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Suicídio e Eutanásia - Uma Questão de Ética
Suicídio e Eutanásia - Uma Questão de Ética
PALAVRAS-CHAVE
Vida, Morte, Ética Cristã, Suicídio, Eutanásia, Mandamento
ABSTRACT
This paper deals with research on a relationship between suicide and euthanasia
in contrast to Christian ethics. It has as its starting point or sixth commandment
of dialogue. Its purpose is to clarify within the biblical perspective, as a precedent
of Christian ethics, or the correct understanding between the relationship life,
death and rights and considerations regarding them. Therefore, this conceptual
work analyzes and considers points of this relationship.
KEY- WORDS
Life, Death, Christian Etichs, Suicide, Euthanasia, Commandment
INTRODUÇÃO
A pesquisa iniciará por expor brevemente o sexto mandamento do
decálogo. Após isso, mostrará, também brevemente, a perspectiva bíblica, como
um todo, sobre o dilema de tirar vidas ou não. Além disso, outra perspectiva
abordada será a do Catecismo Maior de Westminster, no que diz respeito ao
sexto mandamento. O trabalho seguirá por definir suicídio e eutanásia bem como
suas ramificações. Também definirá o conceito de ética e de ética cristã.
Após tais abordagens e definições, que contemplam sua seção central,
ao término, as mesmas corroboram para sua conclusão, relevância e aplicações.
Contrastando, portanto, o antagonismo entre as práticas do suicídio e eutanásia
em relação à ética cristã.
1. Não matarás
O sexto mandamento [não matarás1], contido no decálogo, deixa muito
claro que o ato de tirar a vida é imoral. Isso pode ser afirmado dado ao fato de
que os Dez Mandamentos dados por Deus ao povo, por meio de Moisés, são
mandamentos de seguimento moral. Assim, em suma, são proibições e ordens,
que norteiam o comportamento dos homens para com Deus e uns para com os
outros.
Um fator que colabora para a delimitação moral do decálogo é o fato de
que há outras negativas que, em semelhança ao sexto mandamento, proíbem
os homens a fazerem coisas que, notoriamente, são ruins e prejudiciais aos
outros. Assim, pode ser visto que, como é proibido matar, é também proibido
furtar, cobiçar, adulterar e até mesmo mentir quanto ao próximo.
Esse mandamento, portanto, embora ainda seja mais bem explanado no
decorrer do trabalho, é o ponto de partida para toda a construção de pensamento
a ser exposta no mesmo. Ele é a premissa, o pressuposto básico para toda a
discussão.
Assim, a indagação “se é imoral tirar vidas, como justificar as vidas que
são tiradas em diversas situações relatadas pela própria Bíblia?” torna-se uma
“provocação” à discussão e um ponto proveitoso para definir e sanar a discussão
sobre o suicídio e a eutanásia. Há uma controvérsia? A Bíblia tem erros?
1 Ex.20.13
Por estas razões, é necessário interpretar a Escritura e ver qual é o seu
próprio entendimento sobre a questão. É preciso, de forma objetiva, aplicar os
princípios básicos de interpretação, de contextos e situações para saber como o
mandamento deve ser cumprido e no que implica não o descumprir.
2 Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 171
3 Cf. KOEHLER, Ludwig, Walter Baumgartner, M. E. J. Richardson, e Johann Jakob Stamm. The
Hebrew and Aramaic lexicon of the Old Testament. Leiden: E.J. Brill, 1994–2000. Versão do
Logos Bible.
Mas, além da compreensão bíblica quanto ao sexto mandamento, bem
como a possibilidade de um ser humano tirar a vida do outro, é necessário ver o
entendimento desse mandamento em outras fontes. Isso, de maneira que o
mandamento em si seja exposto de forma mais abrangente. Assim, a Confissão
de Fé de Westminster (1643-1646) é de grande valia para apontar a amplitude
de sua proibição e inferir as “exceções” em relação a matar.
