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Documento “Equipas de Alto Desempenho”, publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. A informação que consta deste documento, ela-
borado em Janeiro de 2021, e na qual ele se baseia foi obtida a partir de fontes que os autores consideram fiáveis.
Esta publicação ou partes dela podem ser reproduzidas, copiadas ou transmitidas com fins não comerciais, desde que o trabalho seja adequada-
mente citado, conforme indicado abaixo.
Pág 3 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
Sugestão de citação:
Almeida, P. L., Pimentel, D., & Marques-Quinteiro, P. (2021). Equipas de Alto Desempenho. Ordem dos Psicólogos Portugueses. Lisboa.
ISBN: 978-989-54623-8-4
Helena Maio
(Advisor to the board of Directors
Portugal Ventures SCR, SA)
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FÁ
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O desporto, no meu caso o Futebol, foi e é uma Motivação: Quem corre por gosto não se
aprendizagem para solidificar alguns valores cansa. Nunca desistir, acreditar sempre.
que na minha opinião são importantes numa
equipa de alto desempenho. Durante a minha Humildade: Sonhar alto, trabalhar no duro, per-
carreira como futebolista vivi muitas experiên- manecer humilde. Ter sempre presentes as
cias que me ensinaram esses mesmos valores nossas origens. Reconhecer sempre as nos-
e competências, e que acredito terem sido fun- sas forças e fraquezas.
damentais para ajudar as minhas equipas a
estarem mais perto da vitória. Muito do que agora descrevi, encontrei escri-
to por outras palavras por quem sabe e domi-
Ao ler este livro, vejo esses mesmos valores e na cientificamente e no terreno, o assunto. Vi
competências descritos com grande clareza e neste livro um auxiliar muito útil para todos
simplicidade. Eles são: aqueles que procuram motivar a sua equipa
de trabalho, que procuram tornar a sua equi-
Trabalho em Equipa: Tal como descrito em pa mais forte e competitiva e que procuram
alguns capítulos deste livro, se por um lado perceber como podem resolver os seus pró-
é verdade que o talento ajuda a ganhar jo- prios problemas. Em resumo, este é um livro
gos, também não é menos verdade que são o para todos aqueles que querem saber o que
trabalho em equipa e a união que ganham os são, como funcionam e como se formam as
campeonactos. Equipas de Alto Desempenho.
DI
ÍN
CE
10 INTRODUÇÃO
29 LIDERANÇA
38 MEMÓRIA PARTILHADA
50 BIOGRAFIAS
INTRO
DUÇÃO
Este livro foi criado com base em experiências profis-
sionais, alicerçadas nos princípios vigentes na literatura
científica. O livro é estruturado de forma simples de modo
a facilitar o entendimento dos conteúdos para que o leitor
possa avançar com uma componente de auto-estudo.
conhecimento partilhado sobre o conhecimen- uma plataforma virtual específica e que, com
to técnico da equipa em geral. o término desta função, a equipa não tem mais
necessidade de se manter. Com o cumprimen-
Passando agora para a parte dos processos to da sua função principal, a equipa dá por ter-
deste modelo, estes remetem para as carac- minado o seu ciclo de utilidade, mesmo que se
terísticas psicológicas dos membros da equi- verifique a existência de indicadores comuns
pa, isto é, as suas cognições, comportamentos na literatura, é ainda mais importante que nós
e afectos e ainda a forma como os membros profissionais saibamos identificar os outputs,
indicadores e resultados relevantes para cada cognições futuras da equipa de trabalho a
função que as equipas desempenham. médio e longo prazo.
A par destes indicadores, existem outros out- Um outro contributo deste modelo é a inclusão
puts – apresentados e debatidos no capítulo da possibilidade das emoções, cognições e
11 do livro – ligados à satisfação dos mem- comportamentos interagirem de modo recípro-
bros da equipa, abordando questões como o co ao longo do tempo para criar aquilo que
prazer experienciado durante a tarefa e ainda se designa por eficácia ou desempenho nas
o grau de satisfação de todo o processo, des- equipas.
de o input, passando pelo processo e o des-
fecho do output. Resumidamente, estes dois modelos, I-P-O e
I-M-O-I, são os principais modelos de causa-
É importante ainda salientar que em termos lidade na investigação sobre o trabalho em
destes modelos, os inputs, processos e out- equipa, sendo o modelo I-P-O um modelo clás-
puts são todos ajustáveis, tornando o encaixe sico, desenvolvido por autores como McGrath,
destes blocos em função daquilo que se está e que serviu como base para a maioria das in-
a diagnosticar, de modo a podermos ter uma vestigações das últimas três décadas sobre o
visão mais organizada e mais fidedigna da modo em que as características dos membros
realidade. da equipa e os contextos onde estas equipas
actuam influenciam o funcionamento das
Como referido anteriormente, o modelo I-P-O é equipas e os resultados obtidos das mesmas.
um modelo basilar na literatura, cuja perspecti- Em paralelo o modelo I-M-O-I é um mode-
va aborda a eficácia das equipas, e que a partir lo mais recente e que começa hoje a ganhar
do qual derivaram outros modelos de referên- mais tracção na investigação e na práctica da
cia, entre os quais o I-M-O-I que será abordado gestão de equipas, acrescentando a novidade
seguidamente. do tempo, a noção da causalidade ao longo do
tempo, enquanto principal contributo ao modo
O modelo I-M-O-I parte do mesmo pressuposto de pensar e agir sobre equipas de alto desem-
do modelo I-P-O acima apresentado, no entan- penho.
to acrescenta questões como a causalidade
no tempo e feedback loops, isto é, a noção de
que certa variável, num determinado momen-
to, serviu de input no que respeita ao modo de
funcionamento da equipa e que mais tarde,
poderá servir de processo ou como output da
equipa, dando origem à noção de input medi-
ador, podendo ser um processo ou um estado
emergente (entenda-se, uma emoção ou uma
memória verbal), do output e novamente um
input posterior.
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BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
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sendo que estes são nomes atribuídos a um timento de propriedade de uma ideia ao invés
aglomerado de dimensões comportamen- da obtenção de melhores resultados por via da
tais. Drikell, Burke e Salas (2017) elaboraram cooperação com os demais colegas da equipa.
uma revisão de literatura com o foco virado
para uma integração de vários papéis, sendo Já um elemento da equipa que assuma o pa-
que se recomenda a sua leitura para quem pel de impulsionador é uma pessoa tipica-
se interessa por estas dimensões – Team mente muito energética e desafiadora, essen-
Roles: A Review and Integration. Para além cialmente é alguém com fortes capacidades
de galvanizar a equipa, cujo papel é fulcral Outro exemplo de papéis antagónicos poderá
para manter baixos os níveis de inércia e para ser visto nos cargos de impulsionador e aglu-
manter o sentido de urgência. O impulsionador tinador. A pessoa encarregue por estes dois
tem a debilidade permitida de ser provocador papéis tem de assumir a iniciativa, e em al-
e agressivo pois, por vezes, é a única forma guns casos introduzir alguma agressividade
de fazer com que as pessoas se mexam, en- nos processos de equipa enquanto simulta-
quanto que a sua debilidade não permitida é neamente tem de ser aquele que apoia e en-
a incapacidade para recuperar de uma certa volve os outros elementos. Obviamente isto
situação com bom humor ou de criar conflitos será difícil.
desnecessários.
