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TEXTO BA SE ALFABETIZAÇÃO

E LETRAMENTO

Prof. ª Dr.ª Walkiria Rigolon


EQUIPE TÉCNICA EDITORIAL

Gestão da EAD:  Prof. Dr. Elias Estevão Goulart


Professor conteudista:  Prof.ª Dr.ª Walkiria Rigolon
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ALFABETIZAÇÃO E
LETRAMENTO

Prof.ª Dr.ª Walkiria Rigolon


O SURGIMENTO DA ESCRITA

APRESENTAÇÃO..............................................8 CONCLUSÃO DO CAPÍTULO..........................37


INTRODUÇÃO................................................12 REFERÊNCIAS................................................38
ALFABETIZAÇÃO E CULTURA LETRADA........13
A invenção da escrita: o desejo do registro........................ 14
COMO E ONDE REGISTRAR A ESCRITA?......18
A ESCRITA COMO UMA CONVENÇÃO
SOCIAL..........................................................21
O ingresso na cultura escrita.............................................. 22
O PODER DA ESCRITA ..................................23
ANALFABETISMO E PRECONCEITO: UM
POUCO DA NOSSA HISTÓRIA.......................24
Leitura e escrita e suas relações com a história da educação
no Brasil............................................................................ 28
A LETRA CURSIVA.........................................30
DIFUSÃO, POPULARIZAÇÃO E PERCURSOS
DA ESCRITA E DA LEITURA...........................34
A TRADIÇÃO ESCOLAR..................................36
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

INTRODUÇÃO

Hoje em dia pode até parecer que aprender a ler e a escrever


é algo simples e até corriqueiro. Muitos de nós nem nos recordamos
direito de como ocorreu o nosso processo de alfabetização, não é
mesmo? Todavia, faz-se extremamente necessário considerar que
a construção desse conhecimento pela humanidade percorreu um
longo caminho que precisa ser conhecido, sobretudo por aqueles
que atuarão como docentes na Educação Básica e terão a respon-
sabilidade de alfabetizar alunos, seja no final da Educação Infantil,
nos anos iniciais do Ensino Fundamental ou mesmo, na modalidade
de Ensino da Educação de Jovens e Adultos.
Apesar de todos os segmentos sociais salientarem a impor-
tância da educação para o desenvolvimento de um país e o alcance
da cidadania plena, é sabido e as avaliações externas nacionais,
como Prova Brasil e ENEM, têm deixado evidente o quanto ainda
estamos distantes da oferta de uma educação pública gratuita de
qualidade para todos os brasileiros. Esse processo de qualidade
educativa, ao qual nos referimos, tem seu ponto de partida em uma
alfabetização de qualidade, porém muitas vezes os alunos são al-
fabetizados de forma precária, outros muitas vezes nem sequer se
alfabetizam, de acordo com IBGE tínhamos, em 2014, cerca de 13
milhões de brasileiros, acima de 15 anos, ainda analfabetos, este
número representava na época 8,7% da nossa população.
Diante desse cenário, temos um longo caminho a percorrer na
garantia de um processo de alfabetização de qualidade, que
promova aos estudantes brasileiros a utilização da leitura e
da escrita em diferentes contextos sociais, onde a escrita
possa ser utilizada a favor da construção da autonomia,
emancipação e da cidadania plena, dando-lhes as condições
necessárias para que se apropriem de todo conhecimento
Figura 1 - Adultos em fase
construído historicamente e que possam se constituir também
de alfabetização. como produtores de conhecimento.
Fonte: Oliveira, 20121

1 OLIVEIRA, Marcia. Seis mil adultos alfabetizados por programa do GDF. 28 de outubro de
2012. Disponível em: <http://marciaoliveira.blog.com/2012/10/28/seis-mil-adultos-alfabeti-
zados-por-programa-do-gdf/>. Acesso em: 02 mar. 2016.

12
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

ALFABETIZAÇÃO E CULTURA LETRADA

O ensino da leitura e da escrita, a que denominamos como


alfabetização, é o resultado de uma longa construção histórica e
coletiva da espécie humana. Assim, a alfabetização se constitui em
uma aprendizagem essencial que permite a ascensão ao mundo
letrado, sobretudo na atualidade, quando vivemos em um contexto
cercado pela cultura letrada por todos os lados.
Se fizermos uma retrospectiva história, vamos perceber que fo-
ram a leitura e a escrita que conduziram a humanidade a um mun-
do novo, nos deu as condições necessárias para alcançar avanços
científicos, artísticos e tecnológicos que seriam inimagináveis sem a
invenção da escrita. Ela diminuiu as distâncias entre os povos e pos-
sibilitou registrarmos e compartilharmos os conhecimentos constru-
ídos pela humanidade ao longo de sua trajetória.
Para se ter uma ideia da importância da escrita, basta considerar-
mos que o seu surgimento influiu inclusive na evolução das línguas,
como afirma Ferreiro e Cols (2003), o conhecimento que temos so-
bre a língua não permanece mais o mesmo depois que aprendemos
a ler e a escrever.
A escrita pode transformar nossas ações, pensamentos, desejos,
necessidades e a cada dia institui novas formas de interação. Por
isso, o surgimento da escrita foi fundamental para o desenvolvimen-
to da humanidade, afinal como diz o dito popular: “a gente só enxer-
ga aquilo que a gente sabe”.
O bom domínio, tanto da leitura quanto da escrita, pode ampliar
nossa capacidade de compreender o mundo em que vivemos, de
entender melhor aqueles com quem convivemos na sociedade atual
e também de conhecer nossos antepassados. Hoje a escrita está
presente em todas as atividades humanas, por meio dela seguimos
expressar nossas crenças, valores, desejos, necessidades, dúvi-
das, ou seja, nosso modo de ver o mundo.
Nesse sentido, conhecer como se deu o surgimento da escrita,
como evoluíram os processos de alfabetização, os métodos de en-
sino da língua escrita e sua sistematização, o conceito de letramen-
to, enfim, conhecer mais profundamente sobre a cultura escrita é

13
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

conteúdo indispensável no processo de formação inicial de profes-


sores, sobretudo daqueles que atuarão na Educação Infantil e nos
anos iniciais do Ensino Fundamental.
É somente a partir dessa compreensão mais ampla e aprofundada
sobre o papel da escrita em nossa sociedade, que será possível ao
professor garantir boas situações de aprendizagem que possibili-
tará a todos os alunos o direito de aprender a ler e a escrever, por
meio de uma prática pedagógica que intensifique atividades reais
de leitura e de escrita numa perspectiva de letramento, pois a ca-
pacidade leitora e escritora são fundamentais para formação de um
aluno autônomo, emancipado, crítico, ou seja, para constituição de
uma cidadania plena.

