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ASPECTOS LEGAIS E

TRIBUTÁRIOS NAS
SOCIEDADES DE
COOPERATIVAS DE
CRÉDITO

Autoras: Lucy Yuriko Pelliser


Simone de Cássia Machado Müller

UNIASSELVI-PÓS
Programa de Pós-Graduação EAD
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
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Reitor: Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel

Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Prof.ª Hiandra B. Götzinger Montibeller
Prof.ª Izilene Conceição Amaro Ewald
Prof.ª Jociane Stolf

Revisão de Conteúdo: Prof. Luiz Salgado Klaes

Revisão Gramatical: Prof.ª Sandra Pottmeier

Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Copyright © UNIASSELVI 2012


Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
UNIASSELVI – Indaial.

343.066
P391a Pelliser, Lucy Yuriko
Aspectos legais e tributários nas sociedades de coope-
rativas de crédito / Lucy Yuriko Pelliser e Simone de Cassia
Machado Muller. Indaial : Uniasselvi, 2012.
208 p. : il.

ISBN 978-85-7830-531-4

1. Cooperativas - tributos.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
Lucy Yuriko Pelliser

É graduada em Administração de Empresas


pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIDAVI –
especialista em Língua Inglesa pela Universidade
Regional de Blumenau – FURB – e mestre em
Administração de Negócios (2002). Tem experiência
na área bancária, em que atuou durante 23 anos.
Trabalhou como professora de Língua Inglesa com
jovens no Seminário São Francisco de Assis em
Ituporanga (SC) e, é seu primeiro trabalho na EAD
UNIASSELVI.

Simone de Cássia Machado Müller

Graduada em Ciências Contábeis (1996) e


especialista em Gerenciamento de Marketing pela
Fundação Universidade Regional de Blumenau,
FURB (1999). Mestre em Liderança e Administração
pela University of Texas System, UTS, Estados Unidos
(2004). Publicou 2 artigos em periódicos especializados:
Distance Learning in Higher Education: A Comparative
Analysis of Brazil and the United States; e
Comparative Research between Brazil and the
United States in Distance Learning in Higher
Education. Atua na área de administração, com
ênfase em negócios internacionais.
Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................7

CAPÍTULO 1
Análise e interpretação da Lei 5.764/71 e Legislação
Complementar: Primeira Parte - Capítulos I a IX.................9

CAPÍTULO 2
Análise e Interpretação da Lei 5.764/71 e Legislação
Complementar Parte II...........................................................61

CAPÍTULO 3
O Cooperativismo e o Novo Código Civil Brasileiro......105

CAPÍTULO 4
Legislação Tributária Aplicada às Cooperativas
de Crédito.............................................................................137

CAPÍTULO 5
Legislação Complementar e Resolução
do Banco Central.................................................................173
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):

O crescimento do movimento cooperativista em nível mundial não


poderiadeixar de ser acompanhado pelo Brasil. Os números são consideráveis:
no mundo chega a 1 bilhão em mais de 100 países gerando cerca de 100 milhões
de empregos. No Brasil são 9 milhões de associados distribuídos por 6.652
cooperativas, que geram mais de 300 mil empregos diretos, segundo dados da
OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras). No mundo já existem mais
membros de Sociedades Cooperativas do que acionistas de Sociedades de
Capital que somam 328 milhões, conforme aponta o relatório “Global Business
Ownership 2012”, encomendado pela Organização das Cooperativas do Reino
Unido (Cooperatives UK).

Esses números mostram um momento especial para o desenvolvimento


e crescimento da atividade cooperativista que ocupa cada vez mais os
espaços econômico e social. Mostram ainda, que o Cooperativismo é um ideal
socioeconômico que tem a força da cooperação e que nasceu das necessidades
humanas em consonância com o Estado Democrático de Direito, em que vivemos
no mundo atual.

O que vemos hoje é o crescimento de uma consciência voltada para a


convivência cada vez maior em redes, sejam sociais ou de trabalho. Acreditamos
que seja esse um dos motivos da intensificação do espírito cooperativista. Esse
ideal se faz notar pelas ações empreendidas pelas empresas e pela constante
busca que o homem empreende por uma sociedade mais justa, voltada para o ser
humano e por ações que busquem a sustentabilidade do planeta.

2012 foi designado pela ONU (Organização das Nações Unidas) como o
Ano Internacional do Cooperativismo, com o objetivo de incentivar e destacar sua
contribuição para o desenvolvimento socioeconômico e o impacto de suas ações
na redução da pobreza, geração de emprego e integração social, conforme o
Portal do Cooperativismo de Crédito.

Assim, vemos que esse é um momento especial do Cooperativismo no Brasil e


no mundo e, que, você está integrado nesse momento enquanto estuda e trabalha.
Esse Caderno de Estudos foi elaborado para que você conheça a Lei nº 5.764/71
que é conhecida como a Lei das Cooperativas e quais foram as modificações
que o Novo Código Civil Brasileiro introduziu nessa lei. Você vai conhecer um
pouco da Legislação Tributária que é aplicada às Cooperativas em 8 Aspectos
Legais e Tributários nas Sociedades de Cooperativas de Crédito geral e, por
último, uma das mais importantes normas editadas em função das Cooperativas,
que é a Lei Complementar nº 130/09, que trouxe mudanças significativas para
as Cooperativas de Crédito, sendo a responsável pela introdução das mesmas
no Sistema Financeiro Nacional. De modo especial, apresentamos a Governança
Corporativa, uma ferramenta que está sendo adotada pelas grandes corporações
e que visa dar maior transparência para a gestão das empresas, suas relações
com associados e clientes, trazendo ainda, a padronização de determinados atos
administrativos.
C APÍTULO 1
Análise e interpretação da Lei
5.764/71 e Legislação Complementar:
Primeira Parte - Capítulos I a IX

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a Lei 5.764/71 ou Lei das Cooperativas, que define a Política do


Cooperativismo no Brasil e que institui o Regime Jurídico das Sociedades
Cooperativas entre outras providências.

� Relacionar os artigos da Lei 5.764/71 com a prática do Cooperativismo.


Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

ConteXtualiZação
Iniciamos os estudos desta disciplina apresentando a Lei 5.764/71 que define
a Política Nacional de Cooperativismo. Neste primeiro capítulo vamos apresentar
a primeira parte desta Lei nº 5.764/71 fazendo uma análise e comentários da
mesma. É a Lei 5.764/71 que define a Política Nacional de Cooperativismo,
instituindo o regime jurídico das sociedades cooperativas e que dá outras
providências.

Em virtude de ser uma Lei editada há praticamente 40 anos, existem muitas


críticas sobre sua atualização e adequação ao cooperativismo contemporâneo
de acordo com Fontenelle (2011), assessor jurídico da OCB/CE. Para ele, no
entanto, a Lei 5.764/71 atende perfeitamente aos desafios do cooperativismo
necessitando maior discussão e divulgação do Direito Cooperativo para sua
melhor compreensão.

Desta forma iniciaremos a seguir os comentários sobre os artigos dessa Lei


para conhecê-la melhor, utilizando para tanto o livro Direito Cooperativo Brasileiro
(Comentários à Lei 5.764/71) de Paulo César Andrade Siqueira, além de citação
de outros autores que contribuem para o entendimento da Lei das Cooperativas.

Capítulo I a III da Lei 5.764/71


Primeiramente vamos conhecer os capítulos iniciais da Lei 5.764/71, que
falam do que é a Política Nacional de Cooperativismo, definindo também o que é
uma Sociedade Cooperativa e quais são seus objetivos e como são classificadas.

a) Da Política Nacional de Cooperativismo

CAPÍTULO I
Da Política Nacional de Cooperativismo

Art. 1° Compreende-se como Política Nacional de Cooperativismo a


atividade decorrente das iniciativas ligadas ao sistema cooperativo,
originárias de setor público ou privado, isoladas ou coordenadas
entre si, desde que reconhecido seu interesse público.

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Art. 2° As atribuições do Governo Federal na coordenação


Art. 1° Compreende-
e no estímulo às atividades de cooperativismo no território
se como Política
nacional serão exercidas na forma desta Lei e das normas que
Nacional de
surgirem em sua decorrência.
Cooperativismo a
atividade decorrente
das iniciativas Parágrafo único. A ação do Poder Público se exercerá,
ligadas ao sistema principalmente, mediante prestação de assistência técnica e
cooperativo, de incentivos financeiros e creditórios especiais, necessários
originárias de à criação, desenvolvimento e integração das entidades
setor público ou cooperativas (BRASIL, 1971).
privado, isoladas
ou coordenadas
entre si, desde que
reconhecido seu Você pode observar que o legislador reconhece o cooperativismo
interesse público.como tema estratégico para o país bem como a existência de
um sistema cooperativo quando cria uma Política Nacional de
Cooperativismo.

É interessante verificar que ao citar que o sistema cooperativo é oriundo


do setor público ou privado o Legislador retira o monopólio do setor público em
relação às iniciativas ligadas ao cooperativismo.

A lei determina ainda que o papel do Estado na Política Nacional do


Cooperativismo seja de coordenação e estímulo a essa atividade. Já no Parágrafo
único observamos que a ação estatal para a criação, desenvolvimento e
integração das cooperativas será efetivada através da assistência técnica e de
incentivos financeiros e creditórios especiais.

Além disso, o Legislador buscou preservar a autonomia e independência do


sistema cooperativo ao delimitar o campo de atuação e forma de agir do Estado
na Política Nacional de Cooperativismo.

Das Sociedades Cooperativas

CAPÍTULO II
Das Sociedades Cooperativas

Art. 3° Celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas


que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços
para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum,
sem objetivo de lucro.

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas,


Art. 3° Celebram
com forma e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não
contrato de
sujeitas à falência, constituídas para prestar serviços aos
sociedade
associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas
cooperativa as
seguintes características:
pessoas que
reciprocamente
I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, se obrigam a
salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços; contribuir com bens
ou serviços para o
II - variabilidade do capital social representado por quotas- exercício de uma
partes; atividade econômica,
de proveito comum,
III - limitação do número de quotas-partes do capital para sem objetivo de
cada associado, facultado, porém, o estabelecimento lucro.
de critérios de proporcionalidade, se assim for mais
adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV - inacessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros,


estranhos à sociedade;

V- singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais,


federações e confederações de cooperativas, com exceção
das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da
proporcionalidade;

VI - quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia


Geral baseado no número de associados e não no capital;

VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente


às operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em
contrário da Assembleia Geral;

VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica


Educacional e Social;

IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;

X- prestação de assistência aos associados, e, quando previsto


nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de


reunião, controle, operações e prestação de serviços (BRASIL,
1971).

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Aqui, podemos identificar algumas palavras-chave sobre o que o Direito-


jurídico brasileiro define como cooperativa. Com o objetivo de melhor compreender
esses conceitos vamos fazer algumas atividades. Que tal começar relendo o
capítulo II da Lei 5.764/71 com atenção?

As principais diferenças entre as sociedades empresarias e as sociedades


cooperativas são: os objetivos sociais, a legislação que as rege e principalmente
a destinação dos resultados. O principal objetivo das sociedades empresariais é a
produção de bens e serviços e a geração de lucros, enquanto que as sociedades
cooperativas também produzem bens e serviços, mas distribuem o resultado do
exercício, chamado “sobras líquidas”, aos seus associados ou cooperados.

Atividade de Estudos:

1) Quem são as pessoas que atuam na formação de uma Sociedade


Cooperativa e qual é a finalidade de sua constituição segundo
este capítulo da lei?
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2) Quais são as principais características que distinguem as


Sociedades Cooperativas das demais sociedades?
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Muito bem. Você pode observar que são muitas as diferenças entre as
Sociedades Empresariais e as Sociedades Cooperativas. No próximo capítulo,
vamos estudar os objetivos a que se propõem as Sociedades Cooperativas e,
ainda, sua classificação. Vamos lá?

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Do Objetivo e Classificação das Sociedades Cooperativas

CAPÍTULO III
Do Objetivo e Classificação das Sociedades Cooperativas

Art. 5° As sociedades cooperativas poderão adotar por objeto


qualquer gênero de serviço, operação ou atividade, assegurando-
se lhes o direito exclusivo e exigindo-se lhes a obrigação do uso da
expressão “cooperativa” em sua denominação.

Parágrafo único. É vedado as cooperativas o uso da Art. 5° As


expressão “Banco”. sociedades
cooperativas
Art. 6º As sociedades cooperativas são consideradas: poderão adotar por
objeto qualquer
I- singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20 gênero de
(vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida serviço, operação
a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto ou atividade,
as mesmas ou correlatas atividades econômicas das assegurando-se lhes
pessoas físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos; o direito exclusivo
e exigindo-se lhes
II - cooperativas centrais ou federações de cooperativas, as a obrigação do
constituídas de, no mínimo, 3 (três) singulares, podendo, uso da expressão
excepcionalmente, admitir associados individuais; “cooperativa” em sua
denominação.
III - confederações de cooperativas, as constituídas, pelo
menos, de 3 (três) federações de cooperativas ou cooperativas
centrais, da mesma ou de diferentes modalidades.

§ 1º Os associados individuais das cooperativas centrais e federações


de cooperativas serão inscritos no Livro de Matrícula da sociedade
e classificados em grupos visando à transformação, no futuro, em
cooperativas singulares que a elas se filiarão.

§ 2º A exceção estabelecida no item II, in fine, do caput deste artigo


não se aplica às centrais e federações que exerçam atividades de
crédito.

Art. 7º As cooperativas singulares se caracterizam pela prestação


direta de serviços aos associados objetivam organizar, em comum
e em maior escala, os serviços econômicos e assistenciais de
interesse das filiadas, integrando e orientando suas atividades, bem
como facilitando a utilização recíproca dos serviços.

Parágrafo único. Para a prestação de serviços de interesse


comum, é permitida a constituição de cooperativas centrais, às quais
se associem outras cooperativas de objetivo e finalidades diversas.

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Art. 9° As confederações de cooperativas têm por objetivo


orientar e coordenar as atividades das filiadas, nos casos em que o
vulto dos empreendimentos transcender o âmbito de capacidade ou
conveniência de atuação das centrais e federações.

Art. 10. As cooperativas se classificam também de acordo com o


objeto ou pela natureza das atividades desenvolvidas por elas ou por
seus associados.

§ 1º Além das modalidades de cooperativas já consagradas,


caberá ao respectivo órgão controlador apreciar e caracterizar outras
que se apresentem.

§ 2º Serão consideradas mistas as cooperativas que


apresentarem mais de um objeto de atividades.

Art. 11. As sociedades cooperativas serão de responsabilidade


limitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos
da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito.

Art. 12. As sociedades cooperativas serão de responsabilidade


ilimitada, quando a responsabilidade do associado pelos
compromissos da sociedade for pessoal, solidária e não tiver limite.

Art. 13. A responsabilidade do associado para com terceiros,


como membro da sociedade, somente poderá ser invocada depois
de judicialmente exigida da cooperativa (BRASIL, 1971).

O artigo 5º. Trata do ramo de atividade em que os cooperados estão


inseridos e que será utilizado para tornar viável a finalidade da cooperativa. Fala
ainda da obrigatoriedade do uso do termo “cooperativa” na denominação social e
a proibição do uso da palavra “Banco” pelas cooperativas.

A classificação das cooperativas em ramos tem a finalidade


A classificação
das cooperativas de organizá-las de maneira que facilite a formação das federações,
em ramos tem confederações e centrais, e também para sua própria organização
a finalidade de política. Além disso, ao se agruparem por ramo de atividade (tais
organizá-las de como: agropecuárias, educacional, crédito, consumo, mineração,
maneira que trabalho, saúde, turismo e lazer etc.) as cooperativas conseguem ter
facilite a formação
maior competitividade de mercado e obtém maior ganho de escala
das federações,
confederações e para os seus associados.
centrais, e também
para sua própria De Rose (2002 citado por SIQUEIRA, 2004, p. 47), considera
organização política. que “a realização do objetivo social é o meio de exteriorização do Ato
Cooperativo”.
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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Para saber quais são os ramos mais comuns de cooperativas no


Brasil, sugerimos que consulte o seguinte artigo:

SIQUEIRA, Paulo César Andrade. “As Cooperativas e a


Terceirização”, artigo posto em Problemas Atuais de Direito
Cooperativo, Renato Lopes Becho, coordenador, Dialética, São
Paulo, 2002, p. 206/233.

Consulte também os ramos de cooperativa existentes no site


da OCB Organização das Cooperativas Brasileiras: Disponível em
http://www.ocb.org.br

Do artigo 6º ao artigo 10º, a Lei das Cooperativas trata de classificar as


cooperativas quanto ao nível de cooperação. Assim sendo, elas podem ser
singulares (de primeiro grau) quando se tratarem daquelas constituídas pelo
número mínimo de 20 pessoas físicas; podem também ser admitidas pessoas
jurídicas desde que suas atividades sejam idênticas às das suas sócias pessoas
físicas ou que não possuam fins lucrativos.

A seguir vem as Cooperativas Centrais e as federações de cooperativas


que são entidades constituídas de no mínimo três cooperativas singulares ou de
segundo grau. Países como o Brasil, Estados Unidos da América, Rússia, China
e Índia que têm um continente muito vasto “dependem do reconhecimento de
que nenhuma instituição humana, que ficasse limitada as suas fronteiras, poderia
desenvolver-se adequadamente e ter importância nacional” (SIQUEIRA, 2004, p.
54). Assim, quando há interesse de somar, os interesses de várias cooperativas
são constituídas às Cooperativas Centrais ou federações com a finalidade de
viabilizar um melhor desempenho das cooperativas singulares e não com o
propósito de atender aos reclamos de seus cooperados.

Novamente para atender às necessidades de competitividade frente ao


mercado internacional, à globalização da economia mundial e aos mercados
comuns internacionais GATT (General Agreement on Tariffs and Trade –
Acordo Geral de Tarifas e Comércio), CEE (Comunidade Econômica Europeia),
MERCOSUL (Mercado Comum do Sul), NAFTA (North-American Free Trade
Agreement – Acordo de Livre Comércio Norte-americano) e outros, faz-se
necessário a centralização nacional em entidades representativas (de terceiro

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

grau) que são as confederações de cooperativas; constituídas de no mínimo três


federações de cooperativas ou Cooperativas Centrais que podem ser inclusive de
modalidades diferentes, reúnem-se quer para uniformizar interesses, reduzir os
custos das forças políticas e jurídicas, reduzir custos da corporação e, assim, são
capazes de uma governança corporativa eficaz.

A partir do artigo 11º. Ao 13º. Trata da responsabilidade jurídica das


sociedades cooperativas bem como a de seus dirigentes e sócios. Para facilitar a
compreensão do termo responsabilidade, que tal analisarmos algumas definições
jurídicas desse termo?

Siqueira (2004, p. 59-60) faz as seguintes afirmações com


relação à responsabilidade.

Responsabilidade é a aptidão que têm os obrigados pela lei ou


pelo contrato a pagarem com seu patrimônio os danos materiais
ou morais, que seus atos individualmente considerados, ou seus
contratos, causem a terceiros.

A responsabilidade por atos ilícitos, chamada de


responsabilidade extracontratual, decorre dos atos da
vida, que, sem justificativa jurídica, causem danos de
qualquer monta a outrem.

A responsabilidade por infração à obrigação contratual,


denominada de responsabilidade contratual, decorrer
da infração de regras contratuais, ou do cumprimento
defeituoso do contrato, de modo a causar dano de
qualquer monta a outra parte contratante.

Há várias teorias da responsabilidade, segundo a


valoração que cada nacionalidade empresta ao valor
da propriedade e interesses em jogo.

As cooperativas têm Nesse contexto assim, como em todas as sociedades, as


sua responsabilidade cooperativas têm sua responsabilidade não só pelos seus atos, mas
não só pelos seus também pelo cumprimento de contratos. Dessa forma responde
atos, mas também diretamente com seu patrimônio quer pelas obrigações assumidas
pelo cumprimento de
quer pelos danos que venha a causar a outros.
contratos.

Por outro lado os dirigentes das cooperativas, agindo de acordo com os


termos da lei e seus estatutos não poderão ser responsabilizados pessoalmente
pelos atos que praticarem no exercício de seus mandatos. No entanto, havendo
dolo ou culpa proveniente de seus atos, responderão solidariamente no que é

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

chamado de infração a dever. Esse caso será avaliado mais a frente quando
analisarmos o artigo 49 dessa mesma lei.

Quanto à responsabilidade nas sociedades em geral bem como nas


Sociedades Cooperativas, ela pode ainda ser:

• Limitada: Os sócios respondem apenas até o limite do valor de suas cotas


vertidas na sociedade;

• Ilimitada: A responsabilidade dos sócios é pessoal, solidária e não tem limite,


como diz a Lei em si mesma.

Já o Artigo 13 aborda em que momento o sócio é invocado com sua


responsabilidade e para isso é necessário que abordemos alguns aspectos
relevantes. São eles: A responsabilidade dos sócios para com a cooperativa;
a responsabilidade dos sócios para com outros sócios; a responsabilidade
dos sócios para com terceiros por fato da cooperativa e a responsabilidade da
cooperativa pelo fato do sócio.

Veremos a seguir cada um desses aspectos que são importantes no


relacionamento entre o sócio e a cooperativa.

• A responsabilidade dos sócios para com outros sócios

Quanto à responsabilidade dos sócios para com a cooperativa, é O sócio, ao


o estatuto desta que funciona como a lei que governa essa relação. O associar-se a uma
sócio, ao associar-se a uma cooperativa assume o dever de cumprir e cooperativa assume
respeitar o estatuto, porém vai além da obrigação de um contrato onde o dever de cumprir e
poderia descumprir suas obrigações assumindo a responsabilidade respeitar o estatuto,
porém vai além
por perdas e danos. O descumprimento do estatuto pode acarretar
da obrigação de
sua eliminação dessa sociedade. Além disso, a cooperativa é a um contrato onde
administradora dos bens comuns que os sócios colocam a seu dispor poderia descumprir
(bens, mercadorias e serviços) podendo proceder a um acerto de suas obrigações
créditos e débitos, caso haja prejuízos e perdas pelos quais os sócios assumindo a
sejam responsáveis. responsabilidade por
perdas e danos.

Em relação à cooperativa, a responsabilidade do sócio é subjetiva, ilimitada


e individual.

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

• A responsabilidade dos sócios para com outros sócios

Já a Já a responsabilidade dos sócios para com outros sócios é


responsabilidade tão somente civil, desde que os meios e formas de cooperação não
dos sócios para com resultem em dano causado por ato ou fato jurídico. Isso se deve ao
outros sócios é tão fato que essas relações acontecem através da cooperativa e são,
somente civil. portanto, regidas pelo seu estatuto.

• A responsabilidade dos sócios para com terceiros

Tratando-se da responsabilidade dos sócios para com terceiros por fato da


cooperativa, ou seja, quando a cooperativa gera um dano ou prejuízo a terceiros,
ela é definida pela definição de limitada ou ilimitada quando da constituição da
sociedade. Sendo a sociedade de responsabilidade limitada, cabe aos sócios
responderem proporcionalmente ao valor de suas cotas e limitadas ao valor do
capital subscrito; no caso das sociedades de responsabilidade ilimitada, ao valor
total do crédito. Em qualquer dos casos, entretanto, a responsabilidade dos sócios
será exigida somente após ter sido exigida da cooperativa, através de via judicial,
sua responsabilidade.

• A responsabilidade da cooperativa pelo fato do sócio

À responsabilidade Finalmente chegamos à responsabilidade da cooperativa pelo


da cooperativa pelo fato do sócio. Aqui chegamos a uma matéria polêmica. O Código Civil,
fato do sócio. tanto o antigo quanto o atual, diz que “a culpa do preposto obriga
o proponente” (art. 932 do Código Civil 2002), ou seja, a culpa da
O Código Civil, tanto cooperativa obriga o cooperado.
o antigo quanto o
atual, diz que “a
culpa do preposto E quando acontece o contrário? Quando o sócio usando dos
obriga o proponente” serviços da cooperativa causa dano a um terceiro? Seria a cooperativa
(art. 932 do Código responsável por esse dano?
Civil 2002),

• Vejamos o que diz o Código de Proteção e Defesa do Consumidor:

Art. 28 - O Juiz poderá desconsidera a personalidade jurídica


da sociedade, quando, em detrimento do consumidor, houver
abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato
ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contato social.
A desconsideração também será efetivada quando houver
falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade
da pessoa jurídica, provocados por má administração
(BRASIL, 1990).

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

É uma questão bastante discutida e você poderá buscar leitura complementar


para melhor compreender essa situação. Além do texto que está nas páginas 64 a
67 do livro indicado, há também decisões judiciais nas notas de rodapé do mesmo
autor. Não deixe de ler.

SIQUEIRA, Paulo Cesar de Andrade. Direito Cooperativo


Brasileiro. Comentários à Lei 5.764/71. São Paulo.
Dialética, 2004.

Na verdade a responsabilidade recairá sobre os administradores da


cooperativa, uma vez que o cooperado não interfere nos negócios da cooperativa
que pelos estatutos e pela própria lei são realizados pelos órgãos sociais de
administração. Novamente nos deparamos com uma polêmica, visto que essa
situação amparada pelo Código de Consumidor e chamada de “desconsideração
da pessoa jurídica em caso de abuso contra a lei ou os estatutos da sociedade”, é
uma violação ao artigo 49 da Lei 5.764/71 que define essa responsabilidade.

Atividade de Estudos:

E você? O que pensa disso?

1) Após estudar esta primeira seção registre em poucas palavras


o que você compreendeu a respeito da responsabilidade da
cooperativa pelo fato do sócio.
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Capítulo IV a VI da Lei 5.764/71


Nesta seção você vai saber como é a constituída uma Sociedade Cooperativa
e quais são os requisitos fundamentais para a legalidade e o funcionamento dessa
instituição. Também vai conhecer os livros necessários para a manutenção dos
registros de uma cooperativa e a parte mais importante: como é a formação do
capital social nas Sociedades Cooperativas.

a) Da Constituição das Sociedades Cooperativas

CAPÍTULO IV
Da Constituição das Sociedades Cooperativas

Art. 14. A sociedade cooperativa constitui-se por deliberação da


Assembleia Geral dos fundadores, constantes da respectiva ata ou
por instrumento público.

Art. 15. O ato constitutivo, sob pena de nulidade, deverá declarar:

I - a denominação da entidade, sede e objeto de funcionamento;

II - o nome, nacionalidade, idade, estado civil, profissão e residência


dos associados, fundadores que o assinaram, bem como o valor
e número da quota-parte de cada um;

III - aprovação do estatuto da sociedade;

IV - o nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos


associados eleitos para os órgãos de administração, fiscalização
e outros;

Art. 16. O ato constitutivo da sociedade e os estatutos, quando não


transcritos naquele, serão assinados pelos fundadores (BRASIL, 1971).

Dando prosseguimento ao conhecimento da Lei Cooperativa, passamos agora,


ao ato que trata do momento propriamente dito da constituição da cooperativa.
É a ata da constituição e não o estatuto em si que cria a cooperativa e aprova
também o seu estatuto. Assim, o artigo 15 declara que num único ato jurídico,
a constituição da cooperativa, deverá definir além da formalidade da sociedade

22
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

o seu estatuto. Este é, portanto, o primeiro ato de cooperação onde os sócios


definem a finalidade e o objeto dessa sociedade e os meios pelos quais atingirão
seus objetivos.

Sobre as características e registro do ato constitutivo Siqueira, (2002, p. 71),


faz as seguintes ponderações:

A ata da assembleia geral de constituição da sociedade


cooperativa é feita segundo o modelo tradicional, em livro de
atas ou folhas soltas, numeradas e rubricadas pelo presidente.
Neste documento devem-se historiar os fatos, resumidamente,
de maior relevância ocorrida no evento.

Em virtude da exigência da lei, a ata de constituição deve então


ser assinada por todos os sócios fundadores, qualificando-os
conforme o art. 997 do CC, não sendo de boa prática negocial
incluir o estatuto, como permite a lei, no corpo da constituição.

O ideal é que se leve para a assembleia uma minuta do


estatuto, que, aprovado respeitado os ditames do art. 15 da Lei
das Cooperativas e do art. 997 do CC seja assinado por todos
os sócios fundadores. A separação do estatuto e Algumas
da ata faz com que o uso diário do estatuto não cooperativas como
seja complicado após as alterações dos órgãos
as que sejam do
estatutários da administração.
ramo de crédito e
No entanto, a ata de constituição deve referir-se trabalho médico, têm
expressamente ao estatuto aprovado, devendo, no legislação específica
ato constitutivo, deliberar-se ainda pela eleição dos e órgãos estatais
cargos dos órgãos sociais estatutários. de controle, que
fazem exigências
É bom ressalvar que algumas cooperativas como formais que devem
as que sejam do ramo de crédito e trabalho ser obedecidas na
médico, têm legislação específica e órgãos ata de atas das
estatais de controle, que fazem exigências assembleias da
formais que devem ser obedecidas na ata de
sociedade.
atas das assembleias da sociedade.

Para facilitar a sua tarefa, reproduzimos abaixo, o artigo 997 do Código Civil
Brasileiro de 2002, citado no texto acima. Ele está inserido no Capítulo I, Da
Sociedade Simples, Seção I Do Contrato Social da referida lei.

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito,


particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas
partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência


dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

23
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente,


podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis
de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de


realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição


consista em serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da


sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas


obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer


pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do
contrato (BRASIL, 2002).

Depois de constituída a cooperativa, esta deve ser registrada. Como


sociedade de pessoas que é uma cooperativa, de natureza civil, poderia se pensar
que seu registro é feito no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Porém, isso jamais
ocorreu. O fato é que o Legislador confundiu as Sociedades Cooperativas como
sendo de natureza mercantil, conforme as normas de registro da Lei 8.934/94, Do
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (BRASIL, 1994).

Art. 32. O registro compreende:

I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores


públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e adminis-
tradores de armazéns-gerais;

II - O arquivamento:

a) dos documentos relativos à constituição, alteração,


dissolução e extinção de firmas mercantis individuais,
sociedades mercantis e cooperativas.

Vemos, então, que numa lei tão recente ocorre ainda a confusão por parte do
Legislador, da Sociedade Cooperativa, de natureza civil e sem fins lucrativos, com
uma sociedade mercantil.

Felizmente com o advento do Código Civil de 2002, essa situação foi


reparada, assim o artigo 982 parágrafo único do Código Civil considera as
cooperativas sendo equiparadas às sociedades simples. O art. 998 determina que
as sociedades simples sejam registradas no Registro Civil de Pessoas Jurídicas
no prazo de 30 dias de sua constituição.
24
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Antes disso, o registro das cooperativas era feito nas Juntas Comerciais ou
nos Registros Públicos de Empresas Mercantis.

b) Da Autorização de Funcionamento

SEÇÃO I
Da Autorização de Funcionamento

Art. 17. A cooperativa constituída na forma da legislação vigente


apresentará ao respectivo órgão executivo federal de controle, no
Distrito Federal, Estados ou Territórios, ou ao órgão local para isso
credenciado, dentro de 30 (trinta) dias da data da constituição,
para fins de autorização, requerimento acompanhado de 4 (quatro)
vias do ato constitutivo, estatuto e lista nominativa, além de outros
documentos considerados necessários.

Art. 18. Verificada, no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, a


contar da data de entrada em seu protocolo, pelo respectivo órgão
executivo federal de controle ou órgão local para isso credenciado,
a existência de condições de funcionamento da cooperativa em
constituição, bem como a regularidade da documentação apresentada,
o órgão controlador devolverá, devidamente autenticadas, 2 (duas) vias
à cooperativa, acompanhadas de documento dirigido à Junta Comercial
do Estado, onde a entidade estiver sediada, comunicando a aprovação
do ato constitutivo da requerente.

§ 1° Dentro desse prazo, o órgão controlador, quando julgar


conveniente, no interesse do fortalecimento do sistema, poderá
ouvir o Conselho Nacional de Cooperativismo, caso em que não se
verificará a aprovação automática prevista no parágrafo seguinte.

§ 2º A falta de manifestação do órgão controlador no prazo a


que se refere este artigo implicará a aprovação do ato constitutivo e o
seu subsequente arquivamento na Junta Comercial respectiva.

§ 3º Se qualquer das condições citadas neste artigo não for


atendida satisfatoriamente, o órgão ao qual compete conceder a
autorização dará ciência ao requerente, indicando as exigências a
serem cumpridas no prazo de 60 (sessenta) dias, findos os quais, se
não atendidas, o pedido será automaticamente arquivado.

§ 4° À parte é facultado interpor da decisão proferida pelo órgão


controlador, nos Estados, Distrito Federal ou Territórios, recurso para

25
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

a respectiva administração central, dentro do prazo de 30 (trinta) dias


contado da data do recebimento da comunicação e, em segunda e
última instância, ao Conselho Nacional de Cooperativismo, também
no prazo de 30 (trinta) dias, exceção feita às cooperativas de
crédito, às seções de crédito das cooperativas agrícolas mistas, e às
cooperativas habitacionais, hipótese em que o recurso será apreciado
pelo Conselho Monetário Nacional, no tocante às duas primeiras, e
pelo Banco Nacional de Habitação em relação às últimas.

Art. 19. A cooperativa escolar não estará sujeita ao


arquivamento dos documentos de constituição, bastando remetê-
los ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, ou
respectivo órgão local de controle, devidamente autenticados pelo
diretor do estabelecimento de ensino ou a maior autoridade escolar
do município, quando a cooperativa congregar associações de mais
de um estabelecimento de ensino.

Art. 20. A reforma de estatutos obedecerá, no que couber, ao


disposto nos artigos anteriores, observadas as prescrições dos
órgãos normativos (BRASIL, 1971).

Você leu agora os artigos 17 a 20 da Lei 5.764/71. Esses artigos tratam da


autorização para o funcionamento das cooperativas. Esses artigos foram editados
à época da Emenda Constitucional no. 1/67. Naquela época o sistema de governo
no Brasil era o Governo Militar e, por conta disso, poderia haver a necessidade
de regulamentar e fiscalizar a atividade cooperativa de forma específica, bem
como poderiam ser exigidas condições prévias de um juízo da oportunidade
e conveniência de sua criação (SIQUEIRA, 2002). Segundo Siqueira, esses
artigos violentam a liberdade das atividades lícitas e que o controle delas por
parte de um órgão público é juridicamente inviável e, por esse motivo, não foram
recepcionados.

A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada


em 5 de outubro de 1988, 15 (quinze) anos passados,
foi inspirada na Carta dos Direitos norte-americana, na
Declaração Universal dos Direitos do Homem da Revolução
Francesa, na Constituição Democrática do Brasil de 1946,
não admitindo, assim, que o Estado invadisse impunemente
a atividade do cidadão, sem qualquer pretexto ou finalidade
(SIQUEIRA, 2004, p.74).

Você deve estar questionado porque esses artigos continuam na Lei 5.764/71
se na realidade elas não produzem efeito, certo?

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Embora as normas constitucionais revolucionem o sistema jurídico de um


país, elas não conseguem promover alterações totais e imediatas no sistema
vigente anterior. Existe no Direito um princípio que se chama “reenvio ou
recepção”. Esse sistema promove a harmonia entre os conjuntos (de leis vigentes
e anteriores), mantendo válidas as que não foram revogadas, excluindo aquelas
que foram revogadas ou que são contrárias à nova ordem. Como resultado disso,
esses artigos perderam a validade em virtude de não terem sido recepcionados por
serem contrárias à Constituição. Tendo em vista que a Lei 5.764/71 é considerada
uma Lei Ordinária, não pode ela cassar a liberdade garantida pela Constituição,
que é considerada a Lei maior, de criação e funcionamento das cooperativas (art.
5º. Inciso XVIII da Constituição de 1988 – a criação de associações, e na forma
da lei, de cooperativas, independem de autorização, sendo vedada a interferência
estatal em seu funcionamento).

Contudo, lembramos que as cooperativas de crédito, por estarem inseridas


dentro do Sistema Financeiro Nacional e obedecerem a uma legislação específica
são as únicas que necessitam de autorização para funcionamento.

Atividade de Estudos:

1) Apenas para complementar o seu saber, pesquise o que é uma


Lei Ordinária e escreva o seu conceito de forma breve e sucinta.
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Estamos avançando em nosso conteúdo. Até aqui tudo bem? Temos certeza
de que você já sabe muitas coisas novas sobre as Sociedades Cooperativas.
Agora, vamos ver como é o estatuto social de uma Sociedade Cooperativa, quais
são os livros de escrituração que são obrigatórios e não apenas pela contabilidade.
Você vai conhecer também um item muito importante que é o capital social e que
pode até não ser exigido numa Sociedade cooperativa. Vamos lá?

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

c) Do Estatuto Social

SEÇÃO II
Do Estatuto Social

Art. 21. O estatuto da cooperativa, além de atender ao disposto


no artigo 4º, deverá indicar:

I- a denominação, sede, prazo de duração, área de ação,


objeto da sociedade, fixação do exercício social e da data do
levantamento do balanço geral;

II - os direitos e deveres dos associados, natureza de suas


responsabilidades e as condições de admissão, demissão,
eliminação e exclusão e as normas para sua representação nas
assembleias gerais;

III - o capital mínimo, o valor da quota-parte, o mínimo de quotas-


partes a ser subscrito pelo associado, o modo de integralização
das quotas-partes, bem como as condições de sua retirada nos
casos de demissão, eliminação ou de exclusão do associado;

IV - a forma de devolução das sobras registradas aos associados, ou


do rateio das perdas apuradas por insuficiência de contribuição
para cobertura das despesas da sociedade;

V - o modo de administração e fiscalização, estabelecendo os


respectivos órgãos, com definição de suas atribuições, poderes
e funcionamento, a representação ativa e passiva da sociedade
em juízo ou fora dele, o prazo do mandato, bem como o processo
de substituição dos administradores e conselheiros fiscais;

VI - as formalidades de convocação das assembleias gerais e a


maioria requerida para a sua instalação e validade de suas
deliberações, vedado o direito de voto aos que nelas tiverem
interesse particular sem privá-los da participação nos debates;

VII - os casos de dissolução voluntária da sociedade;

VIII - o modo e o processo de alienação ou oneração de bens imóveis


da sociedade;

IX - o modo de reformar o estatuto;

X - o número mínimo de associados (BRASIL, 1971).

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

A nomenclatura que designa a cooperativa é dada por determinação legal do


art. 1159 do Código Civil (2003), não cabendo o uso da expressão “Ltda.” que é
de uso das sociedades limitadas.

As relações de sócio devem ser bastante precisas no estatuto As relações de sócio


afim de minimizar os conflitos que ocorram no desenvolvimento da devem ser bastante
atividade de cooperação. precisas no estatuto
afim de minimizar
os conflitos que
Embora o Código Civil prescreva a constituição de cooperativas ocorram no
sem Capital Social, as Sociedades Cooperativas de responsabilidade desenvolvimento
limitada devem ter um Capital Social mínimo que é a multiplicação da da atividade de
cota-parte de cada sócio pelo número de sócios. cooperação.

Como as cooperativas atuam na forma de exercício anual é preciso aguardar


a aprovação das contas do exercício antes de reembolsar o capital ao sócio que
saia da cooperativa por qualquer motivo.

A forma de contabilidade adotada pelas cooperativas é a Norma de


Contabilidade Técnica e o Conselho Federal de Contabilidade recomenda a
elaboração de Planos de Conta das cooperativas.

Você sabia que diferentemente das outras sociedades, os


prejuízos do exercício de uma cooperativa são rateados e compostos
pelos sócios? Em caso de resultado positivo eles receberão as
sobras do exercício. A forma de efetuar esse rateio, quer positivo,
quer negativo, deve ser disciplinado para que não hajam influências
momentâneas na regularidade desse rateio.

Você já sabe que o estatuto é a norma fundamental da


cooperativa. Logo, a validade de sua administração deve estar
prevista e de acordo com o que estiver disposto no estatuto.

Alguns detalhes da administração podem ser delegados a um Regimento


Interno, que também deve ser aprovado pelo Conselho de Administração. Por
exemplo:

• horários de reunião;
• forma de apresentação e andamento dos trabalhos;
• entre outros.

29
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Alguns, no entanto, devem ser estabelecidos no estatuto. Por exemplo:

• competência básica;
• frequência das reuniões;
• forma de dar publicidade aos atos;
• representação causal judicial e extrajudicial;
• entre outros.

Situações traumáticas como impedimento de administradores seja


por administração ruinosa, prevaricação ou outra situação grave, deve
obrigatoriamente constar no estatuto, visto que assuntos tão importantes dessa
natureza não devem ser tratados com improvisação.

Geralmente as cooperativas definem prazos diferentes para a convocação de


assembleias gerais usuais e para aquelas em que haja votação. No último caso
deve ser acrescido ao prazo usual o prazo para a impugnação de candidaturas.

Também é necessário delimitar uma ordem do dia mínima para as


assembleias gerais ordinárias bem como o quórum para a instalação e votação da
Assembleia Geral.

Da mesma forma como a lei ampara a liberdade associativa, ela também


permite a dissolução da cooperativa por deliberação de seus sócios. No entanto, a
utilidade desse dispositivo visa garantir alguma segurança em relação ao número
mínimo de sócios para garantir a continuidade da cooperativa, o tempo em que
esta poderá operar em situação de prejuízo, garantindo que a cooperativa seja
então, dissolvida independente da vontade dos sócios.

A reserva da utilização do patrimônio social de uma empresa garante a sua


solidez. Você sabia que a propriedade de uma cooperativa não é nem pública
nem privada? Ela é cooperativa e como tal não se pode dispor dela em favor dos
sócios. Interessante, não é mesmo?

Quanto à mudança ou reforma do estatuto da cooperativa, ela depende da


decisão de uma maioria qualificada em assembleia que deve ter a finalidade
específica de alteração do estatuto.

Embora haja um número mínimo de associados para compor os órgãos


sociais o Código Civil não determina o número mínimo de cooperados. Ele só é
importante para determinar a dissolução da sociedade quando estiver abaixo do
mínimo previsto no estatuto e para dar validade aos atos da cooperativa.

Passamos, então, a tratar dos livros que são necessários para que a
cooperativa mantenha seus registros contábeis, administrativos e legais.
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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

d) Dos Livros

CAPÍTULO V
Dos Livros

Art. 22. A sociedade cooperativa deverá possuir os seguintes livros:

I - de Matrícula;
II - de Atas das Assembleias Gerais;
III - de Atas dos Órgãos de Administração;
IV - de Atas do Conselho Fiscal;
V - de presença dos Associados nas Assembleias Gerais;
VI - outros, fiscais e contábeis, obrigatórios.

Parágrafo único. É facultada a adoção de livros de folhas soltas ou


fichas.

Art. 23. No Livro de Matrícula, os associados serão


Art. 23. No Livro
inscritos por ordem cronológica de admissão, dele constando:
de Matrícula, os
associados serão
I- o nome, idade, estado civil, nacionalidade, profissão e inscritos por ordem
residência do associado; cronológica de
admissão.
II - a data de sua admissão e, quando for o caso, de sua
demissão a pedido, eliminação ou exclusão;

III - a conta corrente das respectivas quotas-partes do capital social


(BRASIL, 1971).

Esse artigo fala dos livros que a cooperativa deve manter para o seu
funcionamento. Você deve saber que eles são imprescindíveis sob a ótica da
Administração, da Contabilidade e do Direito.

O mais importante é que eles devem ser preenchidos e guardados de acordo


com as normas e leis.

Passamos agora, a tratar do Capital Social nas Sociedades Cooperativas. O


capítulo trata de como é feita a subscrição de quotas nas cooperativas, quais são
as regras e limites de subscrição para os diversos tipos de pessoas que queiram
se tornar cooperados. Sabia que pode existir uma cooperativa que não tenha
capital social? Não? Então, vamos ver como é.

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

e) Do Capital Social

CAPÍTULO VI
Do Capital Social

Art. 24. O capital social será subdividido em quotas-partes,


cujo valor unitário não poderá ser superior ao maior salário mínimo
vigente no País.