Para além de propor a taxonomia de papéis,
O último exemplo prende-se com o papel de Belbin salienta que com a progressão de um
aglutinador: este é alguém que está encarre- projecto, os papéis necessários vão alternan-
gue da recuperação da equipa, de evitar confli- do entre si. Deste modo, foi elaborada uma ta-
tos e de estabelecer pontes entre os membros bela que propõe diferentes papéis necessários
da equipa ou grupo. Uma debilidade permitida em função da fase em que o projecto se encon-
a este papel é ser alguém que apenas decide tra, por exemplo: durante a fase de execução
quando está sob pressão pois não pretende é necessário o implementador e o finalizador,
ferir as suscetibilidade de nenhuma das partes já numa fase inicial de brainstorming, é funda-
e ainda poder estar um pouco indeciso, en- mental o cérebro e o investigador de recursos
quanto que uma debilidade não permitida ao e numa fase de contactos é necessário o in-
aglutinador é o evitamento de situações que vestigador de recursos e o aglutinador.
podem induzir pressão, visto que ao fazê-lo
poderá gerar a sensação de ser alguém que
foge às suas responsabilidades, algo que não
é permitido. NORMAS
Uma dimensão interessante presente na ta- Mudando de tema, vamos falar da importância
xonomia de papéis de Belbin é a ideia de das normas nas equipas. Este tópico é funda-
existirem papéis naturalmente antagónicos, mental, ainda que seja algo desvalorizado por
ou seja, contrários, dentro da equipa. Oito dos se achar que estas existem apenas para serem
papéis propostos pelo autor são antagónicos cumpridas ou simplesmente para estarem es-
por natureza, sendo que o papel de monitor/ critas num qualquer local e não se cumprirem
avaliador é um papel que não se enquadra de forma rigorosa. Quando somos introduzi-
neste emparelhamento. dos numa equipa, existe em muitos momentos
regulamentos e um conjunto de informações
Um exemplo de papéis antagónicos pode ser acerca daquelas que são as expectativas com-
encontrado nos papéis de coordenador e de portamentais de cada elemento, servindo para
especialista. Se uma pessoa desempenhar salientar a natureza, os valores e as linhas de
simultaneamente os papéis de coordena- orientação do grupo em que estamos inseri-
dor e especialista de tarefa, irá experienciar dos. Resumidamente, são as expectativas
inúmeras dificuldades em conciliar os dois, comportamentais que estão lá para auxiliar a
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uma vez que o especialista se enquadra numa orientação dos elementos novos e antigos do
lógica analítica e focada num determinado grupo e que muitas vezes não lhes é prestada
aspecto, enquanto que o coordenador tem a devida atenção e valor.
muitas vezes de fazer zoom out para ter uma
visão global de tudo que envolve a actividade O funcionamento da equipa enquanto um todo
da equipa. Em muitos casos, a pessoa que e a ligação dos seus membros deve passar
tenha ambos os papéis tende a abdicar de um por diversas etapas que as normas deveriam
deles para se poder dedicar ao outro. regular, mas na realidade, muitas vezes,
as mesmas só são observadas quando se o indivíduo se afasta das normas.
começam a verificar problemas.
Por vezes há divergência quanto ao Estatuto
Assim sendo, deve-se prestar atenção a este dos membros nas equipas. Contudo é impor-
tema pois em diversos momentos e contextos, tante que haja consenso relativamente ao Es-
a inexistência de normas ou a fragilidade das tatuto de cada membro, uma vez que a ausên-
mesmas, seja pela sua incapacidade de imple- cia desta congruência tende a gerar situações
mentação ou da sua verificação, geram uma de conflitualidade.
noção de flacidez ou inércia em termos com-
portamentais dentro das equipas, algo que é Analisemos por exemplo uma turma de alunos
uma forte ameaça à sua eficácia. universitários: se compararmos o início do ano
lectivo com o final do primeiro semestre, quase
A conformidade às normas da equipa pode ser sempre existe alguma diferenciação entre os
alcançada quer por submissão, quer por inter- melhores e os piores alunos, com base nas no-
nalização. A submissão às normas surge para tas obtidas nesse semestre. Logo, as classifi-
os membros das equipas evitarem punições cações dos alunos influenciam as interacções
e/ou obter recompensas no processo, enquan- entre os alunos no restante ano lectivo, quer
to que no caso da internalização, os membros nas escolhas dos elementos para trabalhos de
acreditam que as normas correspondem, de grupo, quer nas relações com as pessoas den-
facto, aos comportamentos correctos e ma- tro deste contexto, tais como outros colegas e
nifestam-nos independentemente da existên- professores.
cia de punições ou recompensas.
membros de uma equipa podem ser ordena- menor de membros onde é necessário “pes-
dos tendo em conta o seu prestígio, importân- soal para tapar buracos”. Assim estas pes-
cia e utilidade para o grupo. soas adoptam esta função polivalente e de
suporte como a sua tarefa principal.
Quanto maior o Estatuto do individuo, maior a
sua capacidade para se desviar das normas Esta dimensão ocorre com algum relevo em
do grupo. Por outro lado existe a tendência equipas de vários contextos. Por exemplo,
para que o Estatuto seja enfraquecido quando nas desportivas, os polivalentes acabam por
executar um papel determinante na dinâmica
do grupo e por ser elementos fundamentais
para o líder da equipa. O mesmo pode suce-
der nas organizações, onde por vezes existem
pessoas que têm valências em mais que uma
área, tornando-as bastante valiosas e úteis
para acudir as equipas em diversas situações.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Bolman, L. G., & Deal, T. E. (1992). What makes a team
work?. Organizational Dynamics, 21(2), 34-45.
são fulcrais para o seu funcionamento, que ac- foi o modelo contingencial de Poole. Este pode
tuam como gatilho, originando uma mudança ser enquadrado enquanto um híbrido entre os
de estádio dentro da mesma. Tipicamente modelos lineares e não lineares debruçando-se
nestes modelos as transições entre fases sobre factores contingenciais como o impacto
de desenvolvimento da equipa são indepen- da mudança, isto é, o efeito de interrupções
dentes de todos os membros estarem prepa- programadas ou rupturas que afectam os
rados para mudar. processos de ciclos ou loops, sustentando a
ocorrência de fases lineares caso não estejam
A informação basilar subjacente a este tema é presentes factores contingenciais.
Um dos modelos mais conhecidos na literatura Um primeiro nível mais local, em função dos
que sustenta a ideia do desenvolvimento não membros da equipa; um nível global composto
linear das equipas, é o modelo de Mid-Transi- pelas normas do grupo ou pelas relações entre
tion de Gersick (meados da década de 1980). os membros integrantes; e um nível contextual
Este modelo pressupõe que os grupos têm que inclui as tarefas, os prazos impostos, re-
pontos de desequilíbrio ou inércia que vão al- cursos entre outros.
ternando com breves momentos de mudança,
muitas vezes revolucionária, que são gerados Consequentemente, a dinâmica de desenvolvi-
pela consciencialização dos membros face ao mento do grupo exerce um impacto quer nos
tempo, ou seja, à sensibilidade perante o esgo- indivíduos quer nos contextos, originando um
tar do mesmo. Este modelo ajuda a entender processo de influência constante e mútua em
não só o funcionamento das equipas nos mais todas as direcções.
variados contextos, mas também quais os
gatilhos ou triggers que aceleram os proces- Este modelo é citado frequentemente devido à
sos, deixando claro que muitas vezes são os ajuda que proporciona em conceber o proces-
gatilhos de tempo ou metas pendentes, como so de regulação das equipas que em muitos
responsáveis por esta aceleração. Este mode- casos encontram a ordem no meio do caos, ou
lo destaca-se principalmente por se afastar da seja, as equipas conseguem autorregular-se
noção tradicional de que os grupos se desen- e organizar-se num meio altamente volátil e
volvem numa sequência de estádios. dinâmico, por via de um momento de claridade
partilhado pela equipa.
