Você está na página 1de 14

SUICÍDIO E EUTANÁSIA: UMA QUESTÃO DE ÉTICA

Por Alexandre A. P. Cardoso


RESUMO
Este trabalho trata de uma pesquisa sobre a relação entre suicídio e eutanásia
em contraste à ética cristã. Tem como ponto de partida o sexto mandamento do
decálogo. Seu objetivo é esclarecer dentro da perspectiva bíblica, como
precedente da ética cristã, o entendimento correto entre a relação vida, morte e
os direitos e considerações quanto as mesmas. Para tanto, este trabalho
conceitua, analisa e considera pontos vitais desta relação.

PALAVRAS-CHAVE
Vida, Morte, Ética Cristã, Suicídio, Eutanásia, Mandamento
ABSTRACT
This paper deals with research on a relationship between suicide and euthanasia
in contrast to Christian ethics. It has as its starting point or sixth commandment
of dialogue. Its purpose is to clarify within the biblical perspective, as a precedent
of Christian ethics, or the correct understanding between the relationship life,
death and rights and considerations regarding them. Therefore, this conceptual
work analyzes and considers points of this relationship.

KEY- WORDS
Life, Death, Christian Etichs, Suicide, Euthanasia, Commandment
INTRODUÇÃO
A pesquisa iniciará por expor brevemente o sexto mandamento do
decálogo. Após isso, mostrará, também brevemente, a perspectiva bíblica, como
um todo, sobre o dilema de tirar vidas ou não. Além disso, outra perspectiva
abordada será a do Catecismo Maior de Westminster, no que diz respeito ao
sexto mandamento. O trabalho seguirá por definir suicídio e eutanásia bem como
suas ramificações. Também definirá o conceito de ética e de ética cristã.
Após tais abordagens e definições, que contemplam sua seção central,
ao término, as mesmas corroboram para sua conclusão, relevância e aplicações.
Contrastando, portanto, o antagonismo entre as práticas do suicídio e eutanásia
em relação à ética cristã.

1. Não matarás
O sexto mandamento [não matarás1], contido no decálogo, deixa muito
claro que o ato de tirar a vida é imoral. Isso pode ser afirmado dado ao fato de
que os Dez Mandamentos dados por Deus ao povo, por meio de Moisés, são
mandamentos de seguimento moral. Assim, em suma, são proibições e ordens,
que norteiam o comportamento dos homens para com Deus e uns para com os
outros.
Um fator que colabora para a delimitação moral do decálogo é o fato de
que há outras negativas que, em semelhança ao sexto mandamento, proíbem
os homens a fazerem coisas que, notoriamente, são ruins e prejudiciais aos
outros. Assim, pode ser visto que, como é proibido matar, é também proibido
furtar, cobiçar, adulterar e até mesmo mentir quanto ao próximo.
Esse mandamento, portanto, embora ainda seja mais bem explanado no
decorrer do trabalho, é o ponto de partida para toda a construção de pensamento
a ser exposta no mesmo. Ele é a premissa, o pressuposto básico para toda a
discussão.
Assim, a indagação “se é imoral tirar vidas, como justificar as vidas que
são tiradas em diversas situações relatadas pela própria Bíblia?” torna-se uma
“provocação” à discussão e um ponto proveitoso para definir e sanar a discussão
sobre o suicídio e a eutanásia. Há uma controvérsia? A Bíblia tem erros?

1 Ex.20.13
Por estas razões, é necessário interpretar a Escritura e ver qual é o seu
próprio entendimento sobre a questão. É preciso, de forma objetiva, aplicar os
princípios básicos de interpretação, de contextos e situações para saber como o
mandamento deve ser cumprido e no que implica não o descumprir.