O poder da leitura é o tema do livro intitulado: “Balzac e a


costureirinha chinesa”. Nessa narrativa você conhecerá uma história
tocante sobre a transformação que a leitura pode provocar na vida
de uma pessoa. A história se passa em 1971, em meio a Revolução
Cultural Chinesa (1966-1976), quando Mao Tsé-tung fechou as
universidades e passou a perseguir os intelectuais, dentre eles dois
jovens de classe média são mandados para cidadezinha do interior
da China para trabalhar no campo. Lá eles são forçados a trabalhar
na lavoura e em minas de carvão, mas as coisas mudam quando
eles conhecem a costureirinha chinesa, por quem se apaixonam.
Não deixe de ler esse livro que, só na França, chegou a vender mais
1 milhão de exemplares. Você encontra essa obra em bibliotecas
públicas, procure na mais próxima de você.

A INVENÇÃO DA ESCRITA: O DESEJO DO REGISTRO

Os seres humanos se diferenciam dos animais devido à sua


capacidade intelectual, e foi justamente essa capacidade que nos
permitiu expressar simbolicamente a realidade, por meio da cria-
ção de um sistema de signos a que conhecemos como língua. Por
meio da linguagem conseguimos nos comunicar com os outros, nos
entender e sermos entendidos. É com a linguagem também que
construímos conhecimentos que nos garantiram o poder de agir
sobre o mundo.
14
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

A aquisição da linguagem representou um enorme avanço


para os seres humanos, pois, como demonstram os estudos do psi-
cólogo bielorrusso Lev Vygotsky (1896-1934), foi por meio da lingua-
gem que desenvolvemos o nosso pensamento. Por muitos e muitos
séculos nos comunicamos oralmente apoiados nesse sistema de
signos.
Para Vygotsky, a escrita é muito mais que um conjunto de
associações mecânicas entre grafemas (letras) e fonemas (sons).
Ao contrário, é produto da capacidade de representação simbólica
dos pensamentos, que transforma sons em símbolos, cuja interação
materializa as palavras que poderão ser lidas por outros.
Sendo assim, as tentativas de grafismo, como a imitação da
escrita adulta, os desenhos, a “mistura” de desenhos, números e
letras que compõem a escrita infantil é parte do processo de apro-
priação do sistema de escrita que, por sua vez, é mediada pelas Saiba Mais
experiências culturais vividas pelo sujeito.
Para saber mais sobre capa-
Reconhecendo o sistema de escrita como um sistema alta- cidade humana de unir a lin-
guagem ao pensamento leia
mente tecnológico e complexo de representação dos pensamentos
o trabalho de Lev Vygotsky
humanos, Vygotsky critica o ensino pela repetição de sons e letras. em sua obra: A Construção do
Pensamento e da Linguagem,
Para ele, ao fazer isso, se nega à criança a compreensão do sentido da editora Martins Fontes.
da escrita e sua importância (VYGOTSKY, 2004).
É fundamental, a partir dos estudos de Vygotsky e Luria (um
de seus colaboradores e amigos mais presentes em sua obra), en-
tender as ideias construídas pelas crianças mesmo antes delas sa-
berem ler e escrever convencionalmente, para que se consiga des-
cobrir e desvendar os mistérios e as regras de funcionamento do
sistema de escrita.
Desde o tempo das cavernas o homem primitivo já
sentia necessidade do registro, quando gravava nas pare-
des das cavernas imagens que lhe pareciam significativas.
Essa forma de expressão, mais rudimentar, ficou conhecida
como escrita Pictórica. Observe alguns registros históricos
dessa fase pictográfica:
Figura 2 -–Imagem de
escrita pictórica
2 BIBLIOAM. A história da escrita. 22 de agosto de 2014. Disponível em: <https://biblioam. Fonte: Biblioam, 20142
wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/>. Acesso em: 02 mar. 2016.

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Alfabetização e Letramento
Unidade 1

Foi a partir da escrita pictórica que se institui, de forma


progressiva, um sistema de representação. Historicamente,
a fase pictórica foi precedida pela escrita ideográfica, que
já não se apoiava simplesmente em figuras relacionadas a
imagens representadas, mas que procurava representar uma
ideia. Observe os exemplos abaixo de escrita ideográfica:

Após, surgiu a escrita ideográfica, que não utilizava apenas ra-


biscos e figuras associados à imagem que se queria registrar,
Figura 3 - Imagem de mas sim uma imagem ou figura que representasse uma ideia,
escrita pictórica
tornando-se posteriormente uma convenção de escrita. Os lei-
Fonte: Biblioam, 20143
tores dependiam do contexto e do senso comum para decifrar
o significado. As letras do nosso alfabeto vieram desse tipo de
evolução. Algumas escritas ideográficas mais conhecidas são
os hieróglifos egípcios, as escritas sumérias, minoica e chine-
sa, da qual provém a escrita japonesa (WEBEDUC, 2015).

Somente depois é que se observa a tentativa de se associar,


por meio de um registro escrito, símbolos fonéticos, que naquele
momento ainda não contava com as vogais, mas que abrem ca-
minho para o surgimento da escrita fonética. Surgem inicialmente
os sibalários que visavam representar sílabas no lugar das letras
isoladas. Depois são os fenícios que conseguem criar um sistema
mais reduzido de caracteres que expressavam os sons das conso-
Figura 4 - Imagem de
escrita ideográfica nantais.
Fonte: Biblioam, 20144
Tendo como referência escrita fenícia, os gregos criaram as
vogais que permitiu, assim, o surgimento da escrita alfabética.
Logo depois, a escrita grega foi adaptada pelos romanos que
Você sabia ? criaram o sistema alfabético greco-romano, dando, assim, origem
Você sabia que a palavra alfa-
ao alfabeto como conhecemos hoje. Foi justamente o sistema alfa-
beto vem da junção das duas bético que permitiu com um menor número de símbolos combinar
primeiras letras do alfabeto
grego, Alfa e beta? uma grande quantidade de caracteres que representassem os sons
da fala em unidades menores que uma sílaba. O sistema de escrita
original, com o passar do tempo, foi se ajustando às especificidades
de cada povo que ia acolhendo a escrita em seu meio e produzin-

3 BIBLIOAM. A história da escrita. 22 de agosto de 2014. Disponível em: <https://biblioam.


wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/>. Acesso em: 02 mar. 2016.
4 BIBLIOAM. A história da escrita. 22 de agosto de 2014. Disponível em: <https://biblioam.
wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/>. Acesso em: 02 mar. 2016.

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O Surgimento da Escrita
Unidade 1

do, assim, mudanças linguísticas. Como afirmam Colomer e Camps


(2002, p. 12):

A elaboração histórica dos signos gráficos em códigos siste-


matizados teve diversas realizações nas diferentes culturas.
A elaboração mais simples configurou a chamada escrita pic-
tórica, na qual se representavam diretamente os objetos e as
ações. Mas foi somente na escrita ideográfica ou logo gráfica
que os sinais gráficos estabeleceram relações com o código
linguístico ao representar palavras ou morfemas da língua,
como ocorre na escrita cuneiforme dos sumérios, na chinesa
ou na hieroglífica egípcia. O inconveniente de ter de criar e
memorizar uma quantidade tão grande de signos para poder
representar componentes fonéticos e semânticos das palavras.

