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Hipotipóses Pirrônicas
Sánches Pacheco, 81, Madrid, 1993.
Escrito na primeira metade do século II d. C., sobre uma escola surgida no século I a.
C., de escrita escolástica. Primeira tradução para o latim em 1562. Sexto (segunda
metade do século I d.C.-130/140 d.C. inicia o uso do termo ceticismo.
Introdução
Influência dos esboços pirrônicos na filosofia moderna: A obra de Sexto Empírico
toma fama nos ensaios de Montaigne, especificamente na Apologia de Raimond Sebond
(Rebate a posição protestante de que a verdade está para cada qual, visto que o homem
não possui meios para alcançar a verdade objetiva, ‘defende’ o catolicismo). A França
vivia o conflito entre católicos e calvinistas. Hipotiposes vigora na primeira metade do
século XVII.
“Os setores tradicionais católicos encontraram nos pensamentos de Sexto Empírico suas
melhores armas contra as pretensões calvinistas de fazer valer sua própria inteligência
frente à autoridade de Roma” p. 9
Charron, La Mothe Le Vayer, Padre Gassendi, Padre Mersenne, Descartes (1596-1650)
Descartes estava no colégio jesuíta em La flèche quando os Esboços foram renascidos.
P.11 Ao querer superar os limites postos pelos céticos Descartes escreve em 1637 o
Discurso do Método e em seguida, na formulação definitiva de seu sistema publica
Meditações Metafísicas, com objetivo de estabelecer uma base sólida para a metafísica,
garantir a existência de Deus e a imortalidade da alma. O diferencial está na verdade
que Descartes introduz na filosofia moderna “uma certeza puramente subjetiva,
impossível de ser destruída, totalmente alheia as pretensões de universalidade da antiga
escolástica e a nova ciência.” p.12
Antecessores da escola cética: Visto a falta de precisão, convenciona-se que a escola
cética tenha nascido no ano 100 a.C. Os herdeiros de Pirro de Eléia (nascido em
Peloponeso 365-360 a.C, entra em contato com os gminosofistas indus através de
Anaxarco) p. 15, desde o século IV a. C. denominam-se céticos ou pirrônicos. Timon
(discípulo direto) Ptolomeu de Cirene (reinstaura) Enesidemo (escreve Argumentações
Pirrônicas) Sexto (fonte de bibliografia cética). Somente os escritos de Diógenes
Laércio garantem a existência de uma escola cética por todo o período Helenístico, de
forma paralela ao antidogmatismo existente na Academia de Platão.
Pirro “Nenhuma coisa é mais: nem mais certa nem mais falsa que outras; nem melhor
nem pior. Com essa disposição de ânimo é como podemos chegar a não nos
pronunciarmos sobre nada e conseguir a ataraxia ou tranquilidade (serenidad) de
espirito” p.15
Tímon 325-320 a. C. por meio das sátiras que parodiava os versos e as estruturas
homéricas, e suas cenas alegóricas em que o herói Pirro luta contra os demais filósofos,
apreço que se iniciou nos seus 30 anos de idade até a morte de Pirro. Seu período ativo
coincide com a direção de Arcesilau da academia
Arcesilau 315-241/240 a. C. morou desde muito jovem em atenas, quinto sucessor da
Academia Platônica, grande parte da primeira metade do século III a.C e grande parte
do começo do século II a.C. “Com Arcesilau o pirronismo deixou de ser uma proposta
quase exclusivamente moral e entrou decididamente no problema gnosiológico da
validez do conhecimento” p.18. Pauta-se na distinção de Parmênides de opiniões e
conhecimento verdadeiro. Ataca as impressões catalépticas.
Carnéades 215/213 – 129/128 a.C. em Cirene. P.20 “Também, com efeito, estava de
acordo que a distinção entre representações mentais verdadeiras e falsas era gratuita,
posto que não havia um critério que permitisse a distinguir umas e outras” p.21
“Carnéades considerava excessiva o princípio pirrônico de “Nada é mais” Por ele foi
proposto deixar de lado a distinção “verdadeiro/falso” e aceitar uma classificação dos
conhecimentos baseada em seu grau de fiabilidade. Distinguiu assim “conhecimentos
prováveis, conhecimentos prováveis e contrastados e conhecimentos prováveis,
constatados e não desconcertantes” p.21
A escola cética: A academia abandona o antidogmatismo com Antíoco em 80 a.C.
Renasce o pirronismo paralelamente com Ptolomeu de Cirene. Sexto governa a escola
entre os anos 110 e 140 d.C.
Enesidemo dirige a escola em torno dos anos 50 a.C. Autor da obra Argumentações
Pirrônicas. Entre as 8 argumentações estavam os oito tropos (formas de argumentar) .
