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Material divulgado com fim didático da disciplina de Patologia Clínica Veterinária, UNIPAMPA, 2º semestre 2014.
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Wittwer F & Noro M. COMPÊNDIO DE PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA. Versão em Revisão. Tradução Miller, I.
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A creatinina, diferente da ureia, não é reabsorvi‐ manter a homeostase, culminando no hiperpara‐
da nos túbulos, sendo assim um indicador especí‐ tireoidismo secundário renal. Por outro lado,
fico da filtração glomerular. Deste modo, utiliza‐ quadros de hipoalbuminemia associados a albu‐
se sua determinação na urina para estimar o vo‐ minúria podem cursam com hipocalcemia.
lume urinário e com isto a depuração da excreção
urinária de metabólitos como Mg ou outros, sem • Kalemia
a necessidade de dispor da urina de um dia, situ‐ Animais com IRC terminal apresentam hiperka‐
ação difícil de obter em animais. Por exemplo: a lemia, exceto os ruminantes que cursam com
concentração urinária de Mg corrigida por creati‐ hipokalemia em função de sua excreção salivar.
nina é = concentração urinária de Mg/ concentra‐
ção urinária de creatinina. • Natremia
Na IRC perde‐se sódio junto com a depleção hí‐
4.5.1.2. Outros Analitos drica, gerando um hiponatremia.
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4.5.2.1. Amostra dros, e produzir cristalização de solutos alterando
A amostra necessária é de ± 20 mL de urina ainda os resultados físicos e químicos das amostras.
que para provas químicas possa ser um volume Para preserva‐la por mais tempo recomenda‐se
menor (1‐2 mL). A amostra deve ser recém‐ manter a amostra refrigerada (4°C) por até 12
obtida (menor a seis horas) e livre de contamina‐ horas após a obtenção. Previamente as análises
ção com fezes ou do solo. O ideal é obter a amos‐ deve‐se retornar a temperatura ambiente para
tra mediante micção natural, depois da realizada não se alterar a densidade. Outra alternativa é
a limpeza da vulva ou prepúcio. A porção inicial utilizar conservantes com ação antibacteriana
da amostra obtida mediante micção deve ser como tolueno, timol e formalina a 40% (20µL /30
eliminada por conter detritos celulares proveni‐ mL de urina), neste caso a amostra não pode ser
entes da uretra, prepúcio e trato genital. usada para análises químicas.
A micção pode ser estimulada com métodos psi‐
cológicos que variam de acordo com a espécie
(esfregar palha, água corrente, levar ao lugar de
costume, tirar da gaiola, etc.). Em bovinos pode‐
se realizar uma estimulação subvulvar com mo‐
vimentos suaves (Figura 4.3), nos machos medi‐
ante estímulo com movimentos circulares suaves
e superficiais no orifício prepucial, e em ovinos
deve‐se produzir apneia com as mãos no nariz,
por aproximadamente 30 segundos.
A cateterização vesical é realizada com maior
facilidade em fêmeas (Figura 4.3), com exceção
das cadelas. Deve‐se evitar utilizar substancias
como lubrificantes que podem contaminar a a‐
mostra e interferir na urinálise, assim como evitar
traumatizar a uretra.
A cistocentese é realizada em felinos e caninos,
sendo uma técnica fácil e rápida de se executar e
sem maiores riscos (Figura 4.3), sendo considera‐
da a de eleição para cultivos bacterianos e antibi‐
ograma.
• Armazenamento
A amostra de urina deve ser obtida em um reci‐
piente limpo, de vidro ou plástico, e estéril para
cultivo bacteriano ou antibiograma. Em casos de
a amostra não ser analisada brevemente deve‐se
ser obtida em frasco âmbar para inibir a degrada‐
ção da bilirrubina e o do urobilinogênio. As amos‐
tras de urina da manhã são preferíveis, visto que
não sofreram o efeito de diluição pela ingestão
de água durante o dia.
Idealmente a amostra deve ser processada até
duas horas de sua obtenção para evitar altera‐ Figura 0.36. Obtenção de uma amostra de urina
ções em sua composição, como proliferação bac‐ mediante micção induzida (A, vaca), cateterização (B,
cadela) e cistocentese (C, cão).
teriana. A urina alcalina pode dissolver os cilin‐
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4.5.2.2. Exame Físico inúria a quantidade de espuma é abundante e
• Volume demora a desaparecer.
