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SUMÁRIO

1. Sinalização celular...................................................... 3
2. Tipos de sinalização................................................... 3
3. Velocidade da sinalização celular......................... 7
4. Natureza dos sinais celulares................................ 8
5. Vias de sinalização intracelular............................. 9
6. Interruptores moleculares......................................14
7. Receptores..................................................................15
8. Receptores associados a canais iônicos.........16
9. Receptores associados a proteína G................17
10. Via do AMP cíclico (CAMP)................................19
11. Via de fosfolipídeo de inositol...........................22
12. Receptores associados a enzimas..................25
13. A via de RAS............................................................26
14. Via JAK/STAT...........................................................28
15. Como regular a ação dos receptores.............30
Referências bibliográficas .........................................32
SINALIZAÇÃO CELULAR 3

1. SINALIZAÇÃO CELULAR 2. TIPOS DE SINALIZAÇÃO


Nos organismos multicelulares, a tro- A sinalização celular pode resultar tanto
ca de informações por meio de molé- da interação direta de uma célula com a
culas, que são sinais ou mensageiros célula vizinha ou da ação de moléculas
químicos, começa na vida embrionária sinalizadoras secretadas. As múltiplas
e constitui, durante toda a vida, o prin- variedades de sinalização por molé-
cipal meio de comunicação entre as culas secretadas são divididas em três
células. Frequentemente, essa comu- categorias, baseadas na distância em
nicação envolve a conversão dos si- que os sinais são transmitidos.
nais de informação de uma forma para
• Sinalização Endócrina: As mo-
outra – transdução de sinal. Em uma
léculas sinalizadoras (hormônios)
comunicação característica entre cé-
são secretadas por células endó-
lulas, a célula sinalizadora produz um
crinas especializadas e transpor-
tipo particular de molécula-sinal que é
tadas através da circulação (cor-
detectada pela célula-alvo. A ligação
rente sanguínea para os animais e
das maior parte das moléculas sinali-
seiva para plantas) para atuarem
zadoras aos seus receptores inicia uma
sobre células – alvo localizadas em
série de reações intracelulares que re-
órgãos distantes. Consiste no tipo
gulam praticamente todos os aspectos
mais popular de comunicação nos
do comportamento celular, incluindo
organismos pluricelulares.
metabolismo, movimento, proliferação,
sobrevivência e diferenciação. • Sinalização Parácrina: As molé-
A maioria das células animais envia culas-sinal se difundem localmen-
e recebe sinais, podendo atuar tanto te pelo líquido extracelular, perma-
como células sinalizadoras como re- necendo nas vizinhanças da célula
ceptoras. As células-alvo possuem que as secretou. Assim, elas atu-
proteínas receptoras que reconhecem am como mediadores locais sobre
e respondem especificamente à molé- as células próximas. Em alguns ca-
cula-sinal. A transdução de sinal come- sos, as células respondem ao me-
ça quando a proteína receptora na cé- diadores que elas mesmo produ-
lula-alvo recebe um sinal extracelular e zem, consistindo em uma forma de
o converte nos sinais intracelulares que comunicação parácrina chamada
alteram o comportamento celular. As de sinalização autócrina.
moléculas-sinal podem ser proteínas, • Sinalização Sináptica ou Neuro-
peptídeos, aminoácidos, nucleotídeos, nal: Esse tipo de comunicação ocor-
esteroides, derivados de ácidos graxos re apenas entre células excitáveis,
e até mesmo gases dissolvidos. a partir de moléculas chamadas de
neurotransmissores. A secreção
SINALIZAÇÃO CELULAR 4

delas ocorre nas sinapses, locais es- Por fim, a comunicação célula – célula
pecializados em que as células ner- pode ocorrer por interação direta, de
vosas (ou neurônios), por meio de forma mais íntima e de curto alcance,
seus numerosos prolongamentos, que não requer a liberação de uma mo-
estabelecem contato umas com as lécula secretada, isto é, a sinalização
outras, permitindo o envio de mensa- dependente de contato. Nesse esti-
gem a longas distâncias. Nesse pro- lo, as células fazem contato direto por
cesso a informação é transmitida por meio de moléculas-sinal localizadas na
vias específicas por meio da conver- membrana plasmática das células si-
são de sinais elétricos em uma forma nalizadoras e proteínas receptoras in-
química, os neurotransmissores. seridas na membrana das células-alvo.

SE LIGA! A sinalização parácrina é uti-


lizada, por exemplo, para o controle de
uma inflamação nos locais de infecção ou
controle da proliferação celular na cicatri-
zação de um ferimento. Já a sinalização
autócrina é estabelecida pelas células
cancerígenas como forma de promover
sua própria sobrevivência ou proliferação.

Figura 1. As células animais sinalizam de várias maneiras uma para outra. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos
da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SINALIZAÇÃO CELULAR 5

TIPOS DE SINALIZAÇÃO

Tipo mais popular


Moléculas sinalizadoras  Hormônios
ENDÓCRINA Transportadas através da circulação
Células – alvos em locais distantes

Moléculas – sinal se difundem no líquido extracelular


Células – alvos vizinhas
PARÁCRINA
Autócrina: as células respondem aos mediadores
que elas mesmas produziram

Apenas entre células excitáveis

SINÁPTICA OU Moléculas – sinal  Neurotransmissores

NEURONAL Ocorre nas sinapses


Conversão de sinais elétricos em uma forma química

Moléculas sinal localizadas na membrana


DEPENDENTE DE plasmática das células sinalizadoras
CONTATO Receptor na membrana das células - alvo