Na obra Esboços do Pirronismo Enesidemo escreve os 10 tropos da suspensão do juízo.
P.28 Diógenes sobre os tropos. Sexto põe Enesidemo como um sucessor de Heráclito,
“e que a suspensão cética do juízo representava só o ponto de partida para chegar a
entender a doutrina de Heráclito de que “a realidade é contraditória”” p.29
- o tempo é algo corpóreo
- as partes devem se considerar as vezes iguais e distintas do todo
- a mente provém de fora do corpo (Sexto sobre Enesidemo no adversus matemáticus)
Distinção que Enesidemo estabelecia entre os fenômenos: alguns são manifestos para
todos e são “verdadeiros”, outros são manifestos só para alguns e são “falsos”, de forma
que “verdadeiros” vem a significar o que não se choca com a opinião comum” p.30
Empirismo médico no século I d.C, a partir de Zeuxis crê-se que todos os dirigentes da
escola cética foram ligados a medicina empírica “A reivindicação de uma medicina
baseada fundamentalmente na experiência surge a princípio do século III a.C, como
reação as tendências demasiadas teorizantes da tradição Hipocrática” p.31.
“Contra o apriorismo dos hipocráticos, os médicos da corrente empirista pretendiam
ater-se estritamente a experiência” p.32, três momentos da medicina 1- recolher dados
sobre a doença do paciente, observação 2- histórico de casos parecidos em outros
pacientes, baseada em testemunho de médicos 3- decidir um tratamento baseado nos
resultados observados de casos parecidos. Sem dedução teórica universalmente válida.
Agripa autos dos 5 modos da suspensão do juízo. “resulta evidentemente o novo
enfoque formal que Agripa pretendeu das ao ceticismo; a diferença dos de Enesidemo,
os de Agripa se dirigem unicamente a como atacar as construções dogmáticas desde o
ponto de vista exclusivo da Lógica.” P.34
“De todo modo convém tomar em conta que Heródoto marca na Escola Cética a
transição do empirismo radical de Menódoto ao metodismo de Sexto” p.37
LIVRO I
Dogmatizar é tomar por real aquilo que se anuncia. Dogma no dicionário é opinião, doutrina. É afirmar
sem prova. O que é dado como absoluto. Opinião definida ou crença. “assentimento aos objetos não
evidentes” mas na investigação científica.
ADERIR A UM CONJUNTO DE DOGMAS QUE SE RELACIONAM ENTRE SI,
dogma como algo não-evidente.
Aos tropos se segue a suspensão do juízo, Sexto não diz ser afirmativo em sua
quantidade e validez.
§101 - 103 as coisas aparecem diferentes para quem está normal ou em estado anormal.
Lista exemplos. É possível que humores em pessoas de estado anormal sejam as
representações certas e não a de pessoas em estados normais, tomadas por humores
estranhos. Os saudáveis estão em posição diferente das pessoas doentes e vice-versa.
Não há como se fiar nesses humores que parecem diferente para cada um.
§105-106 Em relação a idade. Exemplos: a cor parece mais viva aos jovens e mais
opacas aos idosos. O vento é gelado para estes e agradável para aqueles. Assim também
preferências e rejeição estão para a idade. O que segue, de que diferentes idades formam
representações mentais diferentes.
§107 Em relação a estar parado ou movendo-se.
§108 Em relação ao amor e odiar, ao feio e ao bonito. Algum acham lindas as mulheres
que são feias.
§109 uma coisa pode ser saborosa ou desagradável de acordo com a fome ou a
saciedade da pessoa ; as coisas que parecem vergonhosas quando sóbrios não o são
quando bêbados.
§110 das disposições prévias em que se encontram a pessoa que receberá a impressão,
que determinará como aparecerá a ela.
§111 segundo a coragem e a covardia, a mesma situação aparecerá diferente para
ambos; será diferente também para aquele que está triste ou feliz.
“Assim pois, havendo tal disparidade também quanto as disposições e estando os
homens umas vezes em uma disposição e outras em outras, seguramente é fácil dizer
como se mostra a cada qual cada um dos objetos, mas não como é, posto essa que essa
disparidade é sem solução.” P.87 §114 Há uma disparidade nas representações mentais.
§112Não é possível que um homem não esteja tomado por nenhuma dessas disposições
acima, portanto cabe a ele apenas dizer como é a impressão tal como lhe aparece. Julgar
em qual disposição se encontra é estar no problema, não há imparcialidade.
§115 Sexto parece dar uma previa do problema do critério. Quando opomos
representações mentais a representações mentais, precisamos fazer isso com
demonstração, Para fazer um juízo acerca delas, deve-se fazer a partir de um critério.
