Você está na página 1de 56

Universidade Santa Cecília

Faculdade de Engenharia

Tópicos especiais em Engenharia Química

Parte 1 – Definição dos


fluidos não-Newtonianos
1

Prof. Dr. Vitor da Silva Rosa

2020
Introdução
2

Os fluidos são classificados em duas categorias:

a) Pressão aplicada externamente:

Os fluidos podem ser compressíveis (gases) e incompressíveis (líquidos).

Na prática, não existe um líquido completamente incompressível, no entanto, é


necessário aplicações de pressões extremamente elevadas (acima de 100 MPa),
para causar um efeito de compressibilidade em um líquido.

b) Resposta a uma taxa de cisalhamento:

Os fluidos são definidos como Newtonianos ou não-newtonianos.


Definição do fluido Newtoniano
3

(1)

Figura 1 – Experimento de Newton


Definição do fluido Newtoniano
4
Figura 2 – Reograma do óleo
de cozinha e xarope de milho
Fluidos não-Newtonianos
5

O fluido não-Newtoniano apresenta uma relação não linear entre a tensão de


cisalhamento (shear stress) e a taxa de cisalhamento (shear rate).

Como consequência dessa não-linearidade, ocorre uma variação da viscosidade


do fluido em função da taxa de cisalhamento.

Nos fluidos não-Newtonianos, a viscosidade passa a ser chamada de aparente.

A viscosidade aparente é definida em uma dada taxa de cisalhamento e


temperatura.

Veja, que nos fluidos Newtonianos, a viscosidade varia apenas com a temperatura
e se mantém constante com a taxa de cisalhamento.
Fluidos não-Newtonianos
6
Fluidos não-Newtonianos - Classificação
7

Didaticamente, os fluidos não-Newtonianos são classificados em três categorias:

1) Independentes do tempo: em uma dada temperatura, a viscosidade aparente


desses fluidos é determinada em função de uma taxa de cisalhamento
instantânea. Exemplo: soluções de polímeros.

2) Dependentes do tempo: os fluidos dessa categoria possuem uma estrutura


complexa, sendo que a relação entre a tensão de cisalhamento e a taxa de
cisalhamento, é dependente do tempo de aplicação do cisalhamento.
Exemplo: tintas

3) Viscoelásticos: são fluidos que apresentam características de sólidos e líquidos


dependendo do nível de aplicação da taxa de cisalhamento. Exemplo:
poliacrilamida aniônica (produto usado como agente floculante em estações
de tratamento de água).
Independentes do tempo
8

Figura 3 – Classificação dos


fluidos independentes do
tempo
Independentes do tempo
9
Os fluidos independentes do tempo são classificados em:

a) Pseudoplásticos (shear-thinning fluid)

São fluidos que possuem uma diminuição da viscosidade aparente conforme a


taxa de cisalhamento é incrementada, porém sem uma tensão inicial de
escoamento.

b) Dilatantes (shear-thichening fluid)

São fluidos que possuem um aumento da viscosidade aparente conforme a taxa


de cisalhamento é incrementada., porém sem uma tensão inicial de escoamento.

c) Viscoplásticos (viscoplastic)

São fluidos que exibem uma tensão inicial para escoar.


Independentes do tempo
10

Figura 4 – Reograma de três fluidos pseudoplásticos


Independentes do tempo – modelos
11
matemáticos
1) Modelo da lei das potências (Power Law) ou de Ostwald de Waele

(2)

(3)

Os parâmetros m e n, da equação 2, são denominados de fator de consistência e


índice de comportamento, respectivamente. Esses parâmetros são determinados
experimentalmente em reômetros e são função da temperatura.

