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Pedro L. Almeida, Duar te Pimentel, Pedro Marques-Quinteiro


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F ICHA TÉCNICA
Autores: Pedro L. Almeida, Duarte Pimentel, Pedro Marques-Quinteiro

Documento “Equipas de Alto Desempenho”, publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. A informação que consta deste documento, ela-
borado em Janeiro de 2021, e na qual ele se baseia foi obtida a partir de fontes que os autores consideram fiáveis.

Esta publicação ou partes dela podem ser reproduzidas, copiadas ou transmitidas com fins não comerciais, desde que o trabalho seja adequada-
mente citado, conforme indicado abaixo.
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Sugestão de citação:
Almeida, P. L., Pimentel, D., & Marques-Quinteiro, P. (2021). Equipas de Alto Desempenho. Ordem dos Psicólogos Portugueses. Lisboa.

ISBN: 978-989-54623-8-4

Ordem dos Psicólogos Portugueses


Av. Fontes Pereira de Melo 19 D 1050-116 Lisboa T: +351 213 400 250
www.ordemdospsicologos.pt
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NOTA
INTRODUTÓRIA
Num momento em que por todo o mundo é reforçada a
importância do papel dos psicólogos nas organizações,
é muito importante disseminar as diferentes dimensões
desse mesmo papel.

Se é verdade que, recentemente, foram as preocupações


com a saúde psicológica da população e a forma como
os problemas que a afectam e que reduzem o seu de-
sempenho enquanto trabalhadores das mais variadas or-
ganizações, também tem, ao mesmo tempo, ficado mais
claro que o papel do psicólogo é estratégico se as suas
competências forem colocadas ao serviço do desen-
volvimento das lideranças, das prácticas de gestão e da
adaptação da estrutura das organizações à permanente
mudança dos contextos. São os psicólogos, os profissio-
nais dessa ciência que é a Psicologia que estuda os com-
portamentos e os processos mentais. E, todos os dias, é
de comportamentos de pessoas, das suas motivações,
da sua expressão emocional e das suas interacções em
equipas, como pensam e como tomam decisões, de que
as organizações são feitas.

O psicólogo, muitas das vezes altamente especializado,


mas quase sempre muito diferenciado de outros profissio-
nais, pelo conhecimento baseado em evidência científica
e numa sólida formação técnica, é a nova tendência no
mercado de trabalho dos serviços prestados às empre-
sas e organizações em geral. Os psicólogos serão cada
vez mais essenciais, não só para termos empresas mais
competitivas, capazes de vincular os seus talentos, mas
também para poderem sobreviver, com equipas com
cada vez mais alto desempenho, com pessoas mais re-
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silientes e prácticas mais adequadas à sustentabilidade


do seu bem-estar.

Francisco Miranda Rodrigues


Bastonário da Ordem dos Psicólogos
PRE

CIO 1
Confesso que me senti lisonjeada quando o Duarte me
convidou para prefaciar o livro que escreveu em coau-
toria com dois colegas docentes. Aceitei de imediacto
e com gosto, sem saber ainda o tema e imaginei que
seria um livro na área em que ambos trabalhamos,
de investimento e suporte ao empreendedorismo. Foi
particularmente desafiante receber uma obra intitula-
da “Equipas de Alto Desempenho”, sobre um tema tão
interessante e transversal. Foi com muito agrado que
me deparei com uma obra de 11 capítulos, que se lê
com interesse do princípio ao fim e que, não obstante
a sua fidelidade aos aspectos técnicos e científicos do
tema, consegue desconstruir a complexidade técnica
e transmitir a mensagem principal de forma simples e
objectiva. Este é o grande desafio dos mestres e pro-
fessores. Sendo um livro essencialmente didático, que
será usado por alunos no âmbito de cursos de espe-
cialização sobre estas matérias, felicito os autores pela
opção de incluir a bibliografia de referência no final de
cada capítulo, encaminhando assim os alunos ou lei-
tores mais interessados para o aprofundamento das
temáticas através de uma pesquisa às fontes. Trata-se
de uma obra de leitura fluida, em que a frugalidade de
cada um dos capítulos impele o leitor a prosseguir para
o capítulo seguinte. Estamos perante um livro que versa
sobre tema relevante para todas as áreas profissionais,
que se lê com agrado e interesse e que quando chega-
mos ao final nos deixa a sensação e convicção de que
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valeu a pena ler. Deixo como última nota a felicitação


aos autores e o desejo de que os leitores partilhem da
minha opinião de que a leitura desta obra foi enriquece-
dora e valeu a pena.
Recomendo!

Helena Maio
(Advisor to the board of Directors
Portugal Ventures SCR, SA)
PRE

CIO 2
O desporto, no meu caso o Futebol, foi e é uma Motivação: Quem corre por gosto não se
aprendizagem para solidificar alguns valores cansa. Nunca desistir, acreditar sempre.
que na minha opinião são importantes numa
equipa de alto desempenho. Durante a minha Humildade: Sonhar alto, trabalhar no duro, per-
carreira como futebolista vivi muitas experiên- manecer humilde. Ter sempre presentes as
cias que me ensinaram esses mesmos valores nossas origens. Reconhecer sempre as nos-
e competências, e que acredito terem sido fun- sas forças e fraquezas.
damentais para ajudar as minhas equipas a
estarem mais perto da vitória. Muito do que agora descrevi, encontrei escri-
to por outras palavras por quem sabe e domi-
Ao ler este livro, vejo esses mesmos valores e na cientificamente e no terreno, o assunto. Vi
competências descritos com grande clareza e neste livro um auxiliar muito útil para todos
simplicidade. Eles são: aqueles que procuram motivar a sua equipa
de trabalho, que procuram tornar a sua equi-
Trabalho em Equipa: Tal como descrito em pa mais forte e competitiva e que procuram
alguns capítulos deste livro, se por um lado perceber como podem resolver os seus pró-
é verdade que o talento ajuda a ganhar jo- prios problemas. Em resumo, este é um livro
gos, também não é menos verdade que são o para todos aqueles que querem saber o que
trabalho em equipa e a união que ganham os são, como funcionam e como se formam as
campeonactos. Equipas de Alto Desempenho.

Respeito: Este trabalho em equipa só é possí-


vel quando também existe um excelente re-
lacionamento humano e confiança no grupo.

Superação: Porque só assim, conseguimos


evoluir tanto nos dias bons, como mais ainda
nos dias maus.
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Compromisso: A motivação é o que te faz


começar, e o compromisso o que te faz nunca
desistir.

Comunicação: As pessoas podem ouvir as


vossas palavras, mas o que elas sentem é a
atitude. Saber ouvir, aceitar a crítica, ajudar o Nuno Gomes
colega. Entender e aceitar as diferenças. (ex-futebolista)
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DI
ÍN
CE
10 INTRODUÇÃO

11 MODELOS DE CAUSALIDADE E EFICÁCIA DAS EQUIPAS

13 POTENCIAR A EFICÁCIA DAS EQUIPAS

18 ASPECTOS ESTRUTURAIS DAS EQUIPAS

22 MODELOS DE DESENVOLVIMENTO DE EQUIPAS

24 COMUNICAÇÃO NAS EQUIPAS

29 LIDERANÇA

32 AFECTOS NAS EQUIPAS


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38 MEMÓRIA PARTILHADA

40 SUCESSÃO EM EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO

48 INDICADORES DE EFICÁCIA DE EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO

50 BIOGRAFIAS
INTRO
DUÇÃO
Este livro foi criado com base em experiências profis-
sionais, alicerçadas nos princípios vigentes na literatura
científica. O livro é estruturado de forma simples de modo
a facilitar o entendimento dos conteúdos para que o leitor
possa avançar com uma componente de auto-estudo.

Para quem estiver a frequentar o curso da Ordem dos


Psicólogos (OPP) “Equipas de alto desempenho”, este livro
também serve como material complementar de suporte.
No que respeita ao contexto de sala de aula virtual, os co-
nhecimentos adquiridos nos capítulos serão aplicados e
revisitados, sendo alguns aprofundados em maior detalhe,
enquanto se gerem discussões informativas e educativas.

No fim de cada capítulo, são disponibilizadas algumas


sugestões de leitura ou actividades que levarão à desco-
berta de mais informação e aplicação dos conteúdos com
vista a um enriquecimento da aprendizagem.

Espera-se que quem ler este livro tenha a mesma experiên-


cia alegre e enriquecedora que os autores obtiveram a de-
senvolver o mesmo.
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MODELOS DE
CAUSALIDADE E
EFICÁCIA DAS EQUIPAS
Neste capítulo vamos começar por apresentar influenciam, moderam ou medeiam os outputs,
dois modelos essenciais que ajudam a ter um por via dos inputs que a equipa dispõe.
melhor entendimento das questões da eficácia
das equipas e como as mesmas são justifica- Os outputs podem ser medidos com base
das na literatura científica. O primeiro modelo em certos indicadores de eficácia de uma
é o I-P-O, isto é, inputs, processos e outputs. O equipa, como é o caso do desempenho. O de-
modelo foi desenvolvido por Joseph McGrath, sempenho é avaliado através da análise de
em 1964, e não obstante a altura em que foi medidas objectivas, nomeadamente o desem-
desenvolvido, continua a ser um modelo de penho da tarefa, sendo que este indicador é
referência no estudo e na compreensão da medido através da análise do cumprimento,
eficácia nas equipas, na medida em que ajuda ou não-cumprimento do objectivo e ainda se
a perceber a realidade de equipas eficazes e dentro do que é expectável, o que foi passível
ainda um modelo que é transversal a diversas de ser atingido.
áreas científicas dentro deste contexto.
Dos mais variados indicadores dentro dos out-
Começando pelos inputs, estes são recursos puts, distingue-se a viabilidade da equipa, isto
de uma determinada área de trabalho que po- é, a capacidade da mesma manter o seu fun-
dem ser subdivididos em duas secções: indivi- cionamento no futuro enquanto uma equipa
dual, que se prende com diversas capacidades de trabalho. Este é um output e um indicador
técnicas, competências e características re- específico para equipas que pretendem que o
ferentes aos membros da equipa, tais como a seu trabalho se prolongue no tempo, no entan-
forma como os elementos da equipa conse- to nem todos os indicadores são pertinentes,
guem contribuir para a eficácia da mesma ou pelo que é necessário ter em conta quais os
do restante grupo; e colectiva, onde os inputs indicadores relevantes consoante a equipa e o
pertencem à equipa enquanto um todo, isto seu trabalho.
é, um organismo orgânico e complexo. Deste
modo pode-se ter algum conhecimento parti- Eis um exemplo onde este indicador não é tão
lhado sobre o estado da equipa e que tarefas relevante: Tome em conta uma equipa inserida
as diversas partes deste organismo estão a numa empresa de software cuja função prin-
elaborar, ou seja, os membros podem ter um cipal prende-se com o desenvolvimento de
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conhecimento partilhado sobre o conhecimen- uma plataforma virtual específica e que, com
to técnico da equipa em geral. o término desta função, a equipa não tem mais
necessidade de se manter. Com o cumprimen-
Passando agora para a parte dos processos to da sua função principal, a equipa dá por ter-
deste modelo, estes remetem para as carac- minado o seu ciclo de utilidade, mesmo que se
terísticas psicológicas dos membros da equi- verifique a existência de indicadores comuns
pa, isto é, as suas cognições, comportamentos na literatura, é ainda mais importante que nós
e afectos e ainda a forma como os membros profissionais saibamos identificar os outputs,
indicadores e resultados relevantes para cada cognições futuras da equipa de trabalho a
função que as equipas desempenham. médio e longo prazo.

A par destes indicadores, existem outros out- Um outro contributo deste modelo é a inclusão
puts – apresentados e debatidos no capítulo da possibilidade das emoções, cognições e
11 do livro – ligados à satisfação dos mem- comportamentos interagirem de modo recípro-
bros da equipa, abordando questões como o co ao longo do tempo para criar aquilo que
prazer experienciado durante a tarefa e ainda se designa por eficácia ou desempenho nas
o grau de satisfação de todo o processo, des- equipas.
de o input, passando pelo processo e o des-
fecho do output. Resumidamente, estes dois modelos, I-P-O e
I-M-O-I, são os principais modelos de causa-
É importante ainda salientar que em termos lidade na investigação sobre o trabalho em
destes modelos, os inputs, processos e out- equipa, sendo o modelo I-P-O um modelo clás-
puts são todos ajustáveis, tornando o encaixe sico, desenvolvido por autores como McGrath,
destes blocos em função daquilo que se está e que serviu como base para a maioria das in-
a diagnosticar, de modo a podermos ter uma vestigações das últimas três décadas sobre o
visão mais organizada e mais fidedigna da modo em que as características dos membros
realidade. da equipa e os contextos onde estas equipas
actuam influenciam o funcionamento das
Como referido anteriormente, o modelo I-P-O é equipas e os resultados obtidos das mesmas.
um modelo basilar na literatura, cuja perspecti- Em paralelo o modelo I-M-O-I é um mode-
va aborda a eficácia das equipas, e que a partir lo mais recente e que começa hoje a ganhar
do qual derivaram outros modelos de referên- mais tracção na investigação e na práctica da
cia, entre os quais o I-M-O-I que será abordado gestão de equipas, acrescentando a novidade
seguidamente. do tempo, a noção da causalidade ao longo do
tempo, enquanto principal contributo ao modo
O modelo I-M-O-I parte do mesmo pressuposto de pensar e agir sobre equipas de alto desem-
do modelo I-P-O acima apresentado, no entan- penho.
to acrescenta questões como a causalidade
no tempo e feedback loops, isto é, a noção de
que certa variável, num determinado momen-
to, serviu de input no que respeita ao modo de
funcionamento da equipa e que mais tarde,
poderá servir de processo ou como output da
equipa, dando origem à noção de input medi-
ador, podendo ser um processo ou um estado
emergente (entenda-se, uma emoção ou uma
memória verbal), do output e novamente um
input posterior.
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A principal contribuição deste modelo face ao


modelo I-P-O, é a noção de que o funcionamen-
to das equipas e o comportamento dos seus
membros integrantes não deve ser enqua- BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Mathieu, J. E., Gallagher, P. T., Domingo, M. A., & Klock,
drado enquanto estático no tempo, avançan- E. A. (2019). Embracing complexity: Reviewing the past
do com a suposição de que a forma como decade of team effectiveness research. Annual Review
os membros interagem irá ter repercussões of Organizational Psychology and Organizational Behav-
a nível dos comportamentos, emoções e ior, 6, 17-46.
POTENCIAR
A EFICÁCIA
DAS EQUIPAS
Este capítulo abordará um conjunto de aspec- se mantêm no caminho certo, assemelha-se
tos que na nossa opinião podem potenciar a ao modo como um GPS nos indica o rumo a
eficácia das equipas. seguir para chegarmos ao destino final.

