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Manual de Curso de Licenciatura em Ensino de História

HO164 - HISTÓRIA DAS


INSTITUIÇÕES
POLÍTICAS I
Da Antiguidade aos Nossos Dias

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância
CED
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seu todo ou em partes, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Universidade Católica de
Moçambique - Centro de Ensino à Distância). O não cumprimento desta advertência é passível a
processos judiciais.

Elaborado Pelos drs. Elton Berth Beirão e Idelson Alberto,

Licenciados em ensino de História pela UP- Beira,

Colaboradores do Curso de Licenciatura em ensino de História no Centro de Ensino à


Distância (CED) da Universidade Católica de Moçambique – UCM.

Universidade Católica de Moçambique


Centro de Ensino à Distância-CED
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Moçambique-Beira
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Website: www. ucm.ac.mz
Agradecimentos
A Universidade Católica de Moçambique - Centro de Ensino à Distância e o autor do presente manual,
dr. Elton Berth Beirão e Idelson Alberto gostaria de agradecer a colaboração dos seguintes indivíduos
e instituições na elaboração deste manual:

Pela Coordenação e Edição dra. Georgina Nicolau


Pela revisão final dr. Edmar Barreto Jorge
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias i

Índice
Visão geral 5
Benvindo a HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I ....................................... 5
Objectivos da cadeira .................................................................................................... 6
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................ 7
Como está estruturado este módulo................................................................................ 8
Ícones de actividade ...................................................................................................... 9
Acerca dos ícones 9
Habilidades de estudo .................................................................................................... 9
Precisa de apoio? ........................................................................................................... 9
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ............................................................................ 10
Avaliação .................................................................................................................... 10

Unidade I 12
Introdução ao Estudo da História Instituições Políticas ......................................................... 12
Introdução……………………………………………………………………………….12
1.1. Introdução ao Estudo da História Instituições Políticas…………………………….12
1.2. História e Política……………………………………………………………..14
Sumário ................................................................................................................................ 20
Exercícios............................................................................................................................. 20

Unidade II 21
Ideias políticas da Antiguidade Grega……………………………………………………..…22
Introdução…………………………………………………………………………….…22
2.1. Herodoto, pai da historia politica e da História……………………………… 23
2.2. Outopismo Filófico - Platão…………………………………………………….…..24
2.3. A cidade como realidade e como ideal - Aristotles…………………………………33
Sumário ................................................................................................................................ 48
Exercícios............................................................................................................................. 49

Unidade III 50
Democracia na antiguidade Grega ........................................................................................ 50
Introdução………………………………………………………………………… 50
3.1 Democracia directa:…………………………………………………………..52
3.1.1. Dracon……………………………………………………………………...52
3.1.2. Sólon………………………………………………………………………..53
3.1.3. Clistenes…………………………………………………………………….54
3.1.4. Péricles…………………………………………………………………….. 56
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias ii

Sumário ................................................................................................................................ 57
Exercícios............................................................................................................................. 58

Unidade IV 59
Autoridade na Antiguidade GREGA....................................... Erro! Marcador não definido.
Introdução…………………………………………………………………………60
4.1. Hipódamo de Mileto………………………………………………………….61
4.2. Xenofonte……………………………………………………………………. 63
Sumário ................................................................................................................................ 67
Exercícios............................................................................................................................. 67

Unidade V 69
Ideais políticas na Autoridade na Antiguidade ROMANA .................................................... 69
Introdução…………………………………………………………………………….....69
5.1. O regime misto……………………………………………………………………...70
5.1.1. Cicero……………………………………………………………………………..70
5.1.2. Polibio……………………………………………………………………………. 72
Sumário ................................................................................................................................ 75
Exercícios............................................................................................................................. 74

Unidade VI 76
Pensamento político Idade Média ......................................................................................... 75
Introdução……………………………………………………………………………….76
6.1. Carecteristicas……………………………………………………………………....76
6.2. Santo Agostinho…………………………………………………………………….77
6.2.1. Tomas de Aquino………………………………………………………………… 83
Sumário ................................................................................................................................ 90
Exercícios............................................................................................................................. 90

Unidade VII 92
___________________________________________________________________________
As reformas politicas e o pensamento politico ...................................................................... 91
Introdução……………………………………………………………………………….92
7.1. Henrique VIII, João Calvino………………………………………………...……...92
Sumário ................................................................................................................................ 96
Exercícios............................................................................................................................. 97

Unidade VIII 98
Pensamento político da idade Moderna ................................................................................. 98
Introdução……………………………………………………………………………….98
8.1. Maquiavel………………………………………………………………………...…99
8.2. Thomas More……………………………………………………………………...100
8.3. Erasmo de roterdão………………………………………………………………..101
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias iii

Sumário .............................................................................................................................. 104


Exercícios........................................................................................................................... 104

Unidade IX 105
Teorias mercantilistas e fisiocráticas ................................................................................... 105
Introdução……………………………………………………………………………...106
9.1. Mercantilismo e Fisiocratismo (Luis XIV, Bosuet e Richelieu, Colbert)…………105
Sumário .............................................................................................................................. 110
Exercícios........................................................................................................................... 111

Unidade X 112
Monarquia constitucional ................................................................................................... 112
Introdução……………………………………………………………………………..113
10.1. Montisquieu……………………...………………………………………………114
10.2. Voltaire………………………………………………………………………...…118
10.3. Rousseau………………………………………………………………………… 121
Sumário .............................................................................................................................. 122
Exercicios……………………………………………………………………………………123

Unidade XI 124
Democracia e estado de Direito .......................................................................................... 123
Introdução…………………………………………………………………………...…124
11.1. Democracia e Estado de Direito - Visão geral…………………………………...125
11.2. O Estado na optica de Thomas Hobbes………………………………………… 123
Sumário .............................................................................................................................. 133
Exercicio…………………………………………………………………………………….133

Unidade XII 133


Estado corporativo .............................................................................................................. 133
Introdução……………………………………………………………………………... 133
12.1 Althusius (estado Corporativo)…………………………………………………... 133
Sumário .............................................................................................................................. 135
Exercício ............................................................................................................................ 137

Unidade XIII 137


Estado soberano.................................................................................................................. 137
Introdução……………………………………………………………………………..138
13.1. Bodin…………………………………………………………………………….138
Sumário……………………………………………………………………………………...143
Exercícios……………………………………………………………………………………144

Unidade XIV 145


Os primeiros sintomas do liberalismo ................................................................................. 144
14.1.Liberalismo e Democracia……………………………………………………….. 154
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias iv

14.2. Nascimento e Tipos de liberalismo………………………………………………147


14.3. Liberalismo - Locke……………………………………………………….……..149
14.4. Liberalismo Aristocrático: Montesquieu………………………………………...151
14.5. Soberania popular - Jean Jacques Rousseau……………………………………..153
14.6. Liberalismo Clássico……………………………………………………………..154
14.7. O liberalismo Extremista………………………………………………………...155
Sumário .............................................................................................................................. 156
Exercicios……………………………………………………………………………………158

Unidade XV 158
O liberalismo ...................................................................................................................... 158
Introdução…………………………………………………………………………….. 158
15 .1. Saint-Simon: Os Projectos de Governo……………………………………… 158
15.2. Condorcet: A Soberânia Popular……………………………………………….. 159
15.3. Sieyès: A Soberânia Nacional………………………………………………….. 160
15.4. Royer-Collard: Legitimidade e Liberdade……………………………………… 162
Sumário .............................................................................................................................. 163
Exercícios........................................................................................................................... 163

Unidade XVI 166


Constitucionalismo democrático ......................................................................................... 165
Introduçao……………………………………………………………………………... 165
16.1. Constitucionalismo Democrático………………………………………………... 165
Sumário .............................................................................................................................. 167
Exercícios........................................................................................................................... 167

Unidade XVII 168


Formas de poder e dominação (governo e regimes)............................................................. 168
Introdução……………………………………………………………………………... 168
17.1. Tipos de Dominação…………………………………………………………….. 169
17.2. Sistemas de governo……………………………………………………………...174
17.3. Regimes políticos………………………………………………………………... 175
Sumário……………………………………………………………………………………...179
Exercicio…………………………………………………………………………………….179

Unidade XVIII 180


Partidos políticos ................................................................................................................ 179
Introduçao……………………………………………………………………………... 180
18.1 Partidos políticos…………………………………………………………………. 180
18.2. Tipos de Partidos políticos………………………………………………………. 182
Sumário .............................................................................................................................. 183
Exercícios........................................................................................................................... 183

Referências Bibliográficas .................................................................................................. 184


HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 5

Visão geral
Benvindo a
HISTÓRIA DAS
INSTITUIÇÕES
POLÍTICAS I
A história durante muito tempo foi concebida como o campo mais
apurado da retórica e pelo menos na primeira fase do humanismo
renascentista, nos princípios do séc. XV, não se fazia distinção
entre moralidade pública e privada. A filosofia moral era um guia
de comportamento para qualquer esfera da vida e cabia à história
mostrar como aplicar suas lições a situações específicas. A
necessidade de tornar a história uma fonte de instrução para os
estadista foi um factor importante para a eximir da suserania da
retórica. O historiador humanista que documentava as incertezas
dos assuntos do Estado para o futuro príncipe, formulava injunções,
exortando-o a seguir as máximas incontroversas da moralidade
privada. Os homens se sentiam compelidos, se queriam
compreender a condução da política, a ocupar-se da investigação
histórica.

A dependência do político em relação ao historiador torna-se


completa. E na conduta da política, tinha que aceitar os homens e
as circunstâncias tal como se lhe deparavam. Assim, enquanto os
humanistas tradicionais se contentavam em admirar a antiguidade,
o que se tornava necessário para as reflexões históricas adquirirem
alguma utilidade política, era um entendimento perfeito do modo
como as instituições e as políticas se reforçavam mutuamente,
criando uma tendência bem arreigada entre os cidadãos a favor da
acção para o bem público.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 6

Objectivos da
cadeira
Quando terminar o estudo de História das Instituições Políticas: da
antiguidade aos nossos dias, o estudante será capaz de:

Saber como a Política e suas instituições evoluíram desde a idade


Antiga até aos nossos dias respondendo aos seguintes objectivos
específicos:

Objectivos
Explicar as ideias políticas da Antiguidade Grega na concepção
Platão, Aristótoles e Heródoto;
Identificar os pensadores da democracia na antiguidade Grega:
Dracon, Sólon, Clistenes e Péricles;
Caracterizar autoridade na antiguidade Grega na visão Xenofonte e
Pisístrato;

 Explicar a natureza do pensamento político Romano através


das ideias de Políbio e Cícero;

 Decrever o pensamento politico da idade média tendo a


concepção de Santo gostinho e Tomás de Aquino;

 Comentar as reformas políticas e o pensamento político de


Henrique VIII e João Calvino;

 Conhecer o pensamento político da idade moderna na visão de


Maquiavel, Thomas More e Erasmo de Roterdão;

 Mencionar teorias mercantilistas e fisiocráticas na concepção


Luis XIV, Bossuet e Richelieu, Colbert;
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 7

Apresentar monarquia constituicional apresentada por


Montesquieu, Voltaire e Rousseau;

Caracterizar a democracia e Estado de Direito-visão geral na


posição Thomas Hobbes;

Conhecer estado corporativo na visão Althusius;

 Saber o estado Soberano na concepção Bodin;

Comprender os diferentes sintomas do Liberalismo nas concepções


de: Locke, Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau, Destutt Tracy;

Analisar os diferentes liberalismos: os ideias do liberalismo


clássico e e extremista;

 Compreender a evolução das várias doutrinas de governo e a


natureza interna de cada uma nomeadamente: Liberalismo e
Constitucionalismo Democrático;

 Conhecer e caracterizar os princípios de dominação;

 Saber distinguir e caracterizar os conceitos: sistemas de


governo, regimes políticos e partidos políticos

Quem deveria
estudar este
módulo
Este Módulo foi concebido para todos aqueles que Este Módulo foi
concebido para todos aqueles estudantes que queiram ser
professores da disciplina de História, que estão a frequentar o curso
de Licenciatura em Ensino de História, do Centro de Ensino a
Distância. Estendese a todos que queiram consolidar os seus
conhecimentos sobre as Instituições Políticas Áfricanas.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 8

Como está
estruturado este
módulo
Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade
Católica de Moçambique - Centro de Ensino a Distância
encontram-se estruturados da seguinte maneira:
Páginas introdutórias
Um índice completo.
Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os
aspectos-chave que você precisa conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes
de começar o seu estudo.
Conteúdo do curso / módulo
O curso está estruturado em unidades. Cada unidade ncluirá uma
introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade
incluindo actividades de aprendizagem, um summary da
unidade e uma ou mais actividades para auto-avaliação.
Outros recursos
Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma
lista de recursos adicionais para você explorer. Estes recursos
podem incluir livros, artigos ou sites na internet.
Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação
Tarefas de avaliação para este módulo encontram-seno final de
cada unidade. Sempre que necessário, dão-se folhas individuais
para desenvolver as tarefas, assim como instruções para as
completar. Estes elementos encontram-se no final do modulo.
Comentários e sugestões
Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer
comentários sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os
seus comentários serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar
este curso / modulo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 9

Ícones de
actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas
margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.
Acerca dos ícones
Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir,
cada um com uma descrição do seu significado e da forma como
nós interpretámos esse significado para representar as várias
actividades ao longo deste curso / módulo.

Habilidades de
estudo
Caro estudante, procure reservar no mínimo 2(duas) horas de
estudo por dia e use ao máximo o tempo disponível nos finais de
semana. Lembre-te que é necessário elaborar um plano de estudo
individual, que inclui, a data, o dia, a hora, o que estudar, como
estudar e com quem estudar (sozinho, com colegas, outros).
Lembre-te que o teu sucesso depende da tua entrega, tu és o
responsável pela tua própria aprendizagem e cabe a ti planificar,
organizar, gerir, controlar e avaliar o teu próprio progresso.
Evite plágio.

Precisa de apoio?
Caro estudante:
Os tutores têm por obrigação monitorar a sua aprendizagem, dai o
estudante ter a oportunidade de interagir objectivamente com o
tutor, usando para o efeito os mecanismos apresentados acima.
Todos os tutores têm por obrigação facilitar a interação. Em caso
de problemas específicos, ele deve ser o primeiro a ser contactado,
numa fase posterior contacte o coordenador do curso e se o
problema for da natureza geral, contacte a direcção do CED, pelo
número 825018440.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 10

Os contactos so se podem efectuar nos dias úteis e nas horas


normais de expediente.

Tarefas (avaliação
e auto-avaliação)
O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e
auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
antes do período presencial.
Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não
cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante
As trabalhos devem ser entregues ao CED e os mesmos devem ser
dirigidos ao tutor/docentes.
Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,
contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor

Avaliação
Tu serás avaliado durante o estudo independente (80% do curso) e
o período presencial (20%). A avaliação do estudante é
regulamentada com base no chamado regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por ti desenvolvidos , durante o estudo
individual, concorrem para os 25% do cálculo da média de
frequência da cadeira.
Os testes são realizados durante as sessões presenciais e concorrem
para os 75% do cálculo da média de frequência da cadeira.
Os exames são realizados no final da cadeira e durante as sessões
presenciais, eles representam 60% , o que adicionado aos 40% da
média de frequência, determinam a nota final com a qual o
estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da
cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar: realizar realizar 3 (três)
trabalhos, 2 (dois) teste e 1 (um) exame.

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizadas


como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 11

avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação,


a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão
dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os
objectivos e critérios de avaliação estão indicados no manual.
Consulteos.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 12

Unidade I
Introdução ao Estudo
da História Instituições
Políticas

Introdução
Nesta unidade ira se abordar a história das instituições políticas,
facultando desta feita sobre o seu campo de acção, destacando o
seu objecto de estudo desde a existência da sociedade. No contexto
da história e política alguns pensadores fazem comentário da
relação existente entre a história e a política, compreendendo o
período humanismo, que se começou a evidenciar esta visão.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:


 Conhecer o objecto do estudo da história das instituições Políticas;
 Identificar os métodos da história das instituições política;

Dar a concepção de História e Política;

Destacar os filósofos que debruçaram sobre a matéria de à e o seu


Objectivos contributo.

1.1. Introdução ao estudo da história das instituições políticas

A história é, pois um campo de observação científica onde se


podem colhermos factos que devidamente estudados em si e nas
suas relações, permitam a formulação de regras de probabilidade
dos acontecimentos.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 13

Mas além disso o seu estudo fornece a explicação de muitos factos


actuais que representam o momento de uma evolução com origens
longínquas. A maior dificuldade em utilizar a história está em obter
o máximo de certeza quanto à reconstituição dos factos passados
em todas as suas circunstâncias e pormenores assim a história, para
ser o laboratório de estudos políticos, tem de ser feita segundo uma
técnica rigorosa que vise à objectividade.

Entretanto a história das instituições políticas preocupa-se em


reconstituir a evolução dos órgãos do poder político e de todos os
factores que a originam, condicionando a acção desses órgãos e
limitando a sua autoridade, compreende o objecto da história das
instituições políticas as instituições políticas. De facto esta ciência
permitem periodizar a história, tendo a componente principal o
estado, que pode ver desde sua origem com a polis clássica, a
monarquia clássica, a monarquia helenística, o império romano, os
reinos germânicos, a monarquia feudal, a monarquia absoluta, o
estado liberal e o estado social. Também são objectos da disciplina
o resto das instituições politicas, locais (municípios), judicias,
legislativa.

Os métodos empregados pela história das instituições política, são


principalmente, os das ciências sociais: método empírico (são
método que um modelo de investigação científica que se baseia na
lógica empírica), método comparado, método estatístico, método
histórico.

Contudo todo o regime político e sistema de governo tende a


traduzir-se em instituição através das quais perdure, adquirindo
para os indivíduos o carácter de valor social superior que orienta e
condiciona as vontades e não está à mercê delas, dai as instituições
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 14

estarem relacionadas com formas políticas, mas não sendo elas


próprias a forma política.

1.2 História e Política


A história humanista, tanto em teoria como na prática, era uma
deliberada imitação de métodos que prevaleceram num período
considerado representativo do apogeu da realização cultural. Os
objectivos da história tinham sido resumidos por Aristóteles
(história como fonte de instrução semelhante à poesia no seu
interesse real pelos pormenores, mas de âmbito mais restrito devido
à sua preocupação com o que realmente acontecia) e por Cícero (a
ênfase colocada na dignidade da vida pública determinava o campo
próprio do historiador).

A história era concebida como o campo mais apurado da retórica,


inculcando as máximas da filosofia moral de uma maneira que as
tornava facilmente assimiláveis. E pelo menos na primeira fase do
humanismo renascentista, nos princípios do séc. XV, não se fazia
distinção entre moralidade pública e privada. A filosofia moral era
um guia de comportamento para qualquer esfera da vida e cabia à
história mostrar como aplicar suas lições a situações específicas.

Muito embora os humanistas partilhassem uma concepção dos


valores eternos com os pensadores da idade média, distinguiam-se
pela sua visão do homem como criador desses valores. Se bem que
a moralidade fosse, em tempos, equacionada como a ordem
divinamente decretada por Deus, era agora considerada em relação
às instituições e práticas que os homens idealizavam a fim de levar
uma vida boa. O interesse pela história no séc. XV incentivou-se
devido ao crescente envolvimento de homens instruídos no governo
das suas cidades em Itália. O humanismo literário transformou-se
num humanismo cívico mais amplo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 15

Em Florença, esperava-se que os mais altos funcionários da


Chancelaria escrevessem relatos históricos que fizessem a apologia
das cidades e dos princípios que ela representava. Cada um desses
funcionários utilizava uma concepção de liberdade derivada de
Cícero, ao passo que nas estruturas das suas histórias seguiam os
grandes historiadores de Roma. Salústio e Tito Lívio, em particular,
eram tidos em grande apreço. Qualquer desvio em relação a seus
métodos era tido como prova de mau gosto. As únicas matérias
julgadas dignas de serem incluídas numa história eram as que
diziam respeito a condução da vida pública.

Em toda obra de História era dada mais importância, à interpretação


de relatos geralmente aceites, do que à documentação
pormenorizada, pois o principal interesse do historiador humanista
era o de reforçar invariavelmente o vigor e a virtú da sua própria
politeia. Assim, o historiador adoptaria os pormenores de uma
crónica conceituada e passaria a contar de novo a história de acordo
com os princípios fundamentais seguidos pelo historiador romano
que ele tivesse privilegiado. Comparar-se-iam por vezes crónicas
diferentes a fim de verificar pormenores específicos; e alguns
humanistas, verificariam os seus relatos, sobretudo de
acontecimentos recentes, cogitando-os com documentos facilmente
acessíveis. Mas nunca se tentou fazer uma descrição exaustiva das
vicissitudes de uma cidade. Apenas se versavam as grandes ocasiões
da vida pública para alimentar o patriotismo entre os cidadãos e a
arraia-miúda.

A necessidade de tornar a história uma fonte de instrução para os


estadista foi um factor importante para a eximir da suserania da
retórica. A história humanista apresentava um relato tão idealizado
como estilizado da condução dos negócios públicos. O historiador
humanista que documentava as incertezas dos assuntos do Estado
para o futuro príncipe, formulava injunções, exortando-o a seguir as
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 16

máximas incontroversas da moralidade privada. Uma vez


perturbado o equilíbrio da moralidade pública e privada, punha-se
em dúvida esta forma de narrativa histórica.

As forças das circunstâncias favoreceram esta reavaliação. A


invasão da Itália pelos franceses em 1494, marcou uma linha de
separação na história da península. As cidades-estados italianas
estavam habituadas às ingerências de potências estrangeiras nos
seus negócios mas até então, estas tinham-se mostrados um
incómodo temporário que não conseguia transtornar o súbtil
equilíbrio da diplomacia renascentista. Nesse momento, a Itália
tornava-se um peão num jogo diplomático com origem externa.

Os homens ainda se sentiam compelidos, se queriam compreender a


condução da política, a ocupar-se da investigação histórica. Mas já
não podiam seguir os antigos padrões humanistas de decorro nas
suas narrativas históricas. Em especial, se a história quisesse manter
o seu papel de ensinamento da filosofia moral através de exemplos,
tornava-se necessário um maior empenhamento no pormenor e na
exactidão. Os homens não eram os únicos árbitros do seu destino e
os estadistas não eram livres de adoptar uma política por esta
corresponder simplesmente aos seus ideais. Qualquer acção
diplomática implicava uma inter-relação de intenções, ambições,
esperanças e receios que deixavam muito pouco espaço à iniciativa
individual.

Mas isto não significava que os estadistas nada pudessem fazer para
melhorar as condições das suas politeias. Uma análise histórica
rigorosa, revela a tendência para o equilíbrio de poder; e um
estadista familiarizado com situações comparáveis do passado,
avaliaria mais facilmente as forças antagónicas que limitavam o
âmbito da sua própria acção. A grande lição que a história tinha para
ensinar era que a acção estava sujeita a constrangimentos
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 17

circunstanciais. Os preceitos da filosofia moral ou política, não


podiam ser aprendidos e depois aplicados, porque a prudência na
aplicação de qualquer regra dependeria da concatenação das
circunstâncias. Não se podia determinar a correcção de uma certa
forma de agir por referência a regras morais. A avaliação do
comportamento político só se podia fazer em termos históricos, mas
tratava-se de uma história moldada, mas de acordo com a prática da
arte de governar do que com os princípios da retórica ciceroniana.

O mais famoso representante deste novo estilo de reflexão histórica


sobre a prática política foi Maquiavel. Todos os seus trabalhos
históricos e teóricos mais importantes foram escritos depois de
afastado das suas funções oficiais em 1512, a seguir a restauração
dos medicis. E o realismo que o tornou famoso inspirou-se
fortemente na sua experiência diplomática e política. Considerava
que a actividade literária substituía o envolvimento prático em
negócios de estado. E os seus trabalhos estão imbuídos de uma
paixão pela negociação e a intriga e da convicção de que a reflexão
disciplinada sobre as lições da história podia instruir o estadista à
medida que esse procurava prosseguir uma política perante a
oposição perigosa e imprevisível de inimigos internos e externos.

A preocupação dominante de Maquiavel, era influenciar a condução


dos negócios públicos. Não se devia oferecer conselho político sem
olhar à considerações circunstanciais. Se as boas intenções de um
príncipe resultassem na ruína de seu país, às mãos de adversários
sem escrúpulos, talvez fosse melhor que o historiador determinado
em instruir se concentrasse no código das práticas realmente
empregues em assuntos de estado e não num código apenas
admirado por palavras do que por feitos.

O historiador não devia alongar-se nas tradicionais virtudes


ciceronianas ou cristãs, mas devia apresentar as coisas como são na
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 18

verdade real e não como são imaginadas. Os humanistas e os padres


da igreja eram igualmente culpados como guias de comportamento
político, pois tinham estruturados seus conselhos sobre uma
concepção da moralidade privada. Uma reflexão constrangida sobre
a prática política, revelara a Maquiavel um mundo amoral que
parecia governado por uma lógica própria. Dai resultava que sem
impugnar as máximas tradicionais da moralidade privada se podiam
recomendar expedientes a um príncipe que seriam justamente
condenados se fossem postos em prática por um vulgar cidadão. Em
geral, na perspectiva de Maquiavel, qualquer teoria histórica ou
política que recomendasse formas de procedimento baseadas em
ideais abstractas era responsável pela confusão entre considerações
de moralidade e de utilidade prática.

A dependência do político em relação ao historiador torna-se


completa. Na conduta da política, tinha que aceitar os homens e as
circunstâncias tal como se lhe deparavam. Dado o carácter
depravado da natureza humana, só podia alimentar a esperança de
induzir os homens a agir a favor da sua causa se os tivesse
persuadido de que o interesse individual deles coincidia com o seu
próprio.

Os humanistas tradicionais tinham-se contentado em admirar a


antiguidade; o que se tornava necessário para as reflexões históricas
adquirirem alguma utilidade política, era um entendimento perfeito
do modo como as instituições e as políticas se reforçavam
mutuamente, criando uma tendência bem arreigada entre os
cidadãos a favor da acção para o bem público. Esta harmonia fora
alcançada em Roma. E uma vez que a natureza humana se mantinha
a mesma, era uma possibilidade perpétua para qualquer politeia. O
comportamento humano na opinião de Maquiavel era regido por leis
naturais tanto quanto os movimentos dos planetas.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 19

Correspondentemente, se prestasse minúcia atenção à coerência das


instituições entre os romanos, descobrir-se-iam as leis da política.
Mas, Maquiavel, não foi único a discutir a utilidade da história para
política. Francesco Guicciardini, entra na discussão através das suas
críticas à Maquiavel.

O método de Maquiavel pressupunha que a Roma republicana


constituía um padrão político perene contra o qual a decadência da
Itália contemporânea poderia ser convenientemente avaliada.
Todavia, na opinião de Guicciardini, Roma florescera em
circunstâncias tão diferentes que era utópico esperar uma renovação
política nos princípios do séc. XVI aplicando lições colhidas da
antiguidade. As situações históricas não podiam ser comparadas
deste modo, pois era insensato isolar preceitos do seu contexto. Nas
reflexões históricas de Maquiavel, um homem de estado defronta-se
com alternativas de contorno bem definidos; para Guicciardini, uma
situação histórica consiste em elementos tão diversos que somente
uma descrição exaustiva do equilíbrio de forças podia servir para
tornar inteligíveis uma decisão e as suas consequências.

Guicciardini, tinha-se desviado ainda dos seus predecessores


humanistas no que respeita ao método, assim como ao objectivo da
sua história. Onde os humanistas tinham baseado as suas narrativas
nos pormenores de uma crónica conceituada, Guicciardini fazia
extensa referência a fontes de arquivo. Sabia destrinçar quando
recorria às autoridades contemporâneas, mostrando-se
especialmente cauteloso com a história, de Maquiavel, devido à sua
incerta base factual. E se a sua utilização das fontes se pode
considerar primitiva, e selectiva em comparação com os padrões da
moderna historiografia, a maneira de Guicciardini atacar o problema
representou um progresso técnico em relação aos métodos dos
humanistas.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 20

Sumário
A história humanista, tanto em teoria como na prática, era uma
deliberada imitação de métodos que prevaleceram num período
considerado representativo do apogeu da realização cultural. Os
objectivos da história tinham sido resumidos por Aristóteles
(história como fonte de instrução semelhante à poesia no seu
interesse real pelos pormenores, mas de âmbito mais restrito devido
à sua preocupação com o que realmente acontecia) e por Cícero (a
ênfase colocada na dignidade da vida pública determinava o campo
próprio do historiador).

Exercícios
1. Descrever a importância da história das instituições políticas.
2. Como era concebida a história humanística.

3. Na óptica de Maquiavel, o comportamento humano era regido por


leis naturais tanto quanto os movimentos dos planetas. Concorda
com esta afirmação. Justifica a sua resposta.

4. Fala sobre a aprendidos e aplicados dos preceitos da filosofia moral


ou política.

5. Destaque os filósofos que debruçaram sobre a matéria de política e


o seu contributo.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 21

Unidade II
Ideias políticas da
antiguidade GREGA

Introdução
Heródoto é atribuído o papel fundamental de pai da historia, por ter
se dedicado em registar a historia, não só historia da Grécia, ma
também Egipto e a Mesopotamia

Platão tem sido bastante estudado, quer como filósofo quer como
escritor, e de tal maneira foi estudado pelos filósofos que há uma
multiplicação de Platões, pois cada comentador construiu um a sua
medida. Já Aristóteles começa por estudar a origem das
constituições de Atenas desde a época em que são historicamente
conhecidas, para depois apresentar, numa segunda parte, as
instituições do direito positivo. Organiza os órgãos políticos
dividindo-os em três categorias, de acordo com os critérios que
farão a glória tardia de Montesquieu.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Analisar o papel de Heródoto no contributo da história e política;


Objectivos  Descrever o pensamento grego em matéria política, a partir dos
pensadores Platão e Aristóteles;
 Identificar nas suas ideias, semelhanças e diferenças;
 Explicar o Princípio de Governo na perspectiva de Platão.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 22

2.1 Heródoto, pai da Política e da História

Heródoto1 foi o primeiro não só a gravar o passado, mas também a


considerá-lo um problema filosófico ou um projeto de pesquisa que
podia revelar conhecimento do comportamento humano. A sua
criação deu-lhe o título de "Pai da História" e a palavra que utilizou
para o conseguir, história, que previamente tinha significado
simplesmente "pesquisa", tomou a conotação atual de "história".

Heródoto constitui uma verdadeira profissão de fé no ofício de


historiador. Ele propõe-se não só informar acerca dos gregos, mas
também acerca dos Bárbaros, propõe não só reconstituir os factos,
mas sobretudo descrobir a razão poque se deram. Produto de uma
civlização urbana relativamente avançada, Heródoto é já uma voz
uma visão universalista dos homens.

Com Heródoto (que não se limitou a escrever as sobre guerras


persicas, mas foi também ao Egipto e a Mesopotamia sobre cuja
história escreveu ), atravessando, com efeito, a fronteira entre a
historiografia gentílica e a historiografia ecumenica. Ter-se-a
evidentemente de esperar pelas conquista de Alexandre Magno e
pela formaçã de mundo helenistico, para que o ecuminismo, ou seja
o reconhecimento do parenteso universal dos homens, se
transformem num sentimento generalizado2.

A quem estanhe o facto de Heródoto não se ter balançado a


escrever uma história universal ou da Grécia, na realidade de

1 Heródoto de Halicarnasso foi um historiador grego, continuador de Hecateu de Mileto, nascido no século V a.C. (420 a.C. -
485 a.C.?), foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos princípios do século V a.c., conhecida simplesmente como
As histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como uma nova forma de literatura pouco depois de ser publicada. Antes
de Heródoto, tinham existido crónicas e épicos, e também estes haviam preservado o conhecimento do passado.
2
GOMES. Raul Rodriguis, introdução ao Pensamento Histórico, p. 48
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 23

estranhar seria o que tivesse tentado. É que Herodoto fazia história


partir de testemunhas fidedignos. O historiador não podendo fazer a
história que quer, deve contentar-se em fazer a história possível.

Melhor assim do que ter que recorrer a mitologia, sem ser ainda
uma ciência, a história ensaia com Heródoto os seus primeiros
passos na senda da cientificação.

2.2. O utopismo Filosófico - Platão

Ao primeira data do meio da sua vida e a segunda foi redigida no


fim, e provavelmente não teve tempo de as concluir. A estas obras
maiores junta-se um trabalho de juventude, o diálogo intitulado O
Político ou A Realeza, muito importante, mas muito menos lido.
Platão tem sido bastante estudado, quer como filósofo quer como
escritor, e de tal maneira foi estudado pelos filósofos que há uma
multiplicação de Platões, pois cada comentador construiu um a sua
medida.

No campo político, a primeira definição de política apresentada por


Platão, é sem dúvida, humorística: “ a política é a arte de criar
rebanhos, os quais se dividem em primeiro lugar em animais
cornudos e não cornudos, depois em bípedes e quadrúpedes...a
política é a arte de conduzir bípedes sem cornos e sem pernas.”

