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VALDINO SIMA – Advogado, Consultor e Professor de Direito

DIREITO

PROCESSUAL CIVIL I

= SUMÁRIOS DESENVOLVIDOS =

PROF. VALDINO SIMA

Benguela, 2013

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I – INTRODUÇÃO

1. NOÇÃO, FUNÇÃO E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO

PROCESSUAL CIVIL.

Noção

A palavra processo compõe-se, na sua formação etimológica,

de dois vocábulos: pro + cedere, que significa caminhar a frente,

avançar para um objectivo. Trata-se de uma sequência de actos,

logicamente articulados entre si, com vista a determinado fim.

O Processo é um conjunto de normas tendentes a constituir

um caminho que possibilite a resolução de diferendos. O processo

significa que há um progresso e não apenas uma simples sucessão

de actos, ou seja todos os actos são progressivos e destinam-se á

resolução do litígio, o processo apenas avança nunca retrocede.

Em sentido jurídico processo é uma sequência de actos

destinados à justa composição, por um órgão de autoridade

imparcial (o tribunal), de um litígio, ou seja, de um conflito de

interesses.

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O processo será civil quando o conflito disser respeito a

interesses privados ou particulares, ou, dito doutro modo, quando

respeitar aos direitos subjectivos e aos interesses atribuídos pelo

direito privado (âmbito próprio), ou enquanto forma residual de

tutela de todos os direitos e interesses que não possam ser

tutelados ou exercidos mediante uma outra forma processual

(âmbito residual).

O Processo civil é o conjunto normas jurídicas que regulam a

vida de uma acção em tribunal desde a sua instauração até ser

proferida a decisão que lhe ponha termo, até transitado em julgado.

O processo civil ocupa-se da aplicação do direito civil pelos

tribunais aos litígios que lhe são submetidos.

O direito processual civil, correntemente designado por

processo civil, é o ramo do direito (público) funcionalmente

destinado a integrar o direito civil.

O direito processual civil será, ainda, o conjunto de normas

jurídicas que regulam os trâmites da actividade dos tribunais civis.

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Função

A regulamentação das relações substantivas compreendidas

no foro do direito privado traduz-se, em regra, na atribuição de um

(ou mais) direito subjectivo a uma das partes e na consequente

imposição do dever jurídico correlativo à outra parte.

Assim sucede nas relações obrigacionais (simples ou

complexas) derivadas dos diferentes contratos, negócios unilaterais,

situações de enriquecimento sofisticado ou factos ilícitos, em que ao

direito subjectivo (principal) do credor corresponde o dever jurídico

(principal) de prestar especificamente imposto ao outro sujeito da

relação (o devedor). E assim ocorre também nos direitos reais e nos

direitos de personalidade, em que ao poder de usar e fruir

determinados bens, materiais ou espirituais, e de dispor deles,

atribuído ao respectivo titular, corresponde um dever geral de

abstenção difusamente imposto a todas as outras pessoas.

Os indivíduos sobre quem recaem os deveres jurídicos

correspondentes aos direitos subjectivos de outrem observam, em

regra, o comportamento que a ordem jurídica prescreve, realizando

a prestação a que especificada ou concretamente se encontram

adstritos, não usando nem fruindo os bens que lhes não pertencem,

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respeitando a integridade física e a personalidade moral dos seus

concidadãos.

Quando, porém, assim não suceda, porque o devedor tarde a

cumprir ou impossibilite o cumprimento da prestação, ou porque um

estranho destrua coisa alheia ou se aproprie de bens que lhe não

pertencem, o direito civil não soluciona o conflito real suscitado

entre o titular do direito e o autor da lesão, visto as suas regras,

movendo-se no plano da generalidade e da abstracção, se não

adaptarem à reintegração de situações concretas em crise.

A primeira via que pode acudir ao espírito do jurista para

remediar tais situações de crise será a de facultar ao sujeito lesado

o recurso à própria força, a fim de, por si mesmo, repor a solução

que decorre do direito substantivo aplicável.

Este sistema da justiça privada, assente no princípio

fundamental da autodefesa e da acção directa (haja ainda em vista

o direito de retenção, a faculdade de compreensão, e, no sector do

trabalho, o direito à greve), foi largamente praticado nas sociedades

primitivas.

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Trata-se, porém, de um sistema imperfeito, manifestamente

inadequado às exigências de uma comunidade civilizada, por dupla

razão.

Por uma parte, como a força nem sempre se encontra com

quem tem razão (e a lei) por seu lado, a justiça privada claudicaria

em muitas situações de violação do direito.

Por outro lado, como a própria parte queixosa, mesmo que

munida da força necessária, não é a entidade psicologicamente

indicada para definir os poderes próprios e os deveres alheios, nem

para fixar os termos da reparação devida os seus direitos, o sistema

da justiça privada levaria inevitavelmente a excessos e injustiças

que, em lugar da paz social e da reposição da ordem jurídica

violada, só multiplicariam e agravariam os conflitos entre os

particulares.

Por isso, o artigo 1.º do Código de Processo Civil, à

semelhança do que fazem os diplomas congéneres dos outros

países, condena expressamente o sistema da justiça privada,

afirmando que «a ninguém é lícito o recurso à força com o fim de

realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro dos

limites declarados na lei».

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O recurso à força é lícito nos casos e dentro dos limites

genericamente assinalados nos artigos 336º (acção directa), 337º

(legítima defesa), 338º (erro acerca dos respectivos pressupostos),

339º (estado de necessidade) e 340º (consentimento do ofendido)

do CC, o qual, nos arts. 1277º (defesa da posse), 1314º (defesa da

propriedade) e 1315º (direitos reais) do CC, expressamente

consagram outras tantas aplicações dos mesmos princípios. Pode

falar-se também no direito de resistência.

Vedando assim aos particulares o recurso à (própria) força, o

Estado obriga-se naturalmente, através dos órgãos adequados (os

tribunais), a conceder a todo o titular do direito violado a

providência necessária à reintegração efectiva desse direito.

Os tribunais judiciais são órgãos de soberania com

competência para administrar a justiça em nome do povo – cfr. Art.

174º, nº 1 da Constituição da República de Angola.

As decisões dos tribunais judiciais são obrigatórias para todas

as entidades públicas e privadas e prevalecem sobre as de

quaisquer outras autoridades – cfr. Art. 177º, nº 2 da CRA.

Para garantir o acesso aos tribunais, o artigo 2º, nº 2, do

Código de processo civil dispões que «a todo o direito, excepto

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quando a lei determine o contrário, corresponde uma acção,

destinada a fazê-lo reconhecer em juízo ou a realizá-lo

coercivamente…»

A este sistema, oposto ao da justiça privada, em que o Estado

chama exclusivamente a si, através dos órgãos jurisdicionais, o

poder de reconhecer vinculativamente os direitos controvertidos

entre particulares e de coercivamente os realizar, dá a doutrina o

nome de sistema da justiça pública, enquanto outros,

perifrasticamente, falam monopólio estadual da função jurisdicional.

Justiça pública, por não serem os particulares (mas o Estado,

mediante os órgãos judiciais próprios quem define os seus direitos e

lhes dá execução, no caso de conflito. Mas a expressão não significa

que sejam os tribunais quem, nos casos de conflito entre os

particulares, promove oficiosamente a instauração da acção

tendente à reparação do direito violado.

Entende-se, aqui, que ordem jurídica privada não só deve

atribuir direitos subjectivos, mas também garantir a possibilidade de

o seu titular exercer as faculdades neles contidas. Reiteramos que

subsidiaria e excepcionalmente, o titular poderá exercê-las com

recurso a formas de autotutela tipificadas na lei (vide art. 336º ss

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CC). Todavia, proíbe-se genericamente a autotutela, salvo

impossibilidade de recurso em tempo útil aos meios coercivos

normais, a heterotutela (art. 1º).

Conclui-se, assim, que a garantia jurisdicional dos direitos

subjectivos constitui a forma normal da sua defesa, e se encontra

consagrada na Constituição da República de Angola, sob a epígrafe

Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva (cfr. art. 29º CRA).

Dentro da área das relações abrangidas pelo direito civil, nas

quais não estão directamente envolvidos interesses ligados à

soberania do Estado, é ao particular sujeito da relação que incumbe

promove (e impulsionar) a acção destinada à obtenção da

providência judiciária adequada.

«O tribunal, diz o n.º 1 do artigo 3.º do Código de Processo

Civil, não pode resolver o conflito de interesses que a acção

pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida por uma das

partes».

A actividade do tribunal não se desenvolverá, porém, de uma

forma arbitrária ou improvisada. Pelo contrário, seguirá os trâmites

ditados pelas normas processuais.

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Características

I) Direito instrumental ou adjectivo

Não são as normas do direito processual civil que facultam a

solução aplicável ao conflito de interesses suscitado entre os

litigantes, nem a resposta para a questão da existência do direito

invocado pelo requerente.

Se o autor reivindica em juízo certa coisa, que afirma estar

ilicitamente na posse do demandado, e o réu contesta, dizendo que

a coisa lhe pertence e veio legitimamente às suas mãos, não são as

normas do processo civil que permitem saber a quem a coisa

pertence de direito, quem exerce a posse sobre ela ou quem deve

possuí-la doravante.

O processo civil é, portanto, um instrumento ao serviço da

solução do conflito. É um meio para a aplicação do Direito Civil, que

é um direito substantivo ou material. As normas do Direito

Processual Civil contêm apenas os trâmites que devem ser

percorridos até se alcançar a resolução do conflito.

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Precisamente por não tocarem nos conflitos substanciais de

interesses entre os particulares é que as normas do direito

processual civil têm, no geral, aplicação imediata: valem não só

para acções que de futuro se proponham, mas também para os

actos que, nas próprias acções pendentes, venham de futuro a ser

praticados.

«A forma dos diversos actos processuais, diz o artigo 142.º do

Código de Processo Civil, é regulada pela lei que vigora no momento

em que são praticados.»

II) Ramo de direito público.

O Direito processual civil é considerado ramo de direito

público, primeiramente, porque regula o exercício de uma função do

Estado, representado pelos tribunais, que são órgãos de soberania.

Outrossim, na relação que na acção se estabelece entre o

Estado (o Tribunal) e as partes estas aparecem numa posição de

subordinação, encontrando-se o Estado revestido do seu ius imperii.

Ora, não há dúvida de que na relação processual civil existe

entre as partes e o juiz um nexo de verdadeira subordinação, que

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explica a força vinculativa especial de que gozam as decisões

judiciais. O juiz exerce nessa relação uma função típica de

soberania, que é a função jurisdicional.

Em obediência a esse fim primordial de garantir na solução

dos conflitos o interesse da ordem e da paz social é que ao juiz não

cabe apenas decidir, mas convencer também as partes,

especialmente a parte vencida, do bom fundamento da decisão.

Nesse sentido prescreve o artigo 158.º, 1, que «as decisões

proferidas sobre qualquer pedido controvertido ou sobre alguma

divida suscitada no processo são sempre fundamentadas», não

podendo a justificação consistir na simples adesão aos fundamentos

alegados no requerimento ou na oposição.

O facto de algumas das normas processuais, atenta a sua

natureza supletiva, serem livremente derrogáveis pelas partes em

nada depõe contra o carácter publicístico do processo civil em geral.

São areias limitadas em o relevo concedido à vontade das partes

não colide com a função soberana do julgador, nem com a linha

geral dos interesses públicos subjacentes ao processo.

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2. TIPOS DE ACÇÕES

O Direito Processual Civil parte do princípio de que a todo o

direito subjectivo ou interesse legalmente protegido corresponde

uma acção (art. 2º), assumindo uma função instrumental em

relação a todas essas situações subjectivas. Constituem, todavia,

excepções a esta correspondência entre direitos e tutela

jurisdicional, as obrigações naturais (art. 402º CC) e os direitos

prescritos (art. 304º, 1 CC).

Considerando que a cada direito corresponde uma acção, e

nos termos do artigo 4º do CPC, as acções podem ser, consoante o

seu fim, declarativas ou executivas.

Nas acções declarativas o autor procura que o Tribunal declare

a solução, com fundamento no direito substantivo, para um

determinado caso.

Exemplo: A considera-se proprietário de um determinado

imóvel por este lhe ter sido vendido por B. Por sua vez, C diz-se

proprietário do mesmo imóvel alegando que o comprou ao mesmo

B. Na acção que A propõe pede que o Tribunal declare que ele é o

proprietário do imóvel em questão.

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As acções executivas têm por finalidade a realização coerciva

das providências destinadas à efectiva reparação do direito violado;

o autor requer as providências adequadas à reparação efectiva do

direito violado.

A distinção equivale à diferença entre o simples declarar e

executar, entre o dizer e o fazer. No processo declarativo é

declarada a vontade concreta da lei, visando o executivo a actuação

dessa vontade.

Nas acções declarativas o tribunal só desenvolve uma

actividade que terminará com a decisão; os incumprimentos

posteriores deverão ser resolvidos num processo com outro objecto.

Normalmente o processo civil abrange duas etapas: uma que

visa obter uma ordem de comando, e outra que visa dar

concretização efectiva a uma ordem. No entanto nem sempre é

assim, porque há acções declarativas que pela sua natureza e

objectivos, não geram sentenças condenatórias, ou seja, acções

executivas. O réu pode, depois de condenado, cumprir por sua livre

vontade a obrigação, não desencadeando deste modo a acção

executiva.

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As execuções podem ser para diversas finalidades,

nomeadamente: para pagamento de quantia certa (art. 810°e ss);

entrega de coisa certa (art. 928°e ss); e prestação de facto (art.

933°e ss).

A lei reconhece determinados documentos (títulos executivos

extra judiciais), por si só, força para desencadear a acção executiva

(vide art.º 46º).

As acções declarativas podem ser:

- De simples apreciação: Constituem um meio de prevenir

litígios, pretendendo o autor que o tribunal apenas declare o seu

direito. Dito doutro modo, as acções declarativas de simples

apreciação visam obter unicamente a declaração da existência ou

inexistência de um direito ou de um facto. Destinam-se a que o

tribunal aprecie um facto jurídico que é incerto, pede-se que o

tribunal esclareça o que é verdade ou não. São acções pouco

comuns, residuais; Podem ser simples apreciação positiva ou

simples apreciação negativa, conforme o Tribunal declare

existente/inexistente um direito ou um facto.