Ainda nesta corrente não linear, temos o mo-
delo TIP de McGrath no começo da década de Um exemplo esclarecedor de equipas com
1990. De um modo genérico este modelo sig- este funcionamento pode ser encontrado
nifica tempo, interacção e produção, defenden- no contexto desportivo ou dos eSports, que
do que as equipas existem para três funções funcionam num ambiente volátil, dinâmico e
distintas: desempenhar, gerar bem-estar e caótico com pouco tempo para parar e delimi-
apoio mútuo. Dentro destas funções, existem tar estratégias pausadamente, tendo de recor-
quatro modelos funcionais em torno dos quais rer a estratégias em termos grupais e até de
as equipas se organizam: início, resolução de regulação emocional elaboradas no momento
problemas, resolução de conflitos e execução. a fim de manter o desempenho aos níveis pre-
Este modelo sugere ainda que o processo dos tendidos.
grupos não é sequencial, mas multifuncional,
algo que é bastante útil para estruturar ideias Posto tudo isto, constata-se que cada perspec-
acerca do funcionamento das equipas que es- tiva debruça-se sobre diferentes aspectos do
tudamos. desenvolvimento de equipas, permitindo as-
sim uma evolução para a práctica a partir da
Um dos últimos modelos que surgiu na lite- mobilização dos modelos que melhor expli-
ratura é o modelo de CAS – Complex Adaptive cam a nossa realidade.
Systems – proposto por Morgan e aprofunda-
do por Arrow, McGrath e Berdahl. Este modelo BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
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refere que as equipas são sistemas comple- Arrow, H., McGrath, J. E., & Berdahl, J. L. (2000). Small
xos autogestores e autossuficientes, com ca- groups as complex systems: Formation, coordination, de-
pacidades para planear, iniciar e implementar velopment, and adaptation. Sage Publications.
ações visando encontrar padrões de trabalho Gersick, C. J. (1991). Revolutionary change theories: A
e modelos de eficácia. multilevel exploration of the punctuated equilibrium par-
adigm. Academy of management review, 16(1), 10-36.
Segundo este modelo, o desenvolvimento dos McGrath, J. E. (1991). Time, interaction, and perfor-
grupos é bidireccional e não linear, sendo mol- mance (TIP) A Theory of Groups. Small group research,
dado e limitado por três níveis de dinâmicas. 22(2), 147-174.
COMUNICAÇÃO
NAS EQUIPAS
A comunicação nas equipas é fundamental tivo país de residência), existe a necessidade
devido à importância que esta exerce na com- dos membros comunicarem de forma clara e
preensão das pessoas relativamente às ex- objectiva de modo a chegarem a um consenso
pectativas, suas e dos outros, permitindo-lhes e de se coordenarem para atingir a meta co-
assim relacionar-se e posteriormente trabalhar mum.
em equipa.
Assim sendo, um dos principais desafios da
Dentro deste capítulo serão abordados 4 as- gestão de equipas de alto rendimento, é as-
pectos principais que estão altamente inter- segurar que as comunicações síncronas e
ligados: (1) Comunicação interpessoal, ca- assíncronas sejam de igual modo eficazes.
racterizada por ser explícita e verbalizada; (2) De facto, equipas que estão situadas no mes-
Coordenação, traduzida no modo como os mo local geográfico tendem a privilegiar a co-
membros de uma equipa articulam os seus es- municação verbal directa, ou seja, conversas
forços para alcançarem um objectivo comum; presenciais entre os membros, enquanto que
(3) Sincronia interpessoal, uma forma de co- equipas assíncronas tendem a privilegiar co-
municação verbal onde o movimento e ações municação mediada pela tecnologia tais como
dos membros das equipas conferem pistas e-mail, chats, e ainda a utilização de aplicações
não verbais sobre a qualidade das interacções de videoconferência.
dos seus membros; (4) Conflito, que aborda os
principais tipos de conflitos. A comunicação presencial é, geralmente, mais
rica pois existem mais probabilidades de con-
tributos para as tomadas de decisões podendo
ainda levar a ideias mais criativas, no entanto
COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL este tipo de comunicação gera um maior con-
flito face à comunicação assíncrona, cuja tro-
Quando se pensa em comunicação interpes- ca de informação é mais estruturada, tornando
soal inserida numa lógica de gestão de equi- o processo de tomada de decisão mais agiliza-
pas de alto desempenho, proveniente da inves- do e permitindo chegar-se a um consenso com
tigação ou de intervenções no terreno, deve-se maior facilidade, porém esta comunicação
considerar o aspecto basilar desta comuni- acaba por estrangular a criatividade devido à
cação que está intimamente relacionado com sua estruturação inerente.
a sincronia dos timings em que esta comuni-
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jogadores em campo. Outro exemplo é o caso explícita prende-se com a automatização dos
dos eSports, onde os 5 jogadores estão cons- comportamentos, isto é, quando os membros
tantemente a informar os seus colegas de da equipa estão de tal modo sincronizados a
equipa sobre o seu estado actual em jogo e os trabalhar em conjunto que conseguem ante-
movimentos dos adversários. cipar as necessidades do colega, preparando
assim a sua satisfação.
Outra função destes mecanismos prende-se
com garantir rotinas na forma de agir sobre Em termos do funcionamento da equipa isto
representará um aumento da eficiência e da a coordenação implícita, ficando-se pelos
eficácia dos processos, tais como os compor- primeiros mecanismos explícitos. Deste modo
tamentos, acções e tomadas de decisão da fica claro que quando isto ocorre, a equipa
equipa aquando a realização das tarefas. sofre perdas acentuadas no seu desempenho
face a uma situação adversa e que, ao invés
Com base na informação acima referida, tanto de comunicarem claramente sobre a mesma
a coordenação implícita como a explícita são e tentarem construir um novo plano de acção,
fulcrais para o desempenho das equipas. De mantêm o mesmo modus operandi o que re-
facto, ambos os mecanismos de coordenação sulta numa incapacidade de se adaptarem à
são complementares, fazendo parte integral situação e de atingir o objectivo.
do mesmo contínuo temporal dos processos
de coordenação.
zes num curtíssimo espaço de tempo, daí a quanto pessoas sem uma relação afectiva
magnitude da importância da coordenação apresentarão passadas dessincronizadas.
implícita.
Com base nos exemplos acima referidos, este
Não obstante os aspectos positivos destes efeito é explicado pela criação imediata de
mecanismos, existem ainda equipas que não uma ligação afectiva quando as pessoas sin-
conseguem efectuar esta transição entre os cronizam a forma como se movimentam, isto
mecanismos de coordenação explícita para é a sincronia interpessoal.
Este constructo é importante a nível motor membros, ou à divergência de ideias; por outro
pois quando os membros de uma equipa se lado, a convergência de ideias e um bom rela-
coordenam de modo mais explícito ou implíci- cionamento interpessoal estão positivamente
to, o facto de existir algum grau de sincronia associados à sincronização dos movimentos
interpessoal, dá-nos pistas não-verbais sobre interpessoais.
o grau de prontidão e familiaridade entre os
membros das equipas.
ou quando existem diversos conflitos interpes- penho verificado com base em métricas ob-
soais. jectivas, quer por indicadores afectivos, tais
como a satisfação com o trabalho de equipa,
Por exemplo, algo que se verifica na práctica que serão abordados num capítulo seguinte.
clínica ou nos processos de tomada de decisão
em grupo é o facto do grau de assincronia das Não obstante a posição da literatura face ao
interacções corporais estar positivamente conflito, esta também indica que existem for-
associado à emergência do conflito entre os mas de conflito desejáveis, nomeadamente
o conflito de tarefa. Este conflito é desejável tos constroem tanto o projecto como a forma
pois está relacionado com o desenvolvimento como o mesmo se vai realizar.
de ideias mais eficazes e positivas sobre o tra-
balho, contribuindo assim para a qualidade do Para além da diluição das diferenças entre os
processo de tomada de decisão e ainda para a membros, uma outra abordagem de resolução
percepção de envolvimento dos membros da de conflitos que não implica a geração de ou-
equipa de trabalho. tros, passa por ajudar os membros a encontra-
rem pontos de convergência, concordância e
Porém, quando este conflito é extremado, pode tolerância entre si.
provocar uma ruptura no funcionamento da
equipa e consequentemente atrasar os proces- O objectivo prende-se então nos membros de
sos de tomada de decisão. Por sua vez, e de uma equipa compreenderem que apresentam
acordo com a literatura, os conflitos de relação diferenças nos valores que partilham ou na
e de estatuto devem ser evitados sempre que valência dentro da estrutura hierárquica do
possível, devido ao seu efeito profundamente grupo, percepcionando essas mesmas dife-
nefasto no funcionamento das equipas, não renças, no entanto, como um aspecto positivo
existindo forma de se retirar qualquer aprovei- que vai beneficiar o funcionamento do grupo.
tamento deste conflito a favor do desempenho.
