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Re v. Bras. Fisiot. Vol. 3, No. 2 ( \ 999).

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<DAssociação Brasileira de Fisioterapia

INTRODUÇÃO À ANÁLISE DO MOVIMENTO HUMANO -DESCRIÇ ÃO E


APLICAÇÃO DOS MÉTODOS BIOMECÂNICOS DE MEDIÇÃO

Amadio, A. C., Costa, P. H. L, Sacco, I. C. N., Serrão, J. C.,


Araujo, R. C., Mochizuki, L e Duarte, M.
Laboratório de Biomecânica, Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo. Av. ProL
Mello Moraes, 65. Cidade Universitária. CEP 05508-900. São Paulo, SE BrasiL e-mail acamadio@usp.b r

Recebido: 09/07/96- Aceito: 10/07/98

RESUMO

A biomecânica é uma disciplina que, entre as ciências derivadas das ciências naturais, se ocupa de análises físicas de sistemas
biológicos, conseqüentemen te. de am11ises físicas de movimentos do corpo humano. Assim, através de suas áreas de conhecimento
correlatas pode-se analisar as causas e fenômenos relacionados ao movimento humano. Levando-se em consideração cada uma das
disciplinas que compõem seu espectro científico, a biomecânica é apresentada como uma ciência multidisciplinar para a investigação
aplicada ao movimento humano. Essa estrutura se apresenta, devido à natureza ele seus estudos, num domínio dinâmico do conhecimento
científico no qual sempre se busca um novo aspecto e/ou explicações de fenômenos a partir de problemas interdisciplinares . O movimento
os
humano é conceituado e considerado no presente trabalho como o objeto central de estudos nos quais são analisadas as causas e
efeitos produzidos em relação à biomecânica. Este estudo sobre o funcionamento físico de estruturas biológicas baseia-se principalmente
em medidas experimentais que são metodologicame nte apresentadas e discutidas com a preocupação fundamental de análise e inter-
pretação do movimento humano. Contextualiza-se a dificuldade metodológica de acesso ao comportamento biomecânico de estruturas
internas dos sistemas biológicos. devido a sua parametrização. em termos de variáveis biomecânicas internas. portanto torna-se extre-
mamente dependente de medições externas ao corpo humano. Desta maneira ressalta-se que a biomecânica é um i mportantc ramo
de imeração com áreas diversas aplicadas ao estudo do movimento humano. Destaca-se também a validade dos parâmetros biomecânicos
para a análise do movimento na busca de sua otimização, não apenas no sentido de eficiência, mas ainda em relação a um processo
de economia e controle da técnica de movimento. Apresenta-se também análise e discussão de resultados práticos de investigação
biomecânica sobre aspectos de aplicação do movimento de locomoção humana. por tratar-se de uma classe de movimento muito comum
no comportamento motor humano, e composta por movimentos integrados e complexos. donde se conclui genericamente sobre a impor-
tância e validade destes parâmetros biomecânicos para a análise do movimento humano.

Palavras-chave: biomecânica, análise do movimento humano, métodos de medição do movimento humano, locomoção, força reação
do solo.

ABSTRACT

The biomechanics is a discipline among those which are part ot· thc natural sciences, that concerns about physical analysis o r
the biological systems, and then, human body movements analysis. In this way, it could analyse the causes and events relatecl to human
movements throught the biomechanics and its correlated areas. The biomechanics is a multidisciplinary science considering each disci plinc
that is part of this extensive area concerned about movement investigation. Because of the nature of its investigation. this structurc
scems in a dynamic change of scientific knowledgc to reach new aspects anel new phenomenon explanations sinee interdisciplinary
matters. The human movement is considered, in thc present papcr, as a central study object which causes anel cffects are analysed
baseei on biomechanics. This study of physical functioning of the biological structures is baseei mostly on experimental measurement
that are methodologicall y presenteei anel discussed concerning the analysis and interpretation of the human movement. Thcre are
so
innumerables methodological difficulties to access the biomechanical behavior of the internai structures of biological systems,
its parametrization, baseei on internai biomechanical variables. becomes extremelly dependent of externai body measurements. In this
way, it could be understood that the biomechanics is a important integrative matter among severa! areas related to human movement
to
studies. It is also observed the biomechanicals parameters validity relatecl to the movement analysis otimization. not only related
the efficiency but also to the economy and motor control process of the movement tecniques. And it is also presenteei an analysis
anel a discussion about the practical results of biomechanical investigation related to human locomotion. considering that this class
of movements is very common anel important in the human motor behavior. which includes complex and integrated movements. Sincc
that, we conclude generically about the importance and validity of these biomechanical parameters to the analysis of human movement.

Kn wurds: biomechanics, human movement analysis, measuring methods o f human movement, locomotion, ground reaction force.
42 Amadio et a/. Rev. Bras. Fisiot.