O modelo da lei das potências é amplamente empregado para faixas de taxa de


cisalhamento entre 10 s(-1) e 1000 s(-1).
Modelo da lei das potências
12

Figura 5 – Aplicabilidade do modelo da lei das potências


Modelo da lei das potências
13
Independentes do tempo – modelos
14
matemáticos
3) Modelo de Cross (1965)

(4)

O modelo de Cross necessita de três parâmetros, sendo utilizado como uma versão
mais simples do modelo de Casson.

Quando a viscosidade se aproxima das condições extremas, a equação é


reduzida ao modelo da lei das potências.

Cross sugeriu um valor de n igual a 2/3, mas devido a complexidade de cada


fluido, é sugerido que o valor de n seja ajustado de forma numérica.
Independentes do tempo – modelos
15
matemáticos
4) Modelo de Ellis

(5)

A equação 5 possui três parâmetros, os quais são determinados


experimentalmente.

Essa equação é indicada para ser usada nas condições extremas de taxa de
cisalhamento, onde o modelo da lei das potências se torna ineficiente.

representa o valor da tensão de cisalhamento quando a viscosidade aparente


cai para a sua metade, em relação a uma taxa de cisalhamento igual a zero.
Independentes do tempo – dilatantes
16

As equações apresentadas anteriormente são amplamente empregadas com


fluidos pseudoplásticos pois esses possuem o mesmo comportamento de forma
global. No entanto, com fluidos dilatantes existem várias possibilidades de
ocorrência do mecanismo do aumento da viscosidade aparente.

Por que a viscosidade aparente aumenta conforme o incremento da taxa de


cisalhamento?

Figura 6 – Representação
do aumento de
viscosidade
Independentes do tempo – dilatantes
17

Nem todo fluido dilatante pode ser explicado pela teoria descrita no slide anterior.

Há fluidos que apresentam uma “mudança reológica” conforme o aumento da


taxa de cisalhamento.

Figura 7 – Dispersões de
PVC em di-octil-ftalato
Independentes do tempo – viscoplásticos
18

Figura 8 – Reograma do
extrato de carne e solução
de carbopol
Independentes do tempo – viscoplásticos
19

1) Modelo de Binghan

(5)
(6)

2) Modelo de Herschell-Bulkley

(7)
(8)
Independentes do tempo – viscoplásticos
20

3) Modelo de Casson

(9)
(10)

Esse modelo é empregado para a descrição reológica de fluidos alimentícios e


sangue.

Entretanto, é um modelo que necessita de 3 parâmetros, quando comparado aos


dois anteriores.
Dependentes do tempo
21

Figura 10 – Tixotropia e reopexia


Dependentes do tempo
22

Os fluidos não-Newtonianos dessa categoria possuem uma dependência da


tensão de cisalhamento e taxa de cisalhamento com o tempo de aplicação do
cisalhamento. São fluidos que possuem uma “história reológica”.

Figura 9 – Reograma da lama vermelha


Dependentes do tempo
23

➔ Histerese

Figura 9 – Histerese na pasta de cimento


Dependentes do tempo
24

➔ Reopexia

Figura 10 – Soluções saturadas de poliester


Exercício de aplicação
25

Em um reômetro, foi Tensão (Pa) Taxa (1/s) Tensão (Pa) Taxa (1/s)
determinado os valores 0,12 0,14 3,08 4,43
de tensão e taxa de
0,14 0,176 3,79 5,57
cisalhamento para uma
solução aquosa de um 0,17 0,222 4,68 7,02
polímero, a 291 K. 0,21 0,28 5,41 8,83
0,28 0,352 6,53 11,12
a) Plote a tensão de
cisalhamento em 0,35 0,443 8,11 14
função da taxa de 0,446 0,557 9,46 17,62
cisalhamento, no 0,563 0,702 11,5 22,2
Excel, e determine a 0,69 0,883 13,5 27,9
reologia do fluido. 0,85 1,11 16,22 35,2
b) Obtenha os 1,08 1,4 18,92 44,3
parâmetros do 1,31 1,76 22,2 55,7
modelo da lei das 1,63 2,22 26,13 70,2
potências.
2,01 2,8 30 88,3
2,53 3,52 34,8 111,2
Parte 2 – Escoamento dos
fluidos não-Newtonianos
26
Introdução
27

O conhecimento do escoamento de fluidos não-Newtonianos é essencial para o


projeto de unidades de bombeamento, trocadores de calor, tanques com
agitação, reatores tubulares, dentre outros.