Vejamos, agora, por partes. Primeiramente é dito que “os deveres exigidos no
sexto mandamento são todo empenho cuidadoso e todos os esforços legítimos
para a preservação de nossa vida e a de outros”. Nessa declaração é preciso
notar que os esforços para não provocar uma morte, um assassinato, são
amplos. Isso, porque é dito que “todos” e “legítimos” esforços devem ser
tomados. Porém, a ênfase está no fato claro e objetivo de que esses esforços
devem ser empreendidos em razão da própria vida e da do próximo. Dessa
forma, de forma implícita, porém objetiva, o Catecismo mostra que o assassinato,
nos termos do sexo mandamento, pode ser cometido de forma autônoma, e não
só ao próximo.
2. O que é o suicídio
O suicídio é, objetivamente falando, o ato voluntário e intencional de matar
a si mesmo.5 Além disso, este livreto também aponta duas outras informações
importantíssimas para o caso. A primeira delas é que suicídio cruza todas as
fronteiras geográficas, raciais, sexuais, religiosas, culturais e sociais.6 E, em
segundo lugar, que o suicídio é erroneamente visto como uma solução
permanente para o que parece ser um problema ou uma série de problemas
pessoais insolúveis.7
Essas duas informações, analisadas, apontam que é a partir disso que,
possivelmente, a discussão de que o suicídio pode ser algo aceitável se baseia.
Ou seja, que há alguns precedentes que justificam esse ato de tirar a própria
5 Cf. Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 9
6 IDIBEM, p. 14
7 IDIBEM, p. 16
vida. Esse pensamento aprovativo é tão real e antigo que, conforme mostra o
Dicionário de Ética Cristã, os antigos estóicos defendiam, vigorosamente, o
direito do suicídio.8 Inclusive, até mesmo alguns cristãos [exceções] na história9
chegaram a defender o suicídio.
Assim, é importante pensar: existe, de fato, alguma justificativa para o
suicídio? Existe alguma forma para cometê-lo, que não pareça tão brutal? Há
como mascarar essa forma de infringir o sexto mandamento? A resposta é sim.
Existem “formas” de suicídio, que tem por finalidade justificar tal ato.
8 Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 562
9 IBDEM, p. 562-563
10 Cf. Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 18
11 IBIDEM, p. 18
3. O que é eutanásia
A eutanásia, conforme definido em um primeiro aspecto, quanto ao termo,
tendo na própria palavra a referência de um processo em que a morte do
indivíduo é intencionalmente trazida por ele ou outros.12 Em um segundo
aspecto, o termo é amplo o suficiente para também incluir suicídio e suicídio
assistido por um médico assim como a suspensão do tratamento de sustento à
vida.13
Além disso, no Dicionário de Ética Cristã, há o seguinte apontamento
quanto à eutanásia, em sua definição: “a eutanásia é o ato de matar uma pessoa
que esteja sofrendo de doença incurável e excessivamente dolorosa”.14 Assim,
é importante notar que o autor destaca um pressuposto nessa definição. Esse
pressuposto é é o estado daquele em que a vida é tirada. Assim, o estado de
avançado ou doloroso de uma doença torna-se uma base “justificável” para a
prática da eutanásia.
12 IDIDEM, p. 24
13 IBIDEM, p. 25
14 Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 286
15 Cf. Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo:
Cultura Cristã, 2004, p. 25
3.1.1. Eutanásia Ativa
A eutanásia ativa é o ato de uma pessoa causar sua própria morte ou a
de outros.16 Ou seja, é o ato de procurar meios e executá-los objetivamente para
que a vida seja tirada.
Esse ato objetivo, direto, ativo, é o que diferencia a eutanásia ativa da
passiva. Ambas continuam sendo meios para tirar uma vida. Ambos procuram
meios para tais. No entanto, a ativa executa os meios encontrados para tirar a
vida, enquanto a passiva, conforme será visto, abstém-se de meios para
sobreviver.
16 IBIDEM, p. 26
17 Perguntas Básicas Sobre Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los? 1ª Ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2004, p. 26
18 IBIDEM, p. 29
4. Uma questão de ética
Tirar a própria vida. Assistir ou auxiliar alguém que tira a própria vida.
Tomar a decisão sobre a vida de alguém. Todas essas coisas, são de direito dos
que as fazem? Principalmente, são éticas?
Os argumentos utilizados para justificar as atitudes questionadas acima
são diversas. Principalmente, conforme fica claro em “Perguntas Básicas Sobre
Suicídio e Eutanásia: É certo praticá-los?” numa sociedade moralmente
relativista que rejeita a existência de quaisquer absolutos, os sempre-mutáveis
valores da sociedade e da opinião popular irão determinar todas as decisões.