O GPS é utilizado para nos indicar a rota apa-


rentemente mais rápida para chegar ao destino
ALINH AR PROPÓSITO, OBJECTIVOS pretendido, no entanto, por vezes é necessário
E PROCESSOS que o mesmo recalcule a rota devido a um
evento inesperado como uma estrada interdita
“Porquê?”, esta simples pergunta com inú- ao tráfico, o mesmo deverá ser realizado por
meras respostas complexas que todos nós profissionais, sendo que com esta altera-
fazemos, que une as pessoas em função de ação ligeira da rota, geralmente surgem novas
um objectivo comum e que as mantém unidas metas parciais até que se alcance o objectivo
nessa luta pelo objectivo mesmo durante uma final.
fase com mais obstáculos. Quando pensam-
os em desistir de um projecto, de uma situ- Nos mais variados momentos, o que falha é
ação, ou de uma equipa, e, no entanto, não o precisamente a informação referente a onde
fazemos, deve-se ao compromisso com um estamos e para onde vamos em diante. O sim-
propósito definido, ou seja o significado que ples acto de se fazer um ponto de situação, de
os membros das equipas atribuem àquilo que a equipa buscar alinhamento, é então funda-
fazem. mental, visto que permite a todos os envolvi-
dos distanciarem-se um pouco sobre a meta
Por outro lado, a importância de ter um propósi- final e conseguirem olhar para a “big picture”.
to é a garantia de que as equipas mantêm a
motivação necessária para atingir os objec- Um outro ponto importante prende-se com o
tivos definidos. alinhamento de processos. Este alinhamento
permite que as pessoas estejam sincroniza-
Salienta-se a importância de se saber formu- das face àquilo que estão a fazer e quanto ao
lar e monitorizar os objectivos a alcançar, algo porquê de o estarem a fazer.
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que implica a existência de uma capacidade


de acompanhar pessoas enquanto estas de- Em certos momentos, a forma como se che-
senvolvem as suas tarefas, juntamente com a ga ao objectivo implica tomar decisões sobre
atribuição de um feedback constante para que variadas opções, nomeadamente questões
as mesmas saibam em que parte do processo referentes ao planeamento, à organização e à
se inserem e que consigam saber o caminho monitorização do mesmo.
a seguir daí em diante. Este acto de ajudar as
pessoas a saber se estão ou não perdidas e se Em vários casos, a importância da discussão
em função do alinhamento de processos é, dadeiro problema.
em si, um tópico importante, onde podemos
ou não tomar decisões sobre os caminhos a Outro aspecto negativo fácil de identificar é
tomar ou alinhar ou não a forma de continuar a falta de planeamento no que respeita à re-
esse caminho. solução de problemas, isto é, quando uma
equipa se depara com um problema, e decide
Se encararmos equipas de alto desempenho, passar para a acção sem um plano concreto
podemos constatar que estas têm os seus sobre como o vai resolver. De facto, quando se
protocolos muito bem definidos, pois todos os trabalha com dinâmicas de grupo, observa-se
membros destas equipas têm uma visão mui- facilmente que alguns membros das equipas
to clara de como se vai chegar ao objectivo em tendem a passar para a acção antes de dei-
todas as etapas. xar o facilitador acabar de dar as instruções
necessárias. Este exemplo é bastante fácil
Um exemplo explícito poderá ser observado de identificar em equipas quando estas estão
numa equipa no pit stop em fórmula 1, com inseridas numa competição (e não falamos
mais de uma dezena de elementos a con- apenas de competição desportiva).
seguirem trocar 4 pneus do carro em menos
de 2 segundos. Isto diz-nos que para se con- O terceiro aspecto negativo prende-se com
seguir um processo destes, com este nível de elevados níveis de negatividade e passivi-
rapidez e com um sentido de urgência perma- dade, ou seja, quando os membros da equipa
nente, todos os membros têm de estar muito começam a proferir frases como: “Isto não vai
bem alinhados naqueles que são os processos dar certo” ou “Isto assim não vai correr bem”,
necessários para se chegar ao objectivo. assumindo desde o início das actividades uma
atitude pessimista sobre as situações que se
Podemos constatar ainda outros exemplos de vão desenrolar o que, por sua vez, leva a um in-
equipas que não podem falhar e que, por não cremento nos níveis de toxicidade nos proces-
poderem falhar, os processos têm de estar sos de decisão e nos processos de discussão
muito bem alinhados entre todos os membros. relativamente a uma necessidade.
Todos sabem o que têm de fazer, quando, com
quem e como chegar ao objectivo, como é o Já a passividade dos membros da equipa, tra-
caso de controladores de tráfego aéreo, equi- duz-se numa falta de inputs para a discussão
pas militares e médicas. na equipa, podendo traduzir-se também numa
contribuição precária relativamente à definição
No entanto, as tomadas de decisão e a dis- de processos, levantando determinados obs-
cussão em função deste alinhamento de pro- táculos aos alinhamentos dos processos da
cessos nem sempre correm da melhor forma, equipa em geral.
pelo que surgem alguns aspectos negativos
que não o promovem. O conflito em “torno da tarefa” é quase sem-
pre positivo para o desenvolvimento da equi-
pa em contraponto com o conflito “entre pes-
soas”. Contudo, por vezes surgem situações
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OS “BLOQUEADORES” DA EFICÁCIA de “braço de ferro” dentro das equipas quando


nas discussões internas envolvendo dois ou
Alguns destes aspectos são identificados na mais elementos, esta gira em função de um
literatura, estando um deles relacionado com assunto específico onde ambas as partes não
a falta de clarividência sobre o problema. Em querem abdicar da sua posição ou visão para
vários momentos, as pessoas dentro de uma resolver a questão. É então necessário termi-
equipa estão a discutir e, por vezes, parecem nar a discussão rapidamente para manter o
estar a comunicar com línguas diferentes e bom funcionamento da equipa. No entanto,
não conseguem sequer perceber qual é o ver- isto nem sempre acontece e as discussões so-
bre simples processos de equipas acabam por ou grupos coesos que apresentam uma lide-
escalar ao ponto de minar o funcionamento da rança muito directiva ou manipuladora, ainda
mesma. que isto ocorra naturalmente e sem a intenção
do próprio líder.
Existe ainda a questão do estrangulamento do
fluxo de informação, isto ocorre em equipas Para além disto, este erro pode ainda ser
onde um ou dois membros assumem a forma derivado do modo de relacionamento afável
como a informação circula pela equipa ou en- ou simpático entre os membros da equipa, per-
tre os diversos momentos da equipa. mitindo uma repercussão negativa que impac-
ta adversamente o funcionamento da equipa.
É possível que o leitor possua algumas noções Basta pensar na dinâmica inerente a um grupo
de implicações prácticas relativamente a este de adolescentes que tipicamente apresentam
conceito visto que todos nós estamos inseri- uma elevada coesão e boas relações entre
dos em equipas em diversos contextos, e sabe- os membros e um diz: “Vamos pela esquer-
-se que ter o fluxo de informação limitado pela da”, provavelmente vão todos para o mesmo
equipa toda é bastante disruptivo. No entanto caminho sem questionarem o porquê, e mui-
é importante salientar que este fenómeno não tas vezes existe alguém que pensa: “Se calhar
ocorre, frequentemente, propositadamente, este não é o melhor caminho” mas não o diz
isto é, o estrangulamento do fluxo de infor- para não ferir a coesão do grupo face a tomar
mação resulta da natureza do funcionamento uma posição contrária ao mesmo.
individual da pessoa. Porém, este fenómeno
acaba por deturpar a tomada de decisão face Ainda neste tópico, se tomarmos como exem-
ao alinhamento dos processos que permite o plo a acção de um psicólogo do desporto no
bom funcionamento da equipa e a sua eficá- futebol, este por vezes depara-se com equipas
cia. técnicas que podem ter entre três a uma deze-
na de elementos. É frequente nestas equipas
Visto que estes processos são basilares ao verificar-se alguma ascendência por parte do
funcionamento da equipa, é importante que treinador principal no que respeita aos proces-
estes estejam sempre bem definidos, pois sos de tomada de decisão. No caso do trei-
caso contrário irão minar substancialmente o nador principal não ter presente a importância
progresso das equipas, pelo que é fulcral uma de criação de momentos onde os restantes
definição clara dos processos da equipa para membros da sua equipa técnica possam cla-
que empecilhos como este não se venham a ramente opinar, ele poderá vir a tomar decisões
repetir no futuro. erradas com mais ou menos impacto nele e
em outros. E a parte importante é que o pode
Uma situação bastante decisiva para o bom fazer mantendo integral a sua capacidade de
funcionamento das equipas prende-se com o ser quem toma a decisão final.
erro do silêncio de apoio na tomada de decisão
em grupo. O efeito do pensamento grupal é um
efeito que empobrece a tomada de decisão,
devido ao facto de que quem está a gerir os A DIMENSÃO DAS EQUIPAS
Pág 15 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

processos de equipa não tomou a liberdade de


recolher alternativas dos restantes membros Neste capítulo onde discutimos “como poten-
da equipa, baseando-se numa decisão unila- ciar a eficácia”, outro aspecto a ter em conta
teral, ou por uma decisão tomada por via de é a dimensão das equipas. É claro que todos
uma unanimidade ilusória, algo que inevita- têm a noção de que a produtividade real das
velmente levará a um funcionamento negativo equipas não é igual à soma do potencial de
para a equipa. produtividade individual dos seus membros.
A dinâmica que se gera entre eles é decisiva.
Este processo erróneo é comum em equipas Por outro lado é importante ter em conta que
à medida que o número de pessoas dentro de e com elevado sentido de urgência face ao ob-
uma equipa aumenta este fenómeno ainda se jectivo. É esta orientação que torna possível a
torna mais claro. estas equipas trabalharem de forma motivada
e eficaz, mesmo nas situações mais adversas.
Ao recorrer à literatura, percebe-se que os gru-
pos ou equipas deverão ser constituídos pelo A superação refere-se aos momentos em que
menor número de pessoas necessárias para os membros entram numa lógica de melhoria
realizar um determinado projecto. No entan- contínua de modo a conseguirem alcançar um
to, é necessário ter em conta que não se deve desempenho ainda melhor. Um aspecto cen-
recorrer aos extremos, pois ao ter um número tral deste processo é a capacidade dos mem-
inferior de pessoas na equipa levará a um au- bros em manterem o pensamento disciplinado
mento nos momentos de stress e um número em torno daquilo que é necessário ser feito
excessivo poderá aumentar a sua “flacidez”. em cada momento. Assim, a ideia de focar na
tarefa, naquilo que é passível de se controlar
Com a experiência pessoal, a questão de esta- assume particular importância. A partir de aí,
belecer o menor número de pessoas possíveis este funcionamento entra numa lógica cíclica
para uma tarefa vai-se resolvendo. Olhemos e vai-se desenvolvendo uma forte cultura de
para o contexto do futebol de 11, onde se sabe disciplina de processo/tarefa dentro da equi-
que existe um número certo de pessoas que pa, que por sua vez permite ir melhorando e
são necessárias para se realizar determinadas superando metas já antes atingidas.
tarefas.
O sentido de urgência refere-se a um tema
No entanto, sabe-se que para além dos 11 fundamental que se prende com a capacidade
jogadores em campo, existem muitos mais duma equipa acelerar, desde que a mesma
jogadores no banco que compõem o plantel. disponha de procedimentos e processos bem
Logo, um plantel de uma equipa não tem esti- definidos. Este sentido começa individual-
pulado de modo padronizado quantos ele- mente. Quando o indivíduo não dispõe deste
mentos o compõem na sua totalidade. Não sentido de urgência, dificilmente se conseguirá
obstante esta ambiguidade, existe algum con- gerar um sentido de urgência colectivo, algo
senso em torno de um número aproximado de que em muitos momentos é um factor deter-
pessoas de um plantel, quase sempre, 23 a 27. minante para o sucesso da equipa.

Este número tem em conta variadas circuns-


tâncias específicas à equipa, pois uma equi-
pa que está em mais competições necessita A ME TÁFORA DA MÁQUINA DE
de um plantel mais robusto face a uma equi- L AVAR ROUPA
pa que não tenha o mesmo número de com-
petições, salientando então a necessidade de Ao longo dos anos fomos observando vários
ter este cálculo bem delimitado para que a di- aspectos no funcionamento das equipas que
mensão da equipa seja bem ajustada. potenciam a sua eficácia. Um desses aspec-
tos prende-se com aquilo que chamamos a
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metáfora da “máquina de lavar roupa”. Todos


sabemos genericamente que o movimento
CAPACIDADE DE SUPERAÇÃO E tranquilo da lavagem da roupa nas máquinas
SENTIDO DE URGÊNCIA é centrípeto e que o movimento de espremer a
roupa é centrífugo, afastando as peças contra
Uma característica chave das equipas de alto a parede da máquina. E em muitos momentos
rendimento é a orientação dos membros da verificamos estes movimentos nas dinâmicas
equipa para trabalhar com foco na superação das equipas, com claras repercussões naqui-
lo que é o quotidiano. Usando esta metáfora,
poderíamos mesmo dizer que por vezes as
equipas são (ou estão) mais centrífugas ou
mais centrípetas. Quando as relações inter-
pessoais potenciam a confiança entre os
membros, as equipas tornam-se mais centrí-
petas, originando membros mais coesos que
abraçam uma lógica mais colectiva face ao
alcance da meta determinada. Obviamente
que as equipas passam por diferentes fases,
nomeadamente algumas de conflito (ver ca-
pitulo 5). Como tal, uma boa “centrifugação”
não faz mal a ninguém, particularmente se for
em torno da tarefa/processos que realinham
e conduzem ao objectivo. Mas manter uma
máquina de lavar roupa sempre a centrifugar,
além de consumir muita energia torna-se num
enorme e ruidoso desperdício. O mesmo, no
nosso entender, acontece várias vezes nas
equipas, perturbando o seu funcionamento e a
sua eficácia.

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Pág 17 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

Mathieu, J. E., & Rapp, T. L. (2009). Laying the foundation


for successful team performance trajectories: The roles
of team charters and performance strategies. Journal of
Applied Psychology, 94(1), 90.

Sverdrup, T. E., Schei, V., & Tjølsen, Ø. A. (2017). Expect-


ing the unexpected: Using team charters to handle dis-
ruptions and facilitate team performance. Group Dynam-
ics: Theory, Research, and Practice, 21(1), 53.
ASPECTOS
ESTRUTURAIS
DAS EQUIPAS
Este capítulo aborda a questão da importân- duma revisão de literatura neste domínio, os
cia de alguns aspectos estruturais para o bom autores propõem uma nova integração desta
funcionamento das equipas. No nosso en- informação em função de 3 dimensões com-
tendimento, desvalorizar estes aspectos tem portamentais: dominância, sociabilidade e ori-
metaforicamente o mesmo impacto que cons- entação para a tarefa. Estas dimensões com-
truir um edifício sem cuidar das suas estru- portamentais materializam-se em diferentes
turas de base, os alicerces. papéis identificados pelos autores no artigo
acima referido.