- De condenação: Acção padrão, é aquela que se destina a

obter a reparação de um direito violado mediante uma condenação

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da parte que o violou; Poderá ser por pagamento de dívidas ou

servir para a condenação de prestações de facto. Estas prestações

de facto podem ser positivas (condenar a fazer uma coisa), ou

negativas (condenar a não fazer uma coisa). As acções de

condenação podem ainda visar a condenação da entrega de coisa.

- Constitutivas: O autor pretende obter, através do tribunal,

um efeito jurídico novo que vai alterar a esfera jurídica do réu.

Exemplos: divórcio, investigação de paternidade, pedido de

servidão de passagem, impugnação pauliana; A constitutiva

extintiva põe termo a certos efeitos jurídicos. Ex. Do casamento

para o divórcio; as constitutivas modificativas alteram alguns dos

efeitos jurídicos e não o termo. Ex. Separação; constitutivas ou

stricto sensus – criam um efeito novo na ordem jurídica base por

sentença judicial. Ex. Servidão de passagem (art.1550º do C).

“Numa perspectiva analítica, os direitos subjectivos podem ser

classificados em direitos a uma prestação (ou pretensão), que são

direitos à aquisição de uma prestação realizada por terceiro (como,

por exemplo, os direitos de crédito), direitos de monopólio, que são

direitos sobre bens materiais ou imateriais exclusivos do seu titular

(como, por exemplo, o direito de propriedade), e direitos

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potestativos, que são direitos que impõem uma sujeição a um

terceiro (como, por exemplo, o direito ao divórcio). A cada um

destes direitos corresponde uma acção destina a garantir o seu

exercício jurisdicional (artº 2º).

Todavia, segundo a tipologia do art. 4º, nº 2, a acção de que

o titular do direito subjectivo dispõe para sua tutela jurisdicional não

é sempre a mesma: - ao direito à prestação corresponde uma acção

condenatória (art. 4º, nº 2, al.b), dado que o titular exige a

prestação de uma coisa ou de um facto pressupondo ou prevendo a

violação daquele direito; - ao direito de monopólio corresponde uma

acção de simples apreciação (art. 4º, nº 2º, al. a), dado que, não

comportando esse direito, em si mesmo, qualquer faculdade de

exigir uma prestação a outrem, o tribunal só pode declarar a sua

existência ou inexistência; - ao direito potestativo corresponde uma

acção constitutiva (art. 4º, nº 2, al. c), dado que do exercício desse

direito decorre a constituição, modificação ou extinção de uma

situação subjectiva” (M. Teixeira de Sousa).

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3. PROCEDIMENTOS CAUTELARES

Noção e função

Por mais célere e mais eficaz que seja o processo de

reconhecimento de um direito e/ou a sua (respectiva) execução,

sempre será necessário um lapso temporal para que a tutela

jurisdicional seja concedida. Esse lapso temporal entre a propositura

da acção e a sentença pode colocar em risco a tutela jurisdicional

requerida. Assim, a providência cautelar nasce para evitar que a

tutela declarativa ou a tutela executiva se tornem inúteis diante do

andamento processo.

O procedimento cautelar é um processo judicial instaurado

como preliminar a uma acção, ou na pendência desta, como seu

incidente, destinado a prevenir ou afastar o perigo resultante da

demora a que está sujeito o processo principal (arts. 2º, 2 e 381º e

ss).

Através de uma indagação rápida e sumária, o juiz assegura

da plausibilidade da existência do direito do requerente emite uma

decisão de carácter provisório, destinada a produzir efeitos até ao

momento em que se forma a decisão definitiva.

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O procedimento cautelar destina-se a evitar um grave

prejuízo, causado pela demora inevitável do processo – o periculum

in mora, que ameaça um direito subjectivo, prejuízo tão eminente

que não pode esperar pela solução final de uma acção principal,

instaurada ou a instaurar em curto prazo, e que exige a adopção de

medidas urgentes.

Do exposto, depreende-se que é com a finalidade de evitar

esse periculum in mora (prejuízo da demora inevitável do processo),

que o nº 2 do art. 2º prevê, para além das acções, os

procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da acção – os

procedimentos cautelares.

Os procedimentos cautelares encontram-se regulados nos arts.

381º e seguintes do CPC. Chamam-se procedimentos e não acções

porque carecem de autonomia.

É digna de realce a distinção terminológica entre

procedimentos cautelares e providência cautelar. Enquanto o

procedimento cautelar é um processo judicial, as providências

cautelares constituem as respectivas medidas decretas pelo tribunal

nos procedimentos cautelares.

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Classificação

Uma primeira classificação, fundada no critério da finalidade,

divide as providências cautelares em:

A) Conservatórias: quando visam assegurar os resultados da

acção, mantendo o stastus quo para que ele se não altere

em condições tais que não seja susceptível de reintegração;

ou ainda, dito doutro modo, os procedimentos cautelares

antecipatórios visam impedir que na pendência da causa a

que estão afectas, a situação de facto se altere, de modo

que a sentença nele proferida, favorável, perca toda, ou

parte da sua eficácia. Exemplos: Arresto (arts. 406° a

411°), Arrolamento (arts. 421° a 427°), Embargo de obra

nova (arts. 412° a 414 e 418° a 420°), Suspensão das

deliberações sociais (arts. 396° a 398°);

B) Antecipatórias: quando visam antecipar a realização do

direito que venha, eventualmente, a ser reconhecido, dada

a urgência na efectivação; ou ainda, noutro entendimento,

visam obstar a que se verifiquem prejuízos ocasionados

pela demora da decisão definitiva, constituindo uma

antecipação provisória dos efeitos dessa decisão.

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Exemplos: Alimentos provisórios (arts. 399° a 402°),

Arbitramento de reparação provisória arts. (403° a 405°),

Restituição provisória da posse (arts 393° a 395º).

Uma segunda classificação divide as providências cautelares em:

A) Não especificadas (comuns ou inominadas): aquelas que,

fundadas no poder geral de garantia do Tribunal (artº 2º,

2), são admitidas para situações não especialmente

previstas na lei. Por outras palavras, e na esteira de Pais de

Amaral: a lei define várias providências cautelares, mas na

impossibilidade de prever todas as situações que as possam

desencadear, admite a possibilidade de ser requerida uma

providência cautelar comum. Esta, porém, só poderá ser

requerida quando a situação não for susceptível de ser

acautelada por algumas das que se encontram tipificadas

na lei. Quer dizer, só poderá lançar-se mão de providência

cautelar comum se não houver providência especificada

que seja adequada à situação concreta.

C) Especificadas (Típicas ou nominadas): São as que estão

tipificadas (previstas) na lei. Exemplos: Alimentos

provisórios (arts. 399° a 402°), Arbitramento de reparação

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provisória arts. (403° a 405°), Restituição provisória da

posse (arts 393° a 395º), Arresto (arts. 406° a 411°),

Arrolamento (arts. 421° a 427°), Embargo de obra nova

(arts. 412° a 414 e 418° a 420°), Suspensão das

deliberações sociais (arts. 396° a 398°).

Características

A) Carácter instrumental (Instrumentalidade) - art. 383.º, nº1:

“O procedimento cautelar é sempre dependência da causa que

tinha por fundamento o direito acautelado e pode ser

instaurado como preliminar ou como incidente de acção

declarativa ou executiva” (sic). Como preliminar, o processo

será apensado ao da acção principal logo que esta seja

proposta. Nem o julgamento da matéria de facto, nem a

decisão final proferida no procedimento cautelar, têm

qualquer influência no julgamento da acção principal. As

providências cautelares não têm um fim em si mesmas, ou

seja, quando a parte requerer uma providência cautelar,

estará visando a preservação de um outro direito que deverá

ser reconhecido ou será objecto de um processo de

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declarativo ou de executivo. O procedimento cautelar

pressupõe sempre um processo definitivo.

B) Carácter Provisório (Provisoriedade): As providências

cautelares produzirão efeitos até que não mais exista o risco

de dano irreparável ou de difícil reparação. “A providência

cautelar tem feição nitidamente provisória ou interina”. “A

providência cautelar tem uma vida necessariamente limitada:

só dura enquanto não é proferida a decisão final” (Alberto dos

Reis).

C)Carácter Célere (Celeridade): O procedimento cautelar

necessita de ter uma estrutura mais simplificada e mais

rápida, pois destina-se a prevenir o perigo da demora

inevitável do processamento normal da acção. O juiz aprecia

sumariamente os requisitos da providência cautelar ( summaria

cognitio) não tendo a mesma exigência, nem quanto à prova

da existência e da violação do direito do requerente nem

quanto à demonstração do perigo de dano que o

procedimento se propõe evitar. Será suficiente a probabilidade

séria da existência do direito (a aparência do direito ou o

fumus boni iuris) e que se mostre suficientemente fundado o

receio da sua lesão (arts. 384/1 e 387°/1°).


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4. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Os princípios processuais civis assumem uma função

estruturante do Direito Processual Civil, enquanto princípios

orientadores para os quais foram reconduzidas opções globais de

política legislativa. Enformando o sistema processual no seu todo,

constituem a estrutura que sustenta e congrega normas dispersas e

que condiciona as soluções técnicas consagradas.

Assim, serão estudados os seguintes princípios:

Princípios dispositivo e inquisitório; Princípio da cooperação;

Princípios do contraditório e da igualdade das partes;

Princípio da submissão aos limites substantivos;

Princípio da preclusão;

Princípio da legalidade das formas processuais; adequação


formal;

Princípio da economia processual;

A) Princípio do dispositivo (264º CPC)

O princípio do dispositivo significa que as partes dispõem do

processo, como da Relação jurídica material. O processo é coisa ou

negócio das partes. É, portanto, um duelo entre as partes, que

apenas tem de decorrer segundo certas regras.

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O juiz tem de arbitrar esse confronto, controlando a

observância dessas normas e assinalando e proclamando o

resultado. Por essa razão, a sentença procura declarar a verdade

formal (intra-processual) e não a verdade material (extra-

processual).

Consequências do princípio do dispositivo:

 O processo só se inicia sob o impulso da parte, no caso o

autor, mediante o respectivo pedido e não sob o impulso

do próprio juiz.

 As partes é que circunscrevem o assunto a decidir. O juiz

não tem que saber se porventura a situação das partes

seria melhor acautelada se outra providência fosse

solicitada ou se fosse fundamentada de outra forma.

 Tal como para instauração do processo se exige um

pedido da parte, também o seu andamento ulterior

depende de solicitação das partes.

 As partes podem pôr termo ao processo (desistindo da

instância) e determinar o conteúdo da sentença de

mérito (confissão, desistência do pedido ou transacção).

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 São as partes que entregam material de facto a utilizar

pelo juiz para a decisão do litígio. Portanto, é às partes

que compete proporcionarem ao juiz, mediante as suas

afirmações de facto e as provas que tragam processo, a

base factual da decisão.

 A apreciação das provas obedece a rígidos critérios

legais. A matéria de facto não é decidida segundo livre

convicção do juiz, mas segundo aquilo que resultar da

estrita aplicação dos critérios legais.

B) Princípio do inquisitório (Art. 264º, in fine)

Princípio contraposto ao princípio do dispositivo, o princípio do

inquisitório é aquele segundo o qual a vontade relevante no

processo é a do juiz, a quem cabe a direcção da lide. No essencial o

princípio do inquisitório traduz-se em permitir ao tribunal proceder,

por sua iniciativa, à procura de verdade material. Este princípio

vigora naquelas situações em que o legislador entendeu que não

deveria deixar às partes a condução do processo, porque estão em

causa posições subjectivas merecedoras de uma tutela mais

apurada.

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É o caso, por exemplo, de situações em que estão em causa

relações materiais que não estão entregues à disponibilidade das

partes. Exemplo paradigmático da aplicação deste princípio é o

processo penal, por razões de ordem pública e, também, de

garantia dos direitos fundamentais dos arguidos.

C) Princípio da cooperação (Art. 266º.)

Deste princípio resulta que as partes, os seus mandatários

forenses (advogados) e o próprio juiz devem colaborar entre si,

contribuindo para se obter, com brevidade e eficácia, a justa

composição do litígio. Assim, as partes devem mostrar-se sempre

disponíveis para fornecer ao tribunal quaisquer informações e

esclarecimentos que sejam solicitados, devem comparecer sempre

que sejam convocadas, devem facultar tudo o que lhes for

requisitado e devem praticar os actos que lhe forem determinados.

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D) Princípio do contraditório (Art. 3º.)

O processo reveste a forma de um debate ou discussão entre

as partes, muito embora se admita que as deficiências ou abusos da

actividade das mesmas sejam supridos ou corrigidos pela iniciativa e

autoridade do juiz.

Cada uma das partes é chamada a deduzir as suas razões, a

oferecer as suas provas, a controlar as provas do adversário e a

assumir uma posição sobre o valor e os resultados de umas e

outras.

Relativamente às partes entre si, todo o pedido, requerimento,

afirmação ou prova apresentado por uma das partes pode ser

contestado ou impugnado pela contraparte (art. 3º e 517º-1). O

processo civil é dialéctico: Petição inicial – contestação; Réplica –

tréplica…

Todavia, nem sempre o contraditório pode ser acautelado: as

providências cautelares (medidas destinadas a salvaguardar o efeito

útil de uma decisão) podem ser decretadas sem audição da parte

requerida – periculum in mora (art. 385º). Neste caso, o

contraditório é diferido (art. 388º).

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A inobservância deste princípio redunda em nulidade

inominada, conforme disposto no art. 201º, 1. Quanto a terceiros, o

princípio do contraditório releva para a inoponibilidade do caso

julgado da decisão proferida entre as partes a terceiros: a sentença,

em princípio, não vincula terceiros (excepto art. 674º).

E) Princípio da igualdade das partes.

As partes são iguais em direitos, deveres, poderes e ónus

(igualdade formal). Todavia, face a factores sociais, culturais ou

económicos, a todos é garantido o direito ao patrocínio judiciário

(igualdade material ou substancial), art. 23º CRA e 3º: frequentes

são, ainda assim, as situações de desequilíbrio substancial sob o

manto de uma simples igualdade formal.

É o próprio regime processual que preconiza alguns desvios a

estes corolários, vg. através da delimitação do âmbito do objecto do

processo, pelo autor, ou através da atribuição de competência ao

tribunal do domicílio do réu.

Cumpre, nestes termos, ser assegurada a plena igualdade

formal às partes, relativamente ao exercício de faculdades e ao uso

de meios de defesa, bem como, simultaneamente, superar factores


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de desigualdade substancial através do apoio judiciário (dispensa de

honorários de advogados e do pagamento de taxas e custas, vg).