INTRODUÇÃO do corpo com o meio onde o movimento acontece. A bio-


mecânica externa ocupa-se das grandezas que podem ser
A biomecânica é uma disciplina entre as ciências de- observadas na periferia do corpo, como através da cinemetria
rivadas das ciências naturais que se ocupa de análises fí- e das forças externas. A biomecânica interna investiga as
sicas de sistemas biológicos, incluindo aí análises físicas forças que têm sua origem dentro do corpo e que na maioria
de movimentos do corpo humano. Trata-se de uma ciência dos casos pressupõem conhecimento da biomecânica ex-
derivada que tem por objetivo o estudo do movimento e apoia- terna. Com relação à aplicação da biomecânica para aná-
se em dois fatos fundamentais: (a) a biomecânica apresen- lise e investigação de movimentos humanos, particularmente
ta claramente seu objeto de estudo, definindo assim sua de movimentos esportivos, subdivide-se a biomecânica em
estrutura de base do conhecimento; e (b) os resultados de in- duas áreas de estudo: biomecânica interna e biomecânica
vestigações são obtidos através do uso de métodos cientí- externa.
ficos próprios. envolvendo todas as etapas do trabalho Gutewort 2 discute o estágio científico empírico-indutivo
científico. Naturalmente, esses aspectos são amplamente primário em que a biomecânica se fundamenta. devido ao
dinâmicos e devem admitir avanços científicos que colaborem fato de que nem todas as condições do processo de movi-
para o crescimento da própria biomecânica. Logo. não é mento são conhecidas. não podendo, portanto. ser experi-
suficiente a matéria de estudo estar definida; também é ne- mentalmente denominadas. Para a sua evolução torna-se
cessário que a biomecânica possua métodos de estudo próprios necessário que os processos teórico-dedutivos sejam mais
para que sejam aplicados na investigação do movimento. Seu desenvolvidos e aplicados no futuro.
atual desenvolvimento é expresso pelos novos procedimentos Segundo critérios teórico-metodológi cos, ou até se-
e técnicas de investigação, nas quais se reconhece a tendência gundo outros critérios empíricos, a classificação dos movimen-
crescente de combinar várias disciplinas científicas na análise tos caracteriza o próprio desenvolvimento dessa ciência.
do movimento. Nos últimos anos, o progresso dos métodos Quando o objeto de estudo é o movimento esportivo. deve-
de medição, armazenamento e processamento de dados con- se considerar a natureza complexa dos multielementos que
tribuiu enormemente para a análise do movimento. É claro interferem na sua composição e que influenciam no compor-
que nenhuma disciplina se desenvolve por si mesma. Para tamento e no rendimento do movimento. Deste modo pro-
a sua formação. a biomecânica recorre a um complexo de cura-se definir através de métodos e princípios biomecânicos
disciplinas científicas, observando-se uma estreita relação os parâmetros que caracterizam a estrutura técnica funda-
entre as necessidades e exigências da prática do movimento mental do movimento humano.
humano. Na área de análise do movimento esportivo, o compor-
Em princípio, a estrutura funcional de um sistema bio- tamento da sobrecarga articular e os efeitos dos mecanismos
lógico passa por um processo organizacional evolutivo de motores no processo de aprendizagem são exemplos de áreas
otimização, que se diferencia sensivelmente do caminho de do conhecimento que se relacionam com a diagnose no esporte.
aperfeiçoamento técnico do movimento. Ao contrário de A biomecânica do esporte dedica-se ao estudo do corpo hu-
um corpo rígido. a estrutura biológica do corpo humano per- mano no desenvolvimento de atividades esportivas, carac-
mite a produção de força através da contração muscular, terizando e otimizando técnicas de movimento.
o que transforma o corpo num sistema independente, e assim O relacionamento entre as variáveis do movimento faz-
acontece o movimento. se presente, na prática, através da real interdependência entre
O corpo humano pode ser definido fisicamente como os dois parâmetros (qualitativo e quantitativo), dada a natu-
um complexo sistema de segmentos articulados que está em reza da tarefa de movimento a ser realizada. Distintos ti-
equilíbrio estático ou dinâmico, no qual o movimento é pos de relacionamento com participação de maior ou menor
causado por forças internas atuando fora do eixo articular grau dos parâmetros estruturais para cada tarefa de movi-
(que provocam deslocamentos angulares dos segmentos) mento podem ser encontrados, e quanto maior a interdepen-
e por forças externas ao corpo. Assim, a biomecânica do dência tanto mais avançado é o processo de especialização
movimento busca explicar, a partir de parâmetros cinemáticos e maturidade do movimento. Muito raramente encontram-
e dinâmicos, como as formas de movimento dos corpos de se tarefas de movimento de interesse para o estudo em que
seres vivos acontecem na natureza.' não exista interdependência alguma entre estes parâmetros:
Conhecimentos científicos possibilitaram o desenvol- quanto maior a interdependência, maior é a possibilidade
vimento de métodos para o estudo de fenômenos naturais, de entendermos a estrutura de movimento na sua concepção
indispensáveis para a compreensão dos parâmetros que com- mais complexa. No processo de investigação do movimento
põem o universo do movimento humano. Podemos, desta em biomecânica, busca-se a definição de um método para
maneira, classificar a biomecânica de forma esquemática a orientação da análise experimental. Este procedimento
em biomecânica interna e externa. Essa divisão efetua-se poderá envolver uma ou um conjunto de técnicas que per-
segundo a determinação quantitativa ou qualitativa da força mitirão o esclarecimento de problemas na estrutura da inves-
que atua sobre os corpos, considerando ainda a interação tigação. Assim, o primeiro passo é o estabelecimento de
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objetivos para o desenvolvimento da análise do movimento Todo estudo biomecânico depende da determinação de
humano. grandezas mecânicas (qualitativas ou quantitativas). que
Outro aspecto muito importante em estudos biome- podem ser interpretadas como propriedades do corpo hu-
cânicos é o desenvolvimento de uma ampla base de dados mano (em análise comportamental) ou mesmo entendidas no
relativa a informações acerca do movimento humano. A processo de desenvolvimento como sendo passíveis de alte-
possibilidade de intensificar as interpretações estatísticas rações. Dessa forma, os métodos de medição de grandezas
de modelos biomecânicos depende, em primeiro lugar, da físicas aplicadas ao corpo humano são essenciais para o estudo,
expansão dos parâmetros e das variáveis do movimento, tanto na biomecânica externa quanto na biomecâniea interna.
obtidas através de estudos experimentais, e de outros registros Medir uma grandeza física significa estabelecer uma
de testes em biomecânica. relação entre esta e uma grandeza-unidade de mesma na-
Portanto, através da biomecânica e de suas áreas de tureza. Metodologicamente, no desenvolvimento de um pro-
conhecimento correlatas são analisadas as causas e os fe- cesso de medição invariavelmente incorre-se em erros que
nômenos do movimento, mas para entender melhor a com- necessitam ser controlados. Inicialmente, classificam-se os
plexidade do movimento humano e explicar suas causas é erros segundo sua natureza: erro estático (erro de leitura.
necessário que outros aspectos da análise multidisciplinar sensibilidade, reprodutibilidade etc.) e erro dinâmico (con-
sejam também considerados, ou seja, além da biomecânica, siderando-se a relação entre freqüência própria do movimento
fazem parte desse campo de estudo e de pesquisa outras e freqüência de registro). Outro fator de erro pode ocorrer
importantes disciplinas, como a antropometria. a neurofisio- em função de o sistema de medição nem sempre acompa-
logia, a fisiologia geraL a bioquímica, o ensino do movimento, nhar a rápida modificação das grandezas a serem medidas.
a psicologia, a física (mecânica). a matemática, a eletrôni- Há. ainda. a interpretação dos erros de medida segundo suas
ca - instrumentação e processamento de sinais etc. causas: (a) erro sistemático- erros de escala ou função do
Outro aspecto a ser discutido são os limites ou fron- aparelho (deve-se corrigi-lo quando conhecido, ou estimá-
teiras entre as disciplinas científicas. Trata-se de uma prática lo de forma geral, e, assim, buscar a correção do resultado
de alguma forma artificial, pois na realidade sempre existem através da determinação de fatores de correção que permiurão
domínios de sobreposição. Esse dilema é típico de todas as a redução de tais erros); (b) erro ocasional- erros imprevistos
ciências e ainda pertence à estrutura dinâmica de progresso por erros pessoais na regulagem dos aparelhos, leitura de
do conhecimento científico, em que sempre se busca, a partir escalas ou ainda alterações na energia, voltagem ou tem-
da sobreposição, um novo aspecto e ou explicações de fe- peratura do ambiente (elimina-se esse erro repetindo-se a
nômenos partindo de problemas interdisciplinares. Portanto, medição e mensionando essa incerteza ou erro no trabalho):
contextualizamos a biomecânica no domínio científico meto- e (c) erro absoluto e erro relativo (forma de representação
dológico para análise do movimento humano e interpretamos da incerteza de medida considerando-se a diferença entre
resultados de análise da locomoção, por tratar-se de uma classe valor de medida e valor real da grandeza física. expresso
de movimento muito comum no comportamento motor hu- na unidade original da grandeza e/ou em porcentagem relativa
mano e composto por movimentos complexos. ao desvio).
Padronizar procedimentos de medida em biomecânica
MÉTODOS DE MEDIÇÃO torna-se uma tarefa difícil, pois o processo de coleta. arma-
zenamento e digitação de dados depende muito dos avanços
O movimento humano é o objeto central de estudos em tecnológicos e de mudanças que têm ocorrido, impedindo
educação física e esportes, tendo por ohj,·tivo analisar suas que se tracem técnicas definitivas. Essas mudanças ocor-
causas e os efeitos produzidos em rela<.Jtu à biomecânica e rem tanto na pesquisa básica do desenvolvimento de equi-
às demais áreas de estudos que compõem esta multidisciplinar pamentos e materiais quanto nas aplicações da biomecânica.
interdependência no estudo do movimento humano. Para a
investigação de um movimento em biomecânica, torna-se Classificação dos Métodos de Medição
necessário, pela sua complexidade estrutural, a aplicação Genericamente, os métodos utilizados em biomednica
simultânea de métodos de mensuração nas diversas áreas podem ser classificados nas seguintes categorias: (a) reá-
do conhecimento da ciência. Chamamos esse procedimento rico-dedutivos ou determinísticos, baseados somente em leis
de "complexa investigação" do movimento, envolvendo todos físicas e relações matemáticas (relações causais); (b) empírico-
os métodos de pesquisa em biomecânica. 4 · 5 Os métodos a indutivos ou indeterminísticos, baseados em relações esta-
serem aplicados são determinados pelas variáveis que se- tísticas (relações formais) e relações experimentais: c ainda
rão alvo da análise desse movimento; por exemplo, com- (c) os métodos combinados, que tentam conjugar os dois
binações simultâneas e sincronizadas de procedimentos anteriores, em função do problema científico a ser tratado.
cinemáticos e dinâmicos são comuns e necessários para a Os métodos de medição em biomecânica são classi-
interpretação de um movimento. ficados nas seguintes categorias: (a) Procedimentos Mecâ-
44 Amadio et a/. Rev. Bms. Fi.1w1.

