Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Artigo de Revisão
Biologia Molecular dos Receptores Farmacológicos e seus
Sistemas Efetores de Interesse em Anestesiologia *
Wilson Andrade Carvalho 1; Rosemary Duarte Sales Carvalho 2;
Valdir Cavalcanti Medrado, TSA 3; Pedro Thadeu Galvão Vianna, TSA 4
Carvalho WA, Carvalho RDS, Medrado VC, Vianna PTG - Molecular Biology of the Pharmacological Receptors
and their Effectors Systems of Interest in Anesthesiology
conhecimento da biologia molecular dos re- calizadas na membrana das células. Durante
O ceptores é imprescindível para que pos-
samos entender melhor o mecanismo de ação
esta última década foi realizado acentuado pro-
gresso no entendimento do mecanismo molecu-
dos diversos neurotransmissores e drogas en- lar dos efeitos celulares de diversas drogas de
volvidos na modulação central e periférica da interesse em anestesiologia, incluindo os
nocicepção, bem como os aspectos moleculares opióides, bloqueadores neuromusculares, ben-
e celulares da anestesia. Um número cada vez zodiazepínicos e seus antagonistas, os agonis-
maior de drogas utilizadas pelos anestesiologis- tas e antagonistas autonômicos etc.
tas durante a anestesia, no período pré e pós- A comunicação entre as células é fun-
operatório e nas clínicas de tratamento de dor damental na regulação de processos metabóli-
aguda e crônica, exerce seus efeitos farma- cos, controle de crescimento e diferenciação
cológicos através da interação com receptores celulares e integração fisiológica dos organis-
celulares específicos, geralmente proteínas lo- mos vivos. Esta interessante intercomunicação
é realizada por intermédio de moléculas denomi-
* Estudo realizado na Escola de Medicina e Saúde Pública e na nadas sinalizadoras, ligantes ou agonistas, re-
Universidade Federal da Bahia (UFBa), BA
1 Professor Adjunto de Farmacologia e Toxicologia da Universi-
presentadas por hormônios, neurotransmissores
dade Federal da Bahia e da Escola de Medicina e Saúde Pública. e outros autacóides, fatores de crescimento e,
Médico Anestesiologista da Maternidade Climério de Oliveira da
UFBa e doutorando em Anestesiologia do Curso de Pós-
eventualmente, drogas administradas por vias
Graduação em Anestesiologia da Faculdade de Medicina da exógenas. Estas se ligam à proteínas específi-
UNESP - Botucatu, SP cas, situadas geralmente na superfície das célu-
2 Professor Auxiliar de Ensino de Farmacologia da Escola de
Medicina e Saúde Pública e da Faculdade de Farmácia de UFBa, las-alvo que são denominadas de receptor. O
Salvador, BA complexo ligante-receptor, uma vez esta-
3 Professor Adjunto do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Medicina da UFBa e Chefe do CET/SBA do Hospital São Rafael, belecido, poderá então, ativar ou inativar os
Salvador, BA sistemas efetores dos receptores, os quais,
4 Professor Titular de Anestesiologia da Faculdade de Medicina da
UNESP, Botucatu, SP através de vários passos metabólicos, irão ini-
ciar a transdução de respostas específicas den-
Correspondência para Wilson Andrade Carvalho tro da célula, desencadeando, resposta celular
Av. Augusto Lopes Pontes 641 Ap 301 - Costa Azul característica.
41750-170 Salvador - BA Os receptores da superfície celular
usam uma variedade de mecanismos de sinali-
Apresentado em 02 de maio de 1996
zação de membrana para transdução da men-
Aceito para publicação em 26 de agosto de 1996
sagem carreada pelo agonista para o interior da
1997, Sociedade Brasileira de Anestesiologia célula. Esses mecanismos, no caso dos siste-
mas neuronais, são representados por alteração aminoácidos de uma pequena extensão, possi-
na voltagem transmembrana e como con- bilitando a dedução da seqüência do ARNm cor-
seqüência em excitabilidade neuronal. respondente. Assim pode ser sintetizada uma
Comumente estes mecanismos são referidos sonda de oligonucleotídeo capaz de revelar a
como sinalização de transmembrana ou extensão completa da seqüência de ADN. Os
transdução do sinal1. métodos de clonagem de genes nos quais uma
Os sistemas efetores dos receptores sonda de oligonucleotídeos é usada para es-
incluem principalmente, enzimas (adenilciclase, tudar a seqüência de ADN, têm revelado a estru-
guanilciclase, tirosina cinase e fosfolipases A 2 e tura de diversos receptores.
C), canais iônicos e transcrição gênica. Pode-se também clonar diretamente o
ADN codificador do receptor evitando-se o
laborioso processo inicial de purificação da pro-
teína receptora. Isto requer o uso de um sistema
Estrutura e Configuração dos Receptores de expressão capaz de traduzir o ARN men-
sageiro em proteína funcional. O oócito de sapo
Uma das primeiras tentativas de isola- tem sido convenientemente usado com este ob-
mento e caracterização dos receptores foi o uso jetivo 2,3.
de marcação dos receptores com um ligante Diversas outras técnicas, incluindo as
radioativo. Com esta técnica foi possível isolar e imunológicas que usam anticorpos antipep-
purificar o receptor colinérgico nicotínico e pos- tídeos, foram capazes de revelar a natureza
teriormente outros receptores. estrutural dos receptores situados na membrana
O recente desenvolvimento das técni- celular. Estes receptores são de natureza
cas de biologia molecular, de ADN recombi- protéica, apresentando-se sob a forma de
nante, da clonagem de genes e da imunologia, cadeias polipeptídicas, com certa uniformidade
possibilitou um melhor entendimento da estru- na configuração, disposição ou domínios carac-
tura, configuração e funções dos receptores. terísticos, na extensão da membrana, consti-
A biologia molecular baseia-se no fato tuindo verdadeiras famílias de receptores. Uma
de que toda proteína produzida no organismo, das configurações mais freqüente é aquela re-
seja ela uma enzima, um elemento estrutural ou presentada pelo dobramento do polipeptídeo em
um receptor transmembrana, encontra-se codifi- sete alças ou domínios, ou segmentos de ami-
cado no ADN. A seqüência de nucleotídio pre- noácidos, com as regiões hidrofóbicas em forma
sente no ADN que codifica uma proteína é de α-hélice transmembrana, assumindo no inte-
chamada de gene. Desde quando o ADN encon- rior da membrana um aspecto serpentiforme.
tra-se no núcleo da célula e os blocos para Cada domínio transmembrana do tipo heptaheli-
construção da proteína (aminoácidos) estão reu- coidal consiste de 20 a 30 aminoácidos
nidos no citoplasma, uma molécula inter- hidrofóbicos. Os domínios transmembrana en-
mediária é necessária para transmitir contram-se interligados por três alças hidrofíli-
informação do núcleo para o citoplasma. O ARN cas intracelulares. A fosforilação do receptor
mensageiro constitui a molécula intermediária. A ocorre normalmente em sua parte citoplas-
informação, uma vez transcrita do ADN para o mática. Além disso, as cadeias polipeptídicas
ARN mensageiro, será então levada ao ARN dos receptores apresentam um grupo terminal
ribossômico e ARN de transferência nos ribos- amínico extracelular e um carboxílico intracelu-
somos celulares, onde as proteínas serão pro- lar. As extremidades amínicas extracelulares
duzidas. possuem resíduos de açúcar acoplados a ami-
Uma vez isolada e purificada a proteína noácidos específicos (glicosilação) e eventual-
receptora é possível analisar a seqüência de mente podem também interagir com um ligante
G1 α2-adrenérgico, DA2 muscarínico µ δ, Adenil ciclase, fosfolípase A2, Redução de AMPc liberação de
K, opióide, adenosina, serotinina 1a, canais de K+ eicosanóide, hiperpolarização
angiotensina,
endotelina-1 trombina, GABAb,soma-
tostatina
Gk Muscarínico atrial Canais de K+ Hiperpolarização
Ga Muscarínico (M1), α1 - adrenérgico Fosfolípase Cβ isoenzima Aumento IP3, DAG, Ca2+
Golf Olfatório Adenil ciclase Aumento de AMPc (olfato)
Gt Fótons GMP ciclico Redução do GMPc (visão)
2+
Go Ainda sem definição Fosfolípase C, canais de Ca Aumento de IP3, DAG, Ca2+
redução da entrada de Ca2+
As proteínas G são: Gs, estimulação; GI, inibição; Gk, regulação de potássio; Gq, regulação da fosfolípase, olfatória; G, transdução; Go, outras.
Abreviações - DA1 e DA2, Dopamina, 1 e 2; H1 e H2, histamina 1 e 2; ACTH, hormônio adrenocorticotrópico, LH, hormônio luteinizante; FSH,
hormônio folículo estimulante; TSH, hormônio tireóideo estimulante; VIP, peptídeo vasoativo intestinal; CRH, hormônio liberador de corticotropina;
GHRH, hormônio liberador do hormônio do crescimento; GnRH, hormônio liberador de gonadotropina; TRH, hormônio liberador de tireotropina;
GABA, ácido γ-aminobutírico; AMPc, adenosina 3’5’- monofosfato cíclico; GMPc, Guanosina 3’5’monofosfato cíclico: IP3, trifosfato de inositol; DAG,
1, 2 diacilglicerol.
nal iônico). O efetor geralmente é uma enzima até a ativação do efetor, pode ser denominada
capaz de converter um precursor inativo em um de ciclo da proteína G. Inicialmente a proteína G
“segundo mensageiro” ativo, o componente final é encontrada no seu estado de repouso for-
do sistema. O segundo mensageiro será então mando um trímero α, β, γ, com o GDP ocupando
capaz de ativar uma cascata de enzimas ou o local da subunidade alfa. A interação do li-
condicionar ao fluxo transmembrana de diversos gante, ou agonista, com o receptor da membrana
íons. Tais enzimas, por sua vez, promoverão promove uma alteração conformacional na
elevação na fosforilação de proteínas e con- molécula protéica do receptor. Essa alteração
seqüentemente uma resposta celular, como por provavelmente envolve o domínio citoplas-
exemplo, a secreção de um hormônio ou neuro- mático, permitindo sua interação com a proteína
transmissor, liberação de glicose, contração G, e fazendo com que o receptor adquira alta
muscular etc 5,16,17. afinidade pelo trímero α, β, γ. A associação do
Diferentes receptores transmembrana receptor com as subunidades α, β, γ da proteína
constituem uma grande família, ou super G causa uma dissociação do GDP ligado e sua
família de receptores, acoplados a proteína G, substituição pelo GTP intracelular, que por sua
destacando-se entre eles os receptores vez promove a dissociação da subunidade alfa
opióides, colinérgicos muscarínicos, adrenér- do complexo βγ. O α-GTP constitui então a forma
gicos, serotoninérgicos, dopaminérgicos, da ativa da proteína G.
endotelina, natriurético atrial, da colecistoci- Uma vez ativada a proteína G encontra-
nina, etc (Tabela I). se livre para se difundir na membrana e encon-
trar o próximo elemento do ciclo, uma proteína
ESTRUTURA MOLECULAR E efetora. Usualmente, este efetor será uma
FISIOLOGIA DAS PROTEÍNAS G enzima intracelular (como por exemplo a adenil-
ciclase, fosfolipase C) ou um canal iônico na
As proteínas G são heterotrímeros, ou membrana celular. Este encontro é capaz de
seja, compostas de três subunidades estrutural- regular o efetor (como por exemplo ativando ou
mente distintas de polipeptídios denominadas α, inibindo uma enzima efetora, ou abrindo ou
β, γ. Foram denominadas de proteína G devido fechando um canal iônico), promovendo assim
à sua interação com os nucleotídios guanílicos uma alteração na concentração de um segundo
GDP (guanosina difosfato) e GTP (guanosina mensageiro intracelular ou alterando o potencial
trifosfato). No estado inativo o GDP encontra-se da membrana celular. O passo seguinte do pro-
ligado e, quando a proteína G é ativada, o GDP cesso envolve a hidrólise do GTP em GDP
é substituído pelo GTP. Os nucleotídios guaníni- através da atividade GTPásica da subunidade
cos ligam-se à subunidade alfa que possui ativi- alfa. A proteína G permanece ativada até o mo-
dade enzimática, catalisando a conversão de mento da hidrólise do terminal fosfato do GTP
GTP em GDP. As subunidades beta e gama que retorna a GDP. O α-GDP resultante disso-
apresentam boa homologia entre as diferentes cia-se do efetor e reassocia-se com o complexo
proteínas G, enquanto a subunidade alfa se dife- βγ, completando o ciclo. Portanto, quando desa-
rencia bastante possibilitando a distinção das tivada, ou seja com o GDP agora na posição
proteínas G através de suas subunidades alfa. inicial, a proteína G poderá interagir com outro
As subunidades beta e gama são bastante complexo ligante-receptor e recomeçar um novo
hidrofóbicas e formam um complexo beta-gama ciclo (Figura 9) 3,5,16-21.
