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História da Pedagogia Sistêmica

Conteudista: Prof.ª Esp. Giselle Maltaca de Almeida


Revisão Textual: Esp. Jéssica Dante

Objetivos da Unidade:

Compreender os aspectos históricos e conceituais da pedagogia sistêmica;

Conhecer as dinâmicas sistêmicas entre família e escola; 

Identificar o lugar de cada indivíduo no Sistema família e escola, e o lugar do Constelador


nessa relação.

ʪ Contextualização

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências
1/4

ʪ Contextualização

A prática do Constelador com uma visão ampla das áreas de atuação, como saúde, direito e educação, fará
com que você se torne um profissional com percepções avançadas durante os seus atendimentos. Isso não
quer dizer que você necessite atuar em todas essas esferas, no entanto, por se tratar de um trabalho
Sistêmico, conhecer o todo fará com que o acesso as partes esteja disponível com mais facilidade. Digo
isto pelo fato de que na sua atuação, por exemplo, como um Constelador Educacional, possa surgir um
sintoma de saúde ou uma situação de desentendimento, por exemplo, um divórcio do casal, que esteja
interferindo na aprendizagem do filho.

Na prática de Constelação, você irá perceber a importância da postura e compreender na experiência o


significado dessa palavra. Observar o campo, ouvir com atenção e principalmente despir-se de seus
preconceitos sobre determinado tema, faz parte dessa postura.

O meu desejo é de que com esta disciplina, você possa estar atento aos sinais que possam surgir na
relação indivíduo e aprendizagem que intenciona mostrar além do que apenas uma dificuldade, sair do
estreito e ir para a amplitude. Eu vejo vocês.
2/4

ʪ Material Teórico

Introdução
Nesta Unidade vamos abordar os princípios da Pedagogia Sistêmica. Bert Hellinger, pedagogo e teólogo
alemão que desenvolveu a abordagem das Constelações Familiares, a partir da observação de padrões
familiares repetitivos e desordens nestes sistemas. Em seguida, Marianne Frank, a partir da insatisfação
como professora e vendo a mesma situação com alguns colegas, conheceu Bert e, trouxe esse olhar para
dentro do ambiente escolar e percebendo mudanças significativas no comportamento e aprendizagem dos
alunos, com nas relações no ambiente escolar.

Lembre-se que é necessário seu acesso aos links dos Materiais Didáticos, onde encontrará o conteúdo e as
atividades propostas para esta Unidade. Neste mesmo espaço você terá acesso às indicações de leituras
complementares para o aprofundamento das discussões nos espaços disponibilizados no ambiente virtual.
Experimente realizar a leitura, interagir com seus colegas, com a tutoria nos fóruns de discussão desta
Unidade, e assim ampliar ainda mais seu aprendizado.

Desejo que o conteúdo aqui apresentado, possa trazer entendimento e segurança em sua prática, com a
intenção de apoiar outras pessoas e também para seu autoconhecimento.

Reflita
Qual a postura que você assume ao iniciar esta disciplina? Experimente trazer um olhar
amplo, pois nele encontra-se a solução, uma vez que no todo vemos as partes.

História da Pedagogia Sistêmica

Origem
O surgimento da Pedagogia Sistêmica veio a partir da aplicação do trabalho do mestre Bert Hellinger por
Marianne Franke no ambiente escolar. Ela observou que utilizar alguns exercícios em sala de aula com a
intenção de aplicar sutilmente as leis do amor, trouxe grandes mudanças na aprendizagem e no
comportamento dos estudantes. Na verdade, não se trata de uma nova técnica de ensino, e sim uma nova
postura diante dos alunos, respeitando sua história e trazendo para eles a compreensão de que fazem parte
de um sistema familiar que possibilitou sua vida e que permitem que possam seguir adiante cada qual com
suas escolhas.

A necessidade de uma nova postura diante da complexidade de alguns comportamentos dentro da escola,
como a insatisfação dos profissionais por não saber como lidar com esses movimentos, permeia toda a
validação da Pedagogia Sistêmica. Diante de uma sociedade cada vez mais inclusiva, esse olhar e essa
postura possibilitam que cada indivíduo se reconheça e seja reconhecido como único e pertencente ao todo.