Quanto ao juiz, deve tratar de modo igual situações semelhantes,

independentemente das condições económicas ou sociais da parte

beneficiada (vg no que concerne ao aperfeiçoamento dos

articulados, seja qual for a parte que os subscreva).

F) Princípio da estabilidade objectiva da instância (art. 268º)

Iniciado o processo, a matéria que nele está em causa deve

manter-se inalterada até à sua conclusão.

Esta é uma regra ou um princípio que pretende evitar a

desordenação do processo, pois que perante a alteração objectiva

da instância, o processo deverá voltar ao seu início, no sentido de

que as partes deverão iniciar a discussão da causa relativamente a

um eventual novo objecto.

Este princípio não é, porém, absoluto, comportando algumas

excepções (vide arts. 269º ss).

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G) Princípio da preclusão (cfr. art. 489º)

Os actos processuais têm que ser praticados na fase certa.

Quando o não são ficam precludidos.

Há ciclos processuais rígidos, cada um com a sua finalidade

própria e formando compartimentos estanques. Por isso os actos

que não tenham lugar no ciclo próprio ficam precludidos.

A ideia deste princípio prende-se com a necessidade de a luta

processual entre as partes se desenvolver com lealdade.

As partes devem fazer jogo franco desde o início, ou seja,

devem pôr logo "na mesa de jogo todas as suas cartas". Este

princípio visa reprimir a litigância de má-fé ou a mera má-fé

processual.

H) Princípio da legalidade das formas processuais

A tramitação do processo e os actos processuais têm uma

forma legalmente prescrita, que se impõe às partes e ao tribunal

(processo rígido); está fixada na lei e não à disposição do critério do

juiz. Porém, a legalidade das formas processuais não é tão rígida,

no nosso ordenamento jurídico, que qualquer desvio ao formalismo

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legal acarrete uma nulidade do processo. A ideia essencial é a de

evitar o mais possível que uma das partes perca o processo por

motivos puramente formais, ou seja, que a forma prevaleça sobre a

substância.

I) Princípio da economia processual

Traduz-se numa aplicação do princípio do menor esforço ou de

economia de meios.

De acordo com este princípio deve procurar-se o máximo

resultado processual com um mínimo emprego de actividade, ou

seja, o máximo rendimento com um mínimo custo. Por essa razão

cada processo deve resolver o máximo possível de litígios e deve,

por outro lado, comportar apenas os actos e formalidades

indispensáveis ou úteis.

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II – AS FORMAS DE PROCESSO

1. PROCESSO COMUM E PROCESSOS ESPECIAIS

Os actos que devem ser praticados e as formalidades que devem

ser observadas pelas partes, não só na propositura da acção como

no decurso da mesma, não são uniformes e todos os casos.

Existe uma certa diversidade de formas ou tipos de processo. Neste

sentido, forma de processo quer significar os actos que condicionam

a tramitação da acção; ou seja, tem a ver com os tempos e os

deveres na acção.

Segundo o art.º 460º, nº 1, o processo pode ser comum ou

especial, nos termos do nº 2, o processo especial aplica-se aos

casos expressamente designados na lei; o processo comum é

aplicável a todos os casos a que não corresponda processo especial.

A definição de processo especial é que são os processos que a lei

designa como tal, isto é o processo especial são o processo

excepção, não sendo só aqueles contidos no Código de Processo

Civil, mas também os que advenham de qualquer diploma que

preveja o regule como tal, e o processo comum é o processo regra.

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Existem numerosos modelos de processos especiais, consoante o

tipo de providência que o autor se propõe a alcançar quando

instaura a acção.

São exemplos de processos especiais os que constam dos art.ºs

944º e seguintes, entre os quais se contam o de interdição ou de

inabilitação, o de prestação de contas, o de revisão de sentença

estrangeira, o de inventário,o de divórcio ou separação de pessoas e

bens, etc.

O Processo comum, consoante a dimensão do litígio este pode ter

três formas, a ordinária, a sumaria e a sumaríssima (art. 461º

CPC), eles são distinguidos segundo o valor da causa e a alçada do

tribunal, o valor da causa deve ser indicado pelo autor na sua

petição inicial (art. 467/1 e) CPC) representa a parte económica, é

com este valor que se determina a relação da causa com a alçada

do tribunal (art. 305/ 1 e 2 CPC). Voltaremos a esta abordagem.

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2. PROCESSOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

De entre os processos especiais previstos no Código de Processo

Civil far-se-á referência aos processos de jurisdição voluntária.

Geralmente para haver uma acção judicial tem que existir um

conflito de interesses. E é por causa desta necessidade de resolver

este litígio que se recorre à via judicial, sendo que o autor pretende

a sua pretensão seja reconhecida através da acção, por outro lado,

o réu, contestando, pugnará pela absolvição. Por exemplo, o conflito

de interesses que se verifica entre o credor e o devedor ou entre o

locador e o locatário.

Mas também há acções que não visam propriamente resolver um

conflito de interesses, mas sim regular judicialmente um interesse

fundamental que é comum a ambas as partes, são estes os

chamados processos de jurisdição voluntária ou graciosa,

porque aqui não há lugar ao litígio e ao conflito, ao contrário dos

processos de jurisdição contenciosa. Exemplo, a acção de

regulação do exercício do poder paternal, proposta por um dos

progenitores contra o outro.

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Os processos de jurisdição voluntária implicam uma tramitação

especial, por isso se chamam processos especiais. Estão regulados

entre os artºs. 1409º e 1510º.

A ausência de conflitos de interesse, nos processos de jurisdição

voluntária, não significa que não possa haver um conflito de

opiniões sobre o mesmo interesse. É o que se passa, como já

dissemos atrás, na acção de regulação do exercício do poder

paternal, em que ambos os pais procuram defender os interesses do

filho.

Nos processos de jurisdição voluntária o juiz regula o interesse da

forma mais conveniente e oportuna. Implica, mais do que uma

função jurisdicional, o exercício de uma actividade essencialmente

administrativa. A função do juiz não é tanto a de interpretar e

aplicar a lei.

Nos processos de jurisdição contenciosa o tribunal o conflito será

solucionado com recurso ao direito substantivo. Implica isto o

exercício de uma actividade verdadeiramente jurisdicional. O

tribunal decide de acordo com a lei substantiva aplicável ao caso

concreto.

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São apontados quatro princípios que caracterizam os processos de

jurisdição voluntária:

a) PRINCÍPIO DO INQUISITÓRIO: Nos processos de jurisdição

voluntária vigora o princípio da livre actividade inquisitória do

tribunal, quer isto dizer que o tribunal poderá não só

reconhecer os factos trazidos para os autos pelos

interessados, como também, poderá investiga-los livremente e

ainda reconhecer os factos trazidos por quaisquer outros que

sejam relevantes para a resolução da questão (art.º 1409º, nº

2). E nos processos de jurisdição contenciosa o tribunal tem

de socorrer-se apenas dos factos alegados pela partes - cfr.

art. 664º.

b) PREDOMÍNIO DA EQUIDADE SOBRE A LEGALIDADE OU

PRINCÍPIO DA DECISÃO ADEQUADA: O tribunal não está

sujeito a critérios de legalidade estrita, devendo antes,

adoptar a solução que julgue mais conveniente e oportuna

(art.º 1410º). Prevalece, assim, a equidade sobre a legalidade

estrita. Nos processos de jurisdição contenciosa o juiz deve

obediência rígida as normas legais (art.º 659º., nº 2).

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c) LIVRE MODIFICABILIDADE DAS DECISÕES OU PRINCÍPIO DA

NÃO CRISTALIZAÇÃO DAS DECISÕES: As decisões tomadas

em processo de jurisdição voluntária não ganham a força de

caso julgado. Podem, por isso, ser alteradas pelo próprio juiz

que as subscreveu, sempre que se modifiquem as

circunstâncias que determinaram essas decisões (art.º 1411.º,

nº 1). Nos processos de jurisdição contenciosa, depois de

proferida a sentença, fica esgotado o poder jurisdicional do

juiz (artº. 666º).

d) INADMISSIBILIDADE DE RECURSO PARA O TRIBUNAL

SUPREMO: Quando não está em causa a violação da lei

substantiva, que constitui o fundamento do recurso de revista,

nos processos de jurisdição voluntária não é admissível

recurso para o Tribunal Supremo (1411º, nº2). Justifica-se a

inadmissibilidade de recurso para o Tribunal Supremo quando

as decisões foram proferidas segundo critérios de

conveniência e oportunidade.

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3. PROCESSO COMUM DECLARATIVO E EXECUTIVO. OS

TÍTULOS EXECUTIVOS

No processo comum podemos distinguir o processo declaratório e o

processo executivo.

O processo declaratório destina-se a alcançar do poder judicial a

declaração da vontade da lei no caso em apreço. O autor procura

que o tribunal declare a solução, com fundamento no direito

substantivo, para um determinado caso que é submetido à sua

apreciação.

O processo executivo destina-se à realização coactiva, da declaração

da vontade da lei.

Pode dizer-se que a diferença entre a acção declaratória e a acção

executiva é semelhante à que se verifica entre o dizer (declarar) o

direito e o fazer cumprir (executar) esse direito.

Toda execução tem por base um título, pelo qual se determina o fim

e os limites da acção executiva (artº. 45º, nº 1). As espécies de

título executivo encontram-se referidas no art.º 46º.

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Normalmente o processo civil abrange 2 etapas: uma primeira que

visa obter uma ordem de comando; e uma segunda que visa dar

concretização efectiva a uma ordem.

No entanto nem sempre é assim, ou seja, e dito doutro modo, nem

sempre o processo declaratório é seguido do processo executivo.

O réu pode, depois de condenado, cumprir por sua livre vontade a

obrigação, não desencadeando deste modo a acção executiva.

Se a acção declaratória for julgada improcedente ou o réu dor

absolvido da instância, é evidente que não se seguirá processo

executivo.

Há acções declarativas que pela sua natureza e objectivos, não

geram sentenças condenatórias, ou seja, acções executivas – as

acções de simples apreciação desacompanhadas do pedido de

condenação do réu, e as acções constitutivas, em que o efeito

jurídico pretendido pelo autor se satisfaz integralmente com a

decisão do Tribunal.

Por outro lado, nem sempre o processo executivo é precedido de

um processo declaratório.

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A lei reconhece determinados documentos ( títulos executivos extra

judiciais), que por si só, têm força para desencadear a acção

executiva. Não sendo, entretanto, as sentenças condenatórias

(títulos executivos judiciais) os únicos títulos executivos, como se

depreende do disposto no art.º 46º já referido.

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3. FORMAS DE PROCESSO COMUM

O Processo comum, conforme dispõe o art.º 461º, e consoante a

dimensão do litígio, pode ter três formas: a ordinária, a sumária e

a sumaríssima.

Eles são distinguidos segundo o valor da causa e a alçada do

tribunal. O valor da causa deve ser indicado pelo autor na sua

petição inicial - art.º 467º, nº 1 e) – e representa a utilidade

económica do processo. É com este valor que se determina a

relação da causa com a alçada do tribunal (art.º 305º 1 e 2).

Para fixar o valor da causa, há diversos critérios previstos no 306º.

A alçada do tribunal é o valor limite até o qual ele julga em

definitivo não tendo lugar o recurso ordinário.

Os tribunais judiciais estão dispostos hierarquicamente da seguinte

forma: Tribunal Supremo, tribunais provinciais e tribunais

municipais.

O Tribunal Supremo, que se encontra no topo da hierarquia, é o

tribunal de última instância, nele são apreciados os recursos

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provenientes dos tribunais inferiores. A alçada do Tribunal Supremo

é de AKZ. 1. 408.000.

Os Tribunais Províncias são normalmente os tribunais de primeira

instância pela exiguidade dos tribunais municipais. A alçada do

Tribunal Provincial é de AKZ. 704.000.

O Processo ordinário constitui a forma mais solene do processo

comum e está previsto no 467º e 782º, aplica-se às acções

declarativas que não sendo especiais, tenham um valor superior ao

da alçada da relação (462º, 1ª parte);

O processo sumário, aplica-se a acções declarativas, que não

sendo especiais, tenham um valor igual ou inferior ao da alçada do

Tribunal Supremo.

O Processo sumaríssimo, aplica-se a acções declarativas que não

sendo especiais tenham um valor igual ou inferior à alçada do

Tribunal Provincial e a acção se destine ao cumprimento de

obrigações pecuniárias, à indemnização por dano e à entrega de

coisas móveis (462º, 2ª e 3ª parte).

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III – PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS

1. NOÇÃO

Pressupostos processuais são elementos de carácter processual de

cuja verificação depende o dever do juiz de proferir decisão sobre o

pedido, concedendo ou indeferindo a providência requerida.

Os pressupostos processuais são requisitos de natureza formal para

que o tribunal se possa pronunciar sobre o mérito da causa; são

requisitos necessários ao regular desenvolvimento da instância de

forma a permitir que se resolva efectivamente a questão que foi

levada a tribunal (através de sentença)

Quando os pressupostos estão cumpridos, o Juiz conhece o mérito

da acção.

O desrespeito pelos pressupostos processuais impede ao Juiz de se

pronunciar sobre o mérito da acção.

Importa aqui trazer a diferença entre as chamadas condições da

acção e os pressupostos processuais.

Para que o juiz possa dar razão ao autor, isto é, para que a acção

seja julgada procedente, torna-se necessário que esta esteja em


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conformidade com a norma do direito substantivo, ou não estar de

acordo com esta norma, no caso de a acção ser de simples

apreciação negativa.

Portanto, as condições da acção são requisitos indispensáveis para

que acção proceda. Requisitos estes que são de ordem material ou

substantiva.

Já os pressupostos processuais são requisitos de ordem processual

cuja verificação é indispensável para que o juiz possa proferir

decisão sobre o mérito da causa, julgando a acção procedente ou

improcedente, como já dissemos.

Como se deixa ver, os pressupostos processuais são “questões

prévias” ao conhecimento do mérito da causa. A sua falta determina

que o juiz se abstenha de conhecer o mérito da causa, dando lugar,

geralmente, à absolvição do réu da instância.

A instância é a relação que se estabelece entre as partes e o

tribunal durante a pendência da causa (art. 264º), mantendo-se

desde a propositura da acção ao julgamento, mesmo que uma parte

seja substituída por outra, o objecto seja alterado ou o processo

seja remetido para outro tribunal.