A perda de carga e a distribuição de velocidades são os parâmetros que devem


ser obtidos para o projeto das operações supracitadas.

Nessa aula, vamos mostrar em detalhes como obter o perfil de velocidades e a


perda de carga para diferentes tipos de fluidos não-Newtonianos.
Escoamento laminar em tubulações
28

Considere o escoamento laminar, plenamente desenvolvido, permanente,


incompressível, isotérmico e independente do tempo de um fluido em um tubo
circular com raio R.

Figura 11 – Tubo circular horizontal


Um balanço de forças na direção z:
(11)

(12)
Escoamento laminar em tubulações
29

O termo representa a queda de pressão do líquido por comprimento linear


de tubulação. Esse termo é percursor da perda de carga.

Na Equação 12 temos a relação da tensão de cisalhamento em qualquer


posição da coordenada r.

Figura 12 – Perfil de tensão de cisalhamento e velocidade


Escoamento laminar em tubulações
30

Entretanto, é necessário relacionar a equação 12 com a taxa de cisalhamento,


afim de determinar o perfil de velocidade, e posteriormente, uma equação mais
útil para a queda de pressão (pressure drop).

Inserindo o modelo da lei das potências:

(13)

Combinando a equação 13 com a equação 12, e separando as variáveis:

(14)

Integrando:
Escoamento laminar em tubulações
31

(15)

A constante de integração é determinada a partir das condições de contorno:


Quando r = R (parede do tubo) ➔ condição de não escorregamento (no-slip), ou
seja, a velocidade é zero. Desse modo:

(16)

Substituindo a equação 16 na equação 15, tem-se o perfil instantâneo de


velocidades.

(17)
Escoamento laminar em tubulações
32

Para os cálculos de engenharia, é interessante obter a velocidade média (V).


Pela definição:

(18)

Substituindo a equação 17 na equação 18, após algumas passagens numéricas:

(19)

Relacionando a velocidade média com a velocidade máxima (no centro do


tubo):

(20)
Escoamento laminar em tubulações
33

Figura 13 – Distribuição de velocidade para fluidos que seguem a lei das potências
Exercício de aplicação 2
34
Generalização do escoamento laminar
35
para líquidos independentes do tempo
A dedução que foi mostrada nos slides anteriores partir de um balanço de forças
e da escolha de um modelo adequado. Entretanto, como existem diversas
categorias de fluidos não-Newtonianos, fica dispendioso fazer esse procedimento.

Metzner e Reed (1955) propuseram uma equação geral para contornar esse
problema. O ponto de partida foi iniciado com a equação 21.

(21)

A equação 21 é útil pois é uma integral definida, ou seja, não depende da


natureza da função a ser integrada.

(22) (23)
Generalização do escoamento laminar
36
para líquidos independentes do tempo
Substituindo as equações 22 e 23 na equação 21e integrando, tem-se como
solução:

(24)

Substituindo na Equação 24:

(25)

Note que a Equação 25 é idêntica a equação 19.


Generalização do número de Reynolds
37
É útil definir um número de Reynolds apropriado que resultará em um fator de
atrito único para os fluidos independentes do tempo que sigam o modelo da lei
das potências.

Essa generalização, tem como ponto de partida a equação 26.

