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APOIO A DERMEVAL SAVIANI PARA A ABL

A Academia Brasileira de Letras, por falecimento de seus últimos


titulares, está com duas cadeiras vacantes: as de números 12 e 35,
respectivamente ocupadas pelos escritores Alfredo Bosi e Cândido Mendes.
Para o preenchimento dos assentos vagos, os atuais membros da ABL,
através do voto, escolherão entre os candidatos que se inscreverem, seguindo
um procedimento do qual não temos conhecimento pormenorizado. Os abaixo
assinados, apoiam Dermeval Saviani, um educador da mais alta qualidade,
autor de vasta obra publicada, um intelectual de muitas luzes e largos
horizontes, para ser o próximo ocupante da cadeira 35, antes ocupada por
Cândido Mendes.
Ao inegável cabedal que possui para vestir o fardão da ABL, Saviani
ainda soma para ser investido nessa honraria o ajuste de seu perfil ao do
acadêmico Cândido Mendes, pois possuem em comum o fato de terem sido
docentes universitários em conspícuas instituições de educação superior.
Ambos sempre aliaram à sua atividade docente uma incansável atuação
transformadora da realidade em que viveram. E, longe de se acomodarem ao
geral reconhecimento do valor de sua obra, seguiram produzindo sem cessar
os frutos excelentes de sua pesquisa. Emprestaram à sua escrita o zelo da
língua e o primor do acabamento em prosa. E, em lugar de se dedicarem à
ficção, como acontece com muitos acadêmicos, voltaram-se à prosa ensaística.
Por fim, merece destaque que fortemente cultivaram a cultura humanística.
Cândido Antônio Mendes de Almeida (ou simplesmente Cândido
Mendes, seu nome autoral), nascido no Rio em 1928, graduado em Direito e
em Filosofia pela PUC-Rio e doutor em ciências jurídicas e sociais pela
Faculdade Nacional de Direito, completou sua sólida formação com passagens
por Harvard e pela Columbia University. Foi membro fundador do IBESP e do
ISEB, tendo chefiado, neste último, os departamentos de História e de Política.
Publicou vasta obra, da qual se destaca: Nacionalismo e desenvolvimento
(1963, fase isebiana), Memento dos vivos (1966, sobre a esquerda católica), A
democracia desperdiçada: poder e imaginário social (1992) e A interpelação
limite (1997). Foi um intelectual militante em momentos críticos da vida
nacional, atuando como moderador entre a hierarquia eclesiástica e
autoridades no período da ditadura em que ocorreu maior repressão contra
militantes da esquerda católica. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras
em agosto de 1990, ocupando a cadeira 35 até seu falecimento aos 93 anos
em fevereiro último.
Com perfil bastante ajustado ao de Cândido Mendes, creio que ninguém
mais que Dermeval Saviani reúne credenciais para sucedê-lo em sua cadeira
na ABL. Nascido em fevereiro de 1944, de uma família de imigrantes italianos,
trabalhadores rurais, Saviani fez quase todos seus estudos básicos como
seminarista católico, chegando até ao nível superior nessa condição, cursando
o primeiro ano da graduação em Filosofia, em Lorena, SP. Para melhorar as
condições de vida e trabalho da família, decidiu que era hora de deixar o
seminário, transferindo-se com seus pais para a capital paulista, onde
graduou-se em Filosofia pela PUC de São Paulo. Filho de família de
trabalhadores assalariados, custeou seus estudos superiores trabalhando
como bancário e, depois do ensino superior, como professor. Doutorou-se em
Filosofia da Educação na São Bento da PUC-SP, em 1971, com tese publicada
em livro em 1973 com o título Educação brasileira: estrutura e sistema.
Exerceu a docência e a pesquisa em diversas instituições de educação
superior, entre as quais a PUC-SP, a UNIMEP, a UFSCAR e a UNICAMP,
aposentando-se nesta última, na qual continua a atuar como professor
colaborador. Foi na Unicamp que fez carreira, tendo defendido a sua
livre-docência e, finalmente, o concurso de Professor Titular em Filosofia e
História da Educação. Também na Unicamp foi agraciado com o título de
professor emérito, além de ter sido agraciado com o Prêmio Zeferino Vaz de
Produção Científica. A nível nacional, recebeu a medalha do mérito
educacional do MEC, em 1994, e o título de pesquisador emérito do CNPq, em
2010. Recebeu três vezes o Prêmio Jabuti: em 2008, primeiro lugar na
categoria Educação, Psicologia e Psicanálise, com História das ideias
pedagógicas no Brasil; 2014, segundo lugar na categoria Educação, com
Aberturas para a História da Educação; e 2016, segundo lugar também em
Educação com História do tempo e tempo da história.
Na obra de Dermeval Saviani merece destaque a sistematização de uma
teoria pedagógica voltada à formação integral, ou omnilateral, do ser humano,
consubstanciada na Pedagogia Histórico-Crítica, uma teoria educacional que
encara a educação tal como se constitui no processo histórico de sua
produção, tendo por objetivo a transformação da sociedade com base nas
contradições que permeiam sua tessitura. Militante ativo dos movimentos
sociais e políticos da área educacional, foi fundador da ANDE, da ANPED e do
CEDES e, em 1986, do grupo de estudos e pesquisas “História, Sociedade e
Educação no Brasil”, que, sob a sigla HISTEDBR, consolidou-se
nacionalmente.
Sua vasta obra inclui: Educação brasileira: estrutura e sistema, 1973;
Educação: do senso comum à consciência filosófica, 1980; Escola e
democracia, 1983; Ensino público e algumas falas sobre universidade, 1984;
Política e educação no Brasil: o papel do Congresso Nacional na legislação do
ensino, 1987; Sobre a concepção de politécnica, 1989; Pedagogia
histórico-crítica: primeiras aproximações, 1991; Educação e questões de
atualidade, 1991; Educación: temas de actualidad, 1991; A nova lei da
educação: trajetória, limites e perspectivas, 1997; Da nova LDB ao novo Plano
Nacional de Educação: por uma outra política educacional, 1998; Da nova LDB
ao FUNDEB, 2007; História das ideias pedagógicas no Brasil, 2007; A
pedagogia no Brasil: história e teoria, 2008; Interlocuções pedagógicas:
conversa com Paulo Freire e Adriano Nogueira e 30 entrevistas sobre
educação, 2010; Educação em diálogo, 2011; Pedagogia histórico-crítica e luta
de classes na educação escolar (em coautoria com Newton Duarte), 2012;
Aberturas para a história da educação, 2013; O Lunar de Sepé: paixão, dilemas
e perspectivas, 2014; Sistema Nacional de Educação e Plano Nacional de
Educação: significado, controvérsias e perspectivas, 2014; e História do tempo
e tempo da história, 2015. Muitos desses livros tiveram inúmeras edições,
sendo que Escola e Democracia (Autores Associados) chegou em 2008 à
quadragésima edição.
É com base no exposto que APOIAMOS a candidatura de Dermeval
Saviani à ABL pois entendemos que nenhum artífice das letras no Brasil atual
sobrepuja Dermeval Saviani em credenciais para ocupar a vaga deixada por
Cândido Mendes.

José Claudinei Lombardi, CPF 774.327.038-68, Professor Titular de Filosofia e


História da Educação e Decano da Faculdade de Educação da UNICAMP.

e outros que seguem em lista anexa

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