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Hepatites crônicas A doença hepática crônica é caracterizada como uma lesão persistente, de

natureza inflamatória, associada a aumento da atividade sérica de aminotransferases (ALT e


aspartato aminotransferase [AST]) por 4 meses ou mais. De maneira geral, não apresenta
predileção sexual e acomete animais entre 4 e 7 anos de idade. Diversas etiologias foram
descritas nas hepatites crônicas em cães, incluindo microrganismos, toxinas e fármacos,
reações imunomediadas e alterações metabólicas associadas a determinadas raças. 22 Mas, de
maneira geral, o entendimento da etiologia das hepatites crônicas evoluiu muito pouco nos
últimos anos. Sendo assim, a maioria dos casos permanece idiopática, sem tratamento
específico e com prognóstico impreciso. O parâmetro básico para avaliação e classificação das
hepatites crônicas baseia-se em seus aspectos anatomopatológicos. Desse modo, a biopsia
hepática ainda é considerada o padrão-ouro no diagnóstico, assim como na avaliação
prognóstica e no monitoramento terapêutico das hepatites crônicas (Figura 123.7 A). O achado
histológico mais importante no fígado é o infiltrado inflamatório, composto, principalmente,
de linfócitos e quantidade variável de histiócitos e plasmócitos. A inflamação pode estar
restrita aos espaços portais ou, como ocorre nas hepatites crônicas ativas, as células
inflamatórias podem atacar os hepatócitos presentes na placa limitante. Essa atividade é
conhecida como hepatite de interface e ocasiona a morte celular desses hepatócitos, também
chamada de necrose em saca-bocado (piece meal necrosis) (Figura 123.7 B). Ainda, podem
ocorrer focos inflamatórios dispersos no parênquima hepático. Juntamente com a inflamação,
são observadas lesões parenquimatosas como tumefação e apoptose de hepatócitos,
formando necroses focais ou em ponte. A hepatite crônica, associada a distúrbios metabólicos
no metabolismo do cobre em cães, é uma das causas mais estudadas nas últimas décadas. Em
cães da raça Bedlington terrier, essa hepatite é bem descrita e está associada à deleção do
exon 2 do gene COMMD1 (antigamente conhecido como MURR1), responsável pelo transporte
do cobre. No fígado normal, a concentração hepática de cobre é de cerca de 500 μg/g de peso
seco. Já os animais com hepatite crônica associada ao cobre apresentam concentrações
superiores a 2.000 μg/g de peso seco. 20 Nesses animais, o acúmulo de cobre inicia-se nos
hepatócitos da região centrolobular, ocasionando necrose, inflamação e, finalmente, fibrose e
cirrose hepática. Outras raças caninas podem ser acometidas pelo acúmulo anormal de cobre,
por exemplo, Dálmata, Dobermann Pinscher, Labrador Retriever, Skye terrier e West Highland
White terrier. No entanto, não existe comprovação do envolvimento genético nessas raças. 23
Em Labradores Retrievers, a hepatite crônica associada ao cobre acomete cães de meia-idade
a idosos (5 a 9 anos, com variação relatada de 2,5 a 14 anos). 24–26 Não foi demonstrada
predisposição sexual. Os sintomas mais comuns são anorexia e vômito. A doença evolui para
insuficiência hepática. O aumento da atividade sérica das enzimas hepáticas é o achado
laboratorial mais comum, principalmente ALT e FA (10 e 4 vezes o limite superior dos valores
de referência, respectivamente). A hipoalbuminemia e a hiperbilirrubinemia ocorrem em uma
parcela menor dos casos. O tratamento com imunossupressores e D-penicilamina é
comumente empregado em cães Labradores Retrievers com hepatite crônica associada ao
cobre, porém nenhum estudo controlado foi publicado.

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