(26)

Vamos avaliar a tensão de cisalhamento na parede e a taxa de cisalhamento


associada. Aplicando a regra de Leibnituz na equação 26:

(27)
Generalização do número de Reynolds
38
Após algumas simplificações:

(28)

Rearranjando os termos na equação 28:

(29)

Por conveniência numérica, vamos introduzir o fator 4 no membro direito e utilizar


a identidade

(30)
Generalização do número de Reynolds
39
Ou, em termos da velocidade média e do diâmetro da tubulação:

(31)

Definindo o pseudo-índice de comportamento (n’):

(32)

Substituindo a equação 32 na equação 31, tem-se que:

(33)
Generalização do número de Reynolds
40
Logo,

(34)

O fator de atrito possui como definição:

(35)

Substituindo as equações 26 e 34, na equação 35:

(36)
Generalização do número de Reynolds
41
Rearranjando,

(37)

Com o Reynolds de Metzner e Reed definido como:

(38)

No escoamento laminar:

(39)
Generalização do número de Reynolds
42

Figura 14 – Fator de atrito laminar


para os independentes do tempo
Exercício de aplicação 3
43

Nesse exercício, calcule a queda de pressão pela equação de Darcy com o fator
de atrito de Metzner e Reed.

L V²
lw = 4fMR (40)
D 2g

𝑅𝑒𝑀𝑅 = 217,53 n′ = 0,5 e m′ = 3,354Pa. s n

fMR =16/ 𝑅𝑒𝑀𝑅 = 0,073


Exercício de aplicação 3
44
Substituindo os resultados na equação 40:

lw = 10,176 m

Transformando a perda de carga na queda de pressão:

𝑁
−∆𝑃 = 𝑙𝑤 𝜌𝑔 = 109392 2 ≈ 109,3𝑘𝑃𝑎
𝑚

Vejam que no exemplo de aplicação 2, pelo método do balanço de forças, a


queda de pressão foi de 110 kPa.
Critério de transição do escoamento laminar
45 para a turbulência
No escoamento laminar há a predominância de forças viscosas. Entretanto,
conforme o número de Reynolds é elevado, as forças inerciais passam a ter maior
influência.

Como consequência, tem-se a perda do escoamento unidimensional, presença


de turbilhões, dissipação de energia, transigência e vorticidade. Essas variáveis
não permitem o uso das equações mostradas até aqui para explicar a
turbulência.
Critério de transição do escoamento laminar
46 para a turbulência
1) Critério de Ryan e Johnson (1959)

(41)

Com a turbulência definida para Reynolds acima de 2100.

2) Critério de Mishra e Tripathi (1975)

(42)

Nesse modelo, os autores consideraram que a razão da energia cinética por


unidade de volume do fluido e a tensão de cisalhamento na parede
permanecem constantes. A turbulência é iniciada com Reynolds acima de 2100.
Fator de atrito na transição e na turbulência
47
1) Equação de Dodge e Metzner (1959)

(43)

Observação:

a) A determinação do fator de atrito é realizada por tentativa e erro, uma fez


que f é implícito.
b) n = n’
c) Válida para Reynolds entre 2900 e 36000 e para índice n’ entre 0,36 e 1,0.
d) Escoamento isotérmico
Fator de atrito na transição e na turbulência
48

Figura 15 – Fator de atrito de Dodge e Metzner


Fator de atrito na transição e na turbulência
49
1) Equação de Irvine (1988)

(44)

Com:
(45)

a) A determinação do fator de atrito é explícita.


b) n = n’
c) Válida para Reynolds entre 2000 e 50000 e para índice n’ entre 0,35 e 0,89.
d) Escoamento isotérmico
Exercício de aplicação 4
50
Exercício de aplicação 4
51
Exercício de aplicação 4
52
Exercício de aplicação 4
53
Exercício de aplicação 4
54
Exercício de aplicação 4
55
56 As figuras, tabelas e exercícios foram
retiradas do livro:

Chaabra, R. P., Richardson, J. F., Non-


Newtonian Flow and Applied Rheology, 2ª
Edition, Butterworth-Heinemann, 2008

Você também pode gostar