Uma das taxonomias de papéis de equipa


PAPÉIS mais famosa é a postulada por Belbin. Este
sugere a presença de 9 papéis numa equipa
O primeiro aspecto que vamos abordar é a que são essenciais para o seu equilíbrio e bom
definição de papéis, a sua importância e con- desempenho. Os 9 papéis propostos são: co-
tribuição para o funcionamento harmonioso ordenador, monitor/avaliador, especialista, im-
da equipa e o sucesso na realização dos ob- pulsionador, investigador de recursos, finaliza-
jectivos aos quais se propôs. dor, implementador, aglutinador, cérebro (o
criativo).
Dentro da literatura existente sobre este tema
foram surgindo algumas dimensões compor- Por exemplo: um elemento da equipa com o
tamentais, desenvolvendo-se uma taxonomia papel de “cérebro” (ou criativo de acordo com
de papéis que resulta do surgimento de vá- a taxonomia de Belbin) é aquele que resolve
rios autores sobre estas matérias. No entanto, os problemas difíceis na equipa e tem uma
aquilo que interessa para quem trabalha no debilidade permitida, que se prende com um
terreno é a forma como este conhecimento certo afastamento da realidade do quotidiano
teórico pode ser útil na práctica. da equipa. De facto, ao pensar em alguém cria-
tivo, é típico identificarmos esta característica.
Em diversos momentos, atribuímos etique- No entanto, uma debilidade não permitida a
tas ou rótulos aos que estão ao nosso redor, este papel seria a manutenção de um forte sen-
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 18

sendo que estes são nomes atribuídos a um timento de propriedade de uma ideia ao invés
aglomerado de dimensões comportamen- da obtenção de melhores resultados por via da
tais. Drikell, Burke e Salas (2017) elaboraram cooperação com os demais colegas da equipa.
uma revisão de literatura com o foco virado
para uma integração de vários papéis, sendo Já um elemento da equipa que assuma o pa-
que se recomenda a sua leitura para quem pel de impulsionador é uma pessoa tipica-
se interessa por estas dimensões – Team mente muito energética e desafiadora, essen-
Roles: A Review and Integration. Para além cialmente é alguém com fortes capacidades
de galvanizar a equipa, cujo papel é fulcral Outro exemplo de papéis antagónicos poderá
para manter baixos os níveis de inércia e para ser visto nos cargos de impulsionador e aglu-
manter o sentido de urgência. O impulsionador tinador. A pessoa encarregue por estes dois
tem a debilidade permitida de ser provocador papéis tem de assumir a iniciativa, e em al-
e agressivo pois, por vezes, é a única forma guns casos introduzir alguma agressividade
de fazer com que as pessoas se mexam, en- nos processos de equipa enquanto simulta-
quanto que a sua debilidade não permitida é neamente tem de ser aquele que apoia e en-
a incapacidade para recuperar de uma certa volve os outros elementos. Obviamente isto
situação com bom humor ou de criar conflitos será difícil.
desnecessários.
Para além de propor a taxonomia de papéis,
O último exemplo prende-se com o papel de Belbin salienta que com a progressão de um
aglutinador: este é alguém que está encarre- projecto, os papéis necessários vão alternan-
gue da recuperação da equipa, de evitar confli- do entre si. Deste modo, foi elaborada uma ta-
tos e de estabelecer pontes entre os membros bela que propõe diferentes papéis necessários
da equipa ou grupo. Uma debilidade permitida em função da fase em que o projecto se encon-
a este papel é ser alguém que apenas decide tra, por exemplo: durante a fase de execução
quando está sob pressão pois não pretende é necessário o implementador e o finalizador,
ferir as suscetibilidade de nenhuma das partes já numa fase inicial de brainstorming, é funda-
e ainda poder estar um pouco indeciso, en- mental o cérebro e o investigador de recursos
quanto que uma debilidade não permitida ao e numa fase de contactos é necessário o in-
aglutinador é o evitamento de situações que vestigador de recursos e o aglutinador.
podem induzir pressão, visto que ao fazê-lo
poderá gerar a sensação de ser alguém que
foge às suas responsabilidades, algo que não
é permitido. NORMAS

Uma dimensão interessante presente na ta- Mudando de tema, vamos falar da importância
xonomia de papéis de Belbin é a ideia de das normas nas equipas. Este tópico é funda-
existirem papéis naturalmente antagónicos, mental, ainda que seja algo desvalorizado por
ou seja, contrários, dentro da equipa. Oito dos se achar que estas existem apenas para serem
papéis propostos pelo autor são antagónicos cumpridas ou simplesmente para estarem es-
por natureza, sendo que o papel de monitor/ critas num qualquer local e não se cumprirem
avaliador é um papel que não se enquadra de forma rigorosa. Quando somos introduzi-
neste emparelhamento. dos numa equipa, existe em muitos momentos
regulamentos e um conjunto de informações
Um exemplo de papéis antagónicos pode ser acerca daquelas que são as expectativas com-
encontrado nos papéis de coordenador e de portamentais de cada elemento, servindo para
especialista. Se uma pessoa desempenhar salientar a natureza, os valores e as linhas de
simultaneamente os papéis de coordena- orientação do grupo em que estamos inseri-
dor e especialista de tarefa, irá experienciar dos. Resumidamente, são as expectativas
inúmeras dificuldades em conciliar os dois, comportamentais que estão lá para auxiliar a
Pág 19 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

uma vez que o especialista se enquadra numa orientação dos elementos novos e antigos do
lógica analítica e focada num determinado grupo e que muitas vezes não lhes é prestada
aspecto, enquanto que o coordenador tem a devida atenção e valor.
muitas vezes de fazer zoom out para ter uma
visão global de tudo que envolve a actividade O funcionamento da equipa enquanto um todo
da equipa. Em muitos casos, a pessoa que e a ligação dos seus membros deve passar
tenha ambos os papéis tende a abdicar de um por diversas etapas que as normas deveriam
deles para se poder dedicar ao outro. regular, mas na realidade, muitas vezes,
as mesmas só são observadas quando se o indivíduo se afasta das normas.
começam a verificar problemas.
Por vezes há divergência quanto ao Estatuto
Assim sendo, deve-se prestar atenção a este dos membros nas equipas. Contudo é impor-
tema pois em diversos momentos e contextos, tante que haja consenso relativamente ao Es-
a inexistência de normas ou a fragilidade das tatuto de cada membro, uma vez que a ausên-
mesmas, seja pela sua incapacidade de imple- cia desta congruência tende a gerar situações
mentação ou da sua verificação, geram uma de conflitualidade.
noção de flacidez ou inércia em termos com-
portamentais dentro das equipas, algo que é Analisemos por exemplo uma turma de alunos
uma forte ameaça à sua eficácia. universitários: se compararmos o início do ano
lectivo com o final do primeiro semestre, quase
A conformidade às normas da equipa pode ser sempre existe alguma diferenciação entre os
alcançada quer por submissão, quer por inter- melhores e os piores alunos, com base nas no-
nalização. A submissão às normas surge para tas obtidas nesse semestre. Logo, as classifi-
os membros das equipas evitarem punições cações dos alunos influenciam as interacções
e/ou obter recompensas no processo, enquan- entre os alunos no restante ano lectivo, quer
to que no caso da internalização, os membros nas escolhas dos elementos para trabalhos de
acreditam que as normas correspondem, de grupo, quer nas relações com as pessoas den-
facto, aos comportamentos correctos e ma- tro deste contexto, tais como outros colegas e
nifestam-nos independentemente da existên- professores.
cia de punições ou recompensas.

Assim sendo, as normas devem ser desenvolvi-


das em função das expectativas associadas à CARACTERÍSTICAS DOS MEMBROS
produtividade, relações com figuras de autori- DAS EQUIPAS
dade, relações interpessoais com colegas da
equipa e com agentes externos, padrões co- No que respeita às características intrínsecas
municacionais e afectação dos recursos. Por dos membros das equipas, é fundamental ter
outro lado devem ser explicitamente partilha- em conta 3 dimensões. A primeira debruça-se
das e discutidas entre os elementos do grupo, sobre a importância da existência de algu-
por forma a garantirem a eficácia da equipa. ma homogeneidade entre características dos
membros quando as tarefas a executar são
simples. A segunda dimensão prende-se com
a importância da existência de alguma he-
ESTATUTO terogeneidade nas características dos mem-
bros das equipas para a execução de tarefas
O Estatuto pode ser influenciado pela posição de índole mais complexa ou criativa. A última
formal que a pessoa ocupa na organização/ dimensão é a necessidade de ter pessoas fle-
equipa, mas também por factores informais, xíveis e polivalentes que desempenhem mais
como a idade, a educação, o número de anos do que uma função. Esta última necessidade
na organização/equipa, etc. No fundo, os é mais visível em equipas com um número
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 20

membros de uma equipa podem ser ordena- menor de membros onde é necessário “pes-
dos tendo em conta o seu prestígio, importân- soal para tapar buracos”. Assim estas pes-
cia e utilidade para o grupo. soas adoptam esta função polivalente e de
suporte como a sua tarefa principal.
Quanto maior o Estatuto do individuo, maior a
sua capacidade para se desviar das normas Esta dimensão ocorre com algum relevo em
do grupo. Por outro lado existe a tendência equipas de vários contextos. Por exemplo,
para que o Estatuto seja enfraquecido quando nas desportivas, os polivalentes acabam por
executar um papel determinante na dinâmica
do grupo e por ser elementos fundamentais
para o líder da equipa. O mesmo pode suce-
der nas organizações, onde por vezes existem
pessoas que têm valências em mais que uma
área, tornando-as bastante valiosas e úteis
para acudir as equipas em diversas situações.

Pág 21 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Bolman, L. G., & Deal, T. E. (1992). What makes a team
work?. Organizational Dynamics, 21(2), 34-45.

Fisher, S. G., Hunter, T. A., & Macrosson, W. D. K. (2001). A


validation study of Belbin’s team roles. European Journal
of Work and Organizational Psychology, 10(2), 121-144.
MODELOS DE
DESENVOLVIMENTO
DE EQUIPAS
Tal como o ser humano, as equipas também explicitada no modelo linear de Tuckman que
têm um ciclo de vida, onde nascem, crescem, é constituído por quatro etapas: Forming, Stor-
desenvolvem e chegam ao seu fim. Algumas ming, Norming e Performing. Este modelo clás-
equipas têm uma elevada longevidade, en- sico explica o funcionamento da equipa, desde
quanto outras têm uma vida curta. a sua implantação, passando pelos processos
de familiarização, formação de relações in-
A literatura subjacente a este tema tem vindo terpessoais e alguns aspectos essenciais da
a ser desenvolvida por diversas áreas cientí- sua estrutura (Forming), seguindo pela etapa
ficas, sendo que têm vindo a propor diversos caraterizada por um clima de rebelião, tensão
modelos teóricos que ajudam a explicar a e conflitos interpessoais (Storming), manten-
forma como as equipas se desenvolvem. De do-se nesta fase até chegar ao momento onde
um modo resumido, existem duas linhas de se desenvolve solidariedade e cooperação
modelos teóricos que se debruçam sobre este (Norming). A última etapa deste modelo ocorre
tema: modelos de desenvolvimento lineares e quando a equipa consegue canalizar a sua
modelos não lineares. energia colectiva para o sucesso da mesma,
gerando-se uma sinergia colectiva que se tra-
Os modelos de progressão linear baseiam-se duz fisicamente em rendimento (Performing).
na premissa que o processo de desenvolvi-
mento do grupo se efectua com base na se- Na década de 1970 foi introduzida uma nova
quencialidade e na maturação, ou seja, na etapa a este modelo, denominada Adjourning,
ideia de que só após o encerramento de uma que consiste na separação ou reabilitação da
etapa é que se passa para a seguinte. equipa. Esta etapa pode representar o fim do
ciclo de vida da equipa ou um novo começo
Por sua vez, as premissas dos modelos não para a mesma, podendo existir algo para além
lineares assentam na ideia de que a mudança do “fechou e acabou”.
é disruptiva e acontece através de triggers,
ou gatilhos, que desencadeiam as transições Semelhantemente, os modelos não lineares de
radicais entre etapas. De certo modo, realçam desenvolvimento das equipas também foram
a ideia de que existem acontecimentos, enten- surgindo de forma avolumada na literatura.
da-se eventos dentro ou fora das equipas, que Um dos primeiros a surgir, na década de 1980,
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 22

são fulcrais para o seu funcionamento, que ac- foi o modelo contingencial de Poole. Este pode
tuam como gatilho, originando uma mudança ser enquadrado enquanto um híbrido entre os
de estádio dentro da mesma. Tipicamente modelos lineares e não lineares debruçando-se
nestes modelos as transições entre fases sobre factores contingenciais como o impacto
de desenvolvimento da equipa são indepen- da mudança, isto é, o efeito de interrupções
dentes de todos os membros estarem prepa- programadas ou rupturas que afectam os
rados para mudar. processos de ciclos ou loops, sustentando a
ocorrência de fases lineares caso não estejam
A informação basilar subjacente a este tema é presentes factores contingenciais.
Um dos modelos mais conhecidos na literatura Um primeiro nível mais local, em função dos
que sustenta a ideia do desenvolvimento não membros da equipa; um nível global composto
linear das equipas, é o modelo de Mid-Transi- pelas normas do grupo ou pelas relações entre
tion de Gersick (meados da década de 1980). os membros integrantes; e um nível contextual
Este modelo pressupõe que os grupos têm que inclui as tarefas, os prazos impostos, re-
pontos de desequilíbrio ou inércia que vão al- cursos entre outros.
ternando com breves momentos de mudança,
muitas vezes revolucionária, que são gerados Consequentemente, a dinâmica de desenvolvi-
pela consciencialização dos membros face ao mento do grupo exerce um impacto quer nos
tempo, ou seja, à sensibilidade perante o esgo- indivíduos quer nos contextos, originando um
tar do mesmo. Este modelo ajuda a entender processo de influência constante e mútua em
não só o funcionamento das equipas nos mais todas as direcções.
variados contextos, mas também quais os
gatilhos ou triggers que aceleram os proces- Este modelo é citado frequentemente devido à
sos, deixando claro que muitas vezes são os ajuda que proporciona em conceber o proces-
gatilhos de tempo ou metas pendentes, como so de regulação das equipas que em muitos
responsáveis por esta aceleração. Este mode- casos encontram a ordem no meio do caos, ou
lo destaca-se principalmente por se afastar da seja, as equipas conseguem autorregular-se
noção tradicional de que os grupos se desen- e organizar-se num meio altamente volátil e
volvem numa sequência de estádios. dinâmico, por via de um momento de claridade
partilhado pela equipa.
Ainda nesta corrente não linear, temos o mo-
delo TIP de McGrath no começo da década de Um exemplo esclarecedor de equipas com
1990. De um modo genérico este modelo sig- este funcionamento pode ser encontrado
nifica tempo, interacção e produção, defenden- no contexto desportivo ou dos eSports, que
do que as equipas existem para três funções funcionam num ambiente volátil, dinâmico e
distintas: desempenhar, gerar bem-estar e caótico com pouco tempo para parar e delimi-
apoio mútuo. Dentro destas funções, existem tar estratégias pausadamente, tendo de recor-
quatro modelos funcionais em torno dos quais rer a estratégias em termos grupais e até de
as equipas se organizam: início, resolução de regulação emocional elaboradas no momento
problemas, resolução de conflitos e execução. a fim de manter o desempenho aos níveis pre-
Este modelo sugere ainda que o processo dos tendidos.
grupos não é sequencial, mas multifuncional,
algo que é bastante útil para estruturar ideias Posto tudo isto, constata-se que cada perspec-
acerca do funcionamento das equipas que es- tiva debruça-se sobre diferentes aspectos do
tudamos. desenvolvimento de equipas, permitindo as-
sim uma evolução para a práctica a partir da
Um dos últimos modelos que surgiu na lite- mobilização dos modelos que melhor expli-
ratura é o modelo de CAS – Complex Adaptive cam a nossa realidade.
Systems – proposto por Morgan e aprofunda-
do por Arrow, McGrath e Berdahl. Este modelo BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Pág 23 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

refere que as equipas são sistemas comple- Arrow, H., McGrath, J. E., & Berdahl, J. L. (2000). Small
xos autogestores e autossuficientes, com ca- groups as complex systems: Formation, coordination, de-
pacidades para planear, iniciar e implementar velopment, and adaptation. Sage Publications.
ações visando encontrar padrões de trabalho Gersick, C. J. (1991). Revolutionary change theories: A
e modelos de eficácia. multilevel exploration of the punctuated equilibrium par-
adigm. Academy of management review, 16(1), 10-36.
Segundo este modelo, o desenvolvimento dos McGrath, J. E. (1991). Time, interaction, and perfor-
grupos é bidireccional e não linear, sendo mol- mance (TIP) A Theory of Groups. Small group research,
dado e limitado por três níveis de dinâmicas. 22(2), 147-174.
COMUNICAÇÃO
NAS EQUIPAS
A comunicação nas equipas é fundamental tivo país de residência), existe a necessidade
devido à importância que esta exerce na com- dos membros comunicarem de forma clara e
preensão das pessoas relativamente às ex- objectiva de modo a chegarem a um consenso
pectativas, suas e dos outros, permitindo-lhes e de se coordenarem para atingir a meta co-
assim relacionar-se e posteriormente trabalhar mum.
em equipa.
Assim sendo, um dos principais desafios da
Dentro deste capítulo serão abordados 4 as- gestão de equipas de alto rendimento, é as-
pectos principais que estão altamente inter- segurar que as comunicações síncronas e
ligados: (1) Comunicação interpessoal, ca- assíncronas sejam de igual modo eficazes.
racterizada por ser explícita e verbalizada; (2) De facto, equipas que estão situadas no mes-
Coordenação, traduzida no modo como os mo local geográfico tendem a privilegiar a co-
membros de uma equipa articulam os seus es- municação verbal directa, ou seja, conversas
forços para alcançarem um objectivo comum; presenciais entre os membros, enquanto que
(3) Sincronia interpessoal, uma forma de co- equipas assíncronas tendem a privilegiar co-
municação verbal onde o movimento e ações municação mediada pela tecnologia tais como
dos membros das equipas conferem pistas e-mail, chats, e ainda a utilização de aplicações
não verbais sobre a qualidade das interacções de videoconferência.
dos seus membros; (4) Conflito, que aborda os
principais tipos de conflitos. A comunicação presencial é, geralmente, mais
rica pois existem mais probabilidades de con-
tributos para as tomadas de decisões podendo
ainda levar a ideias mais criativas, no entanto
COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL este tipo de comunicação gera um maior con-
flito face à comunicação assíncrona, cuja tro-
Quando se pensa em comunicação interpes- ca de informação é mais estruturada, tornando
soal inserida numa lógica de gestão de equi- o processo de tomada de decisão mais agiliza-
pas de alto desempenho, proveniente da inves- do e permitindo chegar-se a um consenso com
tigação ou de intervenções no terreno, deve-se maior facilidade, porém esta comunicação
considerar o aspecto basilar desta comuni- acaba por estrangular a criatividade devido à
cação que está intimamente relacionado com sua estruturação inerente.
a sincronia dos timings em que esta comuni-
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 24