É possível observar, a partir do trecho acima, como a constru-


ção da escrita foi se desenvolvendo historicamente, e que os futuros
professores precisam compreender tal processo, a fim de conside-
rar todo o percurso de criação do sistema de aquisição da escrita.

Esse é o caso, por exemplo, da atual escrita chinesa, na qual


se pode acrescentar caracteres de forma indefinida, formando
novas uniões entre os componentes. Assim, o princípio básico
para que um sistema de escrita fosse produtivo foi sua consti-
tuição como um conjunto limitado de signos. Algumas culturas
tentaram resolver o problema a partir da representação das sí-
labas da língua, e os fenícios idealizaram um sistema alfabé-
tico de representação dos signos consonantais que constitui
a base do alfabeto adotado pelos gregos. Estes incluíram os
signos vocálicos e a ideia de que toda sílaba é divisível nes-
ses signos, e seu alfabeto levou ao nosso sistema gráfico atual
através da escrita latina (COLOMER; CAMPS, 2002, p. 12).

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Alfabetização e Letramento
Unidade 1

A escrita deve ser considerada como um bem cultural que


se construiu historicamente muitos sistemas de escrita. O sistema
alfabético que utilizamos é apenas um deles e não o único, por
exemplo, existem sistemas que representam ideias, como no caso
do sistema chinês.
Os sistemas fonográficos podem representar silabicamente a
pauta sonora, como ocorre na escrita japonesa ou alfabeticamen-
te, como no caso do português. Entretanto, vale salientar também
que outras formas de registro igualmente avançaram, como, por
exemplo, a escrita chinesa que ocupou durante muitos séculos na
Ásia um papel similar ao do latim na Europa. Na atualidade, como
afirma Ferreiro (2013), tanto os chineses quanto os japoneses co-
nhecem bem o funcionamento da escrita alfabética, todavia opta-
Figura 5 - Exemplo de ram por manter seu próprio sistema de escrita.
escrita egípcia
Fonte: Biblioam, 20145 O surgimento da escrita na história da humanidade, segundo
Colello (2007), desenvolveu-se inicialmente em função da neces-
sidade do registro, posteriormente dos registros de propriedade e
dos fluxos comerciais. Nessa perspectiva, ela “surge com e para o
poder. Surge para garantir a propriedade, a posse, o conhecimento,
o controle da mercadoria, o estabelecimento de normas e procedi-
mentos” (COLELLO, 2007, p. 11).

COMO E ONDE REGISTRAR A ESCRITA?

Assim, como houve uma evolução histórica do processo de


escrita desde a fase pictográfica até a escrita alfabética, é preciso
considerar que um percurso evolutivo também acompanhou o surgi-
mento dos suportes de escrita. O registro deu suporte mais antigo
de que temos notícia refere-se à escrita cuneiforme criada pelos su-
mérios. Esse suporte, em geral, era utilizado para registros de cálcu-
los da época como, por exemplo, na contagem de cabeças de gado,
no registro da produção de cereais, na cobrança de impostos etc.

5 BIBLIOAM. A história da escrita. 22 de agosto de 2014. Disponível em: <https://biblioam.


wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/>. Acesso em: 02 mar. 2016.

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O Surgimento da Escrita
Unidade 1

Esse tipo de registro também foi utilizado pelos povos da Mesopotâ-


mia que gravam sua escrita em tabuletas de pedras ou argilas, pos-
teriormente outros materiais foram sendo utilizados como: tabuletas,
papiros, pergaminhos.

É importante perceber que foi a representação das imagens, como


no sistema cuneiforme e também como os hieróglifos egípcios que
deram origem aos sinais grafados, que por sua vez, possibilitaram
o surgimento dos alfabetos.

Na tentativa de registrar a escrita, foram muitas as formas utili-


zadas a princípio, materiais como a pedra, argila, o bronze, o couro,
entre outras matérias foram experimentados como suportes para es-
Figura 6 - Imagem
crita. Por exemplo, os egípcios criaram um suporte de escrita produ- representando a escrita
zido a partir de uma planta muito comum no Nilo, conhecida como cuneiformeegipcia
Fonte: Biblioam, 20146
papiro, e que foi utilizada por muito tempo.
O papiro serviu como suporte de escrita e favoreceu poste-
riormente o surgimento do papel, facilitando muito o registro escrito.

Figura 7 - Imagem de
papiro
Fonte: CulturaMix, 20147

6 BIBLIOAM. A história da escrita. 22 de agosto de 2014. Disponível em: <https://biblioam.


wordpress.com/2014/08/22/a-historia-da-escrita/>. Acesso em: 02 mar. 2016.
7 CULTURAMIX. Mini papiro ou papiro anão. 2014. Disponível em: <http://flores.culturamix.
com/informacoes/mini-papiro-ou-papiro-anao>. Acesso em: 02 mar. 2016.
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Alfabetização e Letramento
Unidade 1

Figura 8 - Parte do papiro


Rhindi (peça de museu de
Londres)
Fonte: Tecciencia, 20128

Você sabia ?
Você sabia que o nome papel
tem sua origem na palavra
papyrus que vem do latim? O
papiro era feito a partir desta
planta da família das cepare-
as, uma planta aquática, cujo
nome científico era Cyperua
Papirus. O pergaminho também foi bastante utilizado, pois era mais
resistente do que o papiro e feito a partir de pele curtida de animais.
Já o papel foi uma invenção chinesa, criado 150 depois de Cristo.

Figura 9: Pergaminho
Fonte: Tecciencia, 20129

8 TECCIENCIA. Diferença entre papiro e pergaminho. 2012. Disponível em: <http://teccien-


cia.ufba.br/artes-visuais-2012/curiosidades/diferenca-entre-papiro-e-pergaminho>. Acesso
em: 02 mar. 2016.

9 TECCIENCIA. Diferença entre papiro e pergaminho. 2012. Disponível em: <http://teccien-


cia.ufba.br/artes-visuais-2012/curiosidades/diferenca-entre-papiro-e-pergaminho>. Acesso
20 em: 02 mar. 2016.
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

Você sabia ?
Você sabia que no antigo Egito
o tipo de escrita mais utilizado
era conhecido como escrita
hieroglífica? A palavra grega
hieroglifo, surgiu da união das
palavras glyphein (que signi-
fica escrever) e hieros (que
significa sagrado). Esse nome
se deve ao fato dos egípcios
acreditarem que o surgimen-
to da escrita era resultado de
uma ação divina.