Posteriormente, a política é definida como um conhecimento


especulativo, destinado à educação comum dos homens. Torna-se de
seguida a arte de conduzir a sociedade humana. Os homens podem
ser conduzidos por meio de coerção e violência, mas também o
podem ser mediante aquiescência da sua livre vontade. A arte de
governar os homens através da persuasão será chamada política.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 24

Assim, a política é a arte de governar os homens com seu


consentimento. E o político é aquele que conhece esta arte. Poderá
ser, mas não será necessariamente, um governante efectivo. O que
faz o político não é o exercício de uma função, mas a qualidade do
homem. Tanto um chefe como um particular podem ser qualificados
de “reais” ou “políticos”, ao passo que um rei que não possua
ciência não é um verdadeiro político.

A política não é a ciência militar. A estratégia mostra como se deve


fazer a guerra e os procedimentos para nela triunfar, para alcançar a
vitória. Mas a ciência militar não responde a questão prévia que a
política tem de resolver, a de saber se deve ou não abrir hostilidades.
Isto é, será o político a decidir da guerra ou da paz, ao passo que,
uma vez declarada a guerra, o estratego se esforça por ganha-la. A
política não é também a jurisprudência ou a arte de pronunciar
sentenças justas. A justiça está subordinada à política, porque é a
política que estabelece as leis e a magistratura tem a mera tarefa de
executá-las.

A política também não é a eloquência, embora esta contribua para a


autoridade real. A arte da palavra é necessária à persuasão. Mas o
político decide se deve empregar a persuasão ou recorrer à coacção.
Assim, as ciências do estratego, do juiz ou do orador são todas elas
ciências de servidores. A verdadeira e única ciência real é a política.
Mas esta não intervém por si directamente; manda outras agirem
subordinadas a ela. Avalia as ocasiões favoráveis à execução das
empresas importantes, vela pelas leis e pelos interesses do Estado. A
política esta presente em toda a parte e em parte alguma está só. É
analisada através de certas operações que, em si, não possuem
carácter de actividade política, mas que dela dependem
estreitamente.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 25

Sendo a política o conhecimento supremo, encontra-se fora das


normas e limites comuns, consiste no exercício de um poder
arbitrário e totalitário.

O poder político é arbitrário porque o génio político está acima das


leis. Para compreendermos esta posição, é preciso não esquecer que,
filosoficamente para Platão, o individual, é superior ao geral. Uma
regra única para toda a gente e para todos os tempos não
corresponde à diversidade entre os indivíduos e entre suas acções. O
individual não pode sem mutilações ser reconduzido às normas
comuns. Por outro lado, as coisas humanas são essencialmente
móveis. Não é possível escrever antecipadamente, por meio de
disposições gerais, impessoais e objectivas, as exigências do
político. Logo, a ordem não deve ser algo já feito, previamente
preparado, mas por medida e utilizado a propósito de cada acto e de
cada pessoa. O legislador nunca será capaz de por meio de uma
ordem dirigida a toda a multidão, prescrever a cada um em
particular o que lhe convém exactamente. O génio da política deve
permitir ditar a cada um o que lhe é conveniente, em cada tempo e
lugar, tendo em consideração a marcha do acontecimento, o
movimento contínuo que arrasta a humanidade. O valor do mando
genial permitir-lhe-á emancipar-se das leis e exprimir-se não por via
geral e sim através de decisões individuais.

Mas o poder político é também totalitário. Para Platão, seria errado


acreditar que basta fazer leis sobre as acções relativas à ordem
pública, sem ser necessário descer até à família. Também seria
errado deixar a cada um a liberdade de viver à sua maneira no seu
espaço interior. Igualmente errado seria ainda acreditar que não há
necessidade de subordinar tudo à autoridade. Logo, nenhuma
parcela é reservada à liberdade ou deixada à espontaneidade e a
iniciativa individual. Por fim, seria errado acreditar que,
abandonando os cidadãos a eles próprios nas acções privadas, eles
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 26

não se tornarão cumpridores menos rigorosos das leis no que toca a


ordem pública.

A conclusão natural de Platão é que tudo que se faz no Estado,


segundo a ordem e sob a orientação da lei, é para ele fonte de uma
infinidade de bens. Pelo contrário, o que não é regulado ou o que é
mal regulado, prejudica a maior parte dos outros regulamentos, por
mais sabiamente elaborados.

2.2.1. O Princípio de Governo


Em Platão, o princípio de governo é a dominação da inteligência
política, a realeza do génio, a soberania da sageza. É o que chamou
de Sofiocracia3:

1 Os requisitos sofiocráticos do poder, dizem que o poder deve ser


atribuído aos que sabem. De todos os governos, o único que merecer
este nome é o que pertence a chefes realmente instruídos na ciência
política. Que o chefe reine segundo as leis ou sem leis; que mande
segundo ou contra a vontade geral; que seja rico ou pobre; que seja
de um só, de vários ou mesmo de uma multidão, é algo de
importância secundária. Nenhuma destas condições acrescenta ou
retira seja o que for à perfeição interna do poder. Esta consiste na
posse de uma ciência, ou antes, de uma sageza, pois para merecer o
título de político e ter, por isso, direito ao poder não basta possuir
conhecimentos, é necessário um certo temperamento. Os que
possuem uma natureza muito moderada não são adequados para
dirigir o Estado; têm tendência a viver tranquilamente; conduz os
seus assuntos sós e à parte; pacíficos em casa, desejam sê-lo
também para com os Estados estrangeiros.

2 Os meios sofiocráticos de aquisição do poder, procedem do


mesmo ponto de vista. Para que o Estado seja bem governado, é
3
Regime em que o rei ou príncipe se torna filósofo
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 27

preciso que os filósofos se tornem reis ou que os reis se tornem


filósofos. No primeiro caso, o estabelecimento da sufocracia está
ligado ao aparecimento de um génio político, mas Platão não diz de
que maneira este se imporá. Em contrapartida, dá indicações
pormenorizadas no tocante à outra hipótese, a de um rei tornar-se
filósofo. E aqui vemos transparecer a ideia que o homem que detém
autoridade pode ser acessível ao ascendente do génio. Por isso, as
esperanças de Platão recaem num tirano jovem, ainda maleável, que
ouça as lições de um filósofo para se tornar filósofo. Neste caso, a
preferência de Platão vai para a tirania, porque a autoridade do
tirano tem o duplo mérito de existir e de estar concentrada.

Dispondo de um poder efectivo e absoluto, será poderoso para o


bem, que lhe é revelado como foi para o mal. Platão julga que a
transformação do tirano graças ao ascendente do filósofo não só é
possível, mas relativamente fácil. Em contrapartida, acha inútil
educar a multidão.

3 Os meios sofiocráticos de transmissão do poder são tão difíceis de


realizar como os da sua aquisição. Para assegurar a duração da
sofiocracia, é necessário recrutar hereditariamente uma elite de
sages, dai uma organização menos constitucional que social, já que
o poder e sua transmissão tem a ver com qualidades pessoais e não
com instituições. Para Platão, cada membro do Estado deve
desempenhar a função para a qual é mais apto e apenas essa. Nada é
mais complicado que a confusão de diversas ordens de competência
na mesma cabeça. Assim, divide os cidadãos da Cidade ideal em
classes, que serão três: os magistrados, os guerreiros ou guardiões,
os agricultores e artífices. A presença numa classe baseia-se na
natureza humana e é determinado por três elementos: razão,
irascibilidade e os apetites sensuais.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 28

A razão: aqueles que, por natureza, a possuem, estão destinados a


governar a sociedade e serão magistrados; os irascíveis serão
votados à defesa, tarefa em que empregarão o seu temperamento
natural: serão guerreiros; quanto àqueles que possuem
essencialmente apetites sensuais, servirão a Cidade utilizando a sua
indústria em benefício dela: serão cultivadores ou artífices.

Se estes critérios não convencem, menos convencerá ainda,


certamente, a maneira como Platão define os vários temperamentos.
Entende ele que as almas são feitas de diversos metais: uns têm ouro
na alma, outros prata, e outros ainda bronze ou ferro. Os que
possuem alma de ouro estão destinados ao governo da Cidade, os
que possuem alma de prata, a sua defesa e os que possuem alma de
bronze ou ferro à sua subsistência.

Estes elementos metálicos não são plenamente hereditários, e é


assim que surge uma entre abertura nas classes. Por terem uma
origem comum, os filhos serão geralmente parecidos com os pais e
com as mães. Mas mesmo assim, podem ocorrer acidentes: cidadãos
da raça de prata que dão filhos da raça de ouro e vice versa.

Desde a infância, assinalar-se-à os que se distinguem pelas graças


exteriores e também os que sobressaem pelas qualidades do coração
e do espírito. Uns e outros serão submetidos a determinadas provas
quanto à dor, ao medo e ao prazer; ministra-lhes-à ginástica, arte
militar e música; e ensinar-se-lhes-à aritmética e geometria, bem
como física e astronomia aos que já se distinguem como futuros
magistrados. Com esta bagagem de conhecimentos e com uma
formação educativa mais alargada, os guerreiros estarão em
condições de cumprir seu dever de defensores da cidade.

Aos trinta anos, os mais notáveis serão instruídos na arte de dialogar


ou de pensar a dois. Da mesma maneira, conhecerão a filosofia, que
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 29

eleva a alma à pura luz e é a fonte de toda verdade. Mas estes


guerreiros dialécticos e estes filósofos não são contemplativos.
Devem ser homens de acção e recebem emprego se graus militares
mais ou menos elevados.

Aos cinquenta anos, os que tiverem atravessado com êxito toda a


série de provas e demonstrado um alto nível de sageza e virtude,
entrarão no corpo supremo de magistrados. Assim, pela educação e
pela selecção progressiva, o poder acabará por ser entregue aos
políticos, isto é, aos homens que deram provas de idade madura e
dotados de vastos conhecimentos teóricos, a par de uma grande
experiência prática.

2.2.2. Tipos de Governo


Platão, destaca ainda o tipo de governo que considera ser o melhor,
mas não é o único. Devido a uma decadência irreversível, surgem
mais quatro regimes: a timocracia, a oligarquia, a democracia e a
tirania. Estas formas políticas podem agrupar-se da seguinte forma:

1 A monarquia pode ser sofiocrática ou tirânica. A monarquia


sofiocrática decorre da soberania reconhecida ao génio. A ciência
real pode residir num único homem que governa sozinho. Mas, a
maior parte das vezes, o governo de sábios pertencerá a vários,
quando a ciência real é partilhada. Para Platão a realeza não está
relacionada com o governo de um só, também pode ser colegial. Por
outro lado, esta monarquia não admite hereditariedade pessoal, pois
os sábios no poder não geram directamente os seu sucessores. O
governo pertence a uma ordem da cavalaria, uma espécie de
comunidade filosófico-guerreira que pode, por sua vez, ter um ou
vários chefes. Deste modo, é mais aristocrático que monárquico.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 30

A outra forma de poder de um só é a tirania. Platão encara-a com


um olhar bastante favorável, como sendo susceptível de se
transformar em sofiocracia, quando o príncipe se torna filósofo ou,
pelo menos, ouve os conselhos de um filósofo. A tirania é um poder
total, além disso, um poder brutal, logo a pior das coisas, quando
não se abre à sabedoria, quando é o poder absoluto do estúpido ou
do mau. Inversamente, como poder total do bem, é o que há de
melhor. De todos os regimes é o mais opressivo e o mais difícil de
suportar. Platão, lamenta a miséria do tirano e confia na sua
conversão e para conseguir, é necessário começar por convencê-lo
de que é muito infeliz, depois convencê-lo de que só tem uma
maneira de se salvar: recorrer aos sábios, preservando assim a vida e
o trono.

2 Uma vez que, em Platão, a aristocracia se confunde com a


monarquia, as formas de oligarquia são a timocracia, a oligarquia e
a república II.

A definição de timocracia vária com o sentido da própria palavra,


sobre o qual os comentadores não estão de acordo. Para uns, regime
timocrático é o regime censitário (avaliação da fortuna ou dos
rendimentos e por derivação, censo); para outros, timocracia é o
regime que tem por mola a ambição ou desejo dos homens. Ambos
significados correspondem ao pensamento platónico. Na timocracia,
Platão vê um substituto do culto do sábio pelo culto do guerreiro.
Considera, além disso, a possibilidade de uma corrupção da aristo-
-monarquia, com apropriação privada dos bens e também das
mulheres. Platão inclui este tipo especial de governo de vários na
oligarquia para realçar a existência de um sistema político que não
corresponde ao seu ideal, mas dele se aproxima.

Em contrapartida, na oligarquia propriamente dita, governa o


pequeno número. O seu poder assenta na riqueza e visa apenas o
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 31

bem próprio. Os cidadãos pobres não têm lugar na condução dos


assuntos públicos e são oprimidos. O regime é mau, porque o
número de oligarcas é forçosamente demasiado elevado para que
todos sejam políticos. Além disso a vida do rico não o inclina, de
modo nenhum, a aquisição das qualidades que fazem o sábio.

A terceira forma oligocrática é a república bis ou aristo-democracia.


Trata-se da constituição de um sistema equilibrado, intermédio,
ponderado, geralmente classificado de misto. É uma república onde
existe igualdade de princípio, como na democracia mas existem
também múltiplas instituições de ponderação aristocráticas. Em
primeiro lugar, há várias ocasiões de recorrer à eleição, que era um
modo de recrutamento aristocrático. Em segundo lugar, está assente
que não entrarão na assembleia pessoas com fracos recursos. As
duas últimas classes não são obrigadas a participar, e os pobres
podem trabalhar enquanto ela decorre. Em contrapartida, os ricos
não têm o direito de se abster, a não ser que paguem uma multa.

No entanto, apesar de ter cedido bastante nas suas exigências


aristocráticas quanto às instituições, apesar de admitir a liberdade
política, isto é, a isonomia e a isegoria, Platão continua a opor-se a
liberdade civil. Nomeadamente, na república de As Leis, haverá um
magistrado encarregado da educação da juventude, dotado de
poderes extremamente vastos, para impedir o espirito de inovação.
Quanto aos censores, cabe-lhes examinar as obras poéticas e
musicais susceptíveis de propagar na Cidade o espírito de
imaginação e para as quais não há lugar nem na república II nem na
república I.

3 . A democracia é encarada por Platão de modo claramente


desfavorável, e não seria lógico que fosse de outra maneira. Com
efeito, o sistema democrático não pode, em absoluto, corresponder
aos requisitos platónicos, já que, por definição, a multidão é incapaz
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 32

de adquirir e possuir a ciência política. Na multidão Platão vê


fraqueza, incapaz de grande mal. Mas a democracia é também
incapaz de grande bem, porque a autoridade se dispersa por
milhares de mãos, poucas das quais pertencem a políticos. Outro
motivo que leva Platão a rejeitar a democracia é a concepção
própria que dela tem. Embora as instituições da república II
pareçam democráticas, Platão não é, de modo nenhum, dessa
opinião. Para ele, a democracia é o regime em que se governa a
multidão, a liberdade absoluta, um regime sem leis, sem autoridade
reconhecida e, sobretudo um regime onde a vida social não esta
organizada, onde cada um age à sua vontade, se julga apto para tudo
e faz o que quer. Ora, é evidente que para Platão, não há maior
perigo cívico do que cada um fazer o que quer.

A coacção exercida sobre a actividade dos cidadãos é necessária


porque, as formas do poder estão longe de ser imóveis. A filosofia
grega é dominada pela ideia de movimento. Por isso, o problema de
manter o governo dos sábios coloca-se com tanta acutilância como o
problema de o constituir. A sofiocracia persistirá de duas maneiras:
por um lado, recrutando novos sábios (é o sistema de selecção já
acima indicado), por outro, fazendo com que os sábios continuem a
sê-lo.

2.3 A cidade como realidade e como ideal – Aristóteles

Em matéria política, Aristóteles4 começou por volta de 325, com


uma vasta recolha de constituições que incluía a análise por ordem
alfabética de textos respeitantes a 158 Estados simples ou
confederações, acrescida de um apêndice onde figuravam um estudo
dos governos dos tiranos ou usurpadores, uma monografia sobre as

4
Aristóteles (384-322 a.C.) foi um filósofo grego nascido em Estagira, um dos maiores pensadores de todos os tempos e
considerado o criador do pensamento lógico. Suas reflexões filosóficas, originais ou reformuladas, acabaram por configurar um
modo de pensar que se estenderia por séculos. Prestou inigualáveis contribuições para o pensamento humano, destacando-se
a ética, política, física, biologia, poesia, psicologia, etc. É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento
ocidental.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 33

constituições dos bárbaros (de Cartágo e Roma) e um exame das


pretensões territoriais dos Estados.

Aristóteles começa por estudar a origem das constituições de Atenas


desde a época em que são historicamente conhecidas, para depois
apresentar, numa segunda parte, as instituições do direito positivo.
Organiza os órgãos políticos dividindo-os em três categorias, de
acordo com os critérios que farão a glória tardia de Montesquieu.

Analisa também a estrutura e o comportamento das autoridades


administrativas e das autoridades judiciais. É sobre as informações
extremamente ricas e vastas das Constituições que se constrói a
Política, onde são examinadas as componentes da Cidade (famílias e
cidadãos), se estuda seu território e população e, sobretudo, se
observa o seu governo. O poder é considerado nos seus fins, nas
suas formas e na sua vida. Os sistemas políticos são examinados na
sua estrutura e na sua eficácia, na sua evolução e no seu
desaparecimento.

A Política é, assim um verdadeiro tratado do Estado,


simultaneamente descritivo e normativo porque, em função da sua
filosofia, procede à crítica dos sistemas existentes e define o regime
que é melhor. Felizmente, ao contrário das Constituições, A Política
chegou até nós no seu conjunto. Mas o texto é muito imperfeito por
variadas razões.

Uma vez que Aristóteles entende, tal como os seus antecessores, que
o objectivo do governo dos homens é torná-los virtuosos, poder-se-
ia pensar que a política esta subordinada à moral. Pelo contrário: a
política é que é a arte ou ciência do comportamento colectivo,
abarca a moral, na medida em que esta é a arte ou ciência do
comportamento individual.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 34

Para bem compreender esta visão fundamental, é necessário


remontar ao ponto de partida. Aristóteles considera que o homem é
feito para a felicidade: é este o princípio da sua moral. Mas esta
possibilidade só se verifica se o homem viver em sociedade, mas
precisamente, em Cidade. Aristóteles constata a necessidade para o
homem e para a mulher de se unirem aos pares com vista a
procriação e de acordo com uma inclinação natural. As famílias por
sua vez agrupam-se em aldeias e vilas, com vista à utilidade
comum, que não é quotidiana como a necessidade familiar, mas
apesar disso é muito importante. Assim, se constituem as colónias
de famílias, formadas por homens com a mesma origem e que foram
alimentados do mesmo leite. Sobre eles se exerce uma autoridade
paterna alargada, que é o tipo primeiro de autoridade real.

Várias aldeias por seu turno constituem uma Cidade. A palavra


cidade não designa, como actualmente uma grande cidade, antes um
pequeno Estado, algo como fortaleza e mercado rodeado por um
certo número de aldeias que lhe fornecem os bens alimentares. Com
muita frequência, existe um porto, ou nas imediações da cidade, ou
um pouco mais distante, nas margens, que permite comunicar com o
exterior. O carácter da Cidade consiste em ser autárquica, o que
quer dizer auto-suficiente. Sendo a auto-suficiência o objectivo de
todos os seres, o homem atinge-o por intermédio da Cidade.

O essencial da política de Aristóteles está na afirmação tantas vezes


repetida, mas tantas vezes desfigurada ou atenuada, segundo à qual
o homem é naturalmente um animal cívico. O apolítico não é
homem. Aquele que não necessita de seus semelhantes é, ou um ser
superior, ou então um ser degradado. Aquele que menospreza as
vantagens da vida cívica e não aceita as suas regras é o pior dos
animais. Assim, para Aristóteles, o estado natural não é a mesma
coisa que para os filósofos do direito da natureza e das gentes.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 35

Uma vez que a natureza dos seres resultados seus fins, o estado
natural é o estado político. São várias as justificações para isso:
linguagem humana que é completamente diferente do grito do
animal, e no sentido moral, essa intuição do bem e do mal, do justo
e do injusto, que é própria da consciência humana.

O objectivo da Cidade consiste em assegurar aos cidadãos, não só o


viver, isto é, a vida e sua conservação, mas o bem-viver. A vida
política é ordenada em vista à qualidade e perfeição da vida. Não
devemos contudo, entender a ideia de Cidade como o garante do
bem perfeito dos cidadãos, à maneira individualista e moderna. O
eudemonismo aristotélico é uma identificação da felicidade com a
virtude por uma via nobre, pela actividade da inteligência e, acima
de tudo, pela sabedoria equilibrada de uma vida contemplativa.

Estes são feitos em definitivo, pela cidade. São necessários bons


cidadãos para que a Cidade seja boa, e não uma boa Cidade para ter
bons cidadãos. O todo é superior às partes, e a natureza, na parte que
lhe cabe, limita-se a prosseguir a realização do todo.

Como o indivíduo esta subordinado à Cidade no que respeita aos


fins desta, as necessidades naturais estão subordinadas as
necessidade espirituais. A Cidade de Aristóteles não é um Estado
militar, nem um Estado mercantil. A guerra é apenas um meio cujo
uso deve ser reduzido ao mínimo, excepto contra bárbaros, porque
ao combaté-los, é pelo seu bem que se combate. A riqueza ou ganho
também não fazem a grandeza da Cidade. O comércio desconhece a
verdadeira nobreza do homem. Enriquecer não deve constituir um
fim, nem para o indivíduo nem para o Estado. Se o Estado se basta a
si próprio, não há a necessidade de ir além disso. Logo, o papel do
Estado, consiste em formar cidadãos para a virtude. A sua tarefa por
excelência será a de os educar para agirem com rectidão, de os
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 36

ensinar a pôr os olhos numa nobre meta de vida e a caminhar para


ele a passo firme.

Assim, o objectivo da política não é a conquista, nem o


enriquecimento geral, mas a virtude colectiva. E esta não se
encontra acima da moral, mas prolonga-a. É uma maneira de
continuar o que a moral empreendeu em relação ao indivíduo,
virando-se para o plano social. Dizer da Cidade que ela é o estado
natural não significa apenas como a linguagem moderna deixa
entender, que existe ai um fenómeno objectivo a que é necessário
submeter-se do exterior, de acordo com uma exigência que nos seria
imposta ultrapassando-nos. A integração do homem numa
aglomeração política a sua pertença a uma forma de vida colectiva,
cria uma situação bela, boa e desejável. Impõe aos participantes
preocupações e canseiras, deveres incessantes e variados, já que os
obriga a viver intensamente os assuntos da Cidade, mas uma
existência assim é uma honra para a condição humana.

2.3.1 Classificação dos Governos


Quanto a classificação dos governos, Aristóteles considera aceitável
diversos sistemas políticos. Entende que o melhor governo não é
necessariamente o mesmo para todas épocas e para todos países.

Para começar, entende que sendo o governo o senhor supremo da


Cidade, é absolutamente necessário que o seu exercício seja
atribuído quer a um indivíduo, quer a um pequeno número de
indivíduos, quer à multidão. O primeiro critério distintivo é o
quantitativo.

A este vem juntar-se-lhe um segundo critério, o qualitativo,


resultante da natureza do governo, que pode ser puro ou originário,
alterado ou derivado. O governo é puro quando o senhor único, a
minoria ou a maioria governam de acordo com o interesse geral, ou,
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actuam em conformidade com as leis. Inversamente, o mesmo


governo de um só, da minoria ou da maioria, torna-se desviado ou
corrompido quando, em vez do interesse geral, passa a prevalecer o
interesse próprio dos governantes. Quando o objectivo do governo é
o interesse geral, a forma é autêntica; quando prevalece o interesse
particular dos governantes, a forma é alterada.

Existem assim duas séries, cada uma com três formas:


Formas puras
1. O governo de um só em proveito de todos: realeza ou monarquia.
2. O governo do pequeno número, a começar em mais de dois e até
ao maior número, ou seja, em princípio, a metade mais um. É ao
mesmo tempo o governo dos melhores ou aristocracia.
O governo do grande número no interesse geral, a que Aristóteles
chama república, termo em si neutro e equivalente ao Estado ou a
constituição.

Formas Impuras ou degeneradas


1. O governo de um só em proveito próprio: a tirania.
2. O governo do pequeno número no seu próprio interesse: a
oligarquia.
3. O governo do grande número contra os ricos: a democracia
Esta classificação, apesar de tida como tradicional, suscita bastantes
reservas do ponto de vista do constitucionalista.

Uma primeira crítica incide na evidente confusão entre sistemas


concretos e ideais. No grupo das formas puras, Aristóteles atribui
lugar preponderante a dois regimes que ele próprio reconhece não
existirem na realidade dos factos, a aristocracia e a república. Mais
tarde, a aristocracia desaparecerá quase por completo e a república
confundir-se-à com o regime geral. Baseando-se em regimes
imaginários, a classificação carece de realismo e levanta
dificuldades insuperáveis.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 38

Inconsequência não menos grave é considerar a oligarquia e a


democracia como governos desviados, se são elas a fornecer
elementos de que nascerá a república. Como conceber logicamente
que dois regimes corrompidos gerem, ao combinar-se um regime
puro? Como admitir, em vez de uma degradação da república para a
democracia, uma progressão da oligarquia e da democracia para a
república?

Voltemos a classificação detalhada das formas de governo:


Monarquias
O governo de um só recebe o nome de real ou monárquico, no
sentido próprio do termo, quando é regular e está submetido a leis.
De outro modo chama-se tirania.

a) A monarquia absoluta atribui todo o poder ao rei, senhor da coisa


pública e também do corpo da nação e do povo. Este regime tem
numerosas afinidades com o poder doméstico. O governo doméstico
e o político são para Aristóteles coisa completamente diferentes. No
entanto, admite uma certa contiguidade entre ambos. Patriarcal, a
primeira forma de realeza, foi uma espécie de administração
familiar que se aplicava a várias nações (no sentido de tribos ou
gentes). Este tipo de realeza é semelhante à autoridade do pai, que é
uma espécie de realeza sobre a família.

b) A monarquia heróica é a dos tempos e dos povos guerreiros.


Consiste por um lado, num generalato, perpetuamente hereditário
dentro de uma raça, dotado do comando supremo na guerra, e por
outro lado, num pontificado, a que compete o cumprimento dos
sacrifícios e ritos, caso dispense o ministério dos sacerdotes. Além
disso, o rei, general e pontífice, possui atribuições de justiça e
competências políticas tanto no interior como no exterior. Estas
funções são lhe conferidas por reconhecimento do povo, em virtude
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 39

de ter sido ele a reuni-lo e a guia-lo na luta, de ter conquistado o


território da Cidade. A gratidão do povo para com o chefe vitorioso
ou fundador da Cidade, leva este a outorgar-se, a si e aos seus
sucessores por via hereditária, prerrogativas militares, religiosas,
judiciais e políticas.

c) O generalato vitalício, representa um enfraquecimento da


situação anterior. De hereditária, a monarquia torna-se
simplesmente vitalícia. O titular é investido de poderes supremos, já
não desde o nascimento mas por eleição. Como chefe de guerra,
dispõe do direito de vida e de morte sobre os que estão às suas
ordens. Tudo o que se mantém no generalato vitalício é a residência
dos sacrifícios e o comando dos exércitos fora da cidade.

d) A realeza quase tirania, estabelece tal como o regime seguinte, a


transição para a tirania, segunda forma de governo de um só: é que
já existe aqui uma parcela considerável de poder arbitrário. No
entanto, assenta em leis e hereditariedade. Além disso, ao passo que
o tirano é guardado por estrangeiros, o quase-tirano confia a sua
segurança aos seus concidadãos.

e) Asimnecia tem a ver com a realeza por ser criada por livre
escolha, mas distingue-se dela por não ser hereditária. Tem a ver
com o despotismo por conferir poderes tirânicos ao asimneta. Tanto
pode ser vitalícia ou temporária, limitada a uma época previamente
fixada; também pode visar a obtenção de determinado resultado.
Pode por exemplo, ser confiada durante o período de uma guerra, ou
para repressão de desordens. A população designa, vitaliciamente,
por um período ou para uma acção determinada, uma personagem
que lhe parece possuir as qualidades necessárias para a superação
das dificuldades presentes.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 40

f) A tirania não se distingue, quanto ao número, da monarquia.


Qualitativamente, caracteriza-se por o tirano, fora de qualquer
responsabilidade e em seu proveito exclusivo, exercer o governo
sobre homens que valem mais do que ele, sem consultar em nada os
seus interesses. A tirania pode aproximar-se da realeza quando
observa as leis ou quando nasce da vontade do povo. Inversamente,
a realeza aproxima-se da tirania quando o seu exercício é despótico
e completamente arbitrário.

Oligarquias
Já se disse que a oligarquia é o governo de vários. O número de
governantes pode variar consideravelmente, de uns poucos à um
grande número, mas continua a constituir uma minoria em relação à
população da Cidade.

a) As oligarquias podem ser classificadas em função exclusivamente


do número:
● A politirania ou dinastia, termo que alguns autores empregam
correntemente numa tradução directa de Aristóteles, é uma
oligarquia muito pouco numerosa. Para utilizar a linguagem
moderna, há uma concentração do poder e das riquezas em poucas
mãos. As oligarquias que governam hereditariamente são uma
espécie de tirano colegial. Este regime, aliando ao princípio de
hereditariedade o do arbítrio dos magistrados em substituição das
regras da lei, instaura uma transição directa entre politirania e
tirania.

● A segunda forma de oligarquia assenta na hereditariedade do


governo, que passa de pai para filho. Também neste caso há
concentração do poder num certo número de mãos. As fortunas que
o asseguram continuam a ser grandes e os membros da minoria
ocupam pessoalmente as funções; mas esta forma de oligarquia
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 41

difere da anterior por ser mais diluída e porque a lei intervém para
regularizar as funções.

● Se o número de oligarcas aumenta, o censo exigido para participar


no governo, mantém-se elevado, mas o corpo de magistrado tem o
direito de se recrutar a si próprio. Passa-se da hereditariedade à
cooptação. A instituição é predominantemente aristocrática, se a
escolha incide na universalidade dos censitários e se é o mérito a
decidir. Os oligarcas não são suficientemente poderosos para reinar
sem lei, mas os ricos possuem força bastante para fazer adoptar leis
que lhes concedem enormes prerrogativas. Afastamo-nos
nitidamente, devido ao número, da unidade monárquica. Além
disso, a oligarquia é constituída por homens insuficientemente ricos
para poderem abster-se de todo o trabalho e levarem uma existência
de completo ócio; mas que não são suficientemente pobres para
viverem a expensas do Estado. Precisam de fazer proclamar a lei
soberana, em vez de se tornarem eles próprios soberanos.

● O número pode aumentar ainda mais, reduzindo correlativamente


o censo, de tal modo que o poder será atribuído aos que gozam de
um rendimento legal. O sistema continua a ser censitário, no
entanto, a posse de bens já não é um requisito para garantir o poder
a uma classe fechada e fixa, mas apenas um meio para só admitir
como cidadão aquele que possui interesse pela coisa pública. De
outro modo, a oligarquia desaparece, pois o censo deixa de ser
elevado o bastante para que o número dos que participam na
direcção da Cidade permaneça inferior à maioria de homens livres e
adultos.

b) As oligarquias que acabam de ser classificadas essencialmente do


ponto de vista quantitativo, podem sê-lo também no aspecto
qualitativo. A oligarquia torna-se então aristocracia. Como esclarece
Aristóteles, o belo nome de aristocracia só se aplica
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 42

verdadeiramente, de plena justiça, ao Estado composto por cidadãos


virtuosos, em toda a extensão da palavra, e não apenas dotados de
algumas virtudes particulares. É uma consequência da noção
aristotélica de homem de bem.

A aristocracia pode assumir 4 formas:

● Uma primeira espécie de aristocracia, de essência plutocrática,


inclina-se para o princípio oligárquico, já não quantitativamente,
mas qualitativamente;

● Uma segunda categoria será aquela em que os magistrados são


escolhidos tanto pelos méritos, como em função da riqueza. Ao
passo que a categoria anterior se inclinava para uma mediana em
que se concede igual importância ao mérito e à riqueza;

● Numa terceira forma de aristocracia, a virtude e a multidão têm


direitos políticos, a constituição pode continuar a ser aristocrática.
Assim, não só se encontra a riqueza que vem da oligarquia e a
virtude que é própria da aristocracia, mas também, a completar este
dois elementos, a multidão que caracteriza a democracia;

● A quarta forma é o regime chamado politeia, quer dizer,


constituição, Estado ou, segundo a tradução corrente, república.
Apresenta-se como uma oligarquia muito extensa ou como uma
democracia atenuada. Este governo, que goza nitidamente da
preferência de Aristóteles, é, em conformidade com toda a sua
filosofia, um sistema médio. Podia ser classificado de médiocracia.

De acordo com a filosofia a médiocracia, outra coisa não é que a


aristocracia, já que a virtude, sempre no sentido aristotélico do
termo, é um meio entre dois extremos. Além dos escravos,
Aristóteles excluiu da direcção da Cidade os operários, lavradores,
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 43

artífices e até os comerciantes. Considera-os assimiláveis ao


escravo, uma vez que votados ao que os teólogos chamam obras
servis, quer dizer, trabalhos de escravos. Do que a Cidade precisa
acima de tudo é de seres iguais e semelhantes, qualidades que se
encontram na situação média.

