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Para viabilizar o negócio e concretizar o sonho empresarial, levantaram os custos e investiram R$ 500.000,00, sendo que
Marcos, por dispor de mais recursos financeiros, entrou com R$ 400.000,00, e os demais sócios com R$ 50.000,00 cada um. Assim, a
composição societária ficou 80% de cotas integralizadas por Marcos, 10% por Eduardo e 10% por Cristiano. Depois de três anos,
Marcos vem a falecer de infarto, em razão do consumo excessivo de carne vermelha.
Como Marcos havia contribuído com a maior parcela do investimento, ficou combinado que ficaria com a parte financeira e
administrativa da empresa, assumindo a função no contrato social de sócio-gerente. Os demais ficaram responsáveis pela parte
comercial e pelