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ICARO DE CARVALHO

Atenção!
Preciso da ajuda de vocês. Quem
tem foto de aniversário na época
que era criança? Aquelas fotos em
casa, com salgadinho e docinho
feito pela mãe, mesinha montada
na mesa de casa etc.

Quanto mais antiga melhor. Podem


me mandar por direct? Vou fazer
uma sequência das boas para vocês
hoje — sobre algo que sempre
gostaria de ter falado.
A sequência que eu quero deixar para
vocês é um pouquinho do que
acreditamos, da filosofia de vida que
sustenta a nossa família.

Será com uma sequência mais ou


menos assim que eu encerrarei a
minha conta, quando tiver chegado a
hora.

Eu espero que, de alguma forma, as


palavras que virão a seguir sirvam
para alguma coisa.
Tudo começou quando eu postei essa foto.
Ontem foi o aniversário da Lavínia — e ela
adorou a festinha dela. Comeu bolo, brigadeiro,
apagou as velas meia dúzia de vezes...

De repente, algo inusitado, pelo menos para a


gente, aconteceu.

As pessoas começaram a
elogiar nossa... simplicidade.

Dezenas de mensagens do
tipo: “que lindo a
simplicidade de vocês! Uma
festinha em casa tendo
tanto dinheiro!”

Depois algo um pouco


diferente aconteceu. Eu
comecei a receber algumas
mensagens assim:
E foi aí que eu pensei: “seria legal eu
compartilhar um pouquinho da nossa
crença sobre dinheiro, lá para a
audiência do Instagram”.
Certa vez, conversando com a @laranesteruk,
eu disse para ela: “de todos os presentes que
minha fé me trouxe, o mapa é o mais valioso
deles.

De alguma forma parece que as pessoas, nos


dais de hoje, quando são deixadas soltas para
decidirem o que é bom e o que é mau, se
enrolam.

A igreja te dá um norte.

Te diz exatamente as três ou quartas coisas


que você pode fazer, e todas as outras que
você deve evitar. São caminhos simples e sem
grandes novidades — caminhos que foram
trilhados por Santos, heróis, homens e
mulheres de coragem, mártires e sábios.
É difícil não dar certo”.

A primeira vez que eu ouvi falar sobre isso foi


lendo um livro do Chesterton, chamado todos
os caminhos levam à Roma.

Lá ele diz:
Nove dentre dez do que chamamos de novas
ideias são simplesmente erros antigos.

A igreja Católica tem como uma de suas


principais funções prevenir que os indivíduos
comentam esses velhos erros; de cometê-los
repetidamente, como eles fariam se deixados
livres.

A verdade sobre a atitude católica frente à


heresia, ou como alguns diriam, frente à
liberdade, pode ser mais bem expressa
utilizando-se a metáfora de um mapa.

A Igreja católica possui uma espécie de mapa da


mente que parece um labirinto, mas que é, de
fato, um guia para o labirinto.

Ele foi compilado a partir de um conhecimento


que, mesmo se considerado humano, não tem
nenhum paralelo humano.

Não há nenhum outro caso de uma instituição


inteligente e contínua que tenha pensado sobre o
pensamento por dois mil anos. Sua experiência
cobra naturalmente quase todas as experiências;
e especialmente quase todos os erros. O
resultado é um mapa no qual todas as ruas sem
saída e as estradas ruins estão claramente
marcadas, todos os caminhos que se mostram
sem valor pela melhor de todas as evidências: a
evidência daqueles que os percorreram.
Voltem o story e leiam ele de novo. Esse texto é
lindo. Foi um dos que serviram como argamassa
para a minha conversão.

Essa é a base da minha vida — como pai,


marido, filho, patrão, professor e aluno.

Os homens, se deixados completamente livres,


erram como erraram todos os outros. Já já
voltamos nisso daqui.

Nesse mapa da mente, os erros são marcados


como exceções.

A maior parte dele consiste de playgrounds e


alegres campos de caça, onde a mente pode ter
tanta liberdade quanto queira; sem se esquecer
de inúmeros campos de batalha intelectual em
que a batalha está eternamente aberta e
indefinida.