Os pressupostos processuais podem ser positivos ou negativos.


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São positivos aqueles cuja verificação é essencial para que o juiz

conheça o mérito da causa. Exemplos: a personalidade judiciária, a

capacidade judiciária, a legitimidade, o interesse processual, a

competência do tribunal e o patrocínio judiciário.

São pressupostos processuais negativos aqueles cuja verificação

obsta a que o juiz aprecie o mérito da acção. Exemplos: a

litispendência, o caso julgado e a existência de compromisso

arbitral.

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1. A PERSONALIDADE JUDICIÁRIA

Noção

A personalidade judiciária consiste na susceptibilidade de ser parte

(art.5º, nº1).

Partes são as pessoas que requereram, ou contra as quais foi

requerida a providência judiciária que se pretende alcançar através

da acção.

O processo exige, pelo menos, duas partes em posições opostas. À

primeira chama-se autor, requerente ou demandante. A segunda

toma a designação de réu, requerido ou demandado.

O critério legalmente estatuído para definir a personalidade

judiciária é o da coincidência (art. 5º, nº2): tem personalidade

judiciária quem tiver personalidade jurídica por força das regras

gerais substantivas (art. 66º CC).

Qualquer pessoa maior ou menor, capaz ou incapaz pode ser parte

numa causa; As pessoas colectivas também têm personalidade

jurídica e como tal, também têm personalidade judiciária.

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Este é o pressuposto mais importante das partes, sem

personalidade judiciária, não há parte no processo.

Porém, o princípio da coincidência sofre excepções, existem outras

“entidades” a que o Código de Processo Civil atribui personalidade

judiciária e que não têm personalidade jurídica (artº 6º):

É o caso herança jacente e patrimónios autónomos semelhantes

cujo titular não esteja determinado (art.2046º, 952º, 2033º, todos

do CC);

As Associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais

(art.6ºb); As Sociedades civis (art.6ºc); Sociedades comerciais, no

tempo entre a escritura pública de constituição e o registo definitivo

– art.6ºd); Condomínio (art.6º e); Navios (art.6ºf);

O Art.7º prevê também a atribuição de personalidade judiciária às

Sucursais, agências, filiais, delegações ou representações em certos

casos.

A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma

excepção dilatória – 494º, al. c). É de conhecimento, como a

generalidade das excepções dilatórias – art. 495º.

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2. CAPACIDADE JUDICIÁRIA

A capacidade judiciária consiste na susceptibilidade de estar por si

em juízo – art.9ºnº1, que não careça de qualquer representação. E

tem por base e medida a capacidade do exercício de direitos –

art.9ºnº2, decorre da capacidade jurídica (art.67ºCC)

O CPC também aqui estabelece a equiparação entre capacidade

jurídica e capacidade judiciária.

Ou a parte pode estar por si só em juízo e tem capacidade judiciária

ou, não pode e não pode. Neste caso, a sua intervenção judicial

deve ser feita através de representante legal – artº. 10º, nº1 CPC e

a incapacidade fica sanada.

Modos de suprimento da incapacidade judiciária

A incapacidade de exercício é suprida pelos meios adequados

previstos na lei.

• Menoridade – art.122ºCC (conjugação do art.123º CC com o

art.9º2 do CPC; suprimento – conjugação do art.124ºCC com o

art.10ºCPC)

• Interdição – art.138º CC (conjugação do art.123º e 139º CC

com o art.9º2 do CPC). A interdição é decretada em acção especial

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instaurada para o efeito (art.944º a 958 CPC, a sentença decreta

também o representante legal – tutor art.954ºCPC). Suprimento –

Tutor)

• Inabilitação – art.152ºCC. a inabilitação é também decretada

por sentença (art.944º a 958º CPC; os art.954ºnº2 CPC e 153ºCC

referem os actos que o curador pode praticar e autorizar). O art.13º

CPC declara que o inabilitado pode intervir em acções em que seja

parte e deve ser citado quando estiver na posição de réu, no

entanto, sempre com a orientação do curador).

3. LEGITIMIDADE

A legitimidade é a susceptibilidade de ser parte numa acção, aferida

em função da relação dessa parte com o objecto daquela acção.

Não se pretende apurar quem é que pode estar em juízo, em

abstracto, mas tão-só quem é que pode ser parte numa

determinada causa in concreto.

O Art.26º, nº1 define a legitimidade servindo-se do critério do

directo interesse. Assim, “o autor é parte legítima quando tem

interesse directo em demandar; o réu é parte legítima quando tem

interesse directo em contradizer”.


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A Legitimidade directa é reconhecida ao titular ou a quem tem

interesse em discutir com ele a titularidade do direito. (art. 26º-1).

Sempre que a procedência da acção venha a conferir uma vantagem

ou utilidade ao autor, este é parte legítima; Sempre que se preveja

que a procedência da acção venha a conferir uma desvantagem ao

réu, este é parte legítima. Noutros termos, e no sentido que nos é

dado pelo nº 2 do artº 26º, o interesse significa a utilidade para o

autor e o prejuízo para o réu.

A legitimidade consiste numa posição concreta da parte perante

uma acção.

A lei procura ainda dar uma maior precisão ao conceito de

legitimidade, de modo a evitar possíveis dúvidas. Assim, a

legitimidade também apura-se pela relação controvertida, tal com

ela é configurada pelo autor na petição inicial Art.26º, nº3.

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Legitimidade plural

A lei contempla pluralidade de partes activa, quando existem vários

autores; pluralidade passiva, quando existem vários réus;

pluralidade de partes dupla ou mista quando existem vários autores

e vários réus.

O Litisconsórcio (art.27º a 29º)

O litisconsórcio ocorre quando se discute em juízo uma

determinada relação jurídica que envolve diversos sujeitos, os quais,

por isso, são partes na acção. Quer dizer, à unicidade da relação

controvertida corresponde uma pluralidade de partes.

O litisconsórcio diz-se voluntário (ou facultativo) – quando a

pluralidade das partes resulta da vontade do ou dos interessados

(Art.27º) - a acção pode ser instaurada por todos ou contra todos

os interessados

O artigo 27º, nº2 prevê a hipótese de a lei ou negócio permitir que

um negócio comum seja exercido por um só ou que a obrigação

comum seja exigida de um só interessado – assim, basta a presença

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de um só em juízo para assegurar a legitimidade. Ex. As obrigações

solidárias (Art.512º CC).

Por sua vez o litisconsórcio dize-se necessário (ou forçoso) quando

não depende da vontade dos interessados, corresponde a uma

pluralidade de partes obrigatórias (Art.28º)

O litisconsórcio necessário pode resultar da lei, do negócio e da

relação controvertida.

Assim, o litisconsórcio necessário pode ser

Legal – quando deriva da lei (art.28º1). Ex. Art.535º1CC; 419, nº1

CC; 496º, nº2CC

Convencional – Quando a pluralidade das partes é estipulada pelos

interessados (a lei não o define a forma de tal convenção mas,

entende-se que deve ser documento escrito ou submeter-se até a

forma mais solene)

Natural – quando a intervenção de todos os interessados se mostre

necessária para a decisão a obter do tribunal produza o seu efeito

útil normal.

A violação do litisconsórcio necessário, implica a ilegitimidade da

parte que litigue desacompanhada, porque esse interesse não pode

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ser regulado judicialmente sem a presença de todos os

interessados.

No caso litisconsórcio necessário há uma única acção com

pluralidade de sujeitos; no litisconsórcio voluntário há uma simples

acumulação de acções, conservando cada litigante uma posição de

independência em relação aos seus compartes – art. 29º.

Finalmente, e como facilmente se depreende, a ilegitimidade plural

se pode verificar-se no caso de litisconsórcio necessário.

A ilegitimidade

No caso de litisconsórcio necessário, a falta de alguma das partes –

quer do lado activo, quer do lado passivo – gera a ilegitimidade de

quem está em juízo não devidamente acompanhado.

É sanável mediante a intervenção, espontânea (320º) ou provocada

(325º), da parte cuja falta gera a ilegitimidade – cfr. art. 269º.

A ilegitimidade de qualquer das partes que não tenha sido sanada

tem como consequência a absolvição do réu da instância – art.

288º, nº 1, al. d).

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A Coligação (art.30º)

Existe coligação quando há pluralidade de partes e pluralidade

correspondente de relações materiais controvertidas.

O que distingue a coligação do litisconsórcio é, essencialmente, o

seguinte: na coligação, há pluralidade de partes e pluralidade

correspondente de relações materiais controvertidas, no

litisconsórcio, há pluralidade de partes, mas unicidade da relação

controvertida.

Situações em que se admite as coligações de autores ou de réus:

Quando seja a mesma e única causa de pedir que sustenta os

diferentes pedidos art.30º1;

Quando os pedidos, apesar de diferentes, tenham uma relação de

prejudicialidade ou dependência – art.30º1;

Quando a procedência dos pedidos dependam da apreciação dos

mesmos factos, da interpretação e aplicação das mesmas regras de

direito ou cláusulas de contratos análogos, apesar de a causa de

pedir ser diferente – art.30º2.

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4. O INTERESSES PROCESSUAL

Existe interesse processual quando se puder dizer que se verifica

necessidade de instaurar e fazer seguir a acção.

O interesse em processual consiste na indispensabilidade de o autor

recorrer a juízo para a satisfação da sua pretensão. Pode dizer-se

que o autor só tem interesse em agir quando não dispõe de

quaisquer outros meios (extrajudiciais) de realizar aquela pretensão.

O interesse em agir deve ser considerado porque: 1. A instauração

de uma acção inútil sempre causa ao réu prejuízos e incómodos

injustificados. 2. Porque a justiça, sendo um serviço do estado, só

deve de funcionar quando houver motivos para isso, quando o autor

demonstre um verdadeiro interesse em agir.

Esta questão tem relevância no que toca ao pagamento das custas

do processo.

Este pressuposto processual assenta na preocupação de evitar

acções inúteis (art.º 449º n.º2 b, c, d).

Nas acções constitutivas existe interesse processual quando o direito

potestativo correspondente não é daqueles que possa ser exercido

por simples declaração de vontade do respectivo titular. Exemplos:

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revogação ou renúncia da procuração e no caso de resolução do

contrato (cfr. artºs 1170º, nº1, 1179º e 436º todos do Código Civil).

O interesse processual no domínio das acções declarativas de

simples apreciação exige que se verifique uma situação de incerteza

objectivamente grave, de modo a justificar a intervenção judicial.

A incerteza a que o autor pretende por fim pela via judicial deve ser

objectiva e grave.

Será objectiva quando provém de factos exteriores e não apenas da

mente do autor. A gravidade da dúvida depende do prejuízo

(material ou moral) que a situação de incerteza pode gerar.

Se não houver interesse processual, deve o juiz abster-se de

conhecer o mérito da causa, absolvendo o réu da instância.

5. PATROCÍNIO JUDICIÁRIO

Este pressuposto implica que, em determinadas acções, as partes

estejam representadas por advogados. Esta representação tem

como finalidade uma correcta condução processual da acção.

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Assim, pode definir-se o patrocínio judiciário como a assistência

técnica e profissional que os advogados prestam às partes, tendo

em vista uma adequada e correcta condução processual da acção.

O art.32º indica-nos quais são os casos em que é necessário

advogado:

• Causas em que o valor é superior à alçada da 1ª instância,

que admitam recurso ordinário;

• Causas em que é sempre possível recurso,

independentemente do valor;

• Nos recursos;

• Nas acções propostas nos tribunais superiores.

Consequência para a falta de patrocínio obrigatório

O art.33º CPC dá-nos a resposta:

É uma notificação, do tribunal, à parte que não tiver advogado, para

o constituir dentro de um certo prazo. Se, passado esse prazo, a

parte não tiver feito nada:

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- Se a falta for do autor – fica sem efeito o recurso e verifica-se a

absolvição do réu;

- Se a falta for do réu – fica sem efeito a defesa

A falta deste pressuposto faz com que a acção caia na secretaria.

Pode no entanto, no próprio dia, interpor-se nova acção com o

mesmo pedido, partes e demais pressupostos. Para tal, apenas terá

que se rectificar o pressuposto em falta.

6. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL

Os tribunais exercem, como se sabe, a função jurisdicional ou

jurisdição

A Jurisdição é o poder exercido pelos tribunais no sentido de

administrar a justiça. Incumbindo-lhes assegurar a defesa dos

direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos e dirimir os

conflitos de interesses públicos e privados.

A competência é a repartição do poder jurisdicional entre os

diversos tribunais. Cada tribunal, apesar de todos eles exercerem o

poder jurisdicional, tem uma fracção dessa jurisdição, cada um

deles tem a sua própria competência.

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Existem, numa primeira perspectiva, dois tipos de competência: a

competência internacional e a competência interna.

A competência internacional consiste na atribuição do poder de

julgar aos tribunais angolanos, no seu conjunto, face aos tribunais

estrangeiros.

A competência internacional, como se depreende do art.65º, deve

ser considerada em bloco, isto é, relativamente a todos os tribunais

angolanos e não apenas em relação a apenas um, dos artigos 61º,

65º e 99º resulta que são cinco 5 os princípios que definem a

competência internacional dos tribunais angolanos, bastando apenas

a verificação de um deles:

1º Principio da domiciliação – sempre que o réu ou um dos réus

tenha domicilio em território angolano – art.º65, n.º1 a)

2º Princípio da coincidência – A competência internacional dos

tribunais angolanos resulta da circunstância de a acção dever ser

proposta em Angola, segundo as regras de competência interna,

territorial estabelecidas pela lei angolana (art.º73). Pode dizer-se

que, por força da coincidência entre a competência territorial e a

internacional, os tribunais angolanos podem julgar quaisquer acções

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que devam ser propostas em Angola, segundo a aplicação das

regras daquela competência internacional (art.º65, n.º1 b)).

3º Princípio da causalidade – Os tribunais angolanos têm

competência internacional sempre que o facto que serve de causa

de pedir na acção tenha sido praticado em território nacional, ou,

tratando-se duma causa complexa (constituída por vários

elementos), algum deles tenha ocorrido em Angola (art.65º, n.º1

c)).