Ao investigar se o critério é falso ou verdadeiro surge o problema do critério inicial
(assumindo que o critério é verdadeiro, pois o falso nem se considera) e este deve partir
de alguma demonstração. “É que a demonstração sempre necessitará de um critério para
ser sólida e o critério uma demonstração para que se veja que é verdadeiro.” P.89
Caindo no tropo do círculo vicioso, pois um deve estar garantido pelo outro.
São inúmeras as diferentes representações mentais surgidas de acordo com a
diversidade de posição, portanto, deve-se suspender o juízo.
QUINTO TROPO P. 89
§124O objeto não se apresenta em si mesmo, é impossível dizer como ele é em si visto a
mistura de coisas exteriores, talvez explicar nessa relação, mas não em si. Como o
objeto sempre está conjugado com outro, se vê diferente do que ele é.
§125 exemplos: a cor da pele parece diferente ao sol, e na sombra portanto não tem
como dizer como é realmente a cor da pele. §126 Um som se parece agudo ou grave
conforme o ar em volta. Os odores diferem em ambientes diferentes. O corpo na água é
leve e fora dele é pesado Essas são interferências externas.
-a partir dele com relação a algo: “que o objeto aparece de tal ou qual forma, segundo
aquele que julga e segundo o que acompanha sua observação...” p.103
- por hipótese: “ao cair em uma recorrência ad infinitum, os dogmáticos partem de algo
que não se justifica, tomando diretamente e sem demonstração creem oportuno tomá-lo
com convênio.” P.103
- círculo vicioso: “ocorre quando o que se deve ser demonstrado, dentro do tema que
está investigando, tenha necessidade de uma garantia derivada do que se está
estudando.” P.103
“pois se aquele que dá a hipótese é digno de crédito, nós nunca seremos indignos de
crédito por supor o contrário.” P.104
Se se tomar algo verdadeiro como hipótese: é digno de suspeita/ algo falso: está
apodrecida a base de suas argumentações.
“Ademais, é evidente que tudo que é relacionado com o conhecimento sensível é com
relação a algo, pois é segundo os que recebem a sensação.” P.105
“Por outra parte, também o que é relacionado ao conhecimento intelectual é com
relação a algo, pois as coisas relacionadas com o conhecimento intelectual se formam
segundo aquele que pensa; e se objetivamente fossem tal como se formam não estariam
em discussão.” P.105
E assim são os mais recentes tropos dos céticos, que não querem excluir/substituir os
anteriores, mas sim se unir a eles para mostrar a pretensão dogmática.
“Com efeito, parece que todo o que é apreendido se apreende ou a partir dele mesmo ou
a partir de alguma outra coisa, consideram que se chega a inviabilidade de tudo notando
que nada se apreende nem a partir dele mesmo nem de nenhuma outra coisa.” P.106
Os filósofos da realidade se asseguram disso ao dizerem que tanto o conhecimento
sensível como o conhecimento intelectual é insuperável por não poder nos valermos de
nenhum critério. ???????
XIX – Sobre a expressão não é mais/nada é mais (não são usadas em situações
concretas e situações gerais, respectivamente)
São expressões elípticas, está implícito “nada é mais isto do que isto, este ou aquele”
p.110
“Por que é mais isto que aquilo?” p.111
Usam muita mais formas interrogativas do que enunciativas.
Que – por que?
“Em ‘não é mais isto que isto’ deixa claro nossa forma de sentir segundo a qual, em
virtude da equivalência dos opostos, optamos pela neutralidade; entendendo por
equivalência a igualdade enquanto nos parece provável, e entendendo em geral, por
opostos as coisas que impugnam mutuamente, e por neutralidade o assentimento por
nenhuma.” P.111
Por mais que ela denote assentimento ou negação, a toma em um sentido vago e
impróprio. É importante deixar claro o que se impõe a percepção, como expressar isso
claramente não há preferência. Usa-se a expressão nada é mais sem a segurança de sua
validade, mas segundo o que se mostra manifesto.
“Também deve ter-se presente isso: ao dizermos que não se estabelece nem se nega
nada acerca das coisas que sobre algo não manifesto se dizem dogmaticamente;
porque as coisas que não afetam sensitivamente e nos induzem ao assentimento
independentemente de nossa vontade, a essa assentimos.” P.113
Ser possível que não seja. Pode não ser. Talvez não seja. A imprecisão, a maleabilidade
das expressões suporta, implicitamente, seu contrário.
“Mais uma vez, tão pouco discutimos pela expressão nem nos perguntamos se as
expressões indicam objetivamente isso que dizem, mas – como disse- as tomamos em
um sentido não muito preciso.” P.114
“Na realidade, está claro – suponho – que essas expressões são indicativas de “não-
afirmar-nada”.” P.114
A expressão é tomada no lugar de “não posso dizer a qual das coisas presentes devo dar
crédito ou não” p.114. As coisas se mostram iguais em sua credibilidade/não
credibilidade.