A quantidade de urina excretada por dia depende Cores azul‐esverdeadas são vistas em urinas com
da espécie, dieta, ingestão de líquidos, tempera‐ o uso de antissépticos urinários, como o azul de
tura ambiente, umidade do ar, atividade fisiológi‐ metileno.
ca, tamanho e peso do animal. Em condições
normais, o volume urinário é inversamente pro‐
porcional à densidade urinária. Assim, a poliúria
(aumento na quantidade de urina excretada) é
associada a uma baixa densidade, e a oligúria
(diminuição do volume urinário) com uma alta
densidade.
• Cor
A cor da urina deve ser analisada junto a sua den‐
sidade e volume. Uma urina normal deve ser
amarela entre pálida a escura, cuja intensidade
se relaciona com a densidade da urina e a con‐
centração de urocromos e derivados do grupo
heme, como a urobilina.
Uma urina incolor ou muito pálida é vista na poli‐
úria (diabetes insipidus), IRC terminal, ingestão Figura 0.37. Urina de cavalo com mioglobinúria.
excessiva de líquido, hiperadrenocorticismo, pi‐
ometra, e a etapa poliúrica da nefrose tóxica. • Transparência
Uma cor amarelo intenso indica oligúria associa‐ A turbidez da urina é relacionada com a concen‐
da a desidratação, febre, diminuição da ingestão tração dos componentes orgânicos e cristais. A
hídrica, nefrite aguda (etapa oligúrica), e nefrose amostra de urina fresca deve ser transparente e
tóxica. límpida, exceto em equinos que é turva em fun‐
Urinas avermelhadas ou castanhas indicam pre‐ ção do abundante muco e cristais de carbonato
sença de sangue (hematúria ou hemoglobinúria) de cálcio. A abundância de células, como eritróci‐
ou mioglobina (rabdomiólise) (Figura 4.4); esta tos, leucócitos, epiteliais e outros elementos co‐
última pode ser diferenciada já que não precipita mo muco, bactérias e cristais produzem turbidez.
com sulfato de amônia a 80%. A urina com hema‐ A melhor forma de detectar a causa da turbidez
túria ao ser centrifugada sedimenta os eritrócitos da urina é realizando o exame de sedimento uri‐
e o sobrenadante fica límpido, não sendo assim nário. A turbidez da urina por contaminantes do
na hemoglobinúria. Em equinos a cor castanha é trato urinário pode ser evitada pelo uso do cate‐
normal em amostras obtidas após certo tempo terismo.
devido a oxidação do catecol.
• Odor
A urina com cor alaranjado‐âmbar ou amarelo‐ Depende da espécie e da concentração da urina,
esverdeada, com formação de espuma alaranjada sendo variável conforme a presença de ácidos
ou esverdeada, quando agitada, é relacionada orgânicos voláteis. O odor sui generis ou o nor‐
com a presença de bilirrubina. mal dos herbívoros é aromático; nos carnívoros é
Urinas esbranquiçadas indicam abundância de mais intenso tendendo ao picante e aliáceo. O
leucócitos (ex.: pielonefrite, cistite). No entanto, odor da urina dos machos das espécies como o
uma urina normal quando agitada forma uma suíno, felino e caprino é mais pronunciado, algu‐
espuma branca característica. Em casos de prote‐ mas vezes é repugnante.
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Os odores mais frequentemente encontrados mações sobre: pH, albumina, glicose, corpos ce‐
são: tônicos, bilirrubina e sangue.
o Amoniacal: forte, produzido pela quebra da
ureia, ocorre em infecções bacterianas, espe‐
cialmente em cistites, ou ainda em amostras
envelhecidas a temperatura ambiente.
o Adocicado: em acetonemias e diabetes melli‐
tus, onde se detecta a acetonúria.
o Pútrido: indica necrose tecidual das vias uriná‐
rias.
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Figura 0.39. Elementos observados ao examen microscópico da urina. A. eritrócitos (hematúria em gato); B. leucócitos
(vaca); C. células epiteliales escamosas (cão); D cilindro granular (cão).