Os cidadãos abastados são os únicos que se encontram em


condições de bem reger a Cidade, porque podem, para a sua defesa,
flexibilizar os músculos no ginásio, e para a sua ilustração entregar-
-se sem entravés às contemplações do espírito. A associação política
será a melhor quando for constituída pelos cidadãos melhores, e os
cidadãos melhores, são os que vivem com suficiência, nem
distraídos pela riqueza e seus cuidados, nem oprimidos pela
indigência e suas inquietações. Os cidadãos que detêm uma
propriedade média encontram-se na posição mais favorável à prática
da virtude, que é essencialmente a moderação. Mais facilmente que
qualquer outro, o homem da justa medida submeter-se-à às
sugestões da ordem e da razão.

Em, suma, tal como a República de Platão, também a República de


Aristóteles é de filósofos. Mas a sofiocracia é a ditadura dum sábio
ou de um pequeníssimo número de sábios, a República de
Aristóteles, pelo contrário, é o governo de uma elite alargada e
aberta de cidadãos filósofos dotados dos bens necessários à vida e
tão disponíveis para as coisas do espírito como para as coisas do
governo.

Democracias
Embora a médiocracia, devido ao alargamento do número de
governantes, ao ultrapassar a maioria dos nacionais livres e adultos,
do sexo masculino, pudesse, ser considerada, de acordo com as
nossas concepções actuais, uma democracia, não o é aos olhos de
Aristóteles. Para ele, maioria ou minoria não são indicações
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 44

suficientes. Em vez de se reter somente o critério quantitativo do


número, completa-o com um critério qualitativo em que a
democracia é o governo dos que nada têm ou têm muito pouco.
Aquilo que distingue a democracia da oligarquia, é a pobreza e a
riqueza. Sempre que o poder cabe aos ricos, ainda que em maioria,
existe oligarquia e sempre que o poder cabe aos pobres ainda que
em minoria, trata-se de democracia.

A democracia, fundada na lei, não atribui aos pobres, em princípio,


direitos mais extensos do que aos ricos. Em democracia, nem uns,
nem outros são soberanos em exclusivos, mas sim
proporcionalmente ao número. Contudo, uma vez que o povo pobre
é mais numeroso e que a opinião da maioria faz lei, haverá,
necessariamente primazia do elemento indigente e, sendo assim,
regime democrático. Tal como para as outras formas de governo,
Aristóteles distingue várias formas ou talvez mais exactamente,
diversos graus de democracia:

● Na primeira, as funções políticas estão ligadas a um censo


bastante modesto. Como este é pouco elevado, não esta em
contradição com a natureza democrática do governo. Os empregos
são acessíveis a todos os que têm a possibilidade de justificar a
posse de um pequeno terreno ou o pagamento de um modesto
imposto.

● A segunda forma de democracia, mais completa, é aquela em que


não se exige qualquer condição censitária para se ser eleitor, mas se
requer uma certa fortuna para se ser elegível: onde há um censo de
eleitorado.

●A terceira forma não impõe censo de qualquer espécie, nem


eleitorado, nem elegibilidade, mas as funções são gratuitas. Por isso,
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 45

só são acessíveis de facto àqueles que gozam de um certo desafogo,


embora de direito estejam abertas a todos.

● A quarta forma de democracia remunera as funções públicas,


designadamente a participação na assembleia. Mas o mistos não
interessa aos ricos, que não são penalizados se abstiverem. Os
pobres, pelo contrário, estão muito empenhados, e procuram
avidamente funções que constituem modos de viver. A multidão é
então dona de agir como lhe aprouver, e contrariamente ao que
acontecia nos sistemas anteriores, não esta sujeita a lei. Mais
precisamente, que se verifica, transforma-a segundo sua vontade, a
qual substitui a ordem impassível. O povo é então um verdadeiro
monarca, não evidentemente como na realeza e na tirania de um só
indivíduo, mas formado por uma maioria que reina como um corpo.

E a partir do momento em que se torna monarca, o povo tem a


pretensão de se comportar como monarca. Rejeita a regra e torna-se
déspota. Este desvio efectua-se por influência dos demagogos. É a
razão porque esta forma de democracia é usualmente designada por
demagogia. Esta, abole o reino das leis, substitui as disposições
gerais, impessoais, e objectivas, válidas para todos, por decisões
individuais e subjectivas que atingem certos indivíduos ou certas
categorias restritas de indivíduos, nomeadamente os ricos. Os
demagogos, a fim de substituírem a soberania dos decretos à das
leis, mandam atribuir todos os assuntos ao povo, pois que a sua
autoridade só fica a ganhar com isso. Fingem deixar a decisão à
multidão, mas na verdade, uma vez conquistada a sua confiança, são
eles que governam a coberto da vontade popular. Por outro lado,
todos os que pensam ter razões para se queixar dos magistrados, não
se coíbem de recorrer ao julgamento exclusivo do povo. Chega-se
assim a confusão de poderes e à aniquilação das distinções
constitucionais.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 46

A democracia, ao tornar-se demagogia, é para a república o mesmo


que a tirania é para a realeza. Na sua forma inicial, a democracia é
um regime popular, regido por leis, onde o bem geral é tido em
consideração. Já a demagogia, que é a sua forma última, comporta
duas alterações simétricas: por um lado, a substituição de uma
vontade, sem regra a uma vontade regulada, por outro, a
substituição do interesse pessoal, ainda que respeitante a um grande
número, ao interesse geral da Cidade. Ambos regimes atribuem um
papel muito importante aos aduladores. Quer os cortesãos junto do
tirano, quer os demagogos na democracia, gozam de uma
credibilidade ilimitada: os primeiros sobre o déspota, os segundos
sobre o povo.

A classificação acima, vai inspirar Aristóteles para o seu estudo


sobre a transformação dos governos. Para ele, as causas para a
destruição dos governos são múltiplas: causas gerais, principais ou
secundárias e causas particulares.

A mais importante causa de qualquer subversão, encontra-se no


excesso de igualdade ou de desigualdade. Os cidadãos são ao
mesmo tempo iguais e desiguais, isto é, iguais em certos aspectos,
não o são noutros aspectos. O erro da democracia reside na sua
tendência para a igualdade absoluta e geral, quando na natureza das
coisas a igualdade só é real sob certos pontos de vista. O erro da
oligarquia consiste em fazer da desigualdade um princípio absoluto
e geral, quando os homens só são desiguais sob certos aspectos.

Em democracia, os demagogos vão querer prosseguir a partilha dos


bens, provocando assim a revolta dos ricos, que, ameaçados na sua
situação, vexados no seu amor próprio, recorrerão a diversas formas
de conspiração que resultará no fim da democracia. Quanto à
oligarquia, praticando a opressão das classes inferiores, reduz a nada
o papel dos homens livres, que deixam de ser cidadãos, o que leva a
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 47

massa do povo a procurar um chefe que se porá à sua frente e


derrubará os oligarcas. A via de salvação encontra-se na
manutenção do equilíbrio necessário a todos e próprio a cada um,
respeitando a igualdade dos homens livres. Válida em certos
aspectos, mas não em todos, esta igualdade deve permanecer
relativa e não pretender, de modo nenhum, tornar-se absoluta.

Seguem-se as causas gerais secundárias. Uma delas é de ordem


geográfica. Por exemplo, o governo poderá cair devido a má
configuração do território, à ausência de equilíbrio entre os seus
diversos elementos ou à distribuição das colónias sobre uma
superfície demasiado extensa, ficando assim as diversas parcelas do
Estado demasiado afastadas entre si para se prestarem socorro, o
que constitui uma irremediável fraqueza.

Outra causa secundária de subversão, também geral provém da má


divisão das classes. Devido ao enriquecimento geral, umas vão
engordar e outras emagrecer. Na sequência das alterações da moeda,
os valores do imposto e do rendimento deixam de ter o significado
que tinham na altura em que a taxa foi fixada. O equilíbrio pode
também ser rompido pela divisão no interior de uma classe. A partir
do momento em que ela deixa de proporcionar uma frente unida, vai
dar azo a manipulações ou sucumbir aos assaltos das classes
adversárias. Por fim, uma causa também geral e relacionada com as
classes, é a ausência do enfraquecimento da classe média,
considerada indispensável ao equilíbrio de um bom governo.

As causas pessoais ou particulares residem, nos comportamentos


individuais, nos abusos do poder por parte das classes dirigentes. As
suas consequências psicológicas são temíveis, uma vez que geram,
sob formas diversas, sentimentos dificilmente domináveis e que
muito contribuem para a ruína dos regimes, tais como o medo, o
desprezo e o ódio.
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O medo actua simultaneamente sobre os governantes, seus agentes e


os governados. Os primeiros a sentirem-se ameaçados e querendo à
viva força manter-se no poder, recorrem a violência, os segundos
apelam à força, por receio de serem punidos ou privados dos seus
empregos (ex: um general que não está disposto a prestar contas,
derrubará o poder vigente), e os terceiros, sempre em risco de serem
maltratados, dizimados ou deportados, acabam por recorrer à
revolta.

O desprezo tanto pode vir dos governantes como dos governados.


Se os governantes desprezam os governados, comportam-se com
eles de uma maneira injusta, e pior ainda, ofensiva. Ora, não há nada
mais difícil de perdoar do que a ferida do amor-próprio. Quanto aos
governados, o desprezo a que acabam por votar os governantes, há-
de levá-los à acção directa. A partir do momento em que consideram
vis e cobardes os seus governantes, os governados tem a tentação de
sacudir o jugo.

Sumário
No que compreende os primeiros pensadores políticos da
antiguidade destacaram-se, Heródoto, Platão, Aristóteles, que
debruçaram sobre as questões políticas da Grécia.

Platão, seria errado acreditar que basta fazer leis sobre as acções
relativas à ordem pública, sem ser necessário descer até à família.
Também seria errado deixar a cada um a liberdade de viver à sua
maneira no seu espaço interior. Igualmente errado seria ainda
acreditar que não há necessidade de subordinar tudo à autoridade.
Logo, nenhuma parcela é reservada à liberdade ou deixada à
espontaneidade e a iniciativa individual. Aristóteles entende, tal
como os seus antecessores, que o objectivo do governo dos homens
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é torná-los virtuosos, poder-se-ia pensar que a política esta


subordinada à moral. Pelo contrário: a política é que é a arte ou
ciência do comportamento colectivo, abarca a moral, na medida em
que esta é a arte ou ciência do comportamento individual

Exercícios
1. Discuta as ideias de Platão sobre os princípios e tipos de governo.
2. Na concepção de Aristóteles, Existem assim duas séries de governo,
cada uma com três formas. Caracterize-as.

3. Qual é a concepção que Aristóteles tem em relação a cidade para os


individuas?

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
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Unidade III
Democracia na
antiguidade
Grega

Introdução

A democracia, na forma como foi evidenciada desde a


antiguidade até os dias actuais, traz em si um conjunto de
contradições que redundou numa maior ou menor
incorporação da população ao jogo democrático.

Em sua forma histórica, a democracia dos antigos,


expressa na experiência ateniense, era uma democracia
directa que se realizava num espaço restrito - a cidade- -
Estado grega. Ela, a democracia, se processava por
intermédio de um sistema de assembleias, às quais era
atribuído o poder de tomar todas as decisões políticas. O
comparecimento à assembleia era teoricamente permitido
a todo cidadão, não havia burocracia e o governo era
exercido pelo povo.
Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer a democracia directa grega;

 Apresentar a s reformas política de Dracon e Solon;

Objectivos  Descrever o projecto político de Clistenes;

 Explicar o contributo de Pericles na implementação da


democracia em Atenas.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 51

3.1 Democracia directa:

3.1.1 Drácon

A instabilidade provocada por lutas sociaias, o crescimento da polis


e o desenvolvimento do comercio foram ps factores que motivaram
o surgimento de reformas sociais, com destaque para reforma de
Drácon. Em 621 a.C Drácon organizou e registou por escrito as
leis, no que ficou conhecido como codigo legal de Drácon.

As leis draconianas têm um importante papel na história do Direito,


mas não são o primeiro código de leis escrita, como havia sido
proposto antes.

Político revolucionário em sua época e legislador ateniense


excessivamente severo, quando não sanguinário, que viveu em
Atenas e passou a história pela publicação de um severo código de
leis que impediam os nobres, os eupátridas, de interpretarem as leis
segundo seus interesses (624 a. C.), quando exercia o cargo de
tesmoteta, nome do magistrado que redigia e interpretava a lei, de
onde se originou o adjetivo draconiano para qualificar a norma que
exacerba o rigor punitivo. Caracterizado por sua imparcialidade,
mas essencialmente uma legislação considerada muito severa, que
punia com pena de morte os delitos mais triviais, correspondia aos
costumes da época. Seu principal mérito consistiu em proporcionar
leis determinadas e iguais para todos, foi o primeiro passo para
diminuir os privilégios da aristocracia, que na época provocavam
contínuos conflitos sociais, desordens e instabilidade política. Uma
peculiaridade de seu código era que não apenava o homicídio
involuntário e punha nas mãos do estado a administração da justiça
em caso de assassinato. Tanto o furto como o assassinato recebiam
a mesma punição: a morte. Essa severidade fez que o adjectivo
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 52

draconiano (do francês draconien) chegasse à posteridade como


sinónimo de desumano, excessivamente rígido com isso, pôs-se
termo às disputas e intrigas familiares.

3.1.2 Sólon
A democracia nasceu quando um nobre grego chamado Sólon
decidiu propor em 594 a.C um novo sistema de governo para
Atenas, uma das mais poderosas cidades-estado da Grécia antiga.

A população ateniense estava cansada dos regimes autoritários e


das leis opressoras que vinham sendo impostas à cidade desde que
o legislador Drácon, patrocinado pela aristocracia que comandava
Atenas, promulgou um sistema de leis extremamente rígidas. Em
oposição ao pensamento de Drácon, Sólon elaborou uma
constituição que estipulava que todas as decisões referentes à vida
dos atenienses deveriam ser tomadas com a participação do povo,
só que naquele momento o “povo” era constituído apenas por
estrangeiros.

Quando entrou em vigor, a constituição feita por Sólon possibilitou


que os cidadãos atenienses elegessem seus governantes e também
que deliberassem em praça pública, chamada de Ágora, sobre os
principais assuntos que diziam respeito à vida da cidade. Nessas
assembleias eram tomadas as decisões e eram eleitos aqueles que
conseguissem o maior número de votos, já que todos os cidadãos
eram considerados iguais pela constituição ateniense.

Mas a democracia ateniense foi, dessa forma, marcada por fortes


elementos de exclusão, na medida em que não se estendia a toda
população. Dela foram excluídos os metecos - estrangeiros
domiciliados em Atenas, na sua grande maioria gregos de outras
regiões - que, mesmo estando obrigados a pagar impostos e a
prestar o serviço militar, tinham vedada a participação em cargos
públicos por não pertencerem à demos. Foram igualmente
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 53

excluídos os escravos, que constituíam a grande parte da


população, as mulheres e os jovens com idade inferior a dezoito
anos.

Sólon liquidou o poder exclusivo da aristocracia quando


determinou que a participação nas assembleias populares não
dependia da origem da riqueza e do rendimento de cada cidadão,
com efeito, os direitos e os deveres dependiam da grandeza da sua
propriedade fundiária

No começo, o povo de Atenas acabou elegendo alguns nobres que


monopolizaram o poder e foram chamados de tiranos. Mas eles não
duraram muito, já que os atenienses baniram os tiranos assim como
qualquer político que tivesse um grande número de eleitores
“cativos”.

3.1.3 Clístenes
A historiografia encontra nos escritos de Heródoto e Aristóteles as
principais referências documentais acerca do modo pelo qual
Clístenes chega ao poder. Mas, certamente, é o relato do autor da
História aquele que – talvez por encontrar-se cronologicamente
mais próximo dos acontecimentos - apresenta uma versão mais
fidedigna dos fatos. Ressalte-se que na narrativa de Aristóteles, o
papel do povo teria sido muito mais significativo, e Clístenes,
inserido na época do estagirita como personagem do discurso que a
propaganda democrática afirmava com destaque, era apresentado
como um verdadeiro líder popular, fiel representante das
expectativas dos menos favorecidos.

De uma forma ou de outra, o fato é que Iságoras descontentou as


facções dos diacrianos e paralianos que, liderados por Clístenes, e
amparados pela vontade popular, expulsaram o inimigo comum.
Após a derrota dos espartanos, não havia mais lugar para Iságoras
em Atenas, o que levou Clístenes, filho por sinal do Mégacles, a
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 54

vislumbrar a realização de reformas que, para diversos intérpretes,


implantaram a democracia em Atenas.

Clístenes aboliu este sistema e criou dez novas tribos, cada uma
delas contendo elementos pertencentes a zonas muito diversas de
Atenas. Isto acarretou o desaparecimento do sentimento local como
força política, posto que deixou de ser relevante nas ações das
diversas tribos. O desaparecimento das velhas fronteiras tribais
facilitou que a Ática respondesse com maior facilidade à chamada à
uma unidade nacional que ultrapassasse as adesões particulares e
que a influência dos proprietários de terra se visse
consideravelmente reduzida.

O território de cada tribo compreende três partes, três tritías: uma


situada no litoral (paralía), outra na cidade (asty) e seus arredores, e
a terceira no interior (mesogea). Cada tritía congregava um número
variável de dèmes , circunscrições territoriais de base, ocupando as
terras dos antigos vilarejos, sem, de modo algum, identificarem-se
com os mesmos. Agrupando três a três as trinta Trítias existentes,
resultaram, conforme já citado, dez tribos. Todo cidadão tinha que
se inscrever em uma Trítia, somando-se ao seu nome de família, o
nome da Trítia à qual pertencia. Determinados historiadores, como
o professor José Jobson de Arruda, da Universidade de São Paulo,
defendem que a palavra “democracia” surgiu pelo fato da Trítia ou
demo ter sido à época o elemento mais importante na reforma de
Clístenes, passando o novo regime a ser denominado por “governo
do dêmos”

Aristóteles, em sua obra A política , informa-nos, ademais, que


Clístenes, após a expulsão dos tiranos, teria incorporado às tribos
muitos estrangeiros e escravos - metecos. Quaisquer que sejam as
reservas formuladas por Aristóteles a respeito de uma tal
“fabricação” da cidadania, o essencial foi dito pelo filósofo: no
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 55

início - nos primeiros tempos da democracia - a integração política.


E, na “Constituição de Atenas”, trata-se dos “novos cidadãos” que
Clístenes “misturou” ao povo “a fim de fazer com que mais pessoas
participassem dos direitos cívicos. Sob o signo da abertura,
portanto, esta nova realidade político-social tinha início.

Aristóteles, em sua obra A política , informa-nos, ademais, que


Clístenes, após a expulsão dos tiranos, teria incorporado às tribos
muitos estrangeiros e escravos - metecos. Quaisquer que sejam as
reservas formuladas por Aristóteles a respeito de uma tal
“fabricação” da cidadania, o essencial foi dito pelo filósofo: no
início - nos primeiros tempos da democracia - a integração política.

E, na “Constituição de Atenas”, trata-se dos “novos cidadãos” que


Clístenes “misturou” ao povo “a fim de fazer com que mais pessoas
participassem dos direitos cívicos. Sob o signo da abertura,
portanto, esta nova realidade político-social tinha início.

Com base nessa nova divisão territorial, Clístenes organizou o


governo de Atenas. Para a escolha dos membros dos diversos
organismos, adotou o método decimal: tirou cinqüenta membros de
cada tribo para formar o Conselho dos Quinhentos (Boulé);
escolheu dez arcontes, um por tribo; criou dez unidades de
infantaria (uma de cada tribo); dez esquadrões de cavalaria (um de
cada tribo); e, para comandar esses efetivos, escolheu dez
estrategos (generais). Enquanto outras partes do mundo grego
jamais haveriam de alcançar a unidade, Clístenes, por meio destas e
outras medidas, criava a cidade-Estado que, unida, iria poder
enfrentar, futuramente, o perigo das guerras médicas.

3.1.4 Péricles

Um dos expoentes da democracia grega foi Péricles, um hábil


orador que nas assembleias fazia parecer aos cidadãos que eles
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 56

estavam tomando decisões, quando na verdade estavam apoiando


as propostas defendidas por ele. Várias vezes reeleito pelo povo,
Péricles tornou-se um dos mais importantes governantes atenienses
e a partir de sua liderança a cidade floresceu económica, militar e
culturalmente.

Este pensador elogia a democracia e reconhece a superioridade da


democracia sobre os restantes regimes políticos, afirmação dos
princípios básicos da igualidade, liberdade e a participação cívica
na vida pública; a apologia do debate público das grandes questões
do estado.

Péricles caracteriza o regime vigente em Atenas como uma


democacia, porque o estado é administrado num interesse do povo
e não de uma minoria. As regras fundamentais da democracia são,
quanto a ele, a igualidade e a liberdade.

A igualidade manifesta-se, 1º no facto de as leis assegurar a todos


um tratamento identico um que respeita aos conflitos particulares.
E no tocante a participação na vida pública, cada um obtém
consideração em razão do seu merito, a classe a que pertence
importa menos que o seu valor pessoal. Enfim ninguém é afectado
pela pobreza e pela obscuridade da sua condição social, se for
capaz de prestar serviço a cidade.

Quanto a liberdade é a regra no governo da república, e nas nossas


relações quotidiana a suspensão não tem lugar; aqui vai uma
crítica em relação a Esparta, cujo governo assenta numa apertada
vigilância policial. A coação diz Pericles não intervem nas
relações particulares, um temor salutar impede-nos de violar as leis
da república: nós obedeceremos sempre aos magistrados e as leis,
sobretudo aqueles que asseguram a protcteção dos oprimidos.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 57

Na democracia ateniense não há doutrina oficial, nem verdade do


estado, pelo contrário, tudo se pode e deve discutir na praça
pública. Atenas reina o princípio do debate democrático e
eloquência, a deliberação colegial; em Esparta vigorava o princípio
da decisão do chefe, a deliberaçãao secreta, o “ lacunismo”

Sumário
Péricles foi um estratego e político grego, um dos principais líderes
democráticos de Atenas e a maior personalidade política do século
V a.C. foi o maior responsável por muitos dos projectos de
construção que incluem muitas das estruturas sobreviventes da
acrópole, tendo encarregado o escultor também ateniense Fídias
como o supervisor do programa de embelezamento da cidade.
Drácon ou Draconte foi um legislador ateniense recebeu em 621
a.C. poderes extraordinários para por fim ao conflito social
provocado pelo golpe de estado de Cilón e o exílio de Megacles.
Incumbido pelos atenienses de preparar um código de leis escritas
(até então eram orais), Drácon elaborou um rígido código de leis
baseado nas normas tradicionais arbitradas pelos juízes.
Deve-se a Drácon o começo de um importante princípio do Direito
Penal: a diferença entre o homicídio involuntário, voluntário e
legítima defesa, Sólon foi um poeta e legislador ateniense que em
594 a.C. iniciou uma reforma onde as estruturas social,política e
econômica da pólis ateniense foram alteradas. É aristocrata por
nascimento e trabalhava no comércio. Fez reformas abrangentes
sem conceder aos grupos revolucionários e sem manter os
privilégios dos eupátridas. Ele cria a eclésia (assembléia popular).
Clístenes foi um nobre ateniense que, além de liderar uma revolta
popular, reformou a constituição da antiga Atenas em 508 a.C.,
sendo considerado, geralmente, o pai da democracia, por tê-la
implantado. Realizou uma verdadeira reforma política que
proporcionou aos cidadãos, independentemente do critério de
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 58

renda, o direito de voto e ocupação dos mais diversos cargos. Era


parente de Clístenes de Sícion, sendo filho de Agarista e de
Mégacles.

Exercícios

1. Faça uma análise sobre a titude de Dracon após a tomada do poder.


2. Descreva o papel de Solon no enquadramento da democracia em
Atenas.
3. Qual é a apreciação que Pericles faz da democracia grega?
4. Faça comentário em relação a democracia na antiguidade grega.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 59

Unidade IV
Autoridade na
Antiguidade
GREGA
Introdução
Uma das questões muito debatidas a nível da historia das
instituicoes politicas é a questão da autoridade, esse tema não
representa uma questão actual, vem desde a antiguidade, sobretudo
na gracia antiga.
Nesta unidade, os pensadores políticos que mais se debruçaram,
sobre a autoridade na Grécia, Xenofonte

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

Descrever o contributo de Xenofonte para autoridade na antiguidde


grega;
Mencionar as qualidades que Xenofonte atribui ao rei no seu
Objectivos governo,
Analisar o exercício do poder na concepção do Xenofonte

4.1 Hipodamo de Mileto


Hipódamo viveu em Mileto na Jónia (atual Turquia) no séc. VI a.
C. Sócrates refere-se-lhe como o fundador do urbanismo. Foi o
divulgador, senão mesmo o inventor, do sistema urbanístico de
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 60

malha regular que se tornou conhecido por Sistema Hipodâmico.


Este sistema consiste na organização das cidades através de ruas
dispostas numa matriz ortogonal, criando blocos habitacionais entre
elas (insulæ) e em que todos os edifícios públicos e religiosos ou
praças se encaixam nessa malha. Supõe-se que foi utilizado pela
primeira vez na reconstrução de Mileto em 479 a.C. após a sua
destruição pelos Persas. Hipódamo trabalhou ativamente no
planeamento da sua cidade, adquirindo experiência e
desenvolvendo este sistema. Hipódamo trabalhou também no
planeamento da cidade portuária do Pireu (Atenas, Grécia c.450
a.C.) e no da cidade de Locres (443 a C.). O seu sistema foi
utilizado por Alexandre, o Grande, na construção de Alexandria,
assim como na maior parte das cidades coloniais gregas.

A partir da metade do século V, após as guerras persas até o final do século


seguinte, o poder político da antiga aristocracia e da tirania foi substituído, em
várias cidades gregas, pela democracia escravocrata, comandada pela oligarquia
que, pela primeira vez, assume a vida política de Atenas. Atenas é o centro da
vida cultural grega. O desenvolvimento da nova ordenação democrática com
comícios, assembleias e tribunais necessários ao exercício democrático tornou
possível a participação dos cidadãos comuns na administração da pólis. No
entanto, essa participação estava limitada àqueles que tinham eloqüência e
persuasão, como os antigos representantes aristocráticos, cuja cultura e
formação política provinham da tradição familiar. O que não é o caso dos novos
detentores do poder. Como eles não tinham essa formação, foi necessário
educá-los para poder competir em igualdade de condições e alcançar o objetivo
colimado na pólis. Em decorrência dessa necessidade surgiram em Atenas
mestres que propugnaram a constituição de técnicas de persuasão. Esses novos
mestres se chamavam sofistas.

Sofista significa educador. Não educação popular, mas formação de elites


(educação dos nobres), de chefes políticos. Para se ter esta instrução, pagava-se,
por vezes, bastante caro. Esses mestres eram itinerantes, circulavam de terra em
terra, tinham acesso a várias formas culturais, aos usos e costumes de diferentes
povos e lugares. Desse contato tiveram oportunidade de comparar as diversas
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 61

instituições políticas, éticas e religiosas. Constataram a convenção humana, por


acordo e pelo hábito, na cultura, costumes e leis; em conseqüência dessa
observação, acabaram difundindo a idéia de que tudo é relativo.

Segundo COTRIM (1999:47) “os sofistas destacaram-se como mestres do


saber político e da retórica. Eles deveriam propiciar aos alunos habilidades da
polêmica e da oratória, sem as quais um político estava privado de sua principal
virtude. Esta é a capacidade da oratória de cada um que determina o que é justo
e não o conhecimento profundo das leis”. As técnicas de discurso não
procuravam a verdade, mas provar um determinado ponto de vista; em alguns
casos, falseavam-na conscientemente. Essa indiferença ao tema de que se
tratava e a tese que se defendesse levou ao desprezo às doutrinas, devendo o
aluno ser capaz de defender qualquer tese, verdadeira ou falsa, boa ou ruim.
Assim, atribuíram relatividade a todas as noções, regras básicas e valores
humanos. O aluno deveria conhecer as disciplinas que consideravam a palavra
como tal: gramática e retórica. Persuadir era tão importante que Protágoras
chegou a afirmar: "Devemos tornar a parte mais fraca em mais forte". E,
segundo Górgias, a palavra é o dom com o qual podemos fazer tudo, envenenar
e encantar. O trabalho com a palavra dependia do ensino da gramática, de que
eles são os iniciadores, da crítica literária, da prosa artística, com o ritmo próprio
e distinto da poesia, que é também criação deles, tudo isso tendo em vista a
eloqüência. Não descuravam, porém da Matemática, Aritmética, Geometria,
Astronomia e Música.

Dentre os principais sofistas destacam-se: Protágoras de Abdera, Górgias de


Leôncio, Trasímaco de Calcedônia, Pródico de Cléos, Hípias de Hélade, Crítias
de Atenas, Cálices, Antifonte, Lécrafonte, Alicidamos, Hipódamos de Mileto.
Os sofistas contribuíram para o abandono da filosofia da natureza, não somente
pela mudança na circunstância filosófica, mas também pelas necessidades
criadas pela prática democrática da sociedade ateniense. O advento da
democracia trouxera consigo uma notável mudança na natureza da liderança: já
não bastava a linhagem, mas a liderança política passava pela aceitação popular.
Numa sociedade em que as decisões são tomadas pela assembléia do povo e
onde a máxima aspiração é o triunfo, o poder político, depressa se fez sentir a
necessidade de se preparar para ele. Qual era a preparação idônea para o
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 62

ateniense que pretendia triunfar na política? Um político necessitava,


indubitavelmente ser um bom orador para manipular as massas. Necessitava,
ainda, possuir algumas idéias acerca da lei, acerca do que é justo e conveniente,
acerca da administração e do Estado. Este era, precisamente, o tipo de treino
que os ensinamentos dos sofistas proporcionavam.

Como contribuição dos sofistas tem-se o abandono do pensamento mitico-


religioso; a aceitação do racionalismo Heracliteano da ordem do universo (uso
da razão); a convicção de que as leis e as instituições são resultados do acordo
ou decisão humana: convencional. Os sofistas eram relativistas, isto é, não
acreditavam na possibilidade de os seres humanos chegarem a um saber
objetivo, universal, de modo que, "tudo é relativo". Esta posição - o relativismo
- combinava com a sua forma de ensinar a argumentar: não interessava tanto o
conteúdo científico, mas a capacidade de convencer os demais. Os filósofos
foram severos adversários dos sofistas, exatamente por não concordarem com o
seu relativismo. Outra característica era o convencionalismo das instituições
políticas e das idéias morais (tudo resolve-se por convenções).

É fácil compreender a transcendência destas reflexões da Sofística. Com elas,


inaugura-se o eterno debate acerca das normas morais, acerca da lei natural
(phisis) e da lei positiva (nomos). O debate começa com os sofistas na filosofia
grega; mas não termina com eles, como veremos.

4.2 Xenofonte

Xenofonte Na primeira fase da sua vida participou em diversas


expedições militar: jovem irrequieto e sedento de acção guerreira,
foi um aventureiro e, por vezes, mesmo, um mercenário chefiou a
celebre; retirada dos dez mil, combateu mais de uma vez contra
Atena e chegou a faze-lo ao serviço de Esparta, por cujo regime
tinha grande simpatia. Atenas reagiu: Xenofonte foi banido e
privado dos seus bens.

Xenofonte não escreveu uma obra política de síntese, mas do


conjunto das suas variadas obras retira-se um pensamento político.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 63

Como tem sido notado pelos comentadores, tudo o que Péricles


louvava desagradou a Xenofonte: aquele elogiava a democracia,
este preferia a ditadura; o primeiro amava a paz, o segundo deseja
a aventura e a guerra; um prezava a liberdade e a igualdade, o outro
via ne - las os grandes perigos que amaçava o estado, e defendia
uma concepção autoritária e aristocrática do poder. Numa palavra.

Por outro lado, Xenofonte foi o primeiro autor na história que


procedeu a uma análise política do fenómeno do poder em termos
que mantém ainda hoje considerável actualidade. Apresenta com
entusiasmo o elogio da Esparta como sociedade fechada e como
regime ditatorial. É esse o objectivo da sua obra a A Republica do
Lacedemónios. Começa ele por declarar que, em sua opinião,
Esparta, apesar de ser um dos estados menos populoso, foi
inegavelmente; o mais poderoso e o mais ilustre da Grécia.

Esparta vive como sociedade fechada, ao contrario de Atenas, e


segundo Xenofonte devido o receio de que os cidadãos sejam
infectados pelos vícios do estrangeiro.

Não se pense porem, que este estilo de vida se desenvolvia numa


base de boa vontade e adesão espontânea da populacao: pelo
contrátrio, o modelo espartano correspondia ao de um regime que
hoje chamaríamos totalitário. Assim, diz Xenofonte ’’ Esparta é um
lugar onde se obedece melhor aos magistrados e as leis”; a
obediência é um bem inestimável no estado, no exército, numa casa.
Por isso o estado tem de ser muito forte: quanto mais as
magistraturas forem poderosas, mas se imporão aos cidadãos e os
resolverão a obedecer. E para que ninguém desobedeça, para que a
ordem e a disciplina reinem, sem falha, estabelece-se o policiamento
total das actividades individuais: cada cidadão fiscaliza e controla os
demais, e todos se observam uns aos outros, o que se traduz numa
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 64

rivalidade muito agradável aos deuses e muito útil ao estado. O


indivíduo é, portanto, inteiramente subordinado ao estado: entre o
cidadão e o poder, é este quem prevalece. Dai uma concepção do
direito que não visa principalmente proteger a pessoa humana, mas
a colectividade, ao passo que outros estados punem aqueles que
fazem mal ao seu próximo.