§ 1º Nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um


terço) do total das quotas-partes, salvo nas sociedades em que
a subscrição deva ser diretamente proporcional ao movimento
financeiro do cooperado ou ao quantitativo dos produtos a serem
comercializados, beneficiados ou transformados, ou ainda, em
relação à área cultivada ou ao número de plantas e animais em
exploração.

§ 2º Não estão sujeitas ao limite estabelecido no parágrafo


anterior as pessoas jurídicas de direito público que participem de
cooperativas de eletrificação, irrigação e telecomunicações.

§ 3° É vedado às cooperativas distribuírem qualquer espécie de


benefício às quotas-partes do capital ou estabelecer outras vantagens
ou privilégios, financeiros ou não, em favor de quaisquer associados
ou terceiros excetuando-se os juros até o máximo de 12% (doze por
cento) ao ano que incidirão sobre a parte integralizada.

Art. 25. Para a formação do capital social poder-se-á estipular


que o pagamento das quotas-partes seja realizado mediante
prestações periódicas, independentemente de chamada, por meio de
contribuições ou outra forma estabelecida a critério dos respectivos
órgãos executivos federais.

Art. 26. A transferência de quotas-partes será averbada no Livro


de Matrícula, mediante termo que conterá as assinaturas do cedente,
do cessionário e do diretor que o estatuto designar.

Art. 27. A integralização das quotas-partes e o aumento do


capital social poderão ser feitos com bens avaliados previamente e
após homologação em Assembleia Geral ou mediante retenção de
determinada porcentagem do valor do movimento financeiro de cada
associado.

§ 1º O disposto neste artigo não se aplica às cooperativas de


crédito, às agrícolas mistas com seção de crédito e às habitacionais.

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

§ 2° Nas sociedades cooperativas em que a subscrição de


capital for diretamente proporcional ao movimento ou à expressão
econômica de cada associado, o estatuto deverá prever sua revisão
periódica para ajustamento às condições vigentes (BRASIL, 1971).

Vejamos de forma resumida, alguns conceitos de capital:

Conceito Econômico: Para Hunt, Smith e Marx, o capital é a


soma dos bens econômicos sendo eles insumos, dinheiro, trabalho e
ferramentas necessários para o desenvolvimento de uma atividade
(SIQUEIRA).

Conceito Contábil: O conceito fundamental de capital para


a contabilidade é o resultado os ativos menos o total de passivos. É
a relação entre uma entidade e a fonte de sua riqueza ou as contas
de capital. Resumindo: é o patrimônio dos sócios na sociedade
(SIQUEIRA, 2004).

É importante ter em mente esses conceitos antes de analisarmos o capital


social dentro do cooperativismo.

Para isto vamos separar as cooperativas com e sem Capital Social.

• Cooperativas com Capital Social

No Brasil a norma para a constituição das cooperativas é de que


ela tenha algum Capital Social. Como a finalidade de uma cooperativa No Brasil a norma
para a constituição
não é o lucro, a subscrição do Capital Social é apenas uma moeda
das cooperativas
de ingresso do sócio à sociedade e tem a característica de “joia de é de que ela tenha
associação”. Além de ser uma característica de filiação, esse capital, algum Capital Social.
numa sociedade limitada, determina uma responsabilidade que prevê
sua perda em caso de responsabilização na forma da lei.

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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

• Cooperativas sem Capital Social

O Código Civil O Código Civil em seu artigo 1094 prevê que as cooperativas
em seu artigo possam ser constituídas sem a exigência de Capital Social. Depois
1094 prevê que disso, a Lei 9.867/99 possibilitou a criação de cooperativas sociais
as cooperativas
como forma de integração social dos cidadãos. Mas mesmo as
possam ser
constituídas sem demais cooperativas podem de fato existir sem que possuam Capital
a exigência de Social. Nesse caso, obrigatoriamente deverão ser constituídas como
Capital Social. sociedades ilimitadas em relação aos administradores e associados.

Concluindo:

A natureza jurídica do Capital Social das cooperativas é diferente do


conceito de Capital Econômico e Contábil, pelo simples fato que a gestão da
cooperativa é feita através do rateio de despesas e receitas. Logo, o Capital
Social do ponto de vista cooperativo é meramente um padrão de ingresso na
sociedade.

O estabelecimento de um teto para a integralização de cotas deve-se ao


fato de que a cooperativa não é uma sociedade de cotas, anônima ou mercantil;
a ela não interessa que um cooperado detenha um poder muito grande e ao
sair dessa sociedade possa levar a um estado de insolvência. Pela importância
da participação do poder público em alguns segmentos cooperativos, como
eletrificação, irrigação e telecomunicação, a lei permite uma participação
maior. Até porque pelo princípio de legalidade que rege as ações do Poder
Público, não interessaria a esse deixar uma cooperativa causando resultados
negativos.

Pronto. Agora que tal um pausa para uma atividade de estudos? Nesse
momento você poderá rever alguns conceitos que aprendeu sobre capital.

Atividade de Estudos:

1) Quais são as diferenças entre Capital Social e Econômico,


segundo o texto apresentado?
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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

2) E para a cooperativa? O significado de capital tem a mesma


conotação de Capital Econômico e Social? Justifique.
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3) Depois de compreender as diferentes abordagens sobre capital,


aponte as diferenças fundamentais entre uma cooperativa com e
sem Capital Social.
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Capítulos VII a IX da Lei nº 5.764/71


A constituição dos fundos estabelecidos pela Lei 5.764/71 é uma das
características que diferencia as Sociedades Cooperativas das demais
sociedades empresariais. É a cooperativa a única sociedade em que os sócios
devem contribuir para a manutenção da empresa tendo que honrar as despesas
e prejuízos, além da obrigatoriedade da Sociedade Cooperativa de manter esses
fundos como mais uma forma de garantir sua liquidez.

Esta seção, trata ainda, do ingresso e as diversas formas de dissociação dos


associados nas Sociedades Cooperativas. Vai conhecer o princípio das portas
abertas, que é um dos ícones do cooperativismo.

a) Dos Fundos

CAPÍTULO VII
Dos Fundos

Art. 28. As cooperativas são obrigadas a constituir:

I - Fundo de Reserva destinado a reparar perdas e atender ao


desenvolvimento de suas atividades, constituído com 10% (dez
por cento), pelo menos, das sobras líquidas do exercício;

II - Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social, destinado


a prestação de assistência aos associados, seus familiares e,
quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa,
constituído de 5% (cinco por cento), pelo menos, das sobras
líquidas apuradas no exercício.

§ 1° Além dos previstos neste artigo, a Assembleia Geral poderá criar


outros fundos, inclusive rotativos, com recursos destinados a fins
específicos fixando o modo de formação, aplicação e liquidação.

§ 2º Os serviços a serem atendidos pelo Fundo de Assistência


Técnica, Educacional e Social poderão ser executados mediante
convênio com entidades públicas e privadas (BRASIL, 1971).

Os fundos legais obrigatórios tem por objetivo, garantir o cumprimento das


finalidades de uma sociedade e preservar seus compromissos. Esse fundo é de

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

natureza financeira e deve representar efetiva reserva monetária, seja através de


bens materiais ou imateriais, mas nunca meramente contábil.

A parte do fundo de reserva constituída para a reparação de perdas é


utilizada, na medida de sua disponibilidade, para reduzi-las até o total dessa
disponibilidade. O restante constituirá as perdas a serem rateadas após
deliberação em assembleia para sua aprovação.

Siqueira (2004, p. 90-91) considera que a lei, quanto à parte do Fundo de


Reserva destinada ao desenvolvimento das atividades, é muito subjetiva. Ele
considera que toda atividade de uma cooperativa bem administrada deve ser
direcionada ao seu desenvolvimento. A seu ver, portanto, essa destinação deve
ser de uso em investimentos e serviços que visem o progresso da cooperativa e
atenda melhor os seus fins.

O Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social destina-se ao


desenvolvimento de programas educacionais cooperativos ou relacionados à
cooperação e também para atender pequenas necessidades dos associados.
Desde que conste no estatuto da cooperativa também são extensivos aos
empregados da cooperativa. Os programas desenvolvidos com recursos do
FATES (Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social) poderão ser
executados através de convênio com entidades públicas ou privadas.

Quer conhecer um pouco mais sobre as formas de utilização do


FATES (Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social)? No link
abaixo você conhecerá uma minuta elaborada pela Confederação
Nacional das Cooperativas do SICOOB. Acesse e consulte a minuta.

www.sicoobpr.com.br/download/4398/Minuta_Regulamento_FATE.
pdf

b) Dos Associados

CAPÍTULO VIII
Dos Associados

Art. 29. O ingresso nas cooperativas é livre a todos que desejarem


utilizar os serviços prestados pela sociedade, desde que adiram
aos propósitos sociais e preencham as condições estabelecidas
no estatuto, ressalvado o disposto no artigo 4º, item I, desta Lei.
37
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

§ 1° A admissão dos associados poderá ser restrita, a critério do órgão


normativo respectivo, às pessoas que exerçam determinada
atividade ou profissão, ou estejam vinculadas a determinada
entidade.

§ 2° Poderão ingressar nas cooperativas de pesca e nas constituídas


por produtores rurais ou extrativistas, as pessoas jurídicas que
pratiquem as mesmas atividades econômicas das pessoas físicas
associadas.

§ 3° Nas cooperativas de eletrificação, irrigação e telecomunicações,


poderão ingressar as pessoas jurídicas que se localizem na
respectiva área de operações.

§ 4° Não poderão ingressar no quadro das cooperativas os agentes


de comércio e empresários que operem no mesmo campo
econômico da sociedade.

Art. 30. À exceção das cooperativas de crédito e das agrícolas mistas


com seção de crédito, a admissão de associados, que se efetive
mediante aprovação de seu pedido de ingresso pelo órgão de
administração, complementa-se com a subscrição das quotas-
partes de capital social e a sua assinatura no Livro de Matrícula.

Art. 31. O associado que aceitar e estabelecer relação empregatícia


com a cooperativa perde o direito de votar e ser votado, até que
sejam aprovadas as contas do exercício em que ele deixou o
emprego.

Art. 32. A demissão do associado será unicamente a seu pedido.

Art. 33. A eliminação do associado é aplicada em virtude de infração


legal ou estatutária, ou por fato especial previsto no estatuto,
mediante termo firmado por quem de direito no Livro de Matrícula,
com os motivos que a determinaram.

Art. 34. A diretoria da cooperativa tem o prazo de 30 (trinta) dias para


comunicar ao interessado a sua eliminação.

Parágrafo único. Da eliminação cabe recurso, com efeito


suspensivo à primeira Assembleia Geral.

Art. 35. A exclusão do associado será feita:

I - por dissolução da pessoa jurídica;


II - por morte da pessoa física;
III - por incapacidade civil não suprida;
IV - por deixar de atender aos requisitos estatutários de ingresso ou
permanência na cooperativa.

38
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Art. 36. A responsabilidade do associado perante terceiros, por


compromissos da sociedade, perdura para os demitidos, eliminados
ou excluídos até quando aprovadas as contas do exercício em que
se deu o desligamento.

Parágrafo único. As obrigações dos associados falecidos,


contraídas com a sociedade, e as oriundas de sua responsabilidade
como associado em face de terceiros, passam aos herdeiros,
prescrevendo, porém, após um ano contado do dia da abertura da
sucessão ressalvado os aspectos peculiares das cooperativas de
eletrificação rural e habitacionais.

Art. 37. A cooperativa assegurará a igualdade de direitos dos


associados sendo-lhe defeso:

I - remunerar a quem agencie novos associados;


II - cobrar prêmios ou ágio pela entrada de novos associados ainda
a título de compensação das reservas;
III - estabelecer restrições de qualquer espécie ao livre exercício dos
direitos sociais (BRASIL, 1971).

Polêmica: Para seu conhecimento!!!

Você sabe a diferença entre sócio e associado? Você pode ver


que nos artigos acima a expressão para designar o cooperado é
sempre “associado”. O sistema jurídico utiliza a expressão:

• Sócio para definir pessoas ligadas a entidades com fins lucrativos


e

• Associados para pessoas ligadas a entidades sem fins lucrativos.

Muito bem! Mas você sabia que a Lei 10.406/02 que instituiu o Novo Código
Civil separou as entidades com fins econômicos daquelas sem fins econômicos,
de acordo com a finalidade de buscar para si ou para seus sócios a melhoria
financeira? E, como ficam, as cooperativas amparadas a essa mudança?

É correto afirmar que as cooperativas não têm como finalidade o lucro. Mas
também é certo que as cooperativas buscam o desenvolvimento financeiro de seus
associados e que elas participam da economia fomentando seu desenvolvimento.

39
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Assim, embora a Lei Cooperativa utilize sempre a expressão


É correto afirmar
que as cooperativas associado, é correto designar atualmente de sócio o cooperado associado
não têm como a uma cooperativa.
finalidade o lucro.
Mas também é certo Vamos tratar agora de continuar comentando os artigos da Lei
que as cooperativas 5.764/71 no seu artigo que trata da admissão dos seus cooperados,
buscam o
que podem ser chamados de associados ou sócios.
desenvolvimento
financeiro de seus
associados e que Existem algumas restrições impostas pela lei além de questões
elas participam técnicas ou mesmo políticas que podem levar a cooperativa a se
da economia negar a admitir uma pessoa interessada em associar-se.
fomentando seu
desenvolvimento.
Para Siqueira (2004, p. 94-95), a restrição imposta pelo artigo
4º. Inciso I da Lei 5.764/71“... salvo impossibilidade técnica de prestação de
serviços”, nos recorda que o objetivo primordial da cooperativa diante da lei é a
de prestar serviços aos seus cooperados. E, que a lei não considera relevante
a atividade do cooperado, mas, sim como ela será exercida diante dos serviços
que a cooperativa prestará ao associado. Entende o autor que a impossibilidade
técnica é da cooperativa e não do cooperado.

Ainda assim, Siqueira (2004, p. 95), concorda que existe uma restrição
lógica à associação: a cooperativa “somente poderia admitir uma pessoa
que desempenhe a atividade objeto da cooperação, sob pena de ser inútil a
associação”.

Dessa forma, o princípio geral das portas abertas que significa que “o sócio
é livre para entrar, permanecer e sair quando lhe convier” (SILVA, 2001, p. 33),
e que para Bulgarelli (1998, p. 20-21) é um “desdobramento do princípio da livre
adesão, dá lugar à utilidade do associado para a associação”, seja:

• Pelo objeto da cooperação – Podem associar-se os candidatos que detenham


a atividade da cooperação;

• Pela vinculação a uma entidade – Podem associar-se os integrantes de


uma entidade, como exemplo as cooperativas de funcionários de um banco,
entidade ou empresa.

No caso das cooperativas de pesca, eletrificação rural, de irrigação e


telecomunicações que admitem a participação de pessoas jurídicas, tendo em vista
que as necessidades da pessoa física e jurídica na primeira se assemelham; no
segundo caso existe o interesse social na difusão de tais serviços e a cooperação
de todos que estejam desenvolvendo tal atividade econômica. O objetivo maior é
fomento e o desenvolvimento das áreas que envolvem essas atividades.

40
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

O inciso 4º parece contrariar o que vimos até agora? As atividades


desenvolvidas pelas pessoas jurídicas, com o propósito do desenvolvimento, são
trazidas para dentro da cooperativa. Porém a lei excluí que uma pessoa física ou
jurídica desempenhem os mesmos papéis dentro e fora da cooperativa. Essa é
uma decisão que impede que haja o enfraquecimento da atividade cooperativa
ou o favorecimento ilícito da atividade externa do concorrente com a aquisição de
informações privilegiadas. Estamos conversados?

Atividade de Estudos:

1) Para reforçar a sua compreensão, cite alguns exemplos de


atividades que podem ser consideradas como incompatíveis com
a cooperativa e que impediriam a admissão de uma pessoa física
ou jurídica.
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Para saber de que forma se completa a admissão de um associado numa


cooperativa, exceto nas cooperativas de crédito e nas cooperativas agrícolas
mistas com seção de crédito (SIQUEIRA, 2002, p. 97):

Comprovando ter os requisitos legais e estatutários, o


candidato faz seu requerimento, que é avaliado segundo os
ditames estatutários, deferidos ou não pelo Conselho de
Administração da cooperativa. Aprovado, assinará ficha de
matrícula, pagando as cota-partes da forma determinada no
estatuto, passando a fazer jus aos direitos da associação.

É muito importante que o estatuto, ou, se delegado, o


regimento interno, decline o processo todo do ingresso, pois
que este será o devido processo legal a ser transposto para
adentrar na sociedade, sem o qual a associação, repita-se, é
nula. 41
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Da mesma forma que a Constituição garante o direito à


Da mesma forma
que a Constituição associação, ela também preserva o direito dos cidadãos de dissociar-
garante o direito se das entidades a que se associaram anteriormente. Assim, como as
à associação, ela sociedades também, em casos legais, podem dissociar-se de seus
também preserva o sócios.
direito dos cidadãos
de dissociar-se
Vamos ver então em que casos e de que forma isso pode ocorrer?
das entidades a
que se associaram
anteriormente.
• A dissociação por pedido

No caso de interesse pessoal pode o sócio pedir demissão da sociedade


e tendo manifestado seu desejo em demitir-se, a sociedade deve acatar esse
pedido, concedendo os direitos previstos no estatuto dentro do prazo certo.

• A dissociação em virtude de infração legal ou estatutária ou por fato


especial previsto no estatuto

Nesse caso o associado é eliminado da sociedade mediante um termo


firmado por quem de direito no Livro de Matrícula com os motivos que levaram a
essa eliminação.

• A dissociação por infração a dever ou obrigação

Caso o associado venha a infringir os limites legais da relação sócio/


cooperado e sociedade/cooperativa pode ocorrer a sua eliminação.

As decisões da cooperativa serão validadas a partir da apuração dos fatos e


de ser dado o direito de defesa ao associado.

É evidente que a constituição prevê o devido processo legal e a defesa


ampla, que então será exercido pelo Poder Judiciário onde serão exigidos os
procedimentos processuais legais.

O prazo da O prazo da cooperativa para comunicar a eliminação ao interessado


cooperativa para é de 30 (trinta) dias. Se no estatuto não houver especificação para que
comunicar a esse procedimento seja publicado formalmente, basta a prova de que
eliminação ao o interessado tomou conhecimento das acusações e da decisão da
interessado é de 30 cooperativa. Esse procedimento é no âmbito privado e, portanto, não tem
(trinta) dias.
o rigor dos processos públicos.

42
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Ao eliminado, insatisfeito com a decisão dos órgãos menores da cooperativa,


cabe o direito de recurso na primeira Assembleia Geral que ocorrer após a
decisão. O julgamento do recurso do cooperado deverá constar formalmente da
ordem do dia. Saiba ainda que o recurso tem caráter suspensivo: isto é, enquanto
não for julgado o cooperado tem o direito de continuar atuando normalmente na
cooperativa, exceto nos casos em que a cooperativa julgar que a gravidade do
caso (crimes, prejuízos etc.) recomende a suspensão baseada nos princípios
de autotutela dos interesses de cada um. É também possível que o cooperado
busque uma liminar de cautela ou antecipação, caso em que cabe à cooperativa
provar em juízo sua cautela com embargos de declaração, agravos ou mandado
de segurança.

Que tal reforçar o que você aprendeu sobre a dissociação do cooperado da


Sociedade Cooperativa?

Atividade de Estudos:

1) Cite quais são as formas de dissociação previstas na Lei 5.764/71


e como elas ocorrem.
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2) Para aumentar seu conhecimento, procure num dicionário


jurídico os seguintes termos apresentados nos comentários
acima: autotutela dos interesses comuns, liminar de cautela ou
antecipação, embargos de declaração, agravo e mandado de
segurança.
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Chegamos então, ao artigo 35 e os motivos que podem levar a exclusão


do associado e eles são bastante claros. A causa de exclusão se dá pela
impossibilidade de cooperação do associado seja pela dissolução da pessoa
jurídica: no caso de ser a existência da pessoa jurídica o fato que gerou a
associação, sua extinção provoca o fim da associação; pela morte da pessoa física
que é a extinção dessa pessoa e inviabiliza a cooperação; pela incapacidade civil
não suprida, ou seja, alguns fatores que determinam a cessação da incapacidade
não acontecem e finalmente por não atender às condições estabelecidas no
estatuto da cooperativa.

Vamos ler o que diz a Lei 10.406/02 que estabeleceu o Novo Código Civil, no
Livro I, Das Pessoas, Título I Das Pessoas Naturais, Capítulo I da Personalidade
e da Capacidade:

CAPÍTULO I - DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

Art. 1º. Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.

Art. 2º. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com


vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do
nascituro.

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os


atos da vida civil:

I - os menores de dezesseis anos;

II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o


necessário discernimento para a prática desses atos;

III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade.

Art. 4º. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de


os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por


deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;

III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

IV - os pródigos.

Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por


legislação especial.

Art. 5º. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a


pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.

Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:

I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante


instrumento público, independentemente de homologação
judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver
dezesseis anos completos;

II - pelo casamento;

III - pelo exercício de emprego público efetivo;

IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;

V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de


relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com
dezesseis anos completos tenha economia própria (BRASIL,
2002).

E, então? Esperamos que a leitura acima tenha ajudado a


esclarecer suas dúvidas. Se elas persistirem, peça ajuda tutorial.
Afinal, a construção do conhecimento é uma via de duas mãos.

Você sabia? No caso da morte do associado, seus direitos e


obrigações são transmitidos para os seus sucessores. Exatamente
como acontece com dos direitos e deveres dos demais cidadãos.

Os inventariantes do espólio, nomeados pelos herdeiros legitimados no


processo e inventário, requerem seus direitos junto à cooperativa. Só não existe
direito à associação que não é transmitida a herdeiros ou sucessores, visto que é
um direito pessoal e, portanto, intransferível.

Os créditos e débitos do espólio têm prazo de prescrição de um ano contado


do evento do falecimento.

45
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Agora você lerá um texto muito interessante. Ele é importante porque fala da
ética dentro das relações cooperativistas. Boa leitura!

A ÉTICA DA ASSOCIAÇÃO

Cooperativas há que instituem uma Comissão de Ética ou


Conselho Técnico no seu estatuto, cuja competência é exercera
fiscalização da ética da cooperação. Há uma confusão sobre tal
ética, posto que a ética na cooperação não se confunde com a ética
do objeto da cooperação (a Medicina, a Odontologia, a Engenharia, o
Comércio, a Propaganda, o Turismo etc.).

A ética da associação traduz-se no respeito aos valores postos


no estatuto como valores a serem perseguidos pela sociedade e
pelos sócios, e a violação destes valores poderá ser fundamentado
de uma dissociação.

A lei enumera alguns valores a serem necessariamente


perseguidos, sem prejuízo de outros elencados pelo estatuto. O
princípio maior do cooperativismo, cujo sustentáculo é fundamentado
na mutualidade, na cooperação recíproca, sem dúvida deveria ser
mesmo o da igualdade.

Esse é o “protoprincípio” ou princípio primeiro, nomeado por


Souto Borges (SIQUEIRA, 2002, p.102) como o maior dos princípios
constitucionais, posto que até mesmo a legalidade deva respeito à
isonomia, uma vez que somos todos iguais perante a lei.

Numa instituição que se propõe fortalecer a unidade pela


coletividade, é causa nobilíssima a defesa da igualdade (SIQUEIRA,
2002, p. 102).

Muito mais do que o respeito às normas constitucionais e aos princípios que


norteiam a lei do cooperativismo há que se lembrar, sempre, do princípio básico
que motiva uma Sociedade Cooperativa: a união pelo bem comum.

E, que tal continuarmos a estudar como funciona a administração e como


é governada uma Sociedade Cooperativa? Vamos começar falando do órgão
máximo de uma Sociedade Cooperativa, a Assembleia Geral.

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

c) Dos Órgãos Sociais

CAPÍTULO IX
Dos Órgãos Sociais
SEÇÃO I
Das Assembleias Gerais

Art. 38. A Assembleia Geral dos associados é o órgão supremo da


sociedade, dentro dos limites legais e estatutários, tendo poderes
para decidir os negócios relativos ao objeto da sociedade e tomar
as resoluções convenientes ao desenvolvimento e defesa desta,
e suas deliberações vinculam a todos, ainda que ausentes ou
discordantes.

§ 1º As Assembleias Gerais serão convocadas com antecedência


mínima de 10 (dez) dias, em primeira convocação, mediante
editais afixados em locais apropriados das dependências
comumente mais frequentadas pelos associados, publicação
em jornal e comunicação aos associados por intermédio de
circulares. Não havendo no horário estabelecido, quórum de
instalação, as assembleias poderão ser realizadas em segunda
ou terceira convocações desde que assim permitam os estatutos
e conste do respectivo edital, quando então será observado o
intervalo mínimo de 1 (uma) hora entre a realização por uma ou
outra convocação.

§ 2º A convocação será feita pelo Presidente, ou por qualquer


dos órgãos de administração, pelo Conselho Fiscal, ou após
solicitação não atendida, por 1/5 (um quinto) dos associados em
pleno gozo dos seus direitos.

§ 3° As deliberações nas Assembleias Gerais serão tomadas por


maioria de votos dos associados presentes com direito de votar.

Art. 39. É da competência das Assembleias Gerais, ordinárias


ou extraordinárias, a destituição dos membros dos órgãos de
administração ou fiscalização.

Parágrafo único. Ocorrendo destituição que possa afetar a


regularidade da administração ou fiscalização da entidade, poderá a
Assembleia designar administradores e conselheiros provisórios, até
a posse dos novos, cuja eleição se efetuará no prazo máximo de 30
(trinta) dias.

Art. 40. Nas Assembleias Gerais o quórum de instalação será o


seguinte:

47
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

I - 2/3 (dois terços) do número de associados, em primeira convocação;

II - metade mais 1 (um) dos associados em segunda convocação;

III - mínimo de 10 (dez) associados na terceira convocação ressalvado


o caso de cooperativas centrais e federações e confederações de
cooperativas, que se instalarão com qualquer número.

Art. 41. Nas Assembleias Gerais das cooperativas centrais,


Art. 41. Nas federações e confederações de cooperativas, a representação
Assembleias Gerais será feita por delegados indicados na forma dos seus estatutos
das cooperativas e credenciados pela diretoria das respectivas filiadas.
centrais, federações
e confederações
Parágrafo único. Os grupos de associados individuais
de cooperativas, a
das cooperativas centrais e federações de cooperativas serão
representação será
representados por 1 (um) delegado, escolhida entre seus
feita por delegados
membros e credenciado pela respectiva administração.
indicados na forma
dos seus estatutos
Art. 42. Nas cooperativas singulares, cada associado presente
e credenciados
não terá direito a mais de 1 (um) voto, qualquer que seja o
pela diretoria das
número de suas quotas-partes (Redação dada ao caput e §§
respectivas filiadas.
pela Lei nº 6.981, de 30/03/82).

§ 1° Não será permitida a representação por meio de mandatário.

§ 2° Quando o número de associados, nas cooperativas singulares


exceder a 3.000 (três mil), pode o estatuto estabelecer que os
mesmos sejam representados nas Assembleias Gerais por
delegados que tenham a qualidade de associados no gozo de
seus direitos sociais e não exerçam cargos eletivos na sociedade.

§ 3° O estatuto determinará o número de delegados, a época e forma


de sua escolha por grupos seccionais de associados de igual
número e o tempo de duração da delegação.
§ 4º Admitir-se-á, também, a delegação definida no parágrafo anterior
nas cooperativas singulares cujo número de associados seja
inferior a 3.000 (três mil), desde que haja filiados residindo a mais
de 50 km (cinquenta quilômetros) da sede.

§ 5° Os associados, integrantes de grupos seccionais, que não


sejam delegados, poderão comparecer às Assembleias Gerais,
privados, contudo, de voz e voto.

§ 6° As Assembleias Gerais compostas por delegados decidem


sobre todas as matérias que, nos termos da lei ou dos estatutos,
constituem objeto de decisão da Assembleia Geral dos
associados.

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Art. 43. Prescreve em 4 (quatro) anos, a ação para anular as


deliberações da Assembleia Geral viciadas de erro, dolo, fraude
ou simulação, ou tomadas com violação da lei ou do estatuto,
contado o prazo da data em que a Assembleia foi realizada.

SEÇÃO II

Art. 44. A Assembleia Geral Ordinária, que se realizará anualmente


nos 3 (três) primeiros meses após o término do exercício social,
deliberará sobre os seguintes assuntos que deverão constar da
ordem do dia:

I - prestação de contas dos órgãos de administração acompanhada


de parecer do Conselho Fiscal, compreendendo:

a) relatório da gestão;
b) balanço;
c) demonstrativo das sobras apuradas ou das perdas decorrentes
da insuficiência das contribuições para cobertura das despesas
da sociedade e o parecer do Conselho Fiscal.

II - destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas decorrentes


da insuficiência das contribuições para cobertura das despesas
da sociedade, deduzindo-se, no primeiro caso as parcelas para
os Fundos Obrigatórios;

III - eleição dos componentes dos órgãos de administração, do


Conselho Fiscal e de outros, quando for o caso;

IV - quando previsto, a fixação do valor dos honorários, gratificações


e cédula de presença dos membros do Conselho de
Administração ou da Diretoria e do Conselho Fiscal;

V - quaisquer assuntos de interesse social, excluídos os enumerados


no artigo 46.

§ 1° Os membros dos órgãos de administração e fiscalização não


poderão participar da votação das matérias referidas nos itens I e
IV deste artigo.

§ 2º À exceção das cooperativas de crédito e das agrícolas mistas


com seção de crédito, a aprovação do relatório, balanço e contas
dos órgãos de administração, desonera seus componentes de
responsabilidade, ressalvados os casos de erro, dolo, fraude ou
simulação, bem como a infração da lei ou do estatuto.

49
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

SEÇÃO III
Art. 45. A Assembleia
Geral Extraordinária
realizar-se-á sempre Das Assembleias Gerais Extraordinárias
que necessário e
poderá deliberar Art. 45. A Assembleia Geral Extraordinária realizar-se-á sempre
sobre qualquer que necessário e poderá deliberar sobre qualquer assunto de
assunto de interesse interesse da sociedade, desde que mencionado no edital de
da sociedade, desde convocação.
que mencionado
no edital de Art. 46. É da competência exclusiva da Assembleia Geral
convocação. Extraordinária deliberar sobre os seguintes assuntos:

I - reforma do estatuto;
II - fusão, incorporação ou desmembramento;
III - mudança do objeto da sociedade;
IV - dissolução voluntária da sociedade e nomeação de liquidantes;
V - contas do liquidante.

Parágrafo único. São necessários os votos de 2/3 (dois terços)


dos associados presentes, para tornar válidas as deliberações de
que trata este artigo (BRASIL, 1971).

O Capítulo IX da seção I a III trata exclusivamente da Assembleia que é o


órgão máximo da cooperativa e responsável pelas decisões do empreendimento
e para o seu desenvolvimento. As decisões tomadas pela Assembleia devem ser
acatadas inclusive pelos associados ausentes ou que discordem das mesmas. São
descritos todos os procedimentos para a sua realização tais como convocação,
pauta e quórum, prazos e formas de convocar a Assembleia Geral Ordinária e a
Extraordinária. Esses artigos estabelecem ainda as regras de representação dos
associados em Assembleias das Federações e a competência da Assembleia e
do valor de suas decisões.

Afim de tornar mais prático o estudo desse capítulo, pensamos em um


exercício para você fixar os pontos mais importantes. Vamos lá?

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Atividade de Estudos:

1) Como é feita a representação dos cooperados nos casos das


Assembleias Gerais das Federações das cooperativas? E quando
o número de associados é superior a 3000 membros? Nesse
caso, existe alguma ressalva?
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2) Os componentes do órgão de administração de uma cooperativa


não são responsabilizados pela aprovação dos seus relatórios,
balanço e contas. Essa afirmativa é válida para todos os tipos de
cooperativa? E em que caso eles são responsabilizados?
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3) O quórum de deliberação é diferente do quórum de instalação.


Enquanto um estabelece o número de participantes de uma
assembleia em relação ao número de associados e não dos
presentes na mesma. Esse número deve ser conferido na ata da
respectiva Assembleia Geral. Já o quórum de deliberação serve
para verificar a legitimidade para decidir as matérias de que trata
a Assembleia, de acordo com as exigências da lei ou do estatuto
da cooperativa.

Qual é o quórum estabelecido na Lei 5.764/71 para os diferentes


tipos de Assembleia de uma cooperativa?
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

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4) Preencha o quadro abaixo com os dados solicitados:

Assembleia Ordinária Assembleia Extraordinária

Competência

Convocação
Quando?

Convocação
Como?

d) Dos Órgãos de Administração

SEÇÃO IV

Dos Órgãos de Administração

Art. 47. A sociedade será administrada por uma Diretoria ou Conselho


de Administração, composto exclusivamente de associados
eleitos pela Assembleia Geral, com mandato nunca superior a 4
(quatro) anos, sendo obrigatória a renovação de, no mínimo, 1/3
(um terço) do Conselho de Administração.

§ 1º O estatuto poderá criar outros órgãos necessários à administração.

§ 2° A posse dos administradores e conselheiros fiscais das


cooperativas de crédito e das agrícolas mistas com seção de

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Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

crédito e habitacionais fica sujeita à prévia homologação dos


respectivos órgãos normativos.

Art. 48. Os órgãos de administração podem contratar gerentes


técnicos ou comerciais, que não pertençam ao quadro de
associados, fixando-lhes as atribuições e salários.

Art. 49. Ressalvada a legislação específica que rege as cooperativas de


crédito, as seções de crédito das cooperativas agrícolas mistas
e as de habitação, os administradores eleitos ou contratados
não serão pessoalmente responsáveis pelas obrigações
que contraírem em nome da sociedade, mas responderão
solidariamente pelos prejuízos resultantes de seus atos, se
procederem com culpa ou dolo.

Parágrafo único. A sociedade responderá pelos atos a que se


refere a última parte deste artigo se os houver ratificado ou deles
logrado proveito.

Art. 50. Os participantes de ato ou operação social em que se oculte


a natureza da sociedade podem ser declarados pessoalmente
responsáveis pelas obrigações em nome dela contraídas, sem
prejuízo das sanções penais cabíveis.

Art. 51. São inelegíveis, além das pessoas impedidas por lei, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente,
o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, ou contra a
economia popular, a fé pública ou a propriedade.

Parágrafo único. Não podem compor uma mesma Diretoria ou


Conselho de Administração, os parentes entre si até 2º (segundo)
grau, em linha reta ou colateral.

Art. 52. O diretor ou associado que, em qualquer operação, tenha


interesse oposto ao da sociedade, não pode participar das
deliberações referentes a essa operação, cumprindo-lhe acusar
o seu impedimento.

Art. 53. Os componentes da Administração e do Conselho fiscal,


bem como os liquidantes, equiparam-se aos administradores das
sociedades anônimas para efeito de responsabilidade criminal.

Art. 54. Sem prejuízo da ação que couber ao associado, a sociedade,


por seus diretores, ou representada pelo associado escolhido em
Assembleia Geral, terá direito de ação contra os administradores,
para promover sua responsabilidade.

53
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Art. 55. Os empregados de empresas que sejam eleitos diretores


de sociedades cooperativas pelos mesmos criadas, gozarão das
garantias asseguradas aos dirigentes sindicais pelo artigo 543 da
Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n. 5.452, de 1°
de maio de 1943) (BRASIL, 1971).

A cooperativa pode ter uma administração formada tanto por uma Diretoria
quanto por um Conselho de Administração. Em qualquer das situações seus
membros devem ser eleitos pela Assembleia Geral.

A lei prevê renovação de 1/3 apenas para os membros do Conselho de


Administração, o que nos leva a crer que o mesmo não acontece para os membros
da Diretoria.

Embora o artigo 48 permita que os órgãos de administração contratem


gerentes técnicos ou comerciais que não pertençam ao quadro de associados,
especialmente no caso das Cooperativas de Crédito no Brasil (VENTURA;
SOARES, 2008, p. 10) “está consagrado [...] o modelo em que a cooperativa
opta por ter um Conselho ou uma Diretoria composta por associados eleitos em
Assembleia“.

Para dar maior clareza sobre as atribuições e responsabilidades dos


administradores de uma cooperativa, leia o texto que segue:

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DE
COOPERATIVAS DE CRÉDITO

As atribuições e responsabilidades dos administradores com


funções estratégicas, em harmonia com as políticas do sistema
associado, devem constar do estatuto da cooperativa, especialmente
em relação aos seguintes pontos:

• Orientação geral e estratégica de atuação da cooperativa;

• definição dos objetivos da cooperativa, que devem considerar,


dentre outros, aqueles que visem perenidade dos negócios;

• acompanhamento do desempenho dos administradores com


funções executivas, sendo, no mínimo uma vez por ano,

54
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

registrado em documento próprio. A avaliação deve ser realizada


com base em objetivos previamente definidos e de acordo com o
planejamento estratégico;

• definição de critérios claros e transparentes de remuneração dos


executivos, de forma compatível com a capacidade financeira da
cooperativa e com a remuneração praticada no mercado para
funções semelhantes;

• definição de mecanismo de entrega, para todos os


administradores, do conteúdo das atas de reuniões do Conselho
Fiscal, formal e individualmente.

Devem ser também consideradas atribuições do Conselho de


Administração:

• assegurar-se de que os principais riscos para a Cooperativa


sejam avaliados;

• aprovar o plano de contingência para os riscos da Cooperativa;

• em harmonia com os princípios cooperativistas, analisar


a conveniência de vincular parcela da remuneração dos
administradores com função executiva ao cumprimento dos
objetivos estratégicos;

• zelar pelo cumprimento das orientações do código de conduta da


cooperativa.

[...]

Segundo o BACEN as cooperativas de crédito brasileiras têm,


em média, 6,2 conselheiros de administração efetivos. O estudo
apresentado no dia 25/04/08 em Brasília mostra também que:

• 72% das Cooperativas possuem Conselho de Administração


(CONSAD);

• 16% das Cooperativas possuem apenas Diretoria, não tendo


Conselho de Administração (CONSAD);

• em 70% das Cooperativas quem conduz os assuntos


administrativos do dia-a-dia da Cooperativa é um diretor eleito e
que tem funções executivas. Nos demais 30% das Cooperativas.

55
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Fonte: Material disponível no site do BACEN, de autoria de Abelardo Duarte


de Melo Sobrinho e apresentado a dirigentes de Cooperativas em 25/04/08
em Brasília/DF. Disponível em: <http://www.cooperativismodecredito.
com.br/ConselhodeAdministracao.html>. Acesso em: 25 ago. 2011.

Que tal? Agora que você já sabe o que faz o Conselho de Administração
dentro de uma cooperativa, vamos olhar quais são as atribuições do Conselho
Fiscal.
e) Do Conselho Fiscal

SEÇÃO V
Do Conselho Fiscal

Art. 56. A administração da sociedade será fiscalizada, assídua e


minuciosamente, por um Conselho Fiscal, constituído de 3 (três)
membros efetivos e 3 (três) suplentes, todos associados eleitos
anualmente pela Assembleia Geral, sendo permitida apenas
a reeleição de 1/3 (um terço) dos seus componentes (Para as
Cooperativas de Crédito o mandato é de 3 anos conforme a Lei
Complementar 130/09).

§ 1º Não podem fazer parte do Conselho Fiscal, além dos inelegíveis


enumerados no artigo 51, os parentes dos diretores até o 2°
(segundo) grau, em linha reta ou colateral, bem como os parentes
entre si até esse grau.

§ 2º O associado não pode exercer cumulativamente cargos nos


órgãos de administração e de fiscalização (BRASIL, 1971).

O Conselho Fiscal é o órgão que fiscaliza as atividades da


O Conselho Fiscal é
o órgão que fiscaliza cooperativa para que sejam cumpridas a lei e o estatuto.
as atividades da
cooperativa para que Sua atuação é sempre em forma de colegiado e é de sua
sejam cumpridas a competência fiscalizar a administração e pode para exercer suas
lei e o estatuto. atividades solicitar documentos, declarações e informações.

A participação do Conselho Fiscal deve ser assídua na avaliação das


decisões da cooperativa para contribuir de forma eficaz com esse propósito.

56
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

Dentre as suas atividades destacam-se:

• dar parecer prévio à Assembleia Geral Ordinária;

• convocar Assembleia Geral sempre que entender necessário, entre outras.

As mesmas vedações que a lei impõe à elegibilidade dos administradores


são mantidas para o Conselho Fiscal, além de não permitir acúmulo de função
administrativa e de fiscalização.

Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao final do primeiro capítulo desse Caderno de Estudos. Nessa
primeira parte estudamos desde a conceituação propriamente dita de uma
Sociedade Cooperativa, quais são seus objetivos e classificação; passamos
para a constituição das Sociedades Cooperativas, as formalidades necessárias
para sua legalização e registro, os livros necessários para a manutenção da
contabilidade e atos administrativos. Chegamos, então, ao Capital Social, que
se para as demais sociedades tem um significado mais econômico e a serviço
do lucro, nas cooperativas passa pela existência dos cooperados e de sua
produção.

Você conheceu também os Fundos que as Sociedades Cooperativas


têm obrigação de constituir, sendo que o principal deles é o FATES (Fundo de
Assistência Técnica, Educacional e Social).

Estudamos ainda quem é o sócio ou associado, o cooperado dentro das


Sociedades Cooperativas, seus direitos e obrigações, dando ênfase à ética dentro
do Cooperativismo.

Falamos dos órgãos sociais que compreendem a Administração das


Sociedades Cooperativas e das suas atribuições, desde às Assembleias Gerais,
ao Conselho de Administração e ao Conselho Fiscal.

57
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Foram muitas informações que esperamos terem sido proveitosas e


interessantes, sendo que procuramos reforçar com as atividades de estudo,
com as leituras e as indicações de site. Não deixe de reler as partes que você
considerou mais complicadas e procure sempre esclarecer qualquer dúvida que
surgir. Não esqueça que você tem o apoio de tutores dentro do curso que estão
aptos a dirimir suas dúvidas e ajudar você a crescer no conhecimento.

Até o próximo capítulo, onde prosseguiremos com o estudo da Lei 5.764/71,


a Lei das Cooperativas.

ReFerÊncias
BRASIL. Casa Civil. Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. Dispõe sobre
o Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e dá outras
providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8934.
htm>. Acesso em 25 ago. 2011.

________________. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código


Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em 25 ago. 2011.

BRASIL. Código Civil. Exposição de motivos e texto sancionado por Jorge


Bornhausen. Brasília: Senado Federal, 2002.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado, 1988.

______. Lei n.º 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional


de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá
outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 16 dez. 1971. Acesso em 26 jun. 2011.

______. Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do


consumidor e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/
civil_03/leis/L8078.htm>. Acesso em 26 ago. 2011.

BULGARELLI, Waldirio. As Sociedades Cooperativas e a sua Disciplina


Jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

FONTENELLE, André. Assessor Jurídico da OCB/CE. Vídeo-aula sobre Direito


Cooperativo. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=vpdXtiXouhw>.
Acesso em 06 jun. 2011.
58
Capítulo 1 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR: PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULOS I A IX

SIQUEIRA, Paulo César Andrade Siqueira. As Cooperativas e a Terceirização.


Problemas Atuais de Direito Cooperativo. Renato Lopes Becho, Coordenador.
São Paulo, Dialética 2002.

SIQUEIRA, Paulo César Andrade Siqueira. Direito Cooperativo Brasileiro.


Comentário à Lei 5.764/71. São Paulo. Dialética, 2004.

59
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

60
C APÍTULO 2
Análise e Interpretação da Lei
5.764/71 e Legislação Complementar
Parte II

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a Lei 5.764/71 ou Lei das Cooperativas, que define a Política do


Cooperativismo no Brasil e que institui o Regime Jurídico das Sociedades
Cooperativas entre outras providências.

� Relacionar os artigos da Lei 5.764/71 com a prática do Cooperativismo.


Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

62
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

ConteXtualiZação
No capítulo anterior apresentamos a primeira parte da Lei 5.764/71, que
apresenta a Política Nacional de Cooperativismo e institui o regime jurídico das
Sociedades Cooperativas. Neste segundo capítulo, vamos dar continuidade a
apresentação da Lei 5.764/71 e da Lei das Cooperativas.