Um exemplo disto poderá ser enquadrado
Até recentemente, a literatura apresentava mo- numa equipa hospitalar, na qual constam mé-
dos concretos de lidar com cada tipo de con- dicos, enfermeiros e auxiliares de saúde.
flito, porém, concluiu-se que, por vezes, para Claramente existem diferenças de estatuto
resolver o conflito de relação, acabava-se por e poder dentro da organização, no entanto, a
potenciar o conflito de estatuto, ou ao resolver expertise, o historial de trabalho e a experiên-
conflitos de processo, potenciavam-se confli- cia de cada membro também podem vir a
tos de tarefa que superam o limiar desejável. desempenhar um papel igualmente prepon-
derante para tomar uma decisão sobre um
Nesta lógica, e para resolver qualquer um dos caso clínico, na medida em que o conflito re-
tipos de conflitos, sugere-se que o foco esteja sultante das diferenças hierárquicas possa ser
na atenuação das diferenças e ainda na ela- atenuado com o fortalecimento da evidência
boração de um sistema de crenças ou valores de que os diferentes historiais de trabalho têm
partilhados pela equipa que esteja bem sedi- um peso fulcral nos processos de tomada de
mentado na tolerância dessas mesmas dife- decisão.
renças.
dos elementos. Marques-Quinteiro, P., Rico, R., Passos, A. M., & Curral, L.
(2019). There is light and there is darkness: On the tem-
Do mesmo modo, pode-se atenuar o conflito poral dynamics of cohesion, coordination, and perfor-
de tarefa ao delimitar um momento para se mance in business teams. Frontiers in psychology, 10.
realizar um debate aberto para trocar ideias
Rico, R., Gibson, C. B., Sánchez-Manzanares, M., & Clark,
que anteceda o começo dos processos de M. A. (2019). Building team effectiveness through adap-
trabalho em equipa ou durante o projecto em tation: Team knowledge and implicit and explicit coordi-
si, onde todos os elementos participam e jun- nation. Organizational Psychology Review, 9(2-3), 71-98.
LIDERANÇA
DEFINIÇÃO eficácia e o sucesso das organizações a que
pertencem.”
A liderança é um constructo fundamental em
todos os processos de equipa, sendo clara- Evidentemente, esta última definição repre-
mente um dos factores que distingue uma senta uma evolução das restantes, apresentan-
equipa de alto desempenho das restantes. do uma fusão de ideias que inclui a influência
Deste modo, o papel do líder é altamente re- do líder sobre os outros e a sua capacidade
levante. de os galvanizar ou conduzir à consecução de
certos objectivos, e ainda de os motivar e ha-
Nesta lógica, é importante, em primeiro lugar, bilitar. Assim sendo, a definição da GLOBE sa-
conseguir definir liderança. À semelhança de lienta a preocupação com o desenvolvimento
outras definições na literatura, a definição de dos restantes elementos da equipa, enquanto
liderança tem vindo a evoluir com o tempo e, apresenta o líder como o elemento que desen-
consoante os autores que a abordam, tem sido volve os restantes para que se tornem autóno-
objecto de alterações que nem sempre são mos e, numa próxima fase, futuros líderes.
consensuais. Seguem-se, pois, três definições
prementes da literatura.
A última definição surge em 1999, sendo re- Explicando de outro modo, esta teoria con-
vista posteriormente em 2005, autoria da cebe a liderança enquanto uma percepção as-
Global Leadership & Organizational Behavior sociada à competência de um líder e ao modo
Effectiveness (GLOBE) e que define a liderança como este se comporta no exercício da sua
como “uma competência de um sujeito ou de liderança. Como exemplo basta olhar para a
uma pessoa para influenciar, motivar e habili- percepção geral sobre as capacidades de lide-
tar os outros a contribuírem para aumentar a rança que Napoleão na altura do seu império,
ou em termos mais correntes as do 44º presi- literatura disponível não é tão robusta quando
dente dos E.U.A Barack Obama. comparada às teorias clássicas da liderança
e também devido às intervenções realizadas
Seguidamente, a teoria comportamental, de- enquanto técnicos no contexto se auxiliarem
fine-se por diversos estilos de liderança que principalmente com a teoria situacional acima
representam diferentes modos de agir com- referida, sendo a mais adaptável ao nível da in-
portamentais adoptados por parte do líder. tervenção práctica com as equipas.
Esta é então uma das teorias mais clássicas
sendo referenciada na literatura por via dos es- As teorias elaboradas após esta década ali-
tilos de liderança democráticos, autocráticos, cerçam-se em algumas partes da teoria si-
liberais ou permissivos (laissez-faire). Esta tuacional de liderança, entre elas, a liderança
teoria atribui um grande enfoque ao compor- transformacional, transacional, complexa, par-
tamento do líder e à forma como o seu estilo tilhada, espiritual, etc. Com estas abordagens,
de liderança se relaciona e afecta a eficácia do a caracterização do líder ou da liderança em si
processo de liderança. está dependente da visão do próprio líder.
dades, em função das diversas situações com senta. De facto, esta teoria prevê que um líder
que se depara, e ainda mediante os desafios eficaz tem a capacidade de se ajustar a dife-
emergentes que vão surgindo naturalmente. rentes tipos de pessoas ou equipas em diver-
Nesta lógica o líder poderá assumir diferentes sas situações.
papéis com diferentes comportamentos core.
A presente teoria postula que as capacidades
Por fim, a partir dos anos 1980, foram surgin- do líder abrangem quatro etapas sequenciais:
do novas teorias sobre a liderança. Estas não a primeira indica que o líder deverá ter capaci-
serão aprofundadas em grande detalhe pois a dades directivas algo que, num contexto prác-
tico se traduz num líder receber um elemento são instrumentos capazes de avaliar e medir
novo com baixa autonomia e competência téc- os traços de personalidade do líder enquanto
nica e ter a capacidade de ensinar ao subordi- peça central de uma equipa.
nado como executar as suas funções até que
este último tenha a confiança e capacidade de Respectivamente às teorias do estilo de li-
as executar sozinho. derança, cujo enfoque reside naquilo que o
líder faz e no modo como se comporta, são
A segunda capacidade que o líder deverá ter recomendados instrumentos relacionados
é a de orientar o liderado quando este já tem com a avaliação de estilos de liderança, tais
algumas competências técnicas (coaching). como: Leadership Styles, inicialmente desen-
Assim sendo, o líder deverá ser capaz de ilus- volvido por Kurt Lewin e posteriormente por
trar as tarefas, explicar a sua importância, con- Likert em 1967, e ainda o Managerial Grid de-
tribuir com novas ideias, ensinar sempre que senvolvido por Blake e Mouton em 1975.
seja necessário e motivar o liderado a desem-
penhar as suas tarefas de acordo com aquilo Relativamente à teoria situacional da liderança,
que foi planeado a priori. recomenda-se o instrumento desenvolvido por
Tannenbaum e Schmidt em 1958, denominado
Numa terceira fase, o líder deverá ter a capaci- Leadership Continuum. Um outro instrumento
dade de apoiar os seus subordinados, assu- frequentemente utilizado, mas menos conhe-
mindo um papel de suporte que permite aos cido é o Least Preferred Coworker de Fiedler
liderados desenvolver confiança e as suas ha- em 1967.