(β, γ) com a superfície citoplasmática da mem- Como as subunidades alfa das pro-
brana celular 2,3,5,17. teínas G diferem em estrutura, a sua confor-
A sequência de eventos envolvendo a mação determina qual o tipo de receptor e efetor
proteína G desde a interação agonista-receptor a ser ativado e conseqüentemente a resposta
resultante. Até o momento vários receptores as- nas células bastonetes da retina e a G olf (olf de
sociados a proteínas G já foram descritos (Ta- olfactory) que regula o olfato. Finalmente a Go
bela I) 16. Diversos subtipos de proteínas G já (o de outro) pode ser encontrada em tecido ex-
foram clonadas e caracterizadas, constituindo citável do miocárdio, medula espinhal e cerebral
atualmente uma grande família. Até o momento e corresponde a cerca de 1% das proteínas de
onze diferentes proteínas G já foram identifi- membrana do córtex frontal. Embora não se co-
cadas e as mais conhecidas são apresentadas nheça completamente as funções da proteína
na Tabela II. Go, sua distribuição tecidual sugere que esteja
Uma das primeiras proteínas G a ser associada com funções de canais iônicos que
identificada foi a G s (S do inglês Stimulation, controlam a excitabilidade celular (Tabela II)
5,16,18,22
estimulação) que ativa a adenilciclase elevando .
os níveis de Adenosina 3´, 5´-monofosfato
cíclico (AMP cíclico ou AMPc). Uma atividade
oposta é produzida pela Gi (i de “inhibition”, Sistemas Efetores Modulados pela
inibição) que inibe a adenilciclase provocando Proteína G e Segundo Mensageiros
uma redução nos níveis de AMPc. A GK é encon-
trada principalmente no tecido atrial cardíaco e A proteína G, uma vez ativada pelo
está envolvida na regulação dos canais de complexo ligante ou agonista-receptor, traduz
potássio. A Gq regula a fosfolipase C. Duas um sinal para um sistema enzimático intracelular
modalidades sensoriais são mediadas pela ação amplificador que resulta na elaboração de um
de duas proteínas G: a Gt (t de transducin, segundo mensageiro, que por sua vez, promove
transducina) que ativa a fosfodiesterase do GMP a ativação de uma cascata de enzimas, provo-
roidismo, diabetes e na insuficiência cardíaca, vascular. Vários agonistas, como por exemplo a
parece que a alteração ocorre na proteína Gi 24. acetilcolina, bradicinina e serotonina, causam
Sistema da Guanililciclase vasodilatação pela ativação da óxido nítrico sin-
tetase 27,28.
A guanililciclase ou guanilato ciclase
forma a guanosina 3´, 5´- monofosfato cíclico Sistema da Fosfolipase C
(GMPc) a partir da guanosina trifosfato. A GMPc
formada é metabolizada pela fosfodiesterase. A fosfolipase C é uma outra enzima
O GMPc é um nucleotídeo cíclico que efetora estimulada pela proteína G. A ativação
ativa uma proteína cinase que fosforila proteínas de receptores alfa 1 adrenérgicos situados na
alvo intracelulares, canais iônicos e outras pro- membrana celular é capaz de estimular uma
teínas e que pode regular diversas respostas proteína G acoplada a este receptor, a denomi-
fisiológicas tais como vasodilatação, secreção nada proteína Gq, que então ativa a enzima
intestinal e fosfotransdução retiniana. fosfolipase C. A ativação da fosfolipase C resulta
Vários tecidos contém múltiplas formas na hidrólise de um fosfolipídio da membrana, o
de guanililciclase e GMPc fosfodiesterase. A fosfatidilinositol 4-5-bifosfato (PIP 2), formando
guanilato ciclase pode ser encontrada tanto na dois mensageiros secundários: o diacilglicerol
membrana celular quanto no citoplasma. Uma (DAG) e o 1,4,5,- trifosfato de inositol (IP3). O
forma particulada da guanililciclase situada na trifosfato de inositol liga-se então ao seu recep-
membrana celular encontra-se associada a di- tor situado na membrana do retículo endoplas-
versos receptores para uma variedade de dife- mático, ativando a liberação intracelular de
rentes peptídios ligantes, como por exemplo o cálcio que age como um “terceiro mensageiro”.