Uma célula típica de um organismo químicos que ativam ou inibem as ati-


multicelular está exposta a centenas vidades celulares. As respostas das
de moléculas – sinal diferentes em células diante dos diversos sinais de-
seu ambiente. Cada célula deve res- pendem basicamente do elenco de
ponder seletivamente a essa mistura receptores que cada célula apresenta.
de sinais, desprezando alguns e rea- A variedade de receptores torna a cé-
gindo com outros, de acordo com sua lula sensível simultaneamente a mui-
função especializada. tos sinais extracelulares e permite
A maioria das células do corpo dos que um número relativamente pe-
animais contém um conjunto especí- queno de moléculas – sinal, utilizadas
fico e geneticamente programado de em diferentes combinações, exerça
receptores para os numerosos sinais um controle complexo e refinado
SINALIZAÇÃO CELULAR 6

sobre o comportamento celular. Tais sinais interagem, de modo que a pre-


combinações de sinais podem evocar sença de um sinal modifica a resposta
respostas que são diferentes da soma do outro. Uma combinação de sinais
do efeitos que cada sinal pode evocar permite a sobrevivência da célula, ou-
independentemente. Isso é assim tra combinação leva à diferenciação
porque os sistemas de propagação especializada, e outra promove a divi-
intracelular ativados pelos diferentes são celular.

Molécula de sinalização extracelular

Proteína receptora

Membrana plasmática
da célula alvo

Citosol

Proteínas de sinalização intracelular

Proteínas efetoras
Enzima Proteína de
regulação da Proteína de
metabólica citoesqueleto
transcrição

Expressão Forma celular


Metabolismo gênica
alterado ou movimen-
alterada tos alterados

Figura 2. Via de sinalização intracelular simples, ativada por uma molécula de sinalização extracelular. Adaptado de:
ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017

O sinal de um receptor de superfície o comportamento da célula. Esse sis-


celular é normalmente propagado para tema de propagação intracelular e as
o interior da célula – alvo por meio de proteínas efetoras sobre as quais ele
um conjunto de moléculas sinalizado- atua variam de um tipo celular espe-
ras intracelulares que atuam em sequ- cializado para outro, de modo que cé-
ência e basicamente alteram a ativida- lulas diferentes respondem de modo
de de proteínas efetoras que afetam diferente ao mesmo tipo de sinal.
SINALIZAÇÃO CELULAR 7

B SOBREVIVE

C
A

B
CRESCE E DIVIDE-SE

D E
A

B
DIFERENCIA-SE

F G

Célula apoptótica
MORRE

Figura 3. A célula animal depende de múltiplos sinais extracelulares. Adaptado de: ALBERTS, Bruce et al. Fundamen-
tos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

3. VELOCIDADE DA
SINALIZAÇÃO CELULAR
SE LIGA! A maioria das células animais
está programada para cometer suicídio A velocidade de qualquer resposta si-
na ausência de sinal.
nalizadora depende da natureza das
moléculas de sinalização intracelu-
lar que executam a resposta da célu-
SE LIGA! A diferença entre a maqui- la – alvo. Quando a resposta envolve
naria intracelular atrelada aos tipos de somente mudanças em proteínas já
receptores que cada célula apresenta
pode ser elucidada pelo caso da acetil- existentes na célula, ela pode ocorrer
colina. Os receptores para esse neuro- muito rapidamente: por exemplo, uma
transmissor são diferentes no músculo mudança alostérica em um canal iônico
esquelético e no músculo cardíaco, bem
controlado por neurotransmissor pode
como seus efeitos, pois no esquelético
há o estímulo para contração, enquan- alterar o potencial elétrico da membra-
to no miocárdio diminui o ritmo e a força na plasmática em milissegundos e as
das contrações. Além disso, na glându- respostas que dependem da fosfori-
la salivar esse sinal estimula a secreção
de componentes da saliva, mesmo que
lação de proteínas podem ocorrer em
seus receptores sejam os mesmos da segundos. Contudo, quando a resposta
célula cardíaca. envolve mudanças na expressão gêni-
ca e na síntese proteica, normalmente
demora muitos minutos ou horas.
SINALIZAÇÃO CELULAR 8

Molécula de sinalização extracelular

Via sinalizadora intracelular Proteína de superfície celular

Núcleo
Função DNA
proteica
RÁPIDA alterada LENTA
RNA
(< segundos a (minutos a
minutos) horas)

Síntese proteica alterada

Maquinaria citoplasmática alterada

Comportamento celular alterado

Figura 4. Respostas lentas e rápidas a um sinal extracelular. Adaptado de: ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular
da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017

SAIBA MAIS!
É importante também abordar a velocidade com qual a célula responde ao processo de saída
da molécula – sinal. Na maioria dos casos de tecidos adultos a resposta desaparece quando o
sinal cessa. O efeito é transitório porque o sinal exerce seu efeito pela alteração de um grupo de
moléculas de vida curta (instáveis), que sofrem reposição contínua. Assim, quando o sinal extra-
celular é removido, a degradação das moléculas velhas rapidamente elimina todos os vestígios
de sua ação. O resultado é que a velocidade com a qual a célula responde à remoção do sinal
depende da velocidade de degradação ou de reposição das moléculas afetadas por ele.

4. NATUREZA DOS SINAIS atravessar a membrana plasmática


CELULARES da célula – alvo. Elas contam com re-
ceptores na superfície da célula – alvo
Em geral, as moléculas – sinal extra-
para transmitir sua mensagem pela
celulares pertencem a duas classes.
membrana. A segunda e menor clas-
A primeira e maior consiste em mo-
se de sinais consiste em moléculas
léculas que são grandes demais ou
que são suficientemente pequenas
demasiadamente hidrofílicas para
SINALIZAÇÃO CELULAR 9