Assim, inclusive as questões que envolvem a vida e morte.19
Dessa forma, primariamente, é necessário definir, de fato, o que é ética.
E a partir disso pensar se há alguma justificativa para fazer o que, até mesmo
analisado superficialmente, soa no mínimo estranho.
19 IBIDEM, p. 31
20 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da
língua portuguesa – 4ª Ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, p. 300
importante. Ele difere um termo avulso [ética] de um termo conceituado. E dessa
forma, amplia sua essência e objetivo ao tempo que delimita suas possibilidades
de interpretações relativas.
Sendo assim, por ética cristã pode-se entender que é a ética baseada na
revelação divina nas Escrituras. Principalmente na revelação divina dos Dez
Mandamentos. No entanto, conforme aponta o Dicionário de Ética Cristã, ao
tratar sobre ética calvinista21, essa revelação vem, antes do próprio decálogo,
primeiramente, no ato de Deus criar o homem à sua própria imagem e dos
princípios morais básicos plantados no coração do homem. Em segundo lugar
nas instruções dadas a Adão e a Noé. E, assim, em terceiro lugar nas instruções
mais compreensivas na revelação dada a Moisés. Além disso, há, em quarto
lugar, os diversos preceitos subsidiários dados no restante da Bíblia.22
Em suma, a ética cristã é pautada nas Escrituras Sagradas partindo dos
preceitos de imago Dei; leis colocadas no coração; ordens específicas dadas aos
representantes da criação no Antigo Testamento, mas principalmente às leis
específicas descritas no decálogo.
Dessa forma, há necessidade de contrastar o que é a prática do suicídio
e da eutanásia com a ética cristã. Principalmente, é preciso expor as resoluções
dessas práticas quanto a tirar vidas em contraste ao que o sexto mandamento
contido no decálogo diz sobre o assassinato. Em outras palavras, deve-se
questionar se estas duas práticas – suicídio e eutanásia –, ainda que dentro do
relativismo social, condizem com o preceito ético e objetivo da fé cristã.
21 Calvinismo não é um termo antagônico ao cristianismo, por essa razão pode ser utilizado para
referir-se, neste sentido, à ética cristã.
22
Cf. HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. Tradução e atualização de Wadislau Martins
Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 23
O sexto mandamento, por sua vez, é o mandamento para a vida. Embora
seja um mandamento negativo, isto é, que ordene que se deixe de fazer algo,
implicitamente é uma ordem ativa para que a vida seja poupada.
Assim, dentro do mínimo contraste, é possível tomar ciência do
antagonismo entre as duas opções. É incompatível optar pela morte quando se
observa a ética cristã. É incompatível, dado ao fato de que a ética cristã, que
parte do decálogo, tem dentro de si a ordem para que a vida seja poupada. Para
que o assassinato não seja cometido.
Portanto, uma vez que o suicídio e a eutanásia são meios de tirar vidas e
o sexto mandamento é uma ordem para que a mesma seja poupada, logo não é
lícito, eticamente falando, cometer ou apoiar tanto o suicídio quanto a
eutanásia.23
CONCLUSÃO
Através da breve exposição sobre o sexto mandamento do decálogo. Do
apontamento do mesmo em uma perspectiva bíblica. Da interpretação dele
contida no Catecismo Maior de Westminster. Esta pesquisa mostrou brevemente
qual é o dever do ser humano em relação a própria vida e a do próximo. Além
disso, por ter apresentado o dilema de tirar vidas ou não, o tabalho conceituou
tanto suicídio como eutanásia bem como suas ramificações. Assim, apontou,
implicitamente, a natural e espontânea incompatibilidade entre estas práticas e
a ética cristã – que também foi definida e explicada.
Portanto, após tais abordagens, definições e contrastes, o trabalho
termina apontando lógica e explicitamente o antagonismo entre o conceito
natural, bem como o conceito específico de ética e toda e qualquer prática de
atentado contra a vida humana. Assim, o mesmo torana-se uma defesa não só
da ética cristã mas, também, da vida humana. Deixando claro que toda forma de
morte, não respaldada pela Escritura, ofende o que é exigido no sexto
mandamento e é tido por assassinato.