Durante o processo de inclusão da abordagem na escola onde atuava, Marianne observou que o desejo dos
profissionais era de transformar esse aluno, retirá-lo de um ambiente hostil, das dificuldades familiares e de
hábitos que pudessem estar prejudicando-o. No entanto, a verdade era que o movimento estava na
contramão, ou seja, aceitar a família e o contexto social em que esse aluno está inserido faz com que ele
tenha força e sinta-se fazendo parte do grupo. “Trata-se, sobretudo, de respeitar o destino de outros
membros familiares, especialmente o dos pais e irmãos” (FRANKE-GRICKSH, 2018, p. 19).

Por meio do conhecimento Sistêmico, pode-se reconhecer o que esses estudantes faziam por lealdade à
sua história e que interferia no seu processo de aprendizagem. Isto quer dizer, olhar o todo sem esquecer
das partes, focar na solução que na maioria das vezes não está no estreito e sim no amplo.
“ Gostaria de dizer algo sobre amplidão. Muitos problemas surgem porque nós nos

agarramos, por assim dizer, ao próximo e ao estreito. Entretanto o estreito, o próximo só


tem o significado e sua força na ligação com aquilo que ultrapassa. A solução consiste
em ir para além, para o amplo.”

- HELLINGER, 2019, p. 27

Em síntese, a pedagogia sistêmica vem ao encontro de uma busca por respostas aos comportamentos dos
alunos e as dificuldades dos professores em trabalhar com essas situações em sala de aula. Dentro da
perspectiva das Constelações e do trabalho como terapeuta constelador é possível trazer soluções leves,
com o entendimento de que o que o aluno apresenta pode ser um desejo de sua alma do reconhecimento da
sua história, da sua família, considerando também uma lealdade inconsciente ao professor de trazer para si
um entendimento da própria história. 

Reflita
“Maria é uma aluna que tem dificuldade de atenção, está sempre olhando para os lados e se
distraindo durante as atividades. A professora chama muito sua atenção dizendo que ela
vive no mundo da Lua e que deve se dedicar às atividades. Um certo dia, Maria conta para a
professora que antes de nascer sua mãe havia perdido um bebê, e que ela seria a segunda
filha e não a primeira. A professora percebe que essa menina está apenas procurando seu
lugar, por isso não se atenta às atividades. A professora ainda lembra que também teve um
irmãozinho que não nasceu e que às vezes se distrai em suas tarefas. Neste momento a
professora, internamente, dá um lugar no seu coração para o seu irmão e para essa aluna,
como se dissesse: “eu olho para o mesmo que você”. Nas semanas seguintes a professora
percebe que o comportamento da Maria ficou mais leve, que ela começou a se interessar
pelas tarefas".

“ Os alunos me mostravam constantemente que estavam comprometidos de um modo

profundo com suas famílias e davam inabalável prioridade a essas dinâmicas.”

- FRANKE-GRICKSH, 2018, p. 21
Figura 1 – Marianne Franke
Fonte: Reprodução

Autores: Bert Hellinger, Marianne Franke, Angelica Olvera

Bert Hellinger
Bert Hellinger nasceu em 16 de dezembro de 1925, na Alemanha. Aos 17 anos foi convocado para a
Segunda Guerra, onde acabou sendo preso. Em 1945 entrou para uma ordem religiosa e, após a ordenação,
foi ser missionário na África do Sul. 

Durante 16 anos, atuou junto a uma comunidade Zulu, foi diretor de escola e padre na comunidade. Durante
esta experiência Bert observou as relações desse povo e começou a aplicar seus conhecimentos durante
suas práticas como professor, orientador e nas homilias.

Bert Hellinger escolheu, após 25 anos de dedicação à Igreja Católica, deixar o celibato e foi dedicar-se ao
conhecimento humano. Estudou diversas técnicas, entre elas: Esculturas Familiares e o Psicodrama.
Aprofundou suas experiências na Psicanálise, Terapia primal e Análise Transacional entre outras, o que
trouxe recursos para desenvolver a abordagem das Constelações Familiares. 

Hoje as Constelações não se restringem à esfera terapêutica, sendo utilizadas como recursos em diversas
áreas, como por exemplo na educação, foco da nossa disciplina.