ou hidrofóbicas para atravessar a Receptores de superfície celular


membrana plasmática. Uma vez den-
tro da célula, essas moléculas ativam Proteína receptora
Membrana plasmática
de superfície celular
enzimas intracelulares ou se ligam a
proteínas receptoras intracelulares
que regulam a expressão gênica.
Molécula de sinalização
Célula alvo
hidrofílica
SE LIGA! Os hormônios esteroides e
os hormônios da tireoide são exemplos
clássicos de moléculas – sinal que atuam
por meio de receptores intracelulares em
razão de suas características hidrofóbi-
cas. No interior da célula, seus recep- Receptores intracelulares
tores são membros de uma família de
proteínas conhecida como superfamília Pequena molécula de
de receptores nucleares, que são fato- sinalização hidrofóbica
res de transcrição que contêm domínios
relacionados com ligação ao ligante, li- Núcleo
gação ao DNA e ativação de transcrição. Proteína carreadora
A ligação ao ligante regula suas funções
como ativador ou repressor direto da ex-
pressão gênica. A diferença entre esses Proteína receptora Célula alvo
intracelular
tipos de molécula – sinal está no meca-
nismo de ação dos receptores. No caso Figura 5. Ligação de moléculas de sinalização extra-
dos esteroides, os receptores são inca- celular aos receptores de superfície e intracelulares.
pazes de ligar – se ao DNA na ausência Adaptado de: ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular
do hormônio. Quando o esteroide che- da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017
ga, induz uma mudança conformacional
no receptor que o leva a se ligar a se-
quências reguladoras do DNA e ativa a
transcrição de genes – alvos. Já no caso 5. VIAS DE SINALIZAÇÃO
dos hormônios tireoidianos, o receptor
se liga ao DNA tanto na presença como INTRACELULAR
na ausência do hormônio, mas a ligação
à molécula – sinal altera a atividade do
A função de um sistema de sinalização
receptor ativando sua ação reguladora intracelular é a de detectar e quantifi-
da transcrição. car um estímulo específico em uma re-
gião da célula e gerar uma resposta no
tempo certo e na medida certa em ou-
tra região. O sistema realiza esta tarefa
pelo envio de informação na forma de
“sinais” moleculares do receptor para
o alvo, com frequência por meio de
uma série de intermediários que não
SINALIZAÇÃO CELULAR 10

apenas passam o sinal adiante, mas o • Distribuir o sinal para mais de uma
processam de várias maneiras. Cada via intracelular ou proteína efetora,
sistema de sinalização desenvolveu podendo criar ramificações no dia-
comportamentos especializados que grama do fluxo de informações e
produzem uma resposta apropriada evocar uma resposta complexa.
para a função celular controlada por
esse sistema.
Muitas etapas em uma via de sinaliza-
Os componentes dessas vias de si- ção intracelular estão sujeitas à mo-
nalização intracelular executam uma dulação por outros fatores, incluindo
ou várias funções cruciais: fatores extra e intracelulares. Assim,
• Transmitir o sinal adiante e auxi- os efeitos do sinal podem ser adap-
liar na sua propagação por toda a tados às condições predominantes
célula dentro ou fora da célula.
• Amplificar o sinal recebido, tornan-
do – o mais forte, de modo que pou-
cas moléculas – sinal extracelulares
são suficientes para evocar uma
resposta intracelular intensa
• Integrar sinais oriundos
de diferentes vias
SINALIZAÇÃO CELULAR 11

Molécula de sinalização extracelular

Proteína receptora

Membrana plasmática
Transdução inicial

Citosol

Transmissão

Transdução e
amplificação

Pequenas moléculas de
mensageiros intracelulares Integração

Distribuição

Metabolismo Forma celular Expressão


alterado ou movimen- gênica
tos alterados alterada

Figura 6. Proteínas de sinalização intracelular transmitem, amplificam, integram e distribuem o sinal que chega.
Adaptado de: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Alguns sistemas de sinalização são respostas abruptas são de dois tipos.


capazes de gerar uma resposta mo- Uma delas é uma resposta sigmoi-
deradamente gradual a uma variação de, na qual baixas concentrações do
amplas nas concentrações do sinal estímulo não têm muito efeito, quan-
extracelular. Outros sistemas geram do então, em níveis intermediários
respostas significativas somente do estímulo, há um aumento abrup-
quando a concentração do sinal au- to e contínuo da resposta. Tais siste-
mentar acima de um valor limiar. Essas mas fornecem um filtro para reduzir
SINALIZAÇÃO CELULAR 12

respostas inapropriadas a baixas A retroalimentação positiva em uma


concentrações basais de uma molé- via de sinalização pode transformar
cula – sinal, mas respondem com alta o comportamento da célula – alvo.
sensibilidade quando o estímulo está Se apresentar intensidade modera-
dentro de uma pequena variação das da, seu efeito será simplesmente o
concentrações do sinal. Um segun- aumento abrupto da resposta ao si-
do tipo de resposta abrupta consiste nal, gerando uma resposta sigmoi-
na resposta descontínua ou “tudo ou de, mas se for suficientemente forte
nada”, na qual a resposta é inteira- pode produzir uma resposta “tudo ou
mente ativada (e com frequência de nada”. Uma vez que o sistema de res-
forma irreversível) quando o sinal al- posta está no seu nível mais alto de
cança certa concentração limitar. ativação, essa condição geralmente
é autossustentada e pode persistir
mesmo depois que a intensidade do
sinal tenha diminuído abaixo do seu
valor crítico.
Por meio da retroalimentação posi-
tiva, um sinal extracelular transitório
pode induzir mudanças de longa du-
ração nas células e em suas células
– filhas, as quais podem persistir por
toda a vida do organismo.