peptídeo natriurético atrial, peptídeo natriurético A elevação da concentração de cálcio causa
cerebral, peptídeo natriurético tipo C, etc. A ativação de uma proteína cinase cálciocal-
forma solúvel da guanililciclase pode ser destin- modulina dependente e subsequente fosfo-
guida por sua sensibilidade a agentes vasodi- rilação de proteínas. O DAG formado ativa a
latadores como a nitroglicerina, nitroprussiato e proteína cinase C que modula o ciclo do fosfa-
óxido nítrico. O óxido nítrico é um regulador tidilinositol (Figura 11) 2,16,17.
endógeno da guanililciclase que media a ação A elevação da concentração do cálcio
de diversos vasodilatadores.26 Os nitratos or- intracelular pelo fosfatidilinositol produz uma
gânicos, o nitroprussiato de sódio e a atrio- série de importantes respostas celulares tais
peptina induzem relaxamento do músculo liso como contração de musculatura lisa, aumento
através da formação de GMPc. O óxido nítrico, da força contrátil do miocárdio, secreção de
anteriormente conhecido como Fator de Rela- glândulas exócrinas, liberação de neurotrans-
xamento Dependente do Endotélio (FRDE), é missores e de hormônios e regulação de canais
formado a partir do aminoácido L-arginina que, iônicos. A ativação da proteína cinase C pelo
sob a ação da óxido nítrico sintetase, é transfor- DAG promove também importantes efeitos, in-
mado em óxido nítrico (NO) e L-citrulina no inte- cluindo liberação de hormônios e de neurotrans-
rior da célula. A óxido nítrico sintetase é ativada missores, contração ou relaxamento de muscu-
principalmente pela elevação do cálcio intracelu- latura lisa, resposta inflamatória e de formação
lar. Uma vez transformado em sua forma ativa de tumores, dessensibilização de receptores,
de nitrosotiol no interior da célula o óxido nítrico etc.
poderá ativar a guanilatociclase que promoverá
a transformação de GTP em GMP cíclico. O
GMPc ativará então uma proteína cinase de- Sistema da Fosfolipase A 2
pendente de GMPC resultando em relaxamento
Agonista
prostaglandinas e tromboxanos. A lipoxigenase,
(Droga/neurotransmissor)
por sua vez promoverá a transformação do ácido
Agonista
(Droga/neurotransmissor) araquidônico em leucotrienos. A ação antiinfla-
Receptor
matória dos glicocorticóides deve-se, em parte, à
(Complexo Agonista/Receptor)
estimulação da produção de lipocortina que é ca-
Ativação da Fosfolipase C paz de inibir a fosfolipase A2. As ações analgésica,
Ativação da Proteína C
antiinflamatória e antipirética dos antiinflamatórios
não esteróides, do grupo dos salicilatos e drogas
Bifosfato de Fosfatidil Inositol
congêneres, decorrem principalmente da inibição
Diacilglicerol (DAG) Trifosfato de Inositol (IP3) da cicloxigenase impedindo assim, a formação
Ativação da Proteína Cinase C Abertura dos Canais de Cálcio
das prostaglandinas. Devido à grande utilização
destas drogas pelos anestesiologistas, principal-
Efeito Efeito
mente como analgésicos no pós-ope-ratório e no
tratamento das dores crônicas, é de fundamental
Fig 11 - Diagrama esquemático da seqüência de reações resultantes
da ativação do Sistema da Fosfolipase C e do Fosfatidil Inositol interesse o conhecimento do seu mecanismo de
ação e de seus efeitos colaterais 29-32.