Mas o mapa definitivamente se responsabiliza


por fazer certas estradas se dirigirem ao nada ou
à destruição, a um muro ou ao precipício.
Assim, ele evita que os homens percam
repetidamente seu tempo ou suas vidas em
caminhos sabidamente fúteis ou desastrosos, e
que podem atrair viajantes novamente no
futuro.

A Igreja se faz responsável por alertar seu povo


contra eles; e disso a questão real depende.

Ela dogmaticamente defende a humanidade


de seus piores inimigos, daqueles grisalhos,
horríveis e devoradores monstros dos velhos
erros.

Bom, e o que tudo isso tem a


ver com o aniversário da
Lavínia?
Na nossa casa nós optamos por seguir esse
mapa. Por seguir os caminhos que deram certo
lá atrás — e que deram certo para pessoas reais,
perto de nós, nossas tias e tios, nossos avós,
bisavós...

E só porque alguns não conseguiram fazer dar


certo, nós não jogamos a fórmula fora. Nós não
abandonamos essas ideias porque eles
parecem difíceis de serem cumpridos. Nós não
duvidamos da existência do banco central
porque recebemos uma nota falsa de troco na
feira.

Bom, então aqui estão alguns princípios que


nós acreditamos:

1. Numa vida religiosa ativa.

2. Numa rotina paroquial, com os demais


membros da igreja.

3. No casamento até o fim da vida.

4. Numa relação Católica com o dinheiro.

5. Na criação real dos nossos filhos.


Como escritor, eu sei da importância de dois
elementos, que são construídos nas primeiras
duas décadas de vida, e que serão
fundamentais para o adulto que você se
tornará: sua cosmovisão e o seu imaginário.

Não adianta, todos nós construiremos nosso


imaginário nos primeiros anos de vida — a
questão é, que elementos você adicionará à
cabeça dos seus filhos para que eles construam
o melhor resultado possível?

Então, o que é que fazemos


como pais?

Fornecemos aos nossos filhos apenas o que foi


testado ao longo do tempo e deu certo. Simples
assim. Apenas o que foi submetido ao crivo do
tempo e venceu.

Isso é luxo, acreditamos.


Quando casamos, casamos assim. Havia ali tudo
que importava:

1. um Padre zeloso, que visita a nossa casa e


convive com a nossa família toda semana.

2. Um altar onde prometemos ao Cristo.

3. As promessas de que serão para a vida toda.

Isso basta, para nós.


Isso daqui? Não faz o menor
sentido para nós.
Há quanto tempo esse fenômeno acontece?
Que resultado está produzindo? Qual é o tipo
de casamento que está sendo gerado após toda
essa pompa?

Eu não sei a resposta, mas simplesmente não


me interessa. Seguimos o caminho que já foi
traçado.
Não temos coragem, como pais,
de submeter os nossos filhos a
esses experimentos.

De deixa-los sozinhos, em seus tablets, sendo


educados pelos vídeos que veem no Facebook,
trancafiados em casa é a hora da escola — e, na
escola, doutrinados por a geração de professores
que chegou obstinada a ensinar todo tipo de
"verdade", que nasceu há quinze minutos.

Eles não usam tablets, não têm celulares, não


veem televisão, não assistem aos vídeos do
YouTube, são ensinados desde cedo o que é certo
e errado, o que devem e não devem fazer.
Porque somos retrógados?

Porque somos preconceituosos? Não.

Porque, simplesmente, não


fizemos filhos para serem cobaias.
E os resultados já vem
aparecendo.
E o que isso tem a ver com as festinhas?

Espero que vocês já tenham percebido e


chegado às conclusões sozinhos, mas
vamos lá.
Eu não sei o que significa isso. Simplesmente eu
não sei.

Um dia antes da festa eu havia falado com a


Anna: "você já parou para pensar que a maior
parte das nossas melhores memórias da infância
existem por causa dos nossos aniversários?

Nossas mães fazendo o bolo, enrolando os


brigadeiros, fazendo coxinhas com as mãos,
montando a mesa...nossa casa cheia de primos".
Eu vou além: quantas lembranças vocês têm dos
seus primos? Dos amigos da rua? De brincar na
rua? Do esconde-esconde até tarde da noite,
quando sua mãe te chamava...dos pães com
queijo e presunto, com refrigerante sem marca,
que devorávamos antes de dormir?

Quantos primos o seu filho tem? Qual a última


vez que ele brincou na rua? A última briga que
entrou?

A última festinha, sem tempo para acabar, onde


os adultos ficavam até às onze da noite e as
crianças pulavam no caraoquê?

Festas em Buffett, para mim, são explosões de


tudo que não é natural.

Muita luz, muito papel, poses obrigadas, correria


com maquiagem e cabelo para os pais, crianças
vestidas como adultos, comida que ninguém
quer comer de verdade...e o mais triste: tem
quatro horas para acabar,

Uma festa de criança nunca deveria acabar em


quatro horas, como se acontecesse com um
script, montado por algum empresário: "hora das
fotos, agora a foto do bolo, foto com os amigos,
hora do show, partem, lembrançinha, agora tchau
ou apagamos as luzes".
Por que privar uma criança de tirar a
camisa? De tomar um banho sem
querer com a própria sprite?
Nós até fizemos uma. Mas, ao final,
olhamos um para o outro e pensamos:
“é isso mesmo que queremos?”.
Sabe qual é a melhor festa que você pode dar aos
seus filhos? Se manterem casados pra sempre.

O melhor investimento para eles: uma família unida,


repleta de irmãos.

A melhor educação financeira: tratar bem a sua


esposa, nunca deixando que ela seja humilhada por
questões financeiras.

O que vocês querem é substituir as coisas realmente


valiosas da vida por meras relações de consumo — e,
adivinhem só, não é assim que funciona. Nunca
funcionou.

Não tirem os olhos do que realmente importa, da


verdadeira vida digna. Não esqueçam do que
realmente produz crianças felizes — e não são festas
caras nem canhões de luz. Eu sei que é muito mais
difícil do que pagar Buffett, mas, acredite, vale a
pena.

A única coisa que eu quero, quando faço essas


festinhas em casa, é incutir na memória emocional
(ou seja, na cosmovisão e no imaginário) dos meus
filhos as mesmas boas lembranças que eu e a minha
esposa tivemos.

Funcionou com a gente — e, acreditem, pelo visto


está funcionando muito bem com eles.
Porque essa é a verdadeira
herança que eu deixarei para
eles: muitos banhos de
mangueira.
E foi um pouco de tudo isso, que
tentei passar na minha mensagem
final, lá no especial de natal do Brasil
Paralelo.
E para você que chegou até aqui e ainda não
concorda com nada disso, te faço um pequeno
desafio: será que a geração atual lembrará das suas
festas, em seus Buffet, com shows de personagens,
bebidas sem açúcar e salgados gourmet assados,
da mesma forma que nós?

Por que privar os nossos filhos de


algo que nos construiu e que nos fez
tão bem?
Estava aqui terminando de jantar e pensando...

Prestem atenção nessas fotos e verão quatro


grandes diferenças para as fotos dos dias de hoje:

1. Vejam quantas crianças estavam segurando


outras crianças no colo. Quantas fazem isso hoje
em dia?

2. Perceba como, antes, todos ficavam ao redor do


aniversariante na hora da foto. Hoje ele fica
sozinho, no máximo com os pais, e todo mundo do
outro lado. Nós afastamos das pessoas. É mais
sobre "eu" do que sobre todos.

3. Como o bolo diminuiu. Antes ele ocupava a


metade da mesa, as pessoas comiam fatias
enormes — e, depois, eram praticamente
"obrigadas" a levarem o que sobrou pra casa.

Hoje, uma fatia pequena pra casa e o melhor elogio


que um bolo recebe é "não é muito doce, não é
muito enjoado".

4. Como as crianças eram felizes. Fotos se


espremendo, com comida na boca, fazendo careta,
de olhos fechados...

O que é que nós fizemos com a nossa vida? O que


vocês tanto buscam hoje em dia que é tão melhor
do que era naquela época?
Conteúdo retirado do perfil:
@icaro.decarvalho

Criado por: @mirandasergio_

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