1.1. Interpretação Bíblica


A primeira coisa a saber é que, de fato, a Bíblia aprova a morte em
algumas questões, como bem aponta Norman Geisler ao dizer que há vários
casos na Escritura em que tirar vidas não é considerado moralmente errado,
como [...] tirar vidas numa guerra justa contra um agressor mau, [...] quanto ao
homicídio acidental e [...]a pena capital instituída por Deus através de Noé e
repetida por Moisés.2
Dessa forma, fica claro que o que o sexto mandamento está condenando
é o assassinato e não “simplesmente” matar. Ele condena o ato de tirar uma
vida, sem que seja de forma aprovada por ela mesma.
Quanto a isso, a tradução mais apropriada, por exemplo, traduz o sexto
mandamento por “não assassinarás”. Uma vez que o verbo “‫ רצח‬- ratsach”,
usado no sexto mandamento, conforme sugere o The Hebrew and Aramaic
lexicon of the Old Testament, é apontado como um verbo que descreve o ato de
esmagar, assassinar violentamente.3 Portanto, traduzir desta forma enfatiza
melhor o que, de fato, expressa o mandamento. Isto é, que ele não está contra
a tirar uma vida por razões justificáveis, e sim por tirar uma vida de forma brutal
e desnecessária. Isso, automaticamente, significa que a própria Escritura que
condena o assassinato, aponta em quais situações tirar uma vida é justificável.
Além disso, esse apontamento, certamente, restringe e delimita a escolha
humana sobre as razões que julgam ser justificáveis para tal ato. Em outras
palavras, a própria Bíblia, que condena o assassinato, determina em quais
circunstâncias tirar a vida é aceitável ou justificável.

2 Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 171
3 Cf. KOEHLER, Ludwig, Walter Baumgartner, M. E. J. Richardson, e Johann Jakob Stamm. The
Hebrew and Aramaic lexicon of the Old Testament. Leiden: E.J. Brill, 1994–2000. Versão do
Logos Bible.
Mas, além da compreensão bíblica quanto ao sexto mandamento, bem
como a possibilidade de um ser humano tirar a vida do outro, é necessário ver o
entendimento desse mandamento em outras fontes. Isso, de maneira que o
mandamento em si seja exposto de forma mais abrangente. Assim, a Confissão
de Fé de Westminster (1643-1646) é de grande valia para apontar a amplitude
de sua proibição e inferir as “exceções” em relação a matar.

1.2. Interpretação do Catecismo Maior de Westminster


O Catecismo Maior de Westminster (1643-1646), como documento
histórico, pode apontar como o sexto mandamento, suas implicações e
inferências são vistas em um período tão distante do recebimento do decálogo.
Além disso, é necessário lembrar que esse documento não só expressa o
pensamento do século 17, mas também o das Igrejas Confessionais posteriores,
inclusive a de hoje.
Assim, quanto ao que o sexto mandamento exige aos homens ele expõe:

Os deveres exigidos no sexto mandamento são todo empenho


cuidadoso e todos os esforços legítimos para a preservação de nossa
vida e a de outros, resistindo a todos os pensamentos e propósitos,
subjugando todas as paixões e evitando todas as ocasiões, tentações
e práticas que tendem a tirar injustamente a vida de alguém por meio
de justa defesa dela contra a violência.4

Vejamos, agora, por partes. Primeiramente é dito que “os deveres exigidos no
sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos
para a preservação de nossa vida e a de outros”. Nessa declaração é preciso
notar que os esforços para não provocar uma morte, um assassinato, são
amplos. Isso, porque é dito que “todos” e “legítimos” esforços devem ser
tomados. Porém, a ênfase está no fato claro e objetivo de que esses esforços
devem ser empreendidos em razão da própria vida e da do próximo. Dessa
forma, de forma implícita, porém objetiva, o Catecismo mostra que o assassinato,
nos termos do sexo mandamento, pode ser cometido de forma autônoma, e não
só ao próximo.

4 Assembleia de Westminster, Catecismo Maior de Westminster, [s.d.].


Em segundo lugar, o Catecismo expõe que dentre os esforços para
preservar a vida deve-se “resistir a todos os pensamentos e propósitos,
subjugando todas as paixões e evitando todas as ocasiões, tentações e práticas
que tendem a tirar injustamente a vida de alguém por meio de justa defesa dela
contra a violência”. Essa constatação deixa claro que os meios não justificam os
fins, no que diz respeito a própria vida ou a vida do próximo. Isto é, que até
mesmo o ato de projetar ou ter a intenção de atentar contra a vida, quer seja
própria ou do próximo, precisam ser evitados. Além do mais, que todas as
possibilidades indiretas para esse atentado, bem como a por legitima defesa [que
tem autorização divina para a morte] precisa ser evitada, não deve ser algo
almejado.
Assim, conclui-se que matar o próximo e a si mesmo, fora dos motivos
justificáveis pela Bíblia, é expressamente proibido pelo sexto mandamento, uma
vez que caracteriza, não só morte, mas assassinato.
Em razão disso, é necessário ver, dentro da perspectiva bíblica, se a
prática do suicídio e da eutanásia são ou não morais. Se isso depende ou não
das circunstâncias as quais se cogita praticá-los.