cação ocorre. Um aspecto importante da comunicação in-


terpessoal das equipas aborda a forma como
Por exemplo, em equipas que trabalham num a comunicação facilita o desenvolvimento de
espaço físico em comum (uma equipa médica noções claras sobre os papéis de cada um
a trabalhar em torno de uma mesa cirúrgica) num determinado projecto e no fluxo tempo-
ou em equipas que estão geograficamente dis- ral da equipa. No caso das equipas que se en-
persas (uma equipa de eSports que efectua os contram no mesmo espaço geográfico, estas
seus treinos com cada atleta no seu respec- têm uma maior facilidade em estabelecer esta
ideia partilhada referente aos papéis face às um determinado problema ou tarefa. Assim
equipas geograficamente dispersas. É preci- sendo, a coordenação explícita é fundamental
samente por este motivo que as equipas dis- para quando ocorrem imprevistos pois per-
persas normalmente estabelecem datas para mite aos membros trocarem informação de
reuniões presenciais, durante os momentos forma activa, conferindo um novo significado
críticos do projecto, de modo a permitir trocar à nova situação e conseguirem a posteriori de-
informação, clarificarem os papéis e ainda es- cidir a melhor forma de agir para lidar com a
tabelecerem laços afectivos ou interpessoais situação.
que não são tão passíveis de se desenvolver
com uma comunicação assíncrona. Em contraste, a coordenação implícita, não
obstante o facto de cumprir a mesma função
da coordenação explícita, carateriza-se pela
diminuição acentuada do número de verba-
COORDENAÇÃO DE TAREFA lizações efectuadas pelos membros das equi-
pas.
A coordenação de tarefa enquadra-se enquan-
to um mecanismo específico de comunicação Tipicamente, esta redução está associada a
interpessoal que ajuda a conceber a forma uma maior familiarização com as actividades
como os membros das equipas utilizam a co- rotineiras da equipa, levando a que os seus
municação para atingirem um objectivo co- membros disponham de um maior número de
mum. recursos para lidar com as situações adversas
e inesperadas com que se vão deparando.
Na literatura, este tema tem vindo a ser estuda-
do desde o início de 1990, sendo actualmente Este tipo de comportamento é bastante visível
consensual a existência de dois mecanismos numa vasta panóplia de contextos diferentes,
base de coordenação: coordenação implícita e desde equipas de operações de resgate du-
coordenação explícita. rante a fase de posicionamento para agir so-
bre uma possível ameaça, equipas de eSports
Os mecanismos de coordenação explícita profissionais que dispõem de comportamen-
ocorrem de modo privilegiado, por via da co- tos antecipatórios face às necessidades dos
municação oral ou escrita, onde os membros colegas, entre outros.
trocam informação de forma proactiva de
modo a elaborar um entendimento partilhado É observando estes comportamentos que se
sobre a situação em que actualmente se en- constata que as equipas estão habituadas,
contram ou para planear cenários futuros onde treinadas e automatizadas em determinados
terão de decidir e encontrar a melhor forma de processos. Assim, quando se chega ao pon-
agir de acordo com esses cenários. to de agir sobre um acontecimento, a neces-
sidade de verbalizar e planear oralmente os
Alguns exemplos de comportamentos de papéis, funções e posições dos membros da
coordenação explícita verbal podem ser en- equipa torna-se muito menos pertinente.
contrados em partidas de futebol onde o
treinador está a dar instruções específicas aos Outro factor contrastante com a coordenação
Pág 25 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

jogadores em campo. Outro exemplo é o caso explícita prende-se com a automatização dos
dos eSports, onde os 5 jogadores estão cons- comportamentos, isto é, quando os membros
tantemente a informar os seus colegas de da equipa estão de tal modo sincronizados a
equipa sobre o seu estado actual em jogo e os trabalhar em conjunto que conseguem ante-
movimentos dos adversários. cipar as necessidades do colega, preparando
assim a sua satisfação.
Outra função destes mecanismos prende-se
com garantir rotinas na forma de agir sobre Em termos do funcionamento da equipa isto
representará um aumento da eficiência e da a coordenação implícita, ficando-se pelos
eficácia dos processos, tais como os compor- primeiros mecanismos explícitos. Deste modo
tamentos, acções e tomadas de decisão da fica claro que quando isto ocorre, a equipa
equipa aquando a realização das tarefas. sofre perdas acentuadas no seu desempenho
face a uma situação adversa e que, ao invés
Com base na informação acima referida, tanto de comunicarem claramente sobre a mesma
a coordenação implícita como a explícita são e tentarem construir um novo plano de acção,
fulcrais para o desempenho das equipas. De mantêm o mesmo modus operandi o que re-
facto, ambos os mecanismos de coordenação sulta numa incapacidade de se adaptarem à
são complementares, fazendo parte integral situação e de atingir o objectivo.
do mesmo contínuo temporal dos processos
de coordenação.

Aliando à ideia dos modelos de causalidade


SINCRONIA INTERPESSOAL
I-M-O-I, quando as equipas começam a tra-
balhar em conjunto, tenham muita ou pouca
A sincronia interpessoal é um mecanismo
experiência, iniciam um mecanismo de coor-
não-verbal de comunicação, muito próximo da
denação explícita para se organizarem e tro-
coordenação implícita que se supõe ser, não
carem informação para definir os seus papéis.
obstante a falta de evidências suficientes para
Consoante a tarefa vai progredindo, a coorde-
o afirmar, fundamental para garantir a eficácia
nação explícita começa a dar lugar a meca-
da coordenação.
nismos de coordenação implícita, uma vez
que que os membros já têm os seus papéis
bem definidos, já não terão tanta necessidade Se traçássemos uma linha que vai desde as
de verbalizar. formas mais explícitas às mais implícitas de
comunicação, pode-se afirmar que a coorde-
Da informação recolhida proveniente de inves- nação explícita estaria num dos extremos e a
tigações e da práctica recolhida no terreno, em sincronia interpessoal no outro.
contextos tais como tripulações de bordo na
aviação ou controladores aéreos, esta indica Assim sendo, a sincronia interpessoal, próxi-
que a sequência de coordenação explícita e ma da ideia da mímica, é um mecanismo au-
implícita é, pois, fundamental para clarificar tomático da comunicação entre seres vivos.
papéis e reduzir a carga cognitiva a que os Esta consiste numa forma de emparelhamen-
membros da equipa estão sujeitos durante to dos movimentos físicos dos sujeitos que
situações mais carregadas de stress. se desenvolve com o decorrer do tempo. Por
exemplo: se nos sentarmos num local públi-
Olhando para o caso dos controladores aére- co e observarmos as passadas de pessoas a
os, quando estes se deparam com um elevado caminhar lado a lado, podemos constatar que
número de aviões a entrar no espaço aéreo, pessoas que possuam algum tipo de relação
necessitam de ter os recursos cognitivos dis- afectiva entre si frequentemente sincronizam
poníveis para poderem tomar decisões efica- as suas passadas sem se aperceberem, en-
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 26

zes num curtíssimo espaço de tempo, daí a quanto pessoas sem uma relação afectiva
magnitude da importância da coordenação apresentarão passadas dessincronizadas.
implícita.
Com base nos exemplos acima referidos, este
Não obstante os aspectos positivos destes efeito é explicado pela criação imediata de
mecanismos, existem ainda equipas que não uma ligação afectiva quando as pessoas sin-
conseguem efectuar esta transição entre os cronizam a forma como se movimentam, isto
mecanismos de coordenação explícita para é a sincronia interpessoal.
Este constructo é importante a nível motor membros, ou à divergência de ideias; por outro
pois quando os membros de uma equipa se lado, a convergência de ideias e um bom rela-
coordenam de modo mais explícito ou implíci- cionamento interpessoal estão positivamente
to, o facto de existir algum grau de sincronia associados à sincronização dos movimentos
interpessoal, dá-nos pistas não-verbais sobre interpessoais.
o grau de prontidão e familiaridade entre os
membros das equipas.

Estas pistas são automáticas, não existindo CONFLITO


uma consciencialização por parte dos mem-
bros das equipas de que estão a sincronizar Equipas de trabalho e, em especial destaque,
ou a dessincronizar os seus comportamentos. equipas de alto desempenho, são grupos
Assim sendo, é a utilização inconsciente dessa sociais e por isso mesmo estão sujeitas ao
sincronia, ou falta dela, que serve de pista para fenómeno universalmente conhecido como o
informar sobre a qualidade das interacções e conflito. De um modo geral o conflito é fruto
relações estabelecidas entre os membros da da existência de diferenças percebidas entre
equipa aquando da realização das suas tare- membros de uma equipa que geram, a posteri-
fas. ori, tensão ou mal-estar.

Do ponto de vista do treino e da formação Segundo a literatura, são identificados quatro


destas equipas, o grau de sincronia ou assin- grandes tipologias de conflitos: (1) conflitos de
cronia é importante para que um observador tarefas, relacionados com divergências sobre
externo à equipa consiga fazer inferências so- a forma de pensar acerca do problema e dos
bre a qualidade das relações dos seus mem- resultados a alcançar; (2) conflitos de relação
bros. Por exemplo, um treinador que observa que envolvem, essencialmente, diferenças
a sua equipa consegue perceber que alguns pessoais entre os membros, tais como valores
dos seus jogadores estão mais sincronizados ou crenças divergentes; (3) conflitos de esta-
com uns colegas e menos com outros, tanto tuto, que se referem a diferenças na percepção
na tomada de decisão como na forma como hierárquica ou na percepção de poder e esta-
interagem durante um jogo. Com base nesta tuto dentro do grupo; (4) conflitos de proces-
análise o treinador consegue perceber quem so, fruto de divergências na forma como o tra-
trabalha melhor e pior com quem e pensar em balho deverá ser executado, como por exem-
novas intervenções para resolver o problema. plo, a quem é que compete fazer o quê e em
que momentos do projecto devem ter uma
O último aspecto fulcral da sincronia interpes- maior ou menor participação.
soal é que esta fornece pistas sobre o grau de
ligação entre os membros da equipa. Quando A literatura vigente sobre como gerir os diver-
uma equipa tem um funcionamento harmonio- sos tipos de conflitos é vasta e sustenta que,
so, esta apresenta níveis superiores de ve- de um modo geral, o escalar do conflito arre-
locidade, conversação, e sincronização face cada consequências nefastas para o funcio-
a uma equipa que não tenha tanta harmonia namento das equipas, quer a nível do desem-
Pág 27 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

ou quando existem diversos conflitos interpes- penho verificado com base em métricas ob-
soais. jectivas, quer por indicadores afectivos, tais
como a satisfação com o trabalho de equipa,
Por exemplo, algo que se verifica na práctica que serão abordados num capítulo seguinte.
clínica ou nos processos de tomada de decisão
em grupo é o facto do grau de assincronia das Não obstante a posição da literatura face ao
interacções corporais estar positivamente conflito, esta também indica que existem for-
associado à emergência do conflito entre os mas de conflito desejáveis, nomeadamente
o conflito de tarefa. Este conflito é desejável tos constroem tanto o projecto como a forma
pois está relacionado com o desenvolvimento como o mesmo se vai realizar.
de ideias mais eficazes e positivas sobre o tra-
balho, contribuindo assim para a qualidade do Para além da diluição das diferenças entre os
processo de tomada de decisão e ainda para a membros, uma outra abordagem de resolução
percepção de envolvimento dos membros da de conflitos que não implica a geração de ou-
equipa de trabalho. tros, passa por ajudar os membros a encontra-
rem pontos de convergência, concordância e
Porém, quando este conflito é extremado, pode tolerância entre si.
provocar uma ruptura no funcionamento da
equipa e consequentemente atrasar os proces- O objectivo prende-se então nos membros de
sos de tomada de decisão. Por sua vez, e de uma equipa compreenderem que apresentam
acordo com a literatura, os conflitos de relação diferenças nos valores que partilham ou na
e de estatuto devem ser evitados sempre que valência dentro da estrutura hierárquica do
possível, devido ao seu efeito profundamente grupo, percepcionando essas mesmas dife-
nefasto no funcionamento das equipas, não renças, no entanto, como um aspecto positivo
existindo forma de se retirar qualquer aprovei- que vai beneficiar o funcionamento do grupo.
tamento deste conflito a favor do desempenho.
Um exemplo disto poderá ser enquadrado
Até recentemente, a literatura apresentava mo- numa equipa hospitalar, na qual constam mé-
dos concretos de lidar com cada tipo de con- dicos, enfermeiros e auxiliares de saúde.
flito, porém, concluiu-se que, por vezes, para Claramente existem diferenças de estatuto
resolver o conflito de relação, acabava-se por e poder dentro da organização, no entanto, a
potenciar o conflito de estatuto, ou ao resolver expertise, o historial de trabalho e a experiên-
conflitos de processo, potenciavam-se confli- cia de cada membro também podem vir a
tos de tarefa que superam o limiar desejável. desempenhar um papel igualmente prepon-
derante para tomar uma decisão sobre um
Nesta lógica, e para resolver qualquer um dos caso clínico, na medida em que o conflito re-
tipos de conflitos, sugere-se que o foco esteja sultante das diferenças hierárquicas possa ser
na atenuação das diferenças e ainda na ela- atenuado com o fortalecimento da evidência
boração de um sistema de crenças ou valores de que os diferentes historiais de trabalho têm
partilhados pela equipa que esteja bem sedi- um peso fulcral nos processos de tomada de
mentado na tolerância dessas mesmas dife- decisão.
renças.

Por exemplo, para atenuar um conflito de


relação fruto de diferenças culturais, uma
solução possível poderá passar por reduzir
a percepção que os membros da equipa têm BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
das tais diferenças culturais, passando a focar Entin, E. E., & Serfaty, D. (1999). Adaptive team coordina-
nos pontos de convergência entre as culturas tion. Human factors, 41(2), 312-325.
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 28

dos elementos. Marques-Quinteiro, P., Rico, R., Passos, A. M., & Curral, L.
(2019). There is light and there is darkness: On the tem-
Do mesmo modo, pode-se atenuar o conflito poral dynamics of cohesion, coordination, and perfor-
de tarefa ao delimitar um momento para se mance in business teams. Frontiers in psychology, 10.
realizar um debate aberto para trocar ideias
Rico, R., Gibson, C. B., Sánchez-Manzanares, M., & Clark,
que anteceda o começo dos processos de M. A. (2019). Building team effectiveness through adap-
trabalho em equipa ou durante o projecto em tation: Team knowledge and implicit and explicit coordi-
si, onde todos os elementos participam e jun- nation. Organizational Psychology Review, 9(2-3), 71-98.
LIDERANÇA
DEFINIÇÃO eficácia e o sucesso das organizações a que
pertencem.”
A liderança é um constructo fundamental em
todos os processos de equipa, sendo clara- Evidentemente, esta última definição repre-
mente um dos factores que distingue uma senta uma evolução das restantes, apresentan-
equipa de alto desempenho das restantes. do uma fusão de ideias que inclui a influência
Deste modo, o papel do líder é altamente re- do líder sobre os outros e a sua capacidade
levante. de os galvanizar ou conduzir à consecução de
certos objectivos, e ainda de os motivar e ha-
Nesta lógica, é importante, em primeiro lugar, bilitar. Assim sendo, a definição da GLOBE sa-
conseguir definir liderança. À semelhança de lienta a preocupação com o desenvolvimento
outras definições na literatura, a definição de dos restantes elementos da equipa, enquanto
liderança tem vindo a evoluir com o tempo e, apresenta o líder como o elemento que desen-
consoante os autores que a abordam, tem sido volve os restantes para que se tornem autóno-
objecto de alterações que nem sempre são mos e, numa próxima fase, futuros líderes.
consensuais. Seguem-se, pois, três definições
prementes da literatura.