bilidades continuamente. Contrastando com
as fases anteriores, espera-se que o líder seja Por fim, existem diversas formas de ava-
capaz de supervisionar os seus subordinados liar as novas teorias emergentes, no entanto
sem estar constantemente presente. recomenda-se um instrumento ao nível da li-
derança transformacional que se foca no
A última etapa postula que o líder deverá ter porquê e quem são os agentes da mudança,
a capacidade de delegar quando está perante denominado Multifactor Leadership Question-
liderados que apresentam elevadas com- naire de Bass em 1985. De um modo geral
petências técnicas ou competências ajusta- recomenda-se ainda o instrumento de Deni-
das às necessidades da tarefa que são acom- son elaborado em 1995 – Behavioral Comple-
panhadas por elevados níveis de empenho. xity Models – que ajuda a tratar as questões
Deste modo o líder assume o papel de gestor das teorias emergentes de um modo mais
da equipa, delegando o trabalho sem necessi- abrangente e mais eficaz na perspectiva da
dade de supervisão constante, visto que estes aplicação destes conhecimentos de um ponto
demonstram capacidades de autonomia e de vista práctico.
liberdade para desenvolver as tarefas, tomar
certas decisões e até propor algumas mu-
danças.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Avolio, B. J., Walumbwa, F. O., & Weber, T. J. (2009).
Pág 31 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
No que respeita à teoria do traço, cujo foco in- Derue, D. S., Nahrgang, J. D., Wellman, N. E. D., & Hum-
cide sobre o líder, quem ele é e como lidera de phrey, S. E. (2011). Trait and behavioral theories of lead-
ership: An integration and meta‐analytic test of their rel-
modo practicamente inacto, os instrumentos
ative validity. Personnel psychology, 64(1), 7-52.
utilizados para a avaliação são derivados do
modelo dos Big Five (Modelo Big Five, Model of Judge, T. A., & Piccolo, R. F. (2004). Transformational and
Personality). Assim sendo, o modelo Big Five transactional leadership: a meta-analytic test of their rel-
e todos os instrumentos derivados do mesmo ative validity. Journal of applied psychology, 89(5), 755.
AFECTOS
NAS EQUIPAS
Este capítulo vai abordar os demais aspectos Deste modo, o historial de trabalho dos mem-
relacionados com os afectos nas equipas, isto bros (e.g., atletas de futebol que já jogaram
é, dimensões que têm um papel fundamental no mesmo clube ou jogaram um contra o ou-
no funcionamento das equipas de alto desem- tro) poderá ajudar a desenvolver e fomentar a
penho, com principal enfoque em confiança, confiabilidade entre os mesmos. Simultanea-
coesão, regulação emocional e o contágio mente, os próprios membros desta equipa po-
emocional. dem aumentar a confiança que experienciam
entre si através da percepção de que a equipa
partilha e cultiva um conjunto de característi-
cas que tornam os membros mais confiáveis
AFECTOS NAS EQUIPAS aos olhos dos seus colegas (i.e., uma identifi-
cação com valores ou posições relativamente
Habitualmente, a literatura de trabalho em a um qualquer tópico poderá vir a facilitar o
equipa considera duas variáveis afectivas fun- processo de confiar no outro).
damentais: confiança e coesão. A confiança
é um sentimento relacionado com a disponi- Complementar à confiança, a coesão é com-
bilidade de cada membro da equipa para se ex- posta por três dimensões distintas: (1) a
por ou “fragilizar” perante outros membros da primeira remete para a coesão da tarefa, ou
equipa. A confiança afecta, directa ou indirecta- seja, o grau de união entre os membros da
mente, não só o funcionamento do indivíduo, equipa para a concretização de uma determi-
mas também o funcionamento da equipa en- nada tarefa, (e.g., em contextos desportivos,
quanto um todo. mesmo quando equipas profissionais estão a
perder um jogo estas continuam a esforçar-se
Dentro do contexto da confiança são identi- para dar a volta ao resultado, tentando explorar
ficados dois agentes principais necessários diversas alternativas para superarem a distân-
para que esta se manifeste: a pessoa que é cia entre a equipa que está em vantagem); (2)
confiável e a pessoa que vai confiar. Na litera- a segunda dimensão refere-se à coesão social,
tura existente, são feitas alusões à existência que se debruça sobre o grau de proximidade in-
de um traço de confiabilidade que é inferido, terpessoal dos membros da equipa, podendo
entenda-se deduzido, e que exerce uma deter- assim ser encarada enquanto um indicador ou
minada influência sobre a predisposição que uma medida da qualidade das relações dentro
cada um tem para confiar, em maior ou menor da equipa; (3) por fim a última dimensão, ainda
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 32
grau, em alguém. Para além disto, é de extrema que esta não seja mencionada tantas vezes na
importância ponderar alguns aspectos funda- literatura existente, consiste na forma como
mentais quando se pretende formar uma equi- membros de uma equipa se sentem atraídos
pa e promover o seu bom funcionamento, não pelo grupo em questão e o orgulho sentido re-
bastando apenas compor uma equipa com um lativamente à presença no mesmo (e.g., uma
historial de trabalho, mas também que os seus equipa composta por adeptos do mesmo clube
membros exprimam um certo grau de confia- desportivo, por partilharem a mesma paixão e
bilidade entre si. orgulho por apoiarem esse clube, senti-los-ão
também por extensão relativamente à equipa). REGUL AÇÃO EMOCIONAL
As junções destas três dimensões da coesão
originam o constructo geral de coesão com o A regulação emocional é, de um modo geral,
qual estamos familiarizados. o processo que nos ajuda a produzir determi-
nados resultados, especialmente quando esta-
A par da multidimensionalidade da coesão, é mos inseridos em equipas de alto rendimento
possível ter em consideração o papel que cada onde o desempenho colectivo e individual são
uma das dimensões acima referidas desem- essenciais. Isto deve-se principalmente ao fac-
penham isoladamente. Assim, uma equipa to de a regulação emocional ser um dos pro-
pode exibir uma coesão social relativamente cessos principais de controlo e de selecção
baixa sem afectar o desempenho na tarefa ou das emoções que são expressas em qualquer
o alcance de metas devido à elevada coesão momento das nossas vidas pessoais e profis-
de tarefa exibida pela mesma equipa. Neste sionais.
exemplo é possível constatar que mesmo com
uma baixa coesão social, os membros desta O princípio da reciprocidade de Bandura abor-
equipa dispõem de uma consciência parti- da questões como a influência recíproca entre
lhada elevada relativamente à importância do pensamentos e emoções e ajuda a definir an-
trabalho em equipa para o alcance dos objec- tecedentes e consequências, onde podemos
tivos, mesmo que não exista um historial alar- ter consequências a nível interpessoal, isto é,
gado com uma boa relação interpessoal. nas relações que desenvolvemos com os ou-
tros, e no foro intrapessoal, a nível das nossas
O inverso também é válido na medida em motivações, do nosso desempenho, da forma
que uma equipa pode trabalhar em conjunto como se pensa em determinado assunto, en-
durante períodos alargados de tempo devido tre outros.
a uma elevada coesão social originada pelo
seu historial relacional, mesmo no caso de se Esta secção aborda questões do foro emocio-
tomarem as melhores ou piores decisões ou nal, logo é importante transmitir um modelo
de atingir (ou não) os resultados esperados. que seja tangível e simples de compreender.
