governo de Getúlio que tivemos a
formação dos direitos trabalhistas entre eles:
 Registro do Trabalhador/Carteira de Trabalho;

 Jornada de Trabalho;
 Período de Descanso;
 Férias;
 Medicina do Trabalho;
 Categorias Especiais de Trabalhadores;
 Proteção do Trabalho da Mulher;
 Contratos Individuais de Trabalho;
 Organização Sindical;
 Convenções Coletivas;
 Fiscalização;
 Criação do Ministério do Trabalho;

Aliado a isso, foi o responsável pela maior consolidação de vários direitos femininos:
 Direito de voto;
 Estabelecimento da licença maternidade;
 Proibição da diferença salarial entre homens e mulheres;
E assim, Getúlio Vargas ficou conhecido até poucas gerações atrás como um
“Presidente do Povo”, que garantia os resultados e não oportunidades, um foco
importante no posicionamento esquerdista.
Em contrapartida, pode-se ver seu posicionamento ser completamente diferente na
instituição do “Estado Novo”.
O Estado Novo (novo governo de Getúlio), se passa justamente no contexto global
caótico da Segunda Guerra Mundial. O posicionamento do Brasil, e do Presidente,
ainda que descrito como aparentemente neutro, é marcado por recusa da entrada de
judeus ao território brasileiro, e inclusive, instituição de cláusulas que recusavam a
entrada de pessoas de origem judaica.
Durante seu governo, em 1935, declarou estado de sítio, e a suspensão dos direitos
civis de todo aquele que representasse uma possível ameaça soviética.
Entretanto, é no ano de 1937 que se forma definitivamente uma ditadura. Com a
instauração de uma nova Constituição, de inspiração fascista, que suspendia todos
os direitos políticos, abolindo os partidos e as organizações civis. O Congresso
Nacional foi fechado, assim como as Assembleias Legislativas e as Câmaras
Municipais.
Seu controle ideológico, em 1939, chega aos limites da falta de liberdade de
expressão, com a criação do DIP.
O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), foi responsável pela censura
dos veículos de comunicação, trazendo a mensagem da exaltação do trabalho
como “pano de fundo”.
A fomentação de um pensamento nacionalista, aliado com a dita, “proteção a
ameaça comunista”, trouxe ao povo, não um sentimento de revolta a situação que
viviam, mas sim um amor e respeito “cego” à Getúlio e ao Brasil.
A expressão nítida dessa “cegueira política”, se dá com o movimento espontâneo
das classes populares que pediam pela reeleição de Getúlio, já que o Estado Novo
não durou para sempre, e a pressão dos grupos civis, fizeram com que Getúlio
aceitasse a realização de eleições, e duvidasse de sua própria candidatura.
A resposta do povo veio no ano de 1945, com o chamado “Queremismo”,
movimento formado pelas classes trabalhistas. Recebeu este nome pela frase
“Queremos Getúlio! ”, que apoiava a reeleição de Vargas no próximo governo.
A curiosa parte, é que, além de seus apoiadores serem os trabalhadores, que
tiveram boa parte dos seus direitos revogados (mesmos aqueles concedidos no
início do governo), a propaganda eleitoral de Getúlio Vargas contou com o apoio
do PCB (Partido Comunista do Brasil), o que com certeza não reflete com sua
posição de profundo apelo contra a “ameaça vermelha”.
Por fim, Getúlio Vargas ainda se trata de uma polêmica figura, a qual é respeitada
e defendida por muitos, e curiosamente amada por aqueles que não
necessariamente eram “amados” por Getúlio Vargas.

LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA

Se existe uma figura atual que poderia ser


chamado de “Príncipe”, este alguém é Luís
Inácio Lula da Silva.
O Ex-Presidente, nascido no ano de 1945, e
fundador do Partido dos Trabalhadores,
caminha agora para a tentativa de reeleição
neste mês de outubro, e suas escolhas e
pronunciamentos revelam uma tentativa de
apaziguamento entre seus apoiadores
esquerdistas, e a aquisição de novos eleitores
de direita e centro-direita.
Já sendo uma figura de destaque desde
principalmente o ano de 2018, com sua
condenação polêmica pelo caso do tríplex.
Fato este, que sequenciou polêmicas e
bipolares manifestações, que garantiu que a