nicos- observações de grandezas por observação direta e de medição mais acurados c precisos para a modelagem do
que não se alteram muita rapidamente. (b) Procedimentos movimento humano. Os métodos utilizados pela biomed.nica
Eletrônicos- grandezas mecânicas são transformadas em para abordar as diversas formas de movimento são cinemctria.
elétricas, facilitando a medição de grandezas que se alte- dinamomctria. antropometria c clctromiografia.~ 56 Utilt1.ando
ram rapidamente com o tempo e daí se adaptando ao pro- esses métodos, o movimento pode ser descrito e modela-
cessamento de dados, permitindo desta maneira medições do matematicamente, permitindo maior compreensão dos me-
dinâmicas. (c) Procedimentos Ópticos-eletrônicos (proces- canismos internos reguladores e executores do movimento
samento de imagens)- representação óptica e geométrica do do corpo humano, como descrito na Figura 1.
objeto a ser analisado. Neste caso, as análises e medições A cinemetria consiste num conjunto de métodos que
~ão feitas no modelo, ou seja. são procedimentos indiretos busca medir os parâmetros cinemáticos do movimento. ist(l
uma vez que a análise é realizada no modelo representado. é, posição. orientação, velocidade c aceleração. O instrumento
Quanto aos métodos de medição em biomecânica, os básico para medidas cincmáticas é baseado em câmera' de
que representam todo o suporte de desenvolvimento e evo- vídeo que registram a imagem do movimento e então, através
lução da ciência particularmente em biomecânica do esporte de software específico, são calculadas as variáveis cine-
são: (a) simulação e otimizaçào computacional da técni- máticas de interesse. Existem ainda outros métodos para
co de movimento; (b) comando e controle da técnica de o processamento de grandezas cincmáticas. Entre eles se
movimento por computação; (c) análise da sobrecarga do destacam os métodos de medição direta utilizados para: (a)
oparelho locomotor. medidos de tempo, utilizando-se cronômetros para a base
A partir da contextualização da biomecânica interna, de tempo. (b) medidas de ângulos. utilizando-se goniômetros
observamos que esta se preocupa com as forças internas. para a determinação da posição de segmentos com migcm
ou seja, forças transmitidas pelas estruturas biológicas inter- em eixos articulares. (c) medidas de aceleração. uti I i !.ando-
nas do corpo. tais como forças musculares. forças nos ten- se acelerômetros que são transdutorcs que medem a quan-
dões. ligamentos. ossos e cartilagem articular. Elas estão tidade de movimento pela posição de uma massa em
intimamente relacionadas com a execução dos movimentos deslocamento. Ainda através da fotografia. da cinemato-
c com as cargas mecânicas exercidas pelo aparelho locomotor, grafia e da cronofotografia, podemos registrar a imagem
representadas pelo strcss (o estímulo mecânico necessário para processamento de variáveis cinemáticas. Todos esses
ao desenvolvimento e crescimento das estruturas do cor- procedimentos necessitam de lentes e outros instrumentos
po). O conhecimento destas forças internas tem aplicações ópticos para garantir a qualidade da imagem, e requerem
no estudo clínico da marcha patológica originada por ano- cuidados como a distância do objeto à lente c seu tamanho.
malia muscular. transplante de tendão ou amputação de c regulagcm da abertura do foco. Para a reconstrução de
membros; no aperfeiçoamento da técnica de movimento, coordenadas do objeto a partir da imagem registrada. uti-
assim como na determinação de cargas excessivas durante lizam-se modelos em que são necessárias. além de rcfcrêncta::.
as atividades físicas em esportes de alto nível ou em ati- geométricas e posições relativas das partes do corpo em
vidades laboriosas no cotidiano. A determinação das for- função do tempo, também informações sobre as dimensões
ças internas dos músculos c das articulações ainda é um corporais. obtidas através de dispositivos classificados nos
problema não resolvido na biomecânica, mas seguramente modelos antropométricos. 7
constitui a base fundamental para melhor compreensão de Para o processamento da imagem são utilizadas C:tmc-
critérios de controle do movimento. 3 ras, baseadas em películas fotoquímicas ou fotoelétricas.
O estudo sobre o funcionamento físico de estruturas que possuam recurso de registro de seqüências de sinais
biológicas tem se baseado principalmente em medidas expe- elétricos numa base de tempo conhecida c que armazenem
rimentais. Devido à dificuldade metodológica de acesso ao o registro em fitas magnéticas, o que caracteriza a videogral'ia.
comportamento biomecânico de estruturas internas dos sis- Assim. genericamente, classificam-se os sistemas em: (<~)
temas biológicos, a sua parametrização em termos de variáveis Disposilivos convencionais com avaliação manuof- sts-
hiomecânicas internas se torna extremamente dependente de temas de câmeras cinematográficas c fotográficas, em que,
medições externas ao organismo. ou seja, variáveis que após a revelação dos filmes, a avaliação é manual. (b) Dis-
possam ser observadas exteriormente ou obtidas através de positivos eletrônicos com avaliação manual- sistema de
equações de aproximação. Sob esse ângulo. a biomccânica vídeo em que uma camada sensível à luz capta a im<tgem
é um ramo de grande intet·ação com áreas diversas que se que é transformada em impulsos elétricos e suas coorde-
aplicam ao estudo do movimento, em especial ao estudo do nadas são armazenadas numa placa ou fita magnética. (cl
corpo humano, como a Educação Física, a Medicina, a Fi- DisposiTivos eletrônicos com avaliaçào automática- sistema
sioterapia, a Terapia Ocupacional, a Engenharia e a Física. óptico-eletrônicos em que as coordenadas das imagens são
Por se tratar de uma disciplina com alta dependência indentificadas c digitalizadas automaticamente e com ime-
de resultados experimentais, é premente que a biomecânica diata obtenção das coordenadas desejadas. Os pontos CUJ<ts
apresente grande preocupação nos seus métodos de medição. coordenadas são ele interesse podem ser marcas a ti v as. u 'illl 1
Somente desta forma é possível buscar medidas e métodos fontes de luz, ou passivas, como refletores de luz:'
Introdução à Análise Biomecânica do Movimento Humano 4'i
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Ci nemetria Dinamornetria Antropometria EMG

