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Pseudomonas aeruginosa

Prof. Adjunto Ary Fernandes Junior


Departamento de Microbiologia e Imunologia
Instituto de Biociências - UNESP
Distrito de Rubião Júnior s/n
CEP 18618-000/ Botucatu/ SP /Brasil
Tel. 14 3880.0412
ary@ibb.unesp.br
Pseudomonas
Gessard (1882) - Bacillus pyocyaneus
Migula (1894) - Pseudomonas
Dispostas em pares de células que lembram uma
única célula

Em 1992, esse gênero foi subdividido em vários


novos gêneros (ex. Burkholderia e Stenotrophomonas)
CLASSIFICAÇÃO

Família Pseudomonadaceae

Pseudomonas (P. aeruginosa e outras),


Stenotrophomonas (S. maltophilia),
Burkholderia (B. cepacia, B. pseudomallei),
Acinetobacter, Xanthomonas, Frateuria,
Zoogloea, etc.
CLASSIFICAÇÃO

Gênero Pseudomonas
200 espécies e 18 subespécies

Pouco exigentes nutricionalmente


(Inúmeros compostos orgânicos como fonte de
C) Ampla distribuição na natureza Grande
versatililidade
P. aeruginosa PAO1 6,3
milhões de pares de base;
5.570 genes (open reading
frames - ORFs); 8,4% dos
genes são de regulação

(Stover et al., 2000)


Taxonomia Similaridades RNAr e relacionamentos
filogenéticos

Grupo I:
- Pseudomonas “verdadeiras”
- Subdivisão γ das Proteobactérias
- Exemplos: P. aeruginosa, P. fluorescens, P. putida
– espécies relacionadas

Grupo II:
- Subdivisão β das Proteobactérias
- P. cepacia, P. mallei Burkholderia
- P. solanacearum, P. picketti Ralstonia
Grupo III:
- Subdivisão β das Proteobacérias
- P. testosteroni Comamonas
- P. acidovorans Comamonas Delftia
- P. facilis Acidovorax
- P. palleronii Hydrogenophaga
- P. saccharophila

Grupo IV:
- Subdivisão α das Proteobactérias
- P. diminuta, P. vesicularis Brevundimonas

Grupo V:
- Subdivisão γ das Proteobactérias
- P. maltophilia Xanthomonas Stenotrophomonas
Classificação de algumas pseudomonas clinicamente
importantes
Pseudomonas
Pertence ao grupo I homologia de rRNA
Grupo Fluorescente (Pigmento pioverdina =
fluoresceína Difusível) P. aeruginosa,
P. fluorescens, P. putida)

Grupo Não Fluorescente P. stutizeri,


P. mendocina)
Pseudomonas
Bacilos Gram-negativos pertencentes ao
grupo de não-fermentadores (Aeróbios)

Ubíquos: Solo, matéria orgânica em


decomposição, vegetação, água, ambiente
hospitalar em reservatórios úmidos

Exigências nutricionais míninas: Acetato e


amônia como fontes de carbono e de nitrogênio
(Biorremediação)
Pseudomonas

É incomum a colonização persistente, como


parte da microbiota normal humana

Não resistem ao ressecamento e baixas


temperaturas
Pseudomonas aeruginosa (± 70% das
doenças por Pseudomonas
Pseudomonas))
Bacilos Gram negativos, retos ou ligeiramente
encurvados, isolados ou aos pares, curtos
(≅ cocobacilos) (1,5 a 3,0 µm de comprimento e
0,5 µm de diâmetro)
Pseudomonas aeruginosa
Móveis (monotríqueas) (as vezes 2 ou 3
flagelos)

Fimbrias - Importante para patogenicidade

Não esporulada
Algumas cepas capsuladas (cápsula de
polissacarídeo - Alginato) (liga-se ao ácido siálico da
membrana plasmática) (Aspecto mucóide da colônia)
Em P. aeruginosa, os flagelos são necessários para aproximar a bactéria da superfície, enquanto o LPS media as primeiras
interações, havendo talvez a participação de proteínas da membrana externa. Quando formam monocamadas, fímbrias tipo
IV mediam o movimento pulsante, necessário à formação de microcolônias. A produção destas fímbrias é regulada, em parte,
por sinais nutricionais (Crc), havendo ainda a ativação de genes envolvidos na síntese de alginato e repressão de genes
flagelares. A formação do biofilme maduro envolve a participação de homoserina lactonas sinalizadoras.
Nature Reviews Microbiology 8, 623-633 (September 2010)