Para que o chefe autoritário possa exercer o poder com sucesso a


que ter em conta os seguintes aspectos:

4.2.1 Qualidade a se ter no chefe


Para Xenofonte o poder é o comando exercido pelos mais capaz:
toda a parte política da obra do Xenofonte é uma apologia do chefe,
ou seja daquilo que pela sua aptidão natural é mais habilitado a
assumir e exercer o poder.

Xenofonte afirma que não é chefe quem quer. Nem é


necessariamente um chefe aquele que ocupa um lugar de chefia: os
reis e os governantes não são aqueles que usam um cepteo, nem os
que foram escolhidos pela multidão, nem os que a sorte designou,
nem os que usurparam o poder pela violência ou pela astrucia, mas
aqueles que sabem mandar.

É chefe, portanto, aquele que sabe mandar, e por isso se faz


obedecer. Em todo os domínios, os homens consentem em obedecer
aqueles que consideram superiores.

O poder pertence, pois, aos chefes, aos que possuem em si uma


autoridade natural, e estes são, antes de mais os que sabem. Mas não
basta ser reconhecido como chefe ter mais conhecimentos, saber. É
preciso ter também o dom da palavra, persuadir, apelar a razão e aos
sentimentos dos governados. Assim os melhores chefes são os que
possuem mais conhecimentos úteis e servem melhor da palavra.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 65

Enfim, não basta aos chefes os conhecimentos e dom da palavra é


também necessário o estudo das paixões humanas. Porque a política
pressupõe a persuasão. E esta só é possível a quem conhecer as
mentalidades, os desejos, as paixões dos seus subordinados ou do
povo em geral.

4.2.2 Habilidade no exercício do poder

O poder não é, pois, um fenómeno jurídico, mas um fenómeno


psicológico. Não resulta das leis, mas da mentalidade e atitude dos
homens.

O poder é uma autoridade que não provem dos galões ou sinais


exteriores da hierarquia, nem sequer de uma investidura regular e
conforme ao direito. O poder merece-se e conquista-se; quando
vago, torna-se; e uma vez alcançado exerce-se. O que importa, nos
governantes não é legitimidade da investidura no cargo, mas a
eficácia demostrada no exercio do poder. É pelo exercício do poder
que este se torna bom e útil, meso quando na sua origem tenha
estado um acto ilegítimo.

Mas embora o melhor governo seja o governo de um só – um


governo de autoridade, militar, personalizado no chefe, a que hoje
chamaríamos ditadura – o poder não deve ser e – o poder não deve
ser exercido pelo chefe no seu interesse pessoal, “ um bom general
deve velar pela saúde e pelo bem estar dos seus soldados. (…) se se
escolhe um rei, não é para que ele se ocupe sobre tudo da sua
própria pessoa, mas para que assegure a prosperidade daqueles que
o escolheram (…)”.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 66

Sumário
Pesístrato identificou-se com a tirania, uma vez que quando o poder
chegou em suas mãos já Atenas se encotrava em conturbações
sócias que levou ele a tomar esta posição, entretanto na sua
direcção efectuou algumas reformas, como era habitual nos tiranos,
Pisístrato procura proteger as classes desfavorecidas que o
conduziram ao poder, isentando os mais pobres do pagamento de
impostos. A estes concede igualmente empréstimos e terras.

Xenofonte é o primeiro grande defensor do regime político


ditatorial, quer porque não respeita as fórmulas consagradas pela lei
para garantir o acesso ao poder por via legítima e pacífica, quer por
elogio que faz da violência e da guerra as ordens do chefe. Ele foi o
percursor do modelo político da monarquia absoluta

Exercícios
1. O autoritarismo é uma politca que não concede a liberdade ao
indivíduo num determinado território: o poder é sustentado por um
conjunto de ideias ou princípios que não aceitam alternativas ao
modelo de sociedade vigente, nem permitem a existência legal de
oposição.

a) Justifique o autoritarismo na antiguidade grega tendo em conta


Xenofonte e Pesístrato.

b) Qual é a concepção de Xenofonte no que diz respeito as habilidade


do exercício do poder.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 67

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 68

Unidade V
Ideais políticas na
Autoridade na Antiguidade
ROMANA

Introdução
A república romana gerou homens de Estado, oradores, e soldados
dóceis aos factos e às suas lições, mais preocupados com os
acontecimentos do que com a elaboração de teorias. A sua
existência muito activa e ocupada na guerra, nos debates do fórum
e na perseguição de honras, confirmam a ideia que os homens só
escrevem sobre política por não poderem exercê-la.

O pensamento romano em matéria política só surge com o reflexoda


luz grega em que os seus representantes são um grego conquistado e
romanizado (Políbio), e um orador romano helenizado (Cícero).

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

Compriender as ideias politicas na antiguidade Romana.

Objectivos Explicar o pensamento Romano em matéria política a partir dos


pensadores Políbio e Cícero;

Identificar nas suas ideias, semelhanças e diferenças.


HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 69

5.1. O Regime Politico misto.


5.1.1. Cicero

Concepção de política de Cícero é acima de tudo moral. O homem


cumpre um dever ao consagrar-se à política. Não procura o
enriquecimento pessoal. Acumulação de mandatos, evasão fiscal ou
facturas falsas não são apenas outros tantos anacronismos, são por
essência, fenómenos estranhos à visão de Cícero para quem a mais
alta virtude é o governo da cidade. A boa política é obra de homens
de bem. Cícero insiste nos inconvenientes que dela resultam, nos
penosos trabalhos que impõe, nos perigos reais e tratamentos
injustos em que faz incorrer. O homem de bem deve aceitar tratar
com indivíduos de convivência difícil, deve aceitar os riscos, deve
expor sua reputação. O serviço da pátria requer a maior parte e a
parte mais elevada das suas forças. Só depois de o Estado ser
servido por meio das diversas formas de acção cívica é que o
restante poderá ser dedicado à vida privada.

A política comporta em Roma uma via ascendente, que faz passar


sucessivamente o candidato por diversas magistraturas, até por fim
chegar ao consulado. Não bastaria no dia em que a república
estivesse em perigo, disputar o consulado, pois não seria possível
obtê-lo. Além do mais, o talento político não se improvisa. É
necessário estar instruído na ciência e na arte política. Um homem,
mesmo que distinto, dificilmente se tornará útil a seu país se não
tiver feito uma aprendizagem da matéria e não tiver estudado as
questões discutidas. A acção deve apoiar-se em conhecimentos ao
lado de uma moral. Cícero admite assim a existência de uma ciência
política.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 70

Apesar do governo exigir do homem tão grandes qualidades, a


autoridade em si não e inerente ao homem. Sua existência não
resulta das qualidades eminentes de uma personalidade excepcional
chamada a exercê-lo, mas no facto social, ou por outra, facto cívico.
É por existir um povo, por este estar organizado em cidade que é
necessário um poder. A autoridade é vista como coisa do povo, a res
publica. Por isso Cícero insiste na definição de povo não como um
agrupamento qualquer de homens, mas como um grupo numeroso
de homens associados entre si pela adesão a uma mesma lei e por
uma certa comunidade de interesses.

A causa desta associação não é tanto a fraqueza dos homens, o


medo dos seus semelhantes e dos animais ferozes. Para Cícero
assim como para Aristóteles a reunião dos homens é um fenómeno
natural, decorre da essência humana. O estado cívico não decorre de
nenhum contrato social. A constituição do Estado resulta de
fenómenos de carácter territorial, de natureza geográfica. A
fundação das cidades não é um acontecimento imaginário mas
histórico. A certa altura, uma posição impõe-se às pessoas das
imediações. Um homem junta uma população, e a cidade estende
seu domínio à vizinhança. A partir desse momento, uma autoridade
permanente e um governo com continuidade tornam-se coisa
necessária. Para Cícero a ideia de Estado (quer na instituição, quer
na constituição), traz a marca de uma obra colectiva.

No que toca as formas de governo, Cícero segue a divisão quase


tradicional: quando todos assuntos públicos estão a discrição de um
só, chama-se rei aquele que tem o poder, é a realeza. Quando a
autoridade pertence a algumas pessoas escolhidas, diz-se que a
cidade é governada pela elite, pela aristocracia. Por fim, o governo
popular é aquele em que todo poder pertence ao povo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 71

Intelectualmente, o regime monárquico é o preferido de Cícero,


enaltecendo o poder único uma vez que se a coisa pública for
partilhada entre vários deixa de haver mando, pois o poder só existe
quando é único. Mas ao mesmo tempo, Cícero multiplica-se em
discursos de carácter republicano. Quanto a aristocracia, não é o
melhor governo porque assentua demasiado as diferenças sociais e
no governo de elite a massa do povo tem muito pouca liberdade. Em
relação ao governo do povo, é pior de todos porque a equidade é
iníqua. A equidade consiste em dar a cada um o que lhe pertence.

Mas para os antigos, o que pertence a cada um não é o mesmo para


todos. Varia consoante a hierarquia de classes e dignidades. Aqui,
equidade supõe respeitar as diferenças. Uma vez que nenhuma
constituição é boa em si, Cícero louva o regime misto, aquele que
reúne em justas proporções as três formas de governo

5.1.2 Polibio

Políbio5, chega a Roma em plena maturidade dos seus talentos


militares, políticos e diplomáticos. Roma encontrava-se nessa altura
na maturidade calma e pacífica das suas instituições, por isso ele vê
um momento próprio para admirar entre a tirania do patriciado e as
lutas dos gracos. Polibio vai escrever várias biografias e suas
histórias, vai escrever ainda sobre diversas guerras.

Claramente não era politólogo mas homem de acção e historiador.


Mas ao longo de suas narrativas vão surgindo certos pontos de vista
sobre a sua concepção da política, das formas de governo e suas
transformações. Para sua concepção de política sofre influências de
Aristóteles no que toca ao objectivo da política que não consiste em
adquirir e conservar a riqueza, mas em introduzir a sabedoria e a

5
Nasceu à (201-120 a.C.), também conhecido por Polibius, foi um geógrafo e historiador grego, famoso pela sua obra
Histórias, cobrindo a história do mundo Mediterrâneo no período de 220 a.C. a 146 a.C.. É-lhe também atribuída a invenção de
um sistema criptográfico de transliteração de letras em números.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 72

virtude na vida privada, a suavidade e a justiça na vida pública.


Reproduz ainda a classificação tradicional dos governos segundo
Aristóteles (monarquia, aristocracia e democracia), a que acrescenta
a república.

Assim, Políbio assentua sua preferência por regimes mistos. O


melhor governo não é o que se limita a um tipo puro porque a
pureza no que toca a essência do governo é em si uma fonte de
fraqueza. O mais desejável é que o governo seja formado por
elementos compensadores conciliando as diversas formas puras nas
proporções mais harmoniosas. E a experiência ensina que a forma
de governo mais perfeita é composta pela monarquia, aristocracia e
democracia. A constituição romana reúne estes elementos
misturados de maneira satisfatória. Em que a distribuição é tão
harmoniosa que a soberania dos três poderes fazem com que cada
um necessite dos demais e que ninguém possa prescindir dos outros.

Uma vantagem dum regime misto é resistir a evolução fatal que leva
a ruína os vários regimes. Porque o Estado estacionário é
inconcebível, qualquer constituição por muito boa que seja tem
tendência a alterar-se, a degenerar pois contém naturalmente em si o
seu princípio de morte.

O primeiro regime é a monarquia. Os chefes das sociedades


procuram governar não tanto pela força como pela equidade e pela
benevolência. É o governo de um só exercido no interesse geral.
Mas os descendentes dos reis, embriagados pelo longo uso e pelas
seduções deslumbrantes de uma autoridade sem limite, já só vêem
no poder a liberdade de fazer tudo, em vez da difícil tarefa de fazer
o bem. Transformam assim a monarquia em tirania. Depois a
aristocracia sucede à tirania, a oligarquia à aristocracia. Mas estes
não são discutidos por Políbio.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 73

Na última fase, a democracia transforma-se em demagogia. O povo,


uma vez senhor, começa por contentar-se com a liberdade e
igualdade. Mas aos poucos desencaminhado pelos ambiciosos e pela
sua própria corrupção, aspira a dominação, passa a pensar apenas na
malfeitoria e espoliação, e oprime por sua vez. Assim se regressa ao
governo de um só.

Estas concepções de Políbio não têm um carácter pessoal. São


concepções e teses de Roma. Elas são retomadas por um dos
homens mais representativos do génio romano, Cícero. Há quem até
pense que ele se limitou a traduzir as fórmulas de Políbio. Durante
25 anos Cícero faz política directamente. Torna-se questor, edil,
prestor urbano, cônsul e procônsul. Na vida pública é um moderado
não pertencendo pelas suas origens nem à plebe nem ao patriarcado.
Considera-se um homem novo que deve seus cargos ao talento e
méritos próprios e não a uma ilustre ascendência. Forma um partido
republicano de centro.

Graças a seu talento consegue agrupar três elementos cuja união se


fosse duradoura, teria podido salvar a república. Aos cavaleiros, isto
é, a rica burguesia financeira (os elementos abastados da classe
média no sentido actual, não no sentido de Aristóteles), junta a
direita a facção moderada dos patrícios e à esquerda a facção
moderada dos plebeus. Esta coligação acaba por ser arruinada pela
intransigência e pelo espírito pouco político de Catão6, sendo mais
tarde obrigado a resignar-se à ditadura de César. O assassínio de
César leva-o a ter esperança no regresso a um regime de moderação
e liberdade mas muito cedo se acha em violenta oposição ao soldado
da velha guarda Marco António.

6
Marcus Cato, também chamado o Antigo, ou o Censor, nasceu em Tusculo no ano 243 a.C. e morreu a 149 a.C. Estadista
romano, travou batalha contra o luxo e eliminou os senadores que considerou indignos. Combateu ainda o helenismo em nome
de uma moral radicalmente austera. Com medo de uma desforra, pregou continuamente a destruição de Cartago. Dedicou
desde cedo aos seus estudos e arte militar. Escreveu a maior parte das suas obras depois dos 50 anos. Era um escritor que
odiava os patricios, suas obras foram escritas em meio uma admiração e desprezo pelas coisas gregas.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 74

Sumário
O pensamento romano em matéria política só surge com o reflexo
da luz grega em que os seus representantes são um grego
conquistado e romanizado (Políbio), e um orador romano
helenizado (Cícero). Admiravam-se demasiado a eles próprios, e
por isso só lhes interessava as suas próprias histórias que
deformaram para melhor servir o seu orgulho. Quanto às
instituições de outros povos, achavam-nas desprezíveis uma vez
que haviam se tornado instituições de vencidos e de súbditos e por
isso não lhes mereciam estima nem sequer curiosidade.

Exercícios
1. Qual o regime político defendido por Políbio como ideal?
Justifique porquê.

2. Estaria correcto afirmar que “a concepção de política em Cícero


é moral Justifique a sua resposta.

3. Explique as semelhanças e diferenças nas ideias políticas de


Cícero e Políbio

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 75

Unidade VI

Pensamento
político Idade
Média

Introdução
A Bíblia a base de toda a reflexão cristã da idade média, tanto no
oriente como no ocidente. Os homens da idade média europeia
viveram numa extrema familiaridade com os actores desta história
adquiriram também mecanismo específico de pensamento, a um
tempo submetido à autoridade dos textos sagrados e dos escritos
dos padres e virados para a minuciosa investigação do seu sentido
sempre atentos aos significados das palavras e dos conceitos que
elas representavam.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Caracterizar do pensamento político durante a idade média;

 Explicar a concepção política de Santo Agostinho

 Conhecer as ideias políticas de Aquino


Objetivos
 Mencionar semelhança e diferença existente entre Santo
Agostinho e Aquino.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 76

6.1 Características

Entre os numerosos cultos de origem oriental que se difundiram no


seio do império romano, a religião cristã impôs-se no final da
antiguidade. Vinha na sequência de uma tradição judaica,
amplamente espalhado no império e cujas comunidades actuaram
como passadores no processo da sua difusão. Quer os judeus quer
os cristãos traziam de novo o princípio de um Deus único e
revelado e também de um conhecimento todo ele contido num
único livro – A Bíblia a base de toda a reflexão cristã da idade
média, tanto no oriente como no ocidente. Os homens da idade
média europeia viveram numa extrema familiaridade com os
actores desta história: as grandes personagens do antigo testamento
– Adão e Eva, Abrãao, Moisés, David, os profetas – e do novo
testamento – o Cristo, a virgem, os apóstolos, os evangelistas – e
os santos que a continuaram. Adquiriram também mecanismo
específico de pensamento, a um tempo submetido à autoridade dos
textos sagrados e dos escritos dos padres e virados para a
minuciosa investigação do seu sentido sempre atentos aos
significados das palavras e dos conceitos que elas representavam.

Cumpre-nos todavia acentuar desde já os principais aspectos


inovadores do cristianismo que tiveram repercussão na esfera social
e político: Primeiro: foi a noção da humanidade como noção nova,
equivalente a globalidade do género humano. Todos os homens são
iguais, todos são filho do mesmo Deus, nenhuma diferença de
natureza existe entre eles. Como expressivamente disse S. Paulo
“nesta renovação não há mais judeus nem gentios, circuncisos ou
incircuncioso, nem bárbaros, nem gregos, nem escravos nem
homens livres” (Epistola de S.Paulo aos Colossenses, 3,11);
Segundo é pela mesma ordem de razões, o cristianismo veio
proclamar com todas as sua força a natureza inviolável na pessoa
humana, principio superior de que foram brotando ao longo dos
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 77

séculos números corolários da mais alta relevância política – a


condenação da escravatura, a liberdade e os direitos do homem, a
limitação do poder politico, a garantia à vida, etc; Terceiro: surgi
com os primeiro doutrinadores cristãos, uma concepção
inteiramente nova do poder político quer quanto à sua origem - a
partir de agora entender-se-á que todo o poder vem de Deus
(S.Paulo, Epistola aos romanos, 13,1), - quer quanto ao sentido do
seu exercício o poder passara a ser visto não como um direito
próprio dos governante ou como pura autoridade do estado sobre
os cidadãos, mas sobre tudo como função posta ao serviço do bem
comum da qual resultam para o seu titular mais deveres do que
direito e menos privilégios do que responsabilidade; Quarto: a
criação de uma igreja universal, incumbida de defender e propagar
a fé cristã de origem a problemática, até então desconhecida das
relações entre a igreja e o estado.

6.2 Santo Agostinho

Santo Agostinho7 estudou em cartago e teve uma juventude


dessoluta. Profundo conhecedor de todos os clássicos,
nomedamente dos gregos, foi professor de gramática, de retórica e
de eloquência, em cartago e em Roma.

Tendo ido assinar para Milão, Agostinho trava conhecimento com


o respectivo arcebispo (Santo Ambrôsio), que nele exerce enorme
influência: a sua conversão ao cristianismo da-se aos 32 anos, o ano
seguinte 387, é o próprio arcebispo de Milão quem o baptiza no dia
de pascoa.

7
Nasceu (354-430), norte da África, filho de pai pagão e de mãe cristã – Santa
Monica.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 78

Regressa depois a África em 388, vivendo retirando do mundo e


experimentando uma profunda transformacao interior que o leva a
rejeitar ferozmente a vida de luxuria e prazer que teve na sua
juventude. Em 391 é reconhecido na basílica de Hipona pelos fieis,
que o reclamam para o seu padre, em 396 torna-se bispo.

A vida do bispo de hipona decore num período em que a igreja já


não é negada pelo imperador de Roma, nem os cristãos são
perseguidos pelo poder político, mas em que o império está no fim.

As invasãos bárbaras começaram; Roma sera conquistada por


Alarico 410. E todos se interrogam sobre senão terá sido o
cristianismo o grane responsável pela derrocada de Roma.

É neste pano de fundo que Santo Agostinho se empenha em redigir


durante 14 anos o monumental trabalho de a cidade de Deus que
tem como proposito principal a refutação destas teses e o repúdio
de tais temores. Nesta obra, a mais importante de Santo Agostinho,
sob o ponto de vista das ideias políticas, são tratados vários
problemas de relevo – a distinçãao entre as duas cidades, uma
concepção particular sobre a natureza humana, a noção do estado, a
sociedade e poder, a paz, as funções da autoridade e, enfim as
relações entre a igreja e o estado.

Santo Agostinho apresenta-nos uma visã profudamente pessimista


acerca da natureza humana. Vejamos como chega até ela:Considera
o bispo de Hipona que os primeiros homens (Adão e Eva) foram
criados como seres bom, perfeitos com todas as qualidades e sem
defeitos. Mas pela desobediência (o pecado original) afastaram-se
de Deus e foram punidos para Sempre. As susas características
principais passaram a ser o egoísmo, arogância, a vontade de
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 79

dominar os outros, e a tedência para procurar o bem próprio com


desprezo do bens dos outros.

Alguns, poucos, conseguem comum grande esforço redimir-se e


salvar-se; mas os outros permanecem condenados a punição eterna
e não conseguem liberta-se da sua condição de homens pecadores.
O homem é assim um ser irreversivelmente marcado pelo pecado.

Deste modo a minoria dos homens pertence a cidade de Deus, que


é uma assembleia de Santos, a grande maioria pertence a cidade
terrena que é uma assembleia de pecadores.

As três tendências mais negativa do homem na ciadade terrena

são : o apetite pelos bens materias, a paixão do poder ou o domínio


de outros homens, e o desejo sexual: em conjunto, estas três
tendência fazem do homem pecador um ser totalmente egoísta, e
muito negativo em relação a todos os seus semlhantes.

Os apetites do homem pecador são, alias insassiáveis: a obtenção


de um bem não satisfaz, a seguir a um vem outro, e outro, numa
cadeia insessante a que só a morte põe termo.

Na concepção agostiniana, a graça de Deus não serve para a base


da organização social, porquanto só libera uma pequena minoria da
grande massa do pecadores: por isso, se a graça devina é adequada
à estruturação da vida social outros meios tem de ser encontrado.
Estes neios são organizados pelo estado: a prenveção, a sansão,
reprensão.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 80

A paz e a segurança terrena devem ser asseguradas por uma “mão


pesada” – a coacção e a punição - em ordem a evitar que elas
sejam destruidas pelas forças poderosas do pecado.

Assim, o principal instrumento do estado para obter a paz e a


segurança é o sistema jurídico, o direito.

O direito, garantido pela força do estado, é o mecanismo que serve


para assegurar a paz e a segurança entre os homens pecadores: mas
que ninguém se iluda, o direito não consegue actuar sobre as
consciências e mudar a vontade e os motivos dos homens, apenas
consegue actuar sobre os seus comportamentos exteriores, evitando
que os homens comentam agressoes ou punindo-as ou reprimindo-
-as.

O estado é pois uma ordem exterior e coercivo, não tem haver


como bem e a justiça, mas apenas com a paz e a seguranças
possíveis na cidade terrena. Os métodos coercivos são os únicos
métodos pelos quais os homens pecadores podem ser contidos: o
medo da punição é a única salvaguarda da paz e da segurança.

O estado é um instrumento ordenado por Deus: é o mesmo “um


dom de Deus aos homens”, desta ideia resultam duas
consequências da maior importância: Primeira: o dever de
obediência é absoluto, não há limitações ao poder dos governantes,
não há para justificação da desobediência ou para quaisquer forma
de resistência dos governado; Segunda: os homens não podem
distinguir entre bons e maus governante, entre formas de governo
justos e injustos (como fazia Aristóteles), a todos se devem por
igual obediência. A principal finalidade a prosseguir no uso de
poder é para Santo Agostinho a preservação da paz.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 81

Em relação a autoridade ele análisa as três funções em que se deve


desdobrar a autoridade: comandar, prover e aconselhar, são estes os
deveres do chefe, de qualquer chefe – desde o pai de família ao
imperador: 1º comandar consiste na funções de comando, é o mais
importante e o mais difícil dos deveres do chefe; 2º consisti em
prever as necessidades do país e em prover a sua satisfação; 3º Faz
ressaltar a posição do chefe como conselheiro do seu povo, o
governante deve não apenas comandar e prover, mas também
aconselhar e faze-lo com espiríto fraterno.

Santo Agostinho deu um contributo importante para a questão da


relações entre a igreja e o estado, sendo genuíno no seu pensamento
– correcto, ortodoxo, acente na doutrina da clara diferenciação
entre o espiritual e o temporal e a supremacia da igreja sobre o
estado. Especificava mesmo que a igreja por amor da concórdia
civil, deve aceitar o estado tal como ele é, com os erros e
insufiência que inevitavelmente o caracteriza, oferecendo-lhe na
pessoa dos seus fieis, cidadaos bons e virtuosos. A igreja devia ser,
assim, uma verdadeira escola do civismo.

A doutrina da supremacia da igreja sobre o estado consistiu em:

1º Favorável a intervenção do estado contra as seitas heréticas,


onde o estado tem dever de punir com as suas leis os hereges –
funcionando assim na prática como braço da igreja e aceitando as
definições da verdade religiosa dada por esta.

2º A cidade de Deus como um factor intrinsecamente superior a


cidade terrena.

A necesidade de o estado se submeter a religião e caminhar para


Deus, como elemento da cidade celeste, ia provocar um desvio de
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 82

interpretação que nela estava implicito. Nasceu assim


“agostiniaismo político” que viria a ser consagrado oficialmente
pela doutrina de alguns papas, nomeadamente S.Gregorio Magno
(509-604 d.C)

6.3 Tomás de Aquino

Tomas de Aquino8 percebeu-se da grandeza genial do pensamento


político e filosófico de Aristóteles, e convenceu-se intimamente de
que, no seu tempo, não mais seria possível qualquer construção
intelectual de grande alcance que não tivesse em conta as
concepções de Aristóteles. Por outro lado, ai onde Santo Agostinho
era pessimista sobre a natureza humana, e considerava que toda a
concepção acerca do homem do mundo e da vida, só podia assentar
no dogma do pecado original e dos efeitos deste sobre o ser
humano, S. Tomas, pelo contrário afirmou com optimismo que os
efeitodo pecado original não são destruitivos e que a graça divina,
completando a natureza humana, não vem agir sobre algo que seja
totalmente mau, é que ao passo que Agostinho emerge de um
mundo trágico de crise, por trás do qual está o desabar de uma
civilização, emergindo de um mundo de novas formas de vida, no
qual já se delineam os elementos das novas nacionalidades, origens
dos estados modernos.

Na sua concepção o mundo e o homem foram criados por Deus,


mas a actuacão devina não se esgotou nesse primeiro momento
genético: continua todos os dias a exercer-se pois Deus governa o
mundo.

8
Viveu entre 1225-1274, filho e de Conde de Aquino, nasceu na localidade de
nápoles. Este foi grande inlectual, deixou uma obra escrita imensa, sobre tudo
nos dominis da filosofia e da teologia.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 83

Não o governa, porém, intervindo caso à caso, Deus actua “por


causas segunda”, isto é, estabelece as leis gerais do universo e
deixa que os acontecimentos decorram, depois de acordo com estas
leis e com a vontade dos homens.

Para aquinatense existe quatro espécies de leis:

Lei eterna, é a lei geral do universo estabelecido pelo Deus para


todos os seres por ele criado;

Lei natural, contém essencialmente um preceito fundamental: fazer


o bem e evitar o mal, cabe aos homens, através da razão extrair
delas todas as consequencias corolários, isto é, todas as normas de
aplicação daquele preceito fundamental;

Lei humana que é imposta pela razão para aplicar a regra essencial
da lei natural, que manda fazer o bem e evitar o mau;

Lei divina é constituida pelas normas que Deus expressamente


formulou para orientar a lei humana sobre questoes essências.

Segundo S. Tomas de Aquino e na esteira de Aristótele, o homem é


um animal social e, mais do que isso, é um animal político. Um
homem souzinho não seria capaza de se fornecer a si mesmo,
contudo o que é necessário, pois os recursos de só homem não são
adequados a perfeição da vida humana. Assim, a vida em sociedade
é o próprio do homem porque ele não seria capaza de prover a tudo
o que é necessário a vida com os seus próprios meios. Por isso a
sociedade política é a sociedade perfeita, no sentido de que é a
única capaz de proporcionar a satisfação de todas as necessidades
da vida. Para tal recorreu ao clássico exemplo de navio em que se
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 84

não hover ninguém ao leme, o navio seguira agora um curso e


depois outro, de acordo com os vento que soprarem sem nunca
atingirem os seus destino para alcançar porto seguro, o navio tera
que ter alguém ao leme. O memo acontecem com as sociedades
políticas, dai a necessidade do governo dos povos e, portanto de
político.

Por outro lado, decorre do que explicamos, a sociedade política, o


estado tem uma origem natural. É um produto da natureza e da
razão. É uma consequência do carácter social e político do homem
que exige uma autoridade que governe para se realizar o bem
comum.

O estado é, pois, uma exigência racional da natureza humana, mas


justamente porque homem é um ser dotado de inteligência e de
razão, ele contribui através de actos voluntários seus para criar e
manter a sociedade política.

Por conseguinte, a sociedade, embora não tenha origem contratual


expressa, repousa num elemento voluntário que é o consentimento
tácicto comum determinada comunidade; o estado é a sociedade
perfeita, não no sentido de que disponha de uma perfeição absoluta
igual à de Deus, mas no sentido de que se basta a se própria, de que
contém em si toda as virtualidades para satisfazerem todas as
necessidades fundamentais do homem.

O fim do estado segundo Aquino “é o bem comum”. O bem


comum, o bem da comunidade, é o fim do estado, mas o bem
comum é uma noção de conteúdo complexo, onde se incluem
finalidades de ordem material, de ordem intelectual, de ordem
espiritual e de ordem religiosa.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 85

Santo Agostinho repeliu essa concepção, enquanto Aquino


repescou-a. Mas aqui é importante acentuar um ponto, que faz dele
um pensador moderno: o fim do estado não é apenas a obtenção do
bem comum num sentido colectivo da expressão: porque o bem
comum tem também uma dimensão e uma incidência individual. O
bem comum pressupõe e exige que todos e cada um dos homens
possa não apenas viver, mas viver bem.

A ideia de felecidade individual ou de bem estar, individual tem


origem em Aristóteles e é uma ideia fundamental no conceito de
bem comum. Outra expressão que ele utiliza é de que é necessário
que o estado assegure o mínimo suficiente de bens corporais para
que o homem possa dedicar-se, a partir dessa base mínima, aos
seus fins eternos. A mais moderna versão da doutrina social da
igreja, nos nossos dias, acenta neste princípio, esta concepção está
na origem do desenvolvimento que embora não pela mão da igreja,
se vira a dar a mais tarde no sentido do reconhecimeento e da
garantia dos direitos do homem.

A sociedade é uma exigência da natureza; para se viver em


sociedade é necessário uma autoridade que comandem em ordem
ao bem comum; logo, a autoridade é uma exigência da natureza.

Mas todas a exigências da natureza procedem de Deus, eu autor;


ora a autoridade é uma exigência da natureza; logo a autoridade
procede de Deus.

O aquinatense vai, na verdade, ensinar que o poder de origem


divina, é transmitido directamente ao povo e do povo é que vai, se
ele assim o determinar para os govrnantes, daqui resulta que Deus
concede o poder ao povo, e portanto o povo que é o verdadeiro
titular do poder político. O povo pode , pois , exercer directamente
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 86

o poder, ou delegar o seu exercício em governantes: estes serão


meros delegados do povo, actuando no lugar ou em vez do povo.

Numa palavra, a titularidade do poder pertence ao povo, o seu


exercício poderá caber ao próprio povo colectivamente, ou a
governantes por ele escolhidos.

Era a negação do que se chamaria a doutrina do direito divino dos


reis, isto é, da ideia de que o poder vem directamente de Deus para
os reis sem qualquer mediação popular. Desta doutrina acerca da
origem popular do poder seguem-se numerosas e importante
consequências: que o povo pode exercer directamente o poder ou
delega-lo numa ou em várias pessoas; que pode faze-lo por certo
prazo ou por tempo ilimitado; que pode delegar apenas numa
pessoa ou também em todos os seus legítimos sucessores; e que
pode escolher um novo governante se aquele que reinavam
segundo o princípio heridetário tiver morrido sem descedentes.

Sobre os tipos de regimes político há três formas justas de governo:


a monarquia, a aristocracia e a república; e três formas desviadas
ou injustas: a tirania, a oligarquia e a democracia.