Posição e orientação Forças externas Parâmetros para


dos e o Atividade muscular
segmentos corporais distribuição de pressão modelo corporal

Modelo Modelo

Forças de gravitação Momentos líquidos


Energia mecânica e
Inércia forças internas

6
Figura 1. Áreas para complexa análise biomecânica do movimento humano segundo Baumann

Ainda sobre a reconstrução de imagens com o propósito


de recuperar a imagem plana do filme em coordenadas espa-
ciais, um dos métodos é o DLT (Direct Linear Transformation), 9
que não exige câmeras métricas (aquelas que possuem os
parâmetros de orientação interna conhecidos). Parâmetros
internos e externos podem ser recuperados analiticamente,
isto é, as coordenadas (x,y,z) determinam a projeção da
câmera: 2 ângulos determinam a direção das câmeras e 1 Quadro
analisado
ângulo determina a direção de um feixe de raios provenientes
de um objeto no espaço. São duas câmeras que focalizam
um mínimo de 6 pontos de referência, com coordenadas espa-
ciais conhecidas, não coplanares e que devem envolver todo Coordenadas
Quadro x1. y1
o espaço a ser ocupado pelo objeto. Usa-se, portanto, um
··sistema de referência espacial". ou calibrador, de dimensões
conhecidas, para realizar a calibragem das câmeras. Através
Coordenadas espaciais
de rotinas fotogramétricas é possível corrigir as necessidades X, y, Z
de reconstrução para a determinação das coordenadas es-
paciais.
O método utiliza 11 coeficientes, determinantes de
Figura 2. Etapas para determinação de coordenadas tridimensionais
orientações internas e externas para o sistema câmera-objeto,
segundo o método DLT. Adaptado de Amadio 5
e novas referências são obtidas a partir dos 6 pontos de
referência (calibrador), cujas coordenadas (x,y,z) são conhe-
cidas. Logo são 12 equações, 2 para cada ponto, referentes Essas coordenadas reais podem ser então utilizadas para
à orientação das 2 câmeras, portanto teremos 22 coeficientes. o cálculo da velocidade e aceleração, o que é feito pela
Assim, utilizando-se software específico, estas coordenadas diferenciação numérica dos dados. A diferenciação de dados
digitalizadas podem ser transformadas em coordenadas do experimentais e111' biomecânica tem enfrentado grandes difi-
espaço euclidiano real, corrigindo-se as distorções provocadas culdades devido ao ruído destes dados. A literatura cien-
pela(s) câmera(s) ou a projeção planar do movimento pelo tífica tende para o uso de rotinas matemáticas específicas
método da transformação linear direta, DLT, cujas etapas para redução de'ruídos, por exemplo através do uso da rotina
estão metodologicamente descritas na Figura 2. matemática spline quíntica. 10
46 Amadio et oi.