Tannenbaum, em 1959, afirmou que “a lide- TEORIAS DA LIDERANÇA


rança não é mais do que a influência inter-
pessoal exercida numa situação e dirigida Tentando organizar as questões das teorias
por meio do processo de comunicação para sobre a liderança, torna-se mais fácil enca-
a consecução de objectivos específicos.” As- rá-las como um conjunto de teorias que
sim sendo, esta definição atribui uma maior formam uma “caixa de ferramentas” que nos
importância à orientação e condução dos ele- permitem utilizar a “ferramenta”, ou teoria,
mentos da equipa do que ao desenvolvimento mais adequada, consoante o contexto.
dos mesmos ou demais objectivos.
Dentro de uma perspectiva cronológica, serão
No ano seguinte, Terry apresentou uma seguidamente apresentadas quatro grandes
definição de liderança que rapidamente se tor- teorias clássicas a nível da liderança. Primei-
nou a definição mais clássica e actualmente ramente, a teoria dos traços, que faz alusões
a mais utilizada na literatura. O autor define li- às características de personalidade mais mar-
derança enquanto “a actividade de influenciar cantes que o líder possui, concebendo-o en-
as pessoas, fazendo-as empenhar-se volunta- quanto sujeito com capacidades inatas para
riamente em objectivos do grupo”. liderar um grupo.
Pág 29 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

A última definição surge em 1999, sendo re- Explicando de outro modo, esta teoria con-
vista posteriormente em 2005, autoria da cebe a liderança enquanto uma percepção as-
Global Leadership & Organizational Behavior sociada à competência de um líder e ao modo
Effectiveness (GLOBE) e que define a liderança como este se comporta no exercício da sua
como “uma competência de um sujeito ou de liderança. Como exemplo basta olhar para a
uma pessoa para influenciar, motivar e habili- percepção geral sobre as capacidades de lide-
tar os outros a contribuírem para aumentar a rança que Napoleão na altura do seu império,
ou em termos mais correntes as do 44º presi- literatura disponível não é tão robusta quando
dente dos E.U.A Barack Obama. comparada às teorias clássicas da liderança
e também devido às intervenções realizadas
Seguidamente, a teoria comportamental, de- enquanto técnicos no contexto se auxiliarem
fine-se por diversos estilos de liderança que principalmente com a teoria situacional acima
representam diferentes modos de agir com- referida, sendo a mais adaptável ao nível da in-
portamentais adoptados por parte do líder. tervenção práctica com as equipas.
Esta é então uma das teorias mais clássicas
sendo referenciada na literatura por via dos es- As teorias elaboradas após esta década ali-
tilos de liderança democráticos, autocráticos, cerçam-se em algumas partes da teoria si-
liberais ou permissivos (laissez-faire). Esta tuacional de liderança, entre elas, a liderança
teoria atribui um grande enfoque ao compor- transformacional, transacional, complexa, par-
tamento do líder e à forma como o seu estilo tilhada, espiritual, etc. Com estas abordagens,
de liderança se relaciona e afecta a eficácia do a caracterização do líder ou da liderança em si
processo de liderança. está dependente da visão do próprio líder.

Explorando um pouco os estilos de liderança


acima referidos: a liderança autocrática esta-
belece um estilo claramente focado no líder, TEORIA SITUACIONAL DE LIDERANÇA
sem grande espaço atribuído aos demais
membros da equipa para arguirem a liderança; Como referido anteriormente, esta teoria foi
já a liderança democrática apresenta um maior elaborada por Hersey e Blanchard e merece
equilíbrio entre o líder e os restantes elemen- um especial destaque devido ao facto de ser
tos, nomeadamente ao nível das decisões que a ferramenta com a qual se trabalha de modo
permite, por sua vez, gerar circuitos de comu- mais eficiente e mais ajustada às questões da
nicação mais fluídos; por último, a liderança liderança tanto com as equipas em si como
liberal assume um estilo permissivo onde os com os próprios líderes. Esta teoria encon-
subordinados assumem uma preponderância tra-se também alinhada com o modelo de de-
fruto da negligência proveniente do líder face senvolvimento das equipas, proposto por Tuk-
às suas funções. man.

Em 1986, Hersey e Blanchard desenvolveram Esta abordagem situacional à liderança per-


a teoria situacional da liderança, à qual será mite uma explicação do constructo que não o
dada uma maior importância neste capítulo. reduza a meras características inatas de um
Esta teoria situacional tem sido a mais pre- determinado sujeito ou ao seu estilo comuni-
mente em estudos e investigações dentro da cacional ou de liderança.
área. Na base desta teoria está a noção de que
o comportamento do líder deverá ser ajustado Assim sendo, esta visão abrangente parte do
em função de diferentes situações. Ou seja, o pressuposto que o líder se comporta tendo em
líder, consoante a equipa que está a coman- conta a situação em que se encontra, e com
dar, deverá actuar consoante as suas necessi- as necessidades que a equipa que lidera apre-
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 30

dades, em função das diversas situações com senta. De facto, esta teoria prevê que um líder
que se depara, e ainda mediante os desafios eficaz tem a capacidade de se ajustar a dife-
emergentes que vão surgindo naturalmente. rentes tipos de pessoas ou equipas em diver-
Nesta lógica o líder poderá assumir diferentes sas situações.
papéis com diferentes comportamentos core.
A presente teoria postula que as capacidades
Por fim, a partir dos anos 1980, foram surgin- do líder abrangem quatro etapas sequenciais:
do novas teorias sobre a liderança. Estas não a primeira indica que o líder deverá ter capaci-
serão aprofundadas em grande detalhe pois a dades directivas algo que, num contexto prác-
tico se traduz num líder receber um elemento são instrumentos capazes de avaliar e medir
novo com baixa autonomia e competência téc- os traços de personalidade do líder enquanto
nica e ter a capacidade de ensinar ao subordi- peça central de uma equipa.
nado como executar as suas funções até que
este último tenha a confiança e capacidade de Respectivamente às teorias do estilo de li-
as executar sozinho. derança, cujo enfoque reside naquilo que o
líder faz e no modo como se comporta, são
A segunda capacidade que o líder deverá ter recomendados instrumentos relacionados
é a de orientar o liderado quando este já tem com a avaliação de estilos de liderança, tais
algumas competências técnicas (coaching). como: Leadership Styles, inicialmente desen-
Assim sendo, o líder deverá ser capaz de ilus- volvido por Kurt Lewin e posteriormente por
trar as tarefas, explicar a sua importância, con- Likert em 1967, e ainda o Managerial Grid de-
tribuir com novas ideias, ensinar sempre que senvolvido por Blake e Mouton em 1975.
seja necessário e motivar o liderado a desem-
penhar as suas tarefas de acordo com aquilo Relativamente à teoria situacional da liderança,
que foi planeado a priori. recomenda-se o instrumento desenvolvido por
Tannenbaum e Schmidt em 1958, denominado
Numa terceira fase, o líder deverá ter a capaci- Leadership Continuum. Um outro instrumento
dade de apoiar os seus subordinados, assu- frequentemente utilizado, mas menos conhe-
mindo um papel de suporte que permite aos cido é o Least Preferred Coworker de Fiedler
liderados desenvolver confiança e as suas ha- em 1967.
bilidades continuamente. Contrastando com
as fases anteriores, espera-se que o líder seja Por fim, existem diversas formas de ava-
capaz de supervisionar os seus subordinados liar as novas teorias emergentes, no entanto
sem estar constantemente presente. recomenda-se um instrumento ao nível da li-
derança transformacional que se foca no
A última etapa postula que o líder deverá ter porquê e quem são os agentes da mudança,
a capacidade de delegar quando está perante denominado Multifactor Leadership Question-
liderados que apresentam elevadas com- naire de Bass em 1985. De um modo geral
petências técnicas ou competências ajusta- recomenda-se ainda o instrumento de Deni-
das às necessidades da tarefa que são acom- son elaborado em 1995 – Behavioral Comple-
panhadas por elevados níveis de empenho. xity Models – que ajuda a tratar as questões
Deste modo o líder assume o papel de gestor das teorias emergentes de um modo mais
da equipa, delegando o trabalho sem necessi- abrangente e mais eficaz na perspectiva da
dade de supervisão constante, visto que estes aplicação destes conhecimentos de um ponto
demonstram capacidades de autonomia e de vista práctico.
liberdade para desenvolver as tarefas, tomar
certas decisões e até propor algumas mu-
danças.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Avolio, B. J., Walumbwa, F. O., & Weber, T. J. (2009).
Pág 31 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

Leadership: Current theories, research, and future direc-


INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO tions. Annual review of psychology, 60, 421-449.

No que respeita à teoria do traço, cujo foco in- Derue, D. S., Nahrgang, J. D., Wellman, N. E. D., & Hum-
cide sobre o líder, quem ele é e como lidera de phrey, S. E. (2011). Trait and behavioral theories of lead-
ership: An integration and meta‐analytic test of their rel-
modo practicamente inacto, os instrumentos
ative validity. Personnel psychology, 64(1), 7-52.
utilizados para a avaliação são derivados do
modelo dos Big Five (Modelo Big Five, Model of Judge, T. A., & Piccolo, R. F. (2004). Transformational and
Personality). Assim sendo, o modelo Big Five transactional leadership: a meta-analytic test of their rel-
e todos os instrumentos derivados do mesmo ative validity. Journal of applied psychology, 89(5), 755.
AFECTOS
NAS EQUIPAS
Este capítulo vai abordar os demais aspectos Deste modo, o historial de trabalho dos mem-
relacionados com os afectos nas equipas, isto bros (e.g., atletas de futebol que já jogaram
é, dimensões que têm um papel fundamental no mesmo clube ou jogaram um contra o ou-
no funcionamento das equipas de alto desem- tro) poderá ajudar a desenvolver e fomentar a
penho, com principal enfoque em confiança, confiabilidade entre os mesmos. Simultanea-
coesão, regulação emocional e o contágio mente, os próprios membros desta equipa po-
emocional. dem aumentar a confiança que experienciam
entre si através da percepção de que a equipa
partilha e cultiva um conjunto de característi-
cas que tornam os membros mais confiáveis
AFECTOS NAS EQUIPAS aos olhos dos seus colegas (i.e., uma identifi-
cação com valores ou posições relativamente
Habitualmente, a literatura de trabalho em a um qualquer tópico poderá vir a facilitar o
equipa considera duas variáveis afectivas fun- processo de confiar no outro).
damentais: confiança e coesão. A confiança
é um sentimento relacionado com a disponi- Complementar à confiança, a coesão é com-
bilidade de cada membro da equipa para se ex- posta por três dimensões distintas: (1) a
por ou “fragilizar” perante outros membros da primeira remete para a coesão da tarefa, ou
equipa. A confiança afecta, directa ou indirecta- seja, o grau de união entre os membros da
mente, não só o funcionamento do indivíduo, equipa para a concretização de uma determi-
mas também o funcionamento da equipa en- nada tarefa, (e.g., em contextos desportivos,
quanto um todo. mesmo quando equipas profissionais estão a
perder um jogo estas continuam a esforçar-se
Dentro do contexto da confiança são identi- para dar a volta ao resultado, tentando explorar
ficados dois agentes principais necessários diversas alternativas para superarem a distân-
para que esta se manifeste: a pessoa que é cia entre a equipa que está em vantagem); (2)
confiável e a pessoa que vai confiar. Na litera- a segunda dimensão refere-se à coesão social,
tura existente, são feitas alusões à existência que se debruça sobre o grau de proximidade in-
de um traço de confiabilidade que é inferido, terpessoal dos membros da equipa, podendo
entenda-se deduzido, e que exerce uma deter- assim ser encarada enquanto um indicador ou
minada influência sobre a predisposição que uma medida da qualidade das relações dentro
cada um tem para confiar, em maior ou menor da equipa; (3) por fim a última dimensão, ainda
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 32

grau, em alguém. Para além disto, é de extrema que esta não seja mencionada tantas vezes na
importância ponderar alguns aspectos funda- literatura existente, consiste na forma como
mentais quando se pretende formar uma equi- membros de uma equipa se sentem atraídos
pa e promover o seu bom funcionamento, não pelo grupo em questão e o orgulho sentido re-
bastando apenas compor uma equipa com um lativamente à presença no mesmo (e.g., uma
historial de trabalho, mas também que os seus equipa composta por adeptos do mesmo clube
membros exprimam um certo grau de confia- desportivo, por partilharem a mesma paixão e
bilidade entre si. orgulho por apoiarem esse clube, senti-los-ão
também por extensão relativamente à equipa). REGUL AÇÃO EMOCIONAL
As junções destas três dimensões da coesão
originam o constructo geral de coesão com o A regulação emocional é, de um modo geral,
qual estamos familiarizados. o processo que nos ajuda a produzir determi-
nados resultados, especialmente quando esta-
A par da multidimensionalidade da coesão, é mos inseridos em equipas de alto rendimento
possível ter em consideração o papel que cada onde o desempenho colectivo e individual são
uma das dimensões acima referidas desem- essenciais. Isto deve-se principalmente ao fac-
penham isoladamente. Assim, uma equipa to de a regulação emocional ser um dos pro-
pode exibir uma coesão social relativamente cessos principais de controlo e de selecção
baixa sem afectar o desempenho na tarefa ou das emoções que são expressas em qualquer
o alcance de metas devido à elevada coesão momento das nossas vidas pessoais e profis-
de tarefa exibida pela mesma equipa. Neste sionais.
exemplo é possível constatar que mesmo com
uma baixa coesão social, os membros desta O princípio da reciprocidade de Bandura abor-
equipa dispõem de uma consciência parti- da questões como a influência recíproca entre
lhada elevada relativamente à importância do pensamentos e emoções e ajuda a definir an-
trabalho em equipa para o alcance dos objec- tecedentes e consequências, onde podemos
tivos, mesmo que não exista um historial alar- ter consequências a nível interpessoal, isto é,
gado com uma boa relação interpessoal. nas relações que desenvolvemos com os ou-
tros, e no foro intrapessoal, a nível das nossas
O inverso também é válido na medida em motivações, do nosso desempenho, da forma
que uma equipa pode trabalhar em conjunto como se pensa em determinado assunto, en-
durante períodos alargados de tempo devido tre outros.
a uma elevada coesão social originada pelo
seu historial relacional, mesmo no caso de se Esta secção aborda questões do foro emocio-
tomarem as melhores ou piores decisões ou nal, logo é importante transmitir um modelo
de atingir (ou não) os resultados esperados. que seja tangível e simples de compreender.
Deste modo será abordado um modelo que
A terceira dimensão anteriormente referida, ajudará a compreender a relação entre as
que alude ao orgulho sentido por pertencer a emoções e o desempenho.
dada equipa, é fundamental pois ajuda a me-
diar os efeitos negativos despoletados pelas O modelo é composto por dois vectores: um
oscilações constantes no desempenho da vector vertical que remete para os níveis de
equipa. Tal deve-se ao facto de que a pertença activação que variam entre alta ou baixa e um
à equipa é um aspecto tão positivo para a au- vector horizontal que age como representante
toestima do indivíduo que o fará querer man- da qualidade dessa activação oscilando entre
ter-se filiado à mesma. Assim, quando este uma valência positiva ou negativa.
orgulho é partilhado por todos os membros da
equipa, dá-se uma facilitação da proximidade Posto isto, estes dois vectores compõem qua-
entre os membros da equipa. tro quadrantes: o lado superior direito repre-
Pág 33 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

senta uma energia ou activação alta e positiva,


Resumindo, a confiança e a coesão são cons- já a parte superior esquerda representa uma
tructos basilares para o funcionamento de energia alta, mas negativa, o quadrante infe-
equipas de alto rendimento, pois conferem rior direito por sua vez representa uma energia
estabilidade às equipas, tornando-as mais fle- baixa, mas com uma valência positiva e por fim
xíveis e resilientes a situações imprevistas ou o quadrante inferior esquerdo representa uma
adversas. energia baixa e com uma valência negativa.
ALTA ACTIVAÇÃO
AN Medo AP
(ALTO-NEGATIVO) Ansioso Desafiado (ALTO-POSITIVO)
Inspirado
Raiva
Enérgico
Zangado
Vivo
Vingativo
Empenhado
Frustrado
Envolvido
Defensivo
NEGATIVO POSITIVO
(DESAGRADÁVEL) Deprimido Em Paz (AGRADÁVEL)
Triste Livre
Sem esperança Relaxado
Esgotado
BN Abertura
(BAIXO-NEGATIVO) Recuperação BP
Conforto/sonolento (BAIXO-POSITIVO)
“Deixa correr”
BAIXA ACTIVAÇÃO