4º Princípio da necessidade – Os tribunais angolano tem

competência internacional quando o direito invocado não possa

tornar-se efectivo, sendo por meio de acção proposta em tribunal

angolano, ou quando a sua propositura no estrangeiro constitua

apreciável dificuldade para o autor (art.º65, n.º1 d))

5º Princípio da consensualidade – As partes podem atribuir ou

privar os tribunais angolanos de competência internacional. No

primeiro caso estamos perante um pacto atributivo de jurisdição e

no segundo de um pacto privativo. Para ser valido o pacto deve:

a. Ser escrito ou confirmado por escrito. (art.º99, n.º3 e))

b. Indicar a questão litigiosa ou a relação jurídica de onde pode

emergir (art.º99, n.º3 e))


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c. Ser aceite pela lei do tribunal designado (art.º99, n.º3 b))

d. Fundar-se num interesse sério das partes (art.º99, n.º3 c))

e. Não versar sobre matéria da exclusiva competência dos

tribunais angolanos (art.º99, n.º3 d))

Definida a competência internacional, o passo seguinte será a

verificação de qual o tribunal angolano, concretamente competente

para julgar em determinada acção.

A Competência interna, que se traduz na repartição, entre os

diversos tribunais angolanos, do poder de julgar, subdivide-se em:

1º Competência em razão da matéria; 2º Competência em razão da

hierarquia; 3º Competência em razão do valor; 4º Competência em

razão do território (art.º 62º,nº 2).

1. Competência em razão da em razão da matéria –

Art.º66.º - (COMPETÊNCIA DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS) – princípio

da especialização - “São da competência dos tribunais judiciais as

causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional. “ Por

sua vez os tribunais de 1ª Instância são, consoante a matéria das

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causas que lhes são atribuídas, tribunais de competência genérica e

de competência especializada.

a. Genérica: do art.67º CPC, resulta que os tribunais de

competência genérica julgam todas as causas que não hajam de

serem instauradas nos tribunais de competência especializada.

b. Especializada – são Tribunais de instrução criminal, tribunais

da família, tribunais de menores, tribunais de trabalho, tribunais de

comércio, tribunais marítimos e tribunais de execução de penas

(tudo a título de exemplo).

2. Competência em razão da hierarquia – Os tribunais judiciais

estão dispostos hierarquicamente. Na base encontram-se os

tribunais de 1ª instância ou os Tribunais provinciais e municipais; no

topo da hierarquia judicial encontramos o Tribunal Supremo (artº

70º a 72º).

A hierarquia não significa que os juízes dos tribunais inferiores

dependem ou devem obediência aos do tribunal superiores. A

hierarquia traduz-se no poder conferido aos tribunais superiores de,

por via de recurso, revogarem ou alterarem as decisões dos

tribunais inferiores.

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3. Competência em razão do valor e da forma do processo

– art.68º CPC. É pelo valor da causa e pela forma do processo

aplicável que se determina a competência dos tribunais colectivos e

singulares O art.69ºCPC refere a existência de tribunais de

competência específica.

a. Tribunais Colectivos (1 colectivo de Juízes) compete,

designadamente julgar as questões de facto nas acções de valor

superior à alçada do Tribunal Supremo. Actualmente, os tribunais

colectivos quase que desapareceram, isto por força do art.646º

CPC.

b. Tribunais Singulares (apenas 1 Juiz) têm competência para os

processos em que não intervenha o tribunal colectivo, daqui resulta:

i. As acções sumárias e sumaríssimas, porque os seus valores

nunca excedem a alçada da 2ª Instância são sempre instauradas e

julgadas em tribunal singular.

ii. Nas acções ordinárias, atento o seu valor o julgamento da

matéria de facto compete ao tribunal colectivo. Todavia, da leitura

da parte final da referida alínea e o disposto no art.º646 n.º1 do

CPC, nestas acções, a intervenção do colectivo depende do

requerimento nesse sentido.

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c. A propósito da competência em razão da forma do processo

alude-se aos tribunais de competência específica. São eles as varas

cíveis, os juízos cíveis, os juízos de pequena instância cível, os juízos

de pequena instância criminal e os juízos de execução e, enumera-

os:

i. Varas cíveis – competência prepara e julga processos

Ordinários (superiores à alçada da Relação); declarativas cíveis

ii. Juízos cíveis - competência prepara e julga processos sumários

e processos especiais cujo valor seja inferior à alçada da Relação

iii. Juízos de pequena instância cível - competência prepara e

julga processos sumaríssimos e acções especiais não previstas no

CPC e que não sejam passíveis de recurso ordinário

iv. Juízos de execução – aos quais cabe, no âmbito do processo

executivo, as competências previstas no CPC

4. Competência em razão do território – art.73 e SS. CPC.

Artigo supletivo – art.85º CPC.

O território está dividido em províncias judiciais. O Tribunal

Supremo exerce a sua jurisdição em todo o território judicial. E os

provinciais em cada sede de província. Excepto, aqui, o Tribunal

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Provincial do Lobito, que exerce jurisdição no município do Lobito e

mais alguns municípios da província de Benguela.

È a lei de processo que fixa os factores que determinam, em cada

caso, o tribunal territorialmente competente, constando os factores

dos art.º 73 e 95º do CPC para os quais remete o art.º63 do mesmo

diploma, são entre outros os seguintes:

i. Foro do réu (foro geral) – critério supletivo (85º e 86º);

ii. Foro real ou da situação dos bens (art.º73 CPC);

iii. Foro obrigacional – lugar onde deve ser cumprida a prestação

(art.º74 n.º1 CPC) (772, 1 CC);

iv. Foro do autor (art.º75 CPC);

v. Foro conexional (art.º76 n.º1 CPC);

vi. Foro hereditário ou sucessório (art.º77 n.º1 CPC);

vii. Foro executivo (art.º90 n.º1 CPC).

Existe a possibilidade de as partes poderem prevenir a competência

territorial do tribunal (art.º100 n.º1 2ª.parte CPC). É a competência

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convencional que resulta de um acordo sujeito aos seguintes

requisitos:

1. Deve respeitar a forma do contrato (art.º100 n.º2 e 99º n.º4

CPC)

2. Deve designar as questões a que se refere ou o facto jurídico

susceptível de as originar (art.º100 n.º2 e n.º4 CPC)

3. Deve indicar o tribunal que fica sendo competente (art.º100

n.º2 CPC)

4. Não pode versar sobre os casos previstos no art.º110 n.º1 do

CPC

Nota: esta competência territorial é tão obrigatória como a que

resulta da lei (art.º100 n.º3 CPC)

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Modalidades de incompetência

Se, na propositura da acção não forem respeitadas as regras de

competência, as consequências que daí derivam dependem do tipo

de violação.

A lei processual civil distingue entre incompetência absoluta e

incompetência relativa.

A Incompetência absoluta corresponde à infracção das normas de

competência em razão da matéria e da hierarquia e das regras de

competência internacional, salvo quando haja mera violação dum

pacto privativo de jurisdição – art.101º a 107º

Incompetência relativa corresponde à infracção das normas de

competência fundadas no valor da causa, na forma de processo

aplicável, na divisão judicial do território ou decorrentes do

estipulado nas convenções previstas nos art.ºs 99º e 100º – art.108

a 114º

Em função da incompetência, existe um conjunto de normas a

aplicar para um caso e outro.

A Consequência da incompetência absoluta é a absolvição do réu na

instância – art.105ºCPC

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Hoje, quando a incompetência é relativa, tem um mecanismo de

remessa (remeter) do processo para o tribunal competente.

Consequência/sanção da incompetência absoluta:

- Remessa para o tribunal competente, em razão da forma e em

razão da competência.

Art.288º - não inclui, na lista do nº1 a incompetência relativa, no

entanto, remete claramente para o art.105º2 que alude claramente

aquela incompetência.

Competência relativa:

1. Oficiosa – art.110º - o tribunal é obrigado a conhecer, mesmo

que o réu não a suscite

2. Inoficiosa – O tribunal só a pode conhecer se o réu invocar

esta forma de incompetência.

Quando os tribunais entram em conflito, no exercício das suas

funções, esse só pode ser um conflito de competência ou de

jurisdição (115º, n.º1) –

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7. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS NEGATIVOS

Litispendência: é a situação que se verifica quando, no mesmo ou

em diferentes tribunais, se encontrem pendentes duas causas entre

as mesmas partes e a respeito de um mesmo conflito de interesses

ou da mesma relação controvertida (493º,494º);

Caso Julgado: verifica-se quando uma decisão judicial adquire

força obrigatória, por dela não se poder reclamar nem recorrer por

via ordinária. A excepção do caso julgado pressupõe, pois, a

repetição da causa. E repete-se a causa quando se propõe uma

acção idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e a causa de

pedir (artºs 497º e 498º).

A preterição do tribunal arbitral: consiste no facto de ter sido

proposta uma acção com a violação do compromisso arbitral

previamente estabelecido pelas partes (ver mais artºs 494º e ss).

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PARTE II

O FORMALISMO PROCESSUAL

O processo é uma sequência ordenada de actos tendentes a

obtenção de uma sentença judicial.

Num primeiro momento as partes propõem a acção: uma das partes

tem a iniciativa; num segundo momento a outra parte defende-se,

contestando; num terceiro momento as partes fazem prova dos

factos que alegaram e que foram considerados importantes pelo

Tribunal; num quarto momento cada uma das partes há-de tentar

convencer o Tribunal que, em face aos factos e ao direito aplicável,

ela é que tem razão; num quinto momento o Tribunal decide a

questão levada ao seu conhecimento declarando o direito em

concreto por aplicação da lei àqueles factos tido como relevantes.

O processo compõe-se de fases. Segundo Paulo Cunha é o

complexo de actividades subordinadas a uma ideia dominante.

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I. FASES DO PROCESSO

Na sua tramitação normal o processo declarativo ordinário (e

também o processo sumário) pode conhecer cinco (5) fases: 1.º

Fase: Fase dos “articulados”, 2.º Fase: Fase do “saneamento e

condensação”, 3.º Fase: Fase da “instrução”, 4.º Fase: Fase da

“discussão e julgamento” 5.º Fase: Fase da “sentença final”.

Fala-se aqui do processo ordinário por este constituir a referência

para as outras formas de processo (cfr. 463.º e 464.º).

Iremos apresentar de seguida (e resumidamente) o que de

essencial caracteriza cada uma dessas fases do processo comum

ordinário.

1 – “Fase dos articulados” (Art. 467º a 507º): é a primeira fase,

destinada a apresentação do pleito em juízo. As partes através das

peças escritas, expõem as suas teses e formulam pretensões,

traçando assim os contornos da acção. Dito doutro modo, a fase dos

articulados corresponde à exposição da relação litigiosa, dos factos

que dão causa ao conflito.

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2 – “Fase do saneamento e condensação” (Art. 508º a 512º):

depois dos articulados e antes da instrução o juiz pode chegar a

conclusão que já pode nessa altura decidir imediatamente sem que

o processo entre na longa fase da instrução, caso haja matéria

bastante (sanear e condensar). O saneamento e a condensação

visam verificar e garantir a regularidade. O juiz há-de verificar se o

processo se opera secundum legem. Deve também apurar as

questões de direito e de facto que sejam úteis para a decisão da

causa. Faz-se a expurgação do processo no processo das questões

que sejam inúteis e supérfluas.

3 – “Fase da Instrução” (Art. 513º a 645º): se o processo não tiver

terminado na fase anterior, tem lugar a instrução, na qual se vão

produzir as provas destinadas a permitir que o tribunal forme a sua

convicção quanto aos factos alegados. Visa fornecer e produzir a

prova dos factos alegados pelas partes, cuja finalidade é a

demonstração da veracidade dos factos articulados, habilitando o

juiz a proferir decisão sobre o mérito da causa.

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4 – “Fase da discussão e julgamento” (Art. 646º a 657º): À

produção da prova sucede a discussão, integrada por um debate

oral entre os advogados das partes, tendente à apreciação das

provas produzidas. As partes pretendem convencer o juiz da justeza

das suas posições. Terminada a fase da discussão o Tribunal está

finalmente habilitado para proferir juízo sobre a causa. Ele

decompõe-se em dois (2) momentos:

a) Julgamento da matéria de facto: os factos controvertidos e os

provados. O Tribunal há-de responder aos factos quesitados (em

geral é levado a cabo por um colectivo de juízes que não procede ao

julgamento da matéria de direito, caso o fizer tem-se por não feito);

b) Julgamento da matéria de direito: o juiz singular vai aplicar o

direito aos factos. Ao juiz caberá proferir a sentença.

5 – “Fase da sentença final” (Art. 658º a 675º): esta fase

corresponde ao momento em que é proferida a decisão que põe

termo à causa. Uma vez proferida a sentença, se as partes não se

conformarem com a decisão, podem interpor recurso. Quer dizer

que, proferida a decisão, o processo pode ainda prosseguir, isto se

as partes impugnarem a decisão.

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II. FASE DOS ARTICULADOS

1. NOÇAO

A fase dos articulados é aquela em que as partes da acção – o autor

e o réu – apresentam as razões de facto e de direito que

fundamentam as posições que defendem em juízo e solicitam a

correspondente tutela judicial. É através dos articulados que as

partes iniciam o seu diálogo na acção.

Os articulados constituem a primeira fase do processo, destinada a

apresentação do pleito em juízo. As partes através das peças

escritas, expõem as suas teses e formulam pretensões, traçando

assim os contornos da acção.

Na definição do Código Processual Civil, os articulados são as peças

em que as partes expõem os fundamentos da acção e da defesa e

formulam os pedidos correspondentes – art.º 151.º.

Essas peças recebem o nome de articulados, porque, em princípio,

nas acções, nos incidentes e nos procedimentos cautelares é

obrigatória a dedução por artigos dos factos que interessam à

fundamentação do pedido ou da defesa (art. 151º, nº2), isto é,

cada facto deve ser alegado separadamente num artigo numerado.

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2. NÚMERO DE ARTICULADOS

O processo ordinário comporta, na tramitação normal, quatro (4)

articulados: 1º - a “petição inicial” (art. 467º – articulado do autor),

2º - a “contestação” (art. 486º – articulado do réu), 3º –a “réplica”

(art. 502º – articulado do autor) e 4º - a “tréplica” (art. 503º –

articulado do réu); em determinadas situações, podem ainda ser

apresentados “resposta à tréplica” (art. 504.º - articulado do autor)

e “articulados supervenientes” (art. 506º – articulados das partes).

Através dos articulados as partes expõem os termos da causa,

narrando os factos fundamentais produzidos pelas partes.