SE LIGA! A retroalimentação positiva


Figura 7. O processamento do sinal pode produzir pode desencadear uma memória celu-
respostas graduais ou do tipo “tudo ou nada”. Fonte: lar de modo que uma célula pode sofrer
ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6. uma mudança permanente de caracte-
ed. Porto Alegre: Artmed, 2017 rísticas sem nenhuma alteração na se-
quência de seu DNA. Um exemplo são
as células musculares, haja vista que
os sinais que desencadeiam sua dife-
A maioria dos sistemas de sinalização renciação ativam a transcrição de uma
série de genes que codificam proteínas
intracelular incorporam ciclos de retroa- reguladoras de transcrição específicas
limentação, nas quais o produto final de de músculo. Essas proteínas estimulam
um processo atua na regulação desse a transcrição dos seus próprios genes,
bem como de genes que codificam vá-
processo. Na retroalimentação positiva,
rias outras proteínas de células muscu-
o produto estimula sua própria produ- lar. Assim, a decisão de se tornar uma
ção; na retroalimentação negativa, o célula muscular passa a ser permanente.
produto inibe sua própria produção.
SINALIZAÇÃO CELULAR 13

Por outro lado, a retroalimentação ne- persistem enquanto o estímulo es-


gativa neutraliza o efeito de um estí- tiver presente ou podem mesmo ser
mulo e dessa forma abrevia e limita geradas de forma espontânea, sem a
o nível da resposta, tornando o siste- necessidade de um sinal externo. Po-
ma menos sensível a perturbações. rém, se o retardo for curto, o sistema
No entanto, assim como no caso da se comporta como um detector de
retroalimentação positiva, podem ser mudança. Ele dá uma resposta forte
obtidas respostas qualitativamente ao estímulo, mas ela decai rapida-
diferentes quando a retroalimentação mente mesmo com a persistência do
atua de forma mais vigorosa. Uma estímulo; se o estímulo for aumenta-
retroalimentação negativa com um do de forma súbita, o sistema respon-
retardo suficientemente longo pode de novamente de forma intensa, mas
produzir respostas oscilantes, que sua resposta decai com rapidez.

Figura 8. Alguns efeitos da retroalimentação simples. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6.
ed. Porto Alegre: Artmed, 2017
SINALIZAÇÃO CELULAR 14

6. INTERRUPTORES proteína – cinase que adiciona um


MOLECULARES grupo fosfato à proteína e na outra
direção por uma proteína – fosfata-
Muitas das proteínas de sinalização
se, que remove o fosfato. O equilíbrio
intracelulares essenciais se compor-
entre as cinases e as fosfatases é es-
tam como interruptores moleculares:
sencial para as proteínas reguladas
a recepção de um sinal faz com que
por esse mecanismo.
comutem de um estado inativo para
um ativo. Essas proteínas uma vez
ativadas podem ativar outras proteí- SE LIGA! Muitas das proteínas comuta-
doras controladas por fosforilação estão
nas na via de sinalização que então organizadas em cascatas de fosforila-
permanecem no estado ativo até que ção: uma proteína – cinase ativada por
algum outro processo as desligue. fosforilação fosforila a cinase seguinte
e assim por diante, transmitindo o sinal
para adiante e nesse processo ocorrem
SE LIGA! Para que uma via de sinaliza- a amplificação, a propagação e a modu-
ção se recupere após transmitir um sinal lação do sinal.
e fique apta a transmitir outro, cada pro-
teína ativada deve retornar ao seu esta-
do original ausente de estímulos. Por- A outra classe importante de proteí-
tanto, para cada etapa de ativação ao
longo da via, deve haver um mecanismo
nas comutadoras envolvidas em vias
de inativação. Os dois são igualmente de sinalização consiste nas prote-
importantes para a comunicação celular. ínas de ligação a GTP. Essas comu-
tam entre o estado ativo e o inativo
na dependência de terem, respec-
As proteínas que atuam como co-
tivamente, GTP ou GDP ligados a
mutadores moleculares pertencem
elas. Quando ativadas pela ligação ao
a duas classes. A primeira e maior
GTP, essas proteínas apresentam ati-
consiste em proteínas que são ativa-
vidade intrínseca de hidrólise de GTP
das ou inativadas por fosforilação. No
(GTPases) e fazem autoinativação ao
caso dessas moléculas, o comutador
hidrolisarem seu GTP a GDP.
é acionado em uma direção por uma
SINALIZAÇÃO CELULAR 15

SINALIZAÇÃO POR SINALIZAÇÃO POR PROTEÍNAS


FOSFORILAÇÃO DE PROTEÍNAS DE LIGAÇÃO A GTP

Figura 9. Muitas proteínas sinalizadoras intracelulares funcionam como interruptores moleculares. Fonte: ALBERTS,
Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

7. RECEPTORES receptor. Além disso, algumas molé-


culas sinalizadoras se ligam a recep-
As proteínas receptoras de superfície
tores de mais de uma classe.
celular são divididas em três grandes
famílias que diferem nos mecanismos
de transdução utilizados:
• Receptores associados a canais
iônicos
• Receptores associados a proteí-
nas G
• Receptores associados a enzimas

O número de tipos diferentes de re-


ceptores nessas três classes é ain-
da maior do que o número de sinais
extracelulares que agem sobre eles,
porque, para muitas moléculas sina-
lizadoras existem mais de um tipo de
SINALIZAÇÃO CELULAR 16

SAIBA MAIS!
O grande número de receptores de superfície diferentes que o corpo necessita para os pro-
pósitos de sinalização são também alvos para muitas substâncias estranhas que interferem
na nossa fisiologia e em nossas sensações, desde a heroína e a nicotina, até tranquilizantes e
pimentas. Essas substâncias mimetizam o ligante natural de um determinado receptor, ocu-
pando os sítios de ligação do ligante natural, ou se ligam a outro sítio do receptor, causando
bloqueio ou superestimulação. Muitas drogas e venenos atuam dessa forma e uma grande
parte da indústria farmacêutica se dedica à procura de substâncias que exerçam um efeito
definido pela ligação a um tipo específico de receptor.