A dinamomet ria engloba todos os tipos de medidas detectada por eletrodos colocados na superfície da pele
de força (e pressão).4.5.~> As forças mensuráveis são as forças sobreposta ao músculo, e daí observa-se o início c o fim
externas, transmitidas entre o corpo e o ambiente. De par- da ação muscular em movimentos, posturas, ou seja, o padrào
ticular interesse são as forças de reação do solo transmi- temporal dessa inervação/at ivação. 5 · 6 Esses sinais colctados
tidas na fase de apoio em atividades quase-estáti cas ou podem ser influenciado s, entre outros fatores, pela velo-
dinâmicas. Juntamente com a constante peso corporal, essas cidade de encurtamen to e alongament o muscular, grau de
forças de reação do solo são, geralmente, a causa de qualquer tensão, fadiga e atividade reflexa. Depois de esses sinais
alteração do movimento do centro de gravidade. O instru- eletromiográ ficos serem amplificados , podem ser processados
mento básico em dinamometr ia é a plataforma de força. que para comparação ou correlação com outros sinais eletro-
mede a força de reação do solo e o ponto de aplicação desta fisiológicos ou grandezas biomecânica s. Segundo Winter. 1
força. A dinamometr ia mede a ação deformadora da força o motivo para monitorar o potencial de ação muscular é poder
sobre os corpos através de um método direto onde se deter- relacioná-lo com algumas medidas da função muscular. como
minam as forças externas que são pré-requisito s necessários tensão. força, estado de fadiga e. conseqüente mente, o meta-
para o cálculo das forças internas (força muscular, força bolismo muscular e recrutament o de elementos contráteis.
ligamentar e forças articulares). entre outros parâmetros.
Por outro lado, a antropomet ria se preocupa em deter-
minar característic as e propriedades do aparelho locomotor, Consideraç ões sobre Modelos na Determinaç ão
como as dimensões das formas geométricas de segmentos, de Forças Internas
distribuição de massa, braços de alavanca, posições arti- O desenvolvim ento de um modelo mecânico para a
culares etc., definindo então um modelo antropométri co con- estrutura biológica do corpo humano ou de seus segmen-
tendo parâmetros necessários à construção de um modelo tos. com o objetivo de determinar parâmetros internos desta
biomecânico da estrutura analisada. Algumas das variáveis estrutura (forças musculares, por exemplo) em situação dinâ-
que podem ser calculadas são: (a) propriedade s do bioma- mica ou estática, é altamente complexo. devido à intrincada
rerial- resistência dos componente s do aparelho locomotor, natureza do fenômeno a ser modelado. Então, o modelo
elasticidade, deformação e limite de ruptura; (b) cinéticas- utilizado para a descrição deste fenômeno, que seria por
momento de inércia de segmentos corporais; c) centro de demais complexo, é simplificado , podendo compromete r
roração articular, origem e inserção muscular, comprimento a exatidão ou resolução de parâmetros da mecânica. 1' Se-
e área de secção transversa nutsculw~ braços de alavan- gundo Chao, 3 os segmentos dos membros do corpo humano
ca da musculatura . podem ser imaginados como pêndulos compostos com muitos
Densidade. distribuição de massa corporal, proprie- graus de liberdade. Porém, a geometria anatômica complexa
dades inerciais, centro de gravidade, momento de inércia e a falta de total conhecimen to da teoria de controle neuro-
são característica s antropométri cas a partir das quais a maioria muscular tornam o equacionam ento e análise da atividade
dos dados são determinado s a partir de estudos cadavéricos. humana um desafio para biomecânic a moderna. O desen-
Os métodos analíticos são os mais utilizados, caracterizand o- volvimento de modernas técnicas para quantificar o movi-
se por modelos do corpo baseados em dados antropométri cos mento humano e a computação têm proporciona do análises
do indivíduo. portanto medida direta, in vivo. Assim. os méto- e modelament os mais completos. No entanto, em geral, a
dos analítico-ma temáticos como de Hanavan 11 realizam sim- biomecânica ainda é uma ciência fenomenoló gica. restri-
plificações em função do modelo físico-matem ático, bem ta à descrição do movimento observado e das forças envol-
corno permitem interpretaçõ es dos dados de maneira con- vidas.
trolada e segura quanto à aproximaçã o estatística. Embora o modelo mecânico em questão seja regido
Finalmente, há a eletromiogr afia, que se caracteri- pelas mesmas leis físicas. a abordagem e consideraçõ es na
za pelo registro das a ti v idades elétricas associadas às con- biomecânica , tais como simplificaçõ es e condições de con-
trações musculares. Diferentem ente dos métodos acima torno, e a determinaçã o dos parâmetros experimenta is de
mencionado s, que determinam propriedade s mecânicas, a entrada mencionado s anteriormen te diferenciam bastante
eletromiogr afia indica o estímulo neural para o sistema a metodologia utilizada, se comparada à utilizada em Ciências
muscular. Como um parâmetro de controle, a eletromiogra fia Exatas. A Figura 3 apresenta um modelo de segmento inferior
é muito importante para a modelagem do sistema dinâmico para a determinaçã o de forças internas a partir de dados da
neuro-múscu lo-esqueléti co. O resultado básico é o padrão cinemática e da dinâmica, conforme proposto por Baumann
temporal dos diferentes grupos musculares sinérgicos ativos e Stucke. 13
no movimento observado. A discussão de dois pontos importantes pode colaborar
Portanto, por meio da eletromiogra fia determina-se de na escolha dos métodos de medidas biomecânica s: o ob-
maneira direta a atividade muscular voluntária através do jetivo da medição e qualidades do processo de medição.
potencial de ação muscular. A inervação muscular trans- Winter 1 destaca os seguintes critérios de avaliação dentro
mite os potenciais cuja atividade elétrica média pode ser dos processos de medição em biomecânica : medida livre
Vo\. 3 No. 2. 1999 Introdução à Análise Biomecânica do Movimento Humano 47

de efeito retroativo e precisão da medida. Na biomecânica, ração, devido aos diversos fatores que influenciam este
a medição direta dos parâmetros de movimento descritos rendimento. Por isso é preciso que modelos mais realísticos.
e analisados é muito limitada. Essa limitação é determinada relacionados ao movimento humano, sejam desenvolvidos,
pela estrutura biológica complexa do corpo humano, pela para que as equações do movimento entrem em concordância
técnica dinâmica do movimento e pelas possibilidades téc- com os modelos utilizados.
nicas dos aparelhos de medição. Por esses motivos, a grande A partir de modelo de cálculo utilizamos os momentos
maioria das determinações baseia-se em modelos físico- de rotação nas articulações e, com base nesta relação, de-
matemáticos dos parâmetros de movimento utilizando me- terminamos o momento da força muscular e também a força
didas indiretas. articular, baseados na teoria de que o "momento da força
A formulação de modelos físico-matemáticos é atual- externa" é compensado através do "momento das forças
mente uma das principais tarefas da biomecânica. Cada internas". Assim:
simulação do movimento é uma simplificação esquemática
do movimento complexo. Os modelos biomecânicos da mus- Momento das forças externas = Momento das forças internas
culatura esquelética ainda representam um desafio para a
biomecânica. Forças e momentos de inércia, assim como A origem destes momentos articulares baseia-se no
forças articulares, não podem ser medidos diretamente, o princípio mecânico da conservação de movimento que nos
que dificulta enormemente a sua determinação. Os inúmeros permite formular:
músculos e tendões que tomam parte em um movimento
dificultam ainda mais a solução do problema, porque há um L Momentos de rotação externa + L Momentos de
número maior de elementos desconhecidos em relação ao rotação interna = Zero
número de equações. Uma redução deste problema pode-
ria ser alcançada através de dados obtidos por eletromiografia Assim,
ou com a ajuda de outros métodos de medição, diminuin-
do assim o número de elementos desconhecidos. L Momentos de rotação interna + Momento articular = Zero
O desenvolvimento de modelos para a análise do mo-
vimento, particularmente da sobrecarga articular nos mo- logo a força articular transferida da articulação distai para
vimentos, requer uma adaptação do sistema anatômico através a proximal será determinada por:
de investigações comparativas, dependendo de suas funções
em relação ao segmento analisado. Análises segundo um L Forças externas + L Forças musculares + L Forças
modelo exigem um cuidadoso resumo dos dados c interpre- ligamentos = Força articular

Figura 3. Modelo de segmento inferior para a determinação de forças internas a partir de dados da cinemática e da dinâmica. Adaptado
de Baumann & Stucke. 13
48 Amadio er ai. Rev. Bras. Fisior.