Os articulados têm por objectivo, na linha do princípio do

dispositivo, consagrado no artigo 26º, a exposição dos fundamentos

de facto e de direito da acção e da defesa e a formulação do

pedido. Com eles o pleito instaura-se e por meio deles define-se os

seus termos.

Assim, sem no entanto contrariar o que dissemos acima sobre o

número de articulados, é mais rigoroso afirmar que os articulados

são geralmente dois: a “petição inicial” que é o articulado do autor

(467º) e a “contestação” que é o articulado do réu (486º), sendo

que dar-se-á por finda a fase dos articulados se o réu na

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contestação não se defender por excepção ou não apresentar

reconvenção. Mais adiante falaremos desses tipos de defesa.

Entretanto, a fase dos articulados pode dar seguimento, surgindo

outros articulados, se, na contestação, o réu tiver deduzido alguma

excepção ou tiver formulado pedido reconvencional. Desta feita, é

dada ao autor a oportunidade de apresentar um novo articulado: a

réplica (502º), que serve para responder à matéria da excepção ou

para se defender quanto ao pedido reconvencional.

Se na réplica o autor modificar o pedido ou a causa de pedir ou

deduzir alguma excepção contra o pedido reconvencional, pode o

réu responder por meio da tréplica (art. 503º).

E o autor, ainda assim, pode fazer o uso da “resposta à tréplica” ou

mesmo “quadrúplica”, como resposta a um possível pedido

reconvencional deduzido na tréplica pelo réu (art. 504.º).

Os “articulados supervenientes” (506º) vêm depois e fora do sítio.

Em regra, o autor deve condensar nas peças processuais os factos.

Pode, no entanto, tomar conhecimento de novos factos ou até

surgirem novos factos. Nesses casos, podem então deduzir-se, em

articulado posterior ou em novo articulado esses novos factos

supervenientes. A superveniência pode ser subjectiva ou objectiva.


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É subjectiva quando se reporta a " conhecimentos” de novos

factos; e é objectiva quando objectivamente existe o surgimento de

novos factos.

3. PRAZOS PARA APRESENTAÇÃO DOS ARTICULADOS

A apresentação da petição inicial corresponde ao momento da

propositura da acção. Portanto, é necessário saber face ao direito

material quais são os prazos de caducidade ou prescrição do direito

que se pretende exercer.

A petição terá de dar entrada na secretária do Tribunal dentro em

prazo que permita a citação do réu antes que a caducidade ou a

prescrição se verifiquem (vide artigos 267º, 323º, 279º todos do

Código Civil e 144º do Código Processual Civil).

O prazo normal para apresentação da contestação é de vinte (20)

dias (art. 486º), mas pode dilatar-se no caso de pluralidade de réus

(ver números seguintes do artigo 486º).

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Quanto a réplica o prazo para a sua dedução é de oito (8) ou vinte

(20) dias, conforme tenha sido ou não deduzida reconvenção (artigo

502.º).

Finalmente, o prazo para a prazo para a apresentação da tréplica,

quando haja lugar, é de oito (8) dias (503º e 504º).

Em princípio o réu de uma acção ordinária não poderá vir a

contestar depois do vigésimo dia. Porém, o decurso do prazo para a

apresentação dos articulados – que é peremptório – não fará

extinguir o direito de praticar o respectivo acto no caso de justo

impedimento (arts 146º a 147º).

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III. A PETIÇÃO INICIAL

1. NOÇÃO

A petição inicial é o articulado em que o autor (demandante) propõe

a acção, deduzindo certa pretensão digna de tutela jurisdicional isto

é, a indicação do direito subjectivo a tutelar e dos respectivos

fundamentos – de facto e de direito (467º).

A petição inicial é a única peça que nunca pode faltar no processo,

sem ela não pode haver processo, uma vez que a concessão da

tutela jurisdicional não é oficiosa (264º).

É através da petição inicial que o réu toma conhecimento da

pretensão do autor e toma contacto com o pedido contra ele

deduzido.

A relação jurídico-processual é plural: autor-juiz e juiz-réu. Enquanto

somente houver petição inicial apresentada em juízo unicamente se

pode considerar intentada a acção (267º).

Só pela citação é que se estabelece de facto a relação jurídico-

processual plural. Até ao momento da citação a relação jurídico-

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processual não é plural porque ela somente se encontra até então

estabelecida entre o autor e o juiz.

Assim, quanto a sua natureza jurídica, a petição inicial é o acto

jurídico-constitutivo da relação processual relativamente ao autor.

2. ELEMENTOS DA PETIÇÃO INICIAL

Nos termos do artigo 467º, nº 1, na petição inicial deve o autor

designar o tribunal onde a acção é proposta, identificar as partes,

indicando os seus nomes, domicílios ou sedes e, sempre que

possível, profissões e locais de trabalho; deve ainda indicar o

domicílio profissional do mandatário judicial, indicar a forma de

processo e expor os factos e as rezões de direito que servem de

fundamento à acção, terminando por formular o pedido e declarar o

valor da causa.

Para uma melhor compreensão dos elementos (requisitos) da

petição inicial, importa sistematizá-los em elementos substanciais e

elementos formais.

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São elementos substanciais: os sujeitos, o pedido e a causa de

pedir; são elementos formais: a indicação da forma do processo, a

declaração do valor da causa, a assinatura das partes ou do

advogado, o oferecimento de duplicados e o cumprimento das

obrigações fiscais.

A) ELEMENTOS SUBSTANCIAIS

I - “Os sujeitos”

Os sujeitos da petição inicial coincidem com os sujeitos da relação

jurídico-processual. E os sujeitos na relação jurídico-processual são

as “partes” e o “tribunal”. É necessário que na petição inicial autor

designe o tribunal onde a acção é proposta e as partes (autor e réu)

intervenientes no processo. Começaremos com as partes.

As “partes”. As partes (467º, 1) são designadas pelo nome

completo, estado civil, morada, profissão, porém, se o réu for uma

pessoa colectiva, património autónomo ou um incapaz a designação

é feita através da identificação dos seus representantes.

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O “Tribunal”. A designação do Tribunal faz-se habitualmente pela

expressão: “Exmo. Juiz de Direito do Tribunal…”

“Venerandos Juízes Conselheiros do Tribunal Supremo…”

II - “O pedido”

O pedido é a forma de tutela jurisdicional requerida para uma

situação jurídica de direito material (exemplo: indemnização pelo

incumprimento ou realização da prestação em dívida).

O pedido tem de ser formulado de maneira precisa, coerente e

inteligível (467º e 193º). Algumas acções de processo comum são

conhecidas no fórum por certas designações: “acção de

reivindicação”, “acção de preferência”, “acção de demarcação”, não

obstante não constituir uma exigência legal. Quando se propõe uma

acção que tem nominação característica torna-se aconselhável

indicar essa na petição, conseguindo-se numa fórmula simples, a

ideia geral, o objectivo dessa acção.

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III - “A Causa de Pedir”

A causa de pedir são os factos necessários para individualizar a

situação jurídica alegada pela parte e para fundamentar o pedido

formulado para essa situação (exemplo: o incumprimento do

contrato que fundamenta o pedido de indemnização ou de

realização da prestação em dívida).

Do ponto de vista dos factos deve a causa de pedir ser indicada com

clareza, inteligibilidade e coerência (193º, 2); a al. c) do artigo 467º

impõe, no lado da exposição dos factos, também a exposição do

direito, mas tal teoria é bastante discutível, porque por vezes os

leigos não conhecem até a exaustão o direito.

O vício relativo aos elementos substanciais é sancionado com a

ineptidão da petição inicial (art. 193º): o processo é nulo. O

Tribunal pode conhecer oficiosamente da nulidade 202º a 206º e só

poderá ser arguida pelo réu até ao momento da contestação (nº 1

art. 204º).

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B) ELEMENTOS FORMAIS

1º- Indicação da “forma de processo”: 467º, al. b).

2º- “Declaração do “valor da causa”: 467º, al. e).

3º - Remate com requerimento a pedir a “citação do réu”.

4º- “Assinatura” das partes ou do advogado conforme o caso.

5º- Oferecimento de “duplicados” (152º)

6º- Satisfação das exigências fiscais (467º, 2)

3. FORMA REDACTORIAL DA PETIÇÃO INICIAL

1º “Endereço”

Exmo. Sr. Juiz de direito do Tribunal Provincial…

Venerando Juízes Conselheiros do Tribunal Supremo…

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2º “Cabeçalho” - art.467º,nº 1, b)

Identificar o autor

Identificar o réu

Identificar o tipo de acção

José Joaquim Gonçalves, casado, com residência em________,

NIF_________,

vem intentar,

vem propor,

vem instaurar

acção declarativa de condenação sob a forma comum ordinária

contra

Maria Isabel, solteira, maior, residente____________

Nos seguintes termos e fundamentos:

3º- “Narração” - art.467º, nº1, c)

O mais importante são os factos. Porque a sua falta vai ter

consequências – a ineptidão.

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A falta de questões de direito não tem qualquer consequência

porque o juiz é que vai aplicar o direito.

4º - “Conclusão” - art.467º, nº1, e)

Pedido:

Nestes termos e nos mais de direito deve o réu ser condenado a: 1;

2; 3….

Nestes termos e nos mais de direito deve ser declarado nulo o

contrato e, em consequência: 1; 2; 3….

5º - “Valor” - art.467º, nº1, e)

Obrigatório:

Junta (documentos anexos: procuração, documentos legais,

comprovativos prévio pagamento da taxa de justiça inicial art.º467

n.º3 CPC) –

Valor da causa

Valor da Acção

O advogado

___________________Assinatura____________________
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4. ENTREGA DA PETIÇÃO INICIAL E EFEITOS

A petição inicial é entregue à secretaria e registada em livro que

todos os dias é fechado, de modo a marcar indiscutivelmente a data

de recebimento.

A petição inicial deve ser sempre recebida. Porém, a secretária

poderá recusar o recebimento da petição inicial, fundamentando a

rejeição por escrito, nos casos que constam das diversas alíneas do

artigo 474.º: falta de endereço ou endereço dirigido a Tribunal ou

entidade diferente; omissão de identificação ou identificação

incompleta das partes; não indicação da forma de processo;

omissão da identificação do valor da causa; falta de documento

comprovativo d prévio pagamento da taxa de justiça inicial ou do

documento que ateste a concessão de apoio jurídico; falta de

assinatura; se não estiver redigida em língua portuguesa; utilização

de papel que não obedeça aos requisitos regulamentares (ver

também 213º).

Com a entrega da petição inicial a secretaria considera-se a acção

proposta, intentada ou pendente (267º, 1 e 2; 385º, 3); Fixa-se a

competência do Tribunal (63º); o juiz tem de actuar

jurisdicionalmente sob pena de denegação da justiça.

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5. O DESPACHO LIMINAR

Distribuída a petição inicial, esta é apresentada ao juiz que a

despacha no prazo de cinco (5) dias (156º e 159º). Este despacho

tem por objecto a verificação sumária das condições da acção e dos

pressupostos processuais.

No despacho liminar o juiz pode indeferir liminarmente a petição,

convidar o autor a completá-la ou a corrigi-la ou ordenar a citação

do réu para contestar. Embora não seja apontado por muitos

autores, no despacho liminar o juiz pode também mandar arquivar o

processo. Estudaremos de seguida, e com pormenores, cada uma

dessas três (3) atitudes do juiz.

A) INDEFERIMENTO LIMINAR

O despacho de indeferimento liminar pode ser proferido quando o

pedido seja manifestamente improcedente ou ocorram, de forma

evidente, excepções dilatórias insupríveis, que sejam de

conhecimento oficioso (vide 234.º e 474.º).

O indeferimento liminar extingue a instância à sua nascença – cfr.

287º, al. a).

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Não é possível o indeferimento liminar parcial, a não ser que dele

resulte a exclusão de algum dos réus, isto é, nas acções com réu

único, mas com vários pedidos não se poderá verificar o

indeferimento que não abranja todos eles, ou que sendo várias as

causas de pedir só em relação a algumas tenha lugar.

O indeferimento ocorre depois da distribuição e antes da citação.

Contra o indeferimento liminar o autor deve reagir por agravo (art.

475º). Agravando o autor, o réu será citado nos termos de agravo.

Sendo o despacho de indeferimento revogado, mandará o juiz da

primeira instância, em cumprimento da decisão, notificar o réu (art.

744º), começando a correr desde a respectiva notificação o prazo

da contestação.

O provimento do agravo importa a decisão definitiva sempre que o

indeferimento liminar tenha com causa a falta manifesta de

pressupostos processuais, e apenas assegura o seguimento do

pleito quando o fundamento seja antes a manifesta improcedência

da pretensão do autor.

O autor deve apresentar a nova petição dentro do prazo legal de

cinco dias (5), contados da notificação do despacho de

indeferimento.

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As possíveis reacções do autor face ao indeferimento liminar são as

seguintes:

i. Pode o autor não reagir ao despacho de indeferimento liminar.

Neste caso este transita em julgado, e com efeito o réu é absolvido

da instância, o processo acaba, a acção termina;

ii. Não aproveitar o estabelecido no artigo 467º e intentar uma

nova acção;

iii. Não se conformar com o indeferimento e recorrer do referido

despacho. O Tribunal deve receber o recurso mesmo que o valor da

causa se situe na alçada do Tribunal que indefere liminarmente a

petição.

B) DESPACHO DE CORRECÇÃO

O despacho de correcção visa colmatar as irregularidades e

deficiências que prejudicam o bom andamento da causa (art.

477.º).

O juiz pode convidar o autor a completar ou corrigir a petição inicial

nos termos do artigo 477.º, caso ela esteja incompleta ou por falta

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de requisitos legais. Caso o autor não complete deve o juiz indeferir

liminarmente a petição inicial.

A atitude do juiz em convidar o autor da acção a corrigir a petição

inicial não deve ser entendida no sentido de garantir o êxito da

acção, isto é, não garante que o autor ganhe a acção.

O juiz pode mandar arquivar o processo nas situações em que a

pretenção do autor for estranha à ordem jurídica, ou seja, quando o

pedido do autor não é digno de protecção jurídica. Exemplo: o

pároco pede que se excomungue um cristão; A professora pede que

o seu aluno a cumprimente.

C) DESPACHO DE CITAÇÃO

A citação é o acto pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi

proposta contra ele uma determinada acção e se chama ao processo

para se defender. Emprega-se ainda para chamar, pela primeira

vez, ao processo alguma pessoa interessada na causa – art. 228º,

1.