2. O que é o suicídio
O suicídio é, objetivamente falando, o ato voluntário e intencional de matar
a si mesmo.5 Além disso, este livreto também aponta duas outras informações
importantíssimas para o caso. A primeira delas é que suicídio cruza todas as
fronteiras geográficas, raciais, sexuais, religiosas, culturais e sociais.6 E, em
segundo lugar, que o suicídio é erroneamente visto como uma solução
permanente para o que parece ser um problema ou uma série de problemas
pessoais insolúveis.7
Essas duas informações, analisadas, apontam que é a partir disso que,
possivelmente, a discussão de que o suicídio pode ser algo aceitável se baseia.
Ou seja, que há alguns precedentes que justificam esse ato de tirar a própria

5 Cf. Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 9
6 IDIBEM, p. 14
7 IDIBEM, p. 16
vida. Esse pensamento aprovativo é tão real e antigo que, conforme mostra o
Dicionário de Ética Cristã, os antigos estóicos defendiam, vigorosamente, o
direito do suicídio.8 Inclusive, até mesmo alguns cristãos [exceções] na história9
chegaram a defender o suicídio.
Assim, é importante pensar: existe, de fato, alguma justificativa para o
suicídio? Existe alguma forma para cometê-lo, que não pareça tão brutal? Há
como mascarar essa forma de infringir o sexto mandamento? A resposta é sim.
Existem “formas” de suicídio, que tem por finalidade justificar tal ato.

2.1. Tipos de suicídio


Algumas categorias de suicídios surgiram no decorrer do tempo. Nem
todas prestam a justificar esse assassinato de si mesmo. No entanto, todas, sem
exceção, apontam para o total desprezo à lei de Deus.
Assim, ao uma, dentre as muitas categorias existentes de suicídio, precisa
ser exposta. Isto, dado ao fato de que ela é fundamentada e elaborada para
corroborar para aceitação do mesmo.

2.1.1. Suicídio assistido ou Suicídio auxiliado por um médico


O suicídio assistido é aquele que ocorre quando alguém provê os meios
para que outra pessoa tira a própria vida ou torne possível que o suicídio
ocorra.10 Já o suicídio auxiliado por um médico é, à semelhança do suicídio
assistido, aquele em que o médico provê essa assistência.11
Assim, embora assistido ou auxiliado, a pessoa que o comete continua
sendo, em primeira instância, o responsável pelo assassinato de si mesmo. O
que é bastante diferente da eutanásia.

8 Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 562
9 IBDEM, p. 562-563
10 Cf. Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 18
11 IBIDEM, p. 18
3. O que é eutanásia
A eutanásia, conforme definido em um primeiro aspecto, quanto ao termo,
tendo na própria palavra a referência de um processo em que a morte do
indivíduo é intencionalmente trazida por ele ou outros.12 Em um segundo
aspecto, o termo é amplo o suficiente para também incluir suicídio e suicídio
assistido por um médico assim como a suspensão do tratamento de sustento à
vida.13
Além disso, no Dicionário de Ética Cristã, há o seguinte apontamento
quanto à eutanásia, em sua definição: “a eutanásia é o ato de matar uma pessoa
que esteja sofrendo de doença incurável e excessivamente dolorosa”.14 Assim,
é importante notar que o autor destaca um pressuposto nessa definição. Esse
pressuposto é é o estado daquele em que a vida é tirada. Assim, o estado de
avançado ou doloroso de uma doença torna-se uma base “justificável” para a
prática da eutanásia.

3.1. Tipos de eutanásia


Dentro das definições dadas, deve-se notar que a eutanásia não é
necessariamente suicídio, mas, os suicídios assistidos ou auxiliados têm
aspectos dela. Essa é a primeira semelhança. A outra semelhança entre
eutanásia e o suicídio, propriamente dito, é que a eutanásia, com seus
pressupostos e justificativas, também atribui para si alguns termos ou “tipos”.
Estes referem-se ao tipo de envolvimento que os outros têm no ato de dar
término à vida da pessoa.15

12 IDIDEM, p. 24
13 IBIDEM, p. 25
14 Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 286
15 Cf. Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 25
3.1.1. Eutanásia Ativa
A eutanásia ativa é o ato de uma pessoa causar sua própria morte ou a
de outros.16 Ou seja, é o ato de procurar meios e executá-los objetivamente para
que a vida seja tirada.
Esse ato objetivo, direto, ativo, é o que diferencia a eutanásia ativa da
passiva. Ambas continuam sendo meios para tirar uma vida. Ambos procuram
meios para tais. No entanto, a ativa executa os meios encontrados para tirar a
vida, enquanto a passiva, conforme será visto, abstém-se de meios para
sobreviver.

3.1.2. Eutanásia Passiva


De maneira simples e objetiva a eutanásia passiva pode ser definida da
seguinte forma – através do que objetiva: “a eutanásia passiva tem como objetivo
a morte através da privação de tratamento médico disponível ou qualquer
cuidado que claramente poderia permitir a pessoa viver um período
significativamente mais longo.17
Ou seja, é a morte intencional, porém, não objetiva e ativamente causada.
É, portanto, uma privação daquilo que poderia dar continuidade à vida,
independente da circunstância ou qualidade dela. É uma forma, não de tirar a
própria vida, mas de deixar com que a vida se vá.
Assim, tanto a eutanásia ativa quanto passiva, quer direta ou
indiretamente, são um procedimento em que uma pessoa está assumindo a
responsabilidade total sobre a existência de outro indivíduo.18 E, além disso,
ambas as formas estão fadas ao mesmo fim. A morte.

16 IBIDEM, p. 26
17 Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2004, p. 26
18 IBIDEM, p. 29
4. Uma questão de ética
Tirar a própria vida. Assistir ou auxiliar alguém que tira a própria vida.
Tomar a decisão sobre a vida de alguém. Todas essas coisas, são de direito dos
que as fazem? Principalmente, são éticas?
Os argumentos utilizados para justificar as atitudes questionadas acima
são diversas. Principalmente, conforme fica claro em “Perguntas Básicas Sobre
Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los?” numa sociedade moralmente
relativista que rejeita a existência de quaisquer absolutos, os sempre-mutáveis
valores da sociedade e da opinião popular irão determinar todas as decisões.
Assim, inclusive as questões que envolvem a vida e morte.19
Dessa forma, primariamente, é necessário definir, de fato, o que é ética.
E a partir disso pensar se há alguma justificativa para fazer o que, até mesmo
analisado superficialmente, soa no mínimo estranho.

4.1. O que é ética


O Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa define ética como conjunto de
normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano. 20 Assim, a
pergunta relacionada às questões de vida e morte, de forma mais abrangente,
seria: “é um princípio de boa conduta tirar a própria vida ou auxiliar alguém a
fazê-lo ou decidir por outra pessoa?”.
Outra coisa que precisa ser observada na definição de ética posta acima
sua essência e objetivo. Quanto à sua essência pode ser visto que é um
compêndio de normas, leis, diretrizes. Quanto à sua objetividade é notado que
serve como aio, condutor, do modo de vida do ser humano. Assim, é necessário
saber onde essa essência deve ser encontrada e como essa objetividade deve
ser praticada.

4.1.1. Ética cristã


A ética cristã é o caminho para o descobrimento da essência e do objetivo
daquilo que deve ser o padrão ético. Esse adjetivo ao termo é, de fato,