Para Aquino o melhor regime político é a monarquia pelas


seguintes razoes:
Do ponto de vista teológico a monarquia é o regime que mais se
aproxima do governo do mundo por Deus, governo dum só é da
forma que Cristo pretendeu para sua igreja:

 Do ponto de vista filosófico a arte de governas como todas as


artes, deve imitar a natureza, a sociedade política deve seguir o
modelo da natureza. Ora na natureza tudo vem da unidade e tudo
regressa à unidade;
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 87

 Do ponto de vista prático o governo de vários ou muitos nunca se


tornam eficaz senão quanto, após as necessárias deliberações, todos
se põe de acordo e atingi a unidade. portanto é o melhor o governo
de um só do que o de muitos, que primeiro tem de procurar entre si
alcançar um consenso;

 Do ponto de vista histórico, enfim o passado mostra que, os pais


sem rei sempre viveram na discórdia e sempre andaram à deriva,
como designamente se vem da história do povo hebráico e da
história de Roma;

Mas, por razões prática, o regime ideal não deve ser uma
monarquia pura. Assim, o regime misto preconizado é uma
monarquia temperada por elementos da aristocrácia e por
elementos de república seguindo aqui bastante o pensamento de
Aristóteles e de de Cicero, regime que resulta de uma boa mistura:
de monarquia, enquanto há alguém que dirige; de aristocracia,
enquanto muitos participam na governação segundo as suas
virtudes; e de democracia, isto é, poder do povo, enquanto os
governantes podem ser eleito pelo povo e ao povo compete a
eleição dos príncipes.

O pior regime pra Aquino é a tirania porque 1º um poder que seja


unido é mais eficiente do que outro que seja dividido, assim da
mesma forma que é melhor um poder produtor de bem ser unio é
mais nocivo que um poder produtor de mão seja unido do que
dividido; 2º torna-se injustos ao satisfazer os interesses individuais
do governate em detrimento de outrem; 3º é mau que a força seja
usada para o mau; 4º o tirano semeia a discórdia entre os seus
súbditos; 5º o tirano gera medo aos cidadãos perante o poder, 6º
diante da situação o tirano não consegue assegurar um país forte
perante os inimigos.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 88

Os deveres do príncipe cristão

o poder põe o homem a prova, pois muitos quando permanecem em


posições humildes tem toda a aparência da virtude, e no entanto
afasatam-se dela quando as alturas do poder.

Antes de mais, Aquino estabelece o paralelo entre o rei e Deus, há


uma singular semelhança entre o rei e Deus, pois o rei faz no seu
reino o que Deus faz no universo. Governar é guiar aquilo que é
governado para o seu fim. Ora o fim das sociedades humanas é
proporcionar uma vida virtuosa a todos os indivíduos segundo a lei
de Deus, este é pois o principal dever dos princípios cristãos.

Mas o bem-estar da comunidade política não é apenas espiritual,


tem de ser também material, neste campo os deveres do princípio
cristão são múltiplos; garantir a paz e a unidade do país, prevenir os
crimes, reprimir a violência e fazer justiça; defender o reino contra
os seus inimigos, proverem os lugares públicos, proporcionar aos
mais necessitados meio de subsistência ou suficiência de bens
corporais.

E explica que, se o soberano não está sujeito a lei humana, o da


coação pois é o próprio soberano que dispõe da força pública e este
não pode ser usada contra ele, no entanto o soberano está sujeito as
leis que consiste na sua força directiva aos seus comandos. Através
de um governo sábio o rei desempenha fielmente uma tarefa divina
para com o seu povo, e como recompensa encontram-se próximo
de Deus e junto a ele.

Ora, tanto poder espiritual como o poder temporal são legítimos, e


tem ambos origem divina. A vida sobrenatural é sem dúvida
superior a vida terrena, e por isso se reconhece na esteira da
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 89

tradição medieval a primazia do poder espiritual sobre o poder


temporal. O poder secular só está subordinado ao espiritual,
enquanto tal subordinação for requerida por Deus, que é como
quem diz enquanto for necessária para a salvação da alma.

Sumário
Santo Agostinho, sob o ponto de vista das ideias politicas, trata
varios problemas de relevo – a distincao entre as duas cidades, uma
concepção particular sobre a natureza humana, a noção do estado, a
sociedade e poder, a paz, as funções da autoridade e, enfim as
relações entre a igreja e o estado. Santo Agostinho apresenta-nos
uma visão profudamente pessimista acerca da natureza humana,

S. Tomás, pelo contrário afirmou com optiminismo que os efeitodo


pecado original não são destruitivos e que a graça divina,
completando a natureza humana, não vem agir sobre algo que seja
totalmente mau

Exercícios
1. Caracterize o pensamento político durante a idade média

2. Qual era a visão de Santo Agostinho em relação a natureza do


homem?

3. Enuncie a concepção política de Santo Agostinho.

4. Mencione a diferença existente entre Santo Agostinho e Aquino

5. Qual o regime político preferido por Aquino. Justifica


HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 90

Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.

Auto-avaliação
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 91

Unidade VII

As reformas politicas e
o pensamento politico

Introdução
No âmbito da reforma política na Inglaterra e França, destacaram-
se o Henriques VIII e João Calvino que impulsionaram o
pensamento protestante na Europa. Implementaram grandes
reformas nos seus países, tendo a igreja desempenhado um papel
fundamental, aliando-se ao estado, interpretando a sociedade sob
visão da bíblia.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Descrever as reformas implementada pelo Henriques VIII


na Inglaterra;

 Conhecer a concepção política de Henriques VIII;


Objectivos
 Descrever a transformação efectivada pelo João Calvino;

 Mostrar a concepcção de Calvino em relação a igreja e o


estado

7.1. Henrique VIII, João Calvino

Embora Henrique VIII tivesse defendido a Igreja Católica com o


“livro Assertio Septem Sacramentorum” (Defesa dos Sete
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 92

Sacramentos), que contrapunha as 95 Teses de Martinho Lutero,


Henrique VIII promoveu a Reforma Inglesa para satisfazer as suas
necessidades políticas. Sendo este casado com Catarina de Aragão,
que não lhe havia dado filho homem, Henrique VIII solicitou ao
Papa Clemente VII a anulação do casamento. Perante a recusa do
Papado, Henrique VIII fez-se proclamar, em 1531, proctetor da
Igreja inglesa.

Henrique VIII: foi rei de Inglaterra a partir de 21 de abril de 1509


até à sua morte, recebeu o título de rei da Irlanda pelo Parlamento
Irlandês em 1541, tendo obtido anteriormente o título de Lorde da
Irlanda

O Acto de Supremacia, votado no Parlamento em Novembro de


1534, colocou Henrique VIII e os seus sucessores na liderança da
igreja, nascendo assim o Anglicanismo.

Foi o segundo monarca da dinastia Tudor, sucedendo a seu pai,


Henrique VII, Henrique VIII foi uma figura marcante na História,
exerceu o poder mais absoluto entre todos os monarcas ingleses,
entre os feitos mais notáveis de seu reinado se inclui sua ruptura
com a Igreja Católica Romana, e seu estabelecimento como líder da
Igreja da Inglaterra (ou Igreja Anglicana), a dissolução dos
monstérios, e a união da Inglaterra com Gales, decretou legislações
importantes como as várias atas de separação com a Igreja de
Roma, e de sua designação como Chefe Supremo da Igreja de
Inglaterra, onde unificaram a Inglaterra e Gales como uma só
nação, além de elaborar a primeira legislação contra a sodomia na
Inglaterra, onde castigava com a morte a bruxaria; Os súditos
deveriam submeter-se ou então seriam excomungados, perseguidos
e executados, tribunais religiosos foram instaurados e católicos
foram obrigados à assistir cultos protestantes,
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 93

Henrique VIII foi um papa em seu reino. Ele, no mínimo, trouxe à


luz, na aurora dos tempos modernos, as tensões sempre crescentes
entre a Igreja e o Estado: anistia do clero nacional mediante
pagamento de multa, restrição do pagamento das anatas ao papa;
acto para submissão do clero, acto de supremacia decretando que o
rei é chefe supremo da Igreja da Inglaterra; primeira dissolução
dos mosteiros.

Muitos importantes opositores foram mortos, tais como Thomas


More, o Bispo John Fischer e alguns sacerdotes, frades
franciscanos e monges cartuchos. Quando Henrique foi sucedido
pelo seu filho Eduardo VI em 1547, os protestantes viram-se em
ascensão no governo; Uma reforma mais radical foi imposta
diferenciando o anglicanismo ainda mais do catolicismo.

João Calvino

João Calvino exerceu uma influência internacional no


desenvolvimento da doutrina da Reforma Protestante, à qual se
dedicou com a idade de 30 anos, quando começou a escrever os
"Institutos da religião Cristã" em 1534 (publicado em 1536). Esta
obra, que foi revista várias vezes ao longo da sua vida, em conjunto
com a sua obra pastoral e uma colecção massiva de comentários
sobre a Bíblia, são a fonte da influência permanente da vida de
João Calvino no protestantismo.

O Calvinismo pressupõe que o poder de Deus tem um alcance total


de actividade e resulta da convicção de que Deus trabalha em todos
os domínios da existência, incluindo o espiritual, físico, intelectual,
quer seja secular ou sagrado, público ou privado, no céu ou na
terra. De acordo com este ponto de vista, qualquer ocorrência é o
resultado do plano de Deus, que é o criador, preservador, e
governador de todas as coisas, sem excepção, e que é a causa
última de tudo. As atividades seculares não são colocadas abaixo
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 94

da prática religiosa. Pelo contrário, Deus está tão presente no


trabalho de cavar a terra como na prática de ir ao culto. Para o
cristão calvinista, toda a sua vida é um culto a Deus.

Além das áreas tradicionais de obras cristãs, como organizar a


assistência aos idosos e pobres, muitas das reformas de Calvino
atingiram outras áreas, tais como: Comércio estrangeiro, direito,
economia, comércio interno e políticas públicas. Para ele cada
aspecto da vida e cultura de um povo precisa estar sob o senhorio
de Cristo Jesus e deve ser visto na ótica da mordomia cristã.

Calvino trabalhou na reforma da constituição de Genebra,


tornando-a mais humana e voltada para uma vida mais igualitária e
mais justa entre as pessoas. Ele ajudou a negociar tratados que
tornaram o comércio mais próspero. Ele, inclusive, propôs
regulamentos sanitários e sistema de esgoto que fizeram de
Genebra uma das cidades mais limpas da Europa. As leis propostas
por Calvino foram aplicadas de forma imparcial para grandes e
pequenos.

O apostolo Paulo havia ensinado que as autoridades são ministros


de Deus e foram por ele instituídas com vista ao bem comum,
merecendo assim a obendiência dos cidadãos (epístola aos
Romanos, Cap 13). Calvino seguindo a mesma linha de raciocínio
acentuou que a carreira pública era uma das mais nobres funções a
que um cristão podia aspirar e deixou claro que os cidadãos tinham
o dever de obedecer as leis e honrar os seus magistrados. Os
governantes por sua vez, tinham solenes e graves responsabilidade
diante de Deus em relação as pessoas entregue aos cuidados. Pois
Calvino reagiu contra os anabtista que desprezavam as instituições
politicas e o exércio dos cargos público como algo indigno de um
cristão, com maior parte dos protestantes, ele era favoravel uma
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 95

relação mais estreita entre a igreja e o estado, cada qual respeitando


a esfera da actuação do outro.

Assim a subordinação à lei não exclui uma política racional, pelo


contrário torna-se necessário o princípio da autoridade é respeitada
por si mesma visto ter sido fundada por Deus,a autoridade existe
apenas para desempenhar a missão espiritual que consiste em
conduzir os homens segundo a lei de Deus para lhe facilitar a
salvação.

O essencial do ponto de vista cristão é que os magistrados sejam


obedecidos, quer dizer a autoridade sob qualquer forma mesmo
tirânica, não compete nunca aos povos revoltarem-se, apenas a
providência ao suiscitar a relação sobrenatural de um profeta pode
intervir contra um governo iníquo.

Esta teoria que preconiza em última análise a passividade política.

Dois factores levaram os calvinistas a adoptarem teorias mais


democráticas: pelo facto das perseguições sofridas na França,
Inglaterra e Escócia e o direito de oposição aos tiranos, admitido
apenas excepcionalmente por Calvino.

Sumário
Henrique VIII foi um papa em seu reino. Ele, no mínimo, trouxe à
luz, na aurora dos tempos modernos, as tensões sempre crescentes
entre a Igreja e o Estado: anistia do clero nacional mediante
pagamento de multa, restrição do pagamento das anatas ao papa;
ato para submissão do clero, ato proibindo qualquer pagamento de
anatas, ato de supremacia decretando que o rei é chefe supremo da
Igreja da Inglaterra; Calvino concentra-se numa visão biblica de
acordo com o princípio da Predestinação, por causa de seus
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 96

pecados, ele não teve nenhuma pasta no governo e apoiou a


cooperação entre a igreja e o estado, promoveu reformas também
nos aspectos sociais e políticos.

Exercícios
1. Fale das reformas implementada pelo Henriques VIII na Inglaterra;

2. Descreva a transformação efectivada pelo João Calvino no âmbito


económico e religioso.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 97

Unidade VIII

Pensamento
político da idade
Moderna

Introdução
Neste período a idade moderno, os pensadores vão debruçar sobre
os princípios a se ter em relação aos príncipes na direcção do seu
governo, alguns optando pelo realismo como Maquiavel, os
princípios cristão Erasmo de Roterdão, T. More imagina então um
sistema comunitário em que todos trabalham e cada um trabalha
pouco.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de

 Analisar os ideais de Maquiavel.

 Descrever os principais ideais de Thomas More,

 Caracterizar os ideias de Eramos de Roterdao.


Objectivos
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 98

8.1 Nicolau Maquiavel

Maquiavel, instala, com traços próprios de um grande artista, o ideal


do homem forte, do homem de Estado, cujas linhas gerais têm sido
frequentemente resumidas. O Príncipe é uma obra breve, mas a
literatura em torno dela é muito vasta.

As características essenciais do príncipe são as seguintes:


O realismo. O príncipe considera o homem individualmente por
aquilo que é, ou seja, coisa pouca, e os homens colectivamente por
aquilo que são, ou seja, menos ainda que a sua soma. Não se
preocupa com o que deveria ser feito mas com o que se faz. Anda à
espreita de tudo, mas não acredita facilmente no que lhe contam e
não se espanta com coisa nenhuma.

O egoísmo, e também o egotismo. O príncipe aprendeu a não ser


bom no meio de homens que são maus. Pratica o culto e a cultura do
“eu”, uma ginástica da vontade, uma disciplina do pensamento, do
sentido e dos nervos

O cálculo. O príncipe prefere ser temido a ser amado. Gostaria de


ser uma coisa e outra, mas como geralmente é impossível ser temido
e ser amado ao mesmo tempo, escolhe ser temido, já que isso
depende dele, ao passo que ser amado depende dos outros.

A indiferença ao bem e ao mal. O príncipe prefere o bem, mas


resigna-se ao mal se a isso for obrigado, e é-o muitas vezes.
Conhece muita gente que violou a fé jurada e triunfou sobre os que
respeitaram o seu juramento.

A habilidade. A principal qualidade do príncipe é a “virtu” (e não a


virtude), segundo a etimologia italiana de virtuoso e virtuosismo. A
virtu é a esperteza e ao mesmo tempo a energia, a resolução, a safa,
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 99

pois as qualidades do príncipe exigem uma criação contínua, uma


tensão sem tréguas para o objectivo. A simulação e a dissimulação.
O príncipe é conhecedor da oportunidade, colaborador avisado da
providência, mas também corruptor audacioso da fortuna, grande
amador da manha e grande adorador da força.

A grandeza. O príncipe está acima do comum. O que o autoriza a


escapar à moral é o facto de estar acima da mediocridade
envolvente. Por isso, situa-se acima do bem e do mal. Cupidez,
rapacidade, dolo, libertinagem, deboche, perfídia, traição: que
importa, se nada disso deve ser julgado pela medida comum das
vidas privadas, mas segundo o ideal de um Estado a fazer ou a
manter contanto que o príncipe alcance o resultado, todos os meios
são tidos por honrosos.

Entretanto Maquiavel não faz juizo morais, para ele não tem sentido
destinguir entre rei e tirano, o principe é bom ou mau, não em
função do êxito político. Bom é o principe capaz de conquistar o
poder e de o manterpor muitos anos, é mau aquele que não chega a
possuir ou que perde em pouco tempo, no entanto para ele o único
criterio é o êxito politico.

8.2 . Thomas More

É difícil distinguir as ideias políticas de T. More das que professava


acerca da família e da propriedade, embora entre estas se verifique
uma curiosa ausência de harmonia. Dá a impressão de ter sido
atraído por Platão durante algum tempo ao ponto de admitir a
comunidade de mulheres. Em contrapartida, a sociedade utópica
assenta na família e numa moral muito tradicional que, no fundo,
nada tem de utópico. Um pouco a maneira de Bodin, mas num estilo
diferente a república ideal da utopia alicerça-se inteiramente sobre a
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 100

célula familiar e sobre uma concepção patriarcal. T. More toma


como exemplo a sua própria família.

Mas, se em sua casa tudo se passa em perfeito acordo, ele admite


que em caso contrário cabe ao chefe de família um direito de
correcção doméstica sobre a mulher e os filhos. Alarga esta
autoridade de maneira a que tudo se regule e ordene no seio da
família e que só se apele à justiça púbica quando a enormidade do
crime exigia o recurso ao Estado. Não condena absolutamente o
divórcio nem, ao que parece, o casamento dos padres. Em
contrapartida, é muito severo quanto ao adultério, o único crime
privado que deve ser punido com a morte.

A partir destas premissas familiares, seria muito fácil compreender


que T. More edificasse uma defesa da propriedade e procurasse
tornar proprietários todos os seus utopianos. Na história das ideias,
família e propriedade estão o mais das vezes ligadas. Aos olhos dos
sociólogos, família e bem de família apresentam-se como elementos
que devem necessariamente coincidir e sustentar-se entre si. A
posição de T. More é completamente diferente. O povo da utopia é
um povo de amigos; ora, segundo a fórmula platónica, entre amigos
tudo deve ser comum. Aquilo que Platão considerava um ideal entre
amigos deve sê-lo também entre os cristãos. A fraternidade cristã
deve levar à comunidade cristã.

Por esse motivo, T. More abandona a posição tradicional dos


aristotélicos e dos escolásticos, para quem a propriedade individual
era um elemento capital da liberdade, preferindo-lhe as teses de A
República. Platão havia desdenhado fazer leis para os povos que
recusam a comunidade de bens. Aquele grande génio, tinha previsto
facilmente que o único meio para organizar a felicidade pública era
a aplicação do princípio de igualdade. Ora, a igualdade é impossível
num Estado onde a posse é solitária e absoluta, pois, cada um
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 101

arroga-se ai de diversos títulos e direitos para chamar a si o mais


que pode, e a riqueza nacional, por maior que seja, acaba por cair na
posse de um pequeno número de indivíduos que só deixam aos
outros indigência e miséria... o único meio de distribuir os bens
com igualdade e justiça, e de constituir a felicidade do género
humano, é a abolição da propriedade.

De modo a satisfazer o seu ideal de amizade e fraternidade, T. More


imagina então um sistema comunitário em que todos trabalham e
cada um trabalha pouco. Só ficam isentas da obrigação do trabalho
quinhentas pessoas que, após selecção se entregam a metafísica.
Naturalmente, a partir d momento que existe comunidade de bens, a
vida tem de ser severamente regulamentada, a fim de evitar abusos.

Sobre a cidade da utopia, onde a regulamentação da vida atinge


especial rigor, e onde reaparecem os escravos, na forma de
condenados ou prisioneiros de guerra, exerce-se uma autoridade que
pode ser classificada de democrática, apesar de ser amplamente
electiva. As famílias, em grupo de trinta, elegem anualmente um
chefe designado por filarco ou sifogrante. Dez sifograntes, tendo
sob a sua alçada 300 famílias, designam anualmente um protofilarco
ou traníboro. Os 200 traníboros constituem o senado. Trata-se pois,
de um sistema escalonado: chefes de família, chefes de grupo e seus
representantes, estes constituem o senado que, de uma lista de
quatro cidadãos apresentada pelo povo, escolhe um Adamo ou
príncipe dos utopianos. Para evitar que os filarcos se constituam em
oligarquias, podem ser renovados todos anos, embora, T. More
pense que no geral se comportam bem o suficiente para serem
reeleitos.

Este conjunto que forma um regime piramidal, é de estrutura


democrática, embora atenuada pela existência de um poder
espiritual. Há sacerdotes eleitos que presidem às coisas divinas, mas
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 102

tratam também de coisas humanas, zelam pelos bons costumes e


podem excluir um utopiano da comunidade religiosa, o que constitui
a maior desgraça. Os sacerdotes, tal como os traníboros e o adamo,
são escolhidos entre os letrados, que não constituem uma casta ou
classe propriamente dita, uma vez que o seu recrutamento é aberto e
há sempre a possibilidade de devolver à precedência aquele que
anda a marcar passo na metafísica.

Finalmente, uma aristocracia por selecção, serve de estufa às


funções religiosas e públicas. De democracia o regime torna-se
aristocrático, devido à exigência de recrutamento no quadro dos
letrados. A eleição é livre, sem manobras e sem candidatura. Enfim,
as leis são simples, fáceis de compreender e de aplicar. De resto, diz
T. More, na utopia todos são doctores em direito, pois as leis são em
muito pequeno número e a sua interpretação mais tosca e mais
natural é aceite como a mais razoável e justa.

8.3 Erasmo de Roterdão

À maneira dos autores medievais, Erasmo constrói idealmente um


corpo cristão cujo centro é Cristo. À volta dele estendem-se
concentricamente três círculos, dois pequenos e um grande. A
primeira é ocupado pelos príncipes da Igreja e pelos sacerdotes: é a
zona interna. A zona externa contém a grande massa de simples
leigos, com os pés pesadamente presos à geba e pertencentes ao
corpo da Igreja. Entre as duas zonas (interna ou eclesiástica e
externa ou laica), há uma zona intermédia constituída pelos
príncipes temporais. Quando estes governam com justiça e
proporcionam repouso aos seus povos, participam à sua maneira da
dignidade sacerdotal, situando-se assim muito acima dos que
constituem a zona externa do laicado.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 103

No entanto, seria errado inferir neste esquema que Erasmo confere


aos príncipes uma situação privilegiada. Para ele não há dois
cristianismos, um para os príncipes e outro para o comum das
pessoas. A religião de todos deve ser conforme ao ideal evangélico.
O príncipe, por estar situado mais acima, deve superar os outros
pela suas virtudes, prudência e integridade. A lei do sacrifício
impõe-se-lhe como a todos os cristãos. Se tenciona seguir Cristo,
deve carregar a sua cruz. Não pode escapar à lei comum. Estamos
assim longe de Maquiavel que constrói uma moral especial para o
príncipe e o coloca acima da moral universal; e igualmente longe
dos absolutistas, que fazem com que a conduta dos poderosos
escape a qualquer espécie de controlo terrestre.

Erasmo, embora reconheça direitos ao príncipe, limita-os


fortemente. Apoiados na primeira doutrina da Igreja nascente, os
reis tendem a considerar que se lhes deve obediência sem discussão,
de acordo com o princípio estabelecido pelos apóstolos. Mas esta
fórmula de submissão referia-se aos imperadores romanos.

Assim, Erasmo quer que o príncipe seja escolhido em atenção aos


seus méritos autênticos. O primeiro, a seu ver, consiste em ser
pacífico. Ao passo que Maquiavel, e muitos dos seus seguidores,
glorificam o príncipe quando este se apodera de novas terras para
reinar sobre elas. Erasmo condena as conquistas em vários dos seus
adágios característicos. O evangelho é um evangelho de paz; por
isso o primeiro dever do príncipe é não fazer a guerra. Dirigida a
Carlos V ou a Francisco I, esta linguagem parece muito ingénua. No
entanto, aos olhos de Erasmo, é sábia, pois aumentar as possessões
não constitui vantagem para um príncipe. Mais lhe valeria restringi-
las, pois ser-lhe-ia mais fácil fazer reinar a justiça e a paz num
território menos vasto. Proporcionaria ao seu povo maior
prosperidade.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 104

Sumário
O princípio de Maquiavel era de que o príncipe deveria ser
calculista, realista, egoísta, habilidoso, grande, em questões de
natureza governativa. De modo a satisfazer o seu ideal de amizade
e fraternidade, T. More imagina então um sistema comunitário em
que todos trabalham e cada um trabalha pouco. Só ficam isentas da
obrigação do trabalho quinhentas pessoas que, após selecção se
entregam a metafísica. Naturalmente, a partir d momento que existe
comunidade de bens, a vida tem de ser severamente regulamentada,
a fim de evitar abusos.

Erasmo, embora reconheça direitos ao príncipe, limita-os


fortemente. Apoiados na primeira doutrina da Igreja nascente, os
reis tendem a considerar que se lhes deve obediência sem discussão,
de acordo com o princípio estabelecido pelos apóstolos. Mas esta
fórmula de submissão referia-se aos imperadores romanos.

Exercícios
1. Descreva em Maquiavel os ideias a ter o príncipe.
2. Caracterize as Ideias Políticas de Thomas More.
3. Mencione os deveres do príncipe na concepção de Erasmo de
Roterdão.
4. Apresente semelhança e diferença entre Maquiavel e Erasmo.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 105

Unidade IX

Teorias
mercantilistas e
fisiocráticas

Introdução
Mercantilismo foi uma doutrina económica e política que vigorou
na Europa que tinha como objectivo garantir o poder ao esatdo
absolutista através de acumulacao de metais precioso, em contra
apartida no século XVIII apareceu outra corrente que opôs
afirmando que a riqueza da não dependia da agricultura, o
fisiocratismo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 D escrever o contributo do expoente máximo do


mercantilismo;

Objectivos  Descrever o papel do mercantilismo para o estado


absolutista;

 Destinguir o mercantilismo dofiocratismo.


HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 106

9.1Mercantilismo e fisiocratismo (Luis XIV, Bossuet e


Richelieu, Colbert)

Mercantilismo foi entedindo como um conjunto de praticas


adoptada pelo estado absolutista na epoca, moderna, com o
objectivo de obter e preservar riqueza que vigorou entre os séculos
XVI e XVII.

O mercantilismo como tal não é uma corrente de pensamento.


Marca o final da proeminência da ideologia econômica do
cristianismo (a crematística), inspirada em Aristóteles e Platão, que
recusava a acumulação de riquezas e os empréstimos com interesse
(vinculados ao pecado da usura). Esta nova corrente econômica
surge numa época que os reis desejavam possuir o máximo de ouro
possível. As teorias mercantilistas buscavam esse objetivo e
desenvolviam uma problemática baseada no enriquecimento. Esta
corrente baseia-se num sistema de análise simplificada dos fluxos
econômicos, na que, por exemplo, não se leva em conta o papel que
joga o sistema social.

Como agente unificador tendente à criação de um Estado nacional


soberano, o mercantilismo teve-se contra duas forças: Uma, mais
espiritual e jurídica do que política-econômica, foram os poderes
universais: a Igreja e o Sacro Império Romano Germânico, a outra,
de caráter predominantemente econômico foi o particularismo
local, com a dificuldade que produz para as comunicações e a
sobrevivência da economia natural (em determinadas zonas a renda
do Estado eram em espécie e não em dinheiro); enquanto a
pretensão mercantilista é que o mercado fechado seja substituído
pelo mercado nacional e as mercadorias como medida de valor e
meio de câmbio sejam substituídas pelo ouro. O mercantilismo vê a
intervenção do Estado como o meio mais eficaz para o
desenvolvimento econômico.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 107

A base teórica do absolutismo e mercantilismo foi dada por


Jacques Bossuet, que defendia o direito divino dos reis; seus actos
eram superiores ao julgamento dos homens. Justificou o
absolutismo, a partir do fato dos homens entrarem em um acordo,
onde o poder ficaria como rei e a ordem seria estabelecida.

Essas monarquias regulavam suas economias de acordo com as


práticas mercantilistas que tinham por base: aumentar a qualquer
custo as economias da Coroa; vender mais do que comprar;
incentivar a produção interna, incluindo as colónias, para assim ter
uma balança comercial favorável; adoptar medidas de protecção
para as manufacturas e controlar as taxas alfandegárias sobre os
produtos importados; conquistar colónias e explorar produtos de
alto valor comercial na Europa; a aliança da burguesia mercantil
com os reis em favor dos seus interesses económicos. Com isso a
burguesia conseguiu até mesmo formar um exército forte.

Nesse período, teve um estado interventor, que actuava em todos os


sectores da vida nacional. Na economia, essa intervenção
manifestou-se através do mercantilismo.

O caso mais exemplar de governante que se serviu das ideias de


Bossuet foi Luís XIV de França chamado "Rei Sol".

Richelieu, ministro de Luís XIII, impulsionou o comércio,


favorecendo a construção naval, a expansão colonial, a melhoria
dos portos e a organização de companhias de comércio. Não é de
forma alguma um teórico do absolutismo, trata-se de um homem de
acção que detém o poder e pretende fazer bem o uso dele, a sua
obra Testamento retrata aspectos absolutistas sobre a soberania da
razão: sendo o homem soberanamente racional, deve fazer reinar
soberanamente a razão, o poder do soberano é devido não apenas a
sua reptuação e as suas virtudes (dedicação, providência, energia),
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 108

mas também a sua força (fronteira bem fortificadas, exercito sólido,


boas finanças, impostos, governo pouco oneroso).

Entretanto Luís XIV foi o exemplo mais representativo do


monarca absolutista. Foi preparado desde a infância pelo cardeal
Richelieu para exercer o poder. Quando assumiu o trono, decidiu
agir com autoridade total pois dizia ter recebido de Deus o dom de
governar os franceses, segundo essa concepção a França deveria
ter"um rei, uma lei e uma fé".

Colbert, ministro das finanças de Luis XIV, Praticou um


verdadeiro dirigismo estatal, regulando, protegendo e estimulando
as actividades económicas. Sob sua influência, o Estado criou as
"manufaturas reais" e incentivou aqueles que desejavam fundá-las.

Assegurou aos empresários a liberdade de contratar empregados,


sem os limites impostos pelas corporações de ofício, facilitou a
circulação de mercadorias pelo reino abrindo estradas e canais, e
garantiu a venda no mercado interno proibindo a importação de
similares estrangeiros.

Para desenvolver as exportações, Colbert aparelhou os portos e


favoreceu a colonização na África (Senegal) e na América (Canadá,
Luisiana, Guiana, São Domingos e São Cristóvão). Em 1664, foi
fundada a Companhia das Índias Ocidentais, que recebeu o
monopólio do comércio e da colonização das Antilhas Francesas
por 40 anos. 0 Cultivo da cana-de- açúcar, do tabaco, do índigo do
algodão e do cacau desenvolveu - se com base na mão-de-obra do
escravo africano.

Esta política mercantilista foi seguida nos outros países: Exemplo


na França foi designado colbertismo ou balança favorável;
Bulionismo ou metalismo assim designado na Espanha,
mercantilismo comercial e marítimo o exemlo da britânica.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 109

0 Êxito da política mercantilista, como instrumento do


enriquecimento do Estado, foi grande. Os produtos franceses
adquiriram fama de qualidade e obtiveram mercado em vários
países. O comércio permitiu ao governo manter e sustentar novas
necessidades. Como: os exércitos a serviço do rei. Visto que o
exército era importante para a defesa do estado nacional, a extensão
política do mercantilismo económico.

A relação - rei e burguesia - tinha suas vantagens. O rei controlava


o recolhimento de impostos, que tinha uma parte reservada para
exército. A burguesia recebia a protecção militar e política para
continuar com projectos económicos.

Em contra partida apareceu uma nova corrente que defendia o fim


das regulações mercantis e feudais, dos grandes monopólios
estatais ou similares e é encarado como o defensor do princípio do
"laissez-faire" - o governo não deveria tomar posição no
funcionamento livre do mercado – o fisiocratismo.

Os fisiocratas no Século XVIII em França propuseram-se estudar a


política econômica de forma sistemática e a natureza da auto-
regulação dos mercados. Os indivíduos poderiam estruturar a sua
vida económica e moral sem se restringirem às intenções do
Estado, e pelo contrário, de que as nações seriam tanto mais fortes
e prósperas quanto mais permitissem que os indivíduos pudessem
viver de acordo com a sua própria iniciativa..

Os fisiocratas consideram que os resultados da livre concorrência


não podem deixar de ser benéficos; refutam a ideia de uma balança
de comércio favorável porque entendem que a acumulação da
moeda num país faz subir naturalmente os preços; afirmam que as
tarifas alfandegárias proteccionistas são muitas vezes prejudiciais
ao país que as estabelece.

Para os fisiocratas, só a agricultura é produtiva, dado que só a


HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 110

agricultura tem a possibilidade de produzir uma quantidade de


riqueza superior à que consome. Consideravam estéreis tanto a
indústria como o comércio. Entendem que só pode ser
legitimamente considerado como riqueza o excedente que esta
riqueza representar em relação ao consumo de riqueza que aqueles
encargos representam. Ao excedente obtido na operação produtiva
deram os fisiocratas o nome de produto líquido. Este produto
líquido é exclusivo da produção agrícola. Só a agricultura cria
realmente riqueza, porque nela ao trabalho produtivo se junta a
fecundidade da terra.