8. RECEPTORES ASSOCIADOS em sua conformação que leva à aber-


A CANAIS IÔNICOS tura ou fechamento de um canal para
o fluxo de íons específicos pela mem-
Funcionam da maneira mais simples
brana. Conduzido por seus gradien-
e direta, sendo responsáveis pela
tes eletroquímicos, os íons entram
transmissão rápida de sinais pelas
ou saem da célula no tempo de um
sinapses no sistema nervoso. Eles
milissegundo, criando uma mudança
transformam o sinal químico na for-
no potencial da membrana. Essa mu-
ma de um pulso de neurotransmis-
dança pode desencadear um impulso
sores liberado no exterior da célula
nervoso, ou tornar mais fácil ou mais
– alvo em um sinal elétrico, na forma
difícil que outros neurotransmissores
de uma mudança de voltagem pela
o façam. Esses receptores são uma
membrana plasmática dessa célula.
especialidade do sistema nervoso e
Após a ligação do neurotransmissor,
de outras células eletricamente exci-
o receptor apresenta uma alteração
táveis, como as células musculares.

Receptores associados a canais iônicos

Íons

Molécula sinal

Membrana
plasmática
Citosol

Figura 10. Receptores associados a canais iônicos. Adaptado de: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia
Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SINALIZAÇÃO CELULAR 17

9. RECEPTORES As proteínas G são compostas por


ASSOCIADOS A três subunidades, denominadas α,
PROTEÍNA G ẞ e γ e por isso são caracterizadas
como heterotriméricas. No repouso,
Os receptores acoplados às proteínas
a subunidade α está ligada ao GDP e
G (proteínas de ligação ao nucleotí-
ao complexo ẞγ . A ligação da molé-
deo guanina) são caracterizadas por
cula – sinal induz uma mudança con-
sete α-hélices paralelas atravessando
formacional no receptor, de maneira
a membrana. A ligação de ligantes ao
que o domínio citosólico do receptor
domínio extracelular desses recepto-
interage com a proteína G e estimula
res induz uma mudança de conforma-
a liberação do GDP ligado à subuni-
ção que permite ao domínio citosólico
dade α e sua troca para GTP. Assim,
ligar – se a uma proteína G associa-
tanto a subunidade α ativada ligada
da com a face interna da membrana
ao GTP, quanto o complexo ẞγ inte-
plasmática. Essa interação ativa a
ragem, separadamente, com seus al-
proteína G, que, por sua vez, dissocia
vos para obter uma resposta intrace-
– se do receptor e transporta o sinal
lular. A atividade da subunidade α é
para um alvo intracelular, que pode
finalizada pela hidrólise do GTP, inati-
ser tanto uma enzima como um canal
vando a subunidade (agora ligada ao
de íons.
GDP), que se associa novamente ao
complexo ẞγ, tornando a proteína G
pronta para reiniciar o ciclo.
HORA DA REVISÃO! Relembrando os
conceitos de estrutura secundária de
uma proteína, sabemos que uma α-hé-
lice constitui uma cadeia polipeptídica
retorcida em torno de um eixo imaginá-
rio longitudinal que passa pelo centro da
hélice, com os grupos R voltados para
a face externa da hélice. Essa estrutura
otimiza o uso das ligações de hidrogê-
nio que se dispõem paralelamente ao
longo do eixo da hélice. Cada hidrogê-
nio do grupamento amino de um resíduo
de aminoácido está ligado através de
uma ligação de hidrogênio ao oxigênio
do grupamento carboxila de uma liga-
ção peptídica localizada quatro resíduos
adiante na mesma cadeia.
SINALIZAÇÃO CELULAR 18

Figuras 11 e 12. Receptores associados a proteína G. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular.
3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Quando a ativação da proteína G a produção de pequenas moléculas


medeia a regulação de um canal iô- sinalizadoras intracelulares adicionais
nico, há ativação de uma proteína Gi (segundos mensageiros). São produ-
e o componente ativo na sinalização zidas em grande quantidade quando
é o complexo, que se liga à face in- as enzimas são ativadas, e se difun-
tracelular do canal, abrindo – o para a dem rapidamente disseminando o si-
entrada ou saída de moléculas. Já na nal por toda a célula.
interação com enzimas, há consequ- As duas enzimas – alvo mais fre-
ências mais complexas, provocando quentes da proteína G são a adenilato
SINALIZAÇÃO CELULAR 19

– ciclase, enzima responsável pela


síntese do AMP cíclico, uma molécula
sinalizadora intracelular pequena, e a
fosfolipase C, responsável pela sínte-
se das pequenas moléculas sinaliza-
doras intracelulares trifosfato de ino-
sitol e diacilglicerol.

10. VIA DO AMP CÍCLICO


(CAMP)
A subunidade alfa da proteína G (Gs)
estimulada ativa a adenilil (ou adeni-
lato) – ciclase, causando um aumen-
to súbito e dramático na síntese do
cAMP a partir de ATP por uma reação
de ciclização que remove dois grupos
fosfato do substrato e reúne as ex-
tremidades “livres” do grupo fosfato
remanescente ao açúcar da molécula
de ATP. Uma segunda enzima, deno-
minada cAMP fosfodiesterase con-
verte rapidamente o cAMP em AMP
para ajudar a eliminar o sinal. O AMP
cíclico é uma molécula hidrossolúvel
que pode propagar o sinal por toda a
célula a partir de interações com pro-
teínas localizados no citosol, no nú-
cleo ou em outras organelas. Figura 13. O AMP cíclico é sintetizado pela adenila-
to – ciclase e degradado pela fosfodiesterase do AMP
cíclico. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da
Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SINALIZAÇÃO CELULAR 20