As forças externas e internas que agem na articulação em biomecânica, colaborando, assim, para o progresso,
do tornozelo e do joelho indicam as seguintes equações, no modernização e automatização, sendo um grande auxílio
plano sagital, para o cálculo da grandeza da sobrecarga da na análise científica do movimento humano.
articulação:
Aplicação Prática- Biomecânica da Locomoção Humana
L Ff = B -(-mf * r) - (mf * g) + MF + GF = O Ilustrando o presente trabalho são mostrados alguns
resultados práticos de investigação biomecânica, em que se
L Fu = B- (-mf * r)- (mu *r)+ MF- (mf * g)- procurou desenvolver uma análise de movimento, discutindo-
(mu * g) + GF = O se aspectos relacionados à complexa investigação do movi-
mento humano. Apresentamos uma discussão sobre aspectos
em que: selecionados da locomoção humana, classe de movimentos
L Ff, L Fu: soma das forças que agem sobre pé e perna, muito comum no comportamento motor humano, compos-
respectivamente ta por movimentos integrados e complexos de seus segmentos.
B: força de reação do solo Locomoção é toda ação que move o corpo de um animal
mf * r; mu * r: força de inércia do pé e perna, respecti- através do espaço aéreo, aquático ou terrestre. 14 Ela é atingida
vamente através de movimentos coordenados dos segmentos corporais
mf * g; mu * g: (força peso do pé e perna, respectivamente) numa interação dinâmica das forças internas (muscular,
MF: força muscular articular) e forças externas (inercial, gravitacional. friccionai
GF: força articular etc.). Embora duas pessoas não possam se locomover de
maneira idêntica, existem certas características da locomoção
As pesquisas em biomecânica ainda são carentes de que são universais, e estes pontos similares servem como
padronizações metodológicas, assim como são incompletos base para a descrição cinemática, eletromiográfica e dinâmica
os modelos utilizados para a formação de teorias com expli- da marcha. Existem parâmetros biomecânicos que podem
cação causal do movimento. Desta forma, fica restrita a nos indicar as causas de tal movimento, como os padrões
possibilidade de comparações entre resultados de diversos de contrações musculares pela elctromiografia, cálculos de
autores e ainda há o risco de utilização de modelos físico- momentos de força e potência. Pode-se calcular ainda os
matemáticos não adaptados às características do movimento efeitos que esse movimento provocou no meio ou no aparelho
em estudo. Entretanto, com o acelerado desenvolvimento locomotor, tais como variáveis cincmáticas, comprimento
da ciência e da tecnologia, particularmente na microele- e cadência da passada, c a força reação do solo. 15 A Figura
trônica, criou-se uma situação em que sempre surgem novas 4 mostra as curvas da função força x tempo para andar,
possibilidades e opções de procedimentos na elaboração e corrida lenta c corrida rápida considerando-se as compo-
operação de dados. Estas instruções estão sendo utilizadas nentes horizontal c vertical.

Força [kN]
3

Andar Corrida lenta Corrida rápida


2

Fx
,, '
o-r~------~~--~~----~~--
_z----- __,,-.,,-,-,7---~-
•'..'
-~:~,--~-------.
: 1 , :, Tempo
! v" :,
:,
;,

-1-
,~
..- - - - 0,72 s - - - - - . _j'0.13 si._
Figura 4. Curvas da função força x tempo para andar, corrida lenta e corrida rápida considerando-se as componentes horizontal (Fx) e vertical
(Fz). Modificado de Schwirtz, Gross & Baumann, citados em Willimczick. 1ó
Introdução à Análise Biomecânica do Movimento Humano 49
Vol. 3 No. 2. 1999

Dentre os estudos biomecânicos que buscam descrever mínios do comportament o humano. Assim, à medida que
indicadores do comportamento das variáveis dinâmicas du- uma criança cresce e se desenvolve, as modificações somá-
rante a marcha, tem-se usado muito a força reação do solo ticas quantitativas em conjunto com os processos de dife-
como componente descritiva primária, que indica a sobrecarga renciação estrutural produzem uma resposta típica para o
no aparelho locomotor durante a fase de apoio, pois ela reflete andar. que representa um padrão motor característico de cada
a somatória dos produtos da aceleração da massa de todos grupo etário. Conseqüentem ente, as caraterísticas biome-
os segmentos do corpo. L\ cânicas do padrão do andar podem ser descritas a partir de
Esta variável biomecânica mostrou ter um comporta- uma perspectiva ontogênica.
mento padrão constante e repetitivo, independente das con- Analisando a curva da força reação do solo c suas
dições do solo, idade dos sujeitos ou velocidade da marcha. componentes em diferentes estágios do desenvolvimen to
Esse padrão apresenta determinadas características que podem humano, verifica-se que há algumas diferenças significa-
ser alteradas devido a condições ambientais ou do sujeito, tivas nestes valores, muito embora o padrão da curva per-
como a presença de uma patologia, por exemplo sua for- maneça constante.
17
ma geral, porém é constante e regular, como mostrado na Bernstein 1x descreve o comportamento da força de rea-
Figura 5. A curva apresenta basicamente dois picos de força ção do solo, tanto vertical quanto horizontal, em crianças
máxima: o primeiro referente ao ataque do calcanhar no solo de 2 a 5 anos, Sua pressuposição básica é de que as com-
e o segundo referente à propulsão do antepé à frente, como ponentes verticais refletem o esforço do organismo para
ilustra a figura a seguir. O valor destes picos varia entre 0,5 mover-se contra a ação da gravidade, enquanto a ativida-
e l ,5 vez o peso corporal, e tem uma dependê)1cia direta da de muscular coordenada pode ser principalmente interpretada
velocidade do movimento. Também apresenta, entre estes a partir das curvas longitudinais. Assim. ocorre um gradual
picos de força. uma redução da força vertical máxima para ajuste na magnitude das curvas dinâmicas e o desenvolvi-
uma força mínima em função da distribuição da força em mento completo destas componentes do andar já está presente
uma área maior de contato (todo o pé) durante.a fase de apoio por volta do quinto ano de vida.
totaL e também em função da eficiência do movimento da Uma característica da curva da força reação do solo,
observada em idosos e demonstrada por Serrão & Arnadio, ~
1
perna livre.
diz respeito à ocorrência de uma menor redução do primeiro
S3 Andar no plano pico da força vertical para a força mínima. Esse fato está
diretamente relacionado com a técnica do movimento quanto
cv ~ 11,8%
à variação angular da perna livre, diminuindo o momento
inercial de rotação do membro inferior e, conseqüenteme nte.
100 diminuindo a redução desta força vertical máxima. Isto implica
a redução das cargas a que o aparelho locomotor está exposto.
A Figura 6 mostra a relação força x tempo para as forças
verticais de reação do solo no andar e no correr de um idoso
50 calçado com sapatos tipo tênis e descalço. 19
Assim, pode-se resumir as alterações no padrão da curva
Força vertical (%pc)
da força reação do solo em função do aumento da idade em:
aumento do intervalo de duplo apoio (parâmetro temporal)
e diminuição da taxa de redução do primeiro pico da for-
o 20 40 60 80 100
ça verticaL Essas alterações podem ser consideradas corno
Fase de apoio (%)
compensações para as perturbadas condições de eq ui I íbrio
do idoso no sentido de recuperar a estabilidade na locomoção,
Figura S. Representação do comportamento médio e dos desvios-padrão isto é, existe a diminuição da eficiência do sistema sensorial,
da componente vertical (Fz) da força reação do solo durante o andar.
além de perdas ósseas e musculares, que acentua as con-
Adaptado de Lobo da Costa e Amadio. 17
dições de instabilidade.
Através da análise do comportamento dinâmico do andar
Como medida da variabilidade total dos perfis médios são obtidas muitas informações acerca desta importante
para todas as tentativas de um indivíduo tem-se utilizado habilidade. Assim como todos os movimentos, o andar pode
o coeficiente de variabilidade (CV). que pode ser calculado ser retratado, quanto à força de reação do solo. em três
segundo Winter 15 e representa os desvios-padrão ao longo componentes espaciais: urna vertical e duas horizontais
do período de apoio como porcentagem da curva média. (médio-lateral e antero-posterio r). Dentre essas três com-
De maneira geral, o comportamento motor apresentado ponentes, a vertical se destaca por sua magnitude, figurando
por uma criança, adulto ou idoso é o resultado de uma in- como uma das principais influenciadoras da sobrecarga do
teração de diversos fatores que compõem os diversos do- aparelho locomotor. 5
50 Amadio et a/. Rev. Bras. Fisiot.