Quesnay distinguia três classes sociais: a classe produtiva,


composta pelos agricultores; a classe proprietária, que abrangia não
só os proprietários, mas igualmente os que exerciam, a qualquer
título, a soberania; a classe estéril, que englobava os que se
dedicavam à indústria, ao comércio e às profissões liberais

Sumário

A base teórica do absolutismo e mercantilismo foi dada por


Jacques Bossuet, que defendia o direito divino dos reis; seus actos
eram superiores ao julgamento dos homens. Este poder era
garantido a medida que este fosse dentor do poder económico dai
os seguidodres (Luis XIV, Richelieu, Colbert) aplicare esta
política. Era um sistema complexo e envolvia teorias exatas sobre
produção manufatureira, utilização da terra e do poder do estado.
Pode-se dizer que era uma política de controlo e incentivo, onde o
estado buscava garantir o seu desenvolvimento comercial e
financeiro e também o seu poder.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 111

Os fisiocratas defendem a liberdade de trabalho e a liberdade de


dispor dos produtos do trabalho. Apesar de subestimarem a
actividade comercial, defendem a liberdade de comércio, a livre
concorrência, fiéis à ideia de que a liberdade gera o bom preço.

Exercícios
1. Descrever o contributo do expoente máximo do mercantilismo.

2. Enuncie o contributo do mercantilismo para o estado absolutista;

3. Fundamente sobre as características do mercantilismo e difrencie –


o do fiocratismo.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 112

Unidade X

Monarquia
constitucional

Introdução
O estado moderno trás consigo muitas inovacoes, dentro das quais
a monarquia constitucional.
Vários autores foram defensoraes deste modelo política adoptando
um pouco apos a revolucao francesa. Nesta unidade far-se-á um
estudo dos autores a titulo exemplificativo o Montisqueu, Violteire
e Rosseau.

No discurso das monarquias constitucional

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer as formas de governo sob o ponto de vista


politico de Montesquieu;
Objectivos  Fazer análise do pensamento político
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 113

10.1 Montesquieu e
A vida de Montesquieu transcorreu entre meados do século XVII d.
C. e a primeira metade do século XVIII d. C., período que abrange
o apogeu do Ancient Regime na França.

"A noção de monarquia clássica comanda o devir político dos


países franceses entre 1450 e 1789: ela corresponde a um Antigo
Regime muito "alongado" que se escoa, e depois se esborra, em paz
ou furor, desde o fim das Guerras dos Cem Anos até o declínio do
reinado de Luís XVI."

Em termos históricos, o Absolutismo Político se encontra vinculado


à implantação de um estado centralizado politicamente com a
consequente implantação de uma "racionalização" burocrática do
aparelho administrativo dos Estados Nacionais europeus surgidos a
partir do século XIV d. C. Tais Estados Nacionais possuem como
forma política de governo a Monarquia, usualmente conhecida
como Monarquia Absolutista.

Ante o exposto, e na esteira do magistério do professor Perry


Anderson, a expressão "absolutista" era um qualificativo impróprio
para as Monarquias existentes nos Estados Nacionais da Época
Moderna, eis que "nenhuma monarquia ocidental gozara jamais de
poder absoluto sobre seus súditos, no sentido de um despotismo sem
entravés. Todas elas eram limitadas, mesmo no máximo de suas
prerrogativas, pelo complexo de concepções denominado direito
‘divino’ ou ‘natural’.

A monarquia absoluta no Ocidente foi sempre, na verdade,


duplamente limitada: pela persistência, abaixo dela, de corpos
políticos tradicionais, e pela presença, sobre ela, de um direito
natural abrangente."
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 114

Na Monarquia Absolutista europeia da Era Moderna, o sistema de


coerção política e social não estava baseado num sistema de
controle centralizado nas mãos de uma única pessoa, como poderia
parecer a primeira vista, mas, conforme o país e a época, era um
sistema de coerção sócio-político com diferentes níveis de
coercibilidade e, por via de consequência, com graus diversos de
autonomia dos segmentos sociais que integravam a Sociedade frente
à pessoa do monarca.

Por outro lado, à guisa de conclusão deste tópico, ressalta que a


partir de meados do século XVII d. C, "cumprira-se uma mudança
de orientação dos espíritos”. O humanismo cristão do século XVII
estava preocupado com o homem em si. Via-se agora no Homem o
ser social em suas relações não apenas com o sistema da natureza e
com Deus, mas igualmente com o seu meio e suas instituições.
Transformara-se de tal maneira que só aceitava o que fosse
conhecido pela observação e pela experiência. As instituições
religiosas, políticas e sociais deveriam ser submetidas à luz da
razão.

O desenvolvimento da economia de troca, a ascensão da burguesia,


a crítica das instituições sociais provocam uma mudança de valores
sociais. A sociedade de ordens, praticamente desaparecida das
cidades holandesas, encontra-se arruinada na Inglaterra onde só
existem alguns vestígios seus. Por sua vez, é posta em discussão na
França.

No Espírito das Leis Montesquieu se preocupa, essencialmente, em


explicar e distinguir, através de uma lógica inteligível, a génese e o
desenvolvimento dos sistemas legais in abstracto através das
múltiplas diversidades desses sistemas legais e das distintas formas
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 115

de governo, conforme a época e o lugar, a partir das condições


históricas, geográficas, psicológicas, etc.

A partir de uma leitura atenta desta sua magnum opus, podemos


concluir que Montesquieu foi um dos precursores do método
comparativo-indutivo actualmente empregado tanto pela Ciência
Política quanto pela História Política.

O Espírito das Leis inicia-se com uma teoria geral das leis, a qual
constitui a base da filosofia política de Montesquieu. Na sequência,
Montesquieu, com o intuito de fazer uma obra de ciência positiva,
remodela as classificações tradicionais dos regimes políticos.
Distingue três espécies de governo: republicano, monárquico e
despótico. Em cada tipo de regime, que observa aqui ou ali pelo
mundo, ele estuda sucessivamente a natureza, ou seja, as estruturas
constitutivas que nele se podem notar, e o princípio, ou seja, o
mecanismo do seu funcionamento. Por fim, procura analisar os
meios e factores que, numa perspectiva jurídica-normativista e
política, eventualmente conduzem ao "bom governo".

A Teoria da Tripartição dos Poderes do Estado não é criação de


Montesquieu. John Locke, filósofo liberal inglês, cerca de um
século antes de Montesquieu já tinha formulado, ainda que
implicitamente, a teoria em questão. Entretanto, cabe a Montesquieu
o inegável mérito de colocá-la num quadro mais amplo. A teoria ora
em comento "... foi inspirada pelo sistema político constitucional,
conhecido quando de sua viagem à Inglaterra, em 1729. Ali
encontrou um regime cujo objectivo principal era a liberdade."

Ressalte-se que Montesquieu não foi um liberal na acepção moderna


do termo, ainda que sua Teoria de Separação dos Poderes tenha
servido como um dos alicerces para a construção do Estado
Democrático Liberal. Realmente, "Montesquieu crê na utilidade
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 116

social e moral dos corpos intermédios (da Sociedade) ,


designadamente os parlamentos e a nobreza."

Nesta mesma esteira de raciocínio Montesquieu "... opta claramente


pelos interesses da nobreza, quando põe a aristocracia a salvo tanto
do rei quanto da burguesia. Do rei, quando a teoria da separação dos
poderes impede o Executivo de penetrar nas funções judiciárias; dos
burgueses quando estabelece que os nobres não podem ser julgados
por magistrados populares.

Por outro lado, como autêntico aristocrata, desagrada-lhe a ideia de


o povo todo possuir poder. Por isso estabeleceu a necessidade de
uma Câmara Alta no Legislativo, composta por nobres. A nobreza,
além de contrabalançar o poder da burguesia (estamento social em
rápida ascensão social e económica na França dos séculos XVII e
XVIII), era vista por ele como capacitada, por sua superioridade
natural, a ensinar ao povo que as grandezas são respeitáveis e que
monarquia moderada é o melhor regime político."

Montesquieu, jurista oriundo da nobreza togada do Ancient Régime,


reconhece que, independentemente da espécie de governo ou regime
político de um dado país, a ordem social é, em si, heterogénea e
sujeita a desigualdades sociais as mais diversas. Se, por um lado, ele
aceita, ainda que de forma implícita, uma estrutura política e social
pluralista, também é verdade que Montesquieu entende que o povo é
de todo incapaz de discernir sobre os reais problemas políticos da
Nação e, portanto, não deve e nem pode ser o titular da soberania.

Dentro dessa ordem de coisas, o objectivo último da ordem política,


para Montesquieu, é assegurar a moderação do poder mediante a
"cooperação harmónica" entre os Poderes do Estado funcionalmente
constituídos (legislativo, executivo e judiciário) com o escopo de
assegurar uma eficácia mínima de governo, bem como conferir uma
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 117

legitimidade e racionalidade administrativa à tais poderes estatais,


eficácia e legitimidade essas que devem e podem resultar num
equilíbrio dos poderes sociais.

"Desse ponto de vista, Montesquieu é um representante da


aristocracia, o qual luta contra o poder monárquico, em nome de sua
classe (a nobreza togada), que é uma classe condenada. Vítima do
ardil da história, ele se levanta contra o rei, pretendendo agir em
favor da nobreza, mas sua polémica só favorecerá de fato a causa do
povo. A concepção de equilíbrio social, exposta em “L’Espirit des
lois” está associada a uma sociedade aristocrática; e no debate da
sua época sobre a Constituição da monarquia francesa, Montesquieu
pertence ao partido aristocrático e não ao do rei ou ao do povo."

Ante ao exposto, e por derradeiro, a Teoria da Tripartição dos


Poderes explicitada por Montesquieu adquire um cunho nitidamente
conservador, segundo os nossos padrões políticos e sociais actuais,
mais foi uma teoria nitidamente liberal frente à Sociedade e ao
Estado da sua época. A sua adopção por Montesquieu, em
consonância com a sua opção clara por um regime aristocrático,
visava a realização não de um regime democrático politicamente
pluralista mais garantir uma dinâmica governamental mais perfeita
cuja principal finalidade é garantir o "bom andamento" - leia-se o
funcionamento racionalmente ordenado mediante normas jurídicas
"justas" - do próprio Estado.

10.2 Voltaire
O escritor e filósofo francês François Marie Arouet(1694-1778)
pseudônimo Voltaire, foi mais um defensor das liberdades civis do
que um reformador político. Viveu isolado por três anos na
Inglaterra, onde foi influenciado pelas idéias de John Locke e de
Newton.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 118

Não reclamava a liberdade política , não defendia os direitos do


homem e do cidadão e nem se quer defendia a igualidade. É
reconhecida a frase de Voltaire : todos somos igualmente homens,
mas não somos todos membros iguias da sociedade 9.

Considera que a hierarquia das classes socias é benfazeja; é


necessário a educação das classes populares, pois não é o
trabalhadores que se deve instruir, mas sim é o bom burguês, é o
habitante das cidades.

Ao regressar à França, publicou as cartas filosóficas (1734) ,


Voltaire faz um rasgado elogio da constituição inglesa, mas
parece confiar cada vez mais num regime forte: conta com a
autoridade para fundar a liberdade. Quando ele fala da liberdade,
pensa geralmente na liberdade dos civis, mais do que liberdade
política, deseja uma magistratura subimetida ao governo.

Por ter convivido com a liberdade inglesa, não acreditava que um


governo e um Estado liberal, tolerantes fossem utópicos. Não era
um democrata, e acreditava que as pessoas comuns estavam
curvadas ao fanatismo e à superstição. Para ele, a sociedade deveria
ser reformada mediante o progresso da razão e o incentivo à ciência
e tecnologia.

Assim, Voltaire transformou-se num perseguidor ácido dos


dogmas, sobretudo os da Igreja Católica, que afirmava contradizer
a ciência, no entanto, muitos dos cientistas de seu tempo eram
padres jesuítas.

Voltaire foi um teórico sistemático, mas um propagandista e


polemista, que atacou com veemência alguns abusos praticados

9
AMARAL. Diogos Freitas, história das ideias políticas, vol II, p.41
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 119

pelo Antigo Regime: o obscurantismo medieval, caracteriza-se,


fundamentalmente, por dois fatos: acentuada religiosidade, com
dogmas e cultos, e um sistema de governo baseado na monarquia
sobrenatural, onipotente, absolutista. No espiritual ou filosófico, a
Igreja católica é á base dos princípios em que o Homem se
desenvolve e, por conseguinte, a sociedade; O culto e o dogma são
os pilares da existência; O Homem não tem o direito a pensar
conforme seu livre arbítrio, não existe a razão; No terreno ou
material, o Rei é um eleito de Deus, e por isso, a sociedade deve
viver, trabalhar e atuar em função dele, aquele rege os destinos dos
povos e dos homens.

Tinha a visão de que não importava o tamanho de um monarca,


deveria, antes de punir um servo, passar por todos os processos
legais, e só então executar a pena, se assim consentido por lei.
Voltaire defendeu a redução dos privilégios da nobreza e do clero;
Defendia as liberdades civis (de expressão, religiosa e de
associação); Criticou as instituições políticas da monarquia,
combatendo o absolutismo; Criticou o poder da Igreja Católica e
sua interferência no sistema político; Foi um defensor do livre
comércio, contra o controle do estado na economia.

Numa monarquia parlamentarista, o monarca exerce a chefia de


Estado, cujos poderes são apenas protocolares e suas funções de
moderador político são determinados pela Constituição, onde tem
como função resolver impasses políticos, proteger a Constituição.

Defendia a submissão ao domínio da lei, baseava-se em sua


convicção de que o poder devia ser exercido de maneira liberal e
racional, sem levar em contra as tradições.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 120

10.3 Jean-Jacques Rosseau

O primeiro grande defensor, nos tempos modernos, da república


como forma de governo, ele faz um ataque violentíssimo a
monarquia. Para ele só é legítimo o governo que provém da
vontade geral, tal como é expressa pelo povo em eleições. Portanto,
não é legitimo o governo monárquico, que não emana da soberania
popular, mas da tradição, do costume da sucessão heriditária.

Por outro lado, se a soberania não pertence ao rei, nem se encontra


personificada nele ou encarnada por, mas é um direito um poder
pertcente ao povo, então segue-se dai que a soberania pode ser
exercida contra o rei.

Enfim, a soberania é exercida pelo povo através da vontade geral. E


esta não é alienave. Por consequência a vontade geral pode a todo o
tempo mudar de governo. Os governantes são simples depositários,
são comissários não são dono do povo: são seus funcionários, por
isso o povo pode destituiu-los sempre que quiserem. Quando a
revolução fracesa destitui o rei, o condena a morte e o executa, não
está senão a por em prática as ideias de Rosseau.

Finalmente ele afirma-se partidário de um sistem de governo aqui


hoje chamamos sistema convencional, um sistema de governo em
que o povo elege uma assembleia com os poderes limitados pela
doutrina da democracia directa, acima esposta e em que por sua vez
essa assembleia elege uma comissão delegada para exercer o poder
executivo – mas em que o governo não é titular de um poder
próprio de um poder autonomo, do poder executivo, antes funciona
como simples delegado do legislativo da assembleia.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 121

É este modelo que vai dar origem a experiência convenção na


revolução francesa (1791) e em consequência disso, ao chamado
sistema de governo do tipo convencional, em que todo o poder
político se estrutura sob a forma de uma pirâmide de assembleis
delegads: assembleia legislativa é delegada do povo, o governo é
uma comissão delegada do legislativo, o chefe do estado é colegial,
e assim sucessivamente. Esta ideia vem de Rosseau os órgão de
poderes só tem competência de delegar, e por isso os seus poderes
podem ser lhe retirados de um momento para outro, o povo delega
no parlamento, parlamento delaga no governo, o governo delega
na suas comissões delegados, e tudo volata de novo à origem, em
qualquer momento, poque não há poderes próprio, só há
competências delegadas permanentemente revogáveis.

A melhor constituição será, pois aquele em que o poder executivo estiver


unido ao legislativo: quem faz as leis sabe melhor que ninguém como
elas devem ser interpretadas e executadas.

Sumário
Montesquieu, com o intuito de fazer uma obra de ciência positiva,
remodela as classificações tradicionais dos regimes políticos.
Distingue três espécies de governo: republicano, monárquico e
despótico. Em cada tipo de regime, que observa aqui ou ali pelo
mundo, ele estuda sucessivamente a natureza, ou seja, as estruturas
constitutivas que nele se podem notar, e o princípio, ou seja, o
mecanismo do seu funcionamento, procura analisar os meios e
factores que, numa perspectiva jurídica-normativista e política,
eventualmente conduzem ao bom governo. Rosseau a melhor
constituição sera, pois aquele em que o poder executivo estiver
unido ao legislativo: quem faz as leis sabe melhor que ninguém
como elas devem ser interpretadas e executads.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 122

Exercicio
1. O Espírito das Leis inicia-se com uma teoria geral das leis, a qual
constitui a base da filosofia política de Montesquieu.

a) Faça comentário da firmação acima.

2. Rosseau comenta que a soberania não pertence ao rei, nem se


encontra personificada nele ou encarnada, mas é um direito um
poder pertcente ao povo.
a) Discurse sobre esta afirmação

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 123

Unidade XI

Democracia e
estado de Direito

Introdução
A separação e a divisão dos poderes foram concebedas como
formula prática de obter a limitação efectiva de poder político e
garantir os direitos individuais. Hobbes expôs a única teoria
política segundo a qual o Estado não se baseia em nenhum tipo de
lei que determine o que é certo ou errado no interesse individual em
relação às coisas públicas, mas sim nos próprios interesses
individuais, de modo que o interesse privado e o interesse público
são a mesma coisa.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Conhecer os aspectos fundamentais do Estado de direito;


 Caracterizar o pensamento político de Hobbe.
Objectivos  Mencionar o papel do esatdo no processo democrático.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 124

11.1. Democracia e Estado de Direito-visão geral

Nos países de tradição democrática conquistou-se o sufrágio


universal, organizaram-se os sindicatos, criaram-se os partidos de
massa, ao mesmo tempo em que foram incorporados, às suas
Constituições, institutos de participação directa e mecanismos de
aprimoramento da representação, o que resultou no alargamento da
dimensão política da democracia.

Os avanços verificados no campo político foram importantes para o


surgimento de demandas no sentido da criação de uma infra-
estrutura social e da provisão de bens públicos que se colocavam na
perspectiva da redução das desigualdades sociais.

Ao lado da ampliação da esfera pública, sectores organizados dos


trabalhadores conseguiram avanços no processo de negociação com
os patrões, resultando em melhorias significativas do seu padrão de
vida.

A separação e a divisão dos poderes foram concebidas como


fórmula prática de obter a limitação efectiva de poder político e
garantir os direitos individuais. O sistema qu sobre a base de desta
fórmula procurou realizar a satisfatória dos objectivos visados é por
estado de direito.

Há porém duas concepções corrente s do estado de direito: uma


material, naturalista realização de certos conceitos de justiça,
outra formal, positivista e portanto Simples instrumento ao
serviço de qualquer conceito de justiça.

Assim, os dados fundamentais do estado de direito serão :


 A votação das leis pelos próprios cidadãos, após o debate público e
contraditório de modo que as restrições de liberdade sejam
consentidas pelo que terão de as sofrer;
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 125

 A redução do governo ao papel de mero executor das leis, sob a


vigilância política dos legisladores e a fiscalização jurisdicional dos
tribunais;

 A indepedência dos órgãos judicias,aos quais os cidadãos poderão


recorrer, sempre que se consinderar ameaçados ou lesados nos seus
direitos, para que sejam aplicadas as leis;

 A possibilidade dada aos cidadãos de recorrer para os tribunais do


actos dos governantes sempre tais actos sejam arguidos de
violação da lei e de ofensa dos direitos individuais;

O estado de direio foi o ideal prosseguido pelo liberalismo durante


o século XIX, mas pecou naquilo em que traduziu o exagero
individualismo e que se ligou a certos preconceitos políticos do
século XIX. Mas despido desses efeitos e reduzido ao princípio da
existência de garantias efectivas conferidas ao cidadãos e as
sociedades primárias de que os seus direitos essências serão
respeitados pelo poder político e defendido pelos órgãos judiciais
plenamente indepedentes, continua a ser um ideal de alto valor na
ordem política e jurídica.

11.2 O Estado na Optica de Thomas Hobbes

É importante observar que os modernos adeptos da força estão em


completo acordo com a filosofia do único grande pensador que
jamais tentou derivar o bem público a partir do interesse privado e
que, em benefício deste bem privado, concebeu e esboçou uma
Commonwealth cuja base e objectivo final é a acumulação do
poder. Hobbes é, realmente, o único grande filósofo de que a
burguesia pode, com direito e exclusividade, orgulhar-se, embora os
seus princípios não fossem reconhecidos pela classe burguesa
durante muito tempo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 126

O Leviatã de Hobbes expôs a única teoria política segundo a qual o


Estado não se baseia em nenhum tipo de lei construtiva - seja
divina, seja natural ou de contrato social - que determine o que é
certo ou errado no interesse individual em relação às coisas
públicas, mas sim nos próprios interesses individuais, de modo que
«o interesse privado e o interesse público são a mesma coisa» .

É difícil encontrar um único padrão moral burguês que não tenha


sido previsto pela inigualável magnificência da lógica de Hobbes.
Ele pinta um quadro quase completo não do Homem, mas do
homem burguês. uma análise que em trezentos anos não se tornou
antiquada nem foi suplantada. «A razão... é nada mais que cálculo»;
«um súbdito livre, uma vontade livre... (são) palavras... sem
significado, isto é, um Absurdo». O homem é essencialmente uma
função da sociedade e é, portanto, julgado de acordo com o seu
«valor ou merecimento... o seu preço; ou seja, aquilo que se lhe
daria pelo uso da sua força». Esse preço é constantemente avaliado e
reavaliado pela sociedade, fonte da «estima dos outros», de acordo
com a lei da oferta e da procura.

O poder, segundo Hobbes, é o controlo que permite estabelecer os


preços e regular a oferta e a procura de modo que sejam vantajosas
aos que detêm este poder. O indivíduo de início isolado, do ponto de
vista da minoria absoluta, compreende que só pode atingir e realizar
os seus alvos e interesses com a ajuda de certa espécie de maioria.
Portanto, se o homem não é realmente motivado por nada além dos
seus interesses individuais, o desejo do poder deve ser a sua paixão
fundamental. É esse desejo de poder que regula as relações entre o
indivíduo e a sociedade e todas as outras ambições, porquanto a
riqueza. o conhecimento e a fama são as suas consequências.

Hobbes mostra que, na luta pelo poder, como na capacidade inata de


o desejar, todos os homens são iguais, pois a igualdade do homem
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 127

reside no facto de cada um, por natureza, ter suficiente


potencialidade para matar um outro, já que a fraqueza pode ser
compensada pela astúcia. A igualdade coloca todos os homens na
mesma insegurança; daí a necessidade do Estado. A raison d'être do
Estado é a necessidade de dar alguma segurança ao indivíduo, que
se sente ameaçado por todos os seus semelhantes.

O traço crucial do retrato que Hobbes pinta do homem não está no


seu pessimismo realista, porque se fosse verdade que o homem é um
ser como Hobbes o quer, não seria capaz de fundar qualquer corpo
político. Na verdade, Hobbes não consegue, nem realmente procura,
incorporar definitivamente esse ser numa comunidade política. O
Homem de Hobbes não deve qualquer lealdade ao seu país se este
for derrotado, e é desculpado de qualquer traição caso venha a ser
feito prisioneiro.

Aqueles que vivem fora da comunidade (os escravos, por exemplo)


não têm nenhuma obrigação para com os que a compõem e podem
matar tantos quantos quiserem; mas, por outro lado, «nenhum
homem tem a liberdade de resistir à espada da comunidade em
defesa de outro homem, culpado ou inocente», o que significa que
não existe nem espírito de companheirismo nem responsabilidade
entre homens. O que os mantém juntos é um interesse comum,
como por exemplo: algum crime capital, pelo qual todos esperam
ser punidos com a morte, tendo neste caso o direito «de se unir,
ajudando-se e defendendo-se uns aos outros. ...Pois apenas
defendem as suas vidas».

Assim, a participação em qualquer forma de comunidade é para


Hobbes temporária e limitada e essencialmente não muda o carácter
solitário e privado do indivíduo (que não tem «prazer, mas, pelo
contrário, muito desgosto em manter companhia, quando não há
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 128

força para obrigá-lo a tanto»), nem cria laços permanentes entre ele
e os companheiros. O resultado é a inerente e confessada
instabilidade da comunidade – Commonwealth – de Hobbes, cuja
própria concepção prevê a sua ulterior dissolução: «quando numa
guerra (estrangeira ou intestina) os inimigos obtêm a vitória final...
então o Commonwealth é dissolvido, e cada homem tem a liberdade
de se proteger a si mesmo». Esta instabilidade é surpreendente na
teoria de Hobbes, na medida em que o seu objectivo primário é
assegurar um máximo de segurança e estabilidade.

Seria uma grave injustiça a Hobbes e à sua dignidade como filósofo


considerar esse retrato do homem como tentativa de realismo
psicológico ou verdade filosófica. O facto é que Hobbes não está
interessado nem num nem noutra, mas preocupa-se exclusivamente
com a própria estrutura política e traça as feições do homem em
função das necessidades do Leviatã. Para fins de argumento e
convicção, apresenta o seu esboço político partindo do desejo de
poder pelo homem e passando para o plano do corpo político
adaptado a essa sede de poder.

De acordo com os padrões burgueses, aqueles que são


completamente destituídos de sorte e não têm sucesso são
automaticamente excluídos da competição, que é a essência da vida
da sociedade. A boa sorte é identificada com a honra e a má sorte
com a vergonha. Transferindo para o Estado os seus direitos
políticos, o indivíduo delega nele também as suas responsabilidades
sociais: pede ao Estado que o alivie do ónus de cuidar dos pobres,
exactamente como pede protecção contra os criminosos. Não há
mais diferença entre mendigo e criminoso ambos estão fora da
sociedade. Os que fracassam perdem a virtude que a civilização
clássica lhes legou: os que são infelizes já não podem apelar para a
caridade cristã.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 129

Hobbes isenta os que são excluídos da sociedade – os fracassados,


os infelizes, os criminosos – de qualquer obrigação em relação ao
Estado e à sociedade, se o Estado não cuida deles. Podem dar rédea
solta ao seu desejo de poder, e são até aconselhados a tirar vantagem
da sua capacidade elementar de matar, restaurando assim aquela
igualdade natural que a sociedade esconde apenas por uma questão
de conveniência. Hobbes prevê e justifica que os proscritos sociais
se organizem em bandos de assassinos, como consequência lógica
da filosofia moral burguesa.

O ponto de partida de Hobbes é uma incomparável compreensão das


necessidades políticas do novo corpo social da burguesia em
ascensão, cuja crença fundamental num processo interminável de
acumulação de propriedade estava a ponto de eliminar toda a
segurança individual. Hobbes chegou às necessárias conclusões a
partir da análise dos padrões de conduta social e económica quando
propôs mudanças revolucionárias na constituição política. Esboçou
o novo corpo político que corresponderia aos novos anseios e
Interesses da nova classe. O que realmente conseguiu foi retratar o
homem segundo os padrões de conduta da futura sociedade
burguesa.

Dado o fundamental dinamismo da nova classe social, é


perfeitamente verdadeiro que «ela não pode garantir o poder e os
meios de viver bem, que alcança num determinado instante, sem
adquirir mais». A coerência dessa conclusão não é absolutamente
afectada pelo facto de que, durante cerca de trezentos anos, não
houve um soberano que «convertesse esta verdade especulativa em
utilidade prática», nem uma burguesia com suficiente consciência
política e maturidade económica para adoptar abertamente a
filosofia do poder de Hobbes.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 130

Este processo de constante acumulação de poder, necessário à


protecção de uma constante acumulação de capital, criou a ideologia
«progressivas dos fins do século XIX e prenunciou o aparecimento
do imperialismo. Não a tola ilusão de um crescimento ilimitado de
propriedade, mas a compreensão de que a acumulação de poder era
o único modo de garantir a estabilidade das chamadas leis
económicas, tomou irresistível o progresso.

Hobbes, o grande idólatra do Sucesso, tinha levado três séculos para


ser bem sucedido. Isso foi em parte devido à Revolução Francesa,
que, com a sua concepção do homem como legislador e citoyen,
quase havia conseguido evitar que a burguesia desenvolvesse
inteiramente a sua noção de história como processo necessário. Mas
em parte foi devido também às implicações revolucionárias da
Commonwealth, ao seu intrépido rompimento com a tradição
ocidental, coisas que Hobbes não deixou de apontar.

Todo o homem e todo o pensamento que não é útil e não se


conforma ao objectivo final de uma máquina cujo único fim é a
geração e a acumulação de poder é um estorvo perigoso. Hobbes
achava que, os livros dos «antigos gregos e romanos» eram tão
«prejudiciais» como o ensinamento cristão «tudo o que um homem
faz contra a sua consciência é pecado», e de que as «leis são as
regras do justo e do injusto».

A profunda suspeita alimentada por Hobbes em relação a toda a


tradição ocidental de pensamento político não nos surpreende, se
lembrarmos que ele procurava nada menos que justificar a Tirania
que, embora houvesse ocorrido muitas vezes na história do
Ocidente, nunca havia sido homenageada com um fundamento.
filosófico. Hobbes confessa orgulhosamente que o Leviatã é
realmente um governo permanente de tirania: «a palavra Tirania
significa nada mais nada menos que a palavra Soberania... Acho que
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 131

tolerar o ódio declarado à Tirania é tolerar o ódio à comunidade em


geral».

Por ser filósofo, Hobbes já podia perceber na ascensão da burguesia


todas aquelas qualidades anti - tradicionalistas da nova classe, que
iriam levar três séculos para se desenvolver por completo. O seu
Leviatã não se perdia em especulações ociosas a respeito de novos
princípios políticos nem da velha busca da razão que governa a
comunidade dos homens; era estritamente um «cálculo das
consequências», que advêm da ascensão de uma nova classe na
sociedade, cuja existência está essencialmente ligada à propriedade
como um mecanismo dinâmico produtor de mais propriedade.

Embora nunca inteiramente reconhecido, Hobbes foi o verdadeiro


filósofo da burguesia, porque compreendeu que a aquisição de
riqueza, concebida como processo sem fim, só pode ser garantida
pela tomada do poder político, pois o processo de acumulação
violará, mais cedo ou mais tarde, todos os limites territoriais
existentes. Previu que uma sociedade, que havia escolhido o
caminho da aquisição contínua, tinha de engendrar uma organização
política dinâmica capaz de levar a um processo contínuo de geração
de poder. Previu como necessária a idolatria do poder que
caracteriza esse novo tipo humano, e pressentiu que ele se sentiria
lisonjeado ao ser chamado animal sedento de poder, embora na
verdade a sociedade o forçasse a renunciar a todas as suas forças
naturais, virtudes e vícios, e fizesse dele o pobre sujeitinho manso
que não tem sequer o direito de se erguer contra a tirania e que,
longe de lutar belo poder, se submete a qualquer governo existente e
não mexe um dedo nem mesmo quando o seu melhor amigo cai
vítima de uma “raison d'état incompreensível”.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 132

Sumário

Os avanços verificados no campo político foram importantes para o


surgimento de demandas no sentido da criação de uma infra-
estrutura social e da provisão de bens públicos que se colocavam na
perspectiva da redução das desigualdades sociais. Hobbes
proporciona lei, que emana directamente do monopólio de força do
Estado porque na lei do Estado não existe a questão de «certo» ou
«errado», mas apenas a obediência absoluta, o cego conformismo
da sociedade burguesa. E como essa lei flui directamente do poder
que ela torna absoluto, passa a representar a necessidade absoluta
aos olhos do indivíduo que vive sob ela.

Exercício
1. Identifique as correntes do estado de direito.
2. Apresente em linhas gerais os dados fundamentais do estado de
direito.

3. Qual é a apreciação que Hobbes faz acerca do poder na sociedade?

4. Qual o regime politico preferido por Hobbes? Justifica.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 133

Unidade XII

Estado
corporativo

Introdução
No que diz respeito ao estado corporativista, vai se destacar nesta
unidade Althusius que procurou por definir exactamente o objecto
da política. Nesta prespectiva ele procura enquadrar, ao seu ver, a
política numa prespectiva simbiótica, que quer dizer, a arte de
associar os homens para o estabelecimento, direcção e conservação
da vida social.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Definir política na concepçã Althusius.


 Identificar os elementos fundamnetas da comunidade simbiótica
Objectivos

12.1 Althusius
Ao contrário de muitos outros, Althusius esforça-se por definir
exactamente o objecto da política. A seu ver, a política é uma
simbiótica, quer dizer, a arte de associar os homens para o
estabelecimento, direcção e conservação da vida social. Assim,
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 134

alarga o âmbito da política. Esta já não interessa apenas ao Estado


ou a Cidade, mas a todos agrupamentos de que o Estado é apenas
um caso particular. Aos vários agrupamentos chama de
consociações ou comunidades simbióticas. Os seus membros são
simbiotas ou convivas, no sentido não só de serem pessoas que
comem juntas, mas pessoas que vivem permanentemente juntas. As
comunidades são o fruto das necessidade humanas.

O elemento principal da comunidade simbiota é a comunicação que


tem triplo aspecto:
1. a comunicação de bens, comporta a troca de bens, e para cada
sociedade, a existência de certos bens que são comuns a todos
simbiotas.
2. a comunicação de funções, quer dizer, a troca de serviços, e por
outro lado, a colocação em comum de certos serviços.
3. a comunicação do direito. Por um lado um comércio jurídico
entre os participantes da comunidade, por outro lado um estatuto de
direito objectivo.