Deste modo será abordado um modelo que
A terceira dimensão anteriormente referida, ajudará a compreender a relação entre as
que alude ao orgulho sentido por pertencer a emoções e o desempenho.
dada equipa, é fundamental pois ajuda a me-
diar os efeitos negativos despoletados pelas O modelo é composto por dois vectores: um
oscilações constantes no desempenho da vector vertical que remete para os níveis de
equipa. Tal deve-se ao facto de que a pertença activação que variam entre alta ou baixa e um
à equipa é um aspecto tão positivo para a au- vector horizontal que age como representante
toestima do indivíduo que o fará querer man- da qualidade dessa activação oscilando entre
ter-se filiado à mesma. Assim, quando este uma valência positiva ou negativa.
orgulho é partilhado por todos os membros da
equipa, dá-se uma facilitação da proximidade Posto isto, estes dois vectores compõem qua-
entre os membros da equipa. tro quadrantes: o lado superior direito repre-
Pág 33 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
Deste modo, com o modelo devidamente ex- Se, ao encaixar uma lógica centrada no de-
plicado torna-se fácil encaixar emoções como sempenho, nos focarmos nas competências
a alegria, o ódio, a depressão episódica e o de desempenho, como poderemos exercer
esgotamento, juntamente com os estados de uma regulação emocional adequada? Por via
relaxamento e a tranquilidade, dentro destes de três tópicos fulcrais para obter um estado
quadrantes. Para além disso, este ajuda-nos a de desempenho ideal: produtividade máxima;
perceber como nos pode auxiliar na regulação satisfação máxima; e saúde máxima.
emocional que aplicamos em todos os aspec-
tos das nossas vidas. A produtividade máxima prende-se com pe-
quenos rituais antes de um momento-chave de
No que respeita ao desempenho, existem duas produtividade. Um exemplo disto pode ser re-
principais dimensões em constante actuação: latado por diversos jogadores profissionais de
a necessidade de nos sentirmos capazes de futebol americano que cultivam certos rituais
produzir juntamente com a manutenção da de preparação a fim de obterem um resultado
nossa condição física, mental e emocional favorável, tais como um determinado tipo de
para que possamos ser produtivos no trabalho pequeno-almoço, um ritual de processos (e.g.
e nas nossas vidas pessoais; e a segunda di- onde o jogador mete o leite antes dos cereais),
mensão que se prende no acto de balançar ou ou ouvir uma certa lista de músicas especí-
regular estas necessidades físicas, emocio- ficas enquanto come o pequeno-almoço, ou
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 34
nais e mentais que muitas das vezes são con- ainda uma rotina específica de alongamentos
sequências do aumento das exigências que especiais para o dia.
nos são impostas pelo mundo e na capacidade
que cada um tem para lidar com as mesmas. Estes rituais ou rotinas ajudam os sujeitos a
É precisamente neste ciclo que as nossas ca- focarem-se nas tarefas que vão realizar num
pacidades de regulação e de recuperação face futuro próximo, no entanto nem todas as pes-
às exigências desempenham um papel funda- soas o fazem da mesma forma, uns optam por
mental. fazer uma listagem rigorosa dos seus rituais
e seguem-nos religiosamente, outros optam ta, sendo então ferramentas importantíssimas
por uma abordagem mais livre, uma repre- para quem pretende auxiliar líderes de equipas
sentação mental onde se pensa em todos os a regularem melhor as suas emoções, ajudan-
aspectos do ritual ou rotina até chegar a todos do-os a adoptar discursos mais positivos, con-
os pontos fundamentais. trolando melhor os seus aspectos emocionais.
A satisfação máxima debruça-se com a criação É comum encontrarmos alguém que tem diver-
da emoção certa para o momento de produtivi- sos aspectos importantes com que se preocu-
dade. Para se chegar lá é necessário um feed- pa, no entanto muitas vezes esse alguém irá
back prévio e ainda treinar não só a postura tentar focar-se em todos os aspectos impor-
como a nossa presença corporal e expressão tantes ao mesmo tempo, algo que o leva a
facial. Para este treino é então fundamental perder a capacidade de os distinguir entre si e
manter um pensamento positivo, disciplinado quais os mais prementes para o momento, i.e.
e focado, algo que pode ser alcançado através os aspectos que conseguem controlar melhor.
da identificação de um pensamento adequado
para cada factor de stress e ter a capacidade Uma forma de reconquistar esse foco e de
de o encarar com controlo, na medida em que ajudarmos outros a regularem-se emocional-
se passa a focar nos aspectos da tarefa que mente, é ajudar a focar precisamente os as-
temos controlo sobre para que a possamos pectos sobre os quais têm maior margem de
resolver. controlo de entre todos os aspectos impor-
tantes. Isto é um processo fundamental para
Em contextos de desporto, é frequente o uso se trabalhar com líderes de equipas para que
da expressão “foca-te na tarefa” precisamente estes possam futuramente trabalhar com
porque esta alude aos aspectos que o jogador os seus colaboradores, cabendo-nos a nós
consegue ter uma medida de controlo sobre, psicólogos trabalhar estes aspectos dentro da
ao invés de estar a pensar em diversos outros equipa para além de trabalhar com os líderes.
problemas sobre os quais não tem controlo
sobre e que apenas aumentam os seus níveis Um outro campo da regulação emocional está
de stress. relacionado com as competências da vida,
sendo que são incluídos aqui dois grandes as-
Ainda dentro da criação da emoção certa pectos: a gestão da energia e o treino da recu-
existe o processo de simulação, que se pren- peração numa lógica de ritmos oscilantes e da
de com a fabricação de situações de elevado oscilação.
stress durante uma ronda de treino com ob-
jectivo de aplicar as técnicas de pensamento Ao ter em mente o modelo referido acima, a
e posturas adequadas à situação, de modo zona do quadrante superior direito está tipica-
a posteriormente (no momento de produti- mente associada ao flow e aos demais esta-
vidade real) conseguir superar e desenvolver dos de desempenho ideal, a zona inferior direi-
competências de actuação mais completas. ta remete para a recuperação mental enquanto
que a zona inferior esquerda remete para a re-
A saúde máxima aborda principalmente cuperação forçada.
Pág 35 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
ajudar as pessoas dentro de equipas a produ- emoções das equipas e o consequente contá-
zirem mais, a sentirem-se melhor e a man- gio emocional tornam-se catalisadores da for-
terem estados de desempenho, satisfação e ma como as equipas lidam com as diversas
saúde ideais. situações que ocorrem naturalmente ou cata-
lisam a forma como realizam o seu trabalho.
No entanto o efeito directo no desempenho ou
CONTÁGIO EMOCIONAL em outros indicadores de eficácia ainda não é
claro.
Sabe-se que as emoções exercem um papel
Sabe-se, no entanto, que as emoções de valên-
cia negativa têm tendência a causar tensão
pelo que estão associadas ao conflito, algo
que afecta a qualidade dos processos de coor-
denação e da comunicação entre os membros,
o que consequentemente afecta o desempe-
nho negativamente.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Barsade, S. G., & Knight, A. P. (2015). Group affect. An-
nual Review of Organizational Psychology and Organiza-
tional Behavior., 2(1), 21-46.
tar um curso, no qual os três primeiros anos equipa de bombeiros que foi accionada para
são iguais para todos os alunos, e os dois úl- combater um fogo, o modelo situacional apli-
timos são anos de especialização. Logo, os ca-se à visão partilhada que os bombeiros
três anos iniciais do curso garantem o modelo têm sobre a forma e trajecto que o fogo está a
mental partilhado, enquanto que os anos de tomar e como se devem posicionar de modo a
especialização levam a outro tipo de memória, combatê-lo.
denominado sistema de memória transitiva e
que traduz a distribuição de conhecimento es- Deste modo, as junções destes três últimos
pecializado pelos membros da equipa. tipos de memória conferem às equipas a infor-
mação que necessitam para realizar as suas
funções. Do que se sabe através da investi-
gação e da práctica, as equipas mais eficazes
são precisamente as que utilizam eficazmente
o sistema de memória transitiva, sabendo cla-
ramente quem está encarregue de que funções
e ainda, um conhecimento basilar partilhado
que é consensual e correcto.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
DeChurch, L. A., & Mesmer-Magnus, J. R. (2010). The
cognitive underpinnings of effective teamwork: a me-
ta-analysis. Journal of applied psychology, 95(1), 32.