Bert Hellinger faleceu em 19 de setembro de 2019, deixando como legado sua contribuição com a
humanidade. Bert pode ser conhecido como o mestre do minimalismo, isto é, alcançar muito com o mínimo
possível.

Leitura
Bert Hellinger – O Mestre Minimalista 

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Hellinger, como bom sagitariano, como ele mesmo apresenta em sua autobiografia, defendia
incondicionalmente aquilo que considerava verdadeiro e correto (HELLINGER, 2020, p. 20).
“ O amor preenche o que a ordem abarca.

O amor é a água a ordem é o jarro.


A ordem ajunta, o amor flui.
Ordem e Amor atuam juntos.”

- HELLINGER

Marianne Franke
Marianne Franke-Gricksch foi professora por 25 anos em escolas de ensino fundamental e médio. Nasceu
na Alemanha, em Munique, em 1942. Aos 33 anos iniciou cursos de aprofundamento em terapia primal e
Constelações Familiares com Bert Hellinger entre outras formações, como hipnoterapia, terapia breve e
naturopatia. 

Em seu livro “Você é um de nós”, relata todo o movimento que realizou para conseguir aplicar os
conhecimentos da abordagem das Constelações no ambiente escolar. Marianne relata o quanto ficou
aliviada em conseguir aplicar os conhecimentos da visão sistêmica em sala de aula. “Com isso minha
missão como professora apresentou sob uma outra ótica” (FRANKE-GRICKSH, 2018, p.15).

Como citado no início desta Unidade, a partir de Marianne podemos considerar que a Pedagogia Sistêmica
começou a ser reconhecida. Hellinger no prefácio do livro “Você é um de nós” agradece a Marianne pelo
registro das suas práticas. 

Foi a inquietação de uma professora que fez com que se aprofundasse nos estudos. Em treinamentos de
aprofundamento para professores, conheceu a psicoterapia, fez treinamentos de terapias familiares e
começou a perceber que a Terapia Sistêmica e a Escola não faziam parte de mundos diferentes. Após
alguns anos iniciou a aplicação no campo escolar e se fascinou pelas transformações observadas. Os
alunos puderam experimentar as ordens da família e como isso influenciava nas suas relações (MELLO,
2010).

Dentro das observações de Marianne, podemos compreender que o trabalho do professor ficava limitado,
pois a visão do que era possível fazer estava ligada às dificuldades de si mesmos. A partir da postura
sistêmica algo impressionante acontece, ampliam-se as possibilidades de criação e desenvolvimento do
que está disponível aos alunos e professores. 

Marianne relata que a escola onde trabalhou oferecia um ambiente em que o professor estava a maior parte
do tempo com seus alunos, o que permitiu condições para reconhecer junto com eles a visão sistêmica
progressivamente em sala de aula, respeitando o tempo de cada um.

O trabalho de Marianne Franke é reconhecido como pioneiro e se expandiu ao chegar no México. 

Reflita
No lugar do professor, sua postura deve ser de reconhecer o aluno tal como ele é, assim
como deseja que seu aluno o olhe como certo. Para onde esse professor olha quando deseja
que o aluno seja diferente?

Angélica Olvera
A mexicana Angélica Olvera teve seu primeiro contato com Hellinger em 1999, e a partir de então uniu-se a
Bert, acompanhando seu trabalho, o que trouxe a criação da Pedagogia Sistêmica CUDEC, com enfoque de
Bert Hellinger.

O questionamento sobre a falta de um olhar aos professores motivou o aprofundamento dos estudos, e
assim trouxe a Pedagogia Sistêmica como uma formação. Os alunos apresentam questões emocionais em
sala de aula que o professor pode não estar preparado para compreender, enxergar. Angélica afirma que, por
meio da postura sistêmica, o professor dispõe de recursos para lidar primeiro com suas questões e por
conseguinte com as de seu aluno (MELLO, 2018).

A Pedagogia Sistêmica traz força, pois quando o professor consegue tomar seus pais e enxergar os pais
dos alunos, recupera sua alegria em estar vivo. Podemos concordar que um professor que se reconhece
como certo em seu sistema familiar é capaz de estar inteiro no seu lugar de professor e assim permite que
os alunos se apresentem tal como são, e esse é um recurso poderoso.