Assim começam a ser lançadas as bases da divisão contemporânea,


de tão grande importância, entre o direito constitucional e o direito
relacional. A vida em comum, supõe sempre a existência
permanente de governantes, investidos de um poder jurídico sobre a
comunidade. Após constituir estas comunidades, Althusius utiliza-as
como materiais para a construção da sociedade humana, a qual é
formada por sociedades parciais que se elevam, segundo uma
progressão contínua, das relações privadas às relações públicas.

No primeiro grau, há as consociações privadas, quer sejam


consociações naturais necessárias (a sociedade conjugal e a
sociedade familiar, que na época é mais alargada, pois comporta
relações de parentesco e domesticidade), quer sejam consociações
espontâneas ou colegiais, de natureza profissional. No estádio
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 135

intermédio, vêm as comunidades mistas públicas, formadas por


relações civis. Incluem as comunidades nascidas de vontades que se
juntam para formar colectividades artificiais em vista à utilidade de
várias pessoas. As comunidades assim criadas são rurais, cidades ou
províncias.

Por fim, na cúpula, a comunidade maior universal, forma de


associação mais vasta, agrega as cidades e províncias em Estados,
podendo estes constituir confederações. Deste modo, Althusius
constrói logicamente o edifício político, em sentido inverso ao que
havia sido seguido por numerosos escritores políticos. Em vez de o
formar a partir de cima, por força da intervenção de um poder inicial
que se exercia sobre uma multidão, para a ordenar, parte de uma
multidão que se organiza espontaneamente na base para se alargar
progressivamente, mas sempre sob uma direcção comum.

Althusius partilha plenamente o espírito do federalismo, isto é, de


um sistema em que o elemento federado possui mais poder do que o
órgão federal. À escala o Estado, a confederação das províncias será
representada por magistrados ou delegados que tem o nome de
éforos. Os éforos assistem e ajudam o soberano supremo. Zelam e
por vezes providenciam pela conservação da República. À cabeça
do conselho de éforos encontra-se o magistrado supremo,
mandatário executivo do conselho. Os súbditos prestam juramento
ao magistrado, que não deve transgredir a constituição, pois se tal
acontecesse, tornar-se-ia um tirano, com todas consequências que a
escola dos monarcómanos nos ensinou a temer.

Sumário
A vida em comum, supõe sempre a existência permanente de
governantes, investidos de um poder jurídico sobre a comunidade.
Após constituir estas comunidades, Althusius utiliza-as como
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 136

materiais para a construção da sociedade humana, a qual é formada


por sociedades parciais que se elevam, segundo uma progressão
contínua, das relações privadas às relações publicas:a sociedade
conjugal e a sociedade familiar, que na época é mais alargada, pois
comporta relações de parentesco e domesticidade, no estádio
intermédio, vêm as comunidades mistas públicas, formadas por
relações civis. Incluem as comunidades nascidas de vontades que se
juntam para formar colectividades artificiais em vista à utilidade de
várias pessoas. As comunidades assim criadas são rurais, cidades ou
províncias.

Exercício
1. O elemento principal da comunidade simbiota é a comunicação
que tem triplo aspecto. Identifique-os e explique cada um destes
aspectos.
2. O que é o Estado corporativo defendido por Althusius?

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 137

Unidade XIII

Estado soberano

Introdução
Bodin publicou numerosas edições da República, ainda várias
obras sobretudo de carácter filosófico, e que lhe permiteu ser o
construtor de um conceito fundamental da ciência política e do
direito público a soberania. Enaltecendo o papel do estado ao
estado não compete intervir naquilo que pertence a esfera privada
das pessoas, nomeadamente não compete estado intervir na vida da
família e no seu esteio material, que é a propriedade. A propriedade
e a família são, assim, dois limites ao poder soberano.

 Conhecer os aspectos fundamentais da soberania.


 Identificar a concepção do estado na visão de Bodin
Objectivos

13.1 Bodin
Jean Bodin10 o âmbito político da França foi de profunda crise –
fraqueza da monarquia, lutas religiosas entre católicos e
protestante, guerra civil, Bodin adere ao partido dos políticos que

10
Jean Bodin (1530-1596), Francês de família cultivada, tendo estudado no
convento, posteriormente tendo ir estudar filosofia e direito mais tarde na
universidade de Toulouse em Paris.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 138

preconiza a tolerância religiosa o fortalecimento sólido do poder


real, com o monarca colocado fora e acima das disputas de religião.

Nos últimos 20 anos da sua existência, Bodin vai publicar


numerosas edições da República, ainda várias obras sobretudo de
carácter filosófico, mas que já nada acrescente a enorme fama, que
ganhou antes e que lhe permite passar a história como o construtor
de um conceito fundamental da ciência política e do direito público

Na sua obra de República defende com bastante desenvoltura a tese


de que a Franca sempre teve, e deve continuar, como regime
político, uma monarquia limitada com as seguintes característica: a
origem da monarquia electiva; o povo põe condições ao rei,
podendo lhe retirar o poder se ele as lhe não cumprir; a forma do
governo deve ser mista, combinando o elemento monárquico com
os elementos aristocrático e popular; o elemento preponderante
deve ser a aristocracia, que é o intermediário inevitável entre dois
“inimigos naturais”- poder real e popular.

Afirma ainda o Bodin na Republica que o estado é um governo


recto de várias famílias e de que lhes é comum com poder
soberano, entretanto isto porque:

1º O estado é um governo recto, isto é, um poder político que deve


ser subordinado a moral, a justiça e ao direito natural. É um
domínio exercido sobre os homens livre e que portanto se propõe a
noção da tirania e do governo tirânico, que Bodin condenam
veementemente.

2º O estado é um governo que incidi sobre várias famílias. E este


ponto é importante, porque para Bodin ao contrário da tradição
grega, nomeadamente de Aristóteles, o elemento fundamental da
Polis, da República, não é indivíduo mas sim a família. A
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 139

República é um agregado de família e não um agregado de


indivíduos (a família é a verdadeira fonte e a origem de toda a
republica)

3º Bodin chama a atenção para que a República tem a ver com o


governo daquilo que é comum as diferentes famílias: é preciso que
haja alguma coisa em comum e de carácter público, com o domínio
público, o tesouro público, o recinto da cidade, as ruas, as
muralhas, as praças, os templos, não existe república se não há
nada de público.

Este ponto é interessante, porque significa o reconhecimento de que


só o que é público compete ao estado: ao estado não compete
intervir naquilo que pertence a esfera privada das pessoas,
nomeadamente não compete estado intervir na vida da família e no
seu esteio material, que é a propriedade. A propriedade e a família
são, assim, dois limites ao poder soberano - e também aqui Bodin
apesar de o criticar é um aristotélico. Ele tem o cuidado, neste
ponto verberar expressamente Platão que propunha que todos os
bens fossem comuns: tal República seria directamente a lei de Deus
e da natureza, que reprova que não só os incestos, adultérios e
parricídios (…).

No entanto Bodin conclui definindo que a soberania é o poder


absoluto e perpétuo de uma República.

O que parece ser verdade: a palavra já era usada, mas o conceito


nunca fora definido e muito menos trabalhado com um mínimo de
rigor científico. Quais o elementos deste conceito?
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 140

São três:

1º A soberania é um poder, isto é, a faculdade de impor aos outros


um comando a que eles ficam a dever obediência. Toda a
República, toda a corporação e colégio e toda a família se
governam por comando e obediência.

2º A soberania é um poder perpétuo, isto é, que não pode ser


limitado no tempo: se se der um poder absoluto a um ou vários por
um prazo determinado, decorrido este, eles já não são soberano,
mas súbditos. Nesta ideia assenta o conhecido o principio da
continuidade do estado.

3º A soberania é um poder absoluto, isto é, que não esta sujeito a


condições ou encargos posto por outrem que não recebe ordens ou
instruções de ninguém e que não é responsável perante nenhum
outro poder “o monarca soberana (…) só deve juramento a Deus,
de quem recebe o ceptro e o poder, “só absolutamente soberano
quem não depende em nada de ninguém”.

Os atributos da soberania são:

 A soberania é una e indivisível, o que significa que não pode ser


dividida por dois governantes, ou por vários órgãos, ou por muitos.
Tem de estar todas nas mãos do rei. Era relação viva e frontal
contra a pulverização do poder político, característica da idade
média;

 A soberania é própria e não delegada, o que significa que pertence


por direito próprio ao rei e não provem de eleição pelo povo ou de
nomeação pelo papa ou pelo imperador;

 A soberania é irrevogável, o que significa um princípio de


estabilidade política, à luz do qual o povo não tem direito de retirar
ao seu soberano o poder político que este possui por direito
próprio;
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 141

 A soberania é suprema na ordem interna, no sentido de representa


um poder, um poder que não tem e nem pode admitir o outro poder
com quem tenha de partilhar a autoridade do estado (corte, tribunal,
corporações, municípios, etc)

 A soberania é independente na ordem internacional o que significa


que o estado – nação não depende de nenhum poder supra nacional
como o papa ou imperador, e só se considera vinculado pelas
normas do direito internacional resultantes de tratados livremente
celebrados ou de costumes voluntariamente aceites.

Assim definida e caracterizada, a soberania segundo Bodin é uma


forca imponente e majestosa, colocada a serviço do estado moderno
e do rei que o personifica e governa como alguém já disse “trata-se
de um bloco de mármore que não pode ser fragmentada”

Sendo a soberania um poder de comandar e de e fazer obedecer,


então primeiro poder em que a soberania consiste e o mais
importante de todos é o poder legislativo, isto é, o poder de
livremente fazer leis e revoga-las.

Para além do poder de legislar outros poderes ou faculdades


integram o conceito de soberania a saber: o poder de declarar a
guerra e fazer a paz, o poder de instituir cargos públicos e prove-
los, o poder de julgar em última estância, o poder de agraciar os
condenados, o poder de cunhar e emitir moeda, o poder de lançar
imposto e taxas. Mas todos estes poderes são secundários, uma vez
que todos eles estão compreendidos no poder de fazer leis e
revoga-las.

A soberania não é um poder arbitrário, injusto e cego, é um poder


com limites:
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 142

 A soberania tem de ser um governo recto, e a rectidão obriga a


respeitar a moral e as leis divinas e naturais

 O soberano só se pode ocupar do que é de interesse público,


devendo respeitar a propriedade dos seus súbditos;

 A soberania esta limitada pelas leis humanas comuns a todos os


povos, ou seja pelo direito internacional ou direitos das gentes;

 A soberania esta limitada pela leis fundamentais do reino – que são


designamente as leis sobre a sucessão do trono, sobre inaliebilidade
da coroa e sobre a necessidade do consentimento dos estados gerais
(cortes) para a declaração de guerra ou lançamento dos imposto;

 A soberania deve aceitar o pluralismo natural da sociedade,


formado pelos municípios, corporações, colégios profissionais,
universidades, etc.

O poder da decisão final - a última palavra pertence sempre ao rei,


detentor da soberania: os corpos sociais representam e queixam-se,
protestam, mas não decide. E, quanto ao dever de respeitar a moral,
as leis divinas e naturais, o direitos da gentes, a família e a
propriedade do súbditos, pôs bem, o rei há-de procurar respeitar
tudo isso, mas só responde por eventuais violações desses limites,
perante o tribunal divino”o príncipe soberano só esta obrigado a dar
conta a Deus”

_______________________________

Sumário
Bodin vai ser identificado como o fundador da soberania, uma vez
procurou estabelecer os elementos fundamentais da soberana,
descrevendo de antemão que o poder soberano tem limites e
atributos, entretanto o estado deve agir em função da família e não
do indivíduo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 143

______________________

Exercício
1. Apresente os elementos fundamentais da soberania.

2. Enunciei os limites do poder soberano.

3. Bodin Afirma “na Republica que o estado é um governo recto de


várias famílias e de que lhes é comum com poder soberano”.
a) Faça comentário sobre a afirmação.

4. Identifique e enucie os atributos da soberania.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 144

Unidade XIV

Os primeiros sintomas
do liberalismo

Introdução
A democracia liberal resultou, dessa forma, de uma complexa
articulação entre liberalismo e democracia, tanto as concepções
democráticas tanto como as liberais foram ideologias da burguesia,
algun pensadores como Lock, Montesquieu e Rosseau foram os
grandes iluminisats que debruçaram sobre esta matéria.

Ao concluir esta unidade o aluno deve ser capaz de:

 Descrever o surgimento do liberalismo e democracia;

 Conhecer diferentes tipos de liberalismo;


Objectivos
 Explicar o contributo dos pensadores na arena liberal;

 Destinguir o pensameno do liberalismo clássico do extremista.

14.1 Liberalismo e democracia

Ao defender os direitos ou liberdades dos indivíduos a burguesia


justificava sua ascensão política paralela à socioeconómica, dai sua
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 145

associação às concepções democráticas, embora haja diferença


entre democracia e liberalismo.

A democracia liberal é o resultado da adequação do liberalismo às


reivindicações sociais, políticas e jurídicas dos movimentos
democráticos. O liberalismo fornece à democracia política não só o
fundamento da dignidade igual dos homens, mas também um
conjunto de "regras do jogo" vinculadas aos procedimentos
necessários para garantir a livre competição dos indivíduos.

A democracia liberal resultou, dessa forma, de uma complexa


articulação entre liberalismo e democracia. O encontro de ambos,
apesar de não ter se efectuado de forma tranquila, evidenciou que a
democracia não é incompatível com o liberalismo, e que em vários
aspectos ela pode ser considerada como seu prosseguimento.

As concepções democráticas têm seu ponto de partida nas ideias


difundidas por Rousseau sobre soberania absoluta da maioria. E
isto, principalmente o que a democracia política tem significado:
que cabe a maioria do povo o direito de falar pela nação inteira e
que, na formação dessa maioria, todos os cidadãos devem ter o
direito voto, ou em outras palavras “o governo do povo, pelo povo
e para o povo, como afirmou Abraham Lincoln”.

Por conseguinte, a democracia pressupõe a igualdade dos homens e


a paridade dos direitos, não só para exercer a soberania popular,
como também para concretizar seus direitos a vida, à liberdade, a
felicidade e a igualdade.

Os instrumentos políticos e jurídicos imprescindíveis para o


funcionamento de uma verdadeira democracia são:
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 146

 O sufrágio ou o voto popular, através do qual se expressa a vontade


do povo; o voto deve ser livre e secreto e povo significa todos os
cidadãos sem limitações de qualquer espécie;

 Uma constituição fixando os direitos e atribuições dos indivíduos e


do estado bem como as eleições entre ambos;

 A divisão do poderes do estado;

 A adopção e vigência do princípios fundamentais destinado a


garantir a vida, a igualdade e as formas básicas de liberdade do
cidadão: liberdade de pensamento, de expressão, de consciência, de
reunião, e de associação.

Tanto as concepções democráticas tanto como as liberais foram


ideologias da burguesia. Em certo, porém que o liberalismo acabou
se identificando mais com a alta burguesia, ao passo que as
concepções democrática se ligaram mais a pequenas burguesia,
cuja integração ao estado liberal se explica pela necessidade de alta
burguesia ampliar suas bases políticas, desvinculando a pequena
burguesia dos movimentos revolucionários, feitos com a
participação dos proletariado em ascensão, dai a progressiva
redução do censo eleitoral tornando efectiva a participação de
novas camadas da burguesia nas instituições política do estado.

14.2 Nascimento e tipo de liberalismo

Inegavelmente, no século XIX, o liberalismo constitui a ideologia


predominante na sociedade ocidental: suas raízes se encontram no
movimento filosófico do século XVIII e ganharam maior expressão
com as revoluções do mundo atlântico, em particular a revolução
francesa, quando a burguesia exaltou a liberdade nos planos
políticos, económico e social.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 147

O Liberalismo pode encontrar algumas de suas raízes no


humanismo que se iniciou com a contestação da autoridade das
igrejas oficiais durante a Renascença, e com a facção da
Revolução Gloriosa na Grã- -Bretanha, cuja defesa do direito de
escolherem o seu próprio rei pode ser vista como percussora das
reivindicações de soberania popular.

No entanto, os movimentos geralmente tidos como


verdadeiramente "liberais" surgem durante o Iluminismo, os
filósofos em França e o movimento defensor do auto-governo.
Estes movimentos opunham-se à monarquia absoluta,
mercantilismo, e diversas formas de ortodoxia religiosa e
clericalismo. Foram também os primeiros a formular os conceitos
de direitos individuais e do primado da lei, bem como da
importância do auto-governo através de representantes eleitos.

O liberalismo tem três enfoques: político, ético e económico

O político constitui-se contra o absolutismo e busca nas teorias


contratualistas, a legitimação do poder, que não deve ficar sob o
direito dos reis, mas no consentimento dos cidadãos e defendendo
governos representativo, constitucionais e parlamentares.

O ético, com a garantia dos direitos individuais: liberdade de


pensamento e expressão, religião e estado de direito e que rejeita
todo tipo de arbitrariedades.

O económico se opõe a intervenção do poder nos negócios,


exercida com procedimentos típicos da economia mercantilista,
como a concessão de monopólios e privilégios. Essas idéias foram
desenvolvidas, na defesa da propriedade privada dos meios de
produção baseada na livre iniciativa e competição.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 148

Os liberais, consideravam que os homens deveriam desfrutar de


todas as satisfações, não se submetendo senão aos limites da razão.
Assim sendo no âmbito político adquir as seguintes designações,
Liberalismo clássico também conhecido como Liberalismo
tradicional ou e liberalismo laissez-faire (é uma forma de
liberalismo que defende as liberdades individuais, igualdade
perante a lei, limitação constitucional do governo, direito de
propriedade, direitos naturais, proteção das liberdades civis e
restrições fiscais ao governo); liberalismo moderno, liberalismo
extremista ou liberalsmo radical ( considera que cada indivíduo é
absolutamente livre, responsável por tudo aquilo que é); no âmbito
económico liberalismo económico (defende a indepedência da
economia de qualquer interferência proveniente de outros meios,
garantindo na defesa da propriedade privada dos meios de
produção baseada na livre iniciativa e competição)

14.3 Liberalismo – Locke

A sua obra política fundamental é dois tratados sobre o governo,


ele vai defender a dicotomia entre um estado de natureza e um
estado de sociedade.

O estado da natureza é pacífico, não obstante se traduzir numa


situação em que os homens vivem sem organização, dado que não
existe poder político que os governe. Daqui resulta que apesar de
todos nascerem livres e iguais, a lei do mais forte vai impedir que
os direitos individuais possam ser defendido na generalidade das
situações, na medida que tem de ser objecto da autotutela. No
estado da natureza não há leis e cada um segue a a lei natural,
segundo o critério da razão, não havendo nenhum poder que possa
regular a liberdade e propriedade individual, nem órgãos de
controlo social como os tribunais, todos tem de fazer a justiça com
as próprias mãos, é princípio da justiça privada.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 149

Em face este panorama, a razão vai determinar que os homens,


concluam um contrato social, que vai estar na base do estado da
sociedade. O estado de sociedade é neste termos, o contrato social,
em resultado do qual o poder de governar a comunidade vai ser
atribuído a alguns com o consentimento de todos, a transferência
deste poder, pode no entanto, cessar quando não for adequada aos
fins que visa alcançar, na medida em que se trata de uma delegação
de poderes.

Na base desta concepção está a ideia de que o estado só pode actuar


na esfera política e não na esfera política e não na esfera da vida
privada. Onde se preconizava um governo absoluto, Locke veio
propor um governo limitado, onde se entendia que os homens não
nasciam livre e eram desiguais entre si, Locke veio defender que
todos homens nascem livres e iguais.

Onde se considerava que o poder politico vinha de Deus para os


reis, que assim governavam por direito próprio, Lock veio sustentar
que a origem do poder repousava num contrato celebrado entre os
homens, e que portanto todo poder dos governados assentavam no
livre consentimento dos governados, os homens eram cidadão,
titulares de direito originários decorrente da natureza humana e
descobertos pela razão, direitos esses que eram oponíveis ao estado
e que por isso constituíam uma forma de limitação do poder
politico, preconiza ainda a divisão dos poderes do estado e sua
distribuição por órgão diferentes, cabendo nomeadamente a um
poder de legislar e outro o poder de executar: Poder legislativos -
consiste na capacidade de fazer leis; poder executivo - consiste na
capacidade de aplicar as leis através da administração pública, por
intermédio dos tribunais e poder federativo que consiste na
capacidade de conduzir as relações internacionais.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 150

14.4 Liberalismo Aristocrático: Montesquieu

A sua obra fundamental é o Espírito das leis, vai procurar descobrir


as leis científicas que podem explicar os conteúdos das normas
jurídicas, dado que defende que estas não podem ser produto
exclusivo da imaginação do legislador, mas ser antes o resultado de
uma combinação de factores como sejam a educação, o volume
populacional.

Vai, nestes termos, defender uma teoria de relativismo politico, nos


termos da qual o sistema politico deveria se adoptado às
circunstâncias concretas de cada povo.

No livro XI (leis que formam a liberdade política na relação com a


constituições) Montesquieu abandona a posição de observador
imparcial, terminando como base a análise da constituição inglesa,
de que era grande admirador, passa a dotrina e define a sua posição
que é a de um aristocrata liberal.

O seu propósito é definir um sistema que seja garante da liberdade


política. Mas que deve entender-se por liberdade política, não há
palavra que tenha recbido mais significado diferente do que a
liberdade. Porém a liberdade não consiste em cada um fazer o que
quer

Num estado, quer dizer, numa sociedade em que há leis, a liberdade


só pode consistir em se poder fazer o que se deve querer e em se
não ser obrigado a fazer o que se não deve querer.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 151

É necessário ter no espírito o que é indepedência e o que é


liberdade. A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis
permitem, e se um cidadão pudesse fazer o que elas proíbem, não
haveriam liberdades, porque todos os outros teriam o mesmo poder.

A democracia e a aristocracia não são estados livres, por natureza a


liberdade política só se encontra nos governos moderados, mas não
existe sempre nos estados moderados, só aí se encontram quando se
não abusa do poder, pois é uma experiência eterna que todo o
homem que tem o poder é levado a abusar dele, até encontrar
limite. A própria virtude tem necessidade de limites.

Para que não se possa abusar de poder, é necessário que por


disposição das coisas, o poder limite o poder. Pode haver
constituição tal que ninguém seja obrigado a fazer as coisas a que a
lei não obriga e a não fazer aquelas que a lei lhe permite.

Há em cada estado, 3 espécies de poderes, o poder legislativo, o


poder executivo das coisas que dependem do direito das gentes e o
poder executivo das coisas que dependem do direito civil.

Pelo primeiro, o príncipe ou magstrados faz leis para um tempo


dado e revoga as que estão feita, pelo segundo faz a paz ou a
guerra, previne a invasão; terceiro pne os crimes ou juga os
diferentes particulares.

A liberdade politica de um cidadão é a tranqilidade do espírito que


deriva da opnião que cada m tem da sua seguraça, e para que haja
esta liberdade, é necessário que o governo seja tal que um cidadão
não possa recear outro cidadão.

Avança ainda para a classificação da política os seguintes:


HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 152

O governo republicano – em que … a sua natureza assenta na


pertença do poder político ao povo, e o seu princípio assenta na
virtude cívica dos cidadãos;

O governo monárquico – em que … a sua natureza assenta na


pertença do poder político ao Rei de acordo com as leis e o seu
princípio consiste na honra;

O governo despótico – em que … sua natureza assenta na pertença


do poder político ao tirano sem qualquer respeito pelas leis, e o seu
princípio consiste no medo.

14.5 Soberania popular – Jean-Jacques Rousseau

A sua obra fundamental é o contrato social (1762) no âmbito


político devem ser, ainda, tidas em consideração o projecto para a
constituição da Córsega (1765). O pensamento de Rousseau é
complexo e multifacetado, o que justifica que possa ter
influenciado simultaneamente o pensamento mais radicalmente
democrático e tenha sido o ponto de partida de ideologias
totalitárias

Rousseau como os autores iluminista parte do pressuposto de que


os homens começam também por viver em estado de natureza.
Neste termo defende que o homem no estado da natureza é bom,
puro e são, sendo as suas características negativas, o resultado de
uma corrupção provocada pelo processo de civilização.

Partindo do pressuposto de que a liberdade de cada um está


garantida quando cada indivíduo está sujeito a obrigações que são
iguais para todos e que encontram a sua expressão na lei, cria os
conceitos de vontade geral e de soberania popular. A vontade gera
é “a vontade do corpo político ou se quisermos por outras palavras
é a vontade do estado”.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 153

É a vontade da maioria, considerada como infalível, dado que


defende que a maioria tem sempre razão e que a posição adoptada
pela minoria é necessariamente errada, neste termos, quem não
quiser voluntariamente adequar dos seus comportamentos a decisão
maioritária, deve ser constrangido a faze - lo pela forca.

A soberania popular traduz a ideia de que a soberania reside no


povo, com base neste conceito, faz a defesa da democracia directa,
considerando que a democracia representativa não é uma
verdadeira democracia, em conformidade os projectos de leis que
tivessem sido elaborados pelos representantes do povo, só
poderiam ser considerados legítimos, se fossem aprovados pelos
próprios povos. Isto significa que a aprovação teria de ser feita
através de um instrumento de democracia directa: o referendo

14.6 Liberalismo clássico

14.6. 1 Ideologia sensualista: Destutt Tracy

Quando, depois de terminador, o kantismo, começa a perder forca,


é a ideologia sensualista que se impõe definindo a transição entre a
revolução e a era liberal.

Os seus representantes formam o elemento de ligação entre a


grande corrente que vai dominar o século XIX.

Em se a ideologia “procura as causa primeiras é menos uma


doutrina política do que uma disciplina filosófica, fundamento do
conjunto das ciências.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 154

António Destutt Tracy11 a sua obra principal, elementos de


ideologia é publicado em 1801 (1ª edição) e reedita em 1826 em
Bruxelas, em um tratado (economia social), onde se encontram
expostos os elementos fundamentais do liberalismo. O sistema
apoia-se na crença, no compromisso harmonioso entre as forças
sociais, contanto que cada série haja segundo os seus interesses
próprios bem compreendidos.

O objectivo elemento ideologia é sobretudo pedagógico: libertar a


razão do jugo preconceito, graças a um sistema geral de educação
ou de formação. Ele pensa que distribuir os poderes da sociedade
de maneira favorável é um problema insolúvel enquanto se der a
um homem poder bastante, para que não se possa tira-lho sem
violência e para que, com a sua substituição, tudo muda
necessariamente. Liberdade política não pode existir sem liberdade
individual e sem liberdade de imprensa, exigindo esta a presença de
jurados em caso de procedimento judicial. O princípio dos
governos sobre os direitos dos homens é natural. Por isso, só tem
que deixar agir a natureza, difundindo ao mesmo tempo uma
instrução sã e forte. Censurando no seu tempo, os ideólogos
tiveram na época seguinte uma influência considerável.

14.7. Liberalismo extremista

14. 7.1 Monilari: O Estado supérfluo


A preocupação primeira de todo o liberalismo é de limitar ao
máximo as atribuições do estado. Não só o exclui do domínio
económico, nos seus princípios fundamentais, mas reduz ao máximo
o seu papel político, porque este transborda inevitavelmente para o
domínio económico. O liberalismo extremista, gostaria de reduzir
pouco a pouco até a esgotar completamente a lista de serviços
11
Nascido em 1762, foi oficial antes de ser deputado dos estados gerais e da constituinte.
Adere a revolução e não emigra. Consegue lugar nas assembleias do consolado e do
império “o teimoso Destutt Tracy “ como lhe chamarão os amigos.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 155

públicos necessários. Recusa a emissão de moeda, os pesos e as


medidas, os transportes e a distribuição do correio. Finalmente só
resta à autoridade política uma missão, a de produtor de segurança.
O estado torna-se a força comum instituída para garantir a cada um
o que é seu e fazer reinar a justiça e a segurança.

Mas este mínimo, não é considerado irredutível por aqueles a que se


pode qualificar de liberais anarquistas. Molinari, demostra que a
necessidade de segurança não é diferente das outras necessidades,
mais bem satisfeitas pela concorrência. O monopólio é mera
consequência do facto de a necessidade de segurança pôr frente a
frente um produtor forte e consumidores fracos. Pode imaginar-se
que no futuro, a nova sociedade, resultado natural das relações
económicas e não uma criação fictícia do estado, deixe de produzir e
vender segurança na proporção ao preço correspondente à sua
utilidade. Esta tornar-se-á um bem como os outros e será deixada à
iniciativa privada, individual ou colectiva. Em cada cantão haveria
uma ou várias empresas de segurança, que se comportariam,
sobretudo, como sociedades privadas de vigilância de propriedades
ou como guardas nocturnos, mas num contexto mais vasto. Estas
agências, ligar-se-iam livremente à companhias de seguros
concorrentes. Uma vez satisfeita, sem o seu concurso, a necessidade
de segurança, a autoridade do Estado, produtora de segurança,
tornar-se-ia inútil e só lhe restaria desaparecer.

14.7.2 Paul-Louis : O radicalismo Anticlerical

Ao lado do utopismo abstracto dos economista, o anarquismo de


Paul-Louis faz doutrinariamente, muito fraca figura.

Grande parte da sua força vem do radicalismo da sua crítica ao


poder (coroa, governo) e os poderoso (nobres, cleros e notaveis).
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 156

No seu primeiro panfuleto, a petição as duas camara (1816),


protesta contra a intolerrância dos clero. Volta a faze-lo noutra
petição a camâra dos deputados a favor dos aldeões, a quem
impedem de dançar (1822).

No ano precedente, tinha publicada o simples discurso vinhateiro da


chavonnière, aos membros do conselho da comuna de chavonnère,
por ocasião duma subscriação proposta por sua excelência, o
ministro do interor para a aquisição de chamborde. Justifica ai o seu
ódio as recordações que teme como previlégios, como direitos
feudais inda não extintos e sempre prontos a renascer.

Todavia Paul-Louis embora que queira o menospossível do


governo, aceita um governo que a nação faria andar como um
cocheiro aquem se paga, e que não deve levar-nos para onde quer,
para onde quer e nem como quer, mas para onde prentedemos ir e
pelo camnho que mais os convém.

Sumário
No entanto os pensadores do liberalismo tinham várias concepções
no que diz respeito a este termo: Montesquieu a liberdade é o
direito de fazer tudo o que as leis permitem, e se um cidadão
pudesse fazer o que elas proíbem, não haveriam liberdades, porque
todos os outros teriam o mesmo poder; Rossseau Parti do
pressuposto de que a liberdade de cada um está garantida quando
cada indivíduo está sujeito a obrigações que são iguais para todos e
que encontram a sua expressão na lei, cria os conceitos de vontade
geral e de soberania popular; Para Lock O estado é o contrato
social, em resultado do qual o poder de governar a comunidade vai
ser atribuído a alguns com o consentimento de todos, a
transferência deste poder, pode no entanto, cessar quando não for
adequada aos fins que visa alcançar, na medida em que se trata de
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 157

uma delegação de poderes;No liberalismo clássico destacou-se


Destutt Tracyque na sua concepcção ele pensa que distribuir os
poderes da sociedade de maneira favorável de forma a evitar o
problema insolúvel enquanto se der a um homem poder bastante,
para que não se possa tira-lho sem violência e para que, com a sua
substituição, tudo muda necessariamente.No liberalismo extremista
Monilari gostaria de reduzir pouco a pouco até a esgotar
completamente a lista de serviços públicos necessários, só resta à
autoridade política uma missão, a de produtor de segurança.

___________________________________

Exercício
a) Faça uma análise sobre o surgimento do Liberalismo e ou
democracia.
b) Descreva os tipos de liberalismo que conheces.
c) Destinga o liberalismo clássico do liberalismo extremista.
d) Faça comentário na visão de Jacques Rousseau sobre a soberania
popular.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 158

Unidade XV

O liberalismo

Introdução
O Liberalismo pode encontrar algumas de suas raízes no
humanismo que se iniciou com a contestação da autoridade das
igrejas oficiais durante a renascença, cuja defesa do direito de
escolher seu próprio rei pode ser vista como percursora das
reivindicações de soberania popular. Mas os movimentos tidos
como verdadeiramente liberais surgem durante o iluminismo.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

Explicar o conceito de Estado Liberal;

Em que consistiaram os Projectos de Governo na perspetiva de


Saint-Simon;
Objectivos
Descrever as diferentes perspectivas que contribuíram para o
desenvolvimento da corrente.

15 .1. Saint-Simon: Os Projectos de Governo


Saint-Simon, apoia-se na história com o fim de restabelecer a
grandeza da dignidade do Estado. As suas teses baseiam-se na
concepção das origens da nobreza. E esta teria nascido da conquista,
com os francos vencedores a formarem a primeira nobreza, ficando
os gauleses vencidos e submetidos, como povo comum. A nobreza
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 159

conquistadora partilhava o governo com o rei, que não podia tomar


nenhuma decisão importante sem reunir os guerreiros.