No começo do século XX, Henri Fayol consi- O mais chocante nestas estatísticas é o fac-
derou a continuidade e estabilidade das equi- to de que da totalidade dos líderes abordados,
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 40
pas como sendo da responsabilidade dos lí- 52% não têm qualquer tipo de plano, formal ou
deres e das chefias. Assim sendo, esta temáti- informal. Esta ausência de planeamento pode
ca tem vindo a ser desenvolvida ao longo sair bastante cara às organizações. O Cana-
dos últimos 100 anos. Nos últimos 30 anos dian Imperial Bank of Commerce sugere que
este tema tem vindo a gerar muita discussão a cada 5 anos mais de 1.2 triliões de dólares
com aplicações e implicações prácticas, não “trocam de mãos”. Estes dados expressam a
apenas ao nível de equipas inseridas no meio dimensão dos custos indirectos e directos as-
empresarial, mas também em equipas de di- sociados à importância do planeamento de
versos níveis e contextos. sucessão.
A questão que se levanta com esta infor- sa pela prevenção da ansiedade nos colabora-
mação é, até que ponto estes líderes terão a dores. Para além disto, um plano de sucessão
sua sucessão preparada e assegurada? serve não só para dar continuidade à equipa,
mas também para identificar os talentos ou
elementos que poderão vir a tornar-se peças
VANTAGENS DO PL ANEAMENTO DE fundamentais no futuro da equipa, asseguran-
SUCESSÃO do que esta tem o talento necessário para con-
tinuar a produzir com a mesma qualidade.
Existe uma vasta panóplia de custos associa-
dos ao não planeamento de uma sucessão, O planeamento de sucessão permite garantir
alguns dos quais são mais pertinentes para que o conhecimento crítico se mantém dentro
psicólogos no terreno no apoio da preparação da equipa, sendo passado de modo saudável e
e elaboração do planeamento de sucessão. formal entre os demais elementos da equipa,
com especial destaque para aqueles que irão
Assim sendo, uma das questões mais perti- assumir os cargos de transição.
nentes associadas ao não planeamento é a
falta de clareza sobre a direcção que a equipa Como referido anteriormente, se o não pla-
tomará. Suponha o caso de um líder, ou ele- neamento afecta adversamente a reputação,
mento-chave, de uma equipa com alguns anos imagem e credibilidade da equipa, a existência
de historial de trabalho e que, por qualquer mo- de um planeamento efectivo e formal mantém
tivo, decide abandonar a mesma. É claro que as facetas sociais da equipa face aos seus
este problema conduz a uma falta de clareza stakeholders.
e de direcção na equipa, que por sua vez, ge-
rará alguma ansiedade ou inquietação, levan-
do a quedas acentuadas nos níveis de moti-
vação e satisfação da mesma, culminando em RESISTÊNCIAS À CRIAÇÃO DE UM
quebras na produtividade e na qualidade das PL ANO DE SUCESSÃO
tarefas desempenhadas pela equipa.
Como foi referido anteriormente, cerca de
Existem ainda outros custos associados ao 90% dos líderes abordados nas estatísticas
não planeamento da sucessão, nomeada- da Casey Foundation não possuem um plano
mente: atrasos na conclusão de projectos ou de sucessão formal. Existem justificações na
tarefas; perda de conhecimento crítico; e ain- literatura capazes de explicar estes números.
da uma diminuição da capacidade de resposta
e sentido de urgência dos membros da equi- Segue-se um conjunto de dimensões que cri-
pa. É claro que a conjugação destes factores am atritos no que respeitam à criação de pla-
acaba por afectar adversamente a reputação, nos de sucessão no contexto das equipas,
imagem e credibilidade não só da equipa, mas como por exemplo: inércia; confidencialidade;
de toda a organização. bloqueios emocionais; perda efectiva de con-
trolo; falta de alternativas de actividade; e con-
Contrastando com os custos de não planear trolo da decisão.
Pág 41 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
lo assumido seja real ou fictício, acabam por noções da identificação e atracção são funda-
introduzir resistências ao planeamento da sua mentais, pois não se referem ao recrutamen-
sucessão. to externo destes talentos, visto que frequen-
temente existem elementos em funções dis-
A quinta dimensão remete para a falta de alter- tintas que têm as competências necessárias
nativas de actividade. Fruto de líderes que de- para assegurar a continuidade dos que estão
ram grande parte da sua vida à construção da de saída.
própria equipa, atribuindo pouco tempo para
outras actividades ou interesses traduzindo-se De facto, a atracção interna passa por uma
na ausência de hobbies. Os hobbies seriam um compreensão dos talentos que a equipa tem
disponíveis para dar uma resposta à função Seguidamente, um planeamento de sucessão
em vias de transição. Assim, o planeamento mais estratégico, definido enquanto strategic
de sucessão ajuda a desenvolver uma pool de successful planning. Este incide sobre o de-
futuros líderes ou elementos-chave na equipa senvolvimento contínuo de talentos ligados
que garantam a continuidade da equipa com aos objectivos estratégicos da organização, e
eficácia e qualidade. está dependente de um alinhamento claro com
aquelas que são as direcções e objectivos da
Um dos conteúdos mais prementes do planea- equipa.
mento de sucessão é a capacidade de ajustar
e desenvolver os potenciais sucessores da Um dos seus maiores privilégios para a
forma mais adequada às suas caraterísticas equipa reside na ampliação da capacidade
enquanto sujeitos, sendo mesmo factual para de liderança geral tanto na organização como
as equipas. na equipa, fortalecendo o chamado banco de
suplentes. Assim sendo, são dadas respostas
Esta paridade entre as necessidades da equi- às necessidades de atracção e manutenção
pa e as características individuais de cada fu- de talentos, assegurando a continuidade de
turo sucessor ou talento é fulcral no processo funções e tarefas necessárias a desenvolver
de planeamento de sucessão. Adicionalmente, na equipa.
ao começar um planeamento efectivo, cen-
tram-se os recursos da equipa, desde funções Por último, o clássico planeamento de
mais seniores até às mais juniores, no desen- sucessão encontrado na literatura que diz res-
volvimento destes talentos de modo a que peito ao planeamento de sucessão preparado
exista um maior retorno do investimento. com um espaçamento temporal, tipicamente
entre um a quatro anos antes da efectivação
Concluindo, planear a sucessão é potenciar a da saída.
disponibilidade de um número de talentos da
equipa para assumir posições de destaque, Este plano está relacionado com a preparação
sejam estas posições-chave ou de liderança. dos próprios líderes ou dos elementos-chave
da equipa na preparação dos seus suces-
sores. Um dos seus maiores benefícios reside
TIPOLOGIAS DE PL ANEAMENTO DE em fortalecer a equipa em áreas críticas an-
SUCESSÃO tes da transição, através da gestão da equipa,
liderança ou até do alinhamento e direcção da
Das variadas tipologias presentes na literatura equipa, oferecendo algumas garantias de que
referentes ao planeamento de sucessão, esta a transição será executada de modo fluído e
secção aborda os três tipos que conseguem natural.
atribuir um maior número de respostas às de-
mais situações que as equipas enfrentam. Este planeamento é também o mais estudado
e o mais premente na literatura pois implica
Em primeiro lugar está a sucessão básica. um certo tempo de preparação a priori que per-
Este é um plano de contingência ao nível da mite desenvolver e identificar atempadamente
sucessão ou um emergency backup planning, os líderes no sentido de efectuar uma tran-
Pág 43 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
que deveria estar disponível em todas as equi- sição suave da informação entre os actuais e
pas visto que permite que as mesmas con- os sucessores.