O AMP cíclico exerce vários efeitos forma de polímero). Isso é feito pela
o interagir com proteínas da célula, ativação da PKA que leva à ativação
principalmente pela ativação da en- de uma enzima que promove a de-
zima proteína – cinase dependente gradação do glicogênio e à inibição
de AMP cíclico (PKA). Normalmente, de uma que aciona a síntese dele.
ela é mantida inativa na forma de um Assim, o aumento do AMP cíclico au-
complexo com outra proteína. A liga- menta ao máximo a quantidade de
ção do cAMP estimula uma mudan- glicose disponível como combustível
ça conformacional que libera a cinase para acelerar a atividade muscular.
ativa. A PKA ativada cata-
lisa a fosforilação de ami-
noácidos de alguns grupos
proteicos, sobretudo seri-
na e treoninas específicas
em determinadas proteí-
nas intracelulares, alteran-
do, assim, suas atividades.
Muitas respostas celulares
diferentes são mediadas
pelo AMP cíclico. Dentre
os principais exemplos de
resposta, podemos citar a
ação do hormônio adrena-
lina, liberado em situações
de estresse pela glându-
la adrenal e que se liga a
receptores associados à
proteína G presentes em
muitos tipos de células.
As consequências variam
de uma célula para outra.
No músculo esquelético,
por exemplo, a adrenalina
desencadeia um aumento
na concentração intracelu-
lar de cAMP, o que causa
a degradação do glicogê- Figura 14. A adrenalina estimula a degradação do glicogênio nas células da
musculatura esquelética. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Bio-
nio (estoque de glicose na logia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SINALIZAÇÃO CELULAR 21

No caso do músculo esquelético, ve- gênica que demoram minutos ou ho-


mos um efeito rápido da ativação da ras para acontecer. Nessas respostas
cascata do cAMP. Porém, esse se- lentas, a PKA fosforila reguladores de
gundo mensageiro também pode transcrição que ativam a transcrição
envolver mudanças na expressão de genes selecionados.

Figura 15. Um aumento no AMP cíclico intracelular pode ativar a transcrição gênica. Fonte: ALBERTS, Bruce et al.
Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SINALIZAÇÃO CELULAR 22

11. VIA DE FOSFOLIPÍDEO intracelular. O IP3, um açúcar fosfo-


DE INOSITOL rilado hidrofílico, difunde – se para o
citosol e o lipídeo diacilglicerol perma-
O fosfatidilinositol 4,5 – bifosfato
nece na membrana plasmática.
(PIP2) é um componente menor da
membrana plasmática, localizado O IP3 liberado no citosol chega rapi-
em direção à camada interna da bi- damente ao retículo endoplasmático,
camada fosfolipídica. Uma variedade onde se liga aos canais de Ca2+ na
de moléculas – sinal estimula a hidró- membrana da organela, abrindo – os.
lise de PIP2 pela fosfolipase C, uma Assim, o Ca2+ armazenado dentro
reação que produz dois segundos do retículo é liberado para o citosol
mensageiros distintos, diacilglicerol por meio desses canais abertos, cau-
e inositol 1,4,5 – trifosfato (IP3). Dia- sando um aumento acentuado na
cilglicerol e IP3 estimulam vias dis- concentração citoplasmática do íon li-
tintas da cascata de sinalização, de vre, a qual, normalmente é muito bai-
modo que a hidrólise de PIP2 dispa- xa. Por sua vez, o Ca2+ sinaliza para
ra uma cascata dupla de sinalização outras proteínas.

SAIBA MAIS!
As alterações nas concentrações citosólicas de Ca2+ livre podem ser desencadeadas por
diversos tipos de estímulos, não somente por meio de receptores associados à proteína G.
Por exemplo, quando um espermatozoide fertiliza um óvulo, os canais de Ca2+ se abrem e o
aumento consequente na concentração desse íon desencadeia o início do desenvolvimento
embrionário. Já nas células musculares, o aumento do Ca2+ citosólico provocado por um es-
tímulo nervoso inicia a contração. Em muitas células secretoras, o Ca2+ desencadeia a secre-
ção. O Ca2+ desempenha todas essas funções a partir de ligações com proteínas sensíveis a
ele, influenciando suas atividades.

Já o diacilglicerol auxilia no recruta- ativa. A PKC, uma vez ativada, fosfo-


mento e na ativação de uma proteína rila um conjunto de proteínas intra-
– cinase, que se transloca do citosol celulares que variam dependendo do
para a membrana plasmática. Essa tipo celular. A PKC tem o mecanismo
enzima é denominada proteína – ci- de ação da PKA, embora a maioria
nase c (PKc) porque ela também pre- das proteínas que ela fosforila sejam
cisa ligar – se ao Ca2+ para se tornar diferentes.
SINALIZAÇÃO CELULAR 23

Figura 16. A fosfolipase C ativa duas vias de sinalização. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia
Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

Muitos dos efeitos de Ca2+ são me- capaz de se enrolar em uma ampla
diados pela proteína de ligação ao íon gama de proteínas – alvo na célula,
cálcio calmodulina que é ativada pela alterando suas atividades. Uma clas-
ligação ao Ca2+, quando sua con- se particularmente importante de
centração citosólica aumenta para alvos da calmodulina é a das proteí-
cerca de 0,5μM. O complexo Ca2+/ nas – cinases dependentes de Ca2+/
calmodulina liga – se então a uma va- calmodulina (CaM – cinases). Quando
riedade de proteínas – alvo, incluindo são ativadas, essas proteínas influen-
proteocinases. A ligação da calmodu- ciam outros processos na célula pela
lina ao íon induz uma mudança con- fosforilação de proteínas específicas.
formacional na proteína que a torna
SINALIZAÇÃO CELULAR 24

Subunidade α
Formado por sete α – Três subunidades: α
troca GDP por GTP
hélices paralelas (ligada ao GDP), β e y
e se separa

Subunidades
Proteínas G Ativação β e γ formam um
complexo

Interagem com
Hidrólise do GTP
canais iônicos ou
da subunidade α
com enzimas
Inativação
Ativação da
Associação da enzima proteína –
subunidade α ao cinase dependente
RECEPTORES complexo βγ de cAMP (PKA)
ASSOCIADOS A
PROTEÍNAS G
Estímulo a Síntese de cAMP a Liberado no citosol
Via do AMP cíclico
adenilato – ciclase partir de ATP
IP3
Abre os canais de
Ca2+ no retículo
Produção de endoplasmático
Via do Fosfolipídeo
Hidrólise da PIP2 diacilglicerol e
de Inositol (PIP2)
pela fosfolipase C IP3 (segundos
mensageiros) Permanece na
membrana
plasmática
Diacilglicerol
Ativa a proteína –
cinase c (PKc)
(depende de Ca2+)
SINALIZAÇÃO CELULAR 25