Figura 10 - Imagem de
hieroglífo
Fonte: História Digital, 201310

A ESCRITA COMO UMA CONVENÇÃO SOCIAL

É muito importante não nos esquecermos que, por se tratar de


uma convenção social, ninguém nasce sabendo ler e escrever. Para
se alfabetizar cada um reconstrói em sua mente o sistema de escrita
que foi produzido historicamente ao longo da nossa história. Houve
um tempo que alguns povos atribuíam uma visão mítica ao surgi-
mento da escrita, como se a capacidade de ler e de escrever fosse
uma inspiração divina, como uma dádiva dos deuses aos escolhi-
dos. Porém, a escrita foi uma invenção humana, construída e aper-
feiçoada historicamente e que nos permitiu alcançar muitas outras
realizações que seriam impossíveis sem a aquisição do sistema de
escrita.
Na antiguidade, como poucos dominavam a arte da escrita e
da leitura, os escribas é que eram responsáveis por escrever os re-
gistros da época, como, por exemplo, as leis, escreviam sobre os

10 HISTÓRIA DIGITAL. Escreva seu nome em hieróglifo. 2013. Disponível em: < http://www.
historiadigital.org/atividades/escreva-seu-nome-em-hieroglifo/>. Acesso em: 02 mar. 2016.
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Alfabetização e Letramento
Unidade 1

feitos dos faraós, registravam os impostos cobrados, copiavam os


textos sagrados, entre outros registros. Por isso,
eles tinham um grande prestígio social e aten-
diam diretamente aos governantes. Foi graças
aos registros desses escribas que conseguimos
conhecer a história do antigo Egito, por exemplo,
sem esses registros grafados pelos escribas da
época, tal conhecimento não seria possível.

O INGRESSO NA CULTURA ESCRITA

A escrita tem o poder de suscitar certas ações e rea-


ções emocionais que, mesmo incompreensíveis, con-
tribuem para constituir, desde o início, uma consciên-
cia confusa sobre uma ambivalência fundamental dos
usos sociais do escrito. A escrita tem um duplo valor
social, por um lado, como meio para o exercício da
autoridade, do poder, por outro, como jogo de lingua-
Figura 11 - Escultura gem, a ficção literária ou a poesia. Dentre suas origens mais
com imagem de um
escriba sentado, autor remotas, os sistemas de escrita aparecem associados aos cen-
desconhecido. tros urbanos hierarquicamente organizados (falo de sistemas
Fonte: História De La Arte,
de escrita, não das diversas marcações que os precederam)
201311
Era uma escrita controlada pelo poder (econômico, político, ju-
rídico e religioso). Os escribas, autores materiais das marcas
escritas, eram escravos, funcionários ou artesãos prestigiosos,
autorizados inclusive a assinar algumas de suas preciosas pro-
duções. Mas o discurso que podia ser escrito era controlado
pela autoridade. Em particular o discurso gravado na pedra
ou pintado sobre os muros de construções monumentais podia
Atenção ter um duplo destinatário: as potências do além (por exemplo,
as escrituras, nas tumbas dos faraós egípcios, destinadas a
A escrita precisa ser compre-
endida como um objeto de garantir o trânsito do dignitário morto a sua nova morada) ou
conhecimento.
o povo iletrado, testemunha muda e contemplativa dos muros
entalhados (FERREIRO, 2013, p. 31).

11 HISTÓRIA de la arte. Escriba sentado. 2013. Disponível em: <http://historiadelartecomen-


tarios.blogspot.com.br/2013/10/escriba-sentado.html>. Acesso em: 02 mar. 2016.

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O Surgimento da Escrita
Unidade 1

O PODER DA ESCRITA

A escrita sempre esteve associada ao poder, se pararmos


para pensar os documentos oficiais, as leis, decretos, contratos são
firmados por meio do registro escrito que o legitima. A escrita histo-
ricamente contribuiu para normatização da vida social, legitimando
direitos e deveres na vida em sociedade. Dessa forma, não pode-
mos entender a escrita como um mero código de transcrição ou uma
técnica simplesmente.
Sobre essa questão Ferreiro afirmava que: “A identidade das
pessoas está garantida por uma série de documentos escritos, bem
como as propriedades e títulos acadêmicos. As grandes religiões
dos livros sacralizam os textos que lhes dão origem. Nenhuma esfe-
ra do poder está aleia à escrita” (FERREIRO, 2013, p. 32).
Nesse sentido, falar sobre a importância da alfabetização,
demanda tratar também sobre a função social da escola, sobre a
garantia de um direito constitucional. Nessa perspectiva, a leitura
e a escrita devem ser compreendidas a partir de um contexto mais
amplo, para além das atividades meramente escolares, elas devem
estar a favor do processo de emancipação dos cidadãos. Veja como
Paulo Freire tratou a questão da leitura:

Leitura complementar

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a pos-


terior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura
daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A com-
preensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a per-
cepção das relações entre o texto e o contexto. Ao ensaiar escrever sobre
a importância do ato de ler, eu me senti levado - e até gostosamente
- a “reler” momentos fundamentais de minha prática, guardados na
memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de mi-
nha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da
importância do ato de ler se veio em mim constituindo.

23
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando distância” dos diferentes


momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência exis-
tencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que se
movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha
escolarização, foi a leitura da “palavra mundo”.
A retomada da infância distante, buscando a compreensão do
meu ato de “ler” o mundo particular em que me movia - e até onde não
sou traído pela memória -, me é absolutamente significativa. Neste
esforço a que me vou entregando, re-crio, e re-vivo, e no texto que es-
crevo, a experiência vivida no momento em que ainda não lia a palavra.
Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife, rodeada de
árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós
- à sua sombra brincava e em seus galhos mais dóceis à minha altura eu
me experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e
aventuras maiores. A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão,
seu terraço - o sítio das avencas de minha mãe -, o quintal amplo em
que se achava, tudo isso foi o meu primeiro mundo. Nele engatinhei,
balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial
se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva, por isso
mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras.

Trecho extraído de FREIRE, P. A Importância do ato de ler. São Paulo: Cortez,


1989, p.9.