figura política de Lula permaneceu em destaque, até sua soltura quase dois anos
depois.
A aceitação de Lula diante da decisão de prisão, revela a tentativa de reforçar sua
imagem de “amigo da lei”, mesmo quando a lei está contra ele.
Atualmente, o foco do ex-presidente se volta aos novos eleitores, e a tentativa de
conseguir eleitores direitistas.
O primeiro ponto focal pode ser visto devido a seu aparecimento no famoso podcast
“Podpah”, que reúne um público predominantemente jovem, e o coloca a vista em
um famoso meio de comunicação, que está em crescimento no país.
Seu discurso nesse podcast, fomenta o apelo de que “jovens devem se interessar
por política”, o que gera novos eleitores, que verão nele, uma velha guarda que
aconselha a nova geração. Quando pensarem em política, pensarão nele.
Seus posicionamentos quanto a ideias polêmicas seguem a opinião da maioria, mas
aos restantes sempre há uma tentativa de “apaziguamento”.
É o caso de seu apoio ao aborto, posição extremamente polêmica para a formação
tradicional da família brasileira, mas que representa a opinião da maior parte dos
novos eleitores e de seus já apoiadores esquerdistas.
Em contrapartida, para aqueles que se revoltam, seu possível vice, Geraldo Alckmin,
já entra em contato com as principais igrejas evangélicas de São Paulo, que seriam
extremamente contra ao posicionamento supracitado, em busca de apoio.
Ademais, a própria escolha de um vice (Geraldo Alckmin) centro-direita, é reflexo de
sua vontade de trazer diferentes eleitores, que não necessariamente concordam
com ele, mas o respeitam e o aceitam.

CONCLUSÃO
Apesar da errônea tentativa de “demonização” dos conceitos de Maquiavel em “O
Príncipe”, é neste livro que se pode encontrar a verdadeira política, e portanto, não
necessariamente representa algum malefício, ainda que possa levar a limites
extremos, como caso de Getúlio Vargas.
A capacidade de diálogo, bom posicionamento, e bom discurso, ainda que por vezes
confundido com manipulação, do ponto de vista de Maquiavel, deve ser visto como
um mal benigno.
A leitura do livro de Nicolau Maquiavel é fundamental quando falamos de novas
eleições, entender como e por que a política funciona da maneira que é apresentada
ao povo, é a chave para tentar mudar (ou não), o que o Brasil, de fato, é.
REFERÊNCIAS
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https://www.todamateria.com.br/o-principe-de-maquiavel/. Acesso em: 19 jan. de
2022.
Entendendo O Príncipe de Maquiavel (Absolutismo Monárquico). Parabólica.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tLaixW_cDZg. Acesso em: 19 jan.
2022.
O Príncipe, de Nicolau Maquiavel (#162). Ler Antes de Morrer. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=SCZQzThIXBE. Acesso em: 19 jan. 2022.
RIBEIRO, Paulo Silvino. "Maquiavel e a autonomia da política"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/ciencia-politica-
maquiavel.htm. Acesso em: 19 jan. 2022.
FERNANDES, Cláudio. Era Vargas. História do Mundo. Disponível em:
https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/era-vargas.htm. Acesso
em: 28 jan. 2022.
LIRA, Michael Pereira De. A ditadura de Getúlio Vargas: Estado Novo. JusBrasil.
Disponível em: https://michaellira.jusbrasil.com.br/artigos/113642005/a-ditadura-de-
getulio-vargas-o-estado-novo. Acesso em: 28 jan. 2022.
SILVA, Daniel Neves. Era Vargas: Governo Provisório (1930-1934). Mundo
Educação. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/historiadobrasil/era-
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ESTEVES, Natália Cabral dos Santos. Conquistas Femininas durante o Governo
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https://www.encontro2020.rj.anpuh.org/resources/anais/18/anpuh-rj-
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Acesso em: 28 jan. 2022.
SILVA, Daniel Neves. "Queremismo"; Brasil Escola. Disponível em:
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POUBEL, Mayra. Getúlio Vargas. Info Escola. Disponível em:
https://www.infoescola.com/biografias/getulio-vargas/. Acesso em: 28 jan. 2022.
SILVA, Daniel Neves. DEPARTAMENTO DE IMPRENSA E PROPAGANDA (DIP).
Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/o-dip-estado-
novo.htm. Acesso em: 28 jan. 2022
LULA – Podpah #295. Podpah. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=r4JJh0lbYHU. Acesso em 26 jan. 2022.

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