anos de idade, crescendo mais lentamente a partir desta idade


2000 2000 e estabilizando-se aos 3-4 anos. A duração da fase de apoio

·~·····01\K
duplo provavelmente também comporta-se de maneira a se
reduzir gradualmente com o aumento da eficiência do andar,
1000 1000
já que é um indicador da necessidade de estabilidade em
condição dinâmica.
o o Já em idosos, Kaneko et alY e Murray et a/. 24 veri-
t [ms] ficaram que, em idades compreendidas entre 50 e 87 anos,
o tempo de duplo apoio foi maior do que em uma amos-
o 500 1000 o 250 750
tra de indivíduos adultos. tanto em cadência natural quanto
em cadência acelerada. Tal fato pode implicar um compor-
[I] [li]
tamento ajustado para obter maior segurança e equilíbrio
durante a marcha.
F, [N] F, [N] t Apesar da grande sensibilidade desses parâmetros tem-
2000
~ 2000 porais a mudanças desenvolvimentistas , se considerados os

l
mesmos fatores em relação à duração do ciclo da marcha,
1000

o
M(i) PC:
:000
estes apresentam uma alta estabilidade e, portanto, podem
ser considerados como fatores descritores da marcha. 17 Assim,
valores relativos para o tempo de apoio simples estão em
torno dos 40%. 20% para o duplo apoio e 40% para a fase
t [ms] de balanço, independentemente da etapa de desenvolvimento,
velocidade de deslocamento ou tipo de piso, excetuando-
o 500 1000 o 250 750 se apenas as condições patológicas.
Outra categoria de variáveis empregadas na descrição
Figura 6. Relação força x tempo para as forças verticais de reação
do solo no andar (v = 1.4 m/s) (I) e correr (v= 2.4 m/s) (li) com um e análise da locomoção humana são os padrões de atividade
idoso calçado com sapatos tipo tênis (a) e descalço (h), para FPA (68,2 elétrica muscular. adquiridos através da eletromiografia. A
anos. 68,0 kg. 167,2 em. n = 6), PC =peso corporal. Adaptado de análise dos padrões da atividade eletromiográfica permi-
Serrão & Amadio. 10 te acesso às sinergias musculares e é componente essencial
para o estudo biomecânico da locomoção humana. Assim,
a investigação de sinergias musculares tem sido rotina nos
Entre os descritores do andar mais comumente men- relatos científicos.
surados estão os parâmetros temporais. Alterações nos fatores Sinergias musculares podem ser identificadas através
temporais básicos para o andar têm sido descritas em função da ativação e coativação de músculos e seus relativos padrões
de manipulações na velocidade de deslocamento ou dife- espaço-temporais e têm importante função na otimização de
renças na estatura dos sujeitos. 20· 21 padrões de movimento. 5 Ainda é importante destacar que a
Cada fase do andar é realizada através de uma série redundância característica do sistema motor torna possível
de funções músculo-esqueléticas, combinadas de acordo com a realização de um mesmo padrão cinemático através de di-
objetivos específicos de progressão. Em seu conjunto, essas ferentes combinações de atividade muscular, o que caracteriza
funções podem ser: sustentação da parte superior do cor- o sistema motor como altamente flexível e adaptável. Na
po (prevenindo colapso do membro inferior durante o apoio), Figura 7, têm-se os perfis da atividade eletromiográfica do
manutenção da postura ereta e equilíbrio do corpo todo, m. vastus lateralis, m. biceps femoris c m. gastrocnemius
controle da trajetória do pé (para garantir uma passagem para o andar.
segura sobre o chão e um contato inicial suave), geração Na transição do balanço para o apoio, ou seja. na fase
de energia mecânica (para manter a velocidade de deslo- de acomodação do peso, observa-se uma atividade aumentada
camento ou incrementá-la) e absorção de energia mecânica dom. vastus lateralis, coordenada à atividade dom. biceps
(para o controle de choque e da estabilidade; ou para re- femoris, resultando em uma sinergia extensora que garante
dução da velocidade de deslocamento). 15 a estabilidade do joelho durante o instante do impacto com
O andar pode ser considerado o maior desafio vencido o solo. Nesta fase, o m. bicepsfemoris auxilia na extensão
pela criança ao longo de seu desenvolvimento motor. 15 As do quadril, através de atividade concêntrica, e tende a flexio-
dificuldades geradas pela altura do centro de gravidade e nar o joelho. Às atividades flexoras de joelho dom. biceps
pela condição de apoio sobre um pé enquanto ocorre o femoris e do choque mecânico no instante do contato con-
balanço da perna livre têm por conseqüência um longo pe- trapõe-se a contração excêntrica do m. vastus lateralis,
ríodo de amadurecimento deste padrão. Em relação à du- estendendo o joelho. A co-contração de m. vastus lateralis
ração do apoio simples, Sutherland et al. 22 observaram uma e m. biceps femoris no início do apoio está de acordo com
tendência de rápido crescimento desta variável até os 2,5 outros autores. 25 · 26
YoL 3 No. 2. 1999 Introdução à Análise Biomecãnica do Movimento Humano 51

Andar do plano

V>
:;:,
apoio balanço
E
'"
c
u
g
V>

"'Ol
~ o
0,3

V>
2-·~ 0,2
o
"E
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~~
O, 1

0,00

0,20

0,15
V>
.2~
V>
~ O, 10
'l: ~
~~
0,05
0,00
o 20 40 60 80 100 53
Duração do ciclo (%)