19 IBIDEM, p. 31
20 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da
língua portuguesa – 4ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 300
importante. Ele difere um termo avulso [ética] de um termo conceituado. E dessa
forma, amplia sua essência e objetivo ao tempo que delimita suas possibilidades
de interpretações relativas.
Sendo assim, por ética cristã pode-se entender que é a ética baseada na
revelação divina nas Escrituras. Principalmente na revelação divina dos Dez
Mandamentos. No entanto, conforme aponta o Dicionário de Ética Cristã, ao
tratar sobre ética calvinista21, essa revelação vem, antes do próprio decálogo,
primeiramente, no ato de Deus criar o homem à sua própria imagem e dos
princípios morais básicos plantados no coração do homem. Em segundo lugar
nas instruções dadas a Adão e a Noé. E, assim, em terceiro lugar nas instruções
mais compreensivas na revelação dada a Moisés. Além disso, há, em quarto
lugar, os diversos preceitos subsidiários dados no restante da Bíblia.22
Em suma, a ética cristã é pautada nas Escrituras Sagradas partindo dos
preceitos de imago Dei; leis colocadas no coração; ordens específicas dadas aos
representantes da criação no Antigo Testamento, mas principalmente às leis
específicas descritas no decálogo.
Dessa forma, há necessidade de contrastar o que é a prática do suicídio
e da eutanásia com a ética cristã. Principalmente, é preciso expor as resoluções
dessas práticas quanto a tirar vidas em contraste ao que o sexto mandamento
contido no decálogo diz sobre o assassinato. Em outras palavras, deve-se
questionar se estas duas práticas – suicídio e eutanásia –, ainda que dentro do
relativismo social, condizem com o preceito ético e objetivo da fé cristã.

5. A opção da morte e o mandamento da vida


Tanto suicídio quanto eutanásia, independentemente de suas tipificações
e ramificações, são uma opção pela morte. Mais do que isso. São uma opção
pelo assassinato. Tirar a própria vida ou a vida do próximo, sem razões
justificáveis pela própria Escritura, é uma opção contra o sexto mandamento.

21 Calvinismo não é um termo antagônico ao cristianismo, por essa razão pode ser utilizado para
referir-se, neste sentido, à ética cristã.
22
Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 23
O sexto mandamento, por sua vez, é o mandamento para a vida. Embora
seja um mandamento negativo, isto é, que ordene que se deixe de fazer algo,
implicitamente é uma ordem ativa para que a vida seja poupada.
Assim, dentro do mínimo contraste, é possível tomar ciência do
antagonismo entre as duas opções. É incompatível optar pela morte quando se
observa a ética cristã. É incompatível, dado ao fato de que a ética cristã, que
parte do decálogo, tem dentro de si a ordem para que a vida seja poupada. Para
que o assassinato não seja cometido.
Portanto, uma vez que o suicídio e a eutanásia são meios de tirar vidas e
o sexto mandamento é uma ordem para que a mesma seja poupada, logo não é
lícito, eticamente falando, cometer ou apoiar tanto o suicídio quanto a
eutanásia.23

CONCLUSÃO
Através da breve exposição sobre o sexto mandamento do decálogo. Do
apontamento do mesmo em uma perspectiva bíblica. Da interpretação dele
contida no Catecismo Maior de Westminster. Esta pesquisa mostrou brevemente
qual é o dever do ser humano em relação a própria vida e a do próximo. Além
disso, por ter apresentado o dilema de tirar vidas ou não, o tabalho conceituou
tanto suicídio como eutanásia bem como suas ramificações. Assim, apontou,
implicitamente, a natural e espontânea incompatibilidade entre estas práticas e
a ética cristã – que também foi definida e explicada.
Portanto, após tais abordagens, definições e contrastes, o trabalho
termina apontando lógica e explicitamente o antagonismo entre o conceito
natural, bem como o conceito específico de ética e toda e qualquer prática de
atentado contra a vida humana. Assim, o mesmo torana-se uma defesa não só
da ética cristã mas, também, da vida humana. Deixando claro que toda forma de
morte, não respaldada pela Escritura, ofende o que é exigido no sexto
mandamento e é tido por assassinato.

23 Argumentação extraída do modelo de: WESTON, Anthony. A Arte de Argumentar – 2ª Ed.


Tradução de Desidério Murcho. Lisboa: Gradiva Publicações LTDA., p. 29
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar:
O minidicionário da língua portuguesa – 4ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2001
HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de
Wadislau Martins Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007
KOEHLER, Ludwig, Walter Baumgartner, M. E. J. Richardson, e Johann
Jakob Stamm. The Hebrew and Aramaic lexicon of the Old Testament. Leiden:
E.J. Brill, 1994–2000. Versão do Logos Bible.
Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed.
São Paulo: Cultura Cristã, 2004
WESTMINSTER, Assembleia de. Catecismo Maior de Westminster (1643-
1649)
WESTON, Anthony. A Arte de Argumentar – 2ª Ed. Tradução de Desidério
Murcho. Lisboa: Gradiva Publicações LTDA.

Você também pode gostar