Capítulos X a XII da Lei 5.764/71


Continuando nossos estudos sobre a Lei das Cooperativas, estamos
chegando agora a um novo capítulo. Como qualquer tipo de sociedade, as
Sociedades Cooperativas também podem sofrer processos de fusão, incorporação
e desmembramento. Do mesmo modo, essas sociedades podem ser dissolvidas
e liquidadas. Você vai aprender como é o Sistema Operacional das Sociedades
Cooperativas e vai saber o que é o Ato Cooperativo, base de toda operação dentro
desta Instituição tão singular que é a Cooperativa. Vai ter noção de uma operação
muita específica que é praticada pelas Sociedades Cooperativas chamada
Warrant. E, além disso, vamos conhecer o sistema de distribuição de despesas,
como são tratados os prejuízos operacionais e como é um Sistema Trabalhista
numa Sociedade Cooperativista. E, então? Preparado? Vamos lá!

a) Fusão, Incorporação e Desmembramento

CAPÍTULO X
Fusão, Incorporação e Desmembramento

Art. 57. Pela fusão, duas ou mais cooperativas formam nova


sociedade.

§ 1° Deliberada a fusão, cada cooperativa interessada indicará


nomes para comporem comissão mista que procederá aos
estudos necessários à constituição da nova sociedade, tais como
o levantamento patrimonial, balanço geral, plano de distribuição
de quotas-partes, destino dos fundos de reserva e outros e o
projeto de estatuto.

§ 2° Aprovado o relatório da comissão mista e constituída a nova


sociedade em Assembleia Geral conjunta os respectivos documentos
serão arquivados, para aquisição de personalidade jurídica, na

63
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Junta Comercial competente, e duas vias dos mesmos, com a


publicação do arquivamento, serão encaminhadas ao órgão
executivo de controle ou ao órgão local credenciado.

§ 3° Exclui-se do disposto no parágrafo anterior a fusão que envolver


cooperativas que exerçam atividades de crédito. Nesse caso,
aprovado o relatório da comissão mista e constituída a nova
sociedade em Assembleia Geral conjunta, a autorização para
funcionar e o registro dependerão de prévia anuência do Banco
Central do Brasil.

Art. 58. A fusão determina a extinção das sociedades que se unem


para formar a nova sociedade que lhe sucederá nos direitos e
obrigações.

Art. 59. Pela incorporação, uma sociedade cooperativa absorve o


patrimônio, recebe os associados, assume as obrigações e se
investe nos direitos de outra ou outras cooperativas.

Parágrafo único. Na hipótese prevista neste artigo, serão


obedecidas as mesmas formalidades estabelecidas para a fusão,
limitadas as avaliações ao patrimônio da ou das sociedades
incorporadas.

Art. 60. As sociedades cooperativas poderão desmembrar-se em


tantas quantas forem necessárias para atender aos interesses
dos seus associados, podendo uma das novas entidades
ser constituída como cooperativa central ou federação de
cooperativas, cujas autorizações de funcionamento e os
arquivamentos serão requeridos conforme o disposto nos artigos
17 e seguintes.

Art. 61. Deliberado o desmembramento, a Assembleia designará uma


comissão para estudar as providências necessárias à efetivação
da medida.

§ 1° O relatório apresentado pela comissão, acompanhado dos


projetos de estatutos das novas cooperativas, será apreciado em
nova Assembleia especialmente convocada para esse fim.

§ 2º O plano de desmembramento preverá o rateio, entre as novas


cooperativas, do ativo e passivo da sociedade desmembrada.

§ 3° No rateio previsto no parágrafo anterior, atribuir-se-á a cada nova


cooperativa parte do capital social da sociedade desmembrada
em quota correspondente à participação dos associados que
passam a integrá-la.

64
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

§ 4° Quando uma das cooperativas for constituída como cooperativa


central ou federação de cooperativas, prever-se-á o montante
das quotas-partes que as associadas terão no capital social.

Art. 62. Constituídas as sociedades e observado o disposto nos


artigos 17 e seguintes, proceder-se-á às transferências contábeis
e patrimoniais necessárias à concretização das medidas adotadas
(BRASIL, 1971).

As alterações a que estão sujeitas as cooperativas dependem sempre


de reforma estatutária que são viabilizadas através de Assembleias Gerais
Extraordinárias, respeitando-se a deliberação através do quórum legal de no
mínimo 2/3 dos presentes, á Assembleia especialmente convocada com este fim,
em primeira convocação ou com menos de um terço nas convocações seguintes.
Essa norma está estabelecida no artigo 59 do Código Civil e visa proteger o direito
dos cooperados.

Agora vamos verificar quais são as modificações formais de que tratam


esses artigos.

• Fusão: A fusão ocorre quando há extinção de duas ou mais sociedades que


se reúnem para a formação de uma nova.

• Incorporação: Além da extinção de uma ou mais cooperativas, esta nova


sociedade formada pode ainda ser a sucessora dos direitos e obrigações
daquelas sociedades que incorporou.

• Desmembramento: Ao contrário da fusão e da incorporação aqui a sociedade


se dividiria para a formação de uma ou mais cooperativas. Os direitos e
obrigações continuam a existir e seriam também divididos.

Atividade de Estudos:

1) Os artigos que tratam sobre fusão, incorporação e


desmembramento, contêm algumas normas que não são mais
aplicáveis às cooperativas. Cite quais são e por quê.
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65
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

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b) Da Dissolução e Liquidação

CAPÍTULO XI
Da Dissolução e Liquidação

Art. 63. As sociedades cooperativas se dissolvem de pleno direito:

I - quando assim deliberar a Assembleia Geral, desde que os


associados, totalizando o número mínimo exigido por esta Lei,
não se disponham a assegurar a sua continuidade;

II - pelo decurso do prazo de duração;

III - pela consecução dos objetivos predeterminados;

IV - devido à alteração de sua forma jurídica;

V - pela redução do número mínimo de associados ou do capital


social mínimo se, até a Assembleia Geral subsequente,
realizada em prazo não inferior a 6 (seis) meses, eles não forem
restabelecidos;

VI - pelo cancelamento da autorização para funcionar;

VII - pela paralisação de suas atividades por mais de 120 (cento e


vinte) dias.

Parágrafo único. A dissolução da sociedade importará no


cancelamento da autorização para funcionar e do registro.

Art. 64. Quando a dissolução da sociedade não for promovida


voluntariamente, nas hipóteses previstas no artigo anterior, a

66
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

medida poderá ser tomada judicialmente a pedido de qualquer


associado ou por iniciativa do órgão executivo federal.

Art. 65. Quando a dissolução for deliberada pela Assembleia


Art. 65. Quando
Geral, esta nomeará um liquidante ou mais, e um Conselho
a dissolução for
Fiscal de 3 (três) membros para proceder à sua liquidação.
deliberada pela
Assembleia Geral,
§ 1º O processo de liquidação só poderá ser iniciado após a esta nomeará um
audiência do respectivo órgão executivo federal. liquidante ou mais, e
um Conselho Fiscal
§ 2° A Assembleia Geral, nos limites de suas atribuições, poderá, de 3 (três) membros
em qualquer época, destituir os liquidantes e os membros para proceder à sua
do Conselho Fiscal, designando os seus substitutos. liquidação.

Art. 66. Em todos os atos e operações, os liquidantes deverão usar


a denominação da cooperativa, seguida da expressão: “Em
liquidação”.

Art. 67. Os liquidantes terão todos os poderes normais de


administração podendo praticar atos e operações necessários à
realização do ativo e pagamento do passivo.

Art. 68. São obrigações dos liquidantes:

I - providenciar o arquivamento, na junta Comercial, da Ata da


Assembleia Geral em que foi deliberada a liquidação;

II - comunicar à administração central do respectivo órgão executivo


federal e ao Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A, a sua
nomeação, fornecendo cópia da Ata da Assembleia Geral que
decidiu a matéria;

III - arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer


que estejam;

IV - convocar os credores e devedores e promover o levantamento


dos créditos e débitos da sociedade;

V - proceder nos 15 (quinze) dias seguintes ao de sua investidura e


com a assistência, sempre que possível, dos administradores, ao
levantamento do inventário e balanço geral do ativo e passivo;

VI - realizar o ativo social para saldar o passivo e reembolsar os


associados de suas quotas-partes, destinando o remanescente,
inclusive o dos fundos indivisíveis, ao Banco Nacional de Crédito
Cooperativo S/A;

67
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

VII - exigir dos associados à integralização das respectivas quotas-


partes do capital social não realizadas, quando o ativo não bastar
para solução do passivo;

VIII - fornecer aos credores a relação dos associados, se a sociedade


for de responsabilidade ilimitada e se os recursos apurados forem
insuficientes para o pagamento das dívidas;

IX - convocar a Assembleia Geral, cada 6 (seis) meses ou sempre


que necessário, para apresentar relatório e balanço do estado da
liquidação e prestar contas dos atos praticados durante o período
anterior;

X - apresentar à Assembleia Geral, finda a liquidação, o respectivo


relatório e as contas finais;

XI - averbar, no órgão competente, a Ata da Assembleia Geral que


considerar encerrada a liquidação.

Art. 69. As obrigações e as responsabilidades dos liquidantes


regem-se pelos preceitos peculiares aos dos administradores da
sociedade liquidanda.

Art. 70. Sem autorização da Assembleia não poderá o liquidante


Art. 70. Sem gravar de ônus os móveis e imóveis, contrair empréstimos,
autorização da salvo quando indispensáveis para o pagamento de obrigações
Assembleia não inadiáveis, nem prosseguir, embora para facilitar a liquidação,
poderá o liquidante na atividade social.
gravar de ônus
os móveis e
Art. 71. Respeitados os direitos dos credores preferenciais,
imóveis, contrair
pagará o liquidante as dívidas sociais proporcionalmente e sem
empréstimos,
distinção entre vencidas ou não.
salvo quando
indispensáveis
para o pagamento Art. 72. A Assembleia Geral poderá resolver, antes de ultimada
de obrigações a liquidação, mas depois de pagos os credores, que o liquidante
inadiáveis, nem faça rateios por antecipação da partilha, à medida que se
prosseguir, embora apurem os haveres sociais.
para facilitar a
liquidação, na Art. 73. Solucionado o passivo, reembolsados os cooperados até
atividade social. o valor de suas quotas-partes e encaminhado o remanescente
conforme o estatuído convocará o liquidante Assembleia Geral
para prestação final de contas.

Art. 74. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação e a sociedade


se extingue, devendo a ata da Assembleia ser arquivada na Junta
Comercial e publicada.

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Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

Parágrafo único. O associado discordante terá o prazo de 30


(trinta) dias, a contar da publicação da ata, para promover a ação
que couber.

Art. 75. A liquidação extrajudicial das cooperativas poderá ser


promovida por iniciativa do respectivo órgão executivo federal,
que designará o liquidante, e será processada de acordo com
a legislação específica e demais disposições regulamentares,
desde que a sociedade deixe de oferecer condições operacionais,
principalmente por constatada insolvência.

§ 1° A liquidação extrajudicial, tanto quanto possível, deverá ser


precedida de intervenção na sociedade.

§ 2° Ao interventor, além dos poderes expressamente concedidos


no ato de intervenção, são atribuídas funções, prerrogativas e
obrigações dos órgãos de administração.

Art. 76. A publicação no Diário Oficial, da ata da Assembleia Geral da


sociedade, que deliberou sua liquidação, ou da decisão do órgão
executivo federal quando a medida for de sua iniciativa, implicará
a sustação de qualquer ação judicial contra a cooperativa, pelo
prazo de 1 (um) ano, sem prejuízo, entretanto, da fluência dos
juros legais ou pactuados e seus acessórios.

Parágrafo único. Decorrido o prazo previsto neste artigo, sem


que, por motivo relevante, esteja encerrada a liquidação, poderá
ser o mesmo prorrogado, no máximo por mais 1 (um) ano,
mediante decisão do órgão citado no artigo, publicada, com os
mesmos efeitos, no Diário Oficial.

Art. 77. Na realização do ativo da sociedade, o liquidante deverá:

I - mandar avaliar, por avaliadores judiciais ou de Instituições


Financeiras Públicas, os bens de sociedade;

II - proceder à venda dos bens necessários ao pagamento do passivo


da sociedade, observadas, no que couber, as normas constantes
dos artigos 117 e 118 do Decreto-Lei n. 7.661, de 21 de junho de
1945.

Art. 78. A liquidação das cooperativas de crédito e da seção de


crédito das cooperativas agrícolas mistas reger-se-á pelas
normas próprias legais e regulamentares (BRASIL, 1971).

69
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Lembramos que o Decreto-Lei 7.661, de 21 de junho de 1945, foi revogado


pela Lei 11.101 de 09 de fevereiro de 2005, a nova lei que regulamenta a
recuperação judicial, extrajudicial e a falência. Até o presente momento, entretanto,
a Lei 5.764/71 ainda não foi alterada.

Esse capítulo da Lei 5.764/71 trata particularmente do processo de dissolução


e liquidação de uma cooperativa. Os artigos trazem todos os fatos necessários
para que a dissolução e liquidação ocorram bem como sobre como deve ser sua
condução.

A diferença natural entre dissolução e liquidação para Monserrat (apud


SIQUEIRA, 2002, p. 69), é “que a dissolução é a decisão de extinguir uma
sociedade e a liquidação será a apuração dos créditos e pagamentos dos débitos
da sociedade dissolvida”.

Independente dos motivos que possam levar à dissolução da sociedade


cooperativa, esta será levado à consecução através da deliberação da Assembleia
Geral Extraordinária, respeitando-se sempre os dispositivos legais para que esse ato
tenha validade, no caso o quórum necessário para esta finalidade.

Caso a cooperativa encontre-se em situação de insolvência e não havendo,


por parte dos órgãos competentes da administração, providências para instalar
uma Assembleia Geral Extraordinária, o pedido de dissolução pode ser efetuado
por qualquer sócio. Ele solicitará o ajuizamento de ação de dissolução e liquidação
da sociedade e representará a cooperativa.

Quando em processo de liquidação a lei exige que a denominação


cooperativa passe a utilizar a informação “em liquidação”, para evitar equívocos
nas negociações e garantir o direito de terceiros.

O liquidante, que passa a ter a representação estatutária deve averbar a ata


que decidiu pela liquidação da cooperativa e que o nomeou liquidante, no registro
civil de pessoas jurídicas. É importante ressaltar que a nomeação do liquidante,
quando a liquidação for autorizada por determinação da Assembleia Geral, não
deverá recair sobre pessoas que já exerciam qualquer cargo na Administração ou
no Conselho Fiscal. As vedações e os impedimentos válidos para o exercício de
cargos em Cooperativas continuam sendo válidos para a nomeação do liquidante.

O artigo 68 destaca os atos necessários para que o liquidante realize o ativo


e passivo da sociedade. Dessa forma se faz a apuração dos resultados, que
se positivo levará ao reembolso da cota-partes aos associados; se não houver
sobras deverá ser apresentado relatório final das contas da sociedade.

70
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

Se a sociedade tiver sido constituída por cotas de responsabilidade limitada,


restará aos sócios como obrigação, a perda das mesmas. No caso de algum
administrador ter agido contra a lei ou os estatutos, caberá aos credores que
tiverem interesse, ajuizar ação judicial afim de reaver seus créditos.

Vamos parar um instante para relembrar o que conversamos até agora?

Atividade de Estudos:

1) Cite os motivos pelos quais poderá ser dissolvida uma Sociedade


Cooperativa.
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2) Qual é a diferença entre dissolução e liquidação de uma


sociedade?
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3) A Cooperativa XYZ está em estado de insolvência. Quem deverá


tomar as providências para a sua dissolução? E caso não forem
tomadas essas providências, de que forma poderá haver a
dissolução?
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4) Cite os procedimentos legais para a liquidação extrajudicial de


uma Sociedade Cooperativa.
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Muito bem. Sabemos agora muitos procedimentos sobre a dissolução


e a liquidação de cooperativas. É claro que esse assunto é extenso e não se
esgota com a rápida passagem pelos artigos da Lei 5.764/71 que fizemos. Mas é
importante que você saiba quais são os principais pontos desse assunto.

Naturalmente como gestor de uma Sociedade Cooperativa você vai trabalhar


para que uma situação assim não aconteça, não é mesmo?

Passamos agora para o próximo assunto do capítulo que é o Sistema


Operacional das Cooperativas.
e) Do Ato Cooperativo

CAPÍTULO XII
Do Sistema Operacional das Cooperativas
SEÇÃO I
Do Ato Cooperativo

Art. 79. Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as


cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas
cooperativas entre si quando associados, para a consecução dos
objetivos sociais.

Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de


mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou
mercadoria (BRASIL, 1971).

O Ato Cooperativo será tratado em capítulo específico desse Caderno de


Estudos, motivo pelo qual não faremos qualquer comentário sobre esse artigo
nesse momento. Mas agora você já sabe que o Ato Cooperativo é a relação entre
todas as partes envolvidas no Cooperativismo e que ele serve para o exercício
das funções sociais das Sociedades Cooperativas.

72
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

d) Das Distribuições de Despesas

SEÇÃO II
Das Distribuições de Despesas

Art. 80. As despesas da sociedade serão cobertas pelos associados


mediante rateio na proporção direta da fruição de serviços.

Parágrafo único. A cooperativa poderá, para melhor atender


à equanimidade de cobertura das despesas da sociedade,
estabelecer:

I - rateio, em partes iguais, das despesas gerais da sociedade entre


todos os associados, quer tenham ou não, no ano, usufruído dos
serviços por ela prestados, conforme definidas no estatuto;

II - rateio, em razão diretamente proporcional, entre os associados


que tenham usufruído dos serviços durante o ano, das sobras
líquidas ou dos prejuízos verificados no balanço do exercício,
excluídas as despesas gerais já atendidas na forma do item
anterior.

Art. 81. A cooperativa que tiver adotado o critério de separar as


despesas da sociedade e estabelecido o seu rateio na forma
indicada no parágrafo único do artigo anterior deverá levantar
separadamente as despesas gerais (BRASIL, 1971).

Numa cooperativa é essencial que se estabeleça uma relação direta entre


o faturamento da sociedade e a participação de cada sócio nesse faturamento,
de modo que seja justa sua participação nas despesas e finalmente nas sobras
ou perdas das sociedades. Como diz a lei, esse rateio pode ser proporcionado
à utilização dos serviços da cooperativa. Existe, porém, a possiblidade dessas
despesas serem rateadas entre a totalidade de seus associados, ainda que
não tenham usado dos serviços prestados. Essa possibilidade deve ser
discutida em assembleia que é o órgão representante da vontade jurídica dos
associados.

Sobre essa matéria que contempla Sobras e Perdas, haverá um capítulo


específico para discutir esse tema, que certamente é de interesse não só da
cooperativa, mas certamente dos cooperados.

73
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

e) Das Operações da Cooperativa

SEÇÃO III
Das Operações da Cooperativa

Art. 82. A cooperativa que se dedicar a vendas em comum poderá


registrar-se como armazém geral e, nessa condição, expedir
“Conhecimentos de Depósitos” e Warrants para os produtos
de seus associados conservados em seus armazéns, próprios
ou arrendados, sem prejuízo da emissão de outros títulos
decorrentes de suas atividades normais, aplicando-se, no que
couber, a legislação específica.

§ 1° Para efeito deste artigo, os armazéns da cooperativa se equiparam


aos “Armazéns Gerais”, com as prerrogativas e obrigações
destes, ficando os componentes do Conselho de Administração
ou Diretoria Executiva, emitente do título, responsáveis pessoal
e solidariamente, pela boa guarda e conservação dos produtos
vinculados, respondendo criminal e civilmente pelas declarações
constantes do título, como também por qualquer ação ou omissão
que acarrete o desvio, deterioração ou perda dos produtos.

§ 2° Observado o disposto no § 1°, as cooperativas poderão operar


unidades de armazenagem, embalagem e frigorificação, bem
como armazéns gerais alfandegários, nos termos do disposto no
Capítulo IV da Lei n. 5.025, de 10 de junho de 1966.

Art. 83. A entrega da produção do associado à sua cooperativa


significa a outorga a esta de plenos poderes para a sua livre
disposição, inclusive para gravá-la e dá-la em garantia de
operações de crédito realizadas pela sociedade, salvo se,
tendo em vista os usos e costumes relativos à comercialização
de determinados produtos, sendo de interesse do produtor, os
estatutos dispuserem de outro modo.

Art. 84. As cooperativas de crédito rural e as seções de crédito das


cooperativas agrícolas mistas só poderão operar com associados,
pessoas físicas, que de forma efetiva e predominante:

I - desenvolvam, na área de ação da cooperativa, atividades


agrícolas, pecuárias ou extrativas;

II - se dediquem a operações de captura e transformação do pescado.

Parágrafo único. As operações de que trata este artigo só


poderão ser praticadas com pessoas jurídicas, associadas, desde

74
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

que exerçam exclusivamente atividades agrícolas, pecuárias


ou extrativas na área de ação da cooperativa ou atividade de
captura ou transformação do pescado (Artigo revogado pela Lei
Complementar 130/09).

Art. 85. As cooperativas agropecuárias e de pesca poderão adquirir


produtos de não associados, agricultores, pecuaristas ou
pescadores, para completar lotes destinados ao cumprimento de
contratos ou suprir capacidade ociosa de instalações industriais
das cooperativas que as possuem.

Art. 86. As cooperativas poderão fornecer bens e serviços a não


associados, desde que tal faculdade atenda aos objetivos sociais
e estejam de conformidade com a presente lei.

Art. 87. Os resultados das operações das cooperativas com não


associados, mencionados nos artigos 85 e 86, serão levados à
conta do “Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social”
e serão contabilizados em separado, de molde a permitir cálculo
para incidência de tributos.

Art. 88. Mediante prévia e expressa autorização concedida pelo


respectivo órgão executivo federal, consoante as normas e limites
instituídos pelo Conselho Nacional de Cooperativismo, poderão
as cooperativas participar de sociedades não cooperativas
públicas ou privadas, em caráter excepcional, para atendimento
de objetivos acessórios ou complementares (Vide Medida
Provisória nº 2.168-40, de 24 de agosto de 2001).

Parágrafo único. As inversões decorrentes dessa participação


serão contabilizadas em títulos específicos e seus eventuais
resultados positivos levados ao “Fundo de Assistência Técnica,
Educacional e Social” (BRASIL, 1971).

Nota: A Medida Provisória 2.168-40 de 24 de agosto de


2001, trata sobre o Programa de Revitalização de Cooperativas de
Produção Agropecuária e reedita a autorização para a criação do
Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo entre outras
providências.

75
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Esse capítulo não esgota todas as atividades possíveis para as cooperativas,


posto que a lei preveja que qualquer atividade da área do conhecimento humano é
passível de ser objeto de cooperação. Para Siqueira (2004, p.151) a abrangência
desse capítulo da lei é desatualizada e estreita:

É no conhecimento sistemático da interpretação do


cooperativismo brasileiro, de acordo com a Constituição
Federal, com a lei de regência, as normas extravagantes, a
doutrina e a jurisprudência especializada, que se aprenderá o
verdadeiro alcance e sentido da instituição cooperativa.

De toda forma, o autor comenta os vários artigos desse capítulo e, vamos


então, levantar alguns pontos.

Deixaremos, no entanto, o assunto “operações com não associados e quem


são os associados” objetos dos artigos 85, 86 e 87 para serem discutidos no
Capítulo Atos Cooperativos desse Caderno de Estudos, uma vez que são esses
os personagens que definem o ato cooperativo e o não cooperativo.

Destacamos nesse capítulo da lei, alguns conceitos de termos citados na lei


para que você possa compreender melhor seu significado:

• Venda – é quando o vendedor entrega (dispõe ou aliena) alguma coisa em


troca de pagamento.

• Venda em comum – é quando um cooperado entrega a cooperativa um


produto para que seja colocado no mercado, transferindo também a ela
a responsabilidade de buscar mercados e de negociar esses produtos,
buscando melhor preço e realizando ainda, compra e venda e recebimento do
preço negociado.

• Conhecimento de depósito – é o título representativo do direito de mercadoria


que os armazéns-gerais, trapiches, cooperativas ou estabelecimentos
similares dão aos depositantes de mercadorias, emitido em conjunto com o
warrant, mas dele separável e que contém obrigatoriamente a cláusula “à
ordem” sendo dessa forma, independente do warrant, transferível por meio de
endosso.

• Warrant – De origem inglesa, significa ordem, ou garantia. É um título de


crédito que representa uma garantia pignoratícia (de penhor) sobre uma
mercadoria depositada num armazém-geral e é emitido em conjunto com
o conhecimento de depósito. Ele é, portanto um título de garantia que se
emite sobre mercadorias depositadas nos armazéns-gerais, conforme o
conhecimento de depósito.

76
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

Vamos entender melhor a função desses títulos a partir do resumo de


(BULGARELLI, 2001, p. 467-468) sobre a emissão desses dois títulos:

Ao receber em depósito, mercadorias, os Armazéns Gerais


estão obrigados a dar ao depositante um recibo dessas
mercadorias confiadas à sua guarda, declarando a natureza,
quantidade, número e marcas, após pesar, medir ou contar,
no ato de recebimento, as mercadorias, anotando no verso as
retiradas parciais das mercadorias durante o depósito.

Pode, contudo, o depositante pedir que sejam emitidos o


conhecimento de depósito e o warrant; serão emitidos então
esses títulos, que são unidos (a doutrina brasileira diz que são
xifópagos), mas separáveis à vontade.

De posse dos títulos, o depositante poderá negociar as


mercadorias em depósito, por meio do conhecimento de
depósito, bastando simples endosso, o que habilitará o
cessionário a retirar as mercadorias.

Poderá também o depositante separar os dois títulos; por meio


do warrant, poderá obter financiamento, dando em garantia
(penhor) as mercadorias depositadas, mediante o endosso
do warrant; por meio do conhecimento de depósito, poderá
vender as mercadorias depositadas. Claro que o Armazém
Geral só entregará as mercadorias ao titular legitimado do
conhecimento de depósito, se o warrant tiver sido resgatado,
ou seja, pago, ou se for consignada a quantia correspondente
mais os juros até o vencimento.

Para você saber mais sobre esses títulos de crédito, é necessário conhecer o
capítulo II da Lei 1.102/03 que trata de Armazéns Gerais. Abaixo transcrevemos
alguns artigos da referida lei para que você a conheça:

TRECHOS DO CAPÍTULO II DA LEI Nº 1.102 DE 21/11 /1903

Emissão, circulação dos títulos emitidos pelas empresas de


armazéns gerais.

Art. 15 - Os armazéns gerais emitirão, quando lhes for pedido pelo


depositante, dois títulos unidos, mas separáveis à vontade,
denominados - “conhecimento de depósito” e “warrant”.

§ 1º - Cada um destes títulos deve ser à ordem e conter, além de sua


designação particular;

1º - a denominação da empresa do armazém geral e sua sede;

2º - o nome, profissão e domicílio do depositante ou de terceiro por


77
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

este indicado;

3º O lugar e o prazo do depósito, facultado aos interessados


acordarem, entre si, na transferência posterior das mesmas
mercadorias de um para outro armazém da emitente ainda que
se encontrem em localidade diversa da em que foi feito o depósito
inicial. Em tais casos, far-se-ão, nos conhecimentos warrants
respectivos, as seguintes anotações:

a) local para onde se transferirá a mercadoria em depósito

b) para os fins do art. 26, parágrafo 2º, às despesas decorrentes da


transferência, inclusive as de seguro por todos os riscos.

4º A natureza e quantidade das mercadorias em depósito, designadas


pelos nomes mais usados no comércio, seu peso, o estado
dos envoltórios e todas as marcas e indicações próprias para
estabelecerem a sua identidade, ressalvadas as peculiaridades
das mercadorias depositadas a granel.

5º - a qualidade da mercadoria tratando-se daquelas a que se refere


o art. 12;

6º - a indicação do segurador da mercadoria e o valor do seguro (art.


16).

7º - a declaração dos impostos e direitos fiscais, dos encargos


e despesas a que a mercadoria está sujeita, e do dia em que
começaram a correr as armazenagens (art. 26, § 2º);

8º - a data da emissão dos títulos e assinatura do empresário ou


pessoa devidamente habilitada por este.

§ 2º - Os referidos serão extraídos de um livro de talão, o qual conterá


todas as declarações acima mencionadas, e número de ordem
correspondente.

No verso do respectivo talão, o depositante, ou terceiro, por este


autorizado, passará recibo dos títulos. Se a empresa, a pedido
do depositante, os expedir pelo correio, mencionará esta
circunstância e o número e data do certificado do registro postal.

Anotar-se-ão também no verso do talão as ocorrências que


se derem com os títulos dele extraídos, como substituição,
restituição, perda, roubo etc.

§ 3º - Os armazéns gerais são responsáveis para com terceiros pelas


irregularidades e inexatidões encontradas nos títulos que emitirem

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Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

relativamente à quantidade, natureza e peso da mercadoria.

Art. 17 - Emitidos os títulos de que trata o art. 15, os gêneros e


mercadorias não poderão sofrer embaraço que prejudique a sua
livre e plena disposição, salvo nos casos do art. 27.

O conhecimento de depósito e o “warrant”, ao contrário, podem


ser penhorados, arrestados por dívidas do portador.

Art. 18 - O conhecimento do depósito e o “warrant” podem ser


transferidos, unidos ou separados, por endosso.

§ 1º - O endosso pode ser em branco; neste caso confere ao portador


do título os direitos de cessionário.

§ 2º - O endosso dos títulos unidos confere ao cessionário o direito


de livre disposição da mercadoria depositada; o do “warrant”
separado do conhecimento de depósito o direito de penhor sobre
a mesma mercadoria e do conhecimento de depósito a faculdade
de dispor da mercadoria, salvo os direitos do credor, portador do
“warrant”.

Art. 19 - O primeiro endosso do “warrant” declarará a importância do


crédito garantido pelo penhor da mercadoria, taxa do juro e a data
do vencimento.

Essas declarações serão transcritas no conhecimento de depósito


e assinados pelos endossatários do “warrant”.

Art. 20 - O portador dos dois títulos tem o direito de pedir a divisão


da mercadoria em tantos lotes quantos lhe convenham, e entrega
de conhecimentos de depósito de “warrants” correspondentes
a cada um dos lotes, sendo restituídos, e ficando anulados os
títulos anteriormente emitidos.

Esta divisão somente será facultada se a mercadoria continuar a


garantir os créditos preferenciais do art. 26, § 1º.

§ único - Outrossim, é permitido ao portador dos dois títulos


pedir novos títulos à sua ordem ou de terceiro que indicar, em
substituição dos primitivos, que serão restituídos ao armazém
geral e anulados.

Art. 25 - Se o portador do “warrant” não ficar integralmente pago,


em virtude da insuficiência do produto líquido da venda da
mercadoria ou da indenização do seguro no caso de sinistro
tem ação para haver o saldo contra os endossadores anteriores
solidariamente, observando-se a esse respeito as mesmas

79
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

disposições substanciais e processuais (de fundo e de forma)


relativo a letras de câmbio.

O prazo para prescrição de ação regressiva corre do dia da venda.

Art. 27 - Aquele que perder o título avisará ao armazém geral e


anunciará o fato durante três dias, pelo jornal de maior circulação
da sede daquele armazém.

§ 1º - Se se tratar do conhecimento de depósito e correspondente


“warrant”, ou só do primeiro, o interessado poderá obter duplicata
ou a entrega das mercadorias, garantindo o direito do portador do
“warrant”, se este foi negociado, ou do saldo à sua disposição se
a mercadoria foi vendida, observando-se o processo do § 2º, que
correrá perante o juiz do comércio em cuja jurisdição se achar o
armazém geral.

§ 2º - O interessado requererá a notificação do armazém geral para


não entregar sem ordem judicial a mercadoria ou saldo disponível
no caso de ser ou de ter sido ela vendida, na conformidade
dos artigos 10, § 4º, e 23, § 1º, justificará sumariamente a sua
propriedade.

§ 3º - No caso de perda do “warrant”, o interessado que provar a


sua propriedade tem o direito de receber a importância do crédito
garantido.

Fonte: BRASIL. Decreto nº 1.102, de 21 de novembro de 1903.


Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/
Antigos/D1102.htm>. Acesso em: 25 ago. 2011.

Muito bem. Agora você já sabe um pouco mais a respeito desses dois títulos
de crédito que são bastante utilizados pelas cooperativas, especialmente aquelas
que são agrícolas e que recebem a produção de seus cooperados. Sugerimos
que você acesse o site abaixo em que você pode ler na íntegra o Capítulo II da Lei
1.102 de 21/11/1903.

Indicação de site

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/L11076.
htm

80
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

A necessidade de fazer remissão à lei deve-se ao fato de que isso torna mais
fácil a aquisição de conhecimento, ficando sempre a necessidade de pesquisar
um pouco mais ou buscar literatura à parte.

Sabemos que isso vai ajudar bastante na construção do seu saber, embora
torne também um pouco cansativo a atividade de estudar.

Achamos que vale a pena entregar-se com afinco ao esclarecimento de suas


dúvidas.

Vamos continuar com a conceituação de outros termos utilizados na lei para


continuar essa tarefa.

De acordo com Silva (1989, apud SIQUEIRA, 2004, p. 153) “produto é toda
utilidade que se pode extrair das coisas, sendo a produção correspondente ao
resultado obtido pela ação de produzir algo que tenha utilidade para o homem”.

O artigo 83, por sua vez, apenas confirma o equilíbrio das relações do sistema
cooperativo, ou seja, o correto tratamento estatutário da produção do cooperado.

Você notou que a lei que dispõe sobre o Warrant e conhecimento de depósitos
são do começo do século XX. E, apesar de antiga, ela continua regulando as
relações entre as pessoas e os armazéns gerais e no caso as cooperativas.

Esperamos que você tenha compreendido um pouco mais sobre as


operações das cooperativas e sobre esses títulos de crédito que elas emitem
quando recebem mercadorias de seus cooperados.

Atividade de Estudos:

Para descomplicar um pouco o tema Warrant e Conhecimento


e Depósito pensamos num exercício para que você possa fixar seus
conhecimentos. Vamos trabalhar um pouco? É preciso consultar a
íntegra da Lei do Warrant para completar esse exercício.

Digamos que você é um cooperado da Cooperativa XYZ. Após


muito trabalho para produzir milho na sua lavoura, finalmente chegou o
dia de entregar sua produção à cooperativa onde você é sócio.

Você acaba de entregar sua produção e como não quer vendê-


la imediatamente, porque no momento o preço encontra-se um
pouco abaixo da expectativa e o pessoal da cooperativa sabe que o

81
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

preço deve melhorar. Então, você pede que a cooperativa emita um


conhecimento de depósito e um warrant.

1) Quais são os itens que devem constar nesses documentos?


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2) Apesar de você querer aguardar um preço melhor para o seu


produto, você está precisando de dinheiro para o pagamento
de alguns compromissos. De posse agora do Conhecimento de
Depósito e do Warrant você pode negociar esses títulos? De que
forma?
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3) Muito bem. Você resolveu vender a sua mercadoria ao seu vizinho


José da Silva e ele pretende retirar a mercadoria da cooperativa.
Porém, você ainda não liquidou o empréstimo que fez dando
em garantia o warrant referente a essa mercadoria. O que você
precisa fazer para que o seu vizinho possa retirar a mercadoria?
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Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

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Esperamos que com esse exercício você tenha fixado os conceitos principais
de Warrant. Assim, concluímos mais uma parte do nosso capítulo e, vamos seguir
adiante.

f) Dos Prejuízos

SEÇÃO IV
Dos Prejuízos

Art. 89. Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão


cobertos com recursos provenientes do Fundo de Reserva e, se
insuficiente este, mediante rateio, entre os associados, na razão
direta dos serviços usufruídos, ressalvada a opção prevista no
parágrafo único do artigo 80 (BRASIL, 1971).

Usando da mesma prerrogativa que o artigo 80 destina à


distribuição das sobras, pode a cooperativa optar pelo rateio em
partes iguais quando o balanço entre os ingressos, despesas,
provisões e fundos legais ou estatutários redundar em prejuízo.

A princípio os prejuízos do exercício serão compensados com


a verba existente no Fundo de Reserva até a extinção de um ou de
outro. Ainda restando prejuízo, estes deverão ser suportados pelos
sócios, ou em partes iguais ou proporcionais, de acordo com o que
for estabelecido no estatuto da cooperativa.

83
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

a) Do Sistema Trabalhista

SEÇÃO V
Do Sistema Trabalhista

Art. 90. Qualquer que seja o tipo de cooperativa, não existe vínculo
empregatício entre ela e seus associados.

Art. 91. As cooperativas igualam-se às demais empresas em relação


aos seus empregados para os fins da legislação trabalhista e
previdenciária.

A lei deixa bastante claro que a relação de cooperação não gera direitos
trabalhistas.

Não se trata apenas da Lei das Cooperativas, mas, a própria Lei Trabalhista
no parágrafo único do seu artigo 442 traz essa disciplina consolidada.

Além disso, trata a Lei da Igualdade dos Ttrabalhadores dessa associação


para com as demais empresas, o que não poderia ser de forma diferente.

Parece bastante simples? E é assim realmente.

Muito bem. Mais um passo foi dado e ainda há muito pela frente. Sobre
Prejuízos e sobre o Sistema Trabalhista, ficou tudo esclarecido? Os artigos são
bem claros e explicativos. Vejamos o que nos espera nos próximos artigos.
Pronto? Então, sigamos em frente.

Capítulos XIII a XV da Lei 5.764/71


Depois de estudarmos alguns aspectos de funcionamento de uma
Sociedade Cooperativa, vamos ver agora como é feita a fiscalização e o controle
dessas instituições. Você sabe que as cooperativas atuam em áreas distintas,
como as Cooperativas Rurais, as de Serviço, as Habitacionais e as de Crédito.
Assim, cada uma delas é fiscalizada por órgãos adequados, sendo que não
existe mais interferência do Governo em relação às Sociedades Cooperativas.
Mas isso já aconteceu. E embora ainda constem na Lei no. 5.764/71 alguns
artigos não têm mais sua função em virtude da vigência da Nova Constituição
Federal de 1988, assim o Conselho Nacional do Cooperativismo e a atuação

84
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

dos órgãos governamentais sobre as Sociedades Cooperativistas não existem


mais.

a) Da Fiscalização e Controle

CAPÍTULO XIII
Da Fiscalização e Controle

Art. 92. A fiscalização e o controle das sociedades cooperativas, nos


termos desta lei e dispositivos legais específicos, serão exercidos,
de acordo com o objeto de funcionamento, da seguinte forma:

I - as de crédito e as seções de crédito das agrícolas mistas pelo


Banco Central do Brasil;

II - as de habitação pelo Banco Nacional de Habitação;

III - as demais pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma


Agrária.

§ 1º Mediante autorização do Conselho Nacional de Cooperativismo, os


órgãos controladores federais, poderão solicitar, quando julgarem
necessário, a colaboração de outros órgãos administrativos, na
execução das atribuições previstas neste artigo.

§ 2º As sociedades cooperativas permitirão quaisquer verificações


determinadas pelos respectivos órgãos de controle, prestando
os esclarecimentos que lhes forem solicitados, além de serem
obrigadas a remeter-lhes anualmente a relação dos associados
admitidos, demitidos, eliminados e excluídos no período, cópias
de atas, de balanços e dos relatórios do exercício social e parecer
do Conselho Fiscal.

Art. 93. O Poder Público, por intermédio da administração central dos


órgãos executivos federais competentes, por iniciativa própria ou
solicitação da Assembleia Geral ou do Conselho Fiscal, intervirá
nas cooperativas quando ocorrer um dos seguintes casos:

I - violação contumaz das disposições legais;


II - ameaça de insolvência em virtude de má administração da
sociedade;
III - paralisação das atividades sociais por mais de 120 (cento e vinte)
dias consecutivos;
IV - inobservância do artigo 56, § 2º.

85
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Parágrafo único. Aplica-se, no que couber, às cooperativas


habitacionais, o disposto neste artigo.

Art. 94. Observar-se-á, no processo de intervenção, a disposição


constante do § 2º do artigo 75. (BRASIL, 1971).

A nova ordem constitucional pôs fim à intervenção do Estado no controle e


A nova ordem intervenção das cooperativas. Por isso, valem as considerações feitas
constitucional pôs na Seção I do Capitulo II da Lei das Cooperativas.
fim à intervenção do
Estado no controle E ficam apenas sujeitas à determinação do artigo 192 da
e intervenção das
Constituição Federal de 1988 as cooperativas de crédito, subordinadas
cooperativas.
à regulamentação e fiscalização pelo Banco Central, por estarem
incluídas no Sistema Financeiro Nacional; de igual modo as Cooperativas de
Habitação focam sujeitas às normas e fiscalização do Sistema Financeiro da
Habitação.

Esperamos que este assunto esteja bem esclarecido. Em todo caso, retorne
à seção mencionada caso você precise relembrar do assunto, certo?

b) Do Conselho Nacional de Cooperativismo

CAPÍTULO XIV
Do Conselho Nacional de Cooperativismo

Art. 95. A orientação geral da política cooperativista nacional caberá


ao Conselho Nacional de Cooperativismo - CNC, que passará a
funcionar junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária - INCRA, com plena autonomia administrativa e financeira,
na forma do artigo 172 do Decreto-Lei n. 200, de 25 de fevereiro
de 1967, sob a presidência do Ministro da Agricultura e composto
de 8 (oito) membros indicados pelos seguintes representados:

I - Ministério do Planejamento e Coordenação Geral;

II - Ministério da Fazenda, por intermédio do Banco Central do Brasil;

III - Ministério do Interior, por intermédio do Banco Nacional da


Habitação;

IV - Ministério da Agricultura, por intermédio do Instituto Nacional de


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Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

Colonização e Reforma Agrária - INCRA, e do Banco Nacional de


Crédito Cooperativo S/A.;

V - Organização das Cooperativas Brasileiras.

Parágrafo único. A entidade referida no inciso V deste artigo


contará com 3 (três) elementos para fazer-se representar no
Conselho.

Art. 96. O Conselho, que deverá reunir-se ordinariamente uma


vez por mês, será presidido pelo Ministro da Agricultura, a Art. 96. O Conselho,
quem caberá o voto de qualidade, sendo suas resoluções que deverá reunir-se
votadas por maioria simples, com a presença, no mínimo de ordinariamente
3 (três) representantes dos órgãos oficiais mencionados nos uma vez por mês,
itens I a IV do artigo anterior. será presidido
pelo Ministro da
Agricultura, a quem
Parágrafo único. Nos seus impedimentos eventuais, o
caberá o voto de
substituto do Presidente será o Presidente do Instituto
qualidade, sendo
Nacional de Colonização e Reforma Agrária.
suas resoluções
votadas por maioria
Art. 97. Ao Conselho Nacional de Cooperativismo compete: simples, com
a presença, no
I - editar atos normativos para a atividade cooperativista mínimo de 3 (três)
nacional; representantes
dos órgãos oficiais
II - baixar normas regulamentadoras, complementares e mencionados nos
interpretativas, da legislação cooperativista; itens I a IV do artigo
anterior.
III - organizar e manter atualizado o cadastro geral das
cooperativas nacionais;

IV - decidir, em última instância, os recursos originários de decisões


do respectivo órgão executivo federal;

V - apreciar os anteprojetos que objetivam a revisão da legislação


cooperativista;

VI - estabelecer condições para o exercício de quaisquer cargos


eletivos de administração ou fiscalização de cooperativas;

VII - definir as condições de funcionamento do empreendimento


cooperativo, a que se refere o artigo 18;

VIII - votar o seu próprio regimento;

IX - autorizar, onde houver condições, a criação de Conselhos


Regionais de Cooperativismo, definindo-lhes as atribuições;

87
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

X - decidir sobre a aplicação do Fundo Nacional de Cooperativismo,


nos termos do artigo 102 desta Lei;

XI - estabelecer em ato normativo ou de caso a caso, conforme julgar


necessário, o limite a ser observado nas operações com não
associados a que se referem os artigos 85 e 86.