Figura 7. Perfis médios e desvios-padrão de envelopes lineares para a a ti vidade eletromiográfica de m. vastus lateralis, m. biceps femoris
e m. gastrocnemius durante o andar. Adaptado de Lobo da Costa & Amadio. 17

Sinais eletromiográficos processados através de re- quase todas as manifestações do movimento humano. prin-
tificação de onda completa e filtros do tipo passa-baixo, cipalmente nos gestos esportivos. A velocidade característica
como os aqui apresentados, refletem o impulso neural à da corrida condiciona uma resposta de força bastante di-
musculatura esquelética durante o curso de um movimento 15 ferenciada quando comparada ao andar. A Figura 8 demonstra
e aproximam a análise das possíveis causas do movimento. essas diferenças dinamométricas e eletromiográficas entre
Este procedimento fundamenta-se na noção de que o sistema o andar e o correr.
nervoso precisa ser flexível o suficiente para acomodar adap- Em função da velocidade característica da corrida, o
tações no padrão locomotor, produzindo um conjunto de aparelho locomotor é exposto a forças maiores num intervalo
padrões de atividade muscular fásica com variabilidade in- de tempo menor durante sua prática, caracterizando uma
trínseca. condição de impacto maior do que a gerada durante o an-
As diversas situações da vida cotidiana, como os di- dar (maior coeficiente de crescimento da força passiva). Se-
ferentes terrenos, as inclinações na superfície e os degraus gundo Nigg, 2 x a magnitude da força vertical pode atingir de
de escadas, exigem constantes adaptações nas caracterís- duas a quatro vezes o peso corporal, para o caso de corridas
ticas do andar. desde seus parâmetros temporais, até os dinâ- recreativas (jogging) e de velocidade, respectivamente. Tal
micos e de atividade muscular, que precisam ser facilmente aumento na magnitude das forças é seguido por uma dimi-
reelaborados pelo sistema de controle motor, já que o cum- nuição do tempo de apoio simples, que atinge valores pró-
primento da função locomotora nas diferentes demandas ximos a 0,03 s durante a corrida. Tais considerações acerca
ambientais é atingido independentemente de experiência das características dinâmicas da corrida não podem ser des-
prévia com a situação, o que garante manutenção da pos- consideradas durante sua prescrição, quer como componente
tura vertical e a progressão do corpo. de programas de atividades físicas ou de reabilitação. Pessoas
O correr é também uma habilidade fundamental e pode sadias. em virtude da eficiência de suas estruturas osteo-
ser considerada uma variação do andar. Dentre as diferenças mio-articulares, podem trabalhar seguramente com este im-
básicas entre as duas habilidades se destacam a velocida- pacto, o que pode não ser possível em indivíduos sedentários,
de, significativamente maior no correr, e principalmente a idosos ou portadores de doenças degenerativas.
fase de duplo apoio, que só ocorre durante o andar e é subs- Ainda com relação à técnica da corrida, devemos con-
tituída pela fase aérea, que provavelmente é o único indi- siderar duas técnicas de movimento que podem influenciar
cador seguro para distingui-los. A importância do correr é a distribuição de cargas ao aparelho locomotor: (a) cotTedores
significativa, uma vez que esta habilidade está presente em de retropé (constituem-se em aproximadamente 80°k) e (b)
52 Amadio et a/. Rev. Bras. Fisiot.

corredores de antepé (20% ), de acordo com Baumann. 29 Ao ambas as situações de sobrecarga em função, portanto. das
observarmos a curva força de reação do solo em função do técnicas de movimento. O corredor de antepé apresenta uma
tempo, os corredores de retropé e os de antepé apresentam carga no tendão de Aquiles, aproximadamente 25-30% maior
comportamentos diferentes, os primeiros com e os segundos se comparado ao corredor de retropé. A mesma relação é
sem a presença de um pico de força inicial. observada para a força articular, considerando-se ainda a
O impulso é aproximadamente o mesmo, pois ambos mesma articulação. Do mesmo modo, os valores para a força
apresentam o mesmo peso corporal e deslocam-se à mes- de compressão articular são cerca de 9 vezes o valor do peso
ma velocidade. Entretanto, as forças articular e muscular corporal. A Figura 9 ilustra o cinegrama e as forças rea-
na articulação do tornozelo indicam enormes diferenças entre ção do solo.

[kgfl 200 [kgfl 350 T 2000 [rnV]


600 [mVl m. vastus lat.
m. vastus lat.
100 300 1000

i 50 200 250 o
o 200 -1000
100
-200 -2000
151
-400
100 -3000
50
-600
-4000
50
-800
o ~ -5000
o
1750 2000 2250 2 500 2750 3000 3250 3500 3750
750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 2500
[ms] [msj

A B

[kgfl 200 [kgfl 350 2000 [mV]


m. gastrocnemius lat. 500 [mVl m. gastrocnemius lat.
300 1000
250
150
o 250 o
-250 200 -1000
100
-500 -2000
151
-750
50 100 -3000
-1000

5~ t
Fvert
-4000
-1250
o
-5000
1750 2000 2250 2500 2750 3000 3250 3500 3750 750 1000 1250 1500 17502000 2250 2500
[rm] [n>S]

Figura 8. Relação força x tempo para a componente vertical de reação do solo e atil'iclacle muscular param. vastus lateralis em. gastrocnemius
para o andar (A) e para o correr (8 ), para FK (20.2 anos. 74,5 Kg, 178,2 em). Adaptado de Bruniera & Amadio 27

Assim como nas demais formas de locomoção, os efei- forças de magnitudes que podem superar 20 vezes o peso
tos do impacto podem ser amenizados através da manipulação corporal do saltador, e que acontecem num intervalo de tempo
dos fatores externos ao movimento, como o uso de calçados muito pequeno. Em virtude da magnitude da força c do pe-
c piso apropriados. 2 x As propriedades viscoelásticas des- queno tempo de contato, o salto produz gradientes de cres-
tes materiais permitem que o impacto seja reduzido, ain- cimento da força vertical bastante expressivos, de modo que
da que o processo de cstocagem-armazcn amento de energia a fase passiva assume forte predominância no movimen-
não seja significativo. to. Desta forma, as grandes forças geradas durante o sal-
Como o andar e o correr, o saltar é uma habilidade to são quase exclusivamente aplicadas na estrutrura
fundamental presente em modalidades atléticas específicas ósteo-articular do aparelho locomotor. Dada essa caracte-
ou até mesmo compondo outras modalidades esportivas, rística, os cuidados quanto à prescrição da atividade e da
como o basquetebol ou o voleibol. manipulação com fatores externos. recomendados para o
Em função de sua velocidade acentuada, marcadamente andar e o correr, devem ser ainda mais acentuados para o
superior à do andar c do correr, durante o salto são produzidas saltar.
Vol. 3 No. 2. 1999 Introdução à Análise Biomecânica do Movimento Humano

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