Você sabia ?
Paulo Freire (1921-1997) foi
reconhecido como patrono da ANALFABETISMO E PRECONCEITO: UM POUCO DA
educação brasileira, em 2012.
Ele dedicou toda sua vida à al- NOSSA HISTÓRIA
fabetização, principalmente de
jovens e adultos e à educação
popular. Para conhecer mais A relação entre o poder e a escrita, como já foi citado anteriormen-
sobre esse grande educador
brasileiro leia: FREIRE. Paulo.
te, ainda hoje pode ser observada se nos ativermos à forma como
Educação como prática de li- esta é produzida, difundida e conduzida, principalmente pelos seg-
berdade. Rio de Janeiro: Ed.
Terra e Paz, 1967. mentos detentores do poder, pois a alfabetização é compreendida
na sociedade como um importante pilar da cultura contemporânea,

24
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

já que o valor atribuído, tanto à escrita quanto à leitura, adquiriu


centralidade no modo de vida das sociedades urbano-industriais
imersas no desenvolvimento científico e tecnológico (GALVÃO; DI
PIERRO, 2007).
Ferraro (2009), em sua obra A história inacabada do anal-
fabetismo, trata da construção social do analfabetismo como uma
questão nacional, abordando os aspectos ideológicos e políticos
que acompanharam historicamente a trajetória do analfabetismo no
Brasil. Afirma que, apesar dos esforços empreendidos no processo
de escolarização e alfabetização, findamos o século XX e adentra-
mos no século XXI com 17.552.762 pessoas com mais de 10 anos
ainda não alfabetizadas. O censo de 2010 aponta leve retração dos
números 14.612.183, mas ainda assim indica que parcela expressi-
va da população continua não alfabetizada. De acordo com a Pes-
quisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2011, o total de
analfabetos com mais de 15 anos é de 12, 9 milhões.
No primeiro censo demográfico brasileiro, realizado em 1872,
o índice de analfabetismo na época era de 80,2% entre os homens
e 88,5% entre as mulheres. Em torno dessa condição, instaura-se o
estigma do analfabeto. Para Goffman (1988), o estigma está asso-
ciado a atributos depreciativos que conferem uma espécie de clas-
sificação social negativa, pela qual um indivíduo passa a ser identi-
ficado.
Os estereótipos atribuídos a alguém que, de alguma forma,
não corresponde ao modelo social predefinido a tornam estigmati-
zada. Assim se concretiza o conceito de estigma. Segundo Goffman
(1988), os indivíduos estigmatizados possuem duas identidades: a
real e a virtual. A Identidade real estaria, para o autor, relacionada a
todos os atributos que a constituem, enquanto a identidade virtual
se relaciona àquilo que lhe é imputado pelo outro e ou pela socieda-
de. Nessa perspectiva, o indivíduo estigmatizado passa a ser visto,
não por meio de sua identidade social real, mas acaba se reduzindo
exclusivamente ao atributo que o diferencia dos demais.
De acordo com Goffman (1988, p. 14), há três categorias de
estigmas: a primeira estaria relacionada às deformidades físicas; a
segunda, vinculada aos vícios adquiridos, aos diversos tipos de ins-
tabilidade emocional, elencados pelo autor, entre eles, homossexu-

25
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

alidade, o desemprego e até mesmo as tentativas de suicídio; e, na


terceira categoria, encontram-se os estigmas tribais relativos à raça,
à religião e à nação.
Não saber ler e escrever, com o tempo, passou a ser entendi-
do como um atributo depreciativo que expressava uma marca dis-
tintiva incompatível com a categoria socialmente prevista, forjando,
assim, o estigma do analfabetismo.
Em 1827, por exemplo, quando se instituiu a primeira Lei Ge-
ral de Instrução Pública no Brasil, a maior parte da população ainda
não sabia ler e escrever. Nesse período ainda não era necessário
ser alfabetizado para inserir-se nas diferentes esferas sociais. Po-
rém, 54 anos depois, o Decreto n.º 3.029, de 9 de janeiro de 1881
(BRASIL, 1881), no artigo 8.º, que tratava sobre o alistamento elei-
toral, afirmava que seriam nele incluídos apenas os cidadãos que
viessem a requerer e que provassem ter adquirido as “qualidades  
de eleitor” e, em conformidade com a lei, soubessem ler e escrever.  
Rui Barbosa, redator do texto final da Lei, era também con-
tra o voto dos analfabetos. Segundo Galvão e Di Pierro (2007, p.
39), o discurso sobre o analfabeto era entendido a partir de uma vi-
são sempre antagônica: “entre a capacidade e a perspicácia; entre
a incompetência e a dignidade, entre a miséria e o conhecimento,
entre a servilidade e a inteligência”.
Na segunda metade do século XIX, ainda segundo o estudo
de Galvão e Di Pierro (2007), o trabalho de alfabetização para as
classes populares era feito, pelos professores, sem remuneração.
Nas casas que funcionavam como escolas para crianças durante o
dia, à noite eram recebidos os maiores de 15 anos, para serem alfa-
betizados por docentes que não recebiam por essas aulas, pois sua
remuneração baseava-se apenas no ensino para crianças; a alfabe-
tização de adultos não era considerada como atividade docente a
ser remunerada.
Desse modo, o trabalho do professor alfabetizador com adul-
tos tem, na sua origem, um caráter filantrópico, desvinculado das
obrigações do Estado e distante da noção de educação como di-
reito. Tal aspecto enseja indagações acerca da própria história da
política destinada à Educação de Jovens e Adultos, invariavelmente
preterida pelas políticas públicas em relação ao ensino regular.

26
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

O ensino e a aprendizagem da leitura e da escrita passaram a


chamar a atenção da administração pública de forma mais contun-
dente somente algumas décadas antes da Proclamação da Repú-
blica. Contudo, foi a partir da primeira década republicana, por meio
das reformas em torno da instrução pública, que a leitura e a escrita
se institucionalizaram como práticas escolarizadas, conforme assi-
nala Mortatti (2010, p. 330), ou seja, passaram a ser “submetidas à
organização metódica, sistemática e intencional”.  
Somente na primeira década da República, com o surgimen-
to das reformas de instrução pública, o processo de alfabetização
tornar-se-ia uma ferramenta estratégica tida como essencial ao pro-
cesso de modernização do País.
A primeira Constituição Republicana, ao se referir às quali-
dades do cidadão, já mencionava o analfabeto e o instituía juridica-
mente. Segundo Silva (1998, p. 24), historicamente:

É nesse espaço que o cidadão-analfabeto é instalado pela Re-


pública: um lugar enunciativo de negação da própria cidada-
nia. Todos são iguais perante a lei, diz o texto, porém, nem
todos dizem as práticas sociais. A escrita assim passa a ser
um critério de seleção e de exclusão dos indivíduos da nossa
sociedade, adquirindo estatuto jurídico.

O analfabeto adquire visibilidade e a escrita traz a possibilida-


de de uma solução nova para a manutenção de antigas de-
sigualdades, para homogeneizar a heterogeneidade em uma
ordem burguesa, urbana e industrial.

Por exemplo, as reformas educacionais paulistas passaram tam-


bém a considerar a aquisição do sistema de escrita como questão
central para o desenvolvimento político, econômico e social, em con-
sonância com os ideais republicanos, para os quais o analfabetismo
passou a ser compreendido como uma “vergonha nacional” pelos
políticos da época.  Contudo, foi a partir da década de 1930 que a
alfabetização ganhou espaço estratégico nas ações governamentais
estaduais e federais, a fim de alavancar o desenvolvimento nacional.