“E nem sequer asseguramos se são iguais; só dizemos o que delas nos é manifesto
quando nos aparecem ofrecen.” P.114
a todo argumento: tudo que foi considerado até o momento pelos céticos e estabelecido
pelos dogmáticos.
argumento: a afirmação dogmática de algo não-evidente estabelecida arbitrariamente.
Equivalente: iguais em credibilidade ou não-credibilidade.
O argumento é direcionado aos céticos em sua forma “opor a cada argumento outro
argumento equivalente” p.118
“A cada argumento que estabeleca dogmaticamente algo, opomos (opõem) um
argumento que se pareça dogmático em sua forma, que seja equivalente enquanto sua
credibilidade ou não credibilidade e o contradiga.” P.118
“... nós absolutamente não afirmamos serem elas verdadeiras, posto que dizemos que
podem refutar-se por si mesmas por estarem incluídas no meio daquilo que anunciam...”
p.119
Diz-se que são parecidos por dizerem sobre a contradição pertencente na mesma coisa,
porém os céticos atribuem isso ao fenômeno, os Heraclitianos dizem isso sobre a
realidade. A contrariedade na coisa é postulado de todos os outros filósofos, não apenas
deles, e também de pessoas comuns que inferem isso a partir de suas experiências e
impressões sensíveis.
Ante a contrariedade, Demócrito afirma que um não é mais que o outro, no entanto o
emprego da expressão é diferente. Demócrito parte da contradição dos fenômenos, mas
o emprego da expressão para a irrealidade das alternativas, e “nós ao de não saber se é
essas duas coisas que aparentam ou nenhuma delas.” P.122
“Mas, diferentes deles, por que la diz que o objetivo é o prazer e a branda agitação da
carne e nós a serenidade de espírito.” P.123
LIVRO II
É contra argumentado aos céticos: como pode julgar o que não se conhece? Como
refutar os postulados dogmáticos se não os apreende?
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Critério: “tanto aquilo pelo o qual se julga a realidade ou não realidade de algo, quanto
aquilo que guia nossa conduta de vida.” P.140
Critério no sentido geral: “todo instrumento de valoração de uma apreensão” p.141,
critérios.
Particular: “todo instrumento técnico de valoração de uma apreensão” p.141
Muito particular: “todo instrumento de valoração de algo não-manifesto; segundo o qual
não se chamam critérios as coisas da vida, mas só as da lógica e aquelas que os
dogmáticos propõem para o discernimento da verdade.” P.141 OS CÉTICOS TRATAM
DESSE
Para alguns sim, para outros não e eles suspenderam o juízo se há ou não há. Se tal
ponto não é elucidável, suspende-se o juízo, se é elucidável, por meio do que seria?
Se não há um critério e nem se existe esse critério.
§20 “E por outra parte, para que a disputa surgida em torno do critério seja elucidada, é
preciso que tenhamos um critério que esteja admitido, por meio do qual podemos
decidir. Porém, para que tenhamos um critério admitido, antes é preciso que a disputa
em torno do critério esteja elucidada.” P.143
Cairá no argumento do circulo vicioso e do ad infinitum.
“Mas vamos supor, pelo andamento do argumento, que os sentidos servem perceber as
coisas; ainda assim, eles iriam TRADUZIR DO INGLES
A discussão não é entorno da apreensão ou não que os sentidos dá das coisas, supõe-se
que sim. Os sentidos são afetados de forma contraditória pelas coisas externas.
§53 – “Assim pois, dizer que todas as percepções são verdadeiras, ou que umas são
verdadeiras e outras falsas, ou que todas são falsas, é impossível sentenciar por que não
temos um critério aceito com o qual determinar aquilo que tentamos dar preferência,
nem dispomos de uma demonstração verdadeira e contrastada, ao estarmos investigando
aqui o critério de verdade com o qual convém determinar se uma demonstração é
verdadeira.” P.154
b- O critério da inteligência
Primeiro a demonstração de que o intelecto é apreensível inexiste. Mas assumindo que
ela existe que é apreensível, “Na verdade, se nem a si mesmo se vê ela com claridade,
mas que há discrepância sobre sua essência e sobra a forma de sua origem e sobre o
lugar em que está, como poderia apreender com clareza algo das outras coisas?” p.156
Tomar partido, escolher um pressuposto é ASSUMIR O QUE ESTÁ
INVESTIGANDO. Se digo que julgo através da inteligência tomo ela como parâmetro,
se digo que não, que é com algo diferente, não diremos que se julga penas pela
inteligência. Não há uma inteligência melhor que outra, considerando também
temporalidade. Não deve ser critério, portanto.