Parágrafo único. As atribuições do Conselho Nacional de


Cooperativismo não se estendem às cooperativas de habitação,
às de crédito e às seções de crédito das cooperativas agrícolas
mistas, no que forem regidas por legislação própria.

Art. 98. O Conselho Nacional de Cooperativismo - CNC contará com


uma Secretaria Executiva que se incumbirá de seus encargos
administrativos, podendo seu Secretário Executivo requisitar
funcionários de qualquer órgão da Administração Pública.

§ 1º O Secretário Executivo do Conselho Nacional de Cooperativismo


será o Diretor do Departamento de Desenvolvimento Rural do
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA,
devendo o Departamento referido incumbir-se dos encargos
administrativos do Conselho Nacional de Cooperativismo.

§ 2° Para os impedimentos eventuais do Secretário Executivo, este


indicará à apreciação do Conselho seu substituto.

Art. 99. Compete ao Presidente do Conselho Nacional de


Cooperativismo:

I - presidir as reuniões;
II - convocar as reuniões extraordinárias;
III - proferir o voto de qualidade.

Art. 100. Compete à Secretaria Executiva do Conselho Nacional de


Cooperativismo:

I - dar execução às resoluções do Conselho;


II - comunicar as decisões do Conselho ao respectivo órgão executivo
federal;
III - manter relações com os órgãos executivos federais, bem assim
com quaisquer outros órgãos públicos ou privados, nacionais
ou estrangeiros, que possam influir no aperfeiçoamento do
cooperativismo;
IV - transmitir aos órgãos executivos federais e entidade superior
do movimento cooperativista nacional todas as informações
relacionadas com a doutrina e práticas cooperativistas de seu
interesse;
V - organizar e manter atualizado o cadastro geral das cooperativas
nacionais e expedir as respectivas certidões;

88
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

VI - apresentar ao Conselho, em tempo hábil, a proposta orçamentária


do órgão, bem como o relatório anual de suas atividades;
VII - providenciar todos os meios que assegurem o regular
funcionamento do Conselho;
VIII - executar quaisquer outras atividades necessárias ao pleno
exercício das atribuições do Conselho.

Art. 101. O Ministério da Agricultura incluirá, em sua proposta


orçamentária anual, os recursos financeiros solicitados pelo
Conselho Nacional de Cooperativismo - CNC, para custear seu
funcionamento.

Parágrafo único. As contas do Conselho Nacional de


Cooperativismo - CNC, serão prestadas por intermédio do
Ministério da Agricultura, observada a legislação específica que
regula a matéria.

Art. 102. Fica mantido, junto ao Banco Nacional de Crédito


Cooperativo S/A., o “Fundo Nacional de Cooperativismo”, criado
pelo Decreto-Lei n. 59, de 21 de novembro de 1966, destinado a
prover recursos de apoio ao movimento cooperativista nacional.

§ 1º O Fundo de que trata este artigo será, suprido por:

I - dotação incluída no orçamento do Ministério da Agricultura para o


fim específico de incentivos às atividades cooperativas;
II - juros e amortizações dos financiamentos realizados com seus
recursos;
III - doações, legados e outras rendas eventuais;
IV - dotações consignadas pelo Fundo Federal Agropecuário e pelo
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA.

§ 2° Os recursos do Fundo, deduzido o necessário ao custeio de


sua administração, serão aplicados pelo Banco Nacional de
Crédito Cooperativo S/A., obrigatoriamente, em financiamento
de atividades que interessem de maneira relevante o
abastecimento das populações, a critério do Conselho Nacional
de Cooperativismo.

§ 3º O Conselho Nacional de Cooperativismo poderá, por conta


do Fundo, autorizar a concessão de estímulos ou auxílios para
execução de atividades que, pela sua relevância socioeconômica,
concorram para o desenvolvimento do sistema cooperativista
nacional (BRASIL, 1971).

89
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

A Constituição Federal de 1988, expressamente retirou o poder do Estado


de controlar as cooperativas. Dessa forma desativou o Conselho Nacional das
Cooperativas, estando, portanto os artigos de 95 a 102 da Lei das Cooperativas
em desacordo com a Nova Ordem Constitucional.

c) Dos Órgãos Governamentais

CAPÍTULO XV
Dos Órgãos Governamentais

Art. 103. As cooperativas permanecerão subordinadas, na parte


normativa, ao Conselho Nacional de Cooperativismo, com
exceção das de crédito, das seções de crédito das agrícolas
mistas e das de habitação, cujas normas continuarão a ser
baixadas pelo Conselho Monetário Nacional, relativamente às
duas primeiras, e Banco Nacional de Habitação, com relação à
última, observado o disposto no artigo 92 desta Lei.

Parágrafo único. Os órgãos executivos federais, visando


à execução descentralizada de seus serviços, poderão
delegar sua competência, total ou parcialmente, a órgãos e
entidades da administração estadual e municipal, bem como,
excepcionalmente, a outros órgãos e entidades da administração
federal.

Art. 104. Os órgãos executivos federais comunicarão todas as


alterações havidas nas cooperativas sob a sua jurisdição ao
Conselho Nacional de Cooperativismo, para fins de atualização
do cadastro geral das cooperativas nacionais (BRASIL, 1971).

Esses dois artigos também perdem sua eficácia diante da ordem imposta
pela redação da Nova Constituição Federal.

No entanto, algumas cooperativas, dado que suas atividades estão sujeitas


a regulamentação legal, necessitam, portanto, adotar regras legalmente previstas.
São elas:

• cooperativas de habitação;
• cooperativas médicas (planos de saúde);

90
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

• cooperativas de lavras e mineração;


• cooperativas de eletrificação rural.

Foram muitas informações não é mesmo? Embora alguns dos artigos


já tenham sido revogados (falaremos amplamente sobre esse assunto em
capítulo que aborda as mudanças instituídas pelo o Novo Código civil de 1988),
pensamos ser interessante comentar todos os artigos da Lei 5.764/71 ainda que
de forma breve. Afinal é importante ter noção de como foi construída a história
Cooperativista no país desde a ditadura até os dias de hoje.

Estamos quase chegando ao final desse segundo caderno. Agora vamos


ver como é que as cooperativas são representadas a nível nacional através da
Organização das Cooperativas Brasileiras a OCB, conhecendo suas funções e
atribuições.

Para garantir e estimular o desenvolvimento das cooperativas foi criado


o Banco Nacional de Crédito Cooperativo, conforme previsto na Lei das
Cooperativas, hoje extinto. E, finalmente, chegamos às Disposições Gerais
e Transitórias que tratam dos demais itens não contemplados em nenhum
artigo específico, mas que são importantes para a existência das Sociedades
Cooperativas.

Capítulos XVI a XVIII da Lei 5.764/71


Para finalizar este capítulo que aborda sobre a política Nacional
de Cooperativismo no Brasil, vamos conhecer os aspectos referentes à
Representação do Sistema Cooperativista, os Estímulos Creditícios e as
Disposições Gerais e Transitórias da Lei nº 5.764.

a) Da Representação do Sistema Cooperativista

CAPÍTULO XVI
Da Representação do Sistema Cooperativista

Art. 105. A representação do sistema cooperativista nacional cabe


à Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB, sociedade
civil, com sede na Capital Federal, órgão técnico-consultivo
do Governo, estruturada nos termos desta Lei, sem finalidade
lucrativa, competindo-lhe precipuamente:

91
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

a) manter neutralidade política e indiscriminação racial, religiosa


e social;

b) integrar todos os ramos das atividades cooperativistas;

c) manter registro de todas as sociedades cooperativas que,


para todos os efeitos, integram a Organização das Cooperativas
Brasileiras - OCB;

d) manter serviços de assistência geral ao sistema cooperativista,


seja quanto à estrutura social, seja quanto aos métodos
operacionais e orientação jurídica, mediante pareceres e
recomendações, sujeitas, quando for o caso, à aprovação do
Conselho Nacional de Cooperativismo - CNC;

e) denunciar ao Conselho Nacional de Cooperativismo práticas


nocivas ao desenvolvimento cooperativista;

f) opinar nos processos que lhe sejam encaminhados pelo Conselho


Nacional de Cooperativismo;

g) dispor de setores consultivos especializados, de acordo com os


ramos de cooperativismo;

h) fixar a política da organização com base nas proposições


emanadas de seus órgãos técnicos;

i) exercer outras atividades inerentes à sua condição de órgão de


representação e defesa do sistema cooperativista;

j) manter relações de integração com as entidades congêneres do


exterior e suas cooperativas.

§ 1º A Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB será


constituída de entidades, uma para cada Estado, Território e
Distrito Federal, criadas com as mesmas características da
organização nacional.

§ 2º As Assembleias Gerais do órgão central serão formadas pelos


Representantes credenciados das filiadas, 1 (um) por entidade,
admitindo-se proporcionalidade de voto.

92
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

§ 3° A proporcionalidade de voto, estabelecida no parágrafo anterior,


ficará a critério da OCB, baseando-se no número de associados -
pessoas físicas e as exceções previstas nesta Lei - que compõem
o quadro das cooperativas filiadas.

§ 4º A composição da Diretoria da Organização das Cooperativas


Brasileiras - OCB será estabelecida em seus estatutos sociais.

§ 5° Para o exercício de cargos de Diretoria e Conselho Fiscal,


as eleições se processarão por escrutínio secreto permitido a
reeleição para mais um mandato consecutivo.

Art. 106. A atual Organização das Cooperativas Brasileiras e as


suas filiadas ficam investidas das atribuições e prerrogativas
conferidas nesta Lei, devendo, no prazo de 1 (um) ano, promover
a adaptação de seus estatutos e a transferência da sede nacional.

Art. 107. As cooperativas são obrigadas, para seu funcionamento,


a registrar-se na Organização das Cooperativas Brasileiras ou
na entidade estadual, se houver, mediante apresentação dos
estatutos sociais e suas alterações posteriores.

Parágrafo único. Por ocasião do registro, a cooperativa pagará


10% (dez por cento) do maior salário mínimo vigente, se a soma
do respectivo capital integralizado e fundos não exceder de 250
(duzentos e cinquenta) salários mínimos, e 50% (cinquenta por
cento) se aquele montante for superior.

Art. 108. Fica instituída, além do pagamento previsto no parágrafo


único do artigo anterior, a Contribuição Cooperativista, que será
recolhida anualmente pela cooperativa após o encerramento de
seu exercício social, a favor da Organização das Cooperativas
Brasileiras de que trata o artigo 105 desta Lei.

§ 1º A Contribuição Cooperativista constituir-se-á de importância


correspondente a 0,2% (dois décimos por cento) do valor do
capital integralizado e fundos da sociedade cooperativa, no
exercício social do ano anterior, sendo o respectivo montante
distribuído, por metade, a suas filiadas, quando constituídas.

93
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

§ 2º No caso das cooperativas centrais ou federações, a Contribuição


de que trata o parágrafo anterior será calculada sobre os fundos
e reservas existentes.

§ 3° A Organização das Cooperativas Brasileiras poderá estabelecer


um teto à Contribuição Cooperativista, com base em estudos
elaborados pelo seu corpo técnico (BRASIL, 1971).

A OCB – Organização das Cooperativas Brasileiras é a entidade que


congrega todas as Cooperativas brasileiras, de todos os ramos. Essa entidade
de caráter privado, é que representa formal e politicamente o sistema nacional
de cooperativas, quaisquer que sejam os ramos de atividade do setor. Além
disso, mantém serviços de assistência, orientação geral e outros de interesse do
Sistema Cooperativo.

É de competência da OCB:

• fixar as diretrizes políticas do Sistema Cooperativo, mantendo um cadastro


das sociedades cooperativas de qualquer grau e objeto social;
• promover, acompanhar e fazer cumprir a autogestão das entidades
constituintes do Sistema Cooperativo;
• integrar e classificar as cooperativas por ramo de atividade;
• incentivar a produção de conhecimentos aplicados ao desenvolvimento
funcional e organizacional das cooperativas;
• promover a divulgação do cooperativismo e a defesa judicial e extrajudicial
dos direitos individuais homogêneos, coletivos e interesses difusos do Sistema
Cooperativo.

A OCB também exerce a representação sindical patronal das cooperativas,


assumindo todas as prerrogativas de Confederação Patronal, indicando
representantes para cargos em órgãos públicos ou privados, nacionais ou
internacionais, estabelecendo parâmetros e arrecadando a contribuição
cooperativista. Além disso, a OCB mantém relações de integração e intercâmbio
entre os ramos e órgãos cooperativistas do País e do exterior.

94
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

As OCE, Organizações Estaduais de Cooperativas, exercem as mesmas


atividades da OCB, em nível estadual e distrital.

A OCB é de extrema importância para o cooperativismo nacional sendo o


órgão de defesa dos interesses das suas associadas.

Também é preciso salientar que a OCB é o órgão responsável pela emissão


de certificação de regularidade da cooperativa, como o selo da ABIC (Associação
Brasileira das Indústrias de Café) concedida à indústria do café, sendo exemplo
de qualidade e regularidade que deve ser incentivada.

Para conhecer um pouco mais sobre as atividades da OCB


visite o site: http://www.ocb.org.br

b) Dos Estímulos Creditícios

CAPÍTULO XVII
Dos Estímulos Creditícios

Art. 109. Caberá ao Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A.,


estimular e apoiar as cooperativas, mediante concessão de
financiamentos necessários ao seu desenvolvimento.

§ 1° Poderá o Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A., receber


depósitos das cooperativas de crédito e das seções de crédito
das cooperativas agrícolas mistas.

§ 2° Poderá o Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A., operar


com pessoas físicas ou jurídicas, estranhas ao quadro social
cooperativo, desde que haja benefício para as cooperativas e
estas figurem na operação bancária.

§ 3° O Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A., manterá


linhas de crédito específicas para as cooperativas, de acordo
com o objeto e a natureza de suas atividades, a juros módicos e

95
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

prazos adequados inclusive com sistema de garantias ajustado


às peculiaridades das cooperativas a que se destinam.

§ 4º O Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A., manterá linha


especial de crédito para financiamento de quotas-partes de
capital.

Art. 110. Fica extinta a contribuição de que trata o artigo 13 do


Decreto-Lei n. 60, de 21 de novembro de 1966, com a redação
dada pelo Decreto-Lei n. 668, de 3 de julho de 1969 (BRASIL,
1971).

O Banco Nacional de Crédito Cooperativo foi extinto pela Lei 8.029 de


12/04/1990, após muitos problemas e poucos créditos para o cooperativismo.

Já o SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem Cooperativo, foi criado


pela Medida Provisória n. 1.781-7 de 11/03/1999 e foi regulamentada pelo Decreto
n. 3.017 de 06/04/1999 e, depois, reeditado pela Medida Provisória 2.168-40 de
24 de agosto de 2001.

A criação do SESCOOP - Serviço Nacional de Aprendizagem do


Cooperativismo deveu-se ao fato de que as cooperativas contribuíam com
as entidades do chamado sistema SESC – Serviço Social do Comércio,
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, SESI - Serviço Social
da Indústria e SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, cujas
finalidades não tinham pertinência com o sistema cooperativo. Seus objetivos
são:

• Organizar, administrar e executar o ensino de formação


profissional, a promoção social dos empregados de
cooperativas, cooperados e de seus familiares, e o
monitoramento das cooperativas em todo o território nacional;

• Operacionalizar o monitoramento, a supervisão, a auditoria e o


controle em cooperativas;

• Assistir as sociedades cooperativas empregadoras na


elaboração e execução de programas de treinamento e na
realização de aprendizagem metódica e contínua;

96
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

• Estabelecer e difundir metodologias adequadas à formação


profissional e promoção social do empregado de cooperativa,
do dirigente de cooperativa, do cooperado e de seus familiares;

• Exercer a coordenação, supervisão e a realização de


programas e de projetos de formação profissional e de gestão
em cooperativas, para empregados, associados e seus
familiares;

• Colaborar com o poder público em assuntos relacionados


à formação profissional e à gestão cooperativista e outras
atividades correlatas;

• Divulgar a doutrina e a filosofia cooperativistas como forma de


desenvolvimento integral das pessoas;

• Promover e realizar estudos, pesquisas e projetos relacionados


ao desenvolvimento humano, ao monitoramento e à promoção
social, de acordo com os interesses das sociedades
cooperativas e de seus integrantes (SESCOOP, 2012).

Muito interessante não é mesmo? Você pode acessar o site, que está nas
referências para saber quais são as atividades que estão sendo desenvolvidas
pelo SESCOOP.

c) Das Disposições Gerais e Transitórias

CAPÍTULO XVIII
Das Disposições Gerais e Transitórias

Art. 111. Serão considerados como renda tributável os resultados


positivos obtidos pelas cooperativas nas operações de que tratam
os artigos 85, 86 e 88 desta Lei.

Art. 112. O Balanço Geral e o Relatório do exercício social que as


cooperativas deverão encaminhar anualmente aos órgãos de
controle serão acompanhados, a juízo destes, de parecer emitido
por um serviço independente de auditoria credenciado pela
Organização das Cooperativas Brasileiras.

Parágrafo único. Em casos especiais, tendo em vista a sede da


Cooperativa, o volume de suas operações e outras circunstâncias
dignas de consideração, a exigência da apresentação do parecer

97
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

pode ser dispensada.

Art. 113. Atendidas as deduções determinadas pela legislação


específica, às sociedades cooperativas ficará assegurada
primeira prioridade para o recebimento de seus créditos de
pessoas jurídicas que efetuem descontos na folha de pagamento
de seus empregados, associados de cooperativas.

Art. 114. Fica estabelecido o prazo de 36 (trinta e seis) meses


para que as cooperativas atualmente registradas nos órgãos
competentes reformulem os seus estatutos, no que for cabível,
adaptando-os ao disposto na presente Lei.

Art. 115. As Cooperativas dos Estados, Territórios ou do


Distrito Federal, enquanto não constituírem seus órgãos de
representação, serão convocadas às Assembleias da OCB, como
vogais, com 60 (sessenta) dias de antecedência, mediante editais
publicados 3 (três) vezes em jornal de grande circulação local.

Art. 116. A presente Lei não altera o disposto nos sistemas próprios
instituídos para as cooperativas de habitação e cooperativas de
crédito, aplicando-se ainda, no que couber, o regime instituído
para essas últimas às seções de crédito das agrícolas mistas.

Art. 117. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação,


revogadas as disposições em contrário e especificamente o
Decreto-Lei n. 59, de 21 de novembro de 1966, bem como o
Decreto n. 60.597, de 19 de abril de 1967 (BRASIL, 1971).

O artigo 111 trata novamente do Ato Cooperativo, que como dissemos


anteriormente, será tratado em capítulo a parte nesse Caderno de Estudos.

Já o artigo 112, também se torna ineficaz, uma vez que a Constituição de


1988 pôs fim à fiscalização das cooperativas.

98
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

Os demais artigos tratam de situações específicas, como o artigo 113 que


normatiza o recebimento de créditos de empresas, dando prioridade para que a
cooperativa receba seus créditos daquelas empresas que efetuem consignação
de pagamento em folha de seus empregados. Como exemplo, as Cooperativas
de Crédito têm empréstimos em consignação de folha de pagamento para seus
cooperados, sendo que o empregador, que também é cooperado, desconta
a parcela do empréstimo da folha de pagamento do empregado e repassa
diretamente para a Cooperativa de Crédito. Funciona como garantia para o
recebimento do empréstimo (para a cooperativa) e facilita o acesso ao crédito
para o empregado.

O artigo 114 estabeleceu um prazo de 3 (três) anos para que as


cooperativas existentes adequassem seus estatutos às novas regras da Lei
5.764/71, o que para Siqueira (2004, p.192) “ofende o princípio da retroatividade
da lei em relação ao jurídico perfeito por tratar-se de irretroatividade mínima”. As
Sociedades Cooperativas acabaram por obedecer a lei devido à fiscalização que
a SENACOOP – Secretaria Nacional do Cooperativismo efetuava naquela época,
segundo o autor.

Dessa forma, chegamos ao final do estudo da Lei 5.764/71, sendo que os


comentários foram baseados no livro “Direito Cooperativo Brasileiro (Comentários
à Lei 5.764/71)” de Paulo César Andrade Siqueira (2004). Sabemos que foi
uma tarefa exaustiva chegar até aqui e esperamos que você tenha resolvido os
exercícios propostos e as indicações de leitura.

Queremos deixar uma lista da legislação complementar para que você


possa acessar sempre que tenha necessidade e para que possa expandir seus
conhecimentos. Lembramos que as leis sofrem alteração com o tempo, por isso é
importante que você esteja sempre buscando na Internet qualquer novidade que
apareça sobre esses assuntos.

LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR À LEI 5.8764/71

LEI Nº 4.595, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1964 - Dispõe sobre a


Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e Creditícias. Cria o
Conselho Monetário Nacional e dá outras providências. Link: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L4595.htm

99
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

LEI Nº 9.514, DE 20 DE NOVEMBRO DE 1997 - Dispõe sobre o


Sistema de Financiamento Imobiliário, institui a alienação fiduciária
de coisa imóvel e dá outras providências. Link: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/L9514.htm

LEI No 7.492, DE 16 DE JUNHO DE 1986 - Define os crimes contra o


sistema financeiro nacional, e dá outras providências. Disponível no
site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7492.htm

LEI Nº 9.613, DE 3 DE MARÇO DE 1998 - Dispõe sobre os crimes


de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção
da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei;
cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá
outras providências. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/L9613.htm

LEI No 10.931, DE 02 DE AGOSTO DE 2004 - Dispõe sobre o


patrimônio de afetação de incorporações imobiliárias, Letra de
Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito Imobiliário, Cédula de Crédito
Bancário, altera o Decreto-Lei no 911, de 1o de outubro de 1969,
as Leis no 4.591, de 16 de dezembro de 1964, no 4.728, de 14 de
julho de 1965, e no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, e dá outras
providências. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato2004-2006/2004/Lei/L10.931.htm

LEI COMPLEMENTAR Nº 105, DE 10 DE JANEIRO DE 2001 -


Dispõe sobre o sigilo das operações de instituições financeiras e dá
outras providências. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/LCP/Lcp105.htm

LEI COMPLEMENTAR Nº 130, DE 17 DE ABRIL DE 2009 -


Dispõe sobre o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo e revoga
dispositivos das Leis nos 4.595, de 31 de dezembro de 1964, e 5.764,
de 16 de dezembro de 1971. Disponível no site: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp130.htm

RESOLUÇÕES DO BANCO CENTRAL RELATIVAS


ÀS COOPERATIVAS

100
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

RESOLUÇÃO BC 3.972 - Disponível no site: https://www3.bcb.gov.br/


normativo/detalhar Normativo.do?method=detalharNormativo&N=111029483

RESOLUÇÃO BC 3.424 - Disponível no site: https://www3.bcb.gov.br/


normativo/detalharNormativo.do?method=detalharNormativo&N=106407179

RESOLUÇÃO BC 3.695 - Disponível no site: https://www3.bcb.gov.br/


normativo/detalhar Normativo.do?method=detalharNormativo&N=109023549

RESOLUÇÃO BC 3.919 - Disponível no site: http://www.bcb.gov.br/htms/


normativ/RESOLUCAO3919.pdf

RESOLUÇÃO BC 3.859 - Disponível no site: https://www3.bcb.gov.br/


normativo/detalharNormativo.do?method=detalharNormativo&N=110047070

RESOLUÇÃO BC 2.682 - Disponível no site: https://www3.bcb.gov.br/


normativo/detalhar Normativo.do?method=detalharNormativo&N=099294427

Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao final desse segundo capítulo sobre a Lei 5.764/71.

Nosso objetivo foi apresentar a Lei 5.764/71 que definiu a Política Nacional do
Cooperativismo, instituindo seu regime jurídico entre outros, fazendo comentários
pertinentes que aprofundassem a sua compreensão.

Sabemos que por tratar-se de uma matéria um tanto complexa dentro da


matéria de Direito, torna-se, todavia importante para a formação do Gestor de
uma Cooperativa, conhecer algumas particularidades dessa lei.

Certamente foi uma atividade um pouco cansativa, porque envolveu


uma leitura um pouco diferente do que seria apenas um texto. Como você
pode observar, a linguagem utilizada no Direito é geralmente um pouco mais
técnica e exige alguns conhecimentos específicos. Mas esperamos que com

101
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

o material que você tem em mãos, as leituras recomendadas, os textos que


foram reproduzidos de livros e sites, ajudem a você a ter mais intimidade com
a lei.

Sua dedicação em resolver as atividades de estudo propostas, com certeza,


terá ajudado você a construir um pouco mais do seu saber.

Estudar a Lei do Cooperativismo o auxiliará nas suas atividades diárias como


gestor de uma cooperativa a ter mais segurança sobre a forma de agir em relação
aos vários assuntos tratados na lei.

Dessa forma, esperamos contribuir para sua prática diária de suas atividades
de gestão de cooperativa.

ReFerÊncias
BRASIL. Casa Civil. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código
Civil. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em 25 ago. 2011.

BRASIL. Código Civil. Exposição de motivos e texto sancionado por Jorge


Bornhausen. Brasília: Senado Federal, 2002.

_____. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado,


1988.

_____. Lei n.° 5.764 de 16 de dezembro de 1971. Define a Política Nacional


de Cooperativismo, institui o regime jurídico das sociedades cooperativas, e dá
outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
DF, 16 dez. 1971. Acesso em 26 jun. 2011.

BULGARELLI, Waldirio. As Sociedades Cooperativas e a sua Disciplina


Jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

_____. Títulos de Crédito. São Paulo: Atlas, 2001.

SESCOOP. Capacitação e aperfeiçoamento para as cooperativas. Disponível


em <http://www.ocb.org.br/site/sescoop/index.asp.> Acesso em 21 jan. 2012.

SIQUEIRA, Paulo César Andrade. As Cooperativas e a Terceirização:


Problemas Atuais de Direito Cooperativo. São Paulo: Dialética 2002.

102
Capítulo 2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DA LEI 5.764/71 E LEGISLAÇÃO
COMPLEMENTAR PARTE II

_____. Direito Cooperativo Brasileiro: Comentário à Lei 5.764/71. São Paulo:


Dialética, 2004.

103
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

104
C APÍTULO 3
O Cooperativismo e o Novo Código
Civil Brasileiro

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Identificar os principais pontos que sofreram alterações na Lei nº 5.764/71


após a promulgação do Novo Código Civil.

� Avaliar o impacto das alterações na vigência da Lei nº 5.764/71.


Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

106
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

ConteXtualiZação
Você já sabe que o Novo Código Civil de 2002 (Lei nº. 10.406 de 10 de
janeiro de 2002) trouxe muitos debates à sociedade brasileira como um todo. Não
poderia ser diferente para o meio cooperativista, uma vez que o Novo Código
contemplou diversos artigos sobre o Cooperativismo, tais como, os artigos 1093
a 1096 e também foram mencionadas, as Sociedades Cooperativas, nos artigos
982, 983 e 1159 da citada lei.

Esse capítulo vai contribuir para que você possa compreender melhor o
impacto que o Novo Código Civil trouxe para a legislação cooperativa e suas
consequências.

Para começar, vamos dar uma olhada nos principais pontos que foram
alterados pelo Novo Código Civil e, que de alguma forma, podem interferir na
aplicação ou interpretação das leis e que consideramos importantes para as
Sociedades Cooperativas.

VariaçÕes Relevantes entre a Lei nº.


5.764/71 e o Novo Código Civil
O Novo Código Civil veio solidificar alterações que a Constituição
O Novo Código
de 1988 começou a alterar. A retirada da tutela estatal das Sociedades Civil veio solidificar
Cooperativas foi um dos maiores ganhos obtidos, visto que, até então, alterações que a
o funcionamento das mesmas dependia de autorização do Poder Constituição de
Público. Todas as vezes que uma cooperativa era constituída deveria 1988 começou a
apresentar requerimento e lista nominativa dos seus sócios ao órgão alterar. A retirada
da tutela estatal
competente, além dos documentos necessários para sua aprovação.
das Sociedades
Cooperativas foi
Nas reformas estatutárias as cooperativas também necessitavam um dos maiores
autorização, bem como para realizar negócios com não cooperados. ganhos obtidos, visto
Como se pode ver, as sociedades cooperativas estavam que, até então, o
completamente à mercê do Estado para realizar ações que as funcionamento das
mesmas dependia
empresas comuns não necessitavam. Era muito mais complicado
de autorização do
então, constituir e gerir uma cooperativa, antes da edição das duas, a Poder Público.
Constituição de 1988 e o Novo Código Civil de 2002.

Embora haja uma discussão de que o Novo Código Civil interfira na


autonomia da Lei nº 5.764/71, um dos pontos levantados pelos juristas é de que
o Novo Código Civil não anula a autonomia do Direito Cooperativo: ao contrário,

107
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

ele o reafirma. Embora disciplinada em Lei especial, a Lei nº 5.974/71, o Código


Civil pretende fixar em termos gerais as normas que caracterizam as Sociedades
Cooperativas. O Subtítulo II, Capítulo VII, dos artigos 1093 a 1096 trata de matéria
relativa à sociedade cooperativa. E, no caput do referido Capítulo VII, esclarece
que as Sociedades Cooperativas serão regidas pelos referidos artigos, ressalvada
a legislação especial.

Atividade de Estudos:

1) Segundo o texto, qual foi o maior advento que o Novo Código


Civil proporcionou às Sociedades Cooperativas?

Leia e registre suas ideias aqui.


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Vamos ver agora que o tratamento dispensado pelo Novo Código Civil às
Sociedades Cooperativas foi diferente do tratamento dispensado às Sociedades
Anônimas.

No caso das Sociedades Anônimas, o Código Civil as definiu e, em seguida,


remeteu seu regime jurídico à legislação específica. Já no caso das cooperativas,
o Código Civil também as definiu, mas acabou entrando na sua regência, ou seja,
delineou algumas regras dentro do Código Civil, ainda que tenha ressalvado que
a Lei nº 5.764/71 continue em vigor.

Quais foram as principais mudanças, então, que podem ser verificadas entre
a Lei nº 5.764/71 e o Novo Código Civil? Para tanto vejamos o que diz Krueger
(2004, p 20-21):

108
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

• O capital social que antes era obrigatório na Lei nº 5.764/71 foi


dispensado pelo Novo Código Civil;

• A responsabilidade social dos sócios que pela Lei nº 5.764/71


não poderia ultrapassar o total das cotas-parte subscritas pelos
associados, agora tem uma responsabilidade subsidiária até
o valor dos prejuízos verificados proporcionais às operações
efetuadas;

• O Novo Código Civil não enumerou entre as características da


sociedade cooperativa citada no artigo 1.094, o princípio das
portas abertas, ou adesão voluntária e livre;

• Da mesma forma e no mesmo artigo 1.094, o Novo Código


Civil não reproduziu a regra essencial do princípio de gestão
democrática, limitando a participação dos associados nas
cooperativas a atividades como reunião, controle, operações e
prestação de serviços;

• O número mínimo de constituintes de uma sociedade cooperativa


que era definido como de 20 integrantes pela Lei nº 5.764/71
não é fixado de forma expressa pelo Código Civil;
O Novo Código Civil
• O Novo Código Civil é omisso quanto é omisso quanto à
à indivisibilidade do FATES – Fundo de
indivisibilidade do
Assistência Técnica, Educacional e Social. A
FATES – Fundo de
prestação de assistência aos associados e aos
empregados que na Lei nº 5.764/71 era uma Assistência Técnica,
característica fundamental da cooperativa não Educacional e
é contemplado pelo Código Civil; Social. A prestação
de assistência aos
• E finalmente o Novo Código Civil também se associados e aos
omite quanto a alguns importantes critérios empregados que na
de proporcionalidade entre o valor da soma Lei nº 5.764/71 era
do capital social de cada associado e o poder uma característica
da Assembleia Geral dispor em contrário fundamental da
ao retorno das sobras líquidas do exercício,
cooperativa não é
proporcionalmente às operações realizadas pelo
contemplado pelo
associado.
Código Civil;

Agora vamos abordar cada uma dessas alterações para que você possa
conhecer as novas condições que o Novo Código Civil inseriu na prática do
Cooperativismo.

A ausÊncia do Capital Social nas


Sociedades Cooperativas
Você sabia que este é um dos pontos mais controversos apontados por
diversos autores como Krueger, Campos entre outros? A discordância entre a

109
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Lei nº 5.764/71 e a Lei nº 10.406/2002 pode ser o resultado do anteprojeto da


primeira lei ter sido elaborada por militâncias cooperativistas enquanto o segundo,
foi elaborado por juristas renomados como Miguel Reale, José Carlos Moreira
Alves, Agostinho Alvim entre outros, que segundo Krueger (2002), não tinham
compromisso para com a causa cooperativista.

Cremos que o autor quis dizer com isso, que apesar de serem juristas
renomados e conhecedores do Direito e da Legislação, não tinham uma vivência
prática dentro do meio cooperativista.

É preciso notar que a dispensa do Capital Social é uma das inovações que
o Novo Código Civil apresenta e, ainda que tenha preservado sua variabilidade,
possibilita a dispensa do Capital Social (CAMPOS, 2003 p. 42). Além disso, é
preciso observar que talvez essa seja a maneira encontrada para estabelecer a
diferença fundamental entre a Sociedade Cooperativa e a Sociedade Mercantil.

Que tal identificarmos as características principais desses dois tipos de


sociedade?

• Sociedade Mercantil – ou sociedades empresariais que se fundamentam na


estrutura de capital e com fins lucrativos;

- Sociedade • Sociedade Cooperativa – sociedade de natureza civil


Mercantil – ou
fundamentada na união de pessoas.
sociedades
empresariais que
se fundamentam na Para esclarecer melhor essas definições, vamos ler o que diz
estrutura de capital e Perius (1997 apud DOMINGUES, 2002, p. 55):
com fins lucrativos;
A participação financeira decorre na sociedade cooperativa do
- Sociedade vínculo estabelecido a partir de o candidato ter sido aceito no
Cooperativa – quadro associativo. Na sociedade de capital, ocorre o inverso:
sociedade de é o vínculo financeiro que gera a interdependência pessoal.
natureza civil Dessa forma, o sócio de uma cooperativa se relaciona com ela
não como decorrência de participação no capital, mas como
fundamentada na
consequência de um relacionamento personalístico.
união de pessoas.
É possível então, dizer que o que distingue a Sociedade
Cooperativa das demais sociedades tornando sua natureza jurídica tão
própria, é justamente esse aspecto em que ela se volta para as pessoas
(DOMINGUES, 2002, p. 53).

Esses conceitos foram apresentados com a finalidade de permitir que você


compare as duas constituições societárias e saiba diferenciá-las, certo? Muito
bem!

110
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Quando o Novo Código Civil instituiu a figura da cooperativa sem Capital


Social, estabeleceu a diferença fundamental entre a Sociedade Mercantil e a
Sociedade Cooperativa.

Outra prerrogativa que o Código Civil permite à Sociedade Cooperativa é de


que, da mesma forma que a Sociedade Comercial que precisa ser constituída de
acordo um dos tipos regulamentados pelos artigos 1.039 a 1.092, ela pode se não
o fizer, subordinar-se às normas que lhe são próprias.

E o Código Civil vai adiante a seu parágrafo único do artigo 983, que diz:

Parágrafo único. Ressalvam-se as disposições concernentes


à sociedade em conta de participação e à cooperativa, bem
como as constantes de leis especiais que, para o exercício
de certas atividades, imponham a constituição da sociedade
segundo determinado tipo.

Parece um pouco complicado? Campos (2002, p. 43), assinala que “por


comparação nenhuma circunstância poderá levar à possibilidade de constituição
de cooperativa segundo qualquer dos tipos regulados para as sociedades
empresárias” justamente pelo fato de que elas (as Sociedades Cooperativas) não
se comparam às sociedades que tenham por objetivo, exercer atividades própria
de empresário e que exija registro, com a finalidade de obter lucro.

Vamos fazer uma pausa para recompor as ideias?

Atividade de Estudos:

1) Que tal você escrever quais são as principais diferenças entre a


Sociedade Empresária e a Sociedade Cooperativa?
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

2) O Novo Código Civil estabeleceu algumas prerrogativas para


as cooperativas que as tornam diferentes das Sociedades
Empresárias. Descreva-as.
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Finalmente chegamos à abordagem da dispensa do Capital Social. Era


importante fazer esse comparativo entre os dois tipos de sociedade para que
fique claro que essa norma atende ao princípio de que a Sociedade Cooperativa
não tem a finalidade do lucro. Em contrapartida, a dispensa do Capital Social,
conforme encontramos em Campos (2002, p. 43) e Krueger (2002, p. 14) é dirigida
àquelas cooperativas de natureza social, constituídas por pessoas em situação de
desvantagem no mercado econômico e que se enquadram nos termos da Lei nº
9.867/99 que regulamenta sobre a criação e o funcionamento das Cooperativas
Sociais. Ou ainda, às cooperativas cujo ramo ou objeto social pode dispensar a
exigência de recursos financeiros de seus associados visando especificamente o
resultado social.

Vamos a alguns exemplos citados por Campos (2002, p. 43).

• Cooperativas de trabalho – Aquelas que prestam serviços


terceirizados ou de outros ramos qualquer que apenas
intermedia a contratação de mão-de-obra a ser executada por
membros do seu quadro social e;

• Cooperativas que prestem outros tipos de serviço que não


sejam sujeitos a investimentos de grande valor do seu ativo
permanente, como aquelas que recebem produtos elaborados
pelos seus associados e sua colocação no mercado.

Note que nesses casos as tarifas desses serviços que são pagas pelos
cooperados são a fonte de manutenção e de pequenos investimentos da
cooperativa, dispensando-se a exigência do Capital Social. Nesse caso supõe-
se que todos os investimentos para as estruturas física, funcional e operacional
da cooperativa serão obtidas por meio de rateio desses entre seus cooperados.
Além disso, é preciso que esses fatos estejam previstos no Estatuto Social dessa
cooperativa.
112
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

No entanto, a constituição de uma cooperativa sem Capital Social é


totalmente impraticável no caso, por exemplo, daquelas cooperativas “cujos
empreendimentos demandam altos investimentos em máquinas e equipamentos
industriais, pressupondo-se que compete ao quadro social reunir recursos para
tais investimentos por via da integralização do capital social” (CAMPOS, 2002, p.
44). Alguns exemplos dessas cooperativas citados pelo autor:

• de crédito;
• de consumo;
• de produção;
• daquelas que são fornecedoras de insumos e sementes destinadas às
atividades agropecuárias e outros tipos de atividade ou profissões;
• das que se dedicam à industrialização e comercialização da produção dos
associados, entre outras.

Vamos nos deter um pouco mais no caso das Cooperativas de Crédito, tendo
em vista que esse é o ramo que mais interessa a você.

As Cooperativas de Crédito atuam na prestação de assistência financeira a


seus associados. Conforme Campos (2002, p 44), para tanto utilizam além dos
recursos do capital integralizado pelos mesmos, outros recursos obtidos com a
remuneração dos empréstimos e financiamentos das atividades dos associados.
Ele esclarece ainda que, a função da Cooperativa de Crédito não é apenas a de
repassar ao seu quadro social, os recursos obtidos na rede bancária pública e
privados. Até porque ela corre o risco de não atender os seus objetivos porque
esses recursos são menores que a demanda. Isso ocorre principalmente no caso
daqueles recursos oficiais subsidiados ou aqueles de destinação obrigatória, uma
vez que os bancos tendem a destinar esses recursos aos seus próprios clientes.

Existem recomendações para que as Cooperativas de Crédito tenham


recursos provenientes de sua capitalização própria além daqueles que possa
acumular, com a finalidade de atender as necessidades de seus associados,
por tratar-se de uma atividade que tem suas próprias particularidades, conforme
sustenta Campos (2002). Esse é um forte motivo pelo qual o Sistema Financeiro
Nacional deixará de dispensar o Capital Social, como prevê o Código Civil.
Na verdade, a norma estabelecida não é compulsória, mas de caráter apenas
permissivo. Desse modo, a lei só é aplicada quando houver indicação que
justifique.

Além disso, o Sistema Financeiro Nacional estabelece inúmeras regras para


o estabelecimento de uma Cooperativa de Crédito, que serão abordadas em
capítulo pertinente.

113
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Existem algumas incompatibilidades entre o Novo Código Civil e


a Lei nº 5.764/71 que são apontadas por alguns autores. Entre elas
cita Krueger (2002) a possibilidade no novo Código Civil da existência
de cooperativas sem Capital Social.

O que diz o Novo Código Civil em seu Artigo 1.094 Inciso I: uma
das características das sociedades cooperativas é a variabilidade ou
dispensa do capital social.

A Lei nº 5.764/71diz em seu Artigo 4º. Inciso II que uma das


características da cooperativa é a variabilidade do capital social,
enquanto no Artigo 21 Inciso III consta que no estatuto da cooperativa
deverá ser indicado o capital mínimo, nada comentando sobre a
dispensa do capital social.

Qual das duas normas deve vigorar para a questão do capital


social?

Entretanto, existe jurisprudência no Superior Tribunal de Justiça que


Entretanto, existe
diz que:
jurisprudência no
Superior Tribunal de
Justiça que diz que: é princípio da hermenêutica (ciência filosófica, no Direito é
uma técnica específica que visa compreender a aplicabilidade
da Lei) que, quando uma Lei faz remissão a dispositivos
é princípio da de outra Lei da mesma hierarquia, estes se incluem na
hermenêutica compreensão daquela, passando a constituir parte integrante
(ciência filosófica, no de seu contexto (KRUEGER, 2002, p. 14).
Direito é uma técnica
específica que visa
compreender a
aplicabilidade da Lei)
que, quando uma
Lei faz remissão
a dispositivos
de outra Lei da
mesma hierarquia,
estes se incluem
na compreensão
daquela, passando
a constituir parte
integrante de
seu contexto
(KRUEGER, 2002,
p. 14).

114
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Atividade de Estudos:

1) Lembrando que o Artigo 1.093 do Novo Código Civil “A sociedade


cooperativa reger-se-á pelo disposto no presente Capítulo,
ressalvada a legislação especial”, comente qual das normas deve
vigorar em relação à dispensa do Capital Social.
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Agora vamos falar de mais um dos itens da Lei nº 5.764/71 que O princípio de Portas
sofreu alterações com o advento do Novo Código Civil brasileiro. Abertas nada mais
é que a adesão
voluntária e livre
a uma Sociedade
O princípio de Portas Abertas Cooperativa.
Ele é um dos
sete princípios
O princípio de Portas Abertas nada mais é que a adesão
de identidade
voluntária e livre a uma Sociedade Cooperativa. Ele é um dos conhecidos no
sete princípios de identidade conhecidos no Sistema Cooperativo Sistema Cooperativo
Internacional. Saiba também que o princípio de Portas Abertas foi Internacional.
reconhecido pela Aliança Cooperativista Internacional em 1995 e pela Saiba também
Recomendação da Organização Internacional do Trabalho em 2002, que o princípio
de Portas Abertas
segundo Krueger (2002).
foi reconhecido
pela Aliança
Esse princípio já estava contemplado na Lei nº 5.764/71 em seus Cooperativista
artigos 4º, incisos I e IX e artigo 29, e, no entanto o Novo Código Civil Internacional
não faz menção a esse, que é considerado um princípio de Liberdade em 1995 e pela
Individual. Krueger (2002, p.133) fala amplamente sobre a Liberdade Recomendação
da Organização
Social citando desde o Direito Germânico à Carta da Terra chegando à
Internacional do
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ela considera a liberdade Trabalho em 2002,
como catalisador do desenvolvimento das Sociedades Humanas. segundo Krueger
(2002).

115
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Para Bulgarelli (1999) o princípio de Portas Abertas é um desdobramento do


princípio de livre adesão e impede que as pessoas que preenchem as condições
estatutárias não sejam aceitas. O que isso quer dizer? Que nas Sociedades
Cooperativas, diferente do que ocorre em outros tipos de sociedades, caso a
pessoa interessada aderir aos propósitos da cooperativa e preencher as condições
que o estatuto exige, não pode haver restrições ao seu ingresso. Mas saiba que
existe sim, a possibilidade de recusa de um associado. Vejamos quais são elas:

• quando houver a impossibilidade técnica de prestação de serviço, ou seja,


quando a cooperativa por falta ou excesso de cooperados não conseguir levar
adiante os propósitos da mesma e;

• quando a atividade ou a profissão de um cooperado ou sua vinculação a


alguma entidade torne incompatível a sua associação.