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• Células estro, e pós‐parto. O aumento do número de
As células são diferenciadas em relação a sua células epiteliais renais, de transições ou escamo‐
morfologia como epiteliais (procedentes do epi‐ sas indica inflamação do rim, bexiga ou uretra,
télio renal, pelve, ureter, bexiga e uretra) ou san‐ respectivamente. Alterações com retenção uriná‐
guíneas (eritrócitos e leucócitos). Normalmente ria em amostras envelhecidas podem apresentar
podem ser encontrados: eritrócitos (menos de 3/ células degeneradas.
pc); leucócitos (menos de 5/ pc); e células epiteli‐
ais de descamação dos epitélios renal (0/ pc), de • Cilindros
transição (bexiga) (menos de 2/ pc) e escamosas Constituídos principalmente de mucoproteínas e
(uretra)(menos de 2/ pc). Uma quantidade eleva‐ proteína que se aderem a outras estruturas e
da de células (maior a 5/pc) pode indicar lesão moldam‐se nos túbulos onde são formados (ex.:
local ou difusa. O aumento do número de eritró‐ ductos coletores, túbulos contorcidos e alça de
citos indica hematúria e o aumento do número Henle), onde a urina obtém sua máxima concen‐
de leucócitos uma piúria, que é vista em inflama‐ tração e acidez, favorecendo a precipitação das
ções ou necrose dos rins e via urinárias (nefrite, proteínas e mucoproteínas, que não se formam
pielonefrite, cistite, uretrite, ureterite, pielite, em pH alcalino. Corresponde a formações que
prostatite, metrite). Em pH alcalino os leucócitos não são observadas em animais sadios, de modo
tendem a encontrar‐se na forma de grumos. A‐ que uma cilindrúria indica uma alteração renal,
lém disso, observa‐se hematúria em traumas exceto a presença de escassos cilindros hialinos
(cateterização, cistocentese, neoplasias renais, ou granulares finos. Podem ser de diversos tipos
vesicais ou prostáticas), e em congestão renal de acordo com a presença de estruturas incorpo‐
passiva, infarto renal, parasitos (Dioctophma radas nestes (Tabela 4.8).
renale, Sthefanurus sp., dirofilariose), intoxicação
(cobre e mercúrio), transtornos da hemostasia,
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(suínos), Dioctophyma renale (cães) e Dirofilaria Tabela 0.9. Cristais encontrados nas urinas ácidas
immitis (cães). e alcalinas.
pH ácido pH alcalino
• Fungos e Leveduras Urato amorfo Fosfato triple
Oxalato de Ca Fosfato amorfo
Pela contaminação da amostra ou por infecção.
Ácido hipúrico Carbonato de Ca
Cistina Urato de amônio
• Espermatozoides
É normal encontrar‐se nos cães, ou em fêmeas
A cristalúria é fisiológica, possuindo pouco valor
após a monta. Em bovinos pode indicar um dis‐
clínico, exceto quando é associada com sinais de
túrbio reprodutivo.
urolitíase. Por outro lado, pode haver urolitíase
sem cristalúria. Os cristais de carbonato de cálcio
• Cristais
são abundantes nos equinos. Em algumas condi‐
Constituem o sedimento inorgânico, formados
ções a cristalúria é indicativa de transtornos na
por sais excretados pela urina, que de acordo
saúde, como por exemplo os cristais de bilirrubi‐
com seu pH precipitam formando cristais de for‐
na em hepatopatias e de oxalato de cálcio na
mas características que permitem identifica‐los
intoxicação por etilenoglicol. Algumas drogas são
(Tabela 4.9).
excretadas pelos rins como cristais (ex.: sulfona‐
midas e ampicilina).
Tabela 0.10. Achados no exame da urina nas alterações do trato urinário e extra urinário.
Enfermidade Exame físico e químico Sedimento
Enfermidade renal aguda N ou⇓ densidade, proteinúria Cilindros, leucócitos, eritrócitos
Insuficiência renal aguda ⇓ densidade Cilindros, leucócitos, células epiteliais
Insuficiência renal crônica ⇓ densidade, ⇓ pH Cilindros presentes ou ausentes
Cistite Proteinúria pós‐renal Bactérias, leucócitos
Neoplasia urinária N ou ⇓ densidade Células neoplásicas, hematúria
Hemólise ⇑ hemoglobina, bilirrubina Hematúria
Hepatopatia ⇑ bilirrubina, ⇑ urobilinogênio Cristais de bilirrubina
Diabetes mellitus Glicose e corpos cetônicos Bactérias, leucócitos
Diabetes insípida ⇓ Densidade e poliúria _
N= normal; ⇓= diminuída; ⇑= aumentada
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extracelulares de sódio (10 e 140 mmol/L) e de As mudanças nas concentrações plasmáticas de
potássio (140 e 4 mmol/L), respectivamente. sódio são produzidas por variações na ingestão,
ou por perda de sódio ou água.