12. RECEPTORES As proteínas que formam esses re-


ASSOCIADOS A ENZIMAS ceptores têm somente um segmen-
to transmembrana, o qual se acredi-
São proteínas transmembranas em
ta que atravesse a bicamada lipídica
que o domínio citoplasmático do re-
com uma única α – hélice.
ceptor atua como uma enzima – ou
forma um complexo com outra prote- A primeira etapa na sinalização des-
ína com atividade enzimática. Foram ses receptores é a dimerização in-
descobertos em função do seu papel duzida pelo ligante, isto é, dois re-
em resposta aos “fatores de cresci- ceptores se reúnem na membrana,
mento”, proteínas – sinal que regulam formando um dímero. A dimerização
crescimento, proliferação, diferencia- leva à autofosforilação do receptor à
ção e sobrevivência das células nos medida que as cadeias polipeptídicas
tecidos animais. A maioria desses fa- dimerizadas fosforilam umas às ou-
tores funciona como mediador local tras, nos resíduos de tirosinas de suas
e pode agir em concentrações muito caudas citosólicas. Esse processo é
baixas. As respostas a elas são ge- importante para aumentar a atividade
ralmente lentas (em um período de do receptor e para criar sítios de liga-
horas) e requerem muitas etapas de ção específicos no domínio citosólico
transdução intracelular que no final dele.
produzem mudanças na expressão Com a ligação das proteínas sinaliza-
gênica. Contudo, esses receptores doras nas tirosinas fosforiladas, elas
podem mediar reconfigurações rápi- se tornam ativadas, atuando na pro-
das e diretas do citoesqueleto, con- pagação do sinal ou como adaptado-
trolando a maneira pela qual a célula ras entre o receptor e outras proteí-
altera sua forma e se move. nas sinalizadoras – formação de um
A família mais numerosa de recep- complexo de sinalização ativo. Essas
tores ligados a enzimas são os re- proteínas possuem um domínio de
ceptores tirosina – cinase, que fun- interação especializado (-SH2) que
cionam fosforilando resíduos de reconhece e se liga às tirosinas fosfo-
tirosina de seus substratos proteicos. riladas específicas.
SINALIZAÇÃO CELULAR 26

Proteína de
Membrana
sinalização
plasmática
Espaço extracelular

Domínio Citosol
da
tirosina Proteínas de
cinase sinalização
intracelular
RTKs inativos Transautofosfo-
rilação ativa os Transautofosforilação
domínio cinase gera sítios de ligação
para proteínas de Tirosinas fosforiladas
sinalização Proteínas de
sinalização
ativadas
transmitem o
sinal adiante

Figura 17. Ativação dos receptores tirosina – cinase por dimerização. Fonte: https://docplayer.com.br/10216990-Si-
nalizacao-celular-por-que-sinalizar.html

Enquanto persistem, esses comple- 13. A VIA DE RAS


xos proteicos transmitem o sinal ao
Um componente chave da sinaliza-
longo de várias rotas simultanea-
ção intracelular dos receptores tiro-
mente e dessa forma ativam e coor-
sina – cinase é a Ras, uma pequena
denam numerosas mudanças bioquí-
proteína ligada à face citoplasmática
micas necessárias para desencadear
da membrana por uma cauda lipídi-
uma resposta complexa como a pro-
ca. Praticamente todos os receptores
liferação celular. Porém, essa respos-
desse tipo ativam Ras. Ela pertence a
ta pode ser interrompida a partir da
uma grande família de proteínas liga-
ação de proteínas-tirosina-fosfatases
das ao GTP, formadas por um única
tanto no receptor quanto em outras
cadeia polipeptídica, frequentemente
proteínas sinalizadoras. Em alguns
denominadas GTPases monoméri-
casos, os receptores tirosina-cinase
cas. A Ras se assemelha à subunida-
(e o receptores associados a proteína
de α da proteína G e também funciona
G) são endocitados e destruídos por
como interruptor molecular. A intera-
digestão nos lisossomos.
ção com uma proteína sinalizadora
ativada faz com que a Ras troque seu
GDP por um GTP, tornando - se ativa.
SINALIZAÇÃO CELULAR 27

Após algum tempo, a própria Ras hi- Esse sistema de transmissão inclui
drolisa o GTP a GDP, tornando-se um módulo de três proteínas – cina-
inativa. ses chamado de módulo de sinaliza-
Em seu estado ativado, a Ras pro- ção da MAP – cinase, em homena-
move a ativação de uma cascata de gem à última cinase da cadeia que
fosforilação, na qual uma série de fosforila várias proteínas efetoras, in-
serina/treonina – cinases fosforilam cluindo determinados reguladores de
e ativam uma à outra em sequência. transcrição.

Figura 18. Ras ativa um módulo de sinalização da MAP - cinase. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Bio-
logia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SINALIZAÇÃO CELULAR 28

SAIBA MAIS!
Antes de ser descoberta em células normais, a proteína Ras foi encontrada em células cance-
rosas humanas; a mutação inativa a atividade GTPásica da Ras, de forma que a proteína não
pode se autoinativar, o que causa a proliferação celular descontrolada e o desenvolvimento
do câncer. Cerca de 30% dos cânceres humanos têm seus genes Ras com essas mutações
ativadoras e muitos cânceres que não produzem proteínas Ras mutantes têm mutações em
genes cujos produtos estão na mesma via de sinalização da Ras.