Concordamos com o que diz Bulgarelli (1999), que o esquecimento do Código


Civil em contemplar princípio tão fundamental da democracia não é compatível
com os propósitos de que se reveste o Cooperativismo.

Vamos fazer um exercício para fixar o conhecimento que você acaba de


adquirir?

Atividade de Estudos:

1) Descreva o princípio de Portas Abertas.


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2) Em que casos o princípio de Portas Abertas deixa de ser aplicado


quanto à admissão de um cooperado?
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Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

AáreadeAçãoeAdmissãodosAssociados
nas Sociedades Cooperativas
Já vimos que as Sociedades Cooperativas estão regulamentas no Novo
Código Civil pelos Artigos 1.093 a 1.096. Vamos ler o artigo 1.094 que descreve
as características da Sociedade Cooperativa:

Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:

I - variabilidade, ou dispensa do capital social;

II - concurso de sócios em número mínimo necessário a


compor a administração da sociedade, sem limitação de
número máximo;

III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que


cada sócio poderá tomar;

IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros


estranhos à sociedade, ainda que por herança;

V - quórum, para a Assembleia Geral funcionar e deliberar,


fundado no número de sócios presentes à reunião, e não no
capital social representado;

VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha


ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o valor de sua
participação;

VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao


valor das operações efetuadas pelo sócio com a sociedade,
podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;

VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda


que em caso de dissolução da sociedade.

No entanto, veja o que o artigo 4º. da Lei nº 5.764/71, a Lei das Cooperativas diz:

Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma


e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas à
falência, constituídas para prestar serviços aos associados,
distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes
características:

I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados,


salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II - variabilidade do capital social representado por quotas-


partes;

III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada

117
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios


de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o
cumprimento dos objetivos sociais;

IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros,


estranhos à sociedade;

V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais,


federações e confederações de cooperativas, com exceção
das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da
proporcionalidade;

VI - quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia


Geral baseado no número de associados e não no capital;

VII - retorno das sobras líquidas do exercício,


proporcionalmente às operações realizadas pelo associado,
salvo deliberação em contrário da Assembleia Geral;

VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência


Técnica Educacional e Social;

IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e


social;

X - prestação de assistência aos associados, e, quando


previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades


de reunião, controle, operações e prestação de serviços.

O inciso XI diz: “Área de admissão de associados limitada às


possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de
serviço”. Se você procurar no artigo 1.094 do Código Civil, que
também fala das características das Sociedades Cooperativas
verá que nele não há menção sobre a área de admissão dos
associados.

E o quê significa exatamente “área de admissão”?

Conforme Siqueira (2002 p. 45-46), Isso significa que

a cooperativa deverá estabelecer sua circunscrição, ou


seja, restringir seus limites (local onde a cooperativa está
instalada) onde estejam envolvidos seus associados.
Entende-se que a área de atuação da cooperativa
possibilite a realização de reuniões dos cooperados
bem como o controle das operações por ela realizadas.
Isso não significa que a cooperativa não possa ter uma
área de atuação em todo o Brasil.

118
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Vamos exemplificar, seguindo o raciocínio de Siqueira (2002): numa


cooperativa de produtores de trigo, a área de admissão dos sócios deve estar
localizada de forma que permita que seus associados entreguem seu produto
sem prejuízo e em condições semelhantes aos demais sócios. Essa condição
não impede que a área de atuação dessa cooperativa seja pelo Brasil inteiro,
onde poderá comercializar os grãos, a farinha e demais produtos que sejam
beneficiados.

E nesse caso essa possibilidade deverá estar prevista no estatuto da


cooperativa. Juvêncio (2002, p. 154) defende que a área de admissão de
associados, seguindo o que diz a lei, “deve ser preservada na constituição de
novas sociedades cooperativas ou que deve ser observada pelas cooperativas
existentes”, respeitando a lei especial. Para ele a omissão desse item no Código
Civil pode ser corrigida através do Legislativo, que poderá tornar a lei mais
adequada ao inserir a área de atuação das cooperativas.

Atividade de Estudos:

Num país de dimensões continentais como o nosso, as


cooperativas deverão estabelecer a área de admissão de associados
que for escolhida por estes e que esteja de acordo com suas
finalidades, sem se aterem a limitações de ordem geográfica.
Cooperativas existem, como as de consumo dos empregados de
empresas ferroviárias que se estendem a vários Estados; as dos
cafeicultores podem abranger uma enorme região geoeconômica;
cooperativas de eletrificação rural ou de telecomunicações podem
ter área que abranja mais de um Estado. Em contraposição, uma
cooperativa de trabalho de profissionais liberais deverá ficar adstrita
a uma parcela do município. Área de admissão de associados
jamais constituiu dogma do Cooperativismo. Desde que haja efetiva
prestação de serviços, possibilidade de reunião dos associados e do
controle que eles devem exercer sobre a administração, a extensão
territorial é irrelevante. Ademais, o princípio de liberdade de adesão
exige que se faculte ao associado o ingresso da cooperativa que
lhe prestar melhores serviços, em nada importando sua localização
(KRUEGER, 2002, p. 150).

Você verá que os autores têm opinião diferente a respeito da


área de admissão da cooperativa. E você? O que pensa a respeito?
Registre sua opinião após leitura do texto.
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Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

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Um dos grandes problemas que encontramos para a elaboração desse


caderno foi a escassez de literatura sobre Cooperativismo. A maioria dos autores
tem origem nos quadros jurídicos de cooperativas ou mesmo da OCB que é o
órgão representativo das cooperativas no país. De toda forma buscamos sempre
algumas opiniões contrárias ou divergentes para provocar o pensamento crítico
e o questionamento que devem fazer parte do ambiente de aprendizagem. Mas
cabe ressaltar que fizemos valer muitas vezes a opinião singular de apenas um
autor, visto que não há disponível outra opção.

Precisávamos deixar claro que a citação de um único autor muitas vezes


decorre apenas desse fato e não por querermos impor uma linha de pensamento
ou doutrina. Tudo certo? Vamos continuar então com mais algumas situações
divergentes entre o Novo Código Civil e a Lei que rege as cooperativas.

Número de constituintes de uma Sociedade Cooperativa

A divergência que ocorre entre o novo Código Civil e a Lei nº 5.764/71


decorre de um questionamento sobre o quórum para validação das Assembleias
Gerais da Sociedade Cooperativa. Vamos ver os artigos 1.093 e 1.094:

Art. 1093. A sociedade cooperativa reger-se-á pelo disposto no


presente capítulo, ressalvada a legislação especial.

Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:

[...]

II – Concurso de sócios em número necessário a compor


a administração da sociedade, sem limitação de número
máximo.

A Lei nº 5.764/71 preconiza que o número mínimo de associados para


constituir uma cooperativa singular é de 20 pessoas.

120
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

Art. 6º As sociedades cooperativas são consideradas:

I - singulares, as constituídas pelo número mínimo de 20


(vinte) pessoas físicas, sendo excepcionalmente permitida
a admissão de pessoas jurídicas que tenham por objeto as
mesmas ou correlatas atividades econômicas das pessoas
físicas ou, ainda, aquelas sem fins lucrativos.

O que os juristas discutem a respeito da divergência entre uma e outra,


está no número de pessoas que o Código Civil na verdade não define. Citando
que o “número necessário a compor a administração” deixa dúvidas quanto ao
entendimento da lei segundo a hermenêutica. Era do conhecimento
dos constituintes
Diante desse conflito veja o que Perius (1997 apud KRUEGER, federais a existência
2002, p. 239) conclui em sua obra Problemas Atuais em Direito da Lei n. 5.764/71,
que regula até
Cooperativo:
hoje as sociedades
cooperativas. A
Esta questão nos leva à reflexão sobre
indicação, portanto,
a impossibilidade de normatização de
de ordenamento
cooperativas através do Novo Código Civil, à
luz da regra Constitucional supra referida. Era jurídico para
do conhecimento dos constituintes federais a albergar a criação
existência da Lei n. 5.764/71, que regula até hoje de cooperativas
as sociedades cooperativas. A indicação, portanto, tinha claro
de ordenamento jurídico para albergar a criação endereçamento:
de cooperativas tinha claro endereçamento: a a legislação
legislação cooperativista, legislação de caráter cooperativista,
especial, ou seja, uma espécie de código legislação de caráter
ordinário das sociedades cooperativas. Como se especial, ou seja,
vê, a legislação cooperativista brasileira não se
uma espécie de
ampara em outra lei, eis que tem uma própria,
código ordinário
especial, e assim não precisa “andar de muletas”
com outra legislação, seja Civil, seja Comercial, o das sociedades
que ocorre em outros países, como na Itália, cujo cooperativas. Como
ordenamento jurídico cooperativo está inserido se vê, a legislação
no Código Civil. cooperativista
brasileira não se
Figueiredo compactua com essa (KRUEGER, 2002, p. 227) ideia ampara em outra
lei, eis que tem uma
de que a regência das Sociedades Cooperativas fica condicionada
própria, especial, e
à Lei Cooperativista, ou seja, a Lei nº 5.764/71 quando esta não assim não precisa
contrariar a Constituição Federal. “andar de muletas”

Em vista disso, prevalece o número mínimo de 20 pessoas para que se


constitua uma Sociedade Cooperativa, que o artigo 6º. da Lei nº 5.764/71
preconiza.

Você pode ver que na maioria das vezes a falta de clareza do Código Civil,
na regulamentação das normas pertinentes ao Cooperativismo, faz com que a Lei
das Cooperativas continue sendo aquela que comanda as ações nas Sociedades
Cooperativas.
121
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Vamos continuar com mais uma questão divergente entre a Lei das
Cooperativas e o Novo Código Civil que é a indivisibilidade do FATES (Fundo de
Assistência Técnica, Educacional e Social).

DaindivisibilidadedoFundodeAssistÊncia
Técnica, Educacional e Social
A indivisibilidade do FATES – Fundo de Assistência Técnica, Educacional e
Social está prevista no parágrafo VIII do artigo 4º. da Lei nº 5.764/71, como também
regulamentam a criação do Fundo de Reserva. Os principais questionamentos
levantados por diversos juristas são consequência da omissão da destinação do
FATES no Novo Código Civil. Ele dá destinação ao Fundo de Reserva, mas omite-
se com relação à destinação dos recursos do FATES.

No caso de dissolução ou liquidação de uma Sociedade Cooperativa, antes


da constituição de 1988, o FATES era destinado ao BNCC - Banco Nacional de
Crédito Cooperativo, que foi extinto na década de 1990.

Quando a Constituição Federal de 1988 concedeu autonomia ao Sistema


Cooperativo, ou seja, quando tirou o controle do Estado sobre as cooperativas, o
destino dos fundos indivisíveis ficou sem normativo.

O Novo Código Civil não menciona qual seria o destino dado a esse fundo
que pela lei é indivisível.

Há uma corrente que compactua com a norma legal de que prevalece a


nova lei quando altera disposições anteriores. Por essa razão Campos (2002, p.
47) entende que a indivisibilidade do FATES prevista na Lei nº 5.764/71 está ab-
rogada, ou seja, foi anulada.

Já Domingues (1998 apud KRUEGER, 2002, p. 278 - 279) defende que


“permanece em vigor o que diz a Lei nº 5.764/71 quanto à constituição do FATES”.

Quanto a sua indivisibilidade, acredita o autor que se deve buscar um


entendimento dentro de um dos métodos existentes no Direito, buscando na
Constituição Federal a sua fonte de inspiração.

Quando uma cooperativa está operando normalmente os recursos do FATES

122
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

são aplicados para o fim criado, ou seja, a Assistência Técnica, Educacional e


Social de seus associados.

O problema do FATES encontra-se quanto à sua destinação no caso de


dissolução ou liquidação.

Campos (2002), apesar de considerar que a indivisibilidade do FATES está


anulada pela vigência do Novo Código Civil, não menciona qual seria a sua
destinação em caso de dissolução e liquidação da Sociedade Cooperativa.

Para Krueger (2002, p. 17) a indivisibilidade do FATES “cumpre


Para Krueger
um papel retificador para os resultados dos chamados atos não
(2002, p. 17) a
vinculados ao regime de cooperação, mas legalmente tolerados”. Os indivisibilidade do
resultados a que ele se refere são aqueles decorrentes da aplicação FATES “cumpre um
de recursos ociosos em investimentos não diretamente ligados as papel retificador
atividades da cooperativa. para os resultados
dos chamados atos
não vinculados
A Lei nº 5.764/71 regulamenta em seus artigos 87 e 88, parágrafo
ao regime de
único, que os resultados positivos decorrentes dessas transações cooperação,
sejam revertidos na sua totalidade para o FATES. mas legalmente
tolerados”. Os
Caso seja seguido o raciocínio da lei, Krueger (2002, p. 18) resultados a que
adverte que nesse caso a indivisibilidade do fundo é um impedimento ele se refere são
aqueles decorrentes
para a distribuição do que ele chama de “lucros disfarçados”, uma
da aplicação de
vez que está também previsto no parágrafo 3º. do artigo 24 da Lei nº recursos ociosos em
5.764/71 que é vedado a distribuição de qualquer benefício que seja investimentos não
superior aos 12% permitidos pela lei. diretamente ligados
as atividades da
Domingues (2002, p. 282) defende que no caso de dissolução e cooperativa.
liquidação das Sociedades Cooperativas “todos os fundos indivisíveis,
neste incluídos o FATES, por não haver obrigatoriedade de destinação a
terceiros estranhos a sociedade, não pode ter outra destinação que não aos seus
verdadeiros donos, os associados da cooperativa”. Este parecer é justificado pelo
autor, principalmente porque também caberá aos cooperados o pagamento do
passivo bem como o recebimento dos ativos resultantes do final do processo de
liquidação da Sociedade Cooperativa.

Parece complicado? Nem tanto. A omissão causada pela lei acaba suscitando
diversos entendimentos quanto à destinação do FATES.

Vamos recapitular o que você aprendeu sobre a indivisibilidade dos recursos do


FATES?

123
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Atividade de Estudos:

1) Escreva, de forma resumida, quais são as possibilidades de


destinação para os recursos do FATES no caso da dissolução
de uma Sociedade Cooperativa, indicada pelos diversos autores
citados.
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Muito bem! Estamos quase chegando ao final desse capítulo e ainda temos
muito trabalho pela frente. Dando continuidade vamos abordar agora os Limites
para Subscrição do Capital Social pelos associados das cooperativas e também
sobre o critério de proporcionalidade.

Limites para Subscrição do Capital Social, o Critério da Proporcionalidade e


os Limites

Quando se fala em Capital Social no âmbito do Cooperativismo, veremos que


ele tem uma função diferente do que para as Sociedades Empresárias.

O Capital Social tem diversas funções que são abordadas por Miranda (1989
apud KRUEGER, 2002, p. 202-207):

• o capital social tem função instrumental - que é compreendido


no aspecto organizacional e que dá aos sócios a perspectiva
dos seus direitos e obrigações, sobretudo nas sociedades onde
O capital social tem o direito de voto é proporcional ao valor do capital subscrito;
função instrumental. • o capital tem sua função de garantia – que é o mecanismo
que garante a segurança dos credores da sociedade,
principalmente quando a responsabilidade dos sócios é restrita
ao valor de suas cotas; além disso, ele é fixado no contrato

124
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

social e é imutável quando da saída ou entrada O capital tem sua


de um sócio;
função de garantia.
• o capital tem sua função produtiva – ele serve
para iniciar as atividades da sociedade no
momento de sua fundação e vai configurar
doravante os recursos próprios da mesma.
O capital tem sua
função produtiva.
Note que para uma Sociedade Cooperativa o Capital Social não
tem as funções nem instrumental nem de garantia. Por que numa Sociedade
Cooperativa o capital não possui uma função instrumental? Pelo fato de que a
gestão cooperativa é democrática e existe a igualdade no direito de voto entre
todos os membros da cooperativa, independente do valor que tenha subscrito
como capital.

Também não possui a função de garantia, já que a cooperativa “é uma


sociedade aberta, em face do princípio da adesão voluntária e livre”, segundo
Krueger (2002, p. 203). Além da variabilidade do Capital Social quando existir e
ilimitado porque não há limite para a entrada de novos associados.

Numa Sociedade Empresária a mutação do Capital Social só


Numa Sociedade
ocorre por deliberação de seus componentes e com alteração nos Empresária a
estatutos da empresa. Já nas Sociedades Cooperativas a mutação mutação do Capital
pela entrada de novos sócios não implica na alteração de estatuto Social só ocorre
visto que o Capital Social da Sociedade Cooperativa não implica em por deliberação de
garantia a terceiros. É que o associado de uma cooperativa é obrigado seus componentes
e com alteração
por força de dispositivo legal (artigo 1.095 parágrafo 1º. Do Código
nos estatutos
Civil), ainda que o regime seja de responsabilidade limitada, a arcar da empresa. Já
com o prejuízo que ultrapasse o valor do capital integralizado. nas Sociedades
Cooperativas a
Resta então, a função produtiva do Capital Social para a mutação pela
Sociedade Cooperativa, ainda que discutida por alguns autores, já entrada de novos
sócios não implica
que numa Sociedade Cooperativa não é o capital o principal atributo
na alteração de
do sócio. Para Krueger (2002, p. 205-206) a função produtiva do estatuto visto que
Capital Social só existe quando ele se “torna indispensável para a o Capital Social
consecução dos objetivos sociais”. da Sociedade
Cooperativa não
Agora você já conhece as funções do Capital Social tanto para as implica em garantia
a terceiros.
Sociedades Empresárias quanto para as Sociedades Cooperativas.

Vamos então, exercitar os conhecimentos adquiridos e responder a algumas


questões?

125
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Atividade de Estudos:

1) Qual é a diferença fundamental entre o Capital Social de uma


Sociedade Empresária e uma Sociedade Cooperativa do ponto
de vista de sua função instrumental?
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2) Devido a sua característica especial, o Capital Social da


cooperativa não tem função de garantia. Cite os motivos.
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3) Quando um novo associado faz sua adesão a uma Sociedade


Cooperativa, aportando então, novo Capital Social não há
necessidade de mudança no seu estatuto. Qual é o dispositivo
legal que garante esse mecanismo e por quê.
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Então, qual é o motivo da divergência entre o Novo Código Civil e a Lei nº


5.764/71 em relação à subscrição do capital pelo associado de uma Sociedade
Cooperativa? Basicamente pela omissão do critério de proporcionalidade que a
Lei nº 5.764/71 em seu artigo 4º, inciso III prescreve. O artigo 1.094 do Código Civil

126
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

também, a exemplo da Lei citada, lista as diversas características das Sociedades


Cooperativas. Vamos ler o que diz o inciso III do artigo 4º. da Lei nº 5.764/71:

III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada


associado, facultado, porém, o estabelecimento de critérios
de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o
cumprimento dos objetivos sociais.

Agora que tal ler o que diz o inciso III, do artigo 1.094 da Lei nº 10.406/2002,
o Novo Código Civil:

III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que


cada sócio poderá tomar.

Qual é o impacto que o Código Civil causou com essa alteração? Entendem
os juristas que o Novo Código Civil revogou o inciso do artigo 4º. da Lei nº
5.764/71. Para Krueger (2002, p. 206) poderia haver a coexistência de ambos os
dispositivos, uma vez que o princípio da proporcionalidade não torna inviável que
haja um limite para a integralização que cada sócio possa fazer. A Assembleia Geral
pode deliberar
Em contrapartida o Novo Código Civil dispõe com clareza pela distribuição
sobre a distribuição dos resultados de forma proporcional ao valor dos resultados aos
das operações efetuadas pelos sócios, que constitui o princípio do associados, ou
retorno. A Assembleia Geral pode deliberar pela distribuição dos podem destinar esse
resultado para um
resultados aos associados, ou podem destinar esse resultado para
fundo específico
um fundo específico de acordo com a decisão da maioria. Podem de acordo com a
ainda, os cooperados deliberar pela integralização desse valor ao decisão da maioria.
Capital Social, que pelo mesmo princípio do retorno será proporcional Podem ainda, os
ao movimento de cada cooperado. cooperados deliberar
pela integralização
Se esse princípio pode ser utilizado para regulamentar à desse valor ao
Capital Social,
finalidade dos resultados, utilizando o critério da proporcionalidade,
que pelo mesmo
entende Krueger (2002, p. 207), que: princípio do retorno
será proporcional ao
[...] poderá sê-lo também na subscrição inicial das movimento de cada
quotas pelo cooperado em relação ao movimento cooperado.
financeiro do cooperado ou ao quantitativo
dos produtos a serem comercializados, beneficiados ou
transformados, ou ainda, em relação à área cultivada ou ao
número de plantas e animais em exploração, vale dizer,
em harmonia com a produção cooperativa experimentada
ou esperada no momento da adesão à sociedade, em
conformidade com as regras estatutárias.

Essa colocação em consonância com o que diz a lei é segundo o autor,


coerente com a função produtiva do capital, pois a subscrição seria assim justa à
finalidade quando necessária para a execução dos objetivos sociais da Sociedade
Cooperativa.
127
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Ainda com relação ao Capital Social, existe uma limitação para a sua
subscrição. A lei prevê, que:

Parágrafo 1º. Do artigo 24 da Lei nº 5.764/71

[...] nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um


terço) do total das quotas-partes, salvo nas sociedades em que
a subscrição deva ser diretamente proporcional ao movimento
financeiro do cooperado ou ao quantitativo dos produtos a
serem comercializados, beneficiados ou transformados, ou
ainda, em relação à área cultivada ou ao número de plantas e
animais em exploração.

Existem duas situações a serem analisadas:

a) Quando a cooperativa adotar subscrição fixa de capital, a aplicação da lei


em relação à proporcionalidade é aplicada sobre o limite de um terço da
subscrição feita pelo cooperado.

O inciso III do artigo 1.094 do Código Civil fala sobre a limitação sem fixar um
número absoluto ou percentual. Observando-se ainda a ressalva que faz a Lei nº
5.764/71 no inciso III do artigo 4º. (facultado o critério da proporcionalidade...).

Vamos traduzir isso para uma linguagem mais prática?

O que Krueger (2002, p. 206-208) quer dizer é que “quando a cooperativa


adotar a subscrição fixa de capital, o cooperado não poderá subscrever mais que
1/3 do total das cotas-partes que a cooperativa tiver”. Por exemplo: O capital social
ou a soma de todas as cotas partes da Cooperativa X é de R$ 1.000.000,00. Cada
cooperado não poderá subscrever mais que R$ 333.333,33. O motivo é para que
nenhum associado possua maioria de capital o que lhe daria direitos prioritários
sobre os outros associados.

b) Quando a cooperativa adotar subscrição proporcional – nesse caso, como o


inciso III do artigo 1.094 do Novo Código Civil não contempla a exceção que
trata da proporcionalidade, fica a dúvida se é aplicável o limite de 1/3 (um
terço) do total, pois há dúvida sobre a revogação ou não da parte final do
parágrafo 1º. do artigo 24 da Lei nº 5.764/71.

Já neste caso, quando o parágrafo único do artigo 24 da Lei nº 5.764/71


faculta a subscrição acima de 1/3 do total das quotas-parte, para os casos em
que a cooperativa adotar a subscrição proporcional ao movimento financeiro dos
cooperados ou à quantidade de produtos a serem comercializados, beneficiados
ou transformados, ou ainda em relação ao número de plantas e animais em

128
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

exploração ou à área cultivada.

Fica a dúvida se nesse caso é aplicado esse limite de 1/3 em relação ao total
das cotas-partes.

O ponto central dessa questão é se o parágrafo único do artigo 24 da Lei nº


5.764/71 está ou não revogado, tendo em vista que a lei nova coloca em dúvida a
vigência do dispositivo da norma anterior.

Embora esse questionamento não tenha uma resposta conclusiva, no geral o


Código Civil não fez mudanças na estrutura jurídica das Sociedades Cooperativas,
em relação ao Capital Social. Entendimento de Krueger (2002, p. 210) sobre
a matéria leva a conclusão de que “a proporcionalidade deve ser mantida, em
relação à subscrição de quotas-parte, de acordo com o movimento do cooperado
e que o limite de 1/3 seja aplicado apenas para o caso em que a cooperativa
adote a subscrição fixa de capital”.

Ainda para ele, deve-se levar em conta muito mais a contribuição pessoal
do que a patrimonial, sendo que a proporcionalidade feita “através de critérios
equânimes, visando evitar a concentração de excesso de capital em um só
cooperado”.

Agora podemos exercitar um pouco o seu conhecimento sobre o assunto,


que tal?

Atividade de Estudos:

1) Qual é a principal divergência entre o Novo Código Civil e a Lei


nº 5.764/71 quanto ao critério de proporcionalidade do Capital
Social?
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2) Essa divergência afeta o modo de subscrição do Capital Social


em todas as suas formas? Comente.
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129
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

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Finalmente chegamos ao último tópico a ser abordado sobre as mudanças


que o Novo Código Civil imprimiu à Lei das Cooperativas. Você vai ver que o
Novo Código Civil alterou a responsabilidade dos sócios quando a tipo de
responsabilidade for limitada. Vamos lá?

A Responsabilidade Social
Subsidiária dos Sócios das
Cooperativas
Para começar a falar da mudança, vamos diretamente à Legislação para que
você possa comparar a mudança.

Vamos ler os artigos da Lei nº 5.764/71 que tratam da


responsabilidade dos sócios nas Sociedades Cooperativas:

Art. 11. As sociedades cooperativas serão de


responsabilidade limitada, quando a responsabilidade
do associado pelos compromissos da sociedade se
limitar ao valor do capital por ele subscrito.

Art. 12. As sociedades cooperativas serão de


responsabilidade ilimitada, quando a responsabilidade
do associado pelos compromissos da sociedade for
pessoal, solidária e não tiver limite.

Art. 13. A responsabilidade do associado para com


terceiros, como membro da sociedade, somente
poderá ser invocada depois de judicialmente exigida da
cooperativa.

E, agora o que diz o Novo Código Civil sobre a responsabilidade


dos sócios nas Sociedades Cooperativas:

Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade


dos sócios pode ser limitada ou ilimitada.

130
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

§ 1o É limitada a responsabilidade na cooperativa em


que o sócio responde somente pelo valor de suas
quotas e pelo prejuízo verificado nas operações sociais,
guardada a proporção de sua participação nas mesmas
operações.

§ 2o É ilimitada a responsabilidade na cooperativa em


que o sócio responde solidária e ilimitadamente pelas
obrigações sociais.

Você percebeu que o Novo Código Civil introduziu uma


Você percebeu
modificação no texto e que afeta profundamente a relação do que o Novo Código
associado para com a Sociedade Cooperativa. Civil introduziu uma
modificação no
Desde a promulgação da Lei nº 5.764/71, essa é a Legislação texto e que afeta
que regulamenta as Sociedades Cooperativas e que vem sendo profundamente
a relação do
seguida.
associado para
com a Sociedade
O Novo Código Civil surgiu para disciplinar em parte esse tipo de Cooperativa.
Sociedade Jurídica que se chama Sociedade Cooperativa.

Para compreender melhor a modificação introduzida pelo Novo Código Civil


e sua implicação, vamos falar um pouco sobre os tipos de sociedade que são
regulamentadas no seu bojo.

O que os legisladores que elaboraram o Novo Código Civil tomaram por


bem, foi incorporar as Sociedades Mercantis ou Comerciais, extinguindo de vez o
Código Comercial, que data do período Imperial. Antigo não é mesmo?

Desse modo criaram as sociedades em geral, regulamentando suas


obrigações, que Krueger (2002, p. 163) chama de “espécie” de sociedade.
Depois, continua o autor, “criou-se o que denominou de sociedades personificadas
(grifo do autor) e dividiu-as em dois grandes ramos”: as Sociedades Civis e as
Sociedades Comerciais, que têm personalidade jurídica e, portanto, também são
uma espécie de sociedade e de onde derivam os demais tipos de sociedade.
E, dentro dessa classificação, precisamente dentro das Sociedades Civis é que
foram classificadas as Sociedades Cooperativas.

E, embora o Novo Código Civil ressalve que a Lei nº 5.764/71 continua


sendo respeitada onde houver lacunas em si, o artigo 1.095 trata da
responsabilidade dos sócios, que pode ser limitada ou ilimitada. Acrescentou
à responsabilidade limitada dos sócios, que antes respondia apenas até onde

131
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

alcançava as quotas do capital subscrito, que responde também pelo prejuízo


que houver nas operações sociais proporcionalmente à sua participação nas
mesmas. No entanto, é bom guardar que a responsabilidade dos sócios para
com terceiros somente será acionada após ter sido cobrada judicialmente da
cooperativa. Esse preceito respeita as disposições do Código de Processo
Civil.

Note que o artigo 11 da Lei nº 5.764/71, foi revogado com a recepção do


Novo Código Civil, pois, alterou completamente a responsabilidade limitada dos
sócios em uma Sociedade Cooperativa.

A responsabilidade ilimitada não teve nenhuma alteração e continua valendo


o que a Lei nº 5.764/71 preconiza a esse respeito.

Para Krueger (2002, p.167) essa mudança deve criar dúvidas no caso dessa
responsabilidade relativa aos associados ou cooperados ser exigida judicialmente.

Segundo comentários de alguns juristas, em relação a essa mudança


estabelecida pelo Novo Código Civil, recomenda-se que a responsabilidade
dos sócios para com a cooperativa deve constar de forma bastante explícita em
seu estatuto. Monezi (2004) recomenda que deva constar no Estatuto, quanto à
responsabilidade limitada dos sócios:

[...] que o sócio responde subsidiariamente pelas obrigações


contraídas pela Cooperativa perante terceiros, e limitadamente à
parcela de sua contribuição ao capital social, correspondente
às quotas por ele integralizadas, bem como pelos prejuízos
porventura verificados, na proporção das operações que tiver
realizado (grifo da autora).

Essa medida deixa bastante claro, tanto para a Sociedade Cooperativa


quanto para seus associados, os princípios que regem a relação entre si. Quanto
menores forem os pontos que deixarem dúvida menor a chance de haver litígio
entre as partes.

Dessa forma chegamos ao final desse capítulo. Algumas alterações


introduzidas pelo Novo Código Civil trouxeram questionamentos sobre a revogação
de alguns artigos da Lei nº 5.764/71, a Lei das Cooperativas. Certamente o
objetivo dos legisladores não foi a de reformar essa Lei, mas ao incorporar alguns
artigos que já eram contemplados pela lei com novos pareceres, acabaram por
causar alguma polêmica.

Resta, então, esperar que o Projeto de Reforma da Lei nº 5.764/71 que


está tramitando no Congresso Nacional, seja amplamente discutido e revisto em
conjunto com as cooperativas em todas as suas instâncias. Somente assim, as
132
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

alterações que forem introduzidas serão mais adequadas para reger essa forma
tão especial de sociedade que são as cooperativas.

Atividade de Estudos:

1) O Novo Código Civil introduziu no artigo que trata da


responsabilidade dos sócios para com as Sociedades
Cooperativas, uma particularidade. Ela alterou sobremaneira essa
relação entre sócios e sociedade. Cite qual foi essa alteração e
comente qual a mudança que ocorreu em função da modificação.
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Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao final desse capítulo que trata das alterações e implicações do
Novo Código Civil (Lei 10.406/2002) na Lei nº 5.664/71, mais conhecida como Lei
do Cooperativismo.

Podemos dizer que o maior objetivo desse capítulo foi apresentar algumas
questões polêmicas e que em alguns momentos não chegam a um veredicto ou
consenso.

O pensamento crítico foi provocado, porque esse também é um desafio da


aprendizagem e que deve conduzi-lo (a) a buscar sempre novos conhecimentos
e mais informações que consolidem aquilo que você aprendeu. Ou que o levem
ao contrário, a elaborar um novo pensamento a respeito e que deve ser discutido
e debatido no ambiente de trabalho, que é onde efetivamente se aplica o
conhecimento teórico.

133
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Como dissemos ao longo do Capítulo, nossa intenção não é conduzi-lo a


uma única forma de pensar ou a aceitar uma doutrina imposta por uma linha
de pensamento de um único autor. Mas é importante deixar bastante claro que
quando a lei faz uma ressalva, ela vem dizer que naquilo que esta Nova Lei não
houver modificado continua valendo o que a ei anterior prescreve. Quanto a isso
não existe nenhuma polêmica, certo?

Como cita um dos autores ao longo do texto, a grande dicotomia entre o


Novo Código Civil e a Lei Cooperativista pode estar simplesmente no fato de que
não houve a integração do pensamento cooperativista na elaboração de uma lei
que tratava de seus assuntos.

Sabemos que a tarefa de interpretar e analisar as leis é um tanto complicada


e demanda, ao leitor, atenção e também a busca de outros elementos que
auxiliem a compreensão do que o Jurista ou Legislador quis dizer. Esperamos que
com a leitura atenta desse material você consiga atingir o objetivo de identificar as
alterações ocorridas e analisar qual foi o impacto que elas impuseram à Doutrina
Cooperativista.

As mudanças sempre são acompanhadas de polêmica e discussão para


aqueles para os quais a lei foi elaborada. E porque muitas vezes a omissão de
uma cláusula da lei pode levar a entendimentos diversos, espera-se que haja
finalmente um consenso entre juristas e cooperativistas para que uma nova Lei
Cooperativista venha a sanar essa lacuna.

A conclusão que se tem a respeito de toda a divergência da lei é que o Novo


Código Civil deve prevalecer sobre a Lei Cooperativa tão somente nos casos em
que a incompatibilidade de ambas seja completamente indiscutível. É o exemplo
da dispensa do Capital Social e o aumento da responsabilidade dos associados
quanto aos negócios realizados pela Cooperativa. Quanto as demais situações é
bom manter a observância da Lei das Cooperativas já que o próprio Código Civil
assim, o recomenda.

134
Capítulo 3 O COOPERATIVISMO E O NOVO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO

ReFerÊncias
BRASIL. Lei nº 10.406 de 01 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>.
Acesso em: 5 ago. 2011.

BRASIL. Lei nº 5.764 de 12 de dezembro de 1971. Disponível em: <http://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5764.htm>. Acesso em: 27 ago. 2011.

BULGARELLI, Waldirio. As Sociedades Cooperativas e a sua Disciplina


Jurídica. Rio de Janeiro: Renovar, 1998.

CAMPOS, Armando. Plexo normativo das Cooperativas de Crédito. Brasília,


DF: OAB Editora, 2003.

DOMINGUES, Jefferson Nercolini. Aspectos jurídicos do cooperativismo.


Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 2002.

KRUEGER, Guilherme. A Disciplina das Cooperativas no Novo Código Civil,


A Ressalva da Lei nº 5.764/71. Artigo escrito em 2002. Disponível em: <http://
redelaldia.org/IMG/pdf/0323.pdf>. Acesso em: 05 ago. 2011.

KRUEGER, Guilherme. Cooperativismo e o Novo Código Civil. 2 ed. Belo


Horizonte: Mandamentos, 2002.

LEITE, Jacqueline Rosadine de Freitas. Aspectos jurídicos das Cooperativas


de Crédito. Belo Horizonte: Mandamentos, 2005.

MEINEN, Ênio; DOMINGUES, Jefferson Nercolini; DOMINGUES, Jane Ap.


Stefanes. Aspectos Jurídicos do Cooperativismo. Porto Alegre: Sagra
Luzzatto, 2002.

MONEZI, Mariangela. Sociedade Cooperativa e o Código Civil.


Disponível em: <http://www.advogado.adv.br/artigos/2004/mariangelamonezi/
sociedadecooperativa.htm>. Acesso em: 05 set. 2011.

135
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

136
C APÍTULO 4
Legislação Tributária Aplicada às
Cooperativas de Crédito

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Conhecer os aspectos legais e o regime jurídico das Sociedades Cooperativas.

� Saber diferenciar os Atos Cooperativos e dos Atos Não-Cooperativos.

� Examinar os exemplos práticos dos Atos Cooperativos e Não-Cooperativos.

� Conhecer a Legislação Tributária direcionada ao Cooperativismo de Crédito.

� Examinar os principais tributos a que estão sujeitas as Cooperativas de Crédito.

� Conhecer as principais diferenças entre as Cooperativas de Crédito e as


Cooperativas dos demais ramos, para fins de tributação.
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

138
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

ConteXtualiZação
O capítulo “Legislação Tributária Aplicada à Cooperativa de Crédito” tem a
intenção de apresentar alguns conceitos sobre esse tema que é tão importante
na existência e manutenção das Sociedades Cooperativas. E embora exista
uma deficiência na literatura sobre Cooperativismo de forma geral, em especial
sobre Legislação Tributária, alguns autores como Becho (1997), Loredo de Souza
e Meinen (2010) e Grupenmacher, coordenadora (2001) tratam de fazê-lo de
maneira que o assunto seja extensamente debatido e explorado.

E se as Sociedades Cooperativas não estão imunes da carga


E se as Sociedades
tributária imposta às Sociedades Empresariais de forma geral, a Cooperativas não
Constituição Federal ampara sob o artigo 146, parágrafo III, inciso c, estão imunes da
que seja dado um adequado tratamento tributário ao Ato Cooperativo. carga tributária
Nesse capítulo vamos descobrir o que é um Ato Cooperativo e um imposta às
Ato Não Cooperativo e, você vai conhecer alguns exemplos práticos Sociedades
Empresariais de
de ambos. Vamos abordar ainda o Tratamento Tributário do Ato
forma geral, a
Cooperativo nas Cooperativas de Crédito e quais são os principais Constituição Federal
Tributos e Contribuições Federais a que são submetidas. Além disso, ampara sob o artigo
vamos analisar o Modelo Tributário contido na Lei nº 5.764/71, até 146, parágrafo III,
porque ela contém as principais diretrizes e parâmetros para a efetiva inciso c, que seja
tributação das Sociedades Cooperativas. E, por último, mas não dado um adequado
tratamento tributário
menos importante, vamos verificar quais são as principais diferenças
ao Ato Cooperativo.
entre as Cooperativas de Crédito e as Cooperativas dos demais
ramos.

Pronto para começar? Vamos tratar em primeiro lugar das E, assim sendo
generalidades dos aspectos tributários nas Sociedades Cooperativas ela (a Sociedade
como um todo. Você já sabe que uma Sociedade Cooperativa é uma Cooperativa)
sociedade de pessoas. Sua forma e natureza jurídica são distintas das não tem receita
demais sociedades e não estão sujeitas à falência. São constituídas ou rendimentos,
pois a Sociedade
para prestar serviços aos seus associados e não têm o objetivo de
Cooperativa é
gerar lucros. E, assim sendo ela (a Sociedade Cooperativa) não tem tão somente uma
receita ou rendimentos, pois a Sociedade Cooperativa é tão somente entidade auxiliar do
uma entidade auxiliar do cooperado para que ele consiga atingir seus cooperado para que
objetivos. Desse resultado apenas os valores referentes às despesas ele consiga atingir
e aos fundos regulamentados por lei são retidos pela cooperativa. seus objetivos.
Logo, quem possui receita é o cooperado. Alguns juristas entendem
que a cooperativa não deva sofrer tributação, mas sim o cooperado, já que é ele
que no final das contas obtém um faturamento. Você vai ver que na prática não é
bem assim.

139
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Aspectos Tributários das


Cooperativas em Geral
Apesar do tratamento diferenciado que a Constituição Federal de 1988, bem
como o Código Civil concede às Sociedades Cooperativas isentando os Atos
Cooperativos da tributação, não lhes confere imunidade tributária. Esse tratamento
diferenciado ocorre em função da sua distinção das Sociedades Empresariais,
já que as Sociedades Simples tal como as Sociedades Cooperativas são
enquadradas no Novo Código Civil de 1988, podem ser constituídas com ou sem
fins lucrativos.

Você sabe qual é a diferença entre isenção e imunidade? Fuhrer


(2006, p. 62) esclarece com muita simplicidade:

• Isenção: dispensa do tributo por lei ordinária;

• Imunidade: Dispensa do tributo por força da Constituição.

Simples, não é mesmo?

O mais importante, O mais importante, a saber, é que a tributação das sociedades


a saber, é que cooperativas decorre diretamente do conceito de Ato Cooperativo, já
a tributação que por força da Legislação vigente só existe obrigação tributária em
das sociedades relação aos resultados positivos das operações e ou atividades que
cooperativas não sejam objeto da sua finalidade.
decorre diretamente
do conceito de
Ato Cooperativo, Outro aspecto a ser analisado quando falamos de tributação ou
já que por força não das sociedades e pessoas, decorre do princípio de capacidade
da Legislação econômica. No Direito Tributário esse conceito é chamado de princípio
vigente só existe da “capacidade contributiva”. Explicando, esse é o princípio de
obrigação tributária igualdade de que trata o caput do artigo 5º. da Constituição Federal
em relação aos
de 1988. Para Becho (1997, p. 41) “não se pode falar de igualdade
resultados positivos
das operações e ou de todos perante a lei sem se falar em igualdade perante tributos”, e é
atividades que não também invocado pelo § 1º do art. 145 da Carta Magna: [...] é vedado
sejam objeto da sua às pessoas de direito público “instituir tratamento desigual entre
finalidade. contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida
qualquer distinção” [...].

140
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Há diversos conceitos e pensamentos a respeito do princípio da igualdade


tributária e da capacidade contributiva, firmado por tributaristas. E como sempre,
há variadas opiniões que ora julgam tratar-se das mesmas coisas, ora que não há
igualdade, mas, sim proporcionalidade e há ainda opiniões de que os tributos só
devem ser cobrados de quem pode pagá-los sem grandes sacrifícios.

Embora seja um assunto interessante, por hora basta saber da existência


dessas figuras jurídicas: capacidade contributiva e igualdade tributária. Voltaremos
a esse assunto oportunamente. E caso você queira expandir seus conhecimentos
basta ler mais um pouco sobre o assunto, combinado?

Para que você possa se aprofundar um pouco mais e ter uma


melhor visão sobre o que é a capacidade contributiva e a igualdade
tributária, sugerimos a leitura de:

BECHO, Renato Lopes. Tributação das Cooperativas. São Paulo:


Dialética, 1997.

E, agora para ilustrar quais são os principais tributos incidentes sobre os


Atos Cooperativos e os Atos Não Cooperativos das cooperativas em geral,
apresentamos um quadro comparativo de tributação. Lembramos que o Imposto
de Renda na Fonte sobre as aplicações financeiras é devido apenas pelas
cooperativas que não as de Crédito, conforme discutiremos ao longo desse
capítulo.

Quadro 1 - Quadro comparativo de tributação


Atos Cooperados
IRPJ Não.
Adicional do IRPJ Não.
CSLL Não.
PIS 1% sobre folha de pagamento e 0,65% sobre
faturamento, com direito a exclusão da base de cálculo.
Cofins Sim, 3% sobre o faturamento mensal, com direito a exclusões da
base de cálculo.
4% no caso de Cooperativa de Crédito.
IR Fonte Aplicações Finan- Sim.
ceiras Exceto para as Cooperativas de Crédito.

Fonte: As autoras.

141
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Quadro 2 – Atos Não Cooperados

Lucro Real Trimestral


IRPJ 15% sobre o lucro líquido ajustado.
Adicional IRPJ 10% sobre a parcela que exceder a R$ 60.000,00 no trimestre.
CSLL 9% sobre o lucro líquido ajustado.
PIS 0,65% sobre o faturamento mensal. Aplica-se 1,65% nos casos de
cooperativa de produção e agropecuárias (não cumulativo).
COFINS 7,6% sobre o faturamento mensal para as Sociedades Cooperativas
de produção e agropecuária. Aplica-se 3% para as demais. 4% no
caso de Cooperativa de Crédito.
IR-Fonte Aplicações Sim.
Financeiras
Fonte: As autoras.