Um outro sistema efetor ativado pela Carvalho WA, Carvalho RDS, Medrado VC,
proteína G é o da fosfolipase A2 que é capaz de Vianna PTG - Biologia Molecular dos Re-
ceptores Farmacológicos e seus Sistemas
agir sobre fosfolipídios da membrana celular ini-
Efetores de Interesse em Anestesiologia
ciando a cascata do ácido araquidônico. O ácido
araquidônico pode ser catalisado por duas vias
enzimáticas distintas: a via da cicloxigenase, AGRADECIMENTOS
que forma diversas prostaglandinas, incluindo o
tromboxano A2, prostaciclina e prostaglandinas Os autores agradecem a McGraw-Hill
do grupo E (PGE), e a via da lipoxigenase, que Companies, Churchill Livingstone, Guanabara
forma os leucotrienos 29-31. Koogan, Eric A Barnard e Roberto J. Lefkowitz
Além de sua participação no controle pela permissão concedida na reprodução das
dos canais de potássio, os metabólitos do ácido ilustrações utilizadas no texto.
araquidônico são extremamente importantes na
fisiopatologia da asma, inflamação, produção e
controle de secreção ácida gástrica e contração UNITERMOS - BIOLOGIA MOLECULAR; FAR-
MACOLOGIA: receptores
da fibra lisa uterina 31,32.
REFERÊNCIAS
Os eicosanóides são produzidos no or-
ganismo a partir dos fosfolipídios de membranas 01. Maze M, Tranquilli W - Alpha-2-adrenoceptor agonists: de-
celulares, em resposta a uma ampla variedade fining the role in clinical anesthesia. Anesthesiology,
1991;74:581-605.
de diferentes estímulos e encontram-se entre os 02. Schwinn DA - Adrenoceptors as models for G protein -
mediadores e moduladores mais importantes do coupled receptors: structure, function and regulation. Br J
processo inflamatório. O ácido araquidônico Anaesth, 1993;71:77-85.
03. Rang HP, Dale MM - Farmacologia, 2ª Ed, Rio de Janeiro,
constitui a principal fonte de formação de ei- Guanabara Koogan, 1993; 431-445.
cosanóides e encontra-se esterificado nos fosfo- 04. Dohlman HG, Lefkowitz RJ - A family of receptors coupled
lipídios da membrana celular. A fosfolipase A2 é to guanine regulatory proteins. Biochemistry, 1987; 26:
2657-2664.
capaz de atuar nos fosfolipídeos da membrana
05. Gilman AG - G Proteins: Transducers of receptor-generated
celular, liberando ácido araquidônico que, sob a signals. Annu Rev Biochem, 1987;56: 615-49.
ação da cicloxigenase será transformado em 06. Silva P - Receptores Superficiais e seus Sistemas Efetores.
166 Revista Brasileira de Anestesiologia
Vol. 47 : N° 2, Março - Abril, 1997
CARVALHO, CARVALHO , MEDRADO E COL
In: Silva, P. Farmacologia, 4ª Ed, Rio de Janeiro, Guana- superfamily: a conserved switch for diverse cell functions.
bara Koogan, 1994;91-110. Nature, 1990; 348: 125-132.
07. Unwin N, Toyoshima C, Kubalek E - Arrangement of the 20. Bourne HR, Sanders DA, McCormick F - The GTPase
acetylcholine receptor subunits in the resting and desen- superfamily: a conserved structure and molecular mecha-
sitezed states determined by cryoelector microscopy of nism. Nature, 1991;349:117-127.
crystallized torpedo postsynaptic membranes. J Cell Biol, 21. Lordish H, Baltimore D, Berk et al - Molecular Cell Biology,
1988;107:1123-1138. 3rd Ed, New York, Scientific American Book, 1995;853-990.
08. Taylor P - Agents Acting at the Neuromuscular Junction and 22. Graziano MP, Gilman AG - Guanine nucleotide-binding regu-
Autonomic Ganglia, In: Gilman AG, Rall TW, Nies AS et al latory proteins: mediators of transmembrane signaling.