Vídeo
La Nueva Interconexión Entre Casa y Escuela
No vídeo a seguir Angélica Olvera traz uma reflexão sobre a importância da compreensão da
relação casa e escola.

La nueva interconexión entre casa y escuela | ANGÉLICA OLVERA …


A seguir iremos passear um pouco pela Educação no Brasil a fim de compreender o caminho da Educação
em nosso país e a chegada da Pedagogia Sistêmica.

Breve História da Educação no Brasil

Reflita
A maneira que olhamos e pensamos a Educação Escolar hoje, dentro da perspectiva
Sistêmica, convida à uma reflexão sobre a origem da Educação em nosso país. Só a partir
desse reconhecimento e inclusão podemos dar lugar a um novo conceito de Educação.

Para compreender a importância desse novo olhar para a educação, faz-se imprescindível reconhecer a
história da Educação no Brasil, pois ela irá elucidar o caminho em que a perspectiva sistêmica tornou-se
aliada no processo de ensino aprendizagem.

No início da História do Brasil, com a chegada dos portugueses e jesuítas, o principal objetivo com a
Educação era de propagar a fé Cristã entre os Indígenas que já habitavam este território. Havia, talvez, um
desejo de que os pensamentos fossem alinhados para que não houvesse divergências nem
questionamentos ao que seria implantado nessa comunidade. No entanto, o Rei expulsou os Jesuítas e
passou a trazer suas referências na educação, mantendo o ensino religioso. Mulheres e negros foram
excluídos desse processo, e os homens brancos eram os únicos a terem direito de estudar em escolas
religiosas ou no exterior.

Já percebemos nesse período algumas desordens sistêmicas, que vocês irão compreender com o passar
da disciplina.

Com o passar do tempo e a chegada da Família Real, a educação foi tomando forma, instituindo espaços
culturais e, no período Imperial, ampliando a liberdade de ensino. Nesse período foi instituída a Escola
Normal de formação de professores, onde as mulheres tiveram acesso. E então foi criada a 1ª Lei sobre o
Ensino Elementar, no dia 15 de outubro, que veio a se tornar o Dia do Professor.

A partir desse movimento, iniciou-se um olhar para a sistematização do ensino, observando a necessidade
de divisão em séries e, portanto, surgindo a Escola Nova dentro de uma perspectiva de compreender que o
aluno pode desenvolver uma consciência moral a partir de sua espontaneidade, ensino com referência do
que o aluno expressa. Um dos precursores foi Anísio Teixeira. 

Em seguida, na Era Vargas, houve uma conscientização da necessidade de desenvolver a motricidade e a


percepção, então os movimentos corporais foram inseridos e aliados no processo ensino-aprendizagem.
Paulo Freire se posiciona com suas ideias de que o processo de aprendizagem deve partir dos saberes já
advindos do aluno, da sua experiência de vida, familiar e social. Freire foi considerado traidor na época da
ditadura e acabou sendo preso. 

Dentro da abordagem sistêmica, podemos considerar que os militares não aprovavam o posicionamento de
Freire, pois ele estava fazendo diferente. Nessa mesma época, foi excluído também o ensino normal, e a
educação passou a ter uma visão tecnicista e subversiva. 

Com a retomada da Democracia, os movimentos por uma educação diferenciada também ressurgiram, e
foram desenvolvidos sistemas de avaliação a fim de verificar as necessidades educacionais. Surge o
desejo por um ensino que valorize as competências e habilidades do aluno, olhando para o indivíduo integral,
dentro de uma Formação Humana Integral, a qual considera amplos aspectos de desenvolvimento humano. 

Em síntese, essa é uma breve contextualização sobre a história da Educação no Brasil, a fim de trazer a
compreensão da razão pela qual a Pedagogia Sistêmica está encontrando seu espaço. Só é possível olhar
para o novo se olhamos e reconhecemos o que foi honrando cada etapa, devolvendo o lugar aos excluídos. 

Vamos agora conhecer um pouco da chegada da Pedagogia Sistêmica no Brasil. 

Pedagogia Sistêmica no Brasil


A Pedagogia Sistêmica surge a partir do movimento do professor e teólogo Bert Hellinger. Durante duas
décadas trabalhou como Missionário na África e observou as dinâmicas de consciência, tendo em vista que
esse trabalho aconteceu no período do Apartheid. Bert aprofundou seus estudos em diversas áreas da
psicoterapia.