Quadro 3 - Lucro Real Estimado

Percentuais aplicados sobre a receita bruta mensal (de acordo com a


IRPJ atividade) para fins de determinação da base de cálculo, levando-se em
consideração as adições. Sobre a base de cálculo aplica-se a alíquota de
15%.
Adicional do IRPJ 10% sobre a parcela que exceder R$ 20.000,00 mensais.
CSLL Percentuais aplicados sobre a receita bruta mensal (de acordo com a
atividade 12% ou 32%) para fins de determinação da base de cálculo,
levando-se em consideração as adições. Sobre a base de cálculo aplica-se
a alíquota de 9%.
PIS 0,65% sobre o faturamento mensal. Aplica-se 1,65 nos casos de cooperativa
de produção e agropecuárias. (não cumulativo).
COFINS 7,6% sobre o faturamento mensal para as Sociedades Cooperativas de
crédito.
IR-Fonte Aplicações Sim.
Financeiras

Quadro 4 - Lucro Presumido (exceto para Cooperativas de Crédito)

Percentuais aplicados sobre a receita bruta trimestral (de acordo com


IRPJ a atividade) para fins de determinação da base de cálculo, levando-se
em consideração as adições. Sobre a base de cálculo aplica-se a
alíquota de 15%.
Adicional do IRPJ 10% sobre a parcela que exceder a R$ 60.000,00 no trimestre.

142
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

CSLL Percentuais aplicados sobre a receita bruta mensal (de acordo com a
atividade 12% ou 32%) para fins de determinação da base de cálculo,
levando-se em consideração as adições. Sobre a base de cálculo
aplica-se a alíquota de 9%.
PIS 0,65% sobre o faturamento mensal.
COFINS 3% sobre o faturamento mensal.
IR-Fonte Aplicações Finan- Sim.
ceiras

Fonte: As autoras.

Quadro 5 – Simples Nacional

Vedado o ingresso no regime do Simples Nacional das Sociedades Cooperativas, com exceção das
Sociedades Cooperativas de consumo, observadas as demais condições para ingresso no regime (LC
123/06, alterada pela LC 127/07).

Fonte: As autoras.

Esses são os principais tributos a que estão sujeitas as


As sobras não
cooperativas em geral, bem como os percentuais aplicados de são o objetivo das
acordo com a opção de declaração do Lucro. Lembrando sempre cooperativas, mas
que essa determinação de opção de declaração de lucro é apenas o resultado positivo
uma regra contábil para fins de apuração e aplicação de tributos, pois das operações por
as Cooperativas de Crédito não contabilizam lucros e, sim, sobras ela realizadas, em
nome dos seus
que são distribuídas para os seus associados e para os fundos
associados. É por
constituídos por lei. esse motivo que as
sobras não podem
As sobras não são o objetivo das cooperativas, mas o ser equiparadas ao
resultado positivo das operações por ela realizadas, em nome dos lucro.
seus associados. É por esse motivo que as sobras não podem ser
equiparadas ao lucro.

Atividade de Estudos:

1) A capacidade contributiva é a causa da imunidade tributária? Do


que decorre a imunidade tributária?
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________

143
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Bem, passamos agora ao assunto que julgamos dos mais importantes


quando se trata da tributação das Sociedades Cooperativas. Toda Legislação
à respeito de tributação das Sociedades Cooperativas passa pelas seguintes
figuras jurídicas: o Ato Cooperativo e o Ato não Cooperativo. Ora, esses Atos
nada mais são do que as diversas atividades praticadas pela cooperativa para
atender suas finalidades sociais, conforme Polonio (1999, p. 51), “interagindo ora
com o associado cooperado, ora com terceiro, isoladamente, ou com ambos, em
um mesmo ciclo operacional”.

DeFinição deAto Cooperativo eAto Não


Cooperativo
Vamos dar uma olhada na história para relembrar como nasceu o conceito de
Ato Cooperativo?

Apesar do trabalho cooperativista ter sido iniciado anteriormente,


na forma de Cooperativas de Consumo, por Willian King, em Brighton,
Inglaterra, no ano de 1827, e em 1835, em Lyon, na França, como
o Commerce Veridique, o Cooperativismo como hoje conhecemos,
teve o seu princípio registrado, a partir da fundação da Sociedade
dos Probos Pioneiros de Rochdale, em 21 de dezembro de 1844, no
bairro de Rochdale, distrito de Lancashire, Manchester, Inglaterra, por
28 tecelões que ficaram conhecidos como os Pioneiros de Rochdale.

O Ato Cooperativo Muito embora o Ato Cooperativo fosse praticado desde


“é o suposto jurídico, então, somente em 1954 é que o mexicano Antonio Salinas
ausente de lucro e Puente lançou as bases da teoria do Ato Cooperativo, em seu
de intermediação estudo Teoria do Ato Cooperativo. Salinas chega à conclusão
que a organização de que o Ato Cooperativo “é o suposto jurídico, ausente de lucro
cooperativa realiza e de intermediação que a organização cooperativa realiza em
em cumprimento cumprimento de um fim preponderante econômico e de utilidade
de um fim social.” (SOUZA; MEINEN, 2010, p. 71).
preponderante
econômico e de
utilidade social.
Vários são os autores que falam do Ato Cooperativo, já que ele é a expressão
do relacionamento entre a cooperativa e o associado. Isso não quer dizer que seja
fácil compreendê-lo. Vamos ler outros conceitos sobre Ato Cooperativo para que
você amplie o seu saber:

144
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Atos Cooperativos são os negócios jurídicos internos,


negócios-fim, com caracteres próprios em relação aos
atos civis, mercantis ou trabalhistas, praticados ente as
cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas
cooperativas entre si, quando associadas, para o cumprimento
dos objetos sociais (POLONIO, 2001 apud YOUNG, 2007, p.
72).

Atos Cooperativos são atos jurídicos que criam, mantém ou extinguem


relações cooperativas, exceto a constituição da própria entidade, de acordo com
o objeto social, em cumprimento dos seus fins institucionais (CORBELLA 1985
apud BECHO, 1997, p.130, traduzido pelo mesmo).

Para que você tenha ideia da complexidade que envolve o Ato Cooperativo,
que tal a leitura atenta da resposta dada pelo Procurador do Estado, José Antonio
Peres Gediel, no I Simpósio Brasileiro sobre a Tributação de Cooperativas,
realizado em Curitiba, no Paraná e publicado por Grupenmacher organizadora
(2001, p. 95):

Pergunta: Na interpretação do judiciário, o que é o Ato


Cooperativo?

Resposta: Essa é a questão mais tormentosa, porque também


depende de uma concepção teórica que não se esgota na Ciência
Jurídica, do que seja uma Sociedade Cooperativa. Se o ato
cooperativo é um composto, uma simbiose entre a atuação do
cooperado e da cooperativa, há, com efeito, uma circularidade onde
tudo começa e funciona em favor, em benefício do cooperado, mas
também se espraia pelo conjunto dos sócios da cooperativa. Assim, a
atuação individual do cooperado resulta na apropriação privada dos
resultados, mas também permite, em parte, que esses resultados
sirvam para o fortalecimento da sociedade. É preciso, pois, recorrer
a uma compreensão mais ampla do Ato Cooperativo, uma vez que
sua tradução jurídica é intransparente.(grifo nosso). É necessário
compreender a vida em uma cooperativa, como funciona uma
cooperativa, quais são os princípios que regem essa cooperativa
na prática. O Ato Cooperativo tem essas características e não pode
ser facilmente compreendido, sua natureza não pode ser extraída
com muita clareza, a partir do que está na lei, pois não é apenas
um problema jurídico, é um problema de interpretação e de uma
interpretação que exige uma visão interdisciplinar.

145
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

A complexidade do Ato Cooperativo talvez seja fruto da


A complexidade do
Ato Cooperativo particularidade que é inerente às Sociedades Cooperativas. É típico
talvez seja fruto da Sociedade Cooperativa que seus associados sejam além de
da particularidade proprietários também seus beneficiários. Não importa se essa relação
que é inerente for de consumidor ou de contratante, o fato é que a relação proprietário
às Sociedades – beneficiário, decorre uma da outra. E essa condição é essencial
Cooperativas. É
para distinguir a Sociedade Cooperativa das Sociedades Anônima ou
típico da Sociedade
Cooperativa que de Responsabilidade Limitada. Excepcionalmente, a cooperativa pode
seus associados operar também com um não cooperado, mas essas operações terão
sejam além de um tratamento diverso e são inclusive contabilizadas separadamente.
proprietários Este tratamento está devidamente previsto na Lei das Cooperativas.
também seus
beneficiários. Não
Já vimos alguns conceitos dados por diversos autores, mas
importa se essa
relação for de achamos que seja interessante voltar a falar sobre o artigo 79 da Lei
consumidor ou de nº 5.764/71, a Lei das Cooperativas:
contratante, o fato
é que a relação Denominam-se atos cooperativos os praticados entre as
proprietário – cooperativas e seus associados, entre estes e aquelas e pelas
beneficiário, decorre cooperativas entre si, quando associados, para a consecução
uma da outra. dos objetivos sociais.

Parágrafo único. O ato cooperativo não implica operação de


mercado, nem contrato de compra e venda de produto ou
mercadoria (BRASIL, 1971).

Você pode ver que embora com palavras diferentes, todos os conceitos
guardam exatamente os preceitos da Lei.

Quanto ao fato do Ato Cooperativo não implicar em atividade mercantil,


conforme expressa o parágrafo único da Lei, Polonio (1999, p. 52) aponta que
ele é apenas a transferência de mercadorias e recursos entre a cooperativa e
seus associados, tendo sempre como objetivo principal o fomento das atividades
daquela em benefício destes. Ou ainda, pode ser a transferência do resultado
das atividades da cooperativa para os associados no exercício do interesse dos
mesmos.

É o caso, por exemplo, de quando um produtor rural entrega sua produção na


cooperativa ao qual é associado: a cooperativa não está efetuando uma compra
e, sim os recebe em consignação. A venda é efetuada em nome desse cooperado
e esse é um exemplo bem claro de um Ato Cooperativo.

Podemos também citar como Ato Cooperativo quando um cooperado efetua


a compra de produtos (podem ser insumos agrícolas ou gêneros alimentícios)
através da cooperativa, fazendo a esta o pagamento dos mesmos.

146
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Para concluir: todas as atividades que a cooperativa realiza


Todas as atividades
prestando serviços como representante de seus associados, é um Ato que a cooperativa
Cooperativo. realiza prestando
serviços como
Polonio (1999, p. 129) ressalta que a característica jurídica do Ato representante de
Cooperativo, além da ausência do lucro, além de alguns aspectos de seus associados, é
um Ato Cooperativo.
ordem legal como:

• O sujeito, que é representado pela organização cooperativa, pois, como


definiu Puentes (1988 apud POLONIO, 1999, p.129) “já que os indivíduos
realizam esta categoria de atos enquanto pertencem a ela”;

• O objeto, que depende da finalidade da cooperativa;

• O respeito, aos princípios cooperativos e às demais observações do estatuto.

Com tantas definições e a leitura dos conceitos de vários autores,


acreditamos que tenha ficado muito claro para você o significado e o contexto
onde está inserido o Ato Cooperativo.

Embora a lei seja bastante clara saiba que existem inúmeros recursos que
são interpostos à Justiça para requerer a isenção de tributos diversos a operações
que sendo Atos Cooperativos, muitas vezes não são assim entendidas pelo Órgão
Fazendário.

Veja um exemplo de uma Decisão a um Recurso impetrado pela Cooperativa


de Consumo dos Funcionários da Companhia Vale do Rio Doce:

ATO DE COOPERATIVA COM COOPERADO


É ISENTO DE TRIBUTAÇÃO

Atos de Cooperativa realizados apenas com cooperados


são isentos de tributação. O entendimento é da 2ª. Turma do
Superior Tribunal de Justiça e reforça a jurisprudência do Tribunal
de que a cooperativa tem isenção de tributos em relação aos Atos
Cooperativos.

A questão chegou ao STJ em Recurso Especial ajuizado pela


Cooperativa de Consumo dos Funcionários da Companhia Vale do
Rio Doce e Entidades vinculadas Ltda. O objetivo era reverter acórdão
do Tribunal Regional Federal da 1ª. Região e manter o entendimento
de primeira instância que excluiu a incidência do imposto sobre os
Atos Cooperativos.

147
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

A 2ª. Turma do superior Tribunal de Justiça acolheu o pedido.


Para o relator, Ministro Francisco Peçanha Martins, os atos praticados
somente com os associados não estão sujeitos à incidência de
tributos.

“Apesar de a Cooperativa realizar operação de compra e venda


de mercadorias, qualquer incidência de tributo deve ser mitigada,
haja vista que esta atividade é realizada somente entre a cooperativa
e os associados, sem o intuito de lucro e está, diretamente, ligada ao
objetivo social da cooperativa” concluiu. Resp. 479.012

Fonte: Trecho extraído do Recurso Especial 479.012 – MG


(2002/0134640-6) (YOUNG, 2007, p. 74-75).

Vamos ver mais alguns exemplos de decisões de Recursos sobre tributos


diversos, para que você fique por dentro do que acontece nas relações entre
Cooperativas e os órgãos responsáveis pela arrecadação de tributos, sejam eles
Federais, Estaduais ou Municipais.

AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL


SOBRE O LUCRO. COOPERATIVA. NÃO INCIDÊNCIA.

1. As Sociedades Cooperativas, quando atuam no desempenho


de suas finalidades, praticando Ato Cooperativo definido no art.
79, da Lei nº 5.764/71, não apuram resultados qualificados como
lucros.

2. O Ato Cooperativo, não está sujeito à incidência da Contribuição


Social sobre o Lucro, por não configurar fato gerador do tributo.

3. Agravo desprovido.

(AgRg no REsp 211.236/RSD, Rel. Ministro Paulo Medina,


Segunda Turma, julgado em 06.09.2001, DJ de 10.03.2003, p. 138.

Acórdão 103 – 21.115, da 3ª. Câmara do 1º. Conselho de


Contribuintes – DOU 1 de 10.02.2003, p. 15

Cooperativa. Ato Cooperado. Definição e alcance. Ato


Cooperado é o ato que decorre da atuação do cooperado no exercício
e atendimento dos objetivos da atividade cooperada a que aderiu e
que, assim, não se sujeita à incidência tributária por não qualificar ato
de mercancia. A negociação direta entre a cooperativa e terceiros,

148
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

sem interferência direta do cooperado na sua concretização deixa


de traduzir a característica essencial do Ato Cooperativo para assim
configurar ato sujeito a uma incidência tributária normal.

Ezio Giobatta Bernardini - Relator

Fonte: Extraído de: Young (2007, p. 76-79).

Os Atos Cooperativos e Não Cooperativos só fazem sentido se inseridos no


contexto dos atos praticados pela cooperativa em seu próprio nome.

Franke (1989 apud POLONIO, 1999, p. 51) define os negócios efetuados


pela Sociedade Cooperativa em duas categorias:

• Negócio-fim – aquele realizado entre o associado e a cooperativa;

• Negócio-meio – o realizado entre a cooperativa e o mercado.

Desse modo, negócio-meio é quando uma Cooperativa de Consumo adquire


produtos no mercado; quando essa cooperativa vende esses produtos aos
cooperados tem-se o negócio-fim.

No caso de uma Cooperativa de Produtores, quando os produtores fazem a


entrega de produtos na cooperativa tem-se o negócio-fim enquanto que a venda
desses produtos no mercado é o negócio-meio. Polonio (1999, p. 51) utiliza-se
desses conceitos para definir o que ele chama de ciclo operacional, que é a união
do negócio-meio e o negócio-fim.

Assim, ele elenca os seguintes ciclos operacionais:

• Nas Cooperativas de Produção: aquisição/produção/venda

• Nas Cooperativas de Consumo ou de produtores: aquisição/venda

• Nas Cooperativas de Crédito: captação de recursos/concessão de


empréstimos

• Nas Cooperativas de Trabalho: contratação/prestação de serviço.

Para o autor, o Ato Cooperativo é caracterizado quando o associado está


presente em um dos pólos desse ciclo operacional. E quando o associado não
participa de forma direta de qualquer dos ciclos operacionais fica caracterizado

149
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

o Ato Não Cooperativo, que segundo o entendimento de Franke (1989 apud


POLONIO, 1999, p. 52) é a realização de negócios com terceiros. Então, vamos
estudar um pouquinho mais e saber o que é o Ato Não Cooperativo.

Já vimos que a realização do negócio-fim com um não associado da


cooperativa, caracteriza um Ato Não Cooperativo. Então, por conseguinte, os Atos
Mercantis que a cooperativa efetua em seu próprio nome e sem a participação
dos cooperados é um Ato Não Cooperativo, certo?

Quando a cooperativa realiza qualquer ato que não esteja dentro


Os “Atos Não dos seus objetivos sociais, com ou sem a presença do cooperado, isso
Cooperativos também configura um Ato Não Cooperativo. Por que essa distinção?
são na verdade
Porque esse negócio produz lucro e dessa forma todos os impostos a
uma tolerância
do Legislador que se sujeitam as demais Sociedades Empresariais, incidem sobre
porque preenchem ele.
(complementam)
os objetivos sociais O fato de a cooperativa realizar qualquer operação ou negócio
das Sociedades com um associado que foi admitido na cooperativa em contrariedade
Cooperativas, e
com as condições do seu estatuto, também configuram um Ato Não
por esse motivo
são escriturados Cooperativo.
em separado e
sujeitos à tributação Para Young (2003, p. 79), os “Atos Não Cooperativos são
normal quanto aos na verdade uma tolerância do Legislador porque preenchem
resultados obtidos (complementam) os objetivos sociais das Sociedades Cooperativas, e
sobre estes atos”.
por esse motivo são escriturados em separado e sujeitos à tributação
normal quanto aos resultados obtidos sobre estes atos”.

Agora, vamos ver outra definição para o Ato Não Cooperativo, por Lima
(1993 apud GRUPENMACHER, 2001, p. 125), no I Simpósio Brasileiro sobre a
Tributação de Cooperativas:

Ato não cooperativo é quando a cooperativa precisa contratar


atividade de uma pessoa ou um agente econômico qualquer
que teria condição de se associar, desde que a cooperativa
preste serviço para esta pessoa, para este ente econômico,
e que, pelas suas características poderia ingressar na
cooperativa e não ingressa, quando você presta serviço para
esta pessoa, todo o resultado que você vai ter dela você vai
realmente tributar, fora disso não, pois fora disso, ou você tem
a receita da cooperativa ou você tem a despesa coberta pelo
cooperado.

A prática regular de operações que não estão previstas na Lei nº 5.764/71


acarreta a perda da natureza jurídica da cooperativa, o que levaria à tributação
normal a que estão sujeitas as demais pessoas jurídicas. Ainda assim, há alguns
acórdãos de Tribunais que não concordam com essa ideia.
150
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Descaracterização da cooperativa. Impossibilidade. A prática


habitual de Atos Não Cooperativos não autoriza a desclassificação
da sociedade como cooperativa (a não incidência é objetiva e
não subjetiva), devendo ser tributado o resultado dos Atos Não
Cooperativos (1º. Conselho de Contribuintes/1ª. Câmara/Acórdão
101-92.897 em 11.11.1999 – DOU 04.01.2000).

Sociedade Cooperativa. Intermediação de terceiros. Não


são alcançados pela incidência do Imposto de Renda os resultados
dos Atos Cooperativos. O resultado positivo de operações praticadas
com a intermediação de terceiros, ainda que não se incluam entre
as expressamente previstas nos artigos 86 a 88 da Lei 5.764/71 é
passível da tributação normal pelo Imposto de Renda. Se, todavia,
a escrituração não segregar as receitas e despesas/custos segundo
sua origem (Atos Cooperativos e Não Cooperativos), ou, ainda,
se a segregação feita pela sociedade não estiver apoiada em
documentação hábil que a legitime, o resultado global da cooperativa
será tributado, por ser impossível a determinação da parcela não
alcançada pela não incidência tributária. Se a exigência se funda
exclusivamente na descaracterização da cooperativa, pela prática
de Atos Não Cooperativos diversos dos previstos nos art. 85 e 86
da Lei 5.764/71, não pode a mesma prosperar. (1º. Conselho de
Contribuintes/1ª. Câmara/Acórdão 101-92.648 em 15.04.1999 – DU
29.06.1999).

Essas decisões da Justiça visam preservar a manutenção da cooperativa


e evitar que ela seja extinta, causando assim, grandes prejuízos aos seus
cooperados.

E, quais são então, os Atos Não Cooperativos legalmente permitidos? Young


(2002, p. 79-80), os enumera assim:

I – Aquisição pelas cooperativas agropecuárias e de pesca


de produtos de não associados que sejam agricultores,
pecuaristas ou pescadores, para o fim de completar lotes
destinados ao cumprimento de contrato ou suprir capacidade
ociosa de instalações industriais das cooperativas que as
possuam.

II – Fornecimento de bens e serviços a não associados, desde


que tal faculdade atenda aos objetivos sociais e estejam de
conformidade com a Lei do Cooperativismo.

Nota: Os resultados das operações das cooperativas com


não associados, mencionados nos incisos I e II serão levados

151
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

à conta do “Fundo de Assistência Técnica, Educacional e


Social”. E serão contabilizados em separado, de molde a
permitir cálculo para a incidência de tributos.

III – Participação em sociedades não cooperativas públicas


ou privadas, em caráter excepcional, para atendimento de
objetivos acessórios ou complementares.

Nota: As inversões decorrentes dessa participação serão


contabilizadas em títulos específicos e seus eventuais
resultados positivos levados ao “Fundo de Assistência
Técnica, Educacional e Social”.

Muito mais simples definir Ato Não Cooperativo, não é mesmo? Isso porque é
o Ato Cooperativo que vai ficar isento de tributação e, por isso, é que ele tem que
ser muito bem entendido e claro do ponto de vista jurídico. Você viu que embora
a lei pareça estabelecer claramente o Ato Cooperativo, ainda assim, muitos
recursos são levados ao Tribunal de Justiça em suas várias instâncias para que
haja um entendimento jurídico claro sobre o fato.

Então, vamos ver agora alguns exemplos de Atos Cooperativos e Não


Cooperativos para que você saiba distingui-los com bastante segurança.

a) Exemplos de Atos Cooperativos e Atos Não Cooperativos

Antes de citarmos alguns exemplos de Atos Cooperativos e Não Cooperativos,


gostaríamos de apresentar uma visão particular defendida por Loredo de Souza
(2010).

Para compreender as relações que se estabelecem entre a Sociedade


Cooperativa, seus associados e terceiros que participam de negócios envolvendo
ambos, apresentamos as figuras abaixo, que representam Atos Cooperativos
Mistos. Loredo de Souza (apud MEINEN, 2010, p. 74) defende os seguintes
conceitos de Atos Cooperativos:

• Ato Cooperativo puro – que é o Ato Cooperativo clássico,


praticado dentro dos objetivos sociais entre cooperativa e
cooperado;

• Ato Cooperativo Misto – Também é praticado entre cooperativa


e cooperado dentro dos objetivos sociais, porém envolve
outros participantes que não são associados.

• Ato Meio – Esse é um ato que vem sendo defendido por


advogados do meio cooperativista e que o Supremo Tribunal de
Justiça vem considerando como Ato Cooperativo. É o caso das
aplicações financeiras dos recursos de liquidez da cooperativa,

152
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

para manutenção do poder aquisitivo dos associados, ou seja,


também dentro dos seus objetivos sociais.

O Ato Meio não é tributado, uma vez que, a cooperativa faz a aplicação em
nome dos seus associados e como estes já tem o rendimento tributado, o que
caracterizaria dupla tributação.

Na figura a seguir, você tem um exemplo bastante simples de um Ato


Cooperativo Misto, realizado entre a cooperativa, o associado e uma operadora
de telefonia.

Figura 1 – Exemplo de Ato Cooperativo Misto – Pagamento de fatura telefônica

Fonte: Loredo de Souza e Meinen (2010, p. 77).

Neste caso, a cooperativa pode obter a receita de duas formas: ou ela


retém o valor da tarifa que consta na fatura de cobrança ou recebe este valor
da operadora. Em qualquer dos casos é o associado que paga efetivamente a
tarifa. Loredo de Souza (apud MEINEN, 2010) defende a tese de que esse é um
ato cooperativo misto, sujeito a tributação cuja receita deve ser contabilizada no
FATES. No final do exercício esses valores devem ser incorporados às sobras e a
decisão de sua destinação deve ser levada à Assembleia Geral.

O que o autor defende é que os atos mistos devem ter o mesmo tratamento
do Ato Cooperativo, após a tributação parte dessa receita deve ser destinada aos
fundos legais e aos fundos constituídos pela cooperativa e o que sobrar deve ser
distribuído aos sócios, quer integralizando o capital ou em espécie.

Já na Figura 2, temos um exemplo de uma cooperativa que oferece seguro


aos seus associados.

153
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Figura 2 – Exemplo de Ato cooperativo Misto: Oferta de seguro aos associados

Fonte: Loredo de Souza e Meinen (2010, p. 76).

A cooperativa oferece ao associado um produto de uma seguradora através


do convênio com uma corretora de seguros. A cooperativa estabelece um contrato
com a seguradora e quando o associado efetua o pagamento do prêmio do
seguro, uma parte desse prêmio fica com a cooperativa a título de prestação de
serviço. O relacionamento entre cooperativa, seguradora e corretora não é um
Ato Cooperativo. Porém a relação entre a cooperativa e o associado, quando
a cooperativa efetua o recebimento desse seguro, permanece dentro dos seus
objetivos sociais e é, portanto, um Ato Cooperativo.

Loredo de Souza (2010) defende ainda que o Ato Não Cooperativo decorreria
apenas se entre cooperativa e seguradora fosse efetuado um contrato em que
aquela receberia um valor fixo pelo recebimento dos boletos, independente de
quem efetuasse o pagamento ou do volume de boletos recebidos. Por isso ele
julga importante que a cooperativa retenha o valor da parcela que lhe cabe nessa
operação, o que caracteriza que é o associado que está pagando o seu serviço.

Ele reforça que o Ato Cooperativo Misto decorrente do pagamento da


prestação de serviço à cooperativa, pelo associado, deve ser oferecido à
tributação, contabilizado no FATES, mas ao final do exercício deve ser incorporado
às sobras e a decisão sobre sua finalidade levada à Assembleia Geral.

Voltamos, então, para complementar essa parte do capítulo que fala dos
Atos Cooperativos e Não Cooperativos, com alguns exemplos dos mesmos, tendo
como base as ideias de Polonio (1999).

• Venda de bens do ativo permanente

154
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

A alienação de bens do ativo permanente será sempre um Ato Não


Cooperativo. Dois são os motivos básicos: a primeira é porque o cooperado não
participa diretamente da operação como um agente econômico da relação jurídica,
mas somente da decisão da venda através de seus representantes. A segunda
razão, é que mesmo que o cooperado participasse diretamente dessa operação,
como comprador, é bom lembrar que a venda de seu próprio ativo permanente
não faz parte do objeto social de qualquer sociedade que seja.

• Prestação de serviços a terceiros

As cooperativas desenvolvem especialidades que estão ligadas às suas


atividades diárias dos cooperados, para auxiliar no desenvolvimento da sua
produção. Por exemplo, uma cooperativa de produção pode desenvolver uma
técnica especial para plantio de determinada cultura agrícola. Essa cooperativa,
além da sua atividade principal, poderá prestar serviços de consultoria aos
seus associados e mesmo a terceiros. A prestação de serviços aos associados
caracteriza um Ato Cooperativo. Já a prestação de serviços a terceiros é um Ato
Não Cooperativo, estando sujeitos à incidência de tributos e seus resultados não
podem ser distribuídos aos cooperados.

• Aquisição de matérias-primas de terceiros para produção ou de produtos


para revenda

O artigo 85 da Lei nº 5.764/71 deixa claro que a aquisição de produtos de não


associados, realizadas por cooperativas agropecuárias e de pesca, com o objetivo
de complementar lote para cumprir contratos ou para utilizar a capacidade ociosa
da indústria, são Atos Não Cooperativos e, portanto, sujeitos à tributação.

Já se essas mesmas cooperativas adquirem insumos agrícolas destinados à


revenda para seus cooperados, temos então caracterizado um Ato Cooperativo.
Caso esses produtos sejam revendidos a terceiros, o produto dessa venda é
considerado Ato Não Cooperativo.

• Aplicações financeiras

Já vimos a definição de “Ato Meio” na qual se enquadram as aplicações


financeiras. Polonio (1999, p. 55) já considerava que “as aplicações financeiras
não poderiam ser enquadradas em Ato Cooperativo ou Não Cooperativo”. Quando
as aplicações financeiras têm a finalidade de proteger o poder aquisitivo dos
recursos dos cooperados, bem como obter ganho adicional pago pelo mercado

155
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

financeiro, são consideradas como Ato Cooperativo. Até porque essa aplicação
é feita em nome dos cooperados e não beneficia diretamente a sociedade
Cooperativa.

Por outro lado, quando a cooperativa aplica recursos de não associados, em


geral aqueles que são originários de Atos Não Cooperativos, são, por conseguinte
também considerados Atos Não Cooperativos. Mas esse é um assunto
No caso das
Cooperativas bem controverso.
de Crédito, por
exemplo, todas No caso das Cooperativas de Crédito, por exemplo, todas as
as operações de operações de crédito tais como, aporte de capital, transações de conta
crédito tais como, corrente, aplicações financeiras e outras prestações de serviço são
aporte de capital,
consideradas como Atos Cooperativos.
transações de conta
corrente, aplicações
financeiras e Esses exemplos naturalmente não esgotam a amplitude do tema.
outras prestações Ao mesmo tempo, tudo que já abordamos até aqui, deixou bastante
de serviço são definido o que é ou não um Ato Cooperativo. Desse modo, esperamos
consideradas como ter atendido ao objetivo que traçamos e principalmente, esperamos
Atos Cooperativos.
que você tenha ficado por dentro do assunto.

Atividade de Estudos:

1) Falando-se em Ato Cooperativo, qual é a principal diferença entre


uma Sociedade Cooperativa e os demais tipos de sociedade,
como a Anônima e a Empresarial?
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2) Quais são os fatores que descaracterizam um Ato Cooperativo?


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3) Quanto ao Ato Cooperativo – existem alguns aspectos dentro


da existência de uma Sociedade Cooperativa que o tornam

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Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

característico e que são pontos comuns entre todos os autores.


Cite quais são os principais.
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4) Uma Cooperativa de Crédito efetua diversas transações com seus


associados. Desde a abertura de conta corrente, empréstimos,
venda de seguros, recebimentos de faturas de luz, água, telefone
e aplicações financeiras. Uma pessoa que é associada dessa
cooperativa efetua o pagamento de uma conta de telefone. Essa
transação é tratada como Ato Cooperativo? O que acontece com
a tarifa que a Cooperativa de Crédito recebe da concessionária?
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Depois de estudar Atos Cooperativos e Não Cooperativos, você já sabe que


a tributação atinge apenas os Atos Não Cooperativos, visto que eles não fazem
parte dos objetivos sociais das Sociedades Cooperativas. Você vai notar que o
título desse assunto é o Tratamento Tributário do Ato Cooperativo. Repetimos
o que está contido em toda a bibliografia que trata do assunto e, assim, vamos
analisar o que alguns autores falam a respeito do que a própria lei chama de
“Adequado tratamento tributário do Ato Cooperativo”.

157
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

O Tratamento Tributário do Ato


Cooperativo nas Cooperativas de
Crédito
Este é um assunto que tem sido debatido longamente por muitos autores que
tratam sobre Tributação ao longo dos anos. O I Simpósio de Brasileiro sobre a
Tributação de Cooperativas reuniu vários especialistas consagrados em Direito
Tributário e o resultado foi publicado por Grupenmacher organizadora (2001)
na obra, Cooperativas e Tributação, citada ao final desse Caderno. Becho
(1999) contribuiu expressivamente com sua obra Tributação das Cooperativas.
Muitos dos conceitos e ideias que vimos até agora são baseados nesses
autores. Porém como nosso interesse é voltado agora, especificamente, para
as Cooperativas de Crédito, utilizaremos principalmente a obra de Loredo de
Souza e Meinen (2010), que é a obra mais recente sobre o assunto e, certamente,
escrita com bastante propriedade. O primeiro é pós-graduado em Gestão de
Cooperativas, professor universitário e atua como Supervisor de Fiscalização no
Departamento de Supervisão de Cooperativas e de Instituições não bancárias do
Banco Central. O segundo, além de sua formação em Direito é Diretor-executivo
do Bancoob – Banco Cooperativo do Brasil.

As Cooperativas O Cooperativismo como um todo, certamente está num momento


de Crédito têm de inovação e crescimento. Em especial as Cooperativas de Crédito
aumentado sua têm aumentado sua participação no mercado financeiro e ao mesmo
participação no tempo agregado novos padrões de conduta como, por exemplo, a
mercado financeiro
Administração de Riscos e as Políticas de Governança. É fato que
e ao mesmo tempo
agregado novos a prática de operar com taxas de juros e tarifas mais atrativas para
padrões de conduta os cooperados contribui em muito para a uma maior eficiência das
como, por exemplo, Cooperativas de Crédito dentro do Sistema Financeiro Nacional.
a Administração de
Riscos e as Políticas Não podemos falar em Tratamento do Ato Tributário sem invocar
de Governança.
a Constituição Federal de 1988 que determina o “adequado tratamento
tributário do Ato Cooperativo”.

Vamos começar relembrando que o Ato Cooperativo é exercido pelo


cooperado e pela Sociedade Cooperativa na busca da realização de seus
objetivos sociais, sendo que se a Constituição dá proteção tributária à Sociedade
Cooperativa, não a estende de modo algum ao cooperado que também faz parte
do Ato Cooperativo.

Becho (1999), por exemplo, enfatiza que a lei preconiza essa adequação
ao tratamento tributário das cooperativas como se houvesse um “inadequado

158
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

tratamento tributário” dispensado às demais sociedades. O autor acrescenta,


ainda que, na verdade essa adequação seria dada pela Lei Complementar que o
Congresso Nacional deveria editar para regulamentar o que a Constituição previu.

Voltando a falar dos Princípios de Igualdade e da capacidade contributiva


que você viu no início desse Caderno de Estudos, Becho (1999, p. 137) alega que
baseado nesses parâmetros, o Direito Tributário, “veda uma tributação igual para
as associações objeto de nosso interesse, mas não garante uma imunidade”. Esse
é o motivo do Legislador ter determinado que uma Lei Complementar ajustasse
a tributação das cooperativas às suas peculiaridades. O autor considera ainda,
que além da desigualdade entre as Sociedades Cooperativas e as Sociedades
Comerciais, as primeiras são despidas de capacidade contributiva. Essa condição
é dada pelo fato de que o resultado positivo decorrente das operações das
cooperativas (oriundos de Atos Não Cooperativos) é destinado ao FATES.

Uma questão importante: Qual é o adequado tratamento que deve ser


concedido ao Ato Cooperativo? Grupenmacher (2001), disse a esse respeito, que
ao prometer “adequado” tratamento tributário ao Ato Cooperativo, o Legislador
nada concedeu. Outros juristas, ainda segundo a autora, acreditam que o Ato
Cooperativo deva ter um tratamento benéfico. Mas que esse benefício não tem
como ser viabilizado. Continua a autora ressaltando que a Constituição quer dizer
que “[...] o legislador deve então tratar de maneira diferente as cooperativas, ou
seja, a tributação das cooperativas tem que ser diferente da tributação concedida
a outras instituições” (GRUPENMACHER, 2001, p. 103).

Enquanto não houver uma Lei Complementar que institua critérios para
essa adequação, devem os Legisladores tanto nas esferas Federal, Estadual e
Municipal observar o que preconiza a Constituição Federal sobre o Adequado
Tratamento Tributário ao Ato Cooperativo, no entender de Loredo de Souza (2010,
p. 81).

Para concluir esse assunto, invocamos o parecer de Fábio Junqueira de


Carvalho e Maria Inês Gurgel (1997), citados por Souza e Meinen (2010, p. 90),
que referendam a importância e o cuidado que se deve ter em relação à tributação
dos Atos Cooperativos:

Infere-se, pois que o tratamento tributário reservado ao ato


cooperativo não pode nunca desencorajar ou desfavorecer
o cooperativismo, sob pena de se estar indo contra o
mandamento contido no art,174 da Carta Maior. E mais.
Determina a Constituição que o legislador cuide de dispensar
ao ato cooperativo tratamento tributário vantajoso, favorável,
propício, o que seria, na realidade, a confirmação do apoio e
estímulo merecido pelo cooperativismo, constitucionalmente
garantido no mencionado art. 174.

159
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Conclui o autor, que enquanto não houver uma Lei Complementar que
venha tratar exclusivamente da tributação das Sociedades Cooperativas, deverá
ser obedecida a Lei nº 5.764/71, ou seja, que o Ato Cooperativo não deve ser
tributado em nenhuma forma.

Atividade de Estudos:

1) As Sociedades Cooperativas possuem, o que o Direito tributário


conceitua como, capacidade contributiva? Por quê?
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2) Existe hoje, dentro da Legislação vigente, um adequado


tratamento tributário ao Ato Cooperativo? Por quê?
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Como você pode ver, esse é mais um tema que apresenta uma complexidade
e abrangência amplas. Deste modo, seria impossível abordarmos todos os
tributos a que estão sujeitas as Sociedades Cooperativas. Há livros inteiros
sobre o assunto e seria impraticável abordar um tema tão complexo em apenas
um capítulo. Pretendemos assim, discorrer sobre alguns temas que julgamos
importantes, lembrando sempre que é preciso consultar as normas e a legislação
em vigor, sempre que for necessário.

160
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Assim, passamos para o assunto seguinte que é o Modelo Tributário que


a própria Lei das Cooperativas instituiu e que como vimos anteriormente, é o
modelo que deve ser seguido.

a) O Modelo Tributário das Sociedades Cooperativas de Crédito sob a ótica


da Lei 5.764/71

A Lei 5.764/71 aponta diversos dispositivos que interferem diretamente sobre


a questão tributária. Vamos estudar esse modelo sob a ótica de Meinen (2010, p.
91-95), que nos oferece uma visão consolidada sobre o tema.

Começa o autor citando o mais importante dos artigos da Lei nº 5764/71. É o


artigo 3º. que traz o conceito de cooperativa: uma sociedade feita entre “pessoas
que se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma
atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro” (BRASIL ,1971)
.

Para ele dessa norma decorrem duas importantes constatações:

A cooperativa é um instrumento para a concretização ou


facilitação recíproca de natureza econômica
entre particulares (prática do mutualismo ou Outro artigo
solidarismo). analisado pelo
autor é o art. 5º que
Dessa troca não pode resultar vantagem ou
em seu parágrafo
desvantagem para os que dela participam. É
único veta o uso
um contrato essencialmente sinalagmático,
equilibrado, cujo nivelamento compete à do termo Banco
cooperativa (como ente formal e desinteressado). pelas Sociedades
Invoca o art. 4º. Inciso VII que institui como Cooperativas.
característica do empreendimento cooperativo A intenção clara
o retorno das sobras líquidas do exercício, do Legislador,
proporcionalmente à participação do associado pensando nas
(MEINEN, 2010, p. 91). Cooperativas de
Crédito, foi evitar
Outro artigo analisado pelo autor é o art. 5º que em seu parágrafo que estas fossem
único veta o uso do termo Banco pelas Sociedades Cooperativas. A confundidas
com bancos, de
intenção clara do Legislador, pensando nas Cooperativas de Crédito,
natureza comercial,
foi evitar que estas fossem confundidas com bancos, de natureza capitalista e que
comercial, capitalista e que visam ao lucro, características que não visam ao lucro,
são compatíveis com os ideais cooperativistas. características que
não são compatíveis
Note que essa diferenciação abrange inclusive o aspecto com os ideais
cooperativistas.
tributário, devendo ser observando sempre a natureza Cooperativista,
mesmo no caso de uma Cooperativa de Crédito.

161
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

O próximo artigo analisado por Meinen (2010, p. 92) é o artigo 79 que


trata especialmente de diferenciar o Ato Cooperativo dos atos meramente
comercialistas dos outros tipos de sociedade. Nesse ponto ele aborda justamente
os Atos Cooperativos dentro das Cooperativas de Crédito, que compreende: “tudo
que se relacionar com a prestação de serviços financeiros ou movimentação
financeira (captação de recursos, a concessão de crédito e a remuneração das
disponibilidades residuais mediante investimentos no mercado financeiro)”. Essas
atividades atendem perfeitamente os objetivos sociais de uma Cooperativa de
Crédito devendo ser enquadradas como Atos Cooperativos.

Analisando o artigo 111 que se refere exatamente ao dimensionamento da


prerrogativa que as cooperativas têm na área tributária, quando considera como
renda tributável “os resultados positivos obtidos pelas cooperativas nas operações
de que tratam os arts. 85, 86, 87 e 88”, que são:

Art. 85 – trata da aquisição de produtos de não associados, pelas


Cooperativas Agropecuárias e de Pesca, para complementar “lotes destinados ao
cumprimento de contratos ou suprir capacidade ociosas de instalações industriais
das cooperativas que as possuem”. Esse artigo não tem nenhuma influência sobre
as Cooperativas de Crédito.

Art. 86 – trata do fornecimento de bens e serviços a não associados, desde


que essa atividade atenda aos objetivos sociais da cooperativa e esteja em
conformidade com a legislação. As Cooperativas de Crédito estão subordinadas
às normas emitidas pelo Conselho Monetário Nacional, e, de acordo com a
Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010 (artigo 35, incisos I e II), “só podem
captar depósitos e conceder empréstimos junto ao seu quadro social, sendo
porém facultada a prestação de serviços (apenas essa atividade) a terceiros
(cobrança, seguros, cartão de crédito e outros)”.

Art. 87 - Esse artigo especifica que os resultados das operações realizadas


com terceiros serão contabilizados na conta do FATES e contabilizados a parte,
para que seja calculado o tributo incidente.

No caso das Cooperativas de Crédito seriam as receitas provindas das tarifas


de arrecadação de cobrança, convênios e prêmios de seguro, por exemplo.

Art. 88 – Autoriza as cooperativas a participar de sociedades que não sejam


cooperativas, para que possam melhor atender “seus próprios objetivos e de
outros de caráter acessório ou complementar (texto novo, decorrente da Medida
Provisória 1961)”.

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Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Há diversas iniciativas de participação de Cooperativas de Crédito em


outras empresas como em bancos cooperativos, que são regidos pela Lei das
Sociedades Anônimas; em empresas de informática e em corretoras de seguro
que são regidas pelo Novo Código Civil, entre outras. Sobre os dividendos e
receitas que provém dessas operações incidem os mesmos tributos das demais
pessoas jurídicas.

Voltando ao artigo 111, Meinen (2010, p. 94-95) afirma que:

pode–se, portanto, afirmar que as cooperativas de crédito


pagarão tributos UNICAMENTE (grifo do autor) sobre
os resultados positivos de prestação de serviços a não
cooperativados (art. 86) e sobre dividendos e outras
rendas decorrentes de suas participações societárias em
organizações não cooperativas (art.88).

Além disso, a combinação do artigo 111 com os demais preceitos que o autor
reproduziu sobre a tributação, até aqui, ele esclarece ainda os seguintes pontos:
As aplicações
• nenhum desses artigos traz referência que o Ato Cooperativo financeiras dos
está fora da incidência tributária. O tratamento diferenciado associados das
ocorre em função do resultado coletivo que a cooperativa traz, Cooperativas de
dando tratamento de isonomia de que trata o art. 150, II, da Crédito estão
sujeitas ao Imposto
Constituição Federal que versa que entre pessoas equivalentes
de Renda, pois
não pode haver distinção. E, é por isso que as aplicações recebem o mesmo
financeiras dos associados das Cooperativas de Crédito tratamento dos
estão sujeitas ao Imposto de Renda, pois recebem o mesmo clientes de outras
tratamento dos clientes de outras Instituições Financeiras. Instituições
Financeiras.

• Ainda de acordo com o parágrafo único do art. 167 do Decreto nº 3.000/99


(RIR), a imunidade, isenção ou não incidência de tributos concedidos às
pessoas jurídicas (como são as cooperativas) não estende esse benefício aos
que dela se beneficiam de qualquer título e forma.