Deste modo, com o modelo devidamente ex- Se, ao encaixar uma lógica centrada no de-
plicado torna-se fácil encaixar emoções como sempenho, nos focarmos nas competências
a alegria, o ódio, a depressão episódica e o de desempenho, como poderemos exercer
esgotamento, juntamente com os estados de uma regulação emocional adequada? Por via
relaxamento e a tranquilidade, dentro destes de três tópicos fulcrais para obter um estado
quadrantes. Para além disso, este ajuda-nos a de desempenho ideal: produtividade máxima;
perceber como nos pode auxiliar na regulação satisfação máxima; e saúde máxima.
emocional que aplicamos em todos os aspec-
tos das nossas vidas. A produtividade máxima prende-se com pe-
quenos rituais antes de um momento-chave de
No que respeita ao desempenho, existem duas produtividade. Um exemplo disto pode ser re-
principais dimensões em constante actuação: latado por diversos jogadores profissionais de
a necessidade de nos sentirmos capazes de futebol americano que cultivam certos rituais
produzir juntamente com a manutenção da de preparação a fim de obterem um resultado
nossa condição física, mental e emocional favorável, tais como um determinado tipo de
para que possamos ser produtivos no trabalho pequeno-almoço, um ritual de processos (e.g.
e nas nossas vidas pessoais; e a segunda di- onde o jogador mete o leite antes dos cereais),
mensão que se prende no acto de balançar ou ou ouvir uma certa lista de músicas especí-
regular estas necessidades físicas, emocio- ficas enquanto come o pequeno-almoço, ou
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 34

nais e mentais que muitas das vezes são con- ainda uma rotina específica de alongamentos
sequências do aumento das exigências que especiais para o dia.
nos são impostas pelo mundo e na capacidade
que cada um tem para lidar com as mesmas. Estes rituais ou rotinas ajudam os sujeitos a
É precisamente neste ciclo que as nossas ca- focarem-se nas tarefas que vão realizar num
pacidades de regulação e de recuperação face futuro próximo, no entanto nem todas as pes-
às exigências desempenham um papel funda- soas o fazem da mesma forma, uns optam por
mental. fazer uma listagem rigorosa dos seus rituais
e seguem-nos religiosamente, outros optam ta, sendo então ferramentas importantíssimas
por uma abordagem mais livre, uma repre- para quem pretende auxiliar líderes de equipas
sentação mental onde se pensa em todos os a regularem melhor as suas emoções, ajudan-
aspectos do ritual ou rotina até chegar a todos do-os a adoptar discursos mais positivos, con-
os pontos fundamentais. trolando melhor os seus aspectos emocionais.

A satisfação máxima debruça-se com a criação É comum encontrarmos alguém que tem diver-
da emoção certa para o momento de produtivi- sos aspectos importantes com que se preocu-
dade. Para se chegar lá é necessário um feed- pa, no entanto muitas vezes esse alguém irá
back prévio e ainda treinar não só a postura tentar focar-se em todos os aspectos impor-
como a nossa presença corporal e expressão tantes ao mesmo tempo, algo que o leva a
facial. Para este treino é então fundamental perder a capacidade de os distinguir entre si e
manter um pensamento positivo, disciplinado quais os mais prementes para o momento, i.e.
e focado, algo que pode ser alcançado através os aspectos que conseguem controlar melhor.
da identificação de um pensamento adequado
para cada factor de stress e ter a capacidade Uma forma de reconquistar esse foco e de
de o encarar com controlo, na medida em que ajudarmos outros a regularem-se emocional-
se passa a focar nos aspectos da tarefa que mente, é ajudar a focar precisamente os as-
temos controlo sobre para que a possamos pectos sobre os quais têm maior margem de
resolver. controlo de entre todos os aspectos impor-
tantes. Isto é um processo fundamental para
Em contextos de desporto, é frequente o uso se trabalhar com líderes de equipas para que
da expressão “foca-te na tarefa” precisamente estes possam futuramente trabalhar com
porque esta alude aos aspectos que o jogador os seus colaboradores, cabendo-nos a nós
consegue ter uma medida de controlo sobre, psicólogos trabalhar estes aspectos dentro da
ao invés de estar a pensar em diversos outros equipa para além de trabalhar com os líderes.
problemas sobre os quais não tem controlo
sobre e que apenas aumentam os seus níveis Um outro campo da regulação emocional está
de stress. relacionado com as competências da vida,
sendo que são incluídos aqui dois grandes as-
Ainda dentro da criação da emoção certa pectos: a gestão da energia e o treino da recu-
existe o processo de simulação, que se pren- peração numa lógica de ritmos oscilantes e da
de com a fabricação de situações de elevado oscilação.
stress durante uma ronda de treino com ob-
jectivo de aplicar as técnicas de pensamento Ao ter em mente o modelo referido acima, a
e posturas adequadas à situação, de modo zona do quadrante superior direito está tipica-
a posteriormente (no momento de produti- mente associada ao flow e aos demais esta-
vidade real) conseguir superar e desenvolver dos de desempenho ideal, a zona inferior direi-
competências de actuação mais completas. ta remete para a recuperação mental enquanto
que a zona inferior esquerda remete para a re-
A saúde máxima aborda principalmente cuperação forçada.
Pág 35 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

questões referentes ao treino mental ligado ao


mundo do trabalho. Isto consiste na mudança O que isto implica é que temos de gerir e re-
de crenças próprias por via de um discurso in- gular as nossas emoções devidamente para
terno positivo, a práctica de pensamentos po- que possamos gerir eficazmente os aspectos
sitivos, controlar pensamentos negativos e a do nosso dia-a-dia. Logo é necessário criar
dessensibilização dos medos. Estas prácticas condições e analisar bem os pensamentos
fazem parte dos aspectos fundamentais da re- que geraram emoções mais apropriadas para
gulação emocional que não são tidos em con- uma determinada circunstância, enquanto si-
multaneamente encontramos mecanismos fulcral no funcionamento de grupos sociais e
que nos façam entrar no quadrante da recu- mais concretamente nas equipas. Não obs-
peração total. tante a literatura das últimas três décadas se
focar mais na racionalização dos processos
No entanto estas implicações apenas re- de decisão e do comportamento das equi-
presentam metade do processo, uma vez que pas de trabalho, o foco tem vindo a abranger
esta gestão se rege pela oscilação entre os o papel das emoções no trabalho em equipa.
momentos de recuperação e de energização, O motivo subjacente ao estudo das emoções
em função dos níveis de stress ou das metas surge em consequência do reconhecimento
a atingir. do papel que estas exercerem na forma como
as equipas pensam, decidem e agem sobre os
Assim, esta oscilação representa a ligação en- diversos problemas que surgem no seu meio.
tre a recuperação e a estimulação necessária
para atingir os objectivos. Ao oscilar com De um modo geral o processo de contágio emo-
sucesso, evitam-se estados de burnout e de es- cional surge de um modo simples: pode surgir
gotamento nas pessoas inseridas em equipas. de modo mais implícito ou explícito e surge
A literatura refere bons hábitos alimentares e de um ou dois membros da equipa que expe-
rotinas saudáveis de sono, emprego do humor rienciam uma certa emoção e que, por efeito
e da música como algumas das formas de re- automático de sincronização (e.g., a mímica
cuperar o equilíbrio físico, emocional e mental. da postura corporal ou expressões faciais),
Para além disto, outras formas criativas de re- leva a que os diferentes membros da equipa
cuperar incluem: olhar para o nada, passear o comecem a experienciá-la também, passando
cão, beber algo numa esplanada, passear com assim a ser expressada numa emoção colec-
alguém, ler um livro, jogar um jogo lúdico, entre tiva. Por exemplo, uma equipa profissional de
outros. Em última instância, cada um tem as eSports está num jogo oficial e dois dos mem-
suas formas criativas de recuperar, o impor- bros trocam uma piada entre eles, o facto de
tante a retirar desta secção é perceber se as ambos começarem a rir e os outros membros
pessoas que acompanhamos estão atentas se aperceberem da situação, desencadeia riso
aos fenómenos da recuperação do mesmo colectivo.
modo que estão atentos aos fenómenos da
energização, averiguando simultaneamente As emoções também podem ser contagiadas
se compreendem a importância da regulação através de um mecanismo explícito onde, por
emocional enquanto uma das competências exemplo, um ou dois membros da equipa que
de vida essenciais para uma boa gestão emo- passaram por uma determinada experiência,
cional. associam essas emoções passadas a um
acontecimento actual devido às semelhanças
Resumidamente, ao manter todos estes as- que possuem. Estas emoções têm geralmente
pectos, é possível criar e desenvolver com- uma activação elevada, por norma fazendo
petências de desempenho e competências de com que sejam vividas pela equipa.
vida por via da regulação emocional. São es-
tas as ferramentas com que trabalhamos para Tanto a activação implícita como explícita das
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 36

ajudar as pessoas dentro de equipas a produ- emoções das equipas e o consequente contá-
zirem mais, a sentirem-se melhor e a man- gio emocional tornam-se catalisadores da for-
terem estados de desempenho, satisfação e ma como as equipas lidam com as diversas
saúde ideais. situações que ocorrem naturalmente ou cata-
lisam a forma como realizam o seu trabalho.
No entanto o efeito directo no desempenho ou
CONTÁGIO EMOCIONAL em outros indicadores de eficácia ainda não é
claro.
Sabe-se que as emoções exercem um papel
Sabe-se, no entanto, que as emoções de valên-
cia negativa têm tendência a causar tensão
pelo que estão associadas ao conflito, algo
que afecta a qualidade dos processos de coor-
denação e da comunicação entre os membros,
o que consequentemente afecta o desempe-
nho negativamente.

Por outro lado, emoções positivas são facili-


tadoras do funcionamento do grupo e estão
ligadas ao bom funcionamento do clima do
grupo, facilitando deste modo a coordenação
e a comunicação entre os membros. No entan-
to níveis demasiado elevados de positivismo
dentro do grupo poderão levar à diminuição
do conflito de tarefa, algo fulcral para o desen-
volvimento de melhores ideias.

Este excesso de positivismo resulta num efeito


nefasto na qualidade da produtividade do tra-
balho em equipa. Um exemplo deste fenómeno
pode ser visto numa equipa profissional de
eSports que está prestes a ingressar numa
competição mundial, sentindo-se altamente
confiante com o desfecho da mesma por não
ter perdido um único jogo na competição pas-
sada, fazendo com que a equipa subestime a
sua concorrência e jogue de modo mais relaxa-
do durante a competição actual. Os membros
não questionam as decisões tomadas pela
equipa, as estratégias desenvolvidas pela mes-
ma são mais simplificadas, mais dispersas
e não têm em conta cenários onde a equipa
possa eventualmente estar em desvantagem,
fazendo com que esta esteja menos prepara-
da para o surgimento de situações adversas.
Pág 37 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
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affect on social integration and task performance. Jour-
MEMÓRIA
PARTILHADA
A memória partilhada, de um modo geral, Ora, onde os modelos mentais partilhados se
refere-se ao conjunto de conhecimentos e referem ao que os membros da equipa sabem
aprendizagens que os membros de uma equi- sobre um determinado assunto, os sistemas
pa adquirem durante o treino conjunto e que de memória transitiva representam o conhe-
são partilhados por todos os membros. A cimento que os membros têm sobre quem é o
memória partilhada também se desenvolve especialista (expert) num determinado tópico.
após a realização de tarefas ou projectos con-
juntos, quando existem momentos de reflexão Logicamente não é possível armazenar a tota-
e aprendizagem colectivos. lidade do conhecimento ad aeternum, logo, os
sistemas de memória transitiva apresentam
Existe, actualmente, uma panóplia de construc- uma função ecológica pois actuam como
tos relacionados com o tópico de memória uma espécie de repositório adicional de infor-
partilhada, no entanto existem três conceitos mação.
que são particularmente fundamentais para
um bom entendimento da matéria em questão. Ambos os modelos de memória apresentados
se enquadram no constructo da memória de
O primeiro conceito de base envolve os mo- grupo de longo prazo, visto serem estruturas
delos mentais partilhados, isto é, aquilo que de memória estáveis que se desenvolvem com
todos os membros da equipa sabem sobre o decorrer do tempo por via da experiência,
um assunto. Este conhecimento permite que processos de aprendizagem (i.e., com recurso
os membros se coordenem de modo mais ao feedback) e da formação em si.
implícito garantindo simultaneamente uma
redução nos conflitos de papel, ou seja, reduz Estes modelos são complementados, na
os conflitos sobre que sujeito deverá executar práctica profissional, com um mecanismo de
determinada função ou conflitos sobre de que memória de grupo que mais se assemelha
forma deverão ser realizadas as tarefas. à memória de trabalho ou memória de curto
prazo, i.e., pelos modelos situacionais.
Um exemplo clássico deste modelo mental
partilhado torna-se visível quando se frequen- Os modelos situacionais consistem na visão
ta um curso para uma actividade profissional. partilhada que os membros da equipa têm,
No caso de um psicólogo, para que possa ini- num determinado momento, sobre a tarefa
ciar a sua actividade, tem de primeiro frequen- que estão a desempenhar. Por exemplo, numa
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 38

tar um curso, no qual os três primeiros anos equipa de bombeiros que foi accionada para
são iguais para todos os alunos, e os dois úl- combater um fogo, o modelo situacional apli-
timos são anos de especialização. Logo, os ca-se à visão partilhada que os bombeiros
três anos iniciais do curso garantem o modelo têm sobre a forma e trajecto que o fogo está a
mental partilhado, enquanto que os anos de tomar e como se devem posicionar de modo a
especialização levam a outro tipo de memória, combatê-lo.
denominado sistema de memória transitiva e
que traduz a distribuição de conhecimento es- Deste modo, as junções destes três últimos
pecializado pelos membros da equipa. tipos de memória conferem às equipas a infor-
mação que necessitam para realizar as suas
funções. Do que se sabe através da investi-
gação e da práctica, as equipas mais eficazes
são precisamente as que utilizam eficazmente
o sistema de memória transitiva, sabendo cla-
ramente quem está encarregue de que funções
e ainda, um conhecimento basilar partilhado
que é consensual e correcto.

Saber o que é correcto é também fundamental,


visto que uma equipa que tenha um conheci-
mento partilhado errado ou que não tenha um
consenso sobre o conhecimento, não só po-
tencia baixas acentuadas na eficácia da mes-
ma, como também aumenta a probabilidade
de conflito, incitando um declive na qualidade
dos processos de tomada de decisão.

Por outro lado, os modelos situacionais, por


estarem relacionados com o momento em si,
são importantes pois permitem à equipa com-
parar aquilo que julga saber sobre a situação
com aquilo que num determinado momento se
sabe sobre a situação, facilitando assim uma
actualização do modelo mental. Este proces-
so de comparação e actualização ajuda a as-
segurar adequação da estratégia utilizada pela
equipa à situação em que se encontram.

BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
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910.
SUCESSÃO EM
EQUIPAS DE ALTO
DESEMPENHO
Este capítulo aborda a sucessão em equipas Dados provenientes da Casey Foundation em
de alto desempenho e está dividido em qua- 2016, indicam que entre 61 a 78% dos líderes
tro subtemas: (1) apresentação do conceito ou elementos-chave que actualmente integram
da sucessão em equipas, e a sua relevância equipas de alto desempenho, têm intenções
na actualidade; (2) vantagens do planeamento de abandonar os seus postos nos próximos 5
de sucessão e consequências do não planea- anos, ou seja, cerca de dois terços dos líderes
mento; (3) apresentação de algumas dinâmi- estão conscientes de que irão sair das suas
cas de aplicação práctica do conceito, por respectivas equipas.
meio da desconstrução das resistências dos
líderes ou elementos-chave; (4) apresentação Outros dados da mesma fonte indicam ainda
de um processo genérico para o planeamento que entre 15 e 35% destes líderes, tencionam
de sucessão. abandonar as suas equipas nos próximos dois
anos, contudo, apenas 10% dos líderes abor-
dados destas estatísticas têm de facto um
PL ANEAMENTO DE SUCESSÃO EM plano de sucessão assegurado. Este número
EQUIPAS revela que os líderes e demais envolvidos em
cargos de chefia não encaram a necessidade
O planeamento de sucessão em equipas pre- de sucessão enquanto uma necessidade ver-
coniza-se por ser um processo sistemático dadeira.
que visa a identificação, atracção e desenvolvi-
mento de novos talentos e futuros líderes que Porém, 38% destes líderes confirmam que têm
irão substituir os actuais. Logicamente, esta um plano de sucessão informal, mas que este
definição sofreu alterações ao longo do tem- é conhecido apenas pelo próprio líder ou pelas
po, sendo que o mais importante a reter é que pessoas mais próximas de si, algo que pode
o processo em si visa o assegurar da continui- contribuir para um sentimento de ausência do
dade da equipa. líder por parte da equipa.

No começo do século XX, Henri Fayol consi- O mais chocante nestas estatísticas é o fac-
derou a continuidade e estabilidade das equi- to de que da totalidade dos líderes abordados,
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 40

pas como sendo da responsabilidade dos lí- 52% não têm qualquer tipo de plano, formal ou
deres e das chefias. Assim sendo, esta temáti- informal. Esta ausência de planeamento pode
ca tem vindo a ser desenvolvida ao longo sair bastante cara às organizações. O Cana-
dos últimos 100 anos. Nos últimos 30 anos dian Imperial Bank of Commerce sugere que
este tema tem vindo a gerar muita discussão a cada 5 anos mais de 1.2 triliões de dólares
com aplicações e implicações prácticas, não “trocam de mãos”. Estes dados expressam a
apenas ao nível de equipas inseridas no meio dimensão dos custos indirectos e directos as-
empresarial, mas também em equipas de di- sociados à importância do planeamento de
versos níveis e contextos. sucessão.
A questão que se levanta com esta infor- sa pela prevenção da ansiedade nos colabora-
mação é, até que ponto estes líderes terão a dores. Para além disto, um plano de sucessão
sua sucessão preparada e assegurada? serve não só para dar continuidade à equipa,
mas também para identificar os talentos ou
elementos que poderão vir a tornar-se peças
VANTAGENS DO PL ANEAMENTO DE fundamentais no futuro da equipa, asseguran-
SUCESSÃO do que esta tem o talento necessário para con-
tinuar a produzir com a mesma qualidade.
Existe uma vasta panóplia de custos associa-
dos ao não planeamento de uma sucessão, O planeamento de sucessão permite garantir
alguns dos quais são mais pertinentes para que o conhecimento crítico se mantém dentro
psicólogos no terreno no apoio da preparação da equipa, sendo passado de modo saudável e
e elaboração do planeamento de sucessão. formal entre os demais elementos da equipa,
com especial destaque para aqueles que irão
Assim sendo, uma das questões mais perti- assumir os cargos de transição.
nentes associadas ao não planeamento é a
falta de clareza sobre a direcção que a equipa Como referido anteriormente, se o não pla-
tomará. Suponha o caso de um líder, ou ele- neamento afecta adversamente a reputação,
mento-chave, de uma equipa com alguns anos imagem e credibilidade da equipa, a existência
de historial de trabalho e que, por qualquer mo- de um planeamento efectivo e formal mantém
tivo, decide abandonar a mesma. É claro que as facetas sociais da equipa face aos seus
este problema conduz a uma falta de clareza stakeholders.
e de direcção na equipa, que por sua vez, ge-
rará alguma ansiedade ou inquietação, levan-
do a quedas acentuadas nos níveis de moti-
vação e satisfação da mesma, culminando em RESISTÊNCIAS À CRIAÇÃO DE UM
quebras na produtividade e na qualidade das PL ANO DE SUCESSÃO
tarefas desempenhadas pela equipa.
Como foi referido anteriormente, cerca de
Existem ainda outros custos associados ao 90% dos líderes abordados nas estatísticas
não planeamento da sucessão, nomeada- da Casey Foundation não possuem um plano
mente: atrasos na conclusão de projectos ou de sucessão formal. Existem justificações na
tarefas; perda de conhecimento crítico; e ain- literatura capazes de explicar estes números.
da uma diminuição da capacidade de resposta
e sentido de urgência dos membros da equi- Segue-se um conjunto de dimensões que cri-
pa. É claro que a conjugação destes factores am atritos no que respeitam à criação de pla-
acaba por afectar adversamente a reputação, nos de sucessão no contexto das equipas,
imagem e credibilidade não só da equipa, mas como por exemplo: inércia; confidencialidade;
de toda a organização. bloqueios emocionais; perda efectiva de con-
trolo; falta de alternativas de actividade; e con-
Contrastando com os custos de não planear trolo da decisão.
Pág 41 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

uma sucessão, existem vantagens em elabo-


rar um plano formal de sucessão. Espera-se No que diz respeito à dimensão da inércia, é fre-
que o plano seja transmitido aos demais mem- quente encontrar líderes ou elementos-chave
bros da equipa de modo a que todos estejam de equipas que, devido a um optimismo exa-
alinhados com as substituições delimitadas cerbado, acreditam ser capazes de trabalhar
no plano, quando essa necessidade existir. por muitos anos, pensando que estão sempre
ligados às suas equipas, e potenciando uma
Ora, uma das principais vantagens de um pla- ausência do sentido de urgência em pensar
neamento de sucessão bem desenhado pas- eventualmente em ser substituído.
A segunda dimensão prende-se com a confi- elemento vantajoso na perspectiva de saída
dencialidade. Este é um dos aspectos mais nalguns momentos da equipa, possibilitando
críticos e também um dos que gera mais re- assim, o planeamento de sucessão mais efec-
sistência face ao planeamento de sucessão tivo.
estando relacionado com os elementos-chave
ou líderes que possuem, em determinados Porém, a falta de alternativas de actividades
momentos, informações privilegiadas sobre a faz com que os líderes canalizem toda a sua
empresa, clientes ou sobre o funcionamento energia e foco na equipa, deixando pouco es-
da equipa. Frequentemente, estes indivíduos paço para a entrada de novos elementos ou
não tendem a partilhar esta informação com para a substituição de elementos presentes no
os sucessores nem com os elementos de con- seio da equipa.
tingência que actuam no caso da ausência
dos próprios líderes. A última dimensão aborda o controlo da de-
cisão, sendo que expressa uma abordagem
Assim sendo, é fundamental que haja uma par- “hands on” dos líderes destas equipas, consi-
tilha de informação contínua, de modo a que derando mais fácil e satisfatório tomar todas
as questões da confidencialidade não criem as decisões sem a necessidade de transferir
impedimentos no fluxo de informação entre os essa capacidade para os sucessores ou de-
actuais líderes e futuros sucessores. mais elementos da equipa.

A terceira dimensão aborda os bloqueios emo- Relativamente ao planeamento da sucessão,


cionais. Estes traduzem-se na dificuldade que não basta ser-se cuidadoso no processo de
os actuais líderes demonstram em tomar de- planeamento propriamente dito, mas também
cisões relativas ao envolvimento dos suces- na forma como o plano é apresentado no seio
sores futuros, visto que, muitas vezes, estão das equipas, quer face aos próprios custos e
perante contextos de equipas relacionados ao benefícios que o planeamento envolve, quer
nível familiar, onde não é fácil para o actual face às resistências (muitas delas pessoais)
líder escolher um filho em lugar de outro sujeito que surgem muitas das vezes nos membros
potencialmente mais competente e justificar a da equipa.
escolha perante a família e demais stakehol-
ders. Esta indecisão na escolha de um suces- Quando correctamente executado, o planea-
sor gera bloqueios na criação de um plano de mento da sucessão pode fomentar, nos actu-
sucessão e no processo de transferência de ais líderes ou elementos-chave da equipa, a
informação e conhecimento para os restantes. percepção de existência de uma base de apoio
que permite trabalhar de forma práctica e apli-
A quarta dimensão remete para a perda efec- cada junto destas populações, mitigando algu-
tiva do controlo. Isto verifica-se quando os lí- mas necessidades fundamentais.
deres procuram evitar situações que afectem
adversamente o controlo que detêm sobre a Assim, o planeamento de sucessão abrange a
equipa. De facto, alguns líderes ao assumirem atracção, identificação e desenvolvimento de
um papel de relevância na equipa, conside- talentos que visam assegurar a continuidade
ram que a equipa é sua e ainda que o contro- da equipa em diversos cargos ou funções. As
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 42

lo assumido seja real ou fictício, acabam por noções da identificação e atracção são funda-
introduzir resistências ao planeamento da sua mentais, pois não se referem ao recrutamen-
sucessão. to externo destes talentos, visto que frequen-
temente existem elementos em funções dis-
A quinta dimensão remete para a falta de alter- tintas que têm as competências necessárias
nativas de actividade. Fruto de líderes que de- para assegurar a continuidade dos que estão
ram grande parte da sua vida à construção da de saída.
própria equipa, atribuindo pouco tempo para
outras actividades ou interesses traduzindo-se De facto, a atracção interna passa por uma
na ausência de hobbies. Os hobbies seriam um compreensão dos talentos que a equipa tem
disponíveis para dar uma resposta à função Seguidamente, um planeamento de sucessão
em vias de transição. Assim, o planeamento mais estratégico, definido enquanto strategic
de sucessão ajuda a desenvolver uma pool de successful planning. Este incide sobre o de-
futuros líderes ou elementos-chave na equipa senvolvimento contínuo de talentos ligados
que garantam a continuidade da equipa com aos objectivos estratégicos da organização, e
eficácia e qualidade. está dependente de um alinhamento claro com
aquelas que são as direcções e objectivos da
Um dos conteúdos mais prementes do planea- equipa.
mento de sucessão é a capacidade de ajustar
e desenvolver os potenciais sucessores da Um dos seus maiores privilégios para a
forma mais adequada às suas caraterísticas equipa reside na ampliação da capacidade
enquanto sujeitos, sendo mesmo factual para de liderança geral tanto na organização como
as equipas. na equipa, fortalecendo o chamado banco de
suplentes. Assim sendo, são dadas respostas
Esta paridade entre as necessidades da equi- às necessidades de atracção e manutenção
pa e as características individuais de cada fu- de talentos, assegurando a continuidade de
turo sucessor ou talento é fulcral no processo funções e tarefas necessárias a desenvolver
de planeamento de sucessão. Adicionalmente, na equipa.
ao começar um planeamento efectivo, cen-
tram-se os recursos da equipa, desde funções Por último, o clássico planeamento de
mais seniores até às mais juniores, no desen- sucessão encontrado na literatura que diz res-
volvimento destes talentos de modo a que peito ao planeamento de sucessão preparado
exista um maior retorno do investimento. com um espaçamento temporal, tipicamente
entre um a quatro anos antes da efectivação
Concluindo, planear a sucessão é potenciar a da saída.
disponibilidade de um número de talentos da
equipa para assumir posições de destaque, Este plano está relacionado com a preparação
sejam estas posições-chave ou de liderança. dos próprios líderes ou dos elementos-chave
da equipa na preparação dos seus suces-
sores. Um dos seus maiores benefícios reside
TIPOLOGIAS DE PL ANEAMENTO DE em fortalecer a equipa em áreas críticas an-
SUCESSÃO tes da transição, através da gestão da equipa,
liderança ou até do alinhamento e direcção da
Das variadas tipologias presentes na literatura equipa, oferecendo algumas garantias de que
referentes ao planeamento de sucessão, esta a transição será executada de modo fluído e
secção aborda os três tipos que conseguem natural.
atribuir um maior número de respostas às de-
mais situações que as equipas enfrentam. Este planeamento é também o mais estudado
e o mais premente na literatura pois implica
Em primeiro lugar está a sucessão básica. um certo tempo de preparação a priori que per-
Este é um plano de contingência ao nível da mite desenvolver e identificar atempadamente
sucessão ou um emergency backup planning, os líderes no sentido de efectuar uma tran-
Pág 43 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

que deveria estar disponível em todas as equi- sição suave da informação entre os actuais e
pas visto que permite que as mesmas con- os sucessores.
sigam apresentar respostas face ao surgi-
mento de situações adversas e inesperadas, Relativamente à sucessão base, ou seja,
nomeadamente, ausências por doença, morte emergency backup planning, esta pressupõe
de familiares, etc. Este planeamento é funda- que a equipa compreenda quais as principais
mental para assegurar a continuidade e bom funções do elemento-chave em falta, de modo
funcionamento da equipa num primeiro mo- a que seja capaz de dar uma resposta atempa-
mento. da e ajustada às funções do mesmo. Um as-
pecto fundamental deste tipo de planeamento preensiva da cultura e das forças que a guiam.
passa pela disponibilidade dos membros da Estas forças remetem para os líderes e ele-
equipa para assumirem as funções e tarefas, mentos-chave que representam o fio condutor
sendo capazes de assegurarem a tarefa X, Y de toda a troca de informação e articulação en-
ou Z, devido ao facto de serem eles próprios tre os demais membros da equipa, sendo fun-
especialistas nessas tarefas ou por trans- damental conceber de que forma estas forças
mitirem essas informações pela equipa. dirigem a equipa e o ponto de articulação com
a cultura da equipa em si.
Deste modo, existe uma garantia de que todos
estão aptos para, numa emergência, fazer uma Um outro tópico fundamental que vai ao en-
transição para a função necessária. Porém, é contro do emergency backup planning, aju-
importantíssimo desenvolver os demais pro- da à compreensão das principais funções
cedimentos, conceitos e protocolos de modo a e relações que os líderes têm com os seus
compor uma resposta integrada em emergên- pares. Para além de assegurar a continui-
cias de liderança de sucessão. dade das funções, é necessário assegurar a
forma como estas relações são partilhadas
Por sua vez, isto poderá implicar definir e es- e a forma como este conhecimento crítico se
crever alguma documentação sobre quais as poderá perder com um planeamento erróneo
tarefas elaboradas, quem as exerce, quem de sucessão.
deverá ser o substituo e como se pode dar
respostas às ausências imprevistas. Con- Um último tema fundamental aborda uma
forme este plano de resposta integrado em perspectiva estratégica e contingencial que
emergências de liderança ou de sucessão, é passa por desenvolver um plano de atracção,
fundamental que as equipas tenham os seus recrutamento e desenvolvimento da liderança.
planos documentados e as respectivas políti- Assim sendo, é necessário ter o plano bem
cas de sucessão em vigor. delimitado no que respeita a identificação
e atracção contínua do talento, juntamente
Estes planos são, tipicamente, actualizados com o desenvolvimento de futuros elemen-
anualmente, no entanto o ideal será uma actu- tos-chave no seio das equipas.
alização sempre que necessário ou sempre
que alguma das situações experimentadas Existe ainda um tema comum a todos os ti-
não seja resolvida da melhor forma. Após pos de planeamento de sucessão que passa
uma documentação clara do sucedido, é im- pela necessidade constante da actualização
portante divulgar e comunicar o plano para a do plano vigente de sucessão. Idealmente,
equipa em geral. esta actualização será executada anualmente,
ou em casos onde o turnover (taxa de rotati-
Os outros tipos de planeamento de sucessão vidade) é um factor premente, de seis em seis
apresentados neste capítulo relacionam-se meses.
com um planeamento mais estratégico e ali-
nhado com as directrizes ou direcções da equi- Por último, apresenta-se um plano mais clás-
pa ou organização. O chamado strategic suc- sico em termos da literatura referente ao pla-
cessful planning, está, frequentemente, inte- neamento de sucessão. Este plano de partida
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 44

grado no planeamento estratégico em vigor na programada exige a definição de um cronogra-


equipa, na medida em que um elemento ajuda ma objectivo de saída de um elemento-chave
a consolidar tal estratégia, visto que é bastante ou do líder em questão. É claro que este
difícil possuir uma estratégia sem garantir que plano não pode ser executado sem a ajuda do
existe uma sucessão sempre que necessário. próprio elemento que será substituído, sendo
também necessária uma articulação com este
Para tal, é necessário avaliar a equipa e a indivíduo da decisão em torno de quando o
situação presente, alinhando a mesma com a mesmo anuncia, publicamente, a sua saída e
direcção estratégica e com uma visão com- quais as ações prioritárias a tomar antes de tal
acontecimento. aconteça de modo fluído, natural e organizado.