Em 2005, o livro “Você é um de nós” de Marianne Franke chega ao Brasil, e a partir daí inicia a Jornada da
Pedagogia Sistêmica em nosso país. Dois anos depois, Bert Hellinger realiza um Seminário em Brasília
sobre autismo e outras síndromes. Com esse movimento, profissionais da área da Educação, que já
buscavam diferentes ferramentas para apoiar a relação escola e aluno, compreenderam dentro dessa
perspectiva, que trazer esse olhar amplo e inclusivo para o contexto escolar faria diferença.

Uma das pioneiras no Brasil, a professora Hellen Vieira da Fonseca, especialista em Educação Especial,
participou de um seminário de Constelação Sistêmica, e em 2014 começou a aplicar o que faltava em sua
carreira. A Pedagogia Sistêmica traz uma mudança de postura interna, o que modifica a relação professor e
aluno, escola e casa. Outros nomes se apresentam no pioneirismo no Brasil, durante a disciplina irei
apresentar a vocês os trabalhos e os resultados conquistados por esses corajosos profissionais.

O trabalho com as Constelações, se comparado à Educação, o resultado pode não ser imediato então requer
uma pitada de coragem do profissional para acreditar que o que atua na alma se desenvolve lentamente.
“Resistir e suportar ficar sozinho no final com a sua percepção e, no entanto, confiar nela – isso é coragem”
(HELLINGER, 2019, p. 293). Então no processo de olhar para a Educação, este é o tempo dessa grande alma.

A Pedagogia Sistêmica traz uma visão expandida das relações. Algumas dinâmicas que acontecem na
escola são repetições de histórias do sistema de origem do aluno e do professor. Ao compreender que essa
relação existe, escola e família podem se conectar à sua origem e reconhecer suas questões, trazendo
leveza no verdadeiro propósito da educação. Trazer a visão, abordagem sistêmica na educação, não
significa alterar o método de ensino dos professores, ou a linha de trabalho da escola, mas apenas observar
a postura e manter a empatia nas relações.

Em síntese, podemos considerar a Pedagogia Sistêmica no Brasil ainda jovem e em fase de ser conhecida e
se expandir. Temos vários autores que apresentam trabalhos muito significativos com lindos resultados. No
material complementar vocês terão acesso à artigos e à bibliografia desses autores para se aprofundar nos
estudos.

Reflita
Percebemos que amamos nossos pais, servimos nossas famílias e, muitas vezes, tentamos
inconscientemente compensar a culpa e sofrimentos de nossos pais ou de parentes de
gerações anteriores. Dessa forma pessoas não vivem a própria vida, mas sentem-se como
se fossem estranhas a si mesmas (FRANKE-GRICKSH, 2018, p. 19).

Abordagem Sistêmica Fenomenologica


A partir do momento em que Marianne Franke traz a terapia familiar para a educação, é como se trouxesse
uma chave para abrir os portões para um olhar ampliado das relações. Deixamos de ver o aluno como um
ser isolado e passamos a observar o todo, a qual sistema ele pertence e como esse sistema se inter-
relaciona com os demais presentes na escola. Essa percepção só é possível a partir de um posicionamento
fenomenológico, isso significa estar disponível para o que surgir e o que é, sem pressupostos já
construídos. 
Bert Hellinger traz o entendimento de que o indivíduo faz parte de um emaranhado familiar e do seu destino,
e que, no subconsciente, poderá trazer as repetições de padrões e comportamentos. Por meio das
constelações familiares podemos observar que somos parte de um todo, de uma grande alma, na qual
fazem parte todos do nosso sistema familiar, e que nela existe uma ordem, a qual deve ser respeitada,
assim cada um toma seu lugar e concorda com o destino dos demais. Esse movimento não é consciente, e
por amor ao nosso sistema, muitas vezes nos vemos repetindo histórias na crença de estar fazendo o
melhor pela família. Para ser incluído nessa grande alma, é essencial que o destino de cada membro seja
respeitado, que a ordem seja mantida, assim cada um assume o que é seu. Isto se refere à abordagem
fenomenológica. 