Para terminar esse assunto, veremos qual é o tratamento tributário concedido


pela Súmula 262 do Supremo Tribunal de Justiça, em relação às aplicações
financeiras de sobra de caixa nas Sociedades Cooperativas.

Veja a Súmula 262 do STJ (BRASIL, 2011):

Súmula 262
Órgão Julgador
S1 - PRIMEIRA SEÇÃO
Data do Julgamento

163
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

24/04/2002
Data da Publicação/Fonte
DJ 07/05/2002 p. 204
RSSTJ vol. 20 p. 63
RSTJ vol. 155 p. 311
RT vol. 800 p. 214

Enunciado:
Incide o imposto de renda sobre o resultado das aplicações
financeiras realizadas pelas cooperativas.
Referência Legislativa
LEG: FED LEI: 005764 ANO: 1971
ART: 00079 ART: 00085 ART: 00086 ART: 00087 ART: 00088
ART: 00111
LEG: FED LEI: 007450 ANO: 1985
ART: 00034

Ao analisar o conteúdo desta Súmula, pode-se pensar que a sentença atinge


todos os ramos de cooperativas. O que não corresponde à verdade, basta ler este
comentário:

Segundo o entendimento do STJ, a aplicação de recursos


no mercado financeiro não se coaduna com os fins a que se
propõe a empresa cooperativa, vez que não é finalidade da
cooperativa a negociação de dinheiro. Convém acrescentar,
contudo, que nos precedentes da Súmula 262 não houve
em nenhum dos julgados exame de recurso referente a
cooperativa de crédito. Tratavam-se de demandas envolvendo,
em sua maioria, cooperativas de consumo e cooperativas
agropecuárias (PORTAL DO... 2011).

Além disso, as Cooperativas de Crédito não são atingidas pela Decisão da


Súmula 262 porque não se enquadram em nenhuma das quatro razões abaixo
citadas, que permitem a aceitação dos argumentos para a cobrança do Imposto
de Renda, conforme Meinen (2010, p. 95-96). São esses os argumentos:

• Os rendimentos obtidos nas aplicações financeiras


caracterizam especulação ou atividade de risco e é, portanto,
uma atividade que não condiz com o objeto social da
cooperativa;

• As receitas não se originam de Ato Cooperativo, de acordo


com o artigo 79 da Lei das Cooperativas;

• A Lei Tributária não possui interpretações que contemplem a


não incidência tributária sobre essa situação;

• A Lei 7.450/85 que é posterior à Lei 5.764/71, prevê que todas


as pessoas jurídicas, sem exceção, estão sujeitas ao Imposto
de Renda na fonte sobre os rendimentos de aplicações
financeiras.
164
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

O autor deixa ainda bem claro que essa tributação incide sobre o resultado
líquido final apurado (deduzidas as despesas correlacionadas ou aplicadas
proporcionalmente) e não simplesmente a receita atribuída pelo agente financeiro.

Todos esses preceitos são muito justos, você concorda? Terminamos assim,
de examinar quais são os normativos da Lei nº 5.764/71 e demais normas que
regulamentam a tributação dos Atos Cooperativos, especialmente no caso das
Cooperativas de Crédito. Desse modo, fica mais fácil você compreender e se
situar do que ocorre dentro do seu ambiente de trabalho.

Atividade de Estudos:

1) Meinen faz suas constatações sobre o conceito de Sociedade


Cooperativa: sinalagmático, que é um termo jurídico. Procure
pelo significado e escreva.
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2) Por que a Legislação proíbe que as Cooperativas de Crédito


utilizem a palavra “Banco” em sua denominação?
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3) Tratando-se de uma Cooperativa de Crédito, cite o que pode ser


considerado como Ato Cooperativo dentro de suas atividades.
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165
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Agora, vamos tratar de um assunto bastante interessante, e que contribui


muito para que você compreenda como uma Cooperativa de Crédito tem
semelhanças com as demais cooperativas, mas que existem distinções que se
tornam relevantes em especial no aspecto tributário das mesmas.

b) Semelhanças e distinções entre Cooperativas de Crédito e


cooperativas dos demais ramos

As cooperativas As Cooperativas de Crédito são regidas pela Lei 5.764/71 e pela


são diferentes entre Lei Complementar 130/09, pois são, de toda forma, uma espécie de
si, quando se trata cooperativa.
especialmente
do seu modo
As cooperativas são diferentes entre si, quando se trata
operacional, tendo
em vista que cada especialmente do seu modo operacional, tendo em vista que cada
tipo de cooperativa tipo de cooperativa tem seus propósitos e suas ações: isso as
tem seus propósitos torna inconfundíveis. Esse aspecto diferencial é definido através do
e suas ações: Estatuto Social da Cooperativa e em outros normativos oficiais que
isso as torna regulamentam a atividade e é o que se denomina OBJETO SOCIAL
inconfundíveis.
ou atividade essencial de cada cooperativa.

Exemplificando:

• Cooperativas de produtores rurais: a atividade essencial é trabalhar com


produtos agropecuários, fornecer insumos aos seus cooperados e receber a
produção dos cultivos e criatórios e comercializar os mesmos no mercado.
Algumas cooperativas podem agregar valor e converter essa matéria-prima
em processos agroindustriais, repassando sempre os ganhos para seus
associados/fornecedores. Nesses casos, a reunião desses produtores visa a
um maior poder de barganha e redução dos custos de produção.

Mas, agora, queremos apresentar o entendimento do Supremo Tribunal de


Justiça, quanto às decisões de tributar as aplicações financeiras das cooperativas
desse ramo, mesmo que se trate de sobras de caixa e ainda que essas aplicações
sejam eventuais, pois que essa atividade não é o propósito básico desse tipo
societário.

O benefício de não tributação ocorre somente em relação à receita decorrente


do que for concernente à produção, ainda que envolva negócios com terceiros –
seja na aquisição de insumos ou repasse de produção, que são chamados de
negócios-meio. Logo, as aplicações financeiras efetuadas por essa espécie de
cooperativa são tributadas normalmente, visto que essa não é sua atividade fim e
trata-se então, de um Ato Não Cooperativo.

166
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Evidentemente esse entendimento não se aplica as Cooperativas de Crédito,


já que as mesmas têm como negócio fim, ou pelo menos negócio-meio, a
negociação com dinheiro.

Mas é preciso lembrar que, na relação cooperativa-associado, quando de


uma aplicação financeira, existe sim o Imposto de Renda, que é retido quando
o associado faz o resgate de suas aplicações. Isso vale para as Cooperativas de
Crédito. Nas cooperativas dos demais ramos, como não faz parte de seus objetivos
as operações financeiras (como captação de recursos/aplicação financeira)
a retenção na fonte é apontada como solução. Nesse caso, as cooperativas
deveriam declarar ao fisco as sobras decorrentes das receitas obtidas com esse
tipo de operação.

A exigência de nova tributação sobre as Cooperativas de Crédito configura


duplicidade e, hipótese que é vedada na relação jurídico-tributária.

Segundo Meinen (2010, p. 99) a organização da sociedade


Existem hoje
através do cooperativismo (existem hoje cerca de 1.400 Cooperativas
cerca de 1.400
de Crédito no país, atendendo produtores rurais, médicos e outros Cooperativas
profissionais da saúde, magistrados e integrantes do ministério de Crédito no
público, advogados e outros profissionais autônomos, forças país, atendendo
policiais, federal e militar, trabalhadores de empresas privadas e produtores rurais,
de universidades, além de diversas fundações), é de fundamental médicos e outros
importância no Sistema Financeiro como um todo. Além de atuar sem profissionais da
a preocupação com o lucro, as Cooperativas de Crédito agregam saúde, magistrados
e integrantes do
renda aos seus associados e atuam como reguladoras das taxas de
ministério público,
juro. Com isso, ganham também os clientes dos bancos, que acabam advogados e
ajustando suas taxas e tarifas para baixo, no intuito de reaverem ou outros profissionais
manterem seus clientes. autônomos,
forças policiais,
Agora veja o que Schardong (2011), presidente do Banco federal e militar,
SICREDI S.A. em seu livro «Cooperativa de Crédito - Instrumento trabalhadores de
de Organização Econômica da Sociedade” relaciona como sendo as empresas privadas
e de universidades,
principais diferenças existentes entre as Cooperativas de Crédito e os
além de diversas
bancos tradicionais: fundações.

• As cooperativas de crédito são sociedades de pessoas e


não de capital, em que o poder de decisão está na efetiva
participação dos sócios e não na detenção de quotas de capital
social na instituição;

• As cooperativas de crédito têm como objetivo a captação e


administração de poupanças, empréstimos e prestação de
serviços aos cooperados, independentemente da ideia de,
como pessoa jurídica, obter vantagens para si, em detrimento
do resultado do sócio, este investido da dupla qualidade: de
associado e cliente das operações e dos serviços cooperativos;

167
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

• Suas operações estão restritas ao quadro associativo que é


constituído de pessoas físicas e jurídicas;

• Os resultados (sobras) são distribuídos entre os sócios,


proporcionalmente ao volume de operações que realizaram
durante o exercício;

• Nas Cooperativas o controle é democrático (1 pessoa = 1 voto)


enquanto que nos Bancos o controle é exercido a partir da
participação do capital;

• As relações obrigacionais entre sócios e cooperativas não


se confundem com a de fornecedor e consumidor, pois estas
são caracterizadas como atos cooperativos, com tratamento
próprio na legislação cooperativista;

• É vedada a transferência de quotas-partes (capital social) a


terceiros, enquanto que nos Bancos a transferência do capital
(ações) pode ser feita livremente (bolsas de valores);

• Sobre o resultado não incide tributação (Imposto de Renda e


Contribuição Social (CSSL)), em face da tributação se dar na
pessoa física do associado (PORTAL DO... 2011).

O Conselho Monetário Nacional, através do artigo 35


da Resolução 3.859/10, normatiza as atividades básicas das
Cooperativas de Crédito. Você pode ver o normativo completo
acessando o seguinte endereço eletrônico:

https://www3.bcb.gov.br/normativo/

Essa Resolução traz a exata configuração das Cooperativas de Crédito,


distinguindo-as das cooperativas dos demais ramos, principalmente no que
diz respeito à sua atuação no mercado financeiro, já que traz implícita em sua
natureza, lidar com dinheiro.

Outro normativo que regulamenta a não incidência de tributo sobre as


Cooperativas de Crédito é a Lei nº 8.981/95 que através do art. 77, inciso I,
que é contemplada também no Regulamento de Imposto de Renda – Decreto
nº 3.000/99, que diz não incidir Imposto de Renda na fonte ou em pagamento
separado, nas aplicações financeiras de titularidade das Instituições Financeiras.
E a Cooperativa de Crédito, atuando como Instituição Financeira que de fato
é, está, portanto coberta por esta norma. Essa é mais uma peculiaridade das
Cooperativas de Crédito que as torna diferentes das demais cooperativas de
outros ramos.

168
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

Bem, acreditamos que ficou bem claro que as Cooperativas de Crédito


são mesmo bastante distintas das cooperativas dos demais ramos. Essa
comparação teve o intuito de demonstrar que a atividade financeira desse tipo
de cooperativa, faz com que as aplicações financeiras sejam tratadas como
Ato Cooperativo, quando o mesmo não acontece nas cooperativas dos demais
ramos.

Apenas para retomar um assunto que ficou pendente no início desse


capítulo, voltamos a falar sobre “capacidade contributiva” das Cooperativas de
Crédito. Meinen (2010, p. 107) deixa bastante claro que “as Cooperativas de
Crédito existem unicamente para otimizar o resultado de seus associados. Agindo
em nome desse grupo como mera representante ela não detém desse modo
capacidade contributiva: ela age sempre em nome e em prol de seus associados,
não em benefício próprio e, portanto, não é dela que se deve exigir a tributação”.

Com isso chegamos ao final desse capítulo. São muitas informações não
é mesmo? Queremos, então, propor alguns exercícios, pois assim, você pode
fixar melhor os conteúdos apresentados, enquanto relê o texto e escreve seus
comentários.

Atividade de Estudos:

1) Onde podemos encontrar a diferença primordial entre as


diferentes espécies de cooperativas?
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2) Qual é a importância das Cooperativas de Crédito junto ao


Sistema Financeiro Nacional?
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169
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

3) Além de todas as diferenças entre as Cooperativas de Crédito e


as cooperativas dos demais ramos citadas por Schardong, existe
uma em especial que também regulamenta a não incidência
do Imposto de Renda sobre as aplicações financeiras das
Cooperativas de Crédito. Comente.
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Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao final desse capítulo e esperamos ter esclarecido suas
dúvidas da melhor maneira possível. Sabemos que a Tributação das Sociedades
Cooperativas é um tema complexo e que exigiu de você muita atenção.
Apresentamos primeiramente alguns aspectos da Tributação das Cooperativas
de forma Geral para depois falar de forma específica sobre as Cooperativas de
Crédito. Não esgotamos de forma nenhuma todos os aspectos que envolvem a
Legislação Tributária das Cooperativas de Crédito. Poderíamos dispender para
isso de muitos capítulos, visto que é um assunto que tem seus defensores e está
sempre em pauta, quer pelo fisco ou pela própria cooperativa e seu entorno.

Escolhemos dar ênfase à distinção do Ato Cooperativo e não Cooperativo


que é a base para a tributação das Sociedades Cooperativas. Buscamos a maior
diversidade de autores possível, para enriquecer esse conceito e apresentamos
também algumas decisões do Superior Tribunal de Justiça que tira as dúvidas
suscitadas nos questionamentos a que são levadas as Sociedades Cooperativas.

Também procuramos exemplificar tanto os Atos Cooperativos quanto os


Não Cooperativos, buscando apresentar da forma mais real possível como são
tratados dentro das Sociedades Cooperativas quanto sob a ótica legal.

Veja que em seguida apresentamos o Tratamento Tributário do Ato


Cooperativo nas Sociedades Cooperativas de Crédito, para que você tivesse

170
Capítulo 4 LEGISLAÇÃOTRIBUTÁRIAAPLICADAÀSCOOPERATIVASDECRÉDITO

uma visão bem específica, já que o objetivo principal de seus estudos eram
as Cooperativas de Crédito. Não poderíamos ter feito diferente, porque nosso
objetivo é tornar a teoria mais próxima da sua vivência profissional.

Buscamos também uma abordagem que a própria Lei das Cooperativas faz a
respeito da tributação a que devem se submeter às Sociedades Cooperativas de
Crédito. Afinal, é essa lei que dá vida às cooperativas, e embora o próprio Código
Civil em sua nova versão tenha feito algumas alterações, há o entendimento
de que a própria Lei Cooperativa contém os normativos que regulamentam a
tributação das mesmas.

Ao final, apresentamos alguns aspectos do objetivo social das Sociedades


Cooperativas, tanto as de Crédito quanto as demais, para exemplificar sua
distinção quanto a forma de tributação.

Assim sendo, desejamos que você tenha o melhor entendimento possível


sobre os Aspectos Tributários das Sociedades Cooperativas, especialmente as
de Crédito. Afinal esse é um aspecto muito importante quando se fala de Gestão
e sua eficácia. E, lembre-se: é preciso estar sempre de olho nas mudanças que
ocorrem nas Leis, normativos e também sobre as decisões judiciais que sempre
esclarecem ou ratificam o entendimento dos mesmos.

ReFerÊncias
BECHO, Renato Lopes. Tributação das Cooperativas. São Paulo: Dialética,
1997.

BRASIL. Súmula 262 do Supremo Tribunal de Justiça. Disponível em <http://


www.jusbrasil.com.br/topicos/2329784/sumula-262-stj>. Acesso em 29 set. 2011.

FUHRER, Maximiliano. Resumo de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros


Editores, 2006.

GRUPENMACHER, Betina Treiger. (Coordenadora). Cooperativas e Tributação.


Curitiba: Juruá, 2001.

LOREDO DE SOUZA, João Batista; MEINEN, Ênio. Cooperativas de Crédito:


Gestão Eficaz – Conceitos e práticas para uma administração de sucesso.
Brasília: Gráfica Coronário, 2010.

171
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

MEINEN, Enio. Cooperativas de crédito: gestão eficaz – conceitos e práticas


para uma administração eficaz. Brasília: Confebrás, 2010.

POLONIO, Wilson Alves. Manual das Sociedades Cooperativas. 2. Ed. São


Paulo: Atlas, 1999.

PORTAL DO CORPORATIVISMO DE CRÉDITO. O ato Cooperativo. Disponível


em <http://www.cooperativismodecredito.com.br/AtoCooperativo.html>. Acesso
em 10 dez. 2011.

SCHARDONG, Ademar. Diferenças entre as cooperativas de crédito e


os bancos. Disponível em <http://www.cooperativismodecredito.com.br/
DiferencasentreasCooperativaseosBancos.html>. Acesso em 29 set. 2011.

YOUNG, Lucia Helena Briski. Sociedades Cooperativas: Resumo Prático. 7 ed.


Curitiba: Juruá, 2007.

172
C APÍTULO 5
Legislação Complementar e
Resolução do Banco Central

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

� Conhecer as contribuições que a Lei Complementar nº 130/09 trouxe ao


Cooperativismo de Crédito e sua aplicação.

� Conhecer a Resolução nº 3.859 do Banco Central e sua contribuição ao


Cooperativismo de Crédito.
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

174
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

ConteXtualiZação
A promulgação da Lei Complementar nº 130/09 trouxe ao Cooperativismo de
Crédito um avanço de grandes proporções ao setor.

A Lei do Cooperativismo, Lei nº 5.764/71, que sofreu algumas alterações


com o Novo Código Civil de 2002, necessitava de uma norma que ampliasse a
compreensão jurídica e administrativa que, até então, não existia.

Além disso, o Cooperativismo de Crédito tornou-se um referencial no


Sistema Financeiro, ao tornar-se o primeiro segmento que conquistou sua Lei
Complementar. O setor ganhou muito, pois a partir de sua edição, qualquer
pronunciamento legal, administrativo, judicial e de gestão terá a Lei nº 130/09
como referencial.

A partir dessa conquista, as Cooperativas de Crédito foram


O Cooperativismo
incluídas no Sistema Financeiro Nacional que as coloca no mesmo de Crédito tornou-se
nível das demais Instituições Financeiras. Na verdade criou o Sistema um referencial no
Nacional de Crédito Cooperativo. E, embora as Cooperativas de Sistema Financeiro,
Crédito já obedecessem às normas gerais do Banco Central aplicadas ao tornar-se o
ao Sistema Financeiro Nacional, a Lei nº 130/09 trouxe ao setor a primeiro segmento
que conquistou sua
regulamentação específica e a segurança jurídica pelo atendimento
Lei Complementar. O
às especificidades do setor, indispensável ao seu funcionamento, setor ganhou muito,
conforme notícia publicada na página de notícias do Portal de pois a partir de sua
Cooperativismo de Crédito. Ela também subordinou as Cooperativas edição, qualquer
de Crédito às normas do Conselho Monetário Nacional, bem como ao pronunciamento
Banco Central. legal, administrativo,
judicial e de gestão
terá a Lei nº 130/09
Esse capítulo será construído para que você saiba quais foram como referencial.
as contribuições que a Lei Complementar nº 130/2009 trouxe ao
Cooperativismo de Crédito e sua aplicação.

Você também vai conhecer a Resolução nº 3.859/2010 do Banco Central que


regulamentou a forma como são constituídas e como funcionam as Cooperativas
de Crédito, como são feitas as alterações nos seus estatutos e como é cancelada
a autorização para o funcionamento dessas instituições.

Vamos começar pela análise de alguns aspectos sobre o estudo das leis
para que você compreenda por que a Lei nº 5.764/71 continua em vigor naquilo
que não coincidir com a nova lei.

175
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

HermenÊutica e suas ImplicaçÕes


Sobre as Leis nº 5.764/71 e
Complementar nº 130/09
A hermenêutica No início desse Caderno, você viu que hermenêutica, no Direito
não se confunde é uma técnica específica que visa compreender a aplicabilidade da
com interpretação: lei. A hermenêutica não se confunde com interpretação: enquanto a
enquanto a interpretação é uma aplicação da hermenêutica, esta descobre e fixa
interpretação é os princípios daquela, segundo Maximiliano (1988).
uma aplicação da
hermenêutica, esta
descobre e fixa os Veja o que o autor, considerado um dos principais doutrinadores
princípios daquela, sobre hermenêutica, fala ainda a esse respeito:
segundo Maximiliano
(1988). As leis positivas são formuladas em termos gerais; fixam
regras, consolidam princípios, estabelecem normas, em
linguagem clara e precisa, porém ampla, sem descer à
minúcias. É tarefa primordial do executor a pesquisa da
relação entre o texto abstrato e o caso concreto, entre a
norma jurídica e o fato social, isto é, aplicar o Direito. Para
o conseguir, se faz mister um trabalho preliminar: descobrir e
fixar o sentido verdadeiro da regra positiva; e, logo depois, o
respectivo alcance e extensão (MAXIMILIANO, 1988, p. 40).

Meinen (2010 apud ROCHELLY, 2011), quando aborda sobre hermenêutica


e aplicação do direito, cita alguns dos métodos ou processos que a doutrina
contemporânea utiliza:

• O Histórico-Evolutivo: ensina que diante da impossibilidade de


alterar com intervalos breves os textos positivados (pense no
tempo de tramitação dos projetos no Congresso Nacional…),
adapta-se o Direito, pela interpretação, às exigências sociais
imprevistas, às variações sucessivas do meio. O intérprete
não cria prescrições, nem posterga as existentes; deduz nova
regra, para um caso concreto, do conjunto das disposições
vigentes, consentâneas com o progresso geral.

• O Teleológico: pressupõe a interpretação conforme o fim


estimado pelo dispositivo ou pelo Direito em geral.

• O Sociológico: cujo sistema leva o juiz a aplicar o texto de


acordo com as necessidades da sociedade contemporânea.

• O Sistemático: que consiste em comparar o dispositivo


interpretado com outros do mesmo diploma ou de leis
diferentes que possam ter relação com a mesma matéria.
Esse processo parte do pressuposto de que o Direito constitui
uma pontualmente por diferentes expedientes no tempo.

176
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

Assim, a análise deve ser sempre sistêmica, global, para que


se apreenda o verdadeiro sentido de cada oração, expressão
ou simples vocábulo.

Esses conceitos servem para situá-lo dentro do contexto jurídico em que


acontece o uso da hermenêutica para elucidar o texto da lei. Vamos agora
conhecer algumas características da hermenêutica apresentadas por Pereira
(2011), que são:

• A busca do significado e alcance das normas jurídicas.


Permite ao intérprete encontrar a solução mais adequada para
aplicação do Direito e fornecer-lhe argumentos “válidos” para
sustentar sua decisão. É o argumento gramatical.

• A análise deve envolver todos os princípios contidos na norma,


e não apenas um isoladamente. Quase sempre a doutrina fala
em métodos, processos, elementos ou formas de interpretação,
para referir-se às ferramentas hermenêuticas.

• Todo fato e lei são passíveis de interpretação, considerando


tratar-se de fenômenos sociais e jurídicos. A compreensão
dos sistemas de ideias àrespeito da interpretação do Direito
pressupõe alguma noção sobre a evolução da história do
Direito.

• Na análise do texto legal, busca-se conhecer o sentido que ele


expressa. Tenta-se encontrar para o texto, um sentido que faça
sentido, de acordo com o argumento lógico.

• Manifesta-se pela linguagem, e com ela constrói um mundo de


interpretação.

Sobre o trabalho do aplicador do Direito, especialmente do juiz, divide-se em


duas partes:

• descobrir a solução legal adequada para o caso;

• convencer um determinado auditório de que a solução


escolhida pelo intérprete-aplicador é mesmo adequada;

• é quando entra a Hermenêutica Jurídica, pois, é através


dela que se dá a compreensão do sentido que tem a norm
(PEREIRA, 2011).

Agora, veja o posicionamento de Meinen (2010 apud ROCHELLY, 2011) a


respeito da hermenêutica, da Lei Complementar nº 130/09 e Lei nº 5.764/71:

• A hermenêutica nos dá conta de que mesmo com a


promulgação da Lei nº 130/2009, a Lei nº 5.764/71 não deixou
de ser importante para o meio cooperativista e nem mesmo foi
por ela revogada.
177
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

• Também é matéria da hermenêutica buscar a convivência


ou a convergência das leis que foram promulgadas em
momentos diferentes, por exemplo: Decreto-lei nº 4.657/42
– LICC, art. 2º… §1º A lei posterior revoga a anterior quando
expressamente o declare, quando seja com ela incompatível
ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei
anterior. §2º A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou
especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a
lei anterior.

A interpretação Além disso, é importante para o autor, buscar através da


literal ou gramatical hermenêutica o real significado da Lei Complementar, ou seja, quais
da norma jurídica são suas metas, seus fins e objetivos. A leitura de um artigo, parágrafo
é apenas um
ou inciso de forma isolada podem não ter o sentido completo que teria
dos meios de se
buscar o sentido caso fosse analisado todo o texto da lei. Ele também lembra que é
e o alcance da necessário que os juristas e Legisladores alinhem o sentido da lei
mesma: o que não aos valores do presente, afinal nem sempre o Legislador é capaz
pode é o aplicador de atualizar os textos legais com presteza. A interpretação literal ou
da lei (autoridade gramatical da norma jurídica é apenas um dos meios de se buscar o
pública ou agente
sentido e o alcance da mesma: o que não pode é o aplicador da lei
particular) basear-se
unicamente nesse (autoridade pública ou agente particular) basear-se unicamente nesse
método. método.

Em síntese, quando lidamos com a LC 130 – a nossa


referência na seara legal do cooperativismo de crédito -,
não podemos ser econômicos ou por demais apressados
na busca das soluções, nem invocar a (pouco simpática)
“discricionariedade”. Devemos olhar para a Constituição
Federal, notadamente para o seu art. 174, §2º; para os
princípios e valores do cooperativismo; para a repercussão
social desta ou daquela interpretação; para os efeitos
práticos da solução – o quanto é benéfica ou o quanto pode
ser nociva/iníqua ou trazer transtornos para os destinatários.
Enfim, devemos sempre empregar o sentido que mais se
aproxime do “apoio e do estímulo ao cooperativismo” o
que, por feliz coincidência, rima com justiça social, com
aspirações de cidadania! (MEINEN 2010 apud ROCHELLY,
2011).

“Os operadores do Direito têm a missão de adoçar, pelo calor do sentimento,


o duro metal das leis, a fim de melhor o adaptar à vida, à realidade humana” –
Calamandrei, jurista italiano (MEINEN, 2011).

Achamos necessário fazer uma introdução à hermenêutica para que você


tenha noção de sua importância ao estudarmos uma lei e leis complementares
que a modificam. Nesse caso estamos estudando agora a Lei Complementar nº
130/09 que introduziu algumas modificações na Lei nº 5.764/71, onde não há
incompatibilidade e estabeleceu outras disposições sobre matéria já editada na lei
178
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

anterior, porém não revogou nem modificou a mesma em sua essência.

Vimos também que é muito importante analisar uma lei em toda a sua
extensão, não se prendendo apenas a um ou outro artigo para que não se tenha
uma compreensão equivocada da mesma. E que cabe aos legisladores, juristas
e juízes encarregados de analisar as contendas judiciais, usar a hermenêutica
no sentido de dar à lei o sentido mais próximo da realidade em que ela esteja
inserida e não usar apenas a interpretação literal ou gramatical da mesma.

Vamos fazer um breve exercício para que você possa recordar o conteúdo
que vimos até agora.

Atividade de Estudos:

1) De acordo com o texto, diga com suas palavras o que você


compreendeu sobre hermenêutica?
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2) Qual é a influência da hermenêutica quando se fala nas Leis nº


5.764/71 e a Lei complementar nº 130/09?
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Não queremos nos estender na definição desta ciência, apenas buscamos


colocar você a par desses conceitos, apresentando os processos que são
utilizados atualmente no Direito para a aplicação da hermenêutica e a
descrição de algumas de suas características. O objetivo dessa introdução
é para que você possa compreender que as leis têm uma orientação formal
dentro do meio jurídico. A hermenêutica serve para que as leis tenham uma
compreensão sistêmica dentro de todo o contexto e finalidade para que foram
elaboradas.

179
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Visto isso, vamos apresentar as grandes adições que a Lei Complementar


130/09 trouxe ao Cooperativismo de Crédito.

As ContribuiçÕes da Lei nº 130/09 ao


Cooperativismo de Crédito
A primeira contribuição da Lei nº 130/09 ao Cooperativismo de
A primeira
contribuição da Crédito é o reconhecimento da existência do Sistema de Crédito
Lei nº 130/09 ao Cooperativo, dando a ele caráter institucional e inserindo-o no Sistema
Cooperativismo Financeiro Nacional. Para Meinen (2010, p. 48) esse reconhecimento,
de Crédito é o jamais esperado, dado ao setor de crédito cooperativo, possibilita uma
reconhecimento conveniente integração vertical e horizontal do mesmo.
da existência do
Sistema de Crédito
Cooperativo, O que é a integração vertical e horizontal?
dando a ele caráter
institucional e É uma integração político-administrativo-operacional entre
cooperativas de primeiro e segundo graus com vínculo de
inserindo-o no
filiação (sistema de dois níveis) ou entre cooperativas de
Sistema Financeiro
primeiro, segundo e terceiro graus, filiadas entre si (sistema
Nacional. de três níveis), conectadas ainda com outras entidades ou
empresas controladas por cooperativas de crédito, com
funções complementares e/ou especializadas, de natureza
financeira ou não, como é o caso de bancos cooperativos, das
corretoras de seguros, das administradoras de consórcios,
administradoras de recursos de terceiros, DTVMs, das
entidades fundacionais e dos fundos garantidores (MEINEN,
2010, p. 48).

A Lei Complementar nº 130/2009, permite através de vários de seus


dispositivos que as Cooperativas de Crédito em seus diversos níveis, possa se
organizar em sistemas verticalizados, ou seja, não apenas nos seus dois ou
três níveis associativos, mas também incluídas as outras entidades não
cooperativas, mas que pertencem às Cooperativas de Crédito.

Vamos olhar detalhadamente o que cada artigo da Lei Complementar 130/09


introduziu no Cooperativismo de Crédito? Todas as considerações e comentários
efetuados sobre esse normativo têm como base o livro “Cooperativismo de
Crédito – Gestão Eficaz” de Loredo de Souza (2010, p. 47-70) especialmente do
capítulo destinado à análise da Lei complementar sob a ótica de Meinen (2007
apud LOREDO de SOUZA, 2010).

Os Artigos 1º e 2º remetem as Cooperativas de Crédito à Lei do Sistema


Financeiro Nacional (Lei 4.595/94) e à própria Lei Cooperativista (Lei 5.764/71),

180
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

resguardando a competência regulamentar do Conselho Monetário Nacional


e a Supervisão do Banco Central do Brasil. Entretanto, essas leis somente são
aplicadas quando a Lei Complementar não apresentar solução.

A Lei Cooperativista prevalece, sobretudo, quanto aos aspectos societários,


trabalhistas e tributários.

Art. 1o As instituições financeiras constituídas sob


Art. 1o As
a forma de cooperativas de crédito submetem-
se a esta Lei Complementar, bem como à instituições
Legislação do Sistema Financeiro Nacional - financeiras
SFN e das Sociedades Cooperativas. constituídas
sob a forma de
§ 1o As competências legais do Conselho cooperativas de
Monetário Nacional - CMN e do Banco Central crédito submetem-
do Brasil em relação às instituições financeiras se a esta Lei
aplicam-se às Cooperativas de Crédito. Complementar,
bem como à
§ 2o É vedada a constituição de Cooperativa
Legislação do
Mista com seção de crédito. (BRASIL, 2009).
Sistema Financeiro
Nacional - SFN e
O Artigo 2º equipara as Cooperativas de Crédito às demais das Sociedades
instituições de crédito tradicionais, garantindo seu acesso a todos os Cooperativas.
instrumentos do mercado financeiro, o que permite que sejam a única
instituição de crédito de seus associados. Os parágrafos são autoexplicativos,
não necessitando comentários.

Art. 2o As cooperativas de crédito destinam-


Art. 2o As
se, precipuamente, a prover, por meio da
cooperativas de
mutualidade, a prestação de serviços financeiros
a seus associados, sendo-lhes assegurado o crédito destinam-
acesso aos instrumentos do mercado financeiro. se, precipuamente,
a prover, por meio
§ 1o A captação de recursos e a concessão da mutualidade,
de créditos e garantias devem ser restritas a prestação de
aos associados, ressalvadas as operações serviços financeiros
realizadas com outras instituições financeiras a seus associados,
e os recursos obtidos de pessoas jurídicas, em sendo-lhes
caráter eventual, a taxas favorecidas ou isentos assegurado
de remuneração.
o acesso aos
instrumentos do
§ 2o Ressalvado o disposto no § 1o deste artigo,
é permitida a prestação de outros serviços de mercado financeiro.
natureza financeira e afins a associados e a não
associados.

§ 3o A concessão de créditos e garantias a integrantes de


órgãos estatutários, assim como a pessoas físicas ou jurídicas
que com eles mantenham relações de parentesco ou negócio,
deve observar procedimentos de aprovação e controle
idênticos aos dispensados às demais operações de crédito.

181
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

§ 4o A critério da assembleia geral, os procedimentos a que se


refere o § 3o deste artigo podem ser mais rigorosos, cabendo-
lhe, nesse caso, a definição dos tipos de relacionamento
a serem considerados para aplicação dos referidos
procedimentos.

§ 5o As cooperativas de crédito, nos termos da legislação


específica, poderão ter acesso a recursos oficiais para o
financiamento das atividades de seus associados. (BRASIL,
2009).

O Artigo 3º é na verdade uma extensão do parágrafo 2º. do artigo 2º. retro


citado e que abre a possibilidade de as Cooperativas de Crédito atuarem em
nome de outras instituições (financeiras ou não) para a prestação de serviços a
associados ou não.

Art. 3o As Art. 3o As cooperativas de crédito podem atuar em nome e por


cooperativas de conta de outras instituições, com vistas à prestação de serviços
crédito podem financeiros e afins a associados e a não associados. (BRASIL,
2009).
atuar em nome e
por conta de outras
instituições, com O próximo artigo é perfeitamente alinhado à Constituição Federal
vistas à prestaçãoque dá direito à plena associação. E também corrobora com a
de serviços Resolução 3.859/2010 que libera a formação do quadro de associação
financeiros e afins acom qualquer segmento socioeconômico. Já em seu parágrafo único,
associados e a não
veta o ingresso de pessoas jurídicas de direito público, pelos riscos
associados.
que o relacionamento financeiro entre cooperativa e poder público
podem oferecer.

Art. 4o O quadro social das cooperativas de crédito, composto


Art. 4o O quadro de pessoas físicas e jurídicas, é definido pela assembleia
social das geral, com previsão no estatuto social.
cooperativas de
crédito, composto Parágrafo único. Não serão admitidas no quadro social
de pessoas físicas e da sociedade cooperativa de crédito pessoas jurídicas que
jurídicas, é definido possam exercer concorrência com a própria sociedade
pela assembleia cooperativa, nem a União, os Estados, o Distrito Federal e os
geral, com previsão Municípios bem como suas respectivas autarquias, fundações e
no estatuto social. empresas estatais dependentes. (BRASIL, 2009).

Já o Artigo 5º. trata da governança corporativa dentro das Cooperativas


de Crédito, criando uma alternativa para a composição da diretoria executiva.
Visa primordialmente segregar a direção estratégica, atribuída ao conselho de
administração, da gestão executiva, própria da diretoria executiva. Por outro
lado, admite o ingresso de profissionais do mercado, que, além, de flexibilizar a
composição do corpo executivo das Cooperativas de Crédito, permite uma melhor
qualificação deste.

182
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

Art. 5o As cooperativas de crédito com


conselho de administração podem criar diretoria Art. 5o As
executiva a ele subordinada, na qualidade cooperativas
de órgão estatutário composto por pessoas de crédito com
físicas associadas ou não, indicadas por aquele conselho de
conselho. (BRASIL, 2009). administração
podem criar diretoria
executiva a ele
subordinada, na
Segundo Meinen (2010, p. 54-55) veja quais os formatos de
qualidade de órgão
composição que podem assumir os órgãos de administração das estatutário composto
cooperativas: por pessoas físicas
associadas ou não,
1 – cooperativa administrada por conselho de indicadas por aquele
administração, com designação de membros conselho.
(normalmente o próprio presidente e/ou vice-
presidente do colegiado) para o exercício de funções
executivas, todos associados eleitos em assembleia geral
(modelo decorrente de interpretações dadas à Lei nº 5.764/71);

2- cooperativa administrada por diretoria executiva formada


apenas por associados eleitos em assembleia geral (modelo
igualmente previsto na Lei nº 5.764/71);

3- cooperativa administrada por conselho de administração,


composto de associados eleitos em assembleia geral, e
diretoria executiva, formada, alternativa ou cumulativamente,
por associados (inclusive componentes do próprio conselho de
administração) ou terceiros (profissionais do mercado), ambos
designados pelo conselho de administração.

O Artigo 6º alterou o tempo de mandato dos colhereiros fiscais que pela Lei
nº 5.764/71 era de apenas um ano, devendo-se ainda escolher pelo menos um
novo conselheiro suplente e um efetivo, podendo ser reeleitos quatro membros
do mandato anterior. Anteriormente, sob a vigência da Lei Cooperativista eram
reeleitos apenas um conselheiro efetivo e um suplente, ou seja, os outros quatro
eram substituídos (são previstos seis membros para o conselho fiscal – três
efetivos e três suplentes, todos associados da cooperativa). Art. 6º O mandato
dos membros do
Art. 6o O mandato dos membros do conselho
fiscal das cooperativas de crédito terá duração de
conselho fiscal das
até 3 (três) anos, observada a renovação de, ao cooperativas de
menos, 2 (dois) membros a cada eleição, sendo crédito terá duração
1 (um) efetivo e 1 (um) suplente. (BRASIL, 2009). de até 3 (três)
anos, observada
a renovação de,
A Lei Cooperativista já restringia a remuneração ao capital
ao menos, 2 (dois)
integralizado, que era fixada em 12% ao ano. Assim, o Artigo 7º. membros a cada
mudou apenas a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e eleição, sendo 1
Custódia (SELIC). (um) efetivo e 1 (um)
suplente.

183
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Art. 7o É vedado distribuir qualquer espécie de benefício às


quotas-parte do capital, excetuando-se remuneração anual
limitada ao valor da taxa referencial do Sistema Especial
de Liquidação e de Custódia - Selic para títulos federais.
(BRASIL, 2009).

O Artigo 8º apenas reitera o artigo 4º. Inciso VII da Lei nº 5.764/71, sobre a
proporcionalidade da distribuição de sobras e o rateio de perdas.

Art. 8o Compete à assembleia geral das cooperativas de


crédito estabelecer a fórmula de cálculo a ser aplicada na
distribuição de sobras e no rateio de perdas, com base
nas operações de cada associado realizadas ou mantidas
durante o exercício, observado o disposto no art. 7o desta Lei
Complementar. (BRASIL, 2009).

A faculdade da Assembleia Geral decidir pela compensação das eventuais


perdas do exercício findo, com as sobras dos exercícios futuros, preceituado pelo
Artigo 9º, está sujeito ao menos por uma condição e uma providência, segundo
Meinen (2010, p. 58, grifos nossos):

A condição: até que o CMN (Conselho Monetário


Nacional) não fixe outras a teor do inciso VIII do art.
12 da mesma lei – é de que a cooperativa mantenha
estrutura patrimonial para atender aos limites
operacionais e outros previstos na regulamentação
vigente (PR necessário para suportar as imobilizações,
a carteira de ativos ponderados pelo risco, as alocações
por mutuário/concentrações permitidas nas operações
de crédito e, ainda, os efeitos dos riscos de crédito,
operacional e de mercado e liquidez). Se com as perdas,
o PR tornar-se insuficiente, é necessário reconstituí-lo,
iniciando pelo rateio imediato das perdas.

Já a providência (prevista no parágrafo único do artigo


9º) diz respeito ao controle que a cooperativa precisa ter
sobre a parcela de rateio que caberia a cada associado,
caso esse rateio fosse ou tivesse de ser levado a efeito.
Quando da compensação com as sobras futuras, o
correto, uma vez que haja o citado controle, é fazer um
encontro entre os valores representativos do crédito
(parcela de sobra) e do débito (parcela de da perda
deferida) de cada associado. Cumpre, ainda, assinalar,
que havendo sobras suficientes para cobrir a totalidade
das perdas remanescentes, ainda que seja no primeiro
exercício seguinte, não se pode parcelar a recuperação
das perdas (a absorção tem que ser integral).

A possibilidade de compensação das perdas com sobras dos exercícios


seguintes só se aplica aos associados ativos. Para os demais (demitidos,
eliminados ou excluídos) a compensação dever ser feita por ocasião da restituição
do seu Capital Social, dentro do que prevê o estatuto social. Se houver saldo
184
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

devedor sobre essa restituição, devem-se adotar as providências de cobrança


que couber.

Art. 9o É facultado às cooperativas de crédito, Art. 9º É facultado


mediante decisão da assembleia geral,
às cooperativas de
compensar, por meio de sobras dos exercícios
seguintes, o saldo remanescente das perdas
crédito, mediante
verificadas no exercício findo. decisão da
assembleia geral,
Parágrafo único. Para o exercício da faculdade compensar, por
de que trata o caput deste artigo, a cooperativa meio de sobras
deve manter-se ajustada aos limites de dos exercícios
patrimônio exigíveis na forma da regulamentação seguintes, o saldo
vigente, conservando o controle da parcela remanescente das
correspondente a cada associado no saldo das perdas verificadas
perdas retidas. (BRASIL, 2009). no exercício findo.

A permissão de resgate parcial das quotas parte já era contemplada pela


Resolução nº 3.442/07 do CMN (Conselho Monetário Nacional) e o artigo 10
apenas confirma essa situação. Porém devem-se observar duas condições:

• 1ª) A cooperativa deve estar enquadrada nos níveis de patrimônio exigíveis na


forma da regulamentação vigente;

• 2ª) Deve haver deliberação específica do conselho de administração, ou


na sua ausência, da diretoria, autorizando o resgate, respeitada as regras
previstas pelo estatuto social.

Art. 10. A restituição de quotas de capital Art. 10. A restituição


depende, inclusive, da observância dos limites de de quotas de capital
patrimônio exigíveis na forma da regulamentação depende, inclusive,
vigente, sendo a devolução parcial condicionada,
da observância dos
ainda, à autorização específica do conselho de
administração ou, na sua ausência, da diretoria.
limites de patrimônio
(BRASIL, 2009). exigíveis na forma
da regulamentação
Fica estendido para o cooperativismo de crédito, o princípio de vigente, sendo a
devolução parcial
proporcionalidade para fins de apreciação dos votos das filiadas nas
condicionada,
centrais e suas confederações. Essa possibilidade já era concedida
ainda, à autorização
aos demais ramos de Cooperativismo. Isso quer dizer que o Estatuto específica do
das Cooperativas Centrais e Confederações poderá prever que o conselho de
poder de voto das Cooperativas Singulares seja proporcional ao administração ou,
número de seus associados e os das Centrais, seja proporcional ao na sua ausência, da
número de singulares de cada Cooperativa Central. Vamos ver o que diretoria.
diz o artigo 11:

Art. 11. As cooperativas centrais de crédito e suas


confederações podem adotar, quanto ao poder de voto das
filiadas, critério de proporcionalidade em relação ao número de

185
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

associados indiretamente representados na assembleia geral,


conforme regras estabelecidas no estatuto. (BRASIL, 2009).

Esse artigo com seus oito incisos, trata de maneira particular sobre a
competência normativa e de supervisão do CMN (Conselho Monetário Nacional) e
do BACEN (Banco Central do Brasil), relativo às Cooperativas de Crédito. Lembra,
o autor que essas competências devem ser exercidas com rigorosa observância
às diretrizes da presente Lei Complementar, bem como da Lei Cooperativista,
lembrando, ainda do texto constitucional quanto ao apoio e estímulo que devem
ser dados ao Cooperativismo.