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A citação constitui um acto essencial para efeitos de realização do

princípio do contraditório, visto que dá à contraparte a oportunidade

da defesa.

O despacho de citação vai dar azo a constituição da relação jurídico-

processual entre o juiz e o réu (267.º, 2).

Tanto a citação como a notificação (art. 228.º) são actos judiciais

destinados a chamar as pessoas a juízo. Mas a citação emprega-se

no primeiro chamamento, ao passo que os chamamentos

posteriores sempre se operam por meio da notificação.

A citação é, em princípio, pessoal. Só a partir dela é que o

demandado é atingido para efeitos do processo (228.º, 232.º,

243.º). Mas a citação também pode ser edital (de éditos, anúncios),

quando houver incerteza da pessoa ou lugar (247.º).

A citação deve obedecer a certas formalidades (vide artigos 242.º-

243.º):

1º Declaração verbal do funcionário;

2º Entrega do duplicado;

3º Nota de citação e certidão respectiva

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O vício da falta de citação (195º) determina a sua inexistência, tudo

se passando como se nenhuma citação se tivesse operado.

O vício da nulidade da citação (198º) faz com que os efeitos da

citação anulada só subsistam se o réu for novamente citado em

termos regulares dentro do prazo de dias contados do trânsito em

julgado do despacho de anulação. Determina a nulidade de todos os

actos a ela subsequentes.

i. Efeitos da citação:

A citação produz efeitos de ordem substantiva e efeitos de ordem

processual.

1º “Efeitos substantivos”

- Interrupção da prescrição (323º, 1 do Código Civil): a citação

interrompe a prescrição.

Se a favor do réu – devedor de uma certa importância – está a

correr o prazo prescricional, a prescrição considera-se interrompida

a partir da citação.

- Faz cessa a boa-fé do possuidor (1260º e 481º todos do Código

Civil)
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Quando o titular do direito sobre a coisa propõe uma acção de

reivindicação ou, elo menos, acção de simples apreciação do seu

direito sobre a coisa, cessa a situação de boa fé do possuidor a

partir do momento da sua citação. Pela citação fica a conhecer que

está (ou pode estar) a lesar o direito do autor. Se a acção vier a ser

julgada procedente, o réu é considerado como possuidor de má fé

desde o momento da citação.

- Constitui o devedor em mora quando a obrigação não dependa de

prazo certo (art. 805º CC).

Nas obrigações cujo cumprimento não depende de prazo certo, o

devedor só fica constituído em mora depois de ter sido judicial ou

extrajudicialmente interpelado para cumprir.

2º - “Efeitos processuais”

- Torna estáveis os elementos essenciais da causa (268º e 481, b))

Os elementos essenciais da causa são as pessoas, o pedido e a

causa de pedir. A partir da citação, estes elementos tornam-se

estáveis. Não significando, porém, que tais elementos não sejam

susceptíveis de alteração (cfr. 269º-270º, 272º-273º).

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- Inibe o réu de propor contra o autor acção que se destine a

apreciação da mesma relação jurídica (497º, 455º)

A partir da citação do réu estão criadas as condições para surgir um

caso de litispendência. Basta que o réu se lembre de propor contra

o autor uma acção que tenha por fim apreciar a mesma questão

jurídica.

- Duração dos efeitos da citação (482º, 289º)

Por força do artigo 482º os efeitos da citação anulada ainda

subsistem se o réu for novamente citado em termos regulares

dentro de 30 dias, a contar do trânsito em julgado do despacho de

anulação.

ii. As três atitudes do citado

Depois da citação o réu pode tomar uma das três atitudes

seguintes:

1º Vem ao processo contestar (art. 486º);

2º Não vem ao processo contestar. O que equivale à revelia.

(484º);

3º Vem ao processo e confessa (293º-294º, 473º e 491º).


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IV. A CONTESTAÇÃO

1. NOÇÃO

Através da contestação é dada ao réu a oportunidade de se

defender da pretensão formulada pelo autor na petição inicial (vide

art. 486º.).

Nos termos do nº 1 do artigo 343.º do Código Civil, nas acções de

simples apreciação negativa, compete ao réu a prova dos factos

constitutivos do direito que se arroga.

Os requisitos da contestação acabam por ser os mesmos, sempre

com as devidas alterações, que os requisitos da petição inicial,

conforme o artigo 488.º.

A contestação é uma forma de defesa, e, excepcionalmente, é um

meio de pedir, quando o réu deduz a reconvenção. Daí alguns

autores distinguirem uma contestação-defesa duma contestação-

reconvenção.

A oportunidade da defesa pode deslocar-se o tempo, constituindo o

que se chama defesa posterior (nº 2, artigo 489.º).

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2. FORMA REDACTORIAL DA CONTESTAÇÃO

1º- “Endereço”

Exmo. Sr. Juiz do Tribunal…

2º- N.º do processo…

Secção…

3º “Identificação das partes”

1º Réu, 2º réu; A-autor, R-Reu.

António, réu nos autos, vem contestar nos seguintes termos e

fundamentos…

Contesta o réu… nos autos da acção… que lhe move… e diz:…

4.º- “Narração”

Por excepção…

Por impugnação…

Em reconvenção diz o reconvinte…


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5.º- “Pedido”

Depende da forma de defesa

Nos termos em que a acção deve ser julgada improcedente e não

julgador devendo ser o réu absolvido da instância ou absoluto

pedido…

Neste termos e nos demais de direito aplicável, deve julgar-se

procedente a excepção dilatória…

O réu absolvido da instância, ou quando assim não se entenda,

deve ser julgada procedente a excepção peremptória… E réu

absolvido do pedido…

Ou quando ainda assim não se entenda, deve dar-se como fundada

a matéria da impugnação, julgando-se improcedente a acção e

absolvendo-se igualmente o réu do pedido…

Entretanto, deve ser julgada procedente a reconvenção,

condenando-se o autor reconvindo a…

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6.º “Assinatura”

Junta (documentos anexos: procuração, documentos legais,

comprovativos prévio pagamento da taxa de justiça inicial e

documentos)

Entrega procuração e documentos…

Valor da reconvenção…

O advogado…

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3. MODALIDADES DE CONTESTAÇÃO

O Modo de defesa do réu, comporta duas formas: a defesa por

impugnação (defesa directa) e a defesa por excepção (defesa

indirecta) – art. 487º.

A) DEFESA POR IMPUGNAÇÃO

Na defesa por impugnação ou defesa directa, o réu nega

frontalmente os factos alegados pelo autor (impugnação directa ou

impugnação dos factos) ou, sem negar a realidade desses factos,

contradiz o efeito jurídico que o autor deles pretende tirar

(impugnação indirecta ou impugnação do direito).

Como resulta do artigo 487º., nº2, a impugnação implica sempre

uma negação dos factos ou dos seus efeitos jurídicos, através da

negação simples e directa ou de negação motivada, que se traduza

na alegação de outros factos distintos e opostos àqueles, dando-se

uma nova versão da realidade.

Na defesa por impugnação podemos extrair vários tipos de

oposições, que a seguir passaremos a apontar:

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a) Oposição jurídica (art.º487 n.º2 2ª.parte) – aceita-se os factos

mas não se aceita a conclusão jurídica que o autor quer tirar desses

factos.

b) Oposição factual

i. Negação directa – “é falso, não devo nada”

ii. Negação indirecta – nega-os indirectamente, integrando-os numa

outra panorâmica.

iii. Simples desconhecimento

Em suma, o réu defende-se directamente negando directa ou

indirectas os factos alegados pelo autor, ou ainda, impugnando a

relação de direito substancial que oi lavada a Tribunal.

Exemplo: se o proprietário de uma casa pretende que o réu lhe

pague a importância correspondente à renda devida elo tempo em

que a ocupou, na contestação pode o réu defender-se negando ter

ocupado esse imóvel ou, reconhecendo que o ocupou, alegar que o

fez, não por via de arrendamento, mas a título de comodato.

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B) DEFESA POR EXCEPÇÃO

O réu defende-se por excepção quando alega factos que obstam à

apreciação do mérito da acção ou que, servindo de causa

impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo autor,

determinam a improcedência total ou parcial do pedido – art. 487º,

nº 2 (2ª parte).

Como é possível notar, o enunciado acima comporta duas partes. O

que quer dizer que num e noutro caso, a defesa é sempre indirecta.

Senão vejamos: o réu não ataca de frente a causa de pedir, não

procura destruí-la; o seu ataque é de flanco; serve-se de uma facto

novo que, ou inutiliza a instância (excepção dilatória) ou inutiliza o

pedido (excepção peremptória).

Quer dizer, o réu para se defender, desloca-se para campo diverso

daquele em que se encontra o autor e procura, por via transversal,

obter o fracasso da acção.

Concluindo, o réu defense-se de forma indirecta deduzindo

excepções. Quer dilatórias, quer peremptórias.

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i. Excepções dilatórias (art.º487 e 494)

Denominam-se excepções dilatórias as excepções que obstam a que

o Tribunal conheça do mérito da causa e que dão lugar à absolvição

do réu da instância ou à remessa do processo para outro tribunal –

493º, n.º 2.

O artigo 494.º enumera, a título exemplificativo, as excepções

dilatórias.

ii. Excepções peremptórias

Tomam a designação de excepções peremptórias as excepções que

consistem na alegação de factos impeditivos, modificativos ou

extintivos de direito invocados pelo autor, e importam a absolvição

ou parcial do pedido – art. 493.º, nº 3.

Impeditivos são os factos susceptíveis de obstar a que o direito do

autor se tenha validamente constituído (ex. incapacidade, falta de

legitimação, erro, dolo, coacção, simulação, etc.), e também

aqueles, pelo menos quando operem ab initio, que apenas retardem

o surgir desse direito (condição suspensiva; por vezes o termo

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dilatório) ou em todo o caso a sua exercitabilidade (termo dilatório,

não sendo aquele outro o seu efeito).

Revestem a natureza de factos modificativos quaisquer factos que

possam ter alterado os termos daquele direito – o que também

pressupõe a sua válida constituição. Assim, por exemplo, se foi

mudado o assento, percurso ou local duma servidão ou concentrado

o objecto da prestação obrigacional (escolha nas obrigações

alternativas) ou concedida moratória ao devedor.

Por último, factos extintivos são os que tenham produzido a

cessação do direito do autor, depois de já formado validamente:

assim, a condição resolutiva, o termo peremptório, o pagamento, o

perdão e a renúncia, a caducidade a prescrição, etc.

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4. – PRINCÍPIOS DA CONTESTAÇÃO

i. Principio concentração da defesa (art.º489)

Um dos princípios que o réu deve observar consiste no dever de

concentrar toda a sua defesa na contestação – art. 489.º, nº 1.

Aliado a este princípio temos o princípio da preclusão, segundo o

qual todos os meios de defesa não invocados pelo réu na

contestação ficam prejudicados não podendo ser alegados mais

tarde.

Não pode o réu, sob o mero pretexto de haver cometido erro

material em determinado articulado, que levou à omissão de vária

matéria, apresentar nova peça substitutiva da primeira.

Excepções ao princípio (489.º, nº2)

As excepções ao princípio da concentração constam da 2º.parte

desse artigo.

Embora a regra é que toda a defesa deve ser deduzida na

contestação (art.º489 n.º1 1ª.parte), há casos em que a defesa

deve ser feita fora da contestação. Temos, desde logo, os incidentes

que a lei manda deduzir em separado, é por exemplo uma


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suspeição do juiz, quando se suspeita da imparcialidade deste. Há

que garantir a imparcialidade da decisão. Quem decide estes

incidentes são os juízes dos tribunais superiores.

Outra excepção é a prevista no n.º2 do mesmo artigo é que se

traduz na defesa diferida. Quer isto dizer que, depois da

contestação, o réu pode ainda apresentar a sua defesa quando

alegar factos supervenientes, quando a lei admita expressamente,

ou ainda, quando as questões sejam de conhecimento oficioso.

ii. Ónus da impugnação (especificada) – (art.º490º)

Ao contestar o réu tem de tomar posição perante os articulados na

petição (dizer verdadeiro ou falso) salvo as excepções do n.º2 (é

falso por causa disto…). O réu deve reagir a dedução do autor facto

por facto.

Consideram-se admitidos por acordo os factos que não forem

impugnados… (490.º 2, ou ainda os artigos 354.º, al. b) e 364.º,

n.º 1, ambos do Código Civil).

O ónus da impugnação especificada não implica que tenham de ser,

expressamente, negados todos os pormenores fácticos que o

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impugnante queira contradizer, bastando, para que tal ónus seja

cumprido, que o impugnante apresente uma versão dos eventos

essencialmente contraposta à da outra parte.

Excepção ao ónus da impugnação (art. 490.º, 4). Este princípio

também conhece excepções: se os factos deduzidos pelo autor

estiverem em manifesta contradição com a defesa considerada no

seu todo; se não admissível confissão sobre eles; se o réu não

reagir especificadamente aos factos arguidos pelo autor e se

tratarem de factos que só admitem prova documental não implica

admissão por acordo (491, nº 1; 354.º do Código Civil).

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5. CONTESTAÇÃO-RECONVENÇÃO

A) NOÇÃO

A reconvenção (501.º) consiste na formulação de um pedido

autónomo feito pelo réu (reconvinte) contra o autor (reconvindo).

Este pedido não é uma consequência da defesa do réu e não se

confunde com aquelas situações em que o réu formula pretensões

de improcedência da acção.

O réu pode aproveitar a contestação para formular os pedidos

contra o autor. O réu é o reconvinte sendo o titular de uma

pretensão autónoma contra o autor, que é o reconvindo, e faz valer

nesse processo, havendo, uma inversão de posição das partes.

Esta pretensão não se aplica no processo sumaríssimo, porque

neste processo não existe um terceiro articulado.

A reconvenção tem carácter facultativo, porque o pedido

corresponde a uma acção própria, o réu pode optar entre fazê-lo

valer em convenção ou deduzi-lo em separado.

Na reconvenção o réu deduz um pedido autónomo. Deste modo, o

processo passa a comportar duas acções cruzadas.

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Constitui um verdadeiro pedido reconvencional o que, numa acção

de despejo o réu vier a formular contra o senhorio, com vista a ser

por este indemnizado das despesas ocasionadas com as benfeitorias

realizadas no prédio arrendado. O pedido de indemnização é (e de

ser) autónomo em relação ao pedido formulado pelo autor. Como já

dissemos, esse pedido não é uma mera consequência da defesa.