- Godman and Gilman’s The Pharmacological Basis of Trends Pharmacol Sci, 1987; 8:478-481.
Therapeutics, 8th E d , N e w Yo r k, P e rg a m on P r e s s , 23. Alberts B, Bray D, Lewis J et al - Molecular Biology of the
1990;166-186. Cell, 2nd Ed, New York, Garland Publishing Inc, 1989.
09. Schofield PR, Darlison, MG, Fujista N - Sequence and 24. Houslay MD - Altered Expression and Functioning of Gua-
functional expression of the GABAA receptor show a ligand- nine Nucleotide, Binding (regulatory) Proteins During
gated receptor superfamily. Nature, 1987;328:221-230. Growth, Transformation Differentiation and in Pathological
10. Catterall W, Mackie K - Local Anesthetics. In: Hardman JG, States. In: Houslay MD, Milligan G - G-Proteins as Media-
Limbird LE, Molinoff PB et al - Goodman and Gilman’s the tors of Cellular Signalling Processes, Chichester, John
Pharmacological Basis of Therapeutics, 9th Ed, New York, Willey & Sons Ltd, 1990;196-230.
McGraw-Hill, 1996;331-347 25. Milligan G - Immunological Probes and the Identification of
11. Wann KT - Neuronal sodium and potassium channels: struc- Guanine Nucleotide Binding Proteins., In: Houslay MD,
ture and function. Br J Anaesth, 1993; 71:2-14. Milligan G - G-Proteins as Mediators of Cellular Signalling
12. Urban BW - Differential effects of gaseous and volatile Processes, Chichester, John Wiley & Sons; 1990;31-46.
anaesthetics on sodium and potassium channels. Br J 26. Schulz S, Yuen PST, Garbers DL - The expanding family of
Anesth, 1993;71:25-38. guanylil cyclases. Trends Pharmacol Sci, 1991;12:116-120.
13. Tsien RW, Fox AP, Hess P et al - Multiple types of calcium 27. Moncada S, Palmer RMJ, Higgs EA - Nitric oxide: physiology,
channel in excitable cells. Soc Gen Physiol Ser, 1987; pathophysiology, and pharmacology. Pharmacol Rev,
41:167-187. 1991;43:109-142.
14. Gurney AM - Molecular Pharmacology of Ion Channels 28. Moncada S, Higgs A - The L-arginine-nitric oxide pathway.
using the Patch Clamp, In: Hulme EC - Receptor-Effector N Engl J Med, 1993;329: 2002-2012.
Coupling. A Practical Approach. New York, Oxford Univer- 29. Carvalho WA - Mecanismo de ação das drogas antiinfla-
sity Press, 1990;155-178. matórias não-esteróides. I. Ações farmacológicas das pro-
15. Hulme EC - Receptor-Effector Coupling. A Practical Ap- staglandinas e leucotrienos. F Med, 1990; 100: 37-44.
proach. New York, Oxford University Press, 1990; VII-VIII. 30. Carvalho, WA - Mecanismos de ação das drogas antiinfla-
16. Yost CS - G proteins: basic characteristics and clinical matórias não-esteróides. II. Ações analgésicas, antiinfla-
potential for the practice of anesthesia. Anesth Analg, matórias e antipiréticas. F Med. 1990;100:111-122.
1993;77:822-34. 31. Campbell WB, Halushka PV - Lipid-Derived Autacoids. Ei-
17. Lambert DG. Signal transduction: G proteins and second cosanoides and Platelet-activating Factor. In: Hardman
messengers. Br J Anaesth, 1993;74:86-95. JG, Limbird LE, Molinoff PB et al - Goodman & Gilman’s
18. Dunlap K, Holz GG, Rane SG - G Proteins as regulators of The Pharmacological Basis of Therapeutics, 9th Ed, New
ion channel function. Trends Neurosci, 1987;10:6:241-244. York, McGraw-Hill, 1996; 601-616.
19. Bourne HR, Sanders DA, McCormick F - The GTPase 32. Carvalho WA - Analgésicos, Antipiréticos e Antiinflamatórios,
In: Silva, P - Farmacologia, 4ª Ed, Rio de Janeiro, Editora
Guanabara Koogan, 1994; 406-440.