27
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

No Brasil, a história da alfabetização sempre envolveu os em-


bates e as disputas acerca dos métodos de alfabetização utiliza-
dos pelos professores, o que, ao longo do tempo, foi instaurando
no trabalho desses profissionais uma diversidade de concepções,
materiais, prescrições, normas e regras (MORTATTI, 2006). Assim,
essas disputas metodológicas fomentaram novas divisões entre os
especialistas e os professores.
Todas essas mudanças sociais, das quais acabamos de tra-
tar, trouxeram novos desafios à escola, tornando necessários cons-
tantes ajustes do trabalho docente, principalmente no que diz res-
peito à organização do tempo, do espaço, dos conteúdos, dos
modos de exercer sua atividade.

LEITURA E ESCRITA E SUAS RELAÇÕES COM A HISTÓRIA DA


EDUCAÇÃO NO BRASIL

Para refletirmos sobre a leitura e escrita no Brasil convém re-


tomar, ainda que de forma sucinta, alguns aspectos que ajudam
a pensar sobre a alfabetização e seus significados e sentidos nos
dias de hoje.
Embora a alfabetização no Brasil tenha seguido os passos
dos colonizadores europeus, esses não conseguiram conter ou su-
focar as contribuições dos povos indígenas e africanos na formação
do português brasileiro e, mesmo, nos usos e costumes que envol-
vem a leitura e a escrita.
Embora as línguas indígenas fossem orais, e mesmo que se
tenha tentado erradicá-las do Estado Brasileiro, elas tiveram
Para pensar
um papel essencial na constituição do nosso léxico12 e dos
Você conhece ou já conheceu
nossos modos de nos comunicarmos.
algum adulto analfabeto? Você sabe
quais os impedimentos e dificuldades pelas No que se refere às línguas africanas, par-
quais ele passou por não saber ler e escrever? O te delas tem alfabeto e sistema de escrita, mas
que você acha que deveria ser feito, por parte das se mantiveram fora dos compêndios escola-
políticas públicas para se acabar com o analfabetismo
res por muito tempo. É recente a valorização
no Brasil?
de ambos os povos para a compreensão
do português brasileiro.

12 Grosso modo, léxico pode ser entendido com o conjunto


de palavras que constitui um determinado idioma.
28
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

A alfabetização, realizada pelos jesuítas no Brasil Colônia,


reunia não apenas a imposição da fé católica, mas também da lín-
gua portuguesa.
Não se pode, contudo, negar que tiveram um papel impor-
tante, visto que com sua expulsão de Portugal e seus domínios,
com a Reforma Pombalina, o Brasil permaneceu durante quase
200 anos sem que houvesse ações intencionais de alfabetização
da população.
Durante séculos, os filhos das elites brasileiras foram alfabe-
tizados por preceptores ou eram enviados para estudar no exterior,
enquanto a maior parte da população seguia analfabeta.
Com o início do tráfico de pessoas africanas, é importante
mencionar que os escravos malês têm um papel importante na alfa-
betização e na difusão da lectoescritura em terras brasileiras.
Os malês eram africanos muçulmanos bilíngues e que sabiam
ler e escrever em árabe. Muitos deles eram muito mais cultos do
que seus próprios senhores. Alfabetizaram muitas crianças bran-
cas e muitos escravos africanos, às escondidas. Ocupavam postos
de trabalho importantes, que dependiam da leitura e da escrita, as
quais os senhores não eram capazes de executar. Lideraram uma
importante revolta (conhecida como Revolta dos Malês), em 1835,
em Salvador, que foi descoberta pelos brancos. Dado o seu poten-
cial e objetivos, ela deixou marcas muito importantes na formação
da cultura brasileira. Mesmo que tenha ficado muito tempo fora da
“história oficial”, não se pode falar em letramento no Brasil sem con-
siderar o importante papel dos malês, que também eram conheci-
dos como muçurumins.
Fora esse fato, a ideia dos valores de alfabetização e de esco-
larização foi assumida e disseminada somente na República (1889).
Tomando como exemplo o caso do Estado de São Paulo, a
alfabetização para todos se iniciou em 1920, com a Reforma Sam-
paio Doria. Contudo, a grande controvérsia é que para expandir a
escolarização para todos, a partir da obrigatoriedade de dois anos
de escolarização (em comparação com os dias atuais, nos quais
temos 9 anos de ensino fundamental obrigatório, 2 anos é pouco) o
tempo de permanência na escola era de apenas 3 horas, ao longo
de 5 dias da semana.

29
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

Com isso, a alfabetização do Brasil tem aspectos que não po-


dem ser desconsiderados. A começar pelo seu percurso histórico,
marcado pela colonização, pela desigualdade social e pela exclu-
são, não se pode esquecer da marcante desigualdade racial e de
gênero (visto que a frequência escolar feminina também é um valor
republicano) que a constitui.

A LETRA CURSIVA

Um exemplo específico das mudanças sociais que afetaram


o processo de alfabetização pode ser o ensino da letra cursiva. Du-
rante longos períodos na história dos métodos de alfabetização, ela
ocupou um espaço importante, sobretudo em tempos em que docu-
mentos como certidões de casamentos, de propriedade, de nasci-
mento, convites e cartas eram registradas à mão, muito bem grafa-
das, ou como se costumava dizer antigamente, com letras
bordadíssimas, que evidenciavam o valor social da escrita, em tem-
pos em que a maioria da população se mantinha analfabeta.

Figura 12 - Exemplo de
letra cursiva
Fonte: Arquivo da autora.

Não obstante, com o surgimento da máquina de escrever e,


posteriormente, com o avanço das tecnologias da informação, es-
pecialmente a partir do surgimento do computador, a letra cursiva

30
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

foi aos poucos perdendo o seu status social de outrora. A ocupa-


ção de calígrafo, inclusive, foi aos poucos se extinguindo, já que
se conseguia produzir, por meio do computador e de impressoras,
letras cada vez mais sofisticadas em menos tempo, ou, como diria o
sociólogo norte-americano Richard Sennett, em sua obra O artífice
(2009), ao discutir sobre a habilidade artesanal a partir da lógica da
sociedade mecânica e produtivista:
“Na aplicação da medida de qualidade absoluta à coisa propria-
mente dita,  a máquina é melhor artesã que uma pessoa”  (SEN-
NETT, 1999, p.  60).
Com o tempo, o uso da letra cursiva, dos cadernos de caligra-
fia e dos exercícios específicos de coordenação motora fina, que
tanto fizeram parte da trajetória profissional e de formação dos pro-
fessores, quanto de alunos e, posteriormente, permearam sua for-
mação inicial, em um dado momento se tornou um conteúdo dispen-
sável.
É possível observar esse movimento levando em conside-
ração o que como ocorreu em 2011, nos Estados Unidos, com a
Lei que tornou opcional o ensino da letra cursiva nas escolas. De
acordo com o que afirmava o diretor do Distrito escolar de Indiana:
“Se olharmos antigos documentos ou se
virmos a escrita de mão dos tempos da
guerra civil, eles eram verdadeiros traba-
lhos artísticos e certamente perderemos
parte disso.  Mas temos de levar em conta
o progresso” (CHACRA, 2011, p.  9).
O principal argumento daqueles
que defenderam essa lei se pautava na
ideia de que, na atualidade, as crianças
não precisariam mais escrever à mão no
papel, e seria mais adequado ensiná-las a
digitar mais rapidamente, já que a principal forma de comunicação Figura 13 - Pessoa utilizando
ocorre por meio de teclados dos celulares, tablets e computadores. celular
Fonte: Catraca Livre, 201413