Segundo os projectos de governo, redigidos por Saint-Simon, o


direito dos nobres que se tornou platónico, devia exercer-se
efectivamente em caso de extinção da dinastia. Sobretudo, o poder
em vez de estar só na mão do rei, devia ser partilhado por um
pequeno número de personalidades, uma espécie de oligarquia de
feudatários eminentes: os pares, os duques simples mas
confirmados, os altos dignatários titulares de cargos importantes.
Este sistema, mais grandioso do que eficaz, em nada aumentou a
audiência da monarquia. No topo, apontar-se-ia achatado
ligeiramente para formar uma pequena plataforma, sem que fosse
restabelecido o contacto com o conjunto do país.

O estado tem um papel muito limitado. Constitui uma simples


assembleia de queixas e agravos. Quanto ao parlamento, onde se
multiplica a burguesia soberba, fica reduzida ao papel de simples
tribunal de justiça. No entanto, Saint-Simon, apercebe-se do
inconveniente da ausência de uma gradação de poderes subalternos,
assim como sente, apesar do desdém aristocrático e de uma
arrogância mesquinha, o sofrimento do povo nos últimos anos de
reinado.

15.2. Condorcet: A Soberânia Popular


Intelectualmente foi um percursor pelas perspectivas que os seus
escritos incompletos projectam no futuro. Nomeadamente no que
respeita à instrução pública.
Em Condorcet, o racionalismo é agudizado por aquilo a que se pode
chamar de espírito matemático. A única obrigação social é a de
obedecer à razão colectiva da maioria, quer dizer, a sua razão e não
a sua vontade. O poder legislativo consiste, se for exercido
imediatamente pelos cidadãos, em declarar quais são as regras
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 160

comuns, de forma a que as acções, que deve obedecer-lhes, pareçam


à pluralidade dos cidadãos mais conformes com a razão.

Há portanto em Condorcet, como que uma racionalização das ideias


de Rousseau. Substitui a vontade geral pela razão geral. A maioria,
ao ser reconhecida pela pluralidade das opiniões, não adquire, no
entanto, direitos sobre a minoria. A minoria fica simplesmente a
saber que, para a maioria, é a razão geral. Se dai resulta para a
minoria a necessidade e a obrigação moral de se conformar, não
resulta para a maioria nem autoridade nem poder. Este racionalismo
traduz-se também na sua posição quanto às instituições inglesas, que
devem ser rejeitadas por serem o fruto dos acontecimentos. Também
se ergue contra o aspecto experimental ou empírico da política de
Montesquieu e condena a inspiração geral, criticando em particular
a ideia de que princípios de acção independentes entre si, possam
equilibrar-se e servir de balança e contrapeso. Condorcet, preconiza
pelo contrário o princípio da unidade da acção. Uma acção única,
limitada e regulada pela lei, deve pôr em movimento o sistema
social.

15.3. Sieyès: A Soberânia Nacional


O seu ponto de partida é a existência da nação, quer dizer de um
corpo social, não politicamente constituído, mas já organizado
relativamente ao estado de natureza. Em comparação com o estado
de natureza, o estado social aperfeiçoa e enobrece o homem. Alarga
e protege a liberdade, defende e assegura a igualdade de direitos.

Quanto a composição desta nação, a posição de Sieyès é


incontestavelmente a de todos liberais individualistas. Imagina-a
formada por indivíduos, elementos independentes mas governados
por um único poder e submetidos às mesmas leis, que são obras das
suas vontades. Todos têm os mesmos direitos e são livres nos seus
contactos e respectivos compromissos. A nação ganha consistência
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 161

nos indivíduos que são os seus membros, juridicamente


independentes e iguais. Esta colectividade feita de indivíduos forma
um corpo. Portanto, a nação não é uma soma mas uma combinação.

Assim como na química vários corpos reunidos dão origem a um


corpo novo onde os corpos antigos já não se reconhecem, a não ser
que se faça uma análise para os voltar a separar, a nação, absorve os
cidadãos que entram na sua composição. Estes formam uma
colectividade indivisível, de que o Estado será a personificação.
Esta concepção de uma nação que não seria composta pelos
indivíduos, mas por um conjunto transcendente, foi logo qualificada
de metafísica. Considerado isoladamente, o poder dos cidadãos seria
nulo, só existe no conjunto. Este conjunto pode perfeitamente ter
vida própria. A nação é para Sieyès uma representação intelectual.

Por outro lado a terminologia não é absolutamente rigorosa. Os


termos povo e nação confundem-se com muita frequência nos seus
escritos. Não se deve, portanto, o sentido preciso que lhes conferiam
certos autores contemporâneos, distinguindo entre soberania popular
e soberania nacional.
Difícil de definir na teoria, a concepção de nação, é perfeitamente
clara no plano histórico. A nação é o terceiro estado. Assim, a ideia
de nação, incerta na abstracção, toma na acção política de Sieyes um
sentido preciso: é o terceiro estado representado por uma assembleia
geral. Esta nação é soberana, embora o termo não agrade a Sieyès.
Não gosta da palavra nem a emprega pois teme as suas ressonâncias
autoritárias e totalitárias. Aqui, a soberania que pertencia ao rei,
passa para a nação de que emanam todos poderes.

Para salvaguardar a liberdade, a constituição organiza poderes


separados. Ultrapassando a concepção clássica, distingue na nação
quatro vontades:
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 162

1. a vontade constituinte, antes e acima das outras vontades. Esta


decidirá sobre todas as violações da constituição.
2. a vontade peticionária é a voz do povo, expondo suas
reclamações, e formulando as suas necessidades. A esta função,
Sieyès dá um órgão, que chama tribunato, numa reminiscência da
antiguidade.
3. a vontade governante propõe as leis e as medidas úteis ao Estado.
Faz regulamentos e decretos e nomeia o poder executivo. É
representada por uma assembleia, o conselho de Estado.
4. a vontade legislativa, por fim, decide na formação da lei, segundo
um procedimento comparável ao processo judicial. Tanto a vontade
para a defesa dos interesses particulares, como para a defesa do
interesse público, virão cada uma defender a sua causa perante o
quarto órgão, que é o corpo legislativo.

Esta análise objectivamente notável, foi muitas vezes mal


compreendida. Quando divide tão minuciosamente os poderes
públicos, é para assegurar ao máximo a liberdade dos indivíduos e
não para minimizar o seu papel perante o poder pessoal. Assim
como não é autoritário, não é totalitário. A Cidade não absorve o
homem por inteiro, ele só lá está presente em função dos interesses
que, sendo comuns a todos, a todos importam igualmente. Sieyès
considera que devido às diferenças, os homens estão fora dos
serviços públicos, ao mesmo temo que fazem parte do Estado, na
medida em que são semelhantes e iguais. Os interesses comuns aos
cidadãos iguais formam uma massa que se chama a coisa pública, a
república.

15.4. Royer-Collard: Legitimidade e Liberdade


O poder forte de que a França precisa, depois de um séc. de
convulsão não pode ser: nem o de uma assembleia parlamentar que,
exagerando o princípio do governo electivo se constituísse como
autoridade representativa da soberania do povo; nem o de um
homem que depois de plebiscitos consulares ou imperiais, se
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 163

considerasse como o único representante, como a própria


encarnação do povo. Porque quando apenas uma assembleia ou um
homem representam todos os direitos do povo, não podendo o povo
servir de barreira a si próprio, é a tirania que se instala.

Em contrapartida, a monarquia legitima assegura ao mesmo tempo a


força do poder e a liberdade dos indivíduos. Mas para isso, o poder
real não deve ser partilhado, mas apenas limitado. Toda autoridade
deve permanecer nas mãos do rei, as câmaras tem apenas um direito
de controlo, de discussão, de advertência. Royer-Collard vê
admiravelmente que qualquer concessão a este respeito seria fatal.
Se a câmara de deputados poder repudiar os ministros do rei e impor
os seus próprios ministros, torna-se o poder único, perante o qual
todos os outros poderes devem desaparecer.
O princípio da legitimidade, torna o rei absoluto, em teoria; mas o
direito do rei é apenas o primeiro dos direitos, num regime em que
tudo se rege pelo direito. Qualquer atentado aos direitos dos
cidadãos, é em última análise atentado à legitimidade.

Sumário
O Liberalismo é uma doutrina ou corrente do pensamento político
que defende a maximização da liberdade individual mediante o
exercício dos direitos e da lei. Defende uma sociedade
caracterizada pela livre iniciativa integrada num contexto definido
que inclui um sistema de governo democrático, o primado da lei, a
liberdade de expressão e a livre concorrência económica.

Exercícios
1. Em que consiste o poder legislativo na perspectiva de
Condorcet?
2. Distingue soberania popular da soberania nacional.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 164

3. Como Royer-Collard discute a questão da legitimidade?

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 165

Unidade XVI

Constitucionalism
o democrático

Introduçao
A monarquia constitucional, quando limitada e não partilhada,
continua a ser uma monarquia. A democracia constitucional,
submetida a um sistema interno de freios e contrapesos, continua a
ser uma democracia. É precisamente a sua única maneira de existir,
e ai reside, por certo a explicação para o escasso uso dado à
expressão democracia constitucional, apesar da sua pertinência.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

 Explicar o conceito de Democracia Constitucional;


 Referir o papel do Estado nesse modelo.
Objectivos

16.1. Constitucionalismo Democrático


Porque motivo, enquanto monarquia constitucional se tornava
expressão corrente, democracia constitucional permaneceu um título
inusitado, quando a lógica das instituições o reclamavam? Já
Benjamin Constant havia colocado o problema em termos de
doutrina, ao observar que quando se estabelece que a soberania do
povo é ilimitada, cria-se e lança-se ao acaso na sociedade um grau
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 166

de poder demasiado grande em si. Em vez de o destruírem, os


homens só pensaram em deslocá-lo. Era um flagelo, consideraram-
no uma conquista. Atribuíram-no à sociedade inteira.

Semelhante erro só poderia ser corrigido tratando o poder colectivo


da maioria como o poder de um só, ou seja, limitando-o por meio de
normas bem definidas, tanto na sua extensão como no seu
funcionamento. Não existe autoridade limitada à face da terra, nem
a do povo, nem a dos homens que se dizem seus representantes, nem
a dos reis, qualquer que seja a qualidade em que reinem, nem a da
lei que, por ser apenas a vontade do povo ou do príncipe, consoante
a forma de governo, deve ser circunscrita nos mesmos limites que a
autoridade de onde emana.

Assim, é necessário conter a soberania do povo dentro de limites


justos e razoáveis, que só uma constituição pode traçar-lhe.
Constitucionalizar o regime não é atingi-lo na sua essência. A
monarquia constitucional, quando limitada e não partilhada,
continua a ser uma monarquia. A democracia constitucional,
submetida a um sistema interno de freios e contrapesos, continua a
ser uma democracia. É precisamente a sua única maneira de existir,
e ai reside, por certo a explicação para o escasso uso dado à
expressão democracia constitucional, apesar da sua pertinência.

O constitucionalismo democrático exige, desde logo, a existência de


uma diversidade de opiniões e a sua aceitação deliberada. A
liberdade de opinião exige a não - limitação prévia das opiniões
concorrentes. No estado de sociedade, tudo deve ser dito livremente,
não só porque o estado nada tem a temer de que tudo seja dito, mas
por ter o maior interesse em que seja dito. Pois se é verdade que o
pensamento se irrita com a contradição, ainda é mais verdade que se
irrita e se azeda com a solidão e a impossibilidade de se expandir.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 167

E o estado até pode extrair benefícios da liberdade da palavra, pois


convém que todas as opiniões sejam expressas, para escolher a
melhor ou a menos má. Acresce que o estado não dispõe de
qualquer critério ético para condenar uma opinião, excepto em
relação aos que se servem de meios ilegais. Se não deixasse campo
livre a uma opinião lícita, falsearia deste modo o jogo do governo de
opinião. Ao dar-lhe um conteúdo e um fim aprior, alteraria a sua
essência, pois uma dessas opiniões, detentora de uma posição de
exclusividade e estabilidade, acabaria por eliminar as outras.

Sumário
a) O constitucionalismo democrático exige, a existência de
uma diversidade de opiniões e a sua aceitação deliberada. A
liberdade de opinião exige a não-limitação prévia das opiniões
concorrentes. No estado de sociedade, tudo deve ser dito
livremente, não só porque o estado nada tem a temer de que tudo
seja dito, mas por ter o maior interesse em que seja dito. Pois se é
verdade que o pensamento se irrita com a contradição, ainda é mais
verdade que se irrita e se azeda com a solidão e a impossibilidade
de se expandir.

Exercícios
1. Dê o conceito de Democracia Constitucional.
2. Explique o papel do Estado nesse modelo.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 168

Unidade XVII

Formas de poder e
dominação (governo e
regimes)

Introdução
Dominação é à probabilidade de encontrar obediência a ordens
específicas, ou a toda ordem, por parte de um dado grupo de
pessoas. Toda relação autêntica de dominação comporta um
mínimo determinado de vontade de obedecer, por conseguinte, de
interesse em obedecer. Nem toda dominação se serve de recursos
económicos, muito menos existem recursos económicos
subjacentes a toda dominação. Mas toda a dominação sobre uma
pluralidade de pessoas requer um quadro de pessoas, ou seja, a
probabilidade crível de uma acção exclusivamente dirigida à
execução das suas disposições gerais e ordens concretas por parte
de determinadas pessoas garantidamente obedientes.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

Explique os diferentes tipos de dominação;


Objectivos
Diferencie as várias formas de governos e sistemas partidários.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 169

17.1. Tipos de Dominação


Chamamos dominação, à probabilidade de encontrar obediência a
ordens específicas, ou a toda ordem, por parte de um dado grupo de
pessoas. Toda relação autentica de dominação comporta um mínimo
determinado de vontade de obedecer, por conseguinte, de interesse
em obedecer. Nem toda dominação se serve de recursos
económicos, muito menos existem recursos económicos subjacentes
a toda dominação. Mas toda a dominação sobre uma pluralidade de
pessoas requer um quadro de pessoas, ou seja, a probabilidade crível
de uma acção exclusivamente dirigida à execução das suas
disposições gerais e ordens concretas por parte de determinadas
pessoas garantidamente obedientes.

Este quadro administrativo pode estar vinculado à obediência do seu


dominador puramente pelo hábito, por motivos puramente afectivos
ou por circunstância de interesse materiais ou motivos ideais. É a
natureza destes motivos que em larga medida determina o tipo de
dominação. Mas nem o costume ou uma situação de interesses, nem
motivos puramente afectivos ou puramente racionais valorizados
poderiam representar fundamentos seguros de uma dominação. A
eles vem juntar-se um ouro factor: a crença na legitimidade.

Nenhuma dominação se satisfaz de livre vontade, com motivos


meramente materiais, meramente afectivos ou meramente racionais
de valor com probabilidade de perdurabilidade. Pelo contrário, toda
dominação, procura despertar e cultivar a crença na sua
legitimidade. No entanto, conforme a natureza da legitimidade
reivindicada, assim como o tipo de obediência e de estado-maior
administrativo destinado a assegurá-la, bem como o carácter do
exercício da dominação serão fundamentalmente diferentes.
Consequentemente também seus efeitos. Torna-se assim adequado
distinguir os géneros de dominação segundo a reivindicação de
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 170

legitimidade que lhes é típica, processo em que se afigura adequado


partir de circunstancialismos modernos e portanto conhecidos.

São três os tipos puros de dominação legitima:


1. de carácter racional ou dominação legal com quadro
administrativo burocrático, assentando na crença na legalidade de
regulamentos estatuídos e do direito a estabelecer directivas por
parte daqueles que são chamados, por esses regulamentos ao
exercício da dominação legal. Esta dominação assenta na validade
das seguintes concepções reciprocamente interdependentes:

a) todo e qualquer direito poderá ser estatuído por pacto ou outorga


dentro de uma orientação racional com reivindicação de observância
pelo menos por parte dos membros da associação, mas em regra
também por parte de pessoas que, se envolvam em determinadas
relações sociais declaradas como relevantes pelo regulamento da
associação.

b) todo o direito na sua essência, será um cosmos de regras


abstractas, por normas estatuídas intencionalmente e segundo
princípios geralmente determináveis, que encontram aprovação ou
pelo menos não encontram desaprovação dentro do regulamento da
associação.

c) por conseguinte, o típico senhor legal do poder, enquanto ordena,


obedece por seu lado a ordem impessoal pela qual orienta as suas
disposições.

d) aquele que obedece, não obedece senão como membro da


associação e apenas ao direito. Seja como membro da união, da
comunidade, da igreja, no Estado: cidadão.
e) os membros da associação, enquanto obedientes ao senhor do
poder, não obedecem a sua pessoa mas sim àquela ordem impessoal,
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 171

pelo que apenas estão obrigados à essa obediência no âmbito das


atribuições objectivas, racionalmente delimitadas, que lhe são
conferidas pela dita ordem.

2. dominação de carácter tradicional. Deve entender-se por


tradicional, uma dominação cuja legitimidade assenta e colhe
crédito na santidade de ordenações e poderes de senhorio
transmitidos e aceites desde tempos remotos. O senhor do poder é
determinado por força de uma regra transmitida por tradição.
Recebe obediência por virtude da dignidade própria que lhe é
atribuída pela tradição. Aquele que domina não é superior mas
senhor pessoal, o seu quadro administrativo, compõe-se
principalmente, não de funcionários mas de servidores pessoais,
sendo os dominados não membros da associação mas companheiros
tradicionais ou súbditos. Não são os deveres objectivos da função,
mas a fidelidade pessoal dos servidores que determinam as relações
entre o quadro administrativo e o senhor do poder.

Obedece-se não a regras estatuídas, mas à pessoa a isso chamado


por tradição ou pela entidade dominante determinada pela tradição,
cuja ordens são legitimas nos dois aspectos seguintes:
a) em parte por força da tradição que univocamente determina o
conteúdo das disposições, e no sentido e medida em que nelas se
crê, o que, a ser abalado por transgressão das fronteiras tradicionais,
se tornaria eventualmente perigoso para a própria situação
tradicional desse senhor.

b) em parte por força do livre arbítrio do senhor do poder, ao qual a


tradição atribui um alcance correspondente.
Tal arbitrariedade tradicional assenta primordialmente, na limitação
de princípio, da obediência conforme ao dever de reverência. Existe
por conseguinte um duplo domínio: da acção do senhor do poder
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 172

materialmente vinculada da tradição; da acção do senhor do poder


materialmente desvinculada da tradição.

O modo efectivo de exercício de dominação rege-se por aquilo que


habitualmente o senhor do poder se pode permitir face à tradicional
docilidade dos súbditos, sem os provocar a resistência. Essa
resistência quando surge é dirigida contra a pessoa do senhor que
desrespeitou os limites tradicionais do poder, mas não contra o
sistema enquanto tal.

No tipo puro de dominação tradicional, é impossível produzir de


novo, premeditadamente, por norma estatuída, princípios jurídicos
ou administrativos. Novas criações efectivas só podem, pois,
legitimar-se quando reconhecidas como válidas desde sempre, e
apenas por sabedoria de cariz consuetudinário. Como instrumentos
de orientação para o estabelecimento do direito, apenas entram e
consideração documentos da tradição.

3. dominação de carácter carismático. Assentado na entrega extra-


quotidiana à santidade, heroicidade ou exemplaridade de uma
pessoa, e nas ordenações por ela reveladas ou criadas.

Deve entender-se por carisma a qualidade, tida por extraordinária


(determinada, magicamente na origem, tanto no caso de profetas
como de curandeiros, sábios, heróis de guerra, etc), de uma
personagem por virtude da qual ele é considerado como dotado de
forças ou características sobre-naturais, sobre-humanas, ou pelo
menos especificamente extra-ordinárias, não acessíveis a qualquer
um.

É o reconhecimento por parte dos dominados (reconhecimento livre,


assegurado por verificação, nascido de um abandono à revelação, à
veneração do herói, à confiança no líder), que decide sobre a
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 173

validade do carisma. Ele não é, porém fundamento da legitimidade,


mas sim dever daqueles que, por força de vocação e verificação são
chamados ao reconhecimento dessa qualidade. Esse
reconhecimento, psicologicamente, constitui uma entrega de cariz
altamente pessoal, nascida do entusiasmo ou da miséria e da
esperança.
O quadro administrativo do senhor carismático não é um
funcionalismo, muito menos um funcionalismo de formação técnica.

Não é seleccionado em função do status nem por considerações de


dependência doméstica ou pessoal mas sim em função de qualidades
carismáticas: ao profeta correspondem os discípulos, ao príncipe
guerreiro o séquito, ao chefe em geral os homens de confiança. Não
há colocação nem destituição, tão pouco carreira ou promoção, mas
apenas um chamamento segundo a inspiração do chefe assente na
qualificação do chamado. Não há hierarquia mas apenas intervenção
do chefe, eventualmente na sequência de apelo perante insuficiência
geral ou verificada num caso particular. Não há jurisdições nem
competências, não há vencimento, não há autoridades estabelecidas,
não há regulamentos. Materialmente, contudo, é válida para toda
dominação genuinamente carismática a proposição: “esta escrito, eu
digo-vos”. O profeta genuíno, do mesmo modo que o príncipe
guerreiro genuíno ou qualquer chefe genuíno em geral, proclama,
cria, exige preceitos novos.

4.A dominação carismática, como extra-quotidiana que é, encontra-


se em absoluta oposição, não só a dominação racional,
nomeadamente a burocrática, como a dominação tradicional,
nomeadamente a patriarcal. Ambas são formas quotidianas
específicas de dominação. A carismática é especificamente o
contrário.
A dominação burocrática é especificamente racional no sentido da
vinculação a regras discursivamente analisáveis, enquanto a
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 174

dominação carismática é especificamente irracional no sentido de


um alheamento face a regras. A dominação tradicional esta ligada
aos precedentes do passado e, nessa medida, igualmente orientada
por regras; a dominação carismática subverte o passado, sendo neste
sentido especificamente revolucionária. Não conhece apropriação
do poder de senhorio do género da propriedade de bens, quer por
parte do detentor do poder, quer por parte de poderes de status. É
legitima apenas na medida e enquanto o carisma pessoal é tido por
válido por força de verificação, ou seja, só encontra
reconhecimento, só é utilizável pelo homem de confiança, discípulo
ou séquito durante o tempo de duração da sua credibilidade
carismática estabelecida.

17.2. Sistemas de governo


Tendo em consideração um conjunto de critérios como elenco dos
órgãos de soberania, a sua composição, o modo de designação dos
seus titulares, as competências, as respectivas interdependências e o
controlo do exercício das funções do Estado, podemos proceder a
uma distinção básica entre sistemas de governos ditatoriais e
sistemas de governo democráticos. O sistema de governo é ditatorial
quando o poder político é detido por uma pessoa ou por um
conjunto de pessoas que exercem por direito próprio, sem que haja
participação ou representação da pluralidade dos governados. E é
democrático quando o poder político é exercido pela comunidade,
através da delegação do seu exercício à um conjunto de órgãos, com
a participação efectiva ou a representação da pluralidade de
governados.

Os sistemas de governo ditatoriais podem ser monocráticos (se o


poder é exercido por um órgão singular, como na monarquia
absoluta e no governo cesarista), e autocráticos (se o poder é
exercido por um órgão colegial, por grupo social ou partido
político).
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 175

Os sistemas de governo democráticos podem ser:


Directos, que consiste no exercício integral das funções próprias do
poder político pela assembleia geral dos cidadãos activos do Estado.
Essa assembleia faria as leis, elegeria os magistrados e decidiria as
questões em que para ela houvesse recurso.

Semidirecto, existe quando a constituição prevê a existência de


órgãos representativos da soberania popular, mas condicionada a
validade de certas deliberações ou decisões desses órgãos à
manifestação de vontade, expressa ou tácita do próprio povo
constituído pela generalidade dos cidadãos eleitores, nomeadamente
através do referendo.

Representativo, tem lugar quando o poder político pertence à


colectividade mas é exercido por órgãos que actuam por autoridade
e em nome dela e tendo por titulares indivíduos escolhidos com
intervenção dos cidadãos que a compõem.

17.3. Regimes políticos


A distinção será feita tendo por base a existência ou não de filosofia
a ideologia exclusiva ou liderante, de aparelho destinado a impô-la,
de efectiva garantia dos direitos pessoais do cidadão e de livre
participação na designação dos governantes e no controlo do
exercício das suas funções. Tendo em consideração este critério,
pode ser feita a contraposição entre regime político ditatorial e
regime político democrático, consoante o tipo de relações que possa
existir entre os governantes e governados.

Monarquia e República
É necessário ter em consideração que estes conceitos foram
evoluindo no decurso da história política:
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 176

i) até ao séc. XVIII, a monarquia ou principado como governo de


um só independentemente do processo de sua designação, e a
república (praticamente quase sempre aristocrática), como governo
de um colégio ou assembleia, o que permitia a existência de
monarquias hereditárias por cooptação e por eleição.

ii) coexistiam durante a revolução francesa, a monarquia como


governo de um só (monarquias absolutas) e a república como
governo do povo.

iii) ao mesmo tempo nos EUA e depois durante a maior parte do


séc. XIX, a república como governo representativo, contraposto à
democracia, pura ou governo directo.

iv) no séc. XIX conciliação entre monarquia e república através de


uma forma mista, monarquia constitucional. Em alguns casos com
prevalência dos princípios monárquicos ─ monarquia limitada ─
noutros com prevalência do princípio democrático ─ monarquia
parlamentar ─ e noutros ainda com equilíbrio entre eles, embora
com concentração de poderes no Rei ─ monarquia orleanista.

Actualmente, a distinção entre monarquia e república, tem por base


o modo como é designado o chefe de Estado. Nestes termos:
A república é o regime político em que a designação do chefe de
Estado se faz por formas diversas da herança; e a monarquia o
regime político em que a designação do chefe de Estado se faz por
herança.
O regime político ditatorial e o regime político democrático

i) ditatorial quando: o poder é sustentado por um conjunto de ideias


ou princípios que não aceitam alternativas ao modelo de sociedade
vigente, nem permitem a existência legal de oposição; existe um
aparelho destinado a impor a ideologia, nomeadamente ao nível
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 177

político, policial ou educativo; não existe uma efectiva garantia dos


direitos pessoais dos cidadãos mesmo que estes se encontrem
formalmente previstos na constituição; não existe livre participação
na designação dos governantes; não é possível fiscalizar a actuação
dos titulares dos cargos políticos, nem sancioná-los pelos actos e
omissões da sua responsabilidade que sejam lesivos dos direitos dos
cidadãos e do interesse da comunidade no geral.

ii) democrático quando: os governados podem optar entre os


diversos modelos de organização de sociedade e é reconhecido um
estatuto específico à oposição; não existe um aparelho destinado a
impor a ideologia tendo em conformidade, os órgãos governativos o
objectivo de satisfazer um leque o mais alargado possível de
exigências e dos interesses da comunidade; existe uma efectiva
garantia dos direitos pessoais dos cidadãos; os governados tem uma
real influência na escolha dos titulares dos órgãos governativos e a
possibilidade de proceder à sua substituição no final do período em
que estes exercem o seu mandato; existem mecanismos efectivos de
fiscalização e de responsabilização da actuação dos titulares de
cargos políticos e a possibilidade de lhes serem aplicadas sanções
pelos actos e omissões lesivas aos direitos dos cidadãos e dos
interesses da comunidade no seu todo.

Os regimes ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários. A


distinção entre os dois deve ser feita com base na intensidade do
controlo que o poder político exerce em relação à sociedade civil. Se
a extensão do controlo é tal que o estado absorve a sociedade civil,
está-se em presença de um regime totalitário. Se em contraposto é
possível continuar a existir com uma relativa margem de autonomia
no âmbito da sociedade civil, apesar do controlo que é exercido pelo
poder político, está-se em presença de um regime autoritário.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 178

Sumário
Chamamos dominação, à probabilidade de encontrar obediência a
ordens específicas, ou a toda ordem, por parte de um dado grupo de
pessoas. São três os tipos puros de dominação legitima:

1. de carácter racional ou dominação legal com quadro


administrativo burocrático.

2. dominação de carácter tradicional.

3. dominação de carácter carismático.

Tendo em consideração um conjunto de critérios como elenco dos órgãos


de soberania, a sua composição, o modo de designação dos seus titulares,
as competências, as respectivas interdependências e o controlo do
exercício das funções do Estado, podemos proceder a uma distinção
básica entre sistemas de governos ditatoriais e sistemas de governo
democráticos

Exercícios
1. Diferencie formas de gorverno e sistemas de governo.

2. Diferencie os sistemas ditatotiais e sistemas democráticos.

3. O sistema democrático pode ser directo, semidirecto e


representativo. Diferenci-os.

4. Diferencie os regimes políticos autoritários e totalitários.

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma breve síntese em quatro páginas da unidade em estudo.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 179

Unidade XVIII
Partidos políticos

Introduçao
A questão dos partidos políticos é assunto que merece uma especial
atencao em matéria de história das instituições políticas, nesta
unidade propõem-se apresentar o conceito de partido político que
foi evoluindo com o andar dos tempos, e apresentar ainda os tipos
de partidos políticos. O surgimento de partidos políticos coincide
com o surgimento do Estado constitucional, a partir do séc. XIX, e
desenvolve-se paralelamente ao alargamento do direito de sufrágio
durante o séc. XIX

Ao terminar esta unidade voçe devera ser capaz de:

 Conceitualizar partidos políticos;


 Identificar os tipos de partidos políticos;
Objectivos

18.1 Partidos políticos


Um partido político é toda a associação duradoura de cidadãos ou
entidades em que estes se agrupem, que vise representar
politicamente de modo global a colectividade e participar no
funcionamento do sistema de governo constitucionalmente
instituído, contribuindo para a designação dos titulares dos órgãos
de poder político do Estado. Desta definição podemos distinguir:
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 180

a) a associação, que é o mesmo que dizer que nele avulta o elemento


pessoal ou humano sobre o elemento patrimonial.

b) associação de cidadãos ou entidades que eles se agrupem, como é


o caso dos partidos nascidos da iniciativa conjunta de cidadãos e de
sindicatos, confederações sindicais, cooperativas e outras entidades
análogas.

c) associação duradoura, porque não se constitui a prazo


determinado, ou sujeita a uma condição que uma vez verificada
conduza a sua extinção, supondo uma existência precária ou
transitória.

d) representação política global da colectividade, o que significa,


representação que prossegue objectivos que se prendem com o
Estado-colectividade em globo e não apenas com algumas das suas
facetas, sejam económicas, sociais, políticas ou culturais.

e) participação no funcionamento do sistema de governo


constitucionalmente instituído, e envolve a própria intervenção no
seu aperfeiçoamento ou até na sua alteração de acordo com regras
constitucionais vigentes. Pode verificar-se que um partido político
não ascenda ao poder, ou não apresente de modo duradouro
condições para tal acesso

f) contribui para a designação dos titulares dos órgãos do poder


político do Estado, o que significa, estarmos perante uma função ou
actividade e já não um fim partidário. O teor do contributo vária de
acordo com o regime político e o sistema de governo em vigor,
havendo em comum o facto de ele se projectar na designação dos
titulares dos órgãos de poder político do Estado.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 181

18.2. Tipos de Partidos políticos


O surgimento de partidos políticos coincide com o surgimento do
Estado constitucional, a partir do séc. XIX, e desenvolve-se
paralelamente ao alargamento do direito de sufrágio durante o séc.
XIX. Os partidos políticos podem ser classificados:

i) partido de quadro ou de notáveis, destinados a participação nos


actos eleitorais carecidos de uma organização sofisticada, assentes
numa rede de influentes locais, e mais preocupados com estes do
que com a conquista de um largo número de militantes ou mesmo
simpatizantes.

ii) partidos de massas ou de militantes. Os seus elementos


inovatórios residem na sua génese, na sua organização permanente,
na sua maior disciplina interna, num grau de centralização orgânica
mais agudo, na importância dada à actuação não eleitoral e extra
parlamentar de formação política e de criação e apoio a estruturas
económicas e sociais de massas.

iii) partido de eleitores, partido de reunião ou partido eleitoral de


massas. Avulta o eleitorado socialmente diversificado, imposto pela
sua preocupação eleitoral maioritária, um programa de agregação,
intencionalmente genérico para poder permitir uma incidência inter
classista e uma direcção política extrovertida, mais sensível às
flutuações da clientela eleitoral do que a lógica dos filiados ou
militantes partidários.

iv) partidos de contestação, nascidos da perda de conteúdo


programático das máquinas partidárias clássicas e do destaque de
novas questões políticas, nomeadamente das questões ecológicas.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 182

Sumário
O surgimento de partidos políticos coincide com o surgimento do Estado
constitucional, a partir do séc. XIX, e desenvolve-se paralelamente ao
alargamento do direito de sufrágio durante o séc. XIX. Um partido
político é toda a associação duradoura de cidadãos ou entidades em que
estes se agrupem, que vise representar politicamente de modo global a
colectividade e participar no funcionamento do sistema de governo
constitucionalmente instituído, contribuindo para a designação dos
titulares dos órgãos de poder político do Estado.

Os partidos políticos podem ser classificados:

Exercícios?
1. Difina Partido Político.
2. . Tendo em conta as leituras feitas, qual o sistema de partido
praticado em Moçambique?

Resolva os exercícios indicados.


Auto-avaliação Faça uma analise critica do sistema partidario do nosso pais.
HO164 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES POLÍTICAS I Da Antiguidade aos Nossos Dias 183

Referências
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História de Moçambique, Maputo, UEM/CEA
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