14. VIA JAK/STAT de citocinas leva ao recrutamento de


proteínas STAT, que se ligam através
Nem todos os receptores associados
de seus domínios -SH2 às fosfotirosi-
a enzimas desencadeiam cascatas de
nas nos domínios citoplasmáticos do
sinalização complexas para levar uma
receptor. Com isso, as STAT são fos-
mensagem para o núcleo. Alguns re-
foriladas por membros da família JAK
ceptores utilizam uma rota mais di-
de proteína – tirosina cinases não-re-
reta para controlar a expressão gê-
ceptores, que estão associadas com
nica, a via JAK/STAT. Os elementos
receptores de citocina. A fosforilação
– chave nessa via são as proteínas
da tirosina promove a dimerização
STAT (transdutoras de sinal e ativa-
de proteínas STAT, que translocam
doras de transcrição), uma família de
para o núcleo, onde elas estimulam a
fatores de transcrição com domínios
transcrição de seus genes – alvo.
– SH2. A estimulação de receptores

Receptores de
Citocina
citocina

Citosol

JAK Domínio SH2

Proteína reguladora
do gene STAT

STAT ativada
migra em
direção ao
núcleo
Proteínas
reguladoras de gene
ativam genes-alvo

Transcrição

Figura 19. Via de sinalização JAK – STAT ativada por citocinas. Fonte: ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da
Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017
SINALIZAÇÃO CELULAR 29

Atuam como uma


Atuam como
enzima ou forma um
mediador local
complexo com uma
enzimas

Atuam em baixas
Ativados por “fatores
concentrações
de crescimento”

Família mais
Geralmente, as numerosa
respostas são lentas
Formam – se várias
Atuam fosforilando rotas de sinalização
resíduos de tirosina simultaneamente

RECEPTORES Moléculas
Somente um
ASSOCIADOS segmento transmem- intracelulares se ligam
A ENZIMAS brana como α – hélice às fosfotirosinas

Processo de
Dimerização Autofosforilação
Receptores sinalização
tirosina – cinase
Transcrição dos
Ras → pequena proteína GTPases genes – alvo.
ligada à membrana monoméricas
Via de Ras
Promove a ativação de uma Translocação
Funciona como para o núcleo
cascata de fosforilação (módulo
interruptor molecular
de sinalização MAP – cinase)

Dimerização das
Rota direta
proteínas STAT
para o núcleo
Via JAK/STAT
Proteínas tirosina –
Citocinas estimulam Recrutamento das
cinases não receptores
os receptores proteínas STAT
fosforilam as STAT
SINALIZAÇÃO CELULAR 30

15. COMO REGULAR A • Sequestro do receptor: a ligação de


AÇÃO DOS RECEPTORES uma molécula de sinalização aos
receptores de superfície pode in-
As células e os organismos são capa-
duzir a sua endocitose e o seques-
zes de detectar a mesma porcenta-
tro temporário no endossomos;
gem de variações de um sinal em uma
escala muito ampla de intensidade do • Retrorregulação do receptor: o
estímulo em resposta a muitos tipos sequestro do receptor pode levar
de estímulos. As células – alvo conse- à destruição dos receptores nos
guem isso por meio de um processo lisossomos;
reversível de adaptação, ou dessen- • Inativação do receptor: os recep-
sibilização, pelo qual uma exposição tores podem ser inativados na su-
prolongada a um estímulo reduz a perfície da célula, por exemplo, ao
resposta celular. O mecanismo bási- serem fosforilados em curto inter-
co é de uma retroalimentação negati- valo de tempo após sua ativação;
va que opera com retardo curto: uma
resposta intensa altera a maquinaria • Inativação de proteínas
de sinalização envolvida, de forma sinalizadoras
que esta se torna menos responsiva • Produção de proteínas inibidoras
à mesma concentração do sinal.
A adaptação a uma molécula de si-
nalização pode ocorrer de várias
maneiras.
SINALIZAÇÃO CELULAR 31

SINALIZAÇÃO CELULAR

Tipos de Natureza dos Vias de


Velocidade sinalização Receptores
sinalização sinais celulares intracelular

Endócrina Respostas Respostas Moléculas Moléculas Funções Ciclos de Associados a


rápidas lentas grandes e/ou pequenas e/ou retroalimentação canais iônicos
hidrofílicas hidrofóbicas
Alterações Mudanças Transmitir Retroalimentação Retroalimentação Transmissão de
Parácrina proteicas São capazes o sinal positiva negativa
na expressão Presença de sinais através das
gênica receptores na de atravessar sinapses
superfície da a membrana
Sináptica plasmática s/ Amplificar O produto O produto inibe
célula o sinal estimula sua sua própria Ação de
Síntese proteica receptores
própria produção produção neurotrans-
Dependente missores
Ligam – se Integrar sinais Torna o
de contato a receptores Pode induzir
mudanças sistema menos
intracelulares sensível Sinal químico
permanentes ao estímulo. convertido em
Distribuir o sinal sinal elétrico

Receptores Formas de
regulação da
atividade dos
Associados a Associados a receptores
proteínas G enzimas
Sequestro do
Via do AMP Via de receptor
Proteína G – Pode regular Fosfolipídeo Atuam em Geralmente, Destaque:
heterotrimérica canais iônicos Cíclico de Inositol resposta a fatores respostas lentas receptores
(subunidades ou enzimas de crescimento tirosina – cinases Retrorregulação
α,β e γ) Produção de do receptor
Síntese de dia-cilglicerol e
cAMP a partir Atuam
IP3 fosforilando Via de Ras Via JAK/STAT
de ATP Inativação do
resíduos de receptor
tirosina
Ras→ GTPase Via direta Inativação
monomérica para o núcleo de proteínas
sinalizadoras
Módulo de
sinalização Produção
MAP – cinase de proteínas
inibidoras
SINALIZAÇÃO CELULAR 32

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
COOPER, Geoffrey M.; HAUSMAN, Robert E.. A Célula: uma abordagem molecular. Uma
Abordagem Molecular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
ALBERTS, Bruce et al. Fundamentos da Biologia Celular. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
ALBERTS, Bruce et al. Biologia Molecular da Célula. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
SINALIZAÇÃO CELULAR 33

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