13 CATRACA Livre. Venda seu celular velho e ajude no descarte correto de lixo eletrônico.
2014. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/curitiba/sustentavel/indicacao/venda-seu-
-celular-velho-e-ajude-no-descarte-correto-do-lixo-eletronico/>. Acesso em: 02 mar. 2016.

31
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

Figura 14 - Crianças
utilizando tablets
Fonte: Epoch Times, 201414

Apesar de o diretor norte-americano reconhecer a importân-


cia que a letra cursiva ocupou historicamente, ele afirma que, com
o passar do tempo, ela se transformou em algo obsoleto, que não
precisa mais ser ensinado nas escolas. Mas, diante desse relato,
vale a pena indagar em que medida a análise que faz toma como re-
ferência a realidade estadunidense e não o conjunto da população
do planeta, o qual não tem acesso a esses equipamentos; e se, por
conseguinte, a escrita não é efetivamente algo obsoleto.
Ferreiro (2013, p. 449-450) contribui para aprofundar a dis-
cussão:

Antes o teclado para escrever definia uma instância de apren-


dizagem específica chamada “datilografia”. Hoje não há mais
nenhuma instituição, sequer de qualidade duvidosa, que pro-
mova a datilografia. A escola não se encarrega, porque nun-
ca se encarregou do teclado como instrumento de escrita. É
como se assumíssemos, implicitamente que, “tanto faz” enfren-
tar o teclado de um computador com as duas mãos e com dez
dedos ou com alguns dedos, sempre em combinação com o

14 EPOCH Times. Conheça 10 experiências de uso de tablets e laptops na educação.


2014. Disponível em: <https://www.epochtimes.com.br/conheca-10-experiencias-uso-ta-
blets-laptops-educacao/#.VnlIXUvqPn0>. Acesso em: 02 mar. 2016.
32
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

mouse. No entanto, não dá no mesmo. O ir e vir do olhar entre


o monitor e o teclado multiplica os erros e contribui com prefe-
rência pelo mouse ao teclado, que por sua vez, contribui para
menosprezar as enormes vantagens desse teclado associado
a um processador de texto.

A colocação de Ferreiro nos ajuda a refletir sobre as mudan-


ças provocadas pela tecnologia nos procedimentos de escrita e nos
provoca pensar sobre o quanto ela tem avançado em suas práticas
pedagógicas, no que se refere à alfabetização. Por exemplo:

As novas tecnologias valorizaram um de nossos dedos: o po-


legar. Evidentemente, este dedo é peça-chave da capacidade
de preensão de nossa mão, mas a beleza da mão é cantada
através dos dedos longos, não destes dedos curtos e rechon-
chudo privilegiado para as digitais. As novas gerações estão
pondo à prova a mobilidade deste dedo, nos minúsculos apa-
relhos digitais portáteis e nos controles remotos. Os jovens têm
uma mobilidade invejável nos polegares. Claro que a revolução
informática é muito mais que a escrita através dos dedos. O
importante é tudo o que muda ao mesmo tempo: os modos de
produção de tetos, sua circulação e a materialidade dos obje-
tos portadores das marcas escritas (FERREIRO, 2013, p. 450).

Figura 15 - Pessoa
utilizando teclado
Fonte: PB Hoje, 2015

15 PB Hoje. Cidadãos poderão enviar ideias para projetos de leis pela internet em
JP. 19 de maio de 2015. Disponível em: <http://www.pbhoje.com.br/noticias/693/cidadaos-
-poderao-enviar-ideias-para-projetos-de-leis-pela-internet-em-jp.html >. Acesso em: 02 mar.
2016. 33
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

DIFUSÃO, POPULARIZAÇÃO E PERCURSOS DA


ESCRITA E DA LEITURA

A escrita é uma produção sócio-histórica, conforme já citamos


no decorrer deste capítulo e trata-se de um sistema em constante
evolução de representação do pensamento humano. Ela permite
que o conhecimento acumulado pela humanidade não se perca,
tornando possível a transmissão desse conhecimento no curso do
tempo e da história. A propagação das informações, por meio da
escrita, está ligada ao desenvolvimento de um conjunto de capaci-
dades intelectuais que a humanidade foi desenvolvendo ao longo
de sua evolução.
A escrita, assim, tem um papel muito importante na constitui-
ção de um conjunto de funções psicológicas, de modo que a memó-
ria é uma das mais importantes dessas funções.
É importante lembrar que a difusão e a popularização da es-
crita se deram com a invenção da imprensa mecânica móvel, por
Gutenberg, no século XV.
O uso da imprensa permitiu a difusão de material escrito em
larga escala, alterando o curso da história e da cultura, na medi-
da em que fez circular socialmente ideias que, entre outros fato-
res, constituíram as condições que possibilitaram, por exemplo, a
Reforma Protestante, o Renascimento, a Revolução Francesa e, até
mesmo, que se fizesse propaganda das duas grandes guerras do
século XX.
Com isso, a escrita passou a ter um papel de relevo diante da
imagem e do discurso oral, passando a ocupar o centro das práticas
de letramento até, pelo menos, a segunda metade do século XX. Por
conta disso, é comum ouvirmos que nossa sociedade é grafocên-
trica (centrada na escrita).
A própria noção de escolarização como direito tem na inven-
ção da imprensa uma de suas justificativas.
O sistema de leis, as religiões, a evolução do comércio e da
indústria, a literatura e as artes, a Filosofia, a História e a Ciência
passaram a ser vistas como artefatos da escrita. Como afirma Olson
(1997, p.10):

34
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

O tema da escrita tem a ver com as propriedades especiais e


peculiares desses artefatos, com esse mundo no papel, com
sua força e suas limitações, com seus usos e abusos, com sua
história e mitologia; e tem a ver com os tipos de competências
e com as modalidades de pensamento e percepção que inter-
vêm na abordagem e na exploração desse mundo no papel.