Aliás, o réu pode nem sequer se defender em relação ao pedido de

despejo e limitar-se a deduzir o pedido de indemnização (pedido

reconvencional) contra o autor.

A reconvenção não constitui um ónus do réu, mas uma mera

faculdade cujo exercício lhe não preclude o direito de accionar o

autor em acção autónoma.

B) DEDUÇÃO DA RECONVENÇÃO

A reconvenção deve ser deduzida discriminadamente na

contestação, expondo-se os fundamentos e concluindo-se com os

pedidos (467.º als. e) e d)).

Não há precedência legal entre a defesa do réu e a reconvenção.

Mas logicamente deve-se começar pelos fundamentos da defesa e

conclusões desta e só depois os fundamentos da reconvenção.


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Por fim deverá indicar-se o valor da reconvenção (arts. 308.º, 2;

314.º; e al. c), nº 1, 467.º).

C) REQUISITOS DE ADMISSIBILIDADE

Para que a reconvenção seja admissível é necessário, se verifiquem

os requisitos previstos no artigo 274º, que iremos distingui-los entre

requisitos processuais e requisitos substanciais ou objectivos.

i. Requisitos processuais (274.º, nº 3)

Os requisitos de natureza processual são cumulativos, isto é, têm

que se verificar todos para que a reconvenção seja admissível.

• Competência do Tribunal (art.º 98º) – a lei determina aos

tribunais vários âmbitos de competência. Deste modo, para que o

réu possa deduzir reconvenção, é necessário que o tribunal onde o

processo está pendente se revele competente para conhecer

também de questão reconvencional (98º nº 1).

Para que o reconvindo não seja absolvido da instância, tal

competência deve ser em razão da nacionalidade, da matéria e da

hierarquia, já que, aliás como já vimos, se o for em razão do


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território ou em razão do valor, deverá resultar oficiosamente na

remessa do processo para o tribunal competente (98.º, 2).

• Forma do Processo (art.º 247º nº3) – exige-se que tanto o

pedido original como o reconvencional tenham a mesma forma de

processo. Esta exigência tem como objectivo impedir que o excerto

da acção reconvencional no processo pendente possa causar

perturbações e embaraços à sua normal e previsível tramitação. A

forma é, em regra, determinada pelo pedido do autor, segue-se que

o processo só será idóneo para se instituir, discutir e julgar a causa

reconvencional se existir coincidência entre a forma do processo

aplicável à acção e a forma do processo aplicável à reconvenção.

Se estivermos numa acção comum ordinária ou sumária, é

admissível reconvenção se esta couber a forma comum de processo,

qualquer que seja o seu valor.

Se a acção for de inventário, não é possível uma reconvenção para

exigir do cabeça-de-casal, o valor de uma dívida. Isso porque o

inventário é um processo especial e a dívida é comum. Existe uma

incompatibilidade.

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Ainda noutro entendimento: Se ao pedido reconvencional

corresponder forma diversa da acção, a reconvenção não será

atendida, tal não será relevante se a divergência da forma resultar

do valor do pedido.

Exemplo: se à acção corresponder a forma de processo comum

ordinária e ao pedido reconvencional corresponder a forma de

processo sumaríssima, é admitido o pedido reconvencional. Se ao

pedido do autor corresponder a forma sumaríssima e à reconvenção

corresponder a forma ordinária ou sumária, o pedido reconvencional

não é admitido pelo simples facto de que os processos comuns

sumaríssimos não admitem pedido reconvencional (art. 795.º).

ii. Requisitos substantivos (274.º, nº 2)

Deve existir uma certa conexão entre o pedido formulado na acção

e o pedido deduzido na reconvenção.

1º - A reconvenção é admissível quando o pedido do réu emerge do

mesmo facto jurídico que serve de fundamento à acção ou à defesa

– art. 274.º, 2.

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Exemplo: se o autor, com fundamento num contrato sinalagmático,

vier a exigir a prestação devida pelo réu, pode este, em

reconvenção exigir também a prestação devida pelo autor.

2º- A reconvenção é também admissível quando o réu se propõe

obter compensação ou tornar efectivo o direito à benfeitorias ou

despesas relativas à coisa cuja entrega lhe é pedida – art. 274.º, nº

2, al. b).

Exemplo: o autor deve ao réu AKZ 1.500,00 e réu deve-lhe AKZ

3.000,00, então o réu apenas lhe pagará AKZ 1.500,00 que é a

diferença (ver mais no art. 874º do Código Civil, sobre a

compensação de créditos).

3º- A reconvenção é ainda admissível quando o pedido do réu tende

a conseguir, em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que o autor

se propõe obter – art. 274.º, nº2, al. c).

Exemplo: é que se verifica nas acções de divórcio litigioso. O réu

pretende obter, tal como o autor, o divórcio e, por isso, em

reconvenção formula o mesmo pedido.

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D) A FALTA DE CONTESTAÇÃO

O que acontece quando não há contestação?

Sabe-se que não existe um dever de contestar mas tão-somente um

ónus de contestar (arts. 489º-450º).

É considerado revel o réu que tendo sido citado na sua pessoa não

contesta a acção (483.º).

Quando o réu não deduzir qualquer oposição, não constituir

mandatário, nem intervier de qualquer forma no processo, ou seja,

o réu manter-se absolutamente alheio ao processo, o juiz deverá

verificar se a citação foi feita com todas as formalidades legais e

mandá-la-á repetir, quando encontre irregularidades – 483º.

Resulta desta disposição legal a possibilidade de ocorrerem dois

tipos de situações quando se verifica que o réu não apresentou

contestação.

1º - O réu, além de não contestar, não deduziu qualquer oposição,

não constituiu mandatário nem teve qualquer intervenção no

processo. Estamos diante da revelia absoluta.

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2º - O réu, embora não contestando, constitui mandatário, deduziu

alguma forma de oposição ou teve qualquer intervenção no

processo. Acontece a revelia relativa.

No primeiro caso o juiz verifica se a citação foi feita com

observância das formalidades legais, se tiverem sido verificadas

irregularidades no acto de citação, o juiz ordenará que o mesmo

seja repetido. Se o juiz concluir que a citação foi efectuada com

observância das regras previstas na lei, dá-se a revelia absoluta do

réu. O réu manteve-se totalmente alheio ao processo.

No segundo caso, verifica-se a revelia relativa, pois o réu, pese

embora não tenha contestado, constitui mandatário no processo ou

intervém de algum modo na acção. Ou seja, o réu evidenciou pelo

seu comportamento no processo, que tomou conhecimento de que

foi proposta uma acção contra si.

A revelia (tanto a absoluta como a relativa) tem como efeito, a

chamada cominação semi-plena, ou seja, dão-se como admitidos ou

confessados os factos articulados pelo autor na petição inicial.

Confessados os factos por ausência da contestação, terminam os

articulados (art.º 484º nº 2). Da petição inicial passa-se a fase da

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discussão (alegações por escrito). É desnecessária a fase do

saneamento e condensação e da instrução.

Trata-se de uma confissão tácita, também designada ficta ou legal.

Nos processos sumário e sumaríssimo o efeito é o da admissão do

próprio pedido (784º-795), é a chamada cominação plena.

Além da classificação da revelia como absoluta e relativa, temos

também um outro tipo de classificação. É a que distingue a revelia

operante da revelia inoperante.

A revelia operante (484º nº 1), implica a confissão (semi-plena) dos

factos articulados pelo autor. É regime regra.

Admitindo o réu os factos alegados pelo autor na petição inicial,

segue-se para a discussão jurídica da causa e depois existe uma

sentença.

A revelia considera-se inoperante naqueles casos em que a falta de

contestação não desencadeia o regime normal. Ou seja, significa

que, não obstante a falta de contestação, não se consideram como

confessados os factos articulados pelo autor.

Na revelia inoperante (485º), são os casos excepcionais:

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a) No caso de pluralidade de réus, basta que um dos réus

conteste a acção, para os factos por ele impugnados não poderem

ser considerados como confessados em relação aos seus co-réus

revéis. Contestando um dos réus, o processo segue a tramitação

normal.

b) No caso de réu (s) incapaz (es). Ex. Acção proposta contra B,

que é incapaz, B não contesta e diz respeito ao contrato da

incapacidade. Se ele não contestar, verifica-se a alínea b) e a revelia

é inoperante e o processo segue todas as fases. Quando é citado

editalmente e ele não apareceu, segue-se a tramitação normal do

processo. Isto porque o réu pode não ter o conhecimento efectivo

da acção que perde contra si. Deste modo, o legislador entendeu

por bem não sujeitar o réu revel por regime da revelia operante.

c) Aplica-se aos casos em que a acção diz respeito a relações

jurídicas indisponíveis. Nestas acções a vontade das partes é

ineficaz para produzir o efeito visado pelo autor. É o que se verifica

nas acções de estado em que a sentença deve reflectir a verdade

objectiva que resulta da procriação, da adopção, do matrimónio ou

do parentesco.

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Nas acções de investigação de maternidade ou de paternidade, de

impugnação de paternidade, de anulação de casamento, de

divórcio, de separação de pessoas e bens os factos articulados pelo

autor não se consideram confessados mesmo que o réu,

regularmente citado na sua própria pessoa, não deduza

contestação, porque o que interessa é apurar por todos os meios

disponíveis a verdade dos factos.

d) Dos factos para cuja prova se exija documento escrito.

Exigindo a lei um documento escrito para a prova de determinado

facto, não pode a falta de contestação ser considerada suficiente

para que tal facto seja tido como provado – cfr. artigo 364º do

Código Civil.

Assim, exigindo a celebração de escritura pública para o contrato

invocado pelo autor na petição inicial, a falta de contestação não

pode conduzir à prova de que se realizou esse mesmo contrato (cfr.

875.º do Código Civil).

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V. A RÉPLICA

1. NOÇÃO

A réplica é o articulado em que o autor responde à contestação

quando nesta o réu tenha deduzido alguma excepção ou formulado

pedido reconvencional (vide artigo 502.º).

A réplica é admissível quando tenha havido contestação em

qualquer das suas modalidades que a lei processual prevê e

possibilita, seja a contestação-defesa, seja a contestação-

reconvenção, e, obviamente quando tenha havido contestação por

mera junção de documentos.

2. FUNÇÕES

A réplica, como articulado eventual, desempenha as funções

seguintes:

1º - Serve de resposta a contestação-defesa. Se na contestação o

réu se limitou a deduzir defesa por impugnação, o autor pode

prescindir da reconvenção.

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Apesar do disposto nos artigos 490.º e 505.º, não necessita o autor

de reafirmar os factos que já articulou na petição, mas isto não quer

dizer que efectivamente ele não replique para contrariar as razões

de direito formuladas na contestação, ou pode desenvolver ou

modificar as anteriores para esclarecer, precisar ou corrigir factos,

adicionando outros.

2º - Serve para esclarecimento ou alteração das razões de direito e

de facto deduzidos na petição e na própria causa de pedir – (art.

273.º, nº 1).

3º - Serve para esclarecimento ou alteração do pedido (art. 273.º,

2). Inclui-se aqui a substituição, o aditamento, redução ou

ampliação.

4º - Serve para contestar o pedido reconvencional (art. 502, nº2).

Quanto a este aspecto, a réplica funciona como uma verdadeira

contestação. Nesse caso aplicam-se com as necessárias adaptações,

os princípios dominantes deste articulado, entre eles, o ónus de

impugnação especificada (490.º e 505.º).

5º - Nas acções de simples apreciação negativa servem para o autor

impugnar os factos constitutivos que o réu tenha alegado e para

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alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito por este

invocado.

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VI. A TRÉPLICA

A tréplica é o articulado que constitui a resposta do réu à réplica do

autor.

Nos termos do art. 503, a tréplica é admissível quando tenha havido

réplica e nesta tiver sido modificado o pedido ou a causa de pedir, e

quando o autor tiver, na réplica, deduzido alguma excepção contra

o pedido reconvencional formulado pelo réu na contestação.

A tréplica é, portanto, a resposta do réu à modificação do pedido ou

da causa de pedir ou a resposta às excepções deduzidas pelo autor

contra a reconvenção.

Sinteticamente são as seguintes as funções da tréplica:

1º - Serve para o réu responder à réplica;

2º - Serve para desenvolver e explicar a defesa;

3º - Serve para deduzir matéria de defesa, nos casos excepcionais

em que a lei permita (506.º)

4º - Serve de réplica a respeito da matéria reconvencional e nas

acções de simples apreciação negativa.

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A tréplica terá lugar dentro de oito (8) dias depois de findo o prazo

para oferecimento da réplica.

VII. RESPOSTA À TRÉPLICA

O artigo 504.º abre uma possibilidade de resposta à tréplica. Isto é,

tendo o réu deduzido algum pedido reconvencional contra o autor

ou tratando-se de simples acção de apreciação negativa pode o

autor responder no prazo de oito (8) dias à tréplica do réu, na parte

relativa a matéria da reconvenção ou dos factos impeditivos ou

extintivos do direito invocado pelo réu.

Portanto, certo está que o autor só poderá usar deste articulado no

que respeita apenas à matérias do artigo 504.º. Caso o autor abuse

desse articulado e tratar nele de matérias que não digam respeito à

reconvenção, deve o juiz abster-se de atribuir qualquer valor ao

excesso. Será tido como não escrito tudo quanto na resposta à

réplica exorbite a sua função.

Alguns autores atribuem a este articulado a designação de

quadruplica.

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VIII. ARTICULADOS SUPERVENIENTES

Depois da entrega do último articulado podem ocorrer, ou chegar ao

conhecimento de qualquer das partes, outros factos com interesse

para a decisão da causa.

Os factos constitutivos, modificativos ou extintivos do direito que

forem supervenientes podem ser deduzidos em articulado posterior

ou em novo articulado, pela parte a quem aproveitem, até ao

encerramento da discussão – artigo 506.º, nº 1.

A superveniência dos factos pode ser considerada objectiva ou

subjectiva.

Considera-se objectiva quando a ocorrência dos factos se verificou

em momento posterior ao da apresentação do articulado onde

poderiam ter sido invocados – cfr. art. 506.º, nº 2 (1ª parte).

Diz-se superveniência subjectiva quando a ocorrência dos factos

teve lugar dentro do prazo da apresentação do articulado normal,

mas a parte só deles tomou conhecimento em momento posterior –

cfr. 506, 2, 2ªparte. Neste caso deve ser produzida prova de

superveniência.

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