Art. 12. O CMN, no exercício das competências que lhe são


atribuídas pela legislação que rege o SFN, poderá dispor,
inclusive, sobre as seguintes matérias:

I - requisitos a serem atendidos previamente à constituição


ou transformação das cooperativas de crédito, com vistas ao
respectivo processo de autorização a cargo do Banco Central
do Brasil;

II - condições a serem observadas na formação do quadro


de associados e na celebração de contratos com outras
instituições;

III - tipos de atividades a serem desenvolvidas e de


instrumentos financeiros passíveis de utilização;

IV - fundos garantidores, inclusive a vinculação de cooperativas


de crédito a tais fundos;

V - atividades realizadas por entidades de qualquer natureza,


que tenham por objeto’ exercer, com relação a um grupo de
cooperativas de crédito, supervisão, controle, auditoria, gestão
ou execução em maior escala de suas funções operacionais;

VI - vinculação a entidades que exerçam, na forma da


regulamentação, atividades de supervisão, controle e auditoria
de cooperativas de crédito;

VII - condições de participação societária em outras entidades,


inclusive de natureza não cooperativa, com vistas ao
atendimento de propósitos complementares, no interesse do
quadro social;

VIII - requisitos adicionais ao exercício da faculdade de que


trata o art. 9o desta Lei Complementar.

§ 1o O exercício das atividades a que se refere o inciso V do


caput deste artigo, regulamentadas pelo Conselho Monetário
Nacional - CMN, está sujeito à fiscalização do Banco Central
do Brasil, sendo aplicáveis às respectivas entidades e a seus
administradores as mesmas sanções previstas na legislação
em relação às instituições financeiras.

186
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

§ 2o O Banco Central do Brasil, no exercício de sua


competência de fiscalização das cooperativas de crédito,
assim como a entidade que realizar, nos termos da
regulamentação do CMN, atividades de supervisão local
podem convocar assembléia geral extraordinária de instituição
supervisionada, à qual poderão enviar representantes com
direito a voz. (BRASIL, 2009).

O Artigo 13 apenas torna claro que não se pode falar em quebra de sigilo
bancário dentro do sistema cooperativista (central, confederação ou banco
cooperativo e entidades externas), uma vez que todos têm acesso aos dados e
informações de associados e clientes.

Art. 13. Não constitui violação do dever de sigilo de que trata


a legislação em vigor o acesso a informações pertencentes
a cooperativas de crédito por parte de cooperativas centrais
de crédito, confederações de centrais e demais entidades
constituídas por esse segmento financeiro, desde que se dê
exclusivamente no desempenho de atribuições de supervisão,
auditoria, controle e de execução de funções operacionais das
cooperativas de crédito.

Parágrafo único. As entidades mencionadas no caput deste


artigo devem observar sigilo em relação às informações
que obtiverem no exercício de suas atribuições, bem como
comunicar às autoridades competentes indícios de prática de
ilícitos penais ou administrativos ou de operações envolvendo
recursos provenientes de qualquer prática criminosa. (BRASIL,
2009).

O Artigo 14 é uma repetição do artigo 8º, da Lei nº 5.764/71, e que reconhece


a possibilidade das cooperativas singulares constituírem cooperativas centrais, tendo
em vista:

1º) O ganho de escala ou um melhor poder de barganha:

- gestão da liquidez das singulares;


- negociação de contratos e
- compras em comum.

2º) A economia de escopo:

- aglutinação de atividades comuns ao conjunto de filiadas;


- execução de políticas de comunicação e marketing;
- execução de políticas de RH (Recursos Humanos);
- supervisão, incluindo auditoria e controles internos;
- apoio jurídico-operacional e
- assessoria organizacional, entre outras.

187
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Além disso, as cooperativas centrais podem atuar como coordenadoras de


conjunto de filiadas para que convivam em harmonia, orientando suas estratégias
de desenvolvimento, assessoria e representação político-institucional a nível
estadual.

Art. 14. As cooperativas singulares de crédito poderão


constituir cooperativas centrais de crédito com o objetivo
de organizar, em comum acordo e em maior escala, os
serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas,
integrando e orientando suas atividades, bem como facilitando
a utilização recíproca dos serviços.

Parágrafo único. As atividades de que trata o caput deste


artigo, respeitada a competência do Conselho Monetário
Nacional e preservadas as responsabilidades envolvidas,
poderão ser delegadas às confederações constituídas pelas
cooperativas centrais de crédito. (BRASIL, 2009).

Artigo 15 – Esse artigo regulamenta as atividades inerentes às confederações


das cooperativas centrais, seguindo o mesmo propósito da Lei Cooperativista a
esse respeito. O autor (MEINEN, 2010) dá exemplo de atividades recomendadas
à confederação e das quais podem resultar economia de escopo:

• Representação político-institucional a nível nacional e internacional

• Atividades de TI (Tecnologia de Informação)

• Políticas sistêmicas de comunicação e marketing

• Políticas sistêmicas de RH (Recursos Humanos)

• Políticas sistêmicas de padronização organizacional

• Consultoria normativo-jurídica para todo o sistema (aspectos societários,


tributários e trabalhistas)

• Gestão centralizada de riscos operacionais

• Centralização contábil, tributária e folha de pagamento, entre outras.

Art. 15. As confederações constituídas de cooperativas


centrais de crédito têm por objetivo orientar, coordenar e
executar atividades destas, nos casos em que o vulto dos
empreendimentos e a natureza das atividades transcenderem
o âmbito de capacidade ou a conveniência de atuação das
associadas. (BRASIL, 2009).
188
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

Artigo 16 – Esse artigo prevê a intervenção (tratada por assistência na lei),


por parte das cooperativas centrais e confederações, em regime de cogestão
temporária, nas cooperativas singulares e centrais, quando houver prática de
irregularidades ou risco de solidez. Os incisos tratam das providências que devem
acompanhar ou devem preceder a intervenção.

Art. 16. As cooperativas de crédito podem ser assistidas, em


caráter temporário, mediante administração em regime de
cogestão, pela respectiva cooperativa central ou confederação
de centrais para sanar irregularidades ou em caso de risco
para a solidez da própria sociedade, devendo ser observadas
as seguintes condições:

I - existência de cláusula específica no estatuto da cooperativa


assistida, contendo previsão da possibilidade de implantação
desse regime e da celebração do convênio de que trata o
inciso II do caput deste artigo;

II - celebração de convênio entre a cooperativa a ser assistida


e a eventual cogestora, a ser referendado pela assembleia
geral, estabelecendo, pelo menos, a caracterização das
situações consideradas de risco que justifiquem a implantação
do regime de cogestão, o rito dessa implantação por iniciativa
da entidade cogestora e o regimento a ser observado durante
a cogestão; e

III - realização, no prazo de até 1 (um) ano da implantação


da cogestão, de assembleia geral extraordinária para deliberar
sobre a manutenção desse regime e da adoção de outras
medidas julgadas necessárias. (BRASIL, 2009).

Artigo 17 – Concede idêntico prazo ao das demais instituições financeiras


para a apreciação de contas e demonstrativos financeiros do exercício findo, ou
seja, até o final de abril de cada ano.

Art. 17. A assembleia geral ordinária das cooperativas de crédito realizar-


se-á anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses do exercício social. (BRASIL,
2009).

ARTIGO 18: OS ARTIGOS REVOGADOS PELA LEI


COMPLEMENTAR Nº 130, DE 17 DE ABRIL DE 2009

Artigo 40 da Lei nº 4.595/64 - As cooperativas de crédito não


poderão conceder empréstimos se não a seus cooperados com mais
de 30 dias de inscrição.

189
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Artigo 41 da Lei nº 4.595/64 - Não se consideram como sendo


operações de seções de crédito as vendas a prazo realizadas pelas
cooperativas agropastoris a seus associados de bens e produtos
destinados às suas atividades econômicas.

§ 3o do art. 10 da Lei nº 5.764/71 - Somente as cooperativas


agrícolas mistas poderão criar e manter seção de crédito.

§ 10 do art. 18 da Lei nº 5.764/71 - A criação de seções de


crédito nas cooperativas agrícolas mistas será submetida à prévia
autorização do Banco Central do Brasil.

Parágrafo único do art. 86 da Lei nº 5.764/71 - No caso das


cooperativas de crédito e das seções de crédito das cooperativas
agrícolas mistas, o disposto neste artigo (fornecer bens e serviços
a não associados) só se aplicará com base em regras a serem
estabelecidas pelo órgão normativo.

Artigo 84 da Lei nº 5.764/71 - Art. 84. As cooperativas de


crédito rural e as seções de crédito das cooperativas agrícolas mistas
só poderão operar com associados, pessoas físicas, que de forma
efetiva e predominante:

I - desenvolvam, na área de ação da cooperativa, atividades


agrícolas, pecuárias ou extrativas;

II - se dediquem a operações de captura e transformação do pescado.


Parágrafo único. As operações de que trata este artigo só
A inserção das poderão ser praticadas com pessoas jurídicas, associadas,
Cooperativas desde que exerçam exclusivamente atividades agrícolas,
de Crédito sob pecuárias ou extrativas na área de ação da cooperativa ou
a normatização atividade de captura ou transformação do pescado.
e supervisão do
CMN (Conselho Fonte: Disponível em <http: //www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Monetário Nacional) leis/LCP/Lcp130.htm>. Acesso em: 15 nov. 2012.
e do BACEN (Banco
Central), que coloca
o Cooperativismo
de Crédito em
igualdade com Muito bem. Você percebeu que alguns dos artigos da Lei
todas as instituições Complementar nº 130/09 remetem à Lei nº 5.764/71. A contribuição
financeiras, mais importante, certamente, foi a inserção das Cooperativas
não invalida o de Crédito no Sistema Financeiro Nacional, sem contar na
pressuposto de
regulamentação de suas atividades como instituição financeira a
que esses órgãos
ajam sempre dentro serviço do cooperativismo e seus associados. A normatização traz
dos princípios clareza para o modo de operação das Cooperativas de Crédito e
constitucionais de propõe uma gestão transparente e dinâmica diante dos cooperados. A
apoio e estímulo ao inserção das Cooperativas de Crédito sob a normatização e supervisão
Cooperativismo. do CMN (Conselho Monetário Nacional) e do BACEN (Banco Central),

190
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

que coloca o Cooperativismo de Crédito em igualdade com todas as instituições


financeiras, não invalida o pressuposto de que esses órgãos ajam sempre dentro
dos princípios constitucionais de apoio e estímulo ao Cooperativismo.

Atividade de Estudos:

1) Quais foram as principais contribuições da Lei Complementar nº


130/09 para o Cooperativismo de Crédito?
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2) Segundo a Lei Complementar nº 130/09, a Governança


Corporativa prevê novos tipos de composição da Diretoria
Executiva numa Sociedade Cooperativa de Crédito. Quais são
essas possibilidades?
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Dando continuidade aos nossos estudos cooperativos, vamos agora,


falar sobre a Resolução nº 3.859/09 do Conselho Monetário Nacional. Ela
altera e consolida as normas concernentes à constituição, a autorização para
funcionamento, o funcionamento, as alterações estatutárias e o cancelamento de
autorização para funcionamento de Cooperativas de Crédito. Além disso, essa
resolução foi criada para o aperfeiçoamento da legislação existente, em especial
a Lei Complementar nº 130/09 cujas regras demandavam adequação, desde a
sua criação e publicação.

191
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

A Resolução nº 3.859/09 do BACEN


A Resolução nº 3.859/09 trata basicamente de adequar as regras dispostas
na Lei Complementar nº 130/09 sobre as Cooperativas de Crédito, detalhando
e especificando quais são as condições, como deve ser feito, quem deve fazer
e quando devem ser feitas os comandos da lei. Ela está dividida nos seguintes
capítulos:

Capítulo I - trata da constituição, da autorização para funcionamento e da


alteração estatutária das Cooperativas de Crédito;

Capítulo II- trata das condições estatutárias de admissão de associados;

Capítulo III - trata das condições especiais relativas às cooperativas de


livre admissão de associados, de pequenos empresários, microempresários
e microempreendedores e de empresários;

Capítulo IV – trata da aplicação de princípios de governança corporativa;

Capítulo V - trata das atribuições especiais das cooperativas centrais de


crédito e das confederações de centrais;

Capítulo VI – trata da auditoria externa nas Cooperativas de Crédito;

Capítulo VII – trata do capital e do patrimônio das Cooperativas de Crédito;

Capítulo VIII - trata das operações e dos limites de exposição por cliente;

Capítulo IX – trata do cancelamento da autorização para funcionamento das


Cooperativas de Crédito;

Capítulo X - fala das disposições complementares sobre o normativo em


questão.

Cada capítulo tem sua função específica de ditar o modo de ação das
Cooperativas de Crédito, atendendo em especial o artigo 12 da Lei Complementar
nº 130/09, que preceitua:

Art. 12. O CMN, no exercício das competências que lhe são


atribuídas pela legislação que rege o SFN, poderá dispor,
inclusive, sobre as seguintes matérias:

192
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

I - requisitos a serem atendidos previamente à constituição


ou transformação das cooperativas de crédito, com vistas ao
respectivo processo de autorização a cargo do Banco Central
do Brasil;

II - condições a serem observadas na formação do quadro


de associados e na celebração de contratos com outras
instituições;

III - tipos de atividades a serem desenvolvidas e de


instrumentos financeiros passíveis de utilização;

IV - fundos garantidores, inclusive a vinculação de cooperativas


de crédito a tais fundos;

V - atividades realizadas por entidades de qualquer natureza,


que tenham por objeto exercer, com relação a um grupo de
cooperativas de crédito, supervisão, controle, auditoria, gestão
ou execução em maior escala de suas funções operacionais;

VI - vinculação a entidades que exerçam, na forma da


regulamentação, atividades de supervisão, controle e auditoria
de cooperativas de crédito;

VII - condições de participação societária em outras entidades,


inclusive de natureza não cooperativa, com vistas ao
atendimento de propósitos complementares, no interesse do
quadro social;

VIII - requisitos adicionais ao exercício da faculdade de que


trata o art. 9o desta Lei Complementar.

§ 1o O exercício das atividades a que se refere o inciso V do


caput deste artigo, regulamentadas pelo Conselho Monetário
Nacional - CMN, está sujeito à fiscalização do Banco Central
do Brasil, sendo aplicáveis às respectivas entidades e a seus
administradores as mesmas sanções previstas na legislação
em relação às instituições financeiras.

§ 2o O Banco Central do Brasil, no exercício de sua


competência de fiscalização das cooperativas de crédito,
assim como a entidade que realizar, nos termos da
regulamentação do CMN, atividades de supervisão local
podem convocar assembleia geral extraordinária de instituição
supervisionada, à qual poderão enviar representantes com
direito a voz. (BRASIL, 2011).

Podemos então dizer que a Resolução nº 3.859/09 veio atender plenamente


às disposições que são atribuição do Conselho Monetário Nacional, tratando de
assuntos específicos em capítulos distintos.

193
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Um dos aspectos relevantes que a Resolução trouxe para que a


Um dos aspectos
relevantes que a liderança cooperativista conduza, através do artigo 18, é a transição
Resolução trouxe da estrutura administrativa que deve contar com um conselho de
para que a liderança administração e uma diretoria executiva a ele subordinada, composta
cooperativista por membros eleitos pelo conselho entre pessoas associadas ou não.
conduza, através Essa mudança decorre não só da Lei Complementar nº 130/09, mas
do artigo 18,
também do levantamento dessa necessidade em função do Projeto de
é a transição
da estrutura Governança Corporativa.
administrativa que
deve contar com Veja o que diz Alexandre Trombini, Presidente atual (ano
um conselho de 2012) do Banco Central, em entrevista ao Portal do Cooperativismo
administração e uma de Crédito e publicado na Revista SICOOB em junho de 2011, sobre a
diretoria executiva
importância da separação das funções administrativa e executiva:
a ele subordinada,
composta por
O diagnóstico efetuado pelo Projeto de Governança
membros eleitos
Corporativa [...] evidenciou a necessidade de separação
pelo conselho
entre os papéis desempenhados pelos administradores com
entre pessoas funções estratégicas (Conselho de Administração) e por
associadas ou não. aqueles com funções executivas (Diretoria), para que haja a
Essa mudança indispensável dedicação integral dos diretores às atividades
decorre não só da da cooperativa e ainda se alcance uma capacitação técnica
Lei Complementar e gerencial dos diretores compatível com a complexidade
nº 130/09, mas das funções exercidas, e necessário à sobrevivência num
também do ambiente concorrencial cada vez mais competitivo (PORTAL
levantamento dessa DO... 2011).
necessidade em
função do Projeto Alexandre Trombini (PORTAL DO... 2011), cita também outras
de Governança necessidades que deverão ser enfrentadas pelas lideranças
Corporativa.
cooperativistas, decorrentes da Resolução nº 3.859/09. Vamos ver
quais são elas?

Também como decorrência da Resolução 3.859, as lideranças


cooperativistas devem contribuir para a definição da política
de governança a ser aprovada pela assembléia geral das
cooperativas, abordando os aspectos de representatividade
e participação, direção estratégica, gestão executiva e
fiscalização e controle, contemplando a aplicação dos
princípios de segregação de funções na administração,
transparência, equidade, ética, educação cooperativista,
responsabilidade corporativa e prestação de contas.

Outra novidade trazida pela Resolução, de fundamental


importância para a melhor organização do segmento, é o
estabelecimento de diretrizes de atuação sistêmica com vistas
aos princípios da eficiência, da economicidade, da utilidade e
dos demais princípios cooperativistas.

Ademais, em algumas regiões a presença do cooperativismo


de crédito ainda é modesta. Na região Norte 88,7% dos

194
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

municípios ainda não contam com cooperativas de crédito,


enquanto que na região Nordeste, o percentual é de 92,4%. Em
contraposição, nas regiões Sudeste e Sul esses percentuais
são, respectivamente, 52,1% e 16,9%. Por fim, a criação de
fundo garantidor único do sistema cooperativista é um assunto
que o setor irá precisar avançar (PORTAL DO... 2011).
Todos os capítulos da Resolução nº 3.859/09 tratam, com certeza, de
assuntos relevantes para o nosso estudo. Poderíamos estudar cada capítulo
separadamente e teríamos muito que falar sobre todos eles.

Porém escolhemos um assunto que não só está em evidência nos meios


de gestão, mas também por tratar-se de um dos maiores desafios que os
líderes cooperativistas vão enfrentar em relação às novidades introduzidas pela
Resolução nº 3.859/09, conforme citou Trombini.

A Governança Corporativa é uma exigência do mercado e é um


A Governança
dos focos que a moderna Administração deve perseguir para atender
Corporativa foi
os objetivos determinados por acionistas e conselho de administração. citada pela primeira
vez, dentro da Teoria
da Agência nos
a) A Governança Corporativa Estados Unidos,
na década de
1950. Essa teoria
Para entender um pouco sobre o início da Governança
abordava o conceito
Corporativa, vamos buscar um pouco da história contada pela do conflito de
Professora Mônica Carvalho, da Fundação Dom Cabral, que é interesses entre os
especialista em Governança. Ela contou um pouco da história stakeholders, tendo
da Governança, numa palestra proferida no ExpoManagement em vista que existem
(2010), conforme entrevista à Revista HSM, transcrita no Portal do interesses diretos
na companhia por
Cooperativismo de Crédito. A Governança Corporativa foi citada
parte de todos os
pela primeira vez, dentro da Teoria da Agência nos Estados Unidos, envolvidos.
na década de 1950. Essa teoria abordava o conceito do conflito de
interesses entre os stakeholders, tendo em vista que existem interesses diretos
na companhia por parte de todos os envolvidos. O papel de mediador desses
conflitos é do Conselho de Administração. No entanto, existe um debate entre o
conflito de interesse versus o dever fiduciário dos conselheiros, ou seja, “como
um conselheiro que possui a responsabilidade direta da gestão poderá tomar uma
decisão que venha a lhe prejudicar ou beneficiar?”, continua ela. “A resposta é a
inclusão de conselheiros independentes que sem interesses diretos na decisão,
tomam as decisões baseados nas melhores práticas”, conclui Carvalho (HSM,
2011).

Além de pesquisas diversas sobre o tema, a Professora Monica Carvalho


está finalizando Mestrado sobre Governança no Japão. Segundo ela, atualmente são
essas as questões centrais da Governança:

195
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

• Legitimidade: clareza do papel, atribuições e poder que os conselheiros


possuem, esclarecendo para todos os stakeholders.

• Política da informação: visa melhorar o fluxo de informações entre executivos


e conselheiros, para que realmente sejam dadas condições para a tomada de
decisão consciente e embasada em dados e fatos.

• Controle: criação de mecanismos que deem real possibilidade de controlar a


gestão executiva da cooperativa.

• Leis e sanções: conhecer e avaliar o ambiente legal que disciplina a


Governança Corporativa, seus limites e possibilidades.

• Gestão do Risco: item de responsabilidade direta do Conselho, por isto da


importância de se criar ferramentas que permita aos conselheiros conhecer e
avaliar os riscos do negócio em que estamos inseridos, permitindo mudança
de estratégia e políticas.

O maior desafio para as empresas quando se fala de Governança Corporativa é


a “profissionalização dos conselheiros, o aumento dos conselheiros independentes e
a ampliação da participação dos conselheiros no dia a dia das corporações, o que
facilitaria em muito a tomada de decisão” segundo (HSM, 2011).

A competitividade das empresas saiu do domínio interno, passando


para o global. Isso exige um melhor preparo tanto dos executivos quanto dos
conselheiros, que para Carvalho (HSM, 2011), “em primeira instância são os que
definem, ou deveriam definir, os rumos da organização”.

Para entender melhor o que é Governança Corporativa, extraímos o conceito


publicado no site do Banco Central. Utilizamos esse, recurso uma vez, que todo o
projeto de Governança Corporativa para o Cooperativismo de Crédito foi conduzido
pelo Banco Central, fato que abordaremos tempestivamente.

O QUE É GOVERNANÇA?

O aumento da competitividade e as pressões por eficiência


e ganhos de escala, decorrentes da abertura comercial dos
mercados, provocaram, entre outras consequências, a necessidade
de as empresas buscarem novos recursos para sua expansão,
principalmente no mercado de capitais. Os investidores, por sua vez,
tornaram-se mais exigentes quanto à sua capacidade de influenciar

196
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

a atuação das empresas, como forma de garantir o melhor retorno


a seus investimentos. Esse quadro produziu o movimento pela
melhoria da governança corporativa.

A origem desse movimento está associada à pulverização do


controle da empresa norte-americana, e o crescimento do poder dos
gestores frente aos investidores. A governança surge, então, como
uma reação desses investidores – principalmente fundos de pensão
– para controlar o destino da empresa, realizando seu controle
estratégico.

As questões que impulsionam os estudos sobre governança


corporativa são a separação entre propriedade e controle, inerente
às grandes empresas contemporâneas, e os problemas gerados por
essa separação. Daí ser o foco da governança corporativa assegurar
que os executivos persigam os objetivos determinados pelos
acionistas e pelo conselho, o que reduz o denominado problema de
agência, ocasionado por diferenças de motivação e de objetivos entre
proprietários e gestores, assimetria de informação e preferências de
risco.

Segundo a definição da Comissão de Valores Mobiliários,


governança corporativa “é o conjunto de práticas que tem por
finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao proteger
todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados
e credores, facilitando o acesso ao capital” (RECOMENDAÇÕES,
2002, p. 1). Ou, em uma visão mais ampla, trata “das maneiras pelas
quais os fornecedores de recursos às corporações se asseguram
que irão obter retorno de seus investimentos” (SHLEIFER; VISHNY,
1997, p. 737).

A governança corporativa objetiva alinhar os sistemas de


controle, monitoramento e incentivos para que as decisões dos
gestores sejam realizadas no melhor interesse dos proprietários.

As denominadas “boas práticas” de governança corporativa


passaram a ser perseguidas e exigidas, vistas como uma forma de o
investidor recuperar seu poder na organização. Estudos posteriores,
que mostram que as boas práticas geram valor para os acionistas,
foram uma forte motivação para que se multiplicasse a adoção da
governança.

Como existem modelos organizacionais diferenciados no que


se refere à distribuição do controle de capital, as pesquisas sobre
governança têm se orientado para propor soluções a questões
abrangentes, resultantes das interações entre os grupos de influência
sobre a organização – proprietários, gestores, conselhos – e a forma
como o poder é compartilhado e as decisões são tomadas, até
mesmo quanto aos aspectos de prestação de contas, transparência,
representatividade, direitos e equidade.

197
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Conforme Cornforth (2003, p.6), há poucas teorias sobre


governança em organizações sem fins lucrativos. Mas, todo o
tipo de organização pode se beneficiar dos avanços no campo da
governança. É preciso, contudo, construir modelo de governança
que respeite as singularidades de cada tipo de organização.

Fonte: Bacen (2011).

Que tal recapitularmos alguns conceitos sobre Governança Corporativa?


Assim, você vai registrando o que aprendeu e faz uma breve pausa.

Atividade de Estudos:

1) A Governança Corporativa nasceu pela necessidade de solucionar


um impasse dentro da Administração de conflitos. Qual era esse
conflito?
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2) Quais são os principais desafios que a Governança Corporativa


enfrenta nos dias de hoje?
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3) Alguns movimentos externos às empresas causaram a necessidade


na melhoria da Governança corporativa. Fale sobre eles.
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198
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

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4) Segundo os conceitos apresentados sobre Governança


Corporativa, o que ela significa no seu entendimento?
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Sobre Governança Corporativa, iremos aprofundar os estudos na disciplina


de Gestão e Inovação em Cooperativas de Crédito. Mas o que é Governança
Coorporativa? Seguem algumas definições:

A Governança Corporativa é a forma como as sociedades são


geridas, envolvendo os relacionamentos entre associados,
conselho de administração, diretoria executiva, auditoria
independente, conselho fiscal e demais interessados
(stakeholders (BACEN, 2011).

A Governança Cooperativa é o conjunto de mecanismos e


controles, internos e externos, que permite aos cooperados
definir e assegurar a execução dos objetivos da cooperativa,
garantindo sua continuidade e os princípios cooperativistas
(BACEN, 2011).

Governança Corporativa é o sistema pelo qual as


organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas,
envolvendo os relacionamentos entre proprietários, conselho
de administração, diretoria e órgãos de controle. As boas
práticas de governança corporativa convertem princípios
em recomendações objetivas, alinhando interesses com
a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização,
facilitando seu acesso ao capital e contribuindo para a
sua longevidade. IBGC (Instituto Brasileiro de Governança
Cooperativa) (BACEN, 2011).

Bem, agora você já sabe o que é a Governança Corporativa, quais são


os principais desafios que ela encontra nos dias atuais e, também quais os
movimentos que impulsionam sua melhoria.
199
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

Vamos, então, falar de como surgiu a necessidade da criação da Governança


Corporativa dentro das Cooperativas de Crédito.

a) O Projeto Governança Corporativa das Cooperativas de Crédito

Para contar um pouco sobre a Governança Corporativa nas Sociedades


Cooperativas de Crédito, buscamos alguns dados publicados no site do (BACEN,
2011) sobre o Cooperativismo de Crédito.

Segundo dados do BACEN, em 2007 o segmento de crédito cooperativo


possua aproximadamente 4,5 milhões de associados e continuava em
expansão. Além do crescimento apresentado nos últimos anos, as cooperativas
apresentavam uma mudança de perfil.

As novas regulamentações possibilitaram o surgimento de novos tipos


de Cooperativas de Crédito que atendem o público em geral, além de seus
associados. Além da necessidade dos gestores das Cooperativas de Crédito estar
atentos a esse movimento e devido à complexidade apresentada pelo mercado, o
Banco Central aumentou a exigência para o funcionamento das mesmas.

Dessa forma surgiu o Projeto de Governança Corporativa, com o pressuposto


de contribuir para construir um ambiente de governança adequado, considerando
as características especiais das Cooperativas de Crédito e sua realidade dentro
do sistema econômico e financeiro.
As boas práticas
de governança
O objetivo desse projeto é “disseminar as diretrizes para as boas
são recomendadas
por organismos práticas de governança em cooperativas de crédito no Brasil”, não
internacionais e tendo o propósito de criar normas ou fiscalizar o setor.
muito difundidas
entre as instituições O interesse do Banco Central em conduzir esse projeto para
financeiras. Esse garantir um adequado Sistema de Governança no segmento de
projeto está então,
Cooperativas de Crédito, é justificado pela sua missão de garantir
dentro dos objetivos
estratégicos do a solidez das instituições financeiras dentro do Sistema Financeiro
Banco Central, Nacional e tornar mais efetivo o seu monitoramento.
de adequar os
processos de As boas práticas de governança são recomendadas por
regulação e de organismos internacionais e muito difundidas entre as instituições
fiscalização do
financeiras. Esse projeto está então, dentro dos objetivos estratégicos
sistema financeiro
aos melhores do Banco Central, de adequar os processos de regulação e de
padrões e boas fiscalização do sistema financeiro aos melhores padrões e boas
práticas de práticas de governança.
governança.

200
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

Veja, a figura 3 mostra como era composto o Sistema Cooperativo no Brasil no


ano de 2007.

Figura 3 – O Sistema Cooperativo no Brasil

Fonte: Banco Central.

A partir da Figura 3 podemos depreender que 29,2% do


sistema das cooperativas de crédito do Brasil é formado por Rural,
enquanto que 26,3% são Empregados Privados. Na sequência do
ranking temos os Profissionais somando uma parcela de 18%, os
Empregados Públicos com 14,7%, os de Livre Admissão com 8%.
Os Empresários aparecem em menor porcentagem, 3, 8 %, mas já
demonstra um número significado em relação a realidade brasileira
com tendência a aumentar.

Com o Projeto da Governança Corporativa dentro do Sistema de


Cooperativismo de Crédito, o Banco Central espera contribuir com o fortalecimento
da governança em Cooperativas de Crédito e o crescimento sustentado desse
setor. Espera-se atingir com o Projeto as Cooperativas de Crédito Singulares, as
Centrais e confederações de Cooperativas de Crédito, os Bancos Cooperativos,
além de outras organizações ligadas ao Cooperativismo além do próprio Banco
Central.

A participação e o envolvimento do público-alvo durante o


desenvolvimento do projeto são fundamentais. Para tanto, a
etapa de divulgação se estende ao longo de todo o projeto,
desde o seu início, uma vez que a adoção de boas práticas é
um processo lento e que o projeto melhor atingirá seu objetivo
se houver a efetiva participação e envolvimento do público-
alvo com o projeto e o tema (BACEN, 2011).

E quais são os benefícios esperados com a implantação da Governança


Corporativa dentro do Sistema de Cooperativismo de Crédito?

201
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

• mais segurança das cooperativas singulares e do sistema;

• aumento da participação e do controle interno;

• desenvolvimento da visão cooperativista;

• redução de custos operacionais;

• fortalecimento dos conselhos; e

• mais estímulo ao desenvolvimento profissional.

Segundo o site do Banco Central, a Governança Corporativa


em Cooperativas de Crédito tem se mostrado significativo no âmbito
internacional, sendo possível, por exemplo, encontrar material nos sites:

Confederação Alemã de Cooperativas – DGRV: http://www.dgrv.org/

World Council of Credit Unions: WOCCU - http://www.woccu.org/

National Association of State Credit Union Supervisors – Nascus:


http://www.nascus.org/

Confederación Latinoamericana de Cooperativas de Ahorro y Crédito


– Colac: http://www.colac.com/

Muito interessante não é? Como você pode ver, a Governança Corporativa


tem sido objeto de interesse no mundo cooperativo ao redor do mundo. E aqui no
Brasil, o Banco Central tomou a iniciativa de abraçar esse Projeto, naturalmente
contou com a participação de todo o segmento de crédito cooperativo. Por
conta disso, vem fazendo estudos desde o ano de 2006, reunindo as lideranças
cooperativas em seminários em várias regiões do país, para a discussão da
implantação da Governança Corporativa, que, aliás, tomou o nome de Governança
Cooperativa.

c) A defesa para a implantação da Governança nas Cooperativas de Crédito

O cooperativismo de crédito tem avançado nos últimos anos, quer pelas


mudanças que aconteceram na legislação a seu favor, quer pelo aperfeiçoamento na
sua forma de gestão. As cooperativas figuram atualmente entre as instituições que
exercem uma considerável influência no mercado financeiro.
202
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

Cooperativismo
O fortalecimento da economia brasileira, na última década, de crédito tem
causou uma grande expansão do crédito tanto para empresas avançado nos
quanto para consumidores. Isso se refletiu no crescimento da rede últimos anos, quer
de Cooperativas de Crédito no país. Veja os números da estatística pelas mudanças
publicada no site do Cooperativismo de Crédito: que aconteceram
na legislação a seu
favor, quer pelo
Apenas em 2010, o setor, que conta com
1.370 cooperativas em todo o Brasil, atingiu aperfeiçoamento na
um incremento de 60% em seus ativos em sua forma de gestão.
comparação com os resultados de 2009. Isso As cooperativas
significou um desempenho recorde de R$ 13,2 figuram atualmente
bilhões, levando o total dos ativos do segmento entre as instituições
a alcançar R$ 66 bilhões. Com 4,85 milhões de que exercem
associados, o Brasil conta com 4% da população uma considerável
economicamente ativa (PEA) ligada à uma influência no
cooperativa de crédito, segundo a Organização mercado financeiro.
das Cooperativas Brasileiras (OCB). Os depósitos
recebidos em 2010 demonstram a elevada confiança que o
segmento vem recebendo de seus associados, totalizando
uma captação recorde de depósitos. Foram R$ 7,7 bilhões,
130% a mais do que em 2009, que já havia sido o melhor ano
da história do setor. Com esse resultado, o segmento acumula
R$ 29,9 bilhões de depósitos (PORTAL DO... 2011).

São números expressivos e que demonstram a força do Cooperativismo


de Crédito dentro do Sistema Financeiro Nacional. E, embora os números e
resultados demonstrem que as Cooperativas de Crédito são instituições de
destaque e que tem muita influência no meio financeiro, Meinen (2011), por
exemplo, acredita que o setor apresenta ainda gargalos que ainda as distanciam
“consideravelmente da base ideal de associados e do volume mínimo de negócios
esperado” embora as soluções para a melhoria se encontrem “exclusivamente em
nossa área de influência”.

Vamos relembrar quais são algumas das características especiais das


Sociedades Cooperativas?

• são sociedades de pessoas, não de capital;


• a adesão é voluntária e livre;
• a gestão é democrática;
• existe a participação econômica de seus associados;
• autonomia e independência na gestão.

Os associados é que são os “donos do negócio” numa cooperativa e, além


disso, independente do valor do Capital Social investido, cada associado tem
direito a um voto. Os objetivos de uma Sociedade Cooperativa são de longo
prazo, afinal o objetivo principal é atender as necessidades dos seus associados.
203
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

“A Sociedade Cooperativa, na legislação brasileira, que


alberga estes valores e princípios, é definida como uma
associação autônoma de pessoas, unidas voluntariamente
para satisfazer suas necessidades e aspirações econômicas,
sociais e culturais em comum, através de uma empresa de
propriedade conjunta e de gestão democrática” (BECHO 2007
apud SCHARDONG, 2010).

O que é um diferencial para a Sociedade Cooperativa em relação aos


demais tipos de Sociedades Empresariais, pode também ser o motivo que causa
alguns problemas de gestão. De um lado a gestão exercida pelos proprietários
é um modelo justo e que atende perfeitamente aos objetivos sociais desse
tipo de empresa. Por outro lado, existe “um forte apelo na representação dos
anseios e necessidades individuais e particulares dos sócios no processo de
Governança e Gestão das Sociedades Cooperativas” que distorce o papel dos
seus principais órgãos de gestão (Conselho de Administração, Conselho Fiscal
e Diretoria Executiva, entre outros), segundo expõe Schardong (2010). Para o
autor, essa distorção sobrepõe o processo de representação às atribuições das
funções estatutárias de gestão e nem sempre resulta no sucesso do
Sendo um tipo empreendimento.
societário com
características tão
Na verdade, esse vício cultural decorre do conceito de Sociedade
próprias, que dão
às Sociedades Cooperativa, num estado que provia os recursos e operava as
Cooperativas principais cadeias produtivas, fruto do modelo econômico vigente no
um diferencial período do Governo Militar (1964 -1988).
competitivo
tão necessário Hoje as Sociedades Cooperativas estão totalmente imersas
às empresas no modelo global do comércio, onde se exige uma alta eficácia
contemporâneas, organizacional com a consequente diminuição dos riscos inerentes
é primordial que
ao mercado e aos negócios. Isso implica num modelo de gestão
seus líderes estejam
muito atentos que seja sofisticado e que requer um modelo de Governança capaz
ao processo de de assegurar solidez patrimonial e a continuidade dos negócios.
Governança e Sendo um tipo societário com características tão próprias, que dão às
gestão buscando Sociedades Cooperativas um diferencial competitivo tão necessário
o desenvolvimento às empresas contemporâneas, é primordial que seus líderes estejam
e a expansão muito atentos ao processo de Governança e gestão buscando o
dessas sociedades desenvolvimento e a expansão dessas sociedades empresariais,
empresariais,
defende Schardong (2010).
defende Schardong
(2010).
Mesmo com as distorções que ocorrem no Sistema de Gestão
das Sociedades Cooperativas, Schardong (2010) acredita que é necessário
aliar a preservação do tipo societário comum a essas sociedades (participação
qualificada dos sócios no processo de gestão) ao processo de gestão. Mas o que
é preciso levar em consideração nesse processo de gestão? O autor acredita que:

É preciso uma estrutura que leve em consideração os


seguintes pressupostos: posicionamento (de mercado),
204
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

escala mínima para enfrentar os competidores, atendimento


do objeto da sociedade, eficiência na prestação de serviços
e contratação de operações e geração de resultado que
justifique a existência do empreendimento. (SCHARDONG,
2010).

Num artigo publicado recentemente no Portal do Cooperativismo de Crédito,


em que são elencados os desafios que o setor enfrenta, Meinen (2011) destaca
a Governança Corporativa como um desses desafios e nos apresenta a situação
que seria ideal comparando-a com a realidade existente:

O IDEAL: dispor de uma gestão legitimada, participativa e


profissional, combinando soluções que considerem a defesa
dos interesses dos associados e respeitem os padrões
técnicos de mercado.

O REAL: aqui também é correto afirmar que, mais


recentemente, especialmente por movimentos de indução
do Banco Central do Brasil e como resultado da evolução
conceitual e técnica dos dirigentes, boa parte das cooperativas
vêm apresentando bons exemplos de governabilidade.
Contudo, mesmo nessas entidades mais avançadas, e muito
mais nas outras, há oportunidades para aprimoramentos,
destacando-se:

a) a necessidade de revisitação da política e das práticas


de representatividade do quadro social (todos os grupos
homogêneos\afins devem sentir-se parte da cooperativa);

b) o empenho para o aperfeiçoamento estratégico e técnico


dos dirigentes (a participação em eventos de capacitação,
especialmente os promovidos pelas entidades de segundo
e terceiro níveis do sistema associado), e também para
uma dedicação mais substantiva (tempo de expediente) aos
interesses da cooperativa\do quadro social;

c) a criação de meios/canais apropriados para atrair o


interesse e a participação dos associados (processos de
nucleação; reuniões locais, pré-assembleias etc);

d) a busca por uma maior fidelidade aos modelos de


governança definidos sistemicamente e apoiados pelo Banco
Central.

Você pode ver que os autores têm uma preocupação comum: o


envolvimento dos associados com a causa da Governança e o empenho
em profissionalizar a gestão dentro das Cooperativas de Crédito,
manter a competitividade mercadológica visando preservar a solidez do
empreendimento, sem perder de vista o objetivo social que é inerente às
Sociedades Cooperativas. Essa preocupação com a Governança é também
fundamental para o aumento da confiança dos associados e para trazer novos
205
Aspectos legais e tributários nas sociedades de
cooperativas de crédito

investimentos e recursos ao setor.

Para finalizar, queremos compartilhar algumas ideias de Shardong (2010),


em defesa da Governança Cooperativa:

A definição de boas práticas de governança em cooperativas de crédito deve


envolver mecanismos que venham a fortalecer suas estruturas e processos, de
forma sistemicamente articulada, para ampliar as condições gerais de segurança,
de eficiência e a redução de riscos.
A definição de
boas práticas
de governança “O alinhamento do processo de gestão das Cooperativas de
em cooperativas Crédito às boas práticas de governança corporativa, mais que uma
de crédito recomendação normativa, assume dimensões próprias do objeto
deve envolver dessas organizações”.
mecanismos que
venham a fortalecer “Portanto, as boas-práticas de governança nas cooperativas de
suas estruturas e
crédito não estão disponíveis aos seus líderes e administradores,
processos, de forma
sistemicamente elas se impõem como pressupostos à competitividade, credibilidade e
articulada, para sucesso do empreendimento”.
ampliar as condições
gerais de segurança, Estes pensamentos parecem bastante eloquentes e traduzem
de eficiência e a os ideais cooperativistas. Aos poucos a Governança Cooperativa
redução de riscos. vai sendo implantada nas unidades das Cooperativas de Crédito.
Acreditamos que assim, elas atingirão os mais altos níveis de
performance, dentro de um mercado tão competitivo e disputado que é o Sistema
Financeiro Nacional.

Algumas ConsideraçÕes
Chegamos ao final desse Caderno de Estudos. Nesse último capítulo,
buscamos trazer um pouco dos acontecimentos mais contemporâneos em termos
de cooperativismo de crédito.

O advento da Lei Complementar nº 130/09 trouxe muitos avanços para o


setor. Ao inserir as Cooperativas de Crédito no Sistema Financeiro Nacional,
certamente deu um grande impulso no crescimento e no resultado das mesmas.
Ela abriu caminhos para a regulamentação do setor através da Resolução nº
3.859/10. Se essas duas normas não são suficientes para suprir as necessidades
existentes em termos de legislação, certamente elas deram um novo rumo em
direção ao futuro.

Outras mudanças virão. E para isso é necessário que as Sociedades


Cooperativas de Crédito estejam preparadas para elas.
206
Capítulo 5 LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E RESOLUÇÃO DO BANCO CENTRAL

Queremos lembrar que dentro do conceito de Cooperativismo, quem é a


cooperativa senão os seus associados? Sejam eles usuários do sistema ou os
dirigentes que estão frente às decisões mais importantes dessa sociedade.

O Cooperativismo de Crédito vem crescendo na última década. Mas esse


crescimento passa por uma gestão eficaz e profissional. Uma gestão que olhe
para o Cooperativismo com olhos de dono, que preserve os ideais cooperativos
sem deixar de olhar para o mercado que é exigente e competitivo.

A Governança Corporativa é uma mudança muito grande dentro do


pensamento e da política cooperativista, sem dúvida. E como em todas as áreas
do conhecimento humano, demandam muitos ajustes e tempo para que haja
aperfeiçoamento e, finalmente estejam funcionando de acordo com o esperado.
Não poderia ser diferente no caso da Governança nas Cooperativas de Crédito.

Se por um lado o mercado exige uma postura mais profissional de todas


as empresas, é claro que numa organização que levou tempo para se tornar o
que é hoje, enfrentando sempre as dificuldades, primeiro de um Governo Militar
que engessava suas ações. Depois de uma legislação que deixava a desejar
e impedia que as Cooperativas em geral crescessem e se firmassem como as
demais Sociedades Empresariais ainda vão levar algum tempo para se adequar a
esses novos tempos e desafios.

O Cooperativismo de Crédito certamente está caminhando a passos largos.


E conta com a ajuda de profissionais experientes que estão se empenhando
em compartilhar o conhecimento e que estão abrindo suas mentes em direção
a um futuro que é muito promissor. Afinal, o Cooperativismo é um exemplo
para a sociedade e sua contribuição nas comunidades onde está inserida traz
melhorias e alavanca o crescimento de todos. É com esse olhar de esperança que
terminamos esse capítulo.

Esperamos ter contribuído para o plantio de uma boa semente. Afinal, é você
quem vai colher os frutos desse trabalho.

ReFerÊncias
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br/?OQUECOOP> Acesso em 12 jul. 2011.

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