a | A model of a bacterial biofilm attached to a solid surface. Biofilm formation starts with the attachment of a cell to a surface. A microcolony forms
through division of the bacterium, and production of the biofilm matrix is initiated. Other bacteria can then be recruited as the biofilm expands owing to cell
division and the further production of matrix components. b | The major matrix components — polysaccharides, proteins and DNA — are distributed
between the cells in a non-homogeneous pattern, setting up differences between regions of the matrix. c | The classes of weak physicochemical interactions
and the entanglement of biopolymers that dominate the stability of the EPS matrix47. d | A molecular modelling simulation of the interaction between the
exopolysaccharide alginate (right) and the extracellular enzyme lipase (left) of Pseudomonas aeruginosa in aqueous solution. The starting structure for the
simulation of the lipase protein was obtained from the Protein Data Bank117. The coloured spheres represent 1,2-dioctylcarbamoyl-glycero-3-O-
octylphosphonate in the lipase active site (which was present as part of the crystal structure), except for the green sphere, which represents a Ca2+ ion. The
aggregate is stabilized by the interaction of the positively charged amino acids arginine and histidine (indicated in blue) with the polyanionic alginate.
Water molecules are not shown. Image courtesy of H. Kuhn, CAM-D Technologies, Essen, Germany.
Catalase positiva (Aeróbias estritas) (algumas
crescem anaerobicamente na presença de Nitrato-
receptor de elétrons, sendo o nitrato reduzido a
nitrito).
O teste é revelado Redução do
através da adição nitrato a nitrito e
de 3 gotas do nitrito a gás (após
reativo de Griess A a adição de zinco
com 3 gotas do em pó)
reativo de Griss B
no caldo nitrato

Não fermentam carboidratos (BGNNF)(utilizam


poucos carboidratos (glicose, ribose e gluconato),
Oxidam glicose pequena quantidade de
ácidos, citocromo oxidase positiva (Diferenciar
das enterobactérias)

Escherichia coli. (Ann C. Smith, Pseudomonas aeruginosa (Ann C. Smith,


University of Maryland, College Park, MD) University of Maryland, College Park, MD)

Oxidação do Citocromo C pelo O2


Para fenilenodiamina é oxidado
pela enzima adquirindo cor
vermelha
Pseudomonas (+),
Enterobactérias (-)
Não exigentes nutricionalmente (cepas
multiplicam em água destilada e algumas podem
utilizar mais de 30 compostos orgânicos como
fonte de C e N)

Em Ágar Sangue β hemólise

Produção de pigmentos difusíveis (hidrosolúveis


- Piocianina - Azul, e Fluresceina (Pioverdina)
(algumas produzem também Piorrubina-vermelho)
PIGMENTO PIOCIANINA
Patógeno oportunista Introduzida em áreas
desprovidas de defesas normais (mucosa ou pele
rompidas por lesões teciduais diretas; cateteres
intravenosos ou urinários, neutropenia quando na
quimioterapia de tratamento de câncer)

Cresce bem entre 37oC e 42oC

Resistente a corantes, muitos anti-sépticos e


drogas antimicrobianas (comum nos hospitais)
Quege GE, Bachion MM, Lino Junior RS, Lima ABM, Ferreira PS, Santos QR, Pimenta FC. Comparação da atividade de ácidos graxos essenciais
e biomembrana na microbiota de feridas crônicas infectadas. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2008;10(4):890-905
Principais fatores de virulência de P. aeruginosa
Fímbrias
Cápsula Polissacaridica
(Alginato)

Endotoxina (LPS)

Flagelo

-Proteases:
Elastases (LasA, LasB)
Protease Alcalina
Outros -Hemolisinas:
produtos Fosfolipase C
Ramnolipídio
-Exotoxina A
-Exoenzima S
-Piocianina
Fatores de Virulência associados à P. aeruginosa
Fator de virulência Efeito biológico

Fímbrias Aderência ao epitélio respiratório


(Neuraminidase) (Melhora adesão das fímbrias)

Cápsulas de polissacarídios Aderência ao epitélio traqueal (receptor


(Polimeros de ácido manurônico e ácido siálico da MP), anti -fagocitose
gulurônico) = Alginato ou alginolato

Endotoxina (LPS) (lipídeo A) Febre, oligúria, leucopenia ou leucocitose,


coagulação intravascular disseminada (CID),
anormalidades metabólicas, choque

Exotoxina A (mais importante Impede alongamento da cadeia polipeptídica


(Termo lábil e imunogênica) (Inibe síntese protéica) - danos a tecidos e
inibe ação de fagócitos

Exoenzima S (Termo estável e Ação semelhante da exotoxina A


imunogênica)
Fator de virulência Efeito biológico
Elastase Lesão do tecido vascular (quebra elastina e
colágeno) - lesões hemorrágicas (=éctima
gangrenoso), inibição da função dos
neutrófilos (interfere na resposta inflamatória
e imunológica)

Protease alcalina (atividade em pH Lesão tecidual, anticomplementar,


alcalino) inativação da IgG, inibição da função dos
neutrófilos (interfere na resposta inflamatória
e imunológica)

Fosfolipase C Hemolisina termo lábil, ação necrosante


(degradação de lipídeos e lecitina) (fosfatidil
colina da membrana de eritrócitos)

Leucocidina Inibe ação de neutrófilos e linfócitos (capaz


de matar o fagócito mesmo após a bactéria
ter sido fagocitada)

Bacteriocinas (Piocinas) Matar bactérias (microbiota normal)


Fatores de virulência

Fímbrias do tipo IV
Receptor: Gangliosídeo GM1 quando desprovido
de ácido siálico

Sialidase (Neuraminidase)
Fatores de virulência

Tipo “a” pertence a um grupo heterogêneo PM


45 a 52 Kda
Flagelo
Tipo “b” flagelina peso molecular de
53KDa

Lipopolissacarídeo (LPS) Liberação de citocinas

Febre, oligúria, leucopenia ou


leucocitose, coagulação intravascular
disseminada (CID), anormalidades
metabólicas, choque
Obs. LPS adesão ao
tecido pulmonar e às células
da córnea
Fatores de virulência
Alginato Polímero de ácido α-L- gulurônico e β-D-
manurônico) Antifagocítico e de adesão

Produção de alginato (gene alg) - mutação gene muc –


condições normais inibe a expressão do gen alg

Produção de alginato em meio


Luria-Bertani (LB) Agar sem NaCl
e incubados a 37°C durante 12 h,
e, a 25°C durante 24 h para
melhorar a pigmentação.
A. tipo selvagem (linhagem
PAO1). B. linhagem mucóide
isolada de paciente com fibrose
cística (FRD1 (mucA22).
Fatores de virulência

Alginato/biofilme
Microscopia eletrônica de P. aeruginosa em superfícies de vidro. Fracamente aderentes formando uma monocamada
(B e D) e moderada e fortemente aderente (A e C). (A e B; 7 e 14 h após a inoculação, respectivamente) e com o
biofilme (C e D; 20 e 40 h, respectivamente, após a inoculação) .
Deligianni et al. BMC Microbiology 2010 10:38
a) biofilme sobre a superfície de granito. Barra de escala, 10 mícrons.
b) ampliação de um biofilme mostrando em a P. aeruginosa e filamentos de matrix
extracelular. Barra de escala, 1 mícron. (Whiteley et al, 2001)
Fatores de virulência
Elastase A (LasA) – serina protease

Proteases Elastase B (LasB) –metaloprotease –Zinco

Protease Alcalina Lesão do tecido vascular


(quebra elastina e
colágeno) - lesões
LasA hemorrágicas (=éctima
Elastina
gangrenoso), inibição da
Protease Parede vascular função dos neutrófilos
LasB
Alcalina (interfere na resposta
e tecido
inflamatória e imunológica)
pulmonar

lesões de pele e tecidos


hemorragia e necrose
Fatores de virulência

Fosfolipase C (Plc) Ação necrosante (degradação


de lipídeos e lecitina) (fosfatidil
(hemolisina termo lábil) colina da membrana de
eritrócitos)

Ramnolipídeo (Rhl) – Glicolipídeo (ramnose)

Ramnolipídeo

Ação
sinérgica surfactante pulmonar

Fosfolipase C
Fatores de virulência

Exotoxina A (termo lábil e imunogênica) Inibe síntese


protéica Danos a tecidos e inibe ação de fagócitos

Exotoxina A

EF-2 Fator 2 de elongação

Exotoxinas (ExoS (90% das cepas), ExoT, ExoU, ExoY)


(termo estável e imunogênica) Tóxicas para fagócitos
(macrófagos), danos teciduais)
Fatores de virulência

Pigmentos
Piocianina
Catalisa a produção de superóxido e peróxido de
hidrogênio
-Danos aos tecidos endoteliais
-Impede o crescimento de outras bactérias
-Elimina a atividade ciliar respiratória
-Produz danos oxidativos nos tecidos oxigenados,
como o pulmonar

Pioverdina Sideróforo que se liga aos íons ferro e


pode regular secreção de outros FV (Exotoxina A)
Fatores de virulência

Leucocidina Inibe ação de neutrófilos e linfócitos


(capaz de matar o fagócito mesmo
após a bactéria ter sido fagocitada)

Paradoxo da P. aeruginosa Muitos fatores virulência


Por que patógeno oportunista???

-Incapacidade de completar os primeiros passo da infecção


Não é capaz de invadi-las
-Não conseguem manter a colonização persistente
concomitantemente com a produção de fatores tóxicos que
causariam danos ao indivíduo
Patogenicidade
PACIENTES DE RISCO
-Queimaduras
-Fibrose cística
-Transplante de órgãos
-Traqueostomia
-Cateteres permanentes
-Neoplasia hematológica, diabetes, uso
corticóides, uso de antibióticos, próteses
intravascular, cateterização, etc.
Manifestações clínicas causadas por Pseudomonas aeruginosa
Manifestação clínica Condições predisponentes

Endocardite Viciados em drogas injetáveis, indivíduo com prótese de válvulas


cardíacas, cirúrgias cardíacas (acometimento de valvas
cardíacas)

Sepsis Cirurgias, cateterização, queimaduras graves, leucemia,


diabetes mellitus

Infeções pulmonares Pacientes com fibrose cística , pacientes entubados (lesão do


(Traqueobronquites, epitélio traqueal)
Broncopneumonia
necrosante)

Infecções de ouvido Natação é um importante fator de risco


(otite)

Infecções de feridas por


queimaduras

Infecções das vias Normalmente através de sondas vesicais (infecção nosocomial)


urinárias

SNC - Meningites Via hematogênica, extensão de estruturas contíguas(ouvido, seios


paranasais) ou por via direta (punção lombar, traumatismo)

Infecções oculares Associado a uso de lentes de contato, após cirurgias no olho


(ceratite e endoftalmite)
Dermatite por Pseudomonas aeruginosa
Ceratite por Pseudomonas aeruginosa
Infecção por Pseudomonas aeruginosa
Ectima gangrenoso

Vesículas eritematosas
que se tornam
hemorrágicas, necróticas e
ulceradas
Diagnóstico
cultura: isolamento e identificação
Material Clínico (lesões cutâneas, pús, urina, fezes, sangue,
líquido cefaloraquidiano, escarro, etc)

Ágar sangue: hemolítica Gram: BGN


McConkey: lactose negativa

série bioquímica

- oxidase positiva

não fermentador - movimento positivo


- crescimento a 42º C
- pigmento
Diagnóstico

Bacterioscopia Método de Gram


Diagnóstico

ISOLAMENTO

Ágar sangue: hemolítica

McConkey: lactose negativa


Meio seletivo para P. aeruginosa para
análise de água para consumo humano.
Tratamento

Resistência à inúmeras drogas

Imipenem

Aminoglicosídeos (gentamicina)

Fluoroquinolonas (ciprofloxacina)

Polimixinas (caso de multiresistentes)


Gonçalves et al., 2009 Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 42 (4), 2009
Epidemiologia

-Taxa de portadores na comunidade: 0 a 6%


-Taxa de portadores no hospital: 50%
-Fontes de infecção diversificadas: flores, verduras,
equipamentos respiratórios, água, medicamentos,
endoscópios, anti-sépticos, prótese.
-Fontes humanas do microrganismo podem ser
pacientes, profissionais de saúde ou visitantes.
-Práticas efetivas de controle de infecção devem ser
concentradas na prevenção da contaminação de
equipamentos estéreis, como equipamento de
ventilação mecânica e máquinas para diálise.
Muito obrigado!!!

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