Em termos de exemplo, ao nível das relações


dentro ou fora das equipas, nomeadamente as PROCESSO GENÉRICO PARA O PL A-
relações com possíveis clientes, é necessário NEAMENTO DE SUCESSÃO (P-GPS)
estabelecer uma ordem de prioridades relati-
vamente às ações tomadas antes da partida. Existem diversos modelos que podem ser úteis
numa intervenção em contexto real, entre os
Um outro fundamento deste tipo de plane- quais salientam-se o Rothwell Model (2005), o
amento remete para a articulação com os U.S. Office of Personnel Management Model
restantes elementos-chave. De facto, neste (n.d.) ou o Sibson Succession Management
exemplo o elemento que está a planear a sua Model (n.d.). Ainda que existam algumas dife-
saída poderá fazê-lo por inúmeros motivos, renças, intrinsecamente todos estes modelos
logo é necessário que os outros líderes ou partilham uma abordagem comum ao planea-
demais elementos-chave da equipa apoiem mento de sucessão. Deste modo, e conside-
e facilitem este egresso, articulando com os rando os contributos dos modelos enunciados,
restantes membros da equipa. podemos assumir a existência de um proces-
so genérico para o planeamento de sucessão
Uma das ferramentas é a criação da figura de (P-GPS). Este processo contempla 6 etapas
um conselho de transição. Este é um conse- numa perspectiva cíclica de interligação e de
lho que envolve os decision makers ou os opi- continuidade: (I) identificar posições chave/
nion makers dentro da equipa, sendo que não críticas, através da análise de competências e
se referem apenas aos actuais líderes ou pes- requisitos futuros (alinhado com a estratégia
soas em posições destacadas, mas também da equipa ou da organização); (II) identificar
a outros membros da equipa. Esta estratégia e mapear lacunas (i.e., necessidades reais de
deverá ser aplicada de modo apropriado, pois, sucessão); (III) identificar e avaliar sucessores,
caso o planeamento de sucessão seja aplica- através do potencial e do desempenho; (IV) de-
do de modo demasiado formal e claro, não há senvolver estratégias de suporte à sucessão;
necessidade desse input por parte dos deci- (V) implementar o plano de sucessão; (VI)
sion e opinion makers. monitorizar, acompanhar e avaliar a eficácia do
plano de sucessão implementado. Em seguida
Aconselha-se aos líderes, ou elementos-chave, estas 6 etapas serão apresentadas em maior
que estão de saída, juntamente com os detalhe.
restantes membros da equipa, a “abraçarem
a viagem de transição”, permitindo que esta

I. IDENTIFICAR
POSIÇÕES CHAVE
VI. MONITORIZAR,
ACOMPANHAR E II. IDENTIFICAR E
AVALIAR A EFICÁCIA MAPEAR LACUNAS
Pág 45 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

DO PLANO DE SUCESSÃO
IMPLEMENTADO

III. IDENTIFICAR E
V. IMPLEMENTAR O AVALIAR SUCESSORES
PLANO DE SUCESSÃO
IV. DESENVOLVER
ESTRATÉGIAS DE
SUPORTE À SUCESSÃO
Figura 1. Processo genérico para o planeamento de sucessão (P-GPS).
I. IDENTIFICAR POSIÇÕES CH AVE mento de estratégias de suporte ao plano de
sucessão. Estas estratégias devem estar ali-
A primeira etapa do P-GPS diz respeito à iden- nhadas com as prácticas de recursos humanos
tificação de posições chave e críticas para o em vigor na equipa/organização (e.g., gestão
funcionamento eficaz da equipa ou da orga- do desempenho, compensação e benefícios,
nização. Deste modo, devem ser desenvol- recrutamento e retenção, formação). As es-
vidos esforços na análise de competências tratégias desenvolvidas deverão permitir uma
e requisitos futuros alinhados com a visão e efectiva implementação do plano de sucessão,
direcção da equipa/organização no médio-lon- recorrendo a programas de atracção e recruta-
go prazo. Assim, torna-se fundamental estabe- mento de talentos (internos e externos), defi-
lecer pontes entre o planeamento de sucessão nindo estratégias de aprendizagem e de trans-
e os valores da equipa, promovendo a articu- ferência de conhecimento, como é o caso da
lação entre o plano de sucessão e as necessi- formação formal e informal, do coaching, men-
dades dos elementos chave. toring ou shadowing.

II. IDENTIFICAR E MAPEAR L ACUNAS V. IMPLEMENTAR O PL ANO E AS ES-


TRATÉGIAS DE SUCESSÃO
Nesta etapa, o principal foco está na iden-
tificação e mapeamento de necessidades A quinta etapa do processo foca-se na imple-
reais de sucessão a curto, médio e longo pra- mentação do delineado e estabelecido na eta-
zo. Torna-se, assim, importante identificar, pa imediatamente anterior (etapa IV). Nesta
reconhecer e mapear questões reais de con- fase deverá ser garantida a implementação
tinuidade. Nesta fase, a atenção dada à iden- das estratégias de suporte à sucessão, deven-
tificação de competências essenciais e princi- do ainda ser assegurada a comunicação for-
pais requisitos técnicos devem ser mantidos mal do planeamento de sucessão, por forma
como suporte a uma correcta identificação de a que esteja acessível a toda a equipa. Ainda
possíveis lacunas. nesta etapa, devem ser determinados e esta-
belecidos os indicadores de sucesso da imple-
mentação do plano de sucessão.
III. IDENTIFICAR E AVALIAR SUCES-
SORES
A terceira etapa do processo diz respeito à VI. MONITORIZ AR, ACOMPANH AR E
identificação de talentos com as competên- AVALIAR A EFICÁCIA DO PL ANO DE
cias necessárias para diferentes funções e/ SUCESSÃO IMPLEMENTADO
ou papéis no seio da equipa/organização
(esta identificação deve ser feita desde o A sexta etapa diz respeito à monitorização e
início da carreira, ou seja, desde o momento de acompanhamento de todo o planeamento de
entrada do colaborador na equipa). Para tal, é sucessão, desde a identificação de posições
necessário avaliar as competências da “pool” críticas ao bom funcionamento da equipa/or-
actual de talentos, recorrendo a instrumen- ganização à implementação formal do plano
III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III PÁG 46

tos de avaliação de potencial e desempenho. de sucessão. Nesta etapa, torna-se especial-


A identificação de possíveis sucessores deve mente importante a obtenção de feedback
considerar, de igual modo, potenciais fontes dos líderes e dos elementos a serem sucedi-
externas de talento. dos, acerca do potencial e/ou desempenho de
talentos identificados como possíveis suces-
sores. A avaliação da implementação do plano
IV. DESENVOLVER ESTRATÉGIAS DE de sucessão deve considerar, não apenas,
o feedback dos líderes e dos elementos em
SUPORTE À SUCESSÃO
vias de serem sucedidos, mas também dos
A quarta etapa relaciona-se com o desenvolvi- restantes colaboradores e outros stakehol-
ders. Os inputs obtidos nesta fase de avaliação
podem ser úteis para a melhoria contínua do
plano de sucessão na equipa.

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Pág 47 III EQUIPAS DE ALTO DESEMPENHO III

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EFICÁCIA DE EQUIPAS
DE ALTO DESEMPENHO
A literatura sobre trabalho em equipa sugere texto das empresas familiares estará, de cer-
a existência de quatro grandes indicadores de to modo, salvaguardada, pois a questão da
eficácia nas equipas de trabalho: (1) a viabili- sucessão do acompanhamento contínuo e da
dade da equipa; (2) o potencial da equipa; (3) preparação de futuros líderes confere algumas
a satisfação da equipa; e por último (4) o de- garantias da viabilidade da equipa em si.
sempenho.
A potência da equipa assume-se como outro
A viabilidade consiste na crença que os mem- indicador subjectivo da eficácia e refere-se
bros da equipa partilham acerca da capaci- à crença que se tem acerca das competên-
dade da equipa para continuar a trabalhar em cias para continuar a trabalhar em conjunto.
conjunto, em novos projectos. A viabilidade Existem alguns modelos que apontam para
também pode ser encarada como a motivação a potência enquanto um indicador subjectivo
para continuar a trabalhar com os mesmos da “margem de manobra” para uma melhoria
membros, no futuro. contínua dos membros da equipa.

Por exemplo, no contexto desportivo é fácil de- O indicador da satisfação é de especial im-
terminar, no fim do ano, quando os elementos portância, sendo um indicador fundamental
que compõem uma determinada equipa perce- que permite realizar intervenções mais robus-
cionam que é viável manter o “11 principal” na tas. A satisfação relaciona-se com a per-
próxima época. O conflito experienciado pela cepção de controlo sobre a tarefa, sobre a par-
equipa, a dada altura do seu projecto, apre- ticipação e sobre a influência exercida durante
senta algumas repercussões a nível da estru- o processo. De um modo genérico, a satis-
tura da mesma, e aqui a viabilidade é particu- fação reme-te para o sentimento de realização
larmente importante pois ajuda a perceber se pessoal.
o conflito teve um impacto na crença que os
membros da equipa têm acerca da sua capaci- Relativamente ao último indicador, este pode
dade de permanecerem juntos enquanto equi- ser medido tanto por alguém externo à equipa
pa, ou se, o gestor/treinador tem de considerar ou pela própria, podendo avaliar o desempe-
reestruturá-la. nho com indicadores claramente definidos e
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objectivos, ou de forma mais subjetiva com


Este modelo de viabilidade também tem indicadores que avaliam as perceções dos
relevância nas equipas em empresas de cariz membros da equipa quanto ao desempenho
familiar, pois pode ser a chave para a ma- colectivo.
nutenção da equipa de alto desempenho que
é a família. No entanto, existe um factor que No caso concreto de situações em que o de-
remete para a variabilidade dos indicadores sempenho é formalmente avaliado, é impor-
em função dos contextos onde as equipas tante salvaguardar a percepção de justiça da
operam. Assim sendo, a viabilidade do con- equipa quanto à avaliação que é feita, pois é
necessário avaliar o contexto em que esta age,
existindo contextos nos quais o controlo que a
equipa detém sobre os acontecimentos é mui-
to reduzido. Por exemplo, o grau de controlo
que se detém num teatro de operações para
combater um incêndio é imensamente dife-
rente, quando comparado ao que uma
equipa de engenheiros de software tem quan-
do está a desenvolver um produto. Neste caso
é necessário fazer uma gestão entre indica-
dores objectivos que estão associados ao
desempenho – nomeadamente a produtivi-
dade, volume de vendas, índices de satisfação
do cliente externo ou interno – e dos indica-
dores subjectivos – entre eles, escalas de de-
sempenho, eficácia colectiva – autoavaliados
pela equipa e eventualmente avaliados pelo
supervisor.

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BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
Baard, S. K., Rench, T. A., & Kozlowski, S. W. (2014). Per-
formance adaptation: A theoretical integration and re-
view. Journal of Management, 40(1), 48-99.

Kozlowski, S. W., & Ilgen, D. R. (2006). Enhancing the


effectiveness of work groups and teams. Psychological
Science in the Public Interest, 7(3), 77-124.
BIO
GRA
FIAS
PEDRO L. ALMEIDA acompanhar a selecção portuguesa de triatlo.
É desde 2006, formador assíduo da Federação
Nascido em Lisboa em Dezembro de 1966, Portuguesa de Futebol nos cursos de Treina-
é doutorado em Psicologia (UNED-Madrid, dores UEFA A e UEFA PRO.
2009), Mestre em Psicologia do Desporto (Uni-
versidade do Minho, 1998) e Licenciado em No contexto empresarial, é partner de uma
Psicologia Social e das Organizações (ISPA, empresa na área do desenvolvimento de re-
1990). cursos humanos. Ao longo da sua carreira
desenvolveu actividade como formador nas
É, desde 1995, professor no ISPA - Instituto Uni- áreas comportamentais e/ou como coach,
versitário. Aqui desenvolve a sua actividade de com empresas de grande dimensão nacional
docência e investigação nas áreas do treino de e multinacionais. Pontualmente tem desen-
liderança, desenvolvimento de equipas, coach- volvido actividade em outros contextos de per-
ing, psicologia do desporto e da performance, formance, nomeadamente com actores profis-
sendo autor de diversas publicações e/ou co- sionais, músicos, chefes de cozinha, políticos,
municações nesses domínios. Em vários mo- pilotos de aviões comerciais e médicos (cirur-
mentos tem estado incluído em equipas de giões).
gestão de middle e top management do ISPA.
É membro efectivo da Ordem dos Psicólogos
É psicólogo de treinadores e atletas. Nesta Portugueses (OPP), com as especialidades
área colaborou ao longo de 25 anos com o SL avançadas em Psicologia do Desporto e
Benfica, onde fundou o departamento de Psi- Coaching Psicológico.
cologia em Outubro de 1994. Desde esse mo-
mento até Outubro de 2019, colaborou em 7
épocas desportivas com a primeira equipa do
futebol profissional (2001-04; 2007-09; 2017- DUARTE PIMENTEL
19), tendo coordenado o departamento de psi-
cologia do clube até 2018. Após a experiência Formado em Psicologia Social e das Organi-
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no SL Benfica, o percurso no futebol prosse- zações pelo ISPA – Instituto Universitário e


gue como consultor internacional de treina- doutorado em Ciências Económicas e Empre-
dores e atletas. Adicionalmente é/foi coach sariais, especialidade de Gestão, pela Facul-
de atletas de alto rendimento que actuam em dade de Economia e Gestão da Universidade
campeonactos mundiais (surf, ténis, golf, au- dos Açores. Director Executivo do TERINOV
tomobilismo, motociclismo, vela, tiro, badmin- – Parque de Ciência e Tecnologia, Professor
gton e triatlo). Em 2012 esteve presente como Auxiliar no ISPA – Instituto Universitário e in-
psicólogo nos Jogos Olímpicos de Londres, a vestigador integrado no William James Center
for Research da mesma instituição. Colabora
enquanto consultor externo com diversas em-
presas portuguesas nas áreas da gestão e de-
senvolvimento de talento.

PEDRO MARQUES-QUINTEIRO
Mestre em Psicologia dos Recursos Humanos,
do Trabalho e das Organizações pela Univer-
sidade de Lisboa e doutorado em Gestão e
Desenvolvimento de Recursos Humanos pelo
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, é
Professor Auxiliar no ISPA - Instituto Universi-
tário e Investigador no Centro de Investigação
William James. A sua investigação foca-se
nos processos de adaptação nas equipas
que trabalham em ambientes extremos (e.g.
Bombeiros; Antártica) e está envolvido na co-
ordenação de projectos de investigação apoia-
dos pelo Programa Polar Português (PROPO-
LAR) e a Agência Espacial Europeia (ESA) Em
junção com as actividades de investigador,
desenvolve actividades de consultoria na área
do desenvolvimento e implementação de pro-
gramas de formação, auto-liderança e na ava-
liação do desempenho.

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