O volume circulatório efetivo corresponde ao
fluido extracelular plasmático, que reflete o vo‐ A hiponatremia pode ser consequência de:
lume extracelular total, que é dependente da • Retenção de água em casos de insuficiência
concentração de sódio já este retém água, de cardíaca congestiva, lesão hepática ou renal
modo que o aumento do sódio é acompanhado severa, ou hiperhidratação.
de retenção de água e vice‐versa. • Perda gastrointestinal de sódio por vômitos
ou diarreia. A perda digestiva em diarreias
O balanço metabólito de água é determinado por constitui uma das causas mais frequentes, as‐
seu ingresso (absorção + produção metabólica) e sim como o jejum ou a sudorese excessiva em
os egressos insensíveis (urina, fezes, pele). Os equinos.
mecanismos fisiológicos que regulam a osmolari‐
dade (concentração de solutos em uma solução, A hipernatremia é associada a:
expressa em osmoles), o fazem variando a água • Restrição de água com desidratação por inges‐
total sem modificar os solutos, sendo eles são a tão insuficiente, ou perda excessiva por vômi‐
sede e sistema antidiurético. tos ou diarreia.
A desidratação corresponde a uma diminuição do • Ingestão excessiva de sódio, que é observada
volume total de água, produzida por uma menor na intoxicação por sal em terneiros e suínos.
ingestão de líquido em um animal que mantem
ou aumenta sua excreção de água. Para sua de‐ As alterações na concentração plasmática de
terminação avalia‐se a diminuição da volemia potássio são produzidas por variações na inges‐
que cursa com hemoconcentração apreciável tão, redistribuição intra‐extracelular, ou da ex‐
pelo aumento da quantidade de eritrócitos. O creção de potássio.
indicador mais utilizado é a determinação do
hematócrito (ver Capítulo 2), cujo aumento é A hipokalemia pode ser produzida por:
proporcional ao grau de desidratação. Na desi‐ • Ingestão insuficiente em casos de anorexia,
dratação também aumenta a concentração de como ocorre na síndrome da vaca caída.
solutos no plasma, que é visto mediante hiper‐ • Redistribuição do conteúdo extra para intrace‐
proteinemia. Outras evidências de desidratação lular na alcalose metabólica.
são derivadas da menor excreção renal de água • Perda elevada pelo trato digestivo (vômito ou
com azotemia, e a densidade da urina. diarreia), cutânea (sudorese em equinos) ou
renal.
4.6.2. Eletrólitos: Na e K E a hiperkalemia pode se desenvolver por:
As mudanças observadas nas concentrações • Ingestão excessiva (infrequente).
plasmáticas de sódio e potássio constituem as • Redistribuição do meio intra para extracelular
alterações mais significativas no balanço de ele‐ na acidose metabólica.
trólitos (ver em 3.6.4 e 3.6.5). Estas mudanças
• Diminuída excreção renal, na fase terminal da
podem ser produzidas por: a) ingestão diminuída
insuficiência renal, exceto em equinos em que
ou aumentada; b) mobilização a partir ou para o
a insuficiência renal cursa com hipokacemia).
meio intracelular; c) aumento na retenção renal;
e d) aumento na perda renal, digestiva ou cutâ‐
Uma falsa hiperkalemia é observada pelo uso de
nea.
plasma com EDTA‐K e em amostras hemolisadas,
especialmente em espécies com eritrócitos de
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elevado conteúdo de potássio como os equinos, estabelecer a diferença entre valores de CK obti‐
bovinos e suínos. dos previamente e a quatro horas após o exercí‐
cio, pode ser útil na avaliação do grau de condi‐
4.7. AVALIAÇÃO MUSCULAR cionamento ao exercício em equinos de esporte,
O diagnóstico das doenças que afetam aos mús‐ onde não deve duplicar seu valor em relação ao
culos esqueléticos constitui uma atividade impor‐ basal, por outro lado, estes devem retornar a
tante na clínica veterinária, especialmente em valores basais até 24 horas após o exercício. A
animais destinados a atividades esportivas. A vida média da CK em cavalos é curta, duas horas,
alteração muscular pode ser produzida por lesão de modo que tende rapidamente a desaparecer
aos miócitos ou por alteração em sua atividade. após uma lesão voltando a valores basais em um
Sua avaliação é de especial interesse em equinos a dois dias de terminada a injúria. Aumentos le‐
de esporte, nos quais se utilizada para o diagnós‐ ves na CK são observados após uma injeção mus‐
tico de lesões musculares, assim como na avalia‐ cular e por hemólise na amostra.