sigam apresentar respostas face ao surgi-
mento de situações adversas e inesperadas, Relativamente à sucessão base, ou seja,
nomeadamente, ausências por doença, morte emergency backup planning, esta pressupõe
de familiares, etc. Este planeamento é funda- que a equipa compreenda quais as principais
mental para assegurar a continuidade e bom funções do elemento-chave em falta, de modo
funcionamento da equipa num primeiro mo- a que seja capaz de dar uma resposta atempa-
mento. da e ajustada às funções do mesmo. Um as-
pecto fundamental deste tipo de planeamento preensiva da cultura e das forças que a guiam.
passa pela disponibilidade dos membros da Estas forças remetem para os líderes e ele-
equipa para assumirem as funções e tarefas, mentos-chave que representam o fio condutor
sendo capazes de assegurarem a tarefa X, Y de toda a troca de informação e articulação en-
ou Z, devido ao facto de serem eles próprios tre os demais membros da equipa, sendo fun-
especialistas nessas tarefas ou por trans- damental conceber de que forma estas forças
mitirem essas informações pela equipa. dirigem a equipa e o ponto de articulação com
a cultura da equipa em si.
Deste modo, existe uma garantia de que todos
estão aptos para, numa emergência, fazer uma Um outro tópico fundamental que vai ao en-
transição para a função necessária. Porém, é contro do emergency backup planning, aju-
importantíssimo desenvolver os demais pro- da à compreensão das principais funções
cedimentos, conceitos e protocolos de modo a e relações que os líderes têm com os seus
compor uma resposta integrada em emergên- pares. Para além de assegurar a continui-
cias de liderança de sucessão. dade das funções, é necessário assegurar a
forma como estas relações são partilhadas
Por sua vez, isto poderá implicar definir e es- e a forma como este conhecimento crítico se
crever alguma documentação sobre quais as poderá perder com um planeamento erróneo
tarefas elaboradas, quem as exerce, quem de sucessão.
deverá ser o substituo e como se pode dar
respostas às ausências imprevistas. Con- Um último tema fundamental aborda uma
forme este plano de resposta integrado em perspectiva estratégica e contingencial que
emergências de liderança ou de sucessão, é passa por desenvolver um plano de atracção,
fundamental que as equipas tenham os seus recrutamento e desenvolvimento da liderança.
planos documentados e as respectivas políti- Assim sendo, é necessário ter o plano bem
cas de sucessão em vigor. delimitado no que respeita a identificação
e atracção contínua do talento, juntamente
Estes planos são, tipicamente, actualizados com o desenvolvimento de futuros elemen-
anualmente, no entanto o ideal será uma actu- tos-chave no seio das equipas.
alização sempre que necessário ou sempre
que alguma das situações experimentadas Existe ainda um tema comum a todos os ti-
não seja resolvida da melhor forma. Após pos de planeamento de sucessão que passa
uma documentação clara do sucedido, é im- pela necessidade constante da actualização
portante divulgar e comunicar o plano para a do plano vigente de sucessão. Idealmente,
equipa em geral. esta actualização será executada anualmente,
ou em casos onde o turnover (taxa de rotati-
Os outros tipos de planeamento de sucessão vidade) é um factor premente, de seis em seis
apresentados neste capítulo relacionam-se meses.
com um planeamento mais estratégico e ali-
nhado com as directrizes ou direcções da equi- Por último, apresenta-se um plano mais clás-
pa ou organização. O chamado strategic suc- sico em termos da literatura referente ao pla-
cessful planning, está, frequentemente, inte- neamento de sucessão. Este plano de partida
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 44
I. IDENTIFICAR
POSIÇÕES CHAVE
VI. MONITORIZAR,
ACOMPANHAR E II. IDENTIFICAR E
AVALIAR A EFICÁCIA MAPEAR LACUNAS
Pág 45 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
DO PLANO DE SUCESSÃO
IMPLEMENTADO
III. IDENTIFICAR E
V. IMPLEMENTAR O AVALIAR SUCESSORES
PLANO DE SUCESSÃO
IV. DESENVOLVER
ESTRATÉGIAS DE
SUPORTE À SUCESSÃO
Figura 1. Processo genérico para o planeamento de sucessão (P-GPS).
I. IDENTIFICAR POSIÇÕES CH AVE mento de estratégias de suporte ao plano de
sucessão. Estas estratégias devem estar ali-
A primeira etapa do P-GPS diz respeito à iden- nhadas com as prácticas de recursos humanos
tificação de posições chave e críticas para o em vigor na equipa/organização (e.g., gestão
funcionamento eficaz da equipa ou da orga- do desempenho, compensação e benefícios,
nização. Deste modo, devem ser desenvol- recrutamento e retenção, formação). As es-
vidos esforços na análise de competências tratégias desenvolvidas deverão permitir uma
e requisitos futuros alinhados com a visão e efectiva implementação do plano de sucessão,
direcção da equipa/organização no médio-lon- recorrendo a programas de atracção e recruta-
go prazo. Assim, torna-se fundamental estabe- mento de talentos (internos e externos), defi-
lecer pontes entre o planeamento de sucessão nindo estratégias de aprendizagem e de trans-
e os valores da equipa, promovendo a articu- ferência de conhecimento, como é o caso da
lação entre o plano de sucessão e as necessi- formação formal e informal, do coaching, men-
dades dos elementos chave. toring ou shadowing.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Pág 47 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III
Por exemplo, no contexto desportivo é fácil de- O indicador da satisfação é de especial im-
terminar, no fim do ano, quando os elementos portância, sendo um indicador fundamental
que compõem uma determinada equipa perce- que permite realizar intervenções mais robus-
cionam que é viável manter o “11 principal” na tas. A satisfação relaciona-se com a per-
próxima época. O conflito experienciado pela cepção de controlo sobre a tarefa, sobre a par-
equipa, a dada altura do seu projecto, apre- ticipação e sobre a influência exercida durante
senta algumas repercussões a nível da estru- o processo. De um modo genérico, a satis-
tura da mesma, e aqui a viabilidade é particu- fação reme-te para o sentimento de realização
larmente importante pois ajuda a perceber se pessoal.
o conflito teve um impacto na crença que os
membros da equipa têm acerca da sua capaci- Relativamente ao último indicador, este pode
dade de permanecerem juntos enquanto equi- ser medido tanto por alguém externo à equipa
pa, ou se, o gestor/treinador tem de considerar ou pela própria, podendo avaliar o desempe-
reestruturá-la. nho com indicadores claramente definidos e
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 48
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Baard, S. K., Rench, T. A., & Kozlowski, S. W. (2014). Per-
formance adaptation: A theoretical integration and re-
view. Journal of Management, 40(1), 48-99.
PEDRO MARQUES-QUINTEIRO
Mestre em Psicologia dos Recursos Humanos,
do Trabalho e das Organizações pela Univer-
sidade de Lisboa e doutorado em Gestão e
Desenvolvimento de Recursos Humanos pelo
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, é
Professor Auxiliar no ISPA - Instituto Universi-
tário e Investigador no Centro de Investigação
William James. A sua investigação foca-se
nos processos de adaptação nas equipas
que trabalham em ambientes extremos (e.g.
Bombeiros; Antártica) e está envolvido na co-
ordenação de projectos de investigação apoia-
dos pelo Programa Polar Português (PROPO-
LAR) e a Agência Espacial Europeia (ESA) Em
junção com as actividades de investigador,
desenvolve actividades de consultoria na área
do desenvolvimento e implementação de pro-
gramas de formação, auto-liderança e na ava-
liação do desempenho.