É importante lembrar que até a invenção da imprensa, no


mundo Ocidental, a leitura e a escrita eram capacidades que pou-
cas pessoas puderam desenvolver, sendo a maior parte delas do
clero e de grupos sociais privilegiados.
Esse quadro mudou, paulatinamente, com a expansão das
escolas, sobretudo as públicas, que assumiu não apenas a respon-
sabilidade pela alfabetização, mas a função social de transmitir às
novas gerações todo o conhecimento acumulado pela humanidade
ao longo dos tempos.
No século XX, pode-se afirmar que houve uma transformação nas
culturas do escrito. A invenção de instrumentos audiovisuais, como
a televisão, o computador, os telefones celulares e até mesmo mobi-
ledoors, por exemplo, fizeram com que a escrita sofresse constantes
modificações. Atualmente, a escrita, para comunicar algo, pode vir
combinada com imagens, filmes e animações, permitindo, inclusive,
que novos gêneros discursivos e formas de comunicação emerjam
e ganhem uso prático social.
Exemplos disso são os símbolos conhecidos como emoticons
ou emojis. Inicialmente, os emoticons eram espécies de “carinhas”
amarelas, que serviam para representar uma série de emoções e
sentimentos humanos. A palavra emoji, uma combinação das pala-
vras imagem e letra, em japonês, passou a ser empregada no mun-
do inteiro como uma forma de designar um sem número de pic-
togramas, utilizados em instrumentos de tecnologia, programas e
aplicativos, como o whatsapp e o facebook.
Outro exemplo importante da emergência de novas formas de co-
municação são os conhecidos posts, publicações on-line cada vez
mais populares em páginas como o Facebook.

35
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

Essas formas de comunicação não podem ser consideradas


quando pensamos na alfabetização das crianças e adultos dos nos-
sos tempos.

Figura 16 - Exemplo de
alguns emoticons
Fonte: Black top comedy,
201516

A TRADIÇÃO ESCOLAR

A escola ainda hoje se apoia em materiais tradicionais, o mais


conhecido deles é a lousa e o giz, que podem inclusive ser con-
siderados ícones dessa instituição social. Historicamente a escola
sempre ofereceu uma certa resistência às inovações tecnológicas
como, por exemplo, ao uso da caneta esferográfica, insistindo por
muito tempo em usar a caneta tinteiro, depois opôs-se a calculadora
em sala de aula, ao uso da máquina de escrever, da televisão, com-
putador, tablets, celulares. Contudo, não podemos desconsiderar
o fato de que o avanço tecnológico causou repercussões na forma
do registro escrito. E tais avanços precisam ser considerados,
Para pensar pois digitar é diferente de escrever, os procedimentos do
Por vezes, é comum encontrarmos
ato de escrever não são os mesmos que envolvidos no
pessoas que supervalorizem as línguas ato de digitar, concordam?
estrangeiras. No caso da língua portuguesa, há
quem diga que o “português de Portugal” é “mais
Lápis e papel. Houve uma época em que esses
correto”.
eram os utensílios disponíveis para escrever,
Contudo, o português brasileiro tem história e características
próprias, o que o torna rico e peculiar. tanto na escola como fora dela. Com o pas-
Nessa perspectiva, faz sentido pensar que há uma relação de sar do tempo, as máquinas de datilografar,
superioridade ou inferioridade entre idiomas? Em seu ponto de
vista, o que faz com que algumas pessoas cheguem a afirmar que o 16 BLACK top comedy. List of emoticons. 2015. Dis-
português de Portugal seja “superior” ao português brasileiro? ponível em: <http://www.blacktopcomedy.com/
blog/2015/8/5/list-of-emotions>. Acesso em: 02 mar.
2016.
36
O Surgimento da Escrita
Unidade 1

primeiro, e os computadores, depois, foram invadindo os mais


diversos ambientes, mas não a sala de aula. Uma pena. Se
equipamentos desse tipo fazem parte do dia a dia da maioria
das pessoas, que os usam socialmente para redigir, não há
porque ignorá-los em atividades de alfabetização. Felizmente,
a tendência é que isso mude com a informatização das esco-
las. Há dez anos, 16% delas tinham computador para uso dos
alunos e 12% contavam com acesso à internet - só na opção
discada -, conforme dados do Ministério da Educação (MEC).
Em 2012, eram 57% com micros para uso didático, 52% deles
conectados à rede. O recurso deve chegar a todas as escolas
nos próximos anos, razão para que você esteja preparado para
usá-lo da melhor forma. É preciso estar atento, porém, a um
ponto: a presença da tecnologia não é garantia de aprendiza-
gem. Não bastam laptops à disposição na sala, por exemplo,
se eles só são usados para jogos - esses aplicativos certamen-
te chamam a atenção da meninada, mas poucos proporcionam
desafios e reflexões sobre a leitura e a escrita. Mesmo quem
não sabe ler e escrever, acredite, pode enfrentar o computador
em atividades com foco na alfabetização. Afinal, muitas crian-
ças aprendem as letras em um teclado e todas podem usá-lo
para grafar palavras da maneira que sabem, mesmo que não
seja convencionalmente (SANTOMAURO, 2013).

CONCLUSÃO DO CAPÍTULO

Para pensar
Este capítulo teve como objetivo central contextua-
Hoje em dia, em geral, de que
lizar o surgimento da escrita na história da huma-
forma você mais escreve? À mão ou
nidade, apresentando o processo de evolução
digitando em celular, computador ou tablete?
da mesma, bem como a importância dessa O que você acha que muda nessas duas formas
convenção social, que tantos avanços pos- de escrever? No seu tempo de aluno na educação

sibilitou. Básica você costumava ter acesso à tecnologia em


sala de aula? Você acha importante garantir aos alunos
Iniciamos este capítulo retoman- que se apropriem da escrita digital na escola? Por quê?
do o período histórico quando a escrita Reflita sobre essas questões levando em conta tudo o que
ainda não existia até o surgimento da leu neste capítulo.

37
Alfabetização e Letramento
Unidade 1

mesma, em que pôde-se observar também seu processo histórico


e sua influência no progresso da humanidade em várias dimensões:
científico, tecnológico, artístico etc.
Foi possível também evidenciar o valor da alfabetização em
nossa sociedade, considerando o preconceito sofrido por aqueles
que ainda se encontram analfabetos nesta sociedade cercada pela
cultura letrada.
A relação da escrita com o poder e também algumas de suas
transformações também foram tratadas neste 1.º capítulo, a exem-
plo do valor dado à letra cursiva e ao surgimento de novas formas
de se registrar o escrito, sobretudo considerando o avanço tecnoló-
gico.
Ao encerrarmos este primeiro capítulo, faz-se necessário rei-
terarmos que a alfabetização é a porta de entrada para a cultura do
escrito, uma alfabetização de qualidade terá repercussões positivas
na trajetória escolar de nossos alunos. Por isso se faz necessário,
você, futuro professor, se apropriar dessa temática em todas as suas
dimensões: político, técnica, pedagógica, social, cultural etc.

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O Surgimento da Escrita
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Alfabetização e Letramento
Unidade 1

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