ção do grau de condicionamento a uma atividade
esportiva, já que seus transtornos constituem A atividade sérica da AST também aumenta após
uma causa importante em seu mau desempenho uma lesão muscular (maior a 50% em relação ao
e perdas econômicas. seu valor basal), mas com menor sensibilidade
que a CK, além de não ser específica para lesão
Reconhecem‐se diversas doenças que compro‐ muscular. A AST também aumenta em animais
metem os músculos esqueléticos que requerem com lesão hepática, mas apresenta uma vida
de métodos mais específicos de laboratório para média plasmática mais longa que a CK, sendo
seu diagnóstico. Entre as doenças que mais afe‐ assim de utilidade no estudo da evolução de uma
tam os músculos destacam‐se: miosite inflamató‐ lesão (Figura 4.7). O aumento da CK indica uma
ria, miopatia nutricional (deficiência de vitamina lesão muito recente, o aumento da CK e da AST
E e selênio) e as miopatias traumáticas, degene‐ indica uma lesão recente ativa e um aumento
rativa (distrofia muscular, rabdomiólise, hiper‐ apenas da AST indica que a lesão finalizou a mais
termia maligna, síndrome do estresse suíno) e de dois dias e se encontra em evolução.
imunomediada (miosite eosinofílica).
4000
4.7.1. Avaliação da lesão dos Miócitos
A lesão dos miócitos pode ser detectada median‐ CK
Atividade sérica (UI/L)
3000
te análises de sangue, nas quais se determinam a AST
atividade sérica ou plasmática das enzimas CK, 2000
AST e LDH (ver em 3.7) ou da concentração san‐
guínea de mioglobina e troponina. 1000
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merular. A necrose muscular por exercício inten‐ nergia, na que aumenta a produção de ácido
so e outros processos crônicos que provocam a pirúvico que se transforma em ácido láctico ao
ruptura das fibras musculares aumenta a mioglo‐ não ser incorporado ao ciclo de Krebs por falta de
bina circulante no plasma e consequentemente oxigênio. Um aumento acima de quatro4 mmol/L
sua excreção pela urina. Se esta eliminação é é indicativo de desequilíbrio entre sua produção
muito marcada aparece a mioglobinúria dando a e utilização, que no caso do exercício conduz a
urina uma cor marrom característica (Figura 4.4). acidose muscular e fadiga. Apresenta‐se em situ‐
Em casos de menor intensidade pode‐se detectar ações de esforço, como as realizadas por animais
mediante o uso de fitas reativas as quais também que efetuam exercícios de alta demanda de e‐
reagem com hemoglobina. Esta última é uma nergia em curto período de tempo.
molécula de maior tamanho de modo que nor‐
malmente é retida pelo rim. A determinação da concentração plasmática do
ácido láctico (L‐lactato) é um bom método para
Troponinas são proteínas de baixo peso molecu‐ avaliar a capacidade aeróbica dos cavalos e pro‐
lar estão associadas com a regulação da contra‐ gramas de treinamento, para tanto se determina
ção muscular. Sua concentração plasmática au‐ a velocidade a que alcança a concentração de 4
menta ao ser liberada ao sangue como conse‐ mmol/L, sendo este um valor definido como V4.
quência de uma lesão muscular. Para a avaliação Cavalos com uma maior capacidade aeróbica
da lesão ao miocárdio utiliza‐se a determinação apresentaram valores superiores de V4 nas mes‐
da isoenzima específica troponina I. mas condições de exercício efetuadas previamen‐
te ao treinamento.
4.7.2. Avaliação da Atividade Muscular
A lactacidemia é o analito mais empregado para Maiores informações sobre este analito se en‐
avaliar a atividade muscular. Sua produção au‐ contram no Capítulo de Bioquímica clínica (ver
menta frente a uma demanda muscular por e‐ 3.2.3).
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