Podemos observar algumas relações em que as pessoas têm a sensação de que não vivem suas próprias
vidas, sentem-se como se estivessem fazendo por outros, como se fossem desconhecidas de si mesmas.
Isso porque estão emaranhadas a memórias familiares por lealdade. Com o movimento das Constelações,
esses emaranhados são desfeitos e traz a sensação de leveza, assumindo seu lugar na família e vivendo
seu destino, percebendo a vida com fluidez e força. Como você se percebe em sua família, já trouxe em
algum momento a sensação de estar fazendo algo que não era seu?

O trabalho fenomenológico acontece quando alguém diante de alguma coisa, se entrega, esquecendo tudo
que já sabia, dessa maneira acessa o essencial sobre algo. “Esse é o modo fenomenológico de trabalho.
Não se apoia em nenhuma teoria e tampouco em experiências anteriores, mas se trabalha apenas com o
momento” (HELLINGER, 2019, p. 25).

Bert, em seu livro “A Fonte não Precisa Perguntar pelo Caminho”, traz uma reflexão sobre o entregar-se à
consciência, quando ele se permitiu entrar nesse vazio e deixar fluir, percebeu que existem muitas
consciências, em vários níveis, e que elas seguem as ordens do amor. O que surge neste momento, não se
permite alcançar, e que não é necessário, o que se faz é apenas deixar vir, fluir para que se equilibre.

Para compreender o fenomenológico é preciso esvaziar-se de tudo que já se sabe sobre o assunto em
questão. Em seguida, não trazer intenção ao assunto. Assim permite-se o acesso ao que realmente importa.
Entregar-se ao vazio e permitir que o essencial apareça.
As Leis do Amor
A partir do olhar atento para as relações, para a grande alma, Hellinger observa que algumas ordens estão
presentes nos sistemas relacionais, e o principal desses sistemas é o sistema familiar. Essas ordens,
quando respeitadas, trazem fluidez e leveza para a vida, e quando estão em desequilíbrio, chamamos de
emaranhamentos sistêmicos, ou podemos dizer, o indivíduo sente como se vivesse a vida de outra pessoa.
Para sentir e compreender essas dinâmicas nas Constelações, o terapeuta constelador assume um lugar de
abstração, liberando-se de seus preconceitos, julgamentos e de suas experiências, a fim de que se
manifeste apenas o que precisa ser visto pelo cliente. Nessa postura ocorre o que podemos chamar de cura
da alma, liberação dos destinos, compreendendo que um emaranhado ou lealdade, acontece por uma
dessas leis ou ordens não estarem em sintonia com o sentido da vida, que é o de evolução. A seguir vamos
conhecer as Ordens ou Leis do Amor.

Lei da Ordem ou Hierarquia


A primeira lei nos fala da ordem ou hierarquia, o que quer dizer? Que em um sistema familiar quem chegou
primeiro tem precedência, ou seja, os pais vieram antes dos filhos, o primeiro filho chegou antes do segundo
e assim sucessivamente. O importante a observar é que na relação entre pais e filhos, os pais sempre serão
maiores, estão em um lugar de força quando posicionados junto aos seus filhos. Em uma demonstração, os
pais devem estar atrás dos filhos, o pai ao lado direito e a mãe do lado esquerdo. Na relação entre irmãos,
sempre o mais velho à direita. Essa percepção de ordem traz força, pois os pais vieram antes, já passaram
por muitos desafios e também sucessos para que a vida dos filhos fosse possível. E entre irmãos, o que
nasceu antes não se torna maior do que o que veio depois, no entanto, tem um lugar de precedência, pois
passou por situações antes e também por experiências em que os pais ainda não sabiam como lidar. 

Outro fato a salientar, é que esse posicionamento vale para todas as relações. No caso de um dos parceiros
do casal já ter um relacionamento anterior, esse deve ser incluído como o primeiro e, se teve um filho, esse
deve ser contado como o primeiro entre os irmãos. Só assim a ordem será mantida e os demais irmãos
estarão em seu devido lugar.
Figura 2 – Lei da Hierarquia
Fonte: Adaptada de Getty Images

Na Figura anterior observamos a ordem ou hierarquia. Experimente se sentir no lugar do último abaixo; talvez
você tenha irmãos, no entanto, nessa imagem traga a percepção apenas do seu lugar. Acima ou atrás de
você seus pais, do lado direito seu pai e do lado esquerdo sua mãe, na Figura fica invertido. Observe que
existe uma flecha indicando o sentido da vida. Quando se posiciona olhando para trás, está no sentido
contrário, então não tem força. 
Lei do Pertencimento
A lei do pertencimento fala de uma necessidade primordial: todos querem pertencer. Em um sistema que há
exclusão de algum membro, não há equilíbrio. Quando uma exclusão acontece, na verdade, a família está
tentando evitar a dor, não quer ver. Por exemplo um aborto, um filho que morreu de maneira trágica, um
assassinato. Esses são alguns dos motivos para que não se fale, na ilusão de evitar a dor, no entanto, tudo
que é excluído, que não quer ser visto, na verdade irá se repetir nesse sistema até que seja incluído. Ou seja,
o próprio sistema busca uma autocura. Talvez mais tarde um membro da família se torne um assassino,
alguém não possa ter filhos, ou mesmo mortes trágicas se repitam. Outros sintomas podem se apresentar, a
fim de que essa memória de exclusão seja vista e acolhida. 

Todos têm um lugar. 

Importante!
Ao incluir um membro no sistema, devemos também observar a Ordem que esse ocupa.
Devolvemos seu lugar e os demais podem seguir seus destinos.
Figura 3 – Imagem de uma pessoa que se sente excluída, não pertencendo
Fonte: Getty Images

Saiba Mais
Algumas frases podem ser ditas mentalmente, ou mesmo ditas para si mesmo, quando
perceber alguma situação de exclusão na família ou em algum ambiente:

Eu vejo você e do meu lugar te devolvo seu lugar nessa família;


Eu sinto muito pelo seu destino, agora você faz parte, que não tenha sido em vão;

Do meu lugar eu incluo todos os excluídos dessa família;

Agora eu vejo, estava carregando seu destino, a partir de agora te entrego o que é seu, e farei
algo de muito bom em sua homenagem.

Lei do Equilíbrio
Todas as três leis devem estar em harmonia. Para que um sistema esteja fluindo de maneira leve é
necessário que todos estejam em seu lugar, sendo vistos e sabendo dar e tomar o que é seu. 

Saber tomar os pais e fazer algo de bom com o que recebeu é uma das formas de equilibrar essa relação.
Aos nossos pais não devemos nada, essa é a única relação sem “volta”, quero dizer, quando na Lei da
Ordem sabemos que nossos pais vieram antes, não é possível devolver ou equilibrar o que recebemos
deles, ou eles de nossos avós, e assim por diante. Para manter esse equilíbrio, quando falamos dos
grandes, fazemos para frente, para vida, entregando aos nossos filhos, ou se não tiver filhos, fazendo no
nosso trabalho, para a sociedade. Costumo usar a simbologia do presente: quando se ganha algo, para
demonstrar gratidão, você usa. Assim fazemos com a vida que chegou até nós através dos nossos pais,
então usamos a vida: “vivemos”.

Em contrapartida, quando falamos de equilíbrio das trocas nas relações entre iguais, aí sim se faz
necessária a ida e volta, se podemos assim dizer. As dinâmicas entre irmãos, casais, amigos são do mesmo
tamanho, então tudo que se entrega, pode-se e deve-se aceitar tomar de volta o que se é dado. 

Por exemplo: em uma relação de irmãos, onde um faz algo de bom para o outro, o outro vai sentir vontade de
fazer o mesmo ou até um pouco a mais, para que essa relação seja mantida leve. Ao contrário, se um faz
algo que causa dor, o outro irá da mesma maneira sentir vontade de devolver, no entanto, nesse movimento
deve fazer um pouco menos, para que esse movimento desarmônico tenda a acabar.
Experimente agora esse exercício, para que você se perceba nessa dinâmica de equilíbrio. Leia as frases a
seguir e veja o que você sente que deveria responder a cada uma delas.

Figura 4 – Dar e tomar


Fonte: Adaptado de Getty Images

Reflita
Experimente imaginar na sua frente uma pessoa a qual você acredita ter feito muito por ela,
que não seja seus pais ou filhos. Agora perceba como seu corpo fica diante dela: você se
sente maior ou menor, seu corpo pende para frente ou para trás? Após essa percepção
experimente dizer a seguinte frase: “Eu não sabia, agora eu sei, eu achei que era maior que
você e por isso fiz demais, assim te afastei. Você não tem o que eu precisava, e eu agora
tomo de você tudo que te dei por amor deixando apenas com o suficiente. Te vejo tão
grande quanto eu. Eu sinto muito, eu sou eu, você é você! Agradeço pelo tempo que foi e
pelo que aprendi. ”Agora perceba como fica seu corpo, se ficou mais leve. Você pode
colocar nos comentários da plataforma como foi realizar esse exercício. E em nossa
interação presencial falaremos sobre esse movimento.

Importante!
A postura sistêmica fenomenológica vai além do que se vê, quanto menos eu procuro
compreender o que acontece mais eu permito que a solução se mostre, simples e essencial.

Em Síntese
Compreender a necessidade de uma nova postura na Educação foi o motivador para a
aplicação da Abordagem Sistêmica na Escola. Marianne Franke, quando iniciou sua prática,
não fazia ideia do quanto seria transformador esse movimento e como esse conhecimento
seria recebido pelos profissionais.
Uma mudança de postura requer empatia, e o reconhecimento do seu lugar no sistema
familiar requer que haja coragem de se posicionar e se fragilizar diante de sua proteção.
Afinal os emaranhados sistêmicos, as desordens, estão ligadas a mecanismos internos de
proteção.

A abordagem fenomenológica nos apresenta recursos internos de aceitação e de concordar


com o que é, sem julgamentos, sem preconceitos ou sem expectativas do que o outro possa
oferecer, apenas é. Sendo assim, considera-se que o outro pode entregar o que ele está
pronto e disponível no momento. Sabendo disso, o profissional, seja educador ou mesmo
facilitador sistêmico, se coloca em um lugar de observador da situação permitindo que tal
se oriente para a solução e não para o “problema”. Quando vamos ao encontro de algo
desejando que seja diferente do que é, na verdade estamos, inconscientemente, desejando
não ter resultados, que aquilo não aconteça.

Esse pensamento complexo permeia a abordagem das Constelações, pois quando reconheço
no outro aquilo que ele realmente é, eu necessito reconhecer em mim e esse é um lugar,
muitas vezes, desconhecido e doloroso de se passar.

Vimos nesta Unidade a importância de reconhecer a história, o que veio antes.


Compreendemos os desejos e a busca dos pioneiros nesta abordagem. Foram apresentadas
brevemente as leis da ordem, pertencimento e equilíbrio que nos mostram que cada um tem
seu lugar, sendo vistos e entregando o mesmo que podem receber. Assim você pode
caminhar para uma nova etapa.
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ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Vídeos  

O que Significa Empatia no Trabalho das Constelações Familiares? 

O que signi ca EMPATIA no trabalho das Constelações Familiares?


  Filmes  

Viva: A Vida é uma Festa


Animação da Disney que mostra a lealdade familiar e a exclusão em um sistema. Assista, a seguir, o trailer
deste filme.

Viva - A Vida é uma Festa | Trailer Dublado

  Leitura  

Pedagogia Sistêmica: uma Nova Abordagem no Processo de Ensino


Aprendizagem 
Artigo sobre a experiência na aplicação de exercícios sistêmicos em escolas de Cuiabá.

Clique no botão para conferir o conteúdo.


ACESSE

Revista Pedagogia Sistêmica

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Transgressões e Transformações: Acolhendo a Culpa no Sistema Familiar 


O que trazemos como referência na vida, e como podemos fazer escolhas, fazer diferente para realmente
transformar.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
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ʪ Referências

FRANKE-GRICKSH, M. Você é um de nós. Patos de Minas, MG: Atman, 2018. 

GHIRALDELLI JUNIOR, P. História da educação brasileira. São Paulo: Cortez, 2021.

HELLINGER, B. A fonte não precisa perguntar pelo caminho: um livro de consulta. Patos de Minas, MG: Atman,
2019. 

________. Olhando para a alma das crianças. Patos de Minas, MG: Atman, 2021.

________. Ordens da ajuda. Patos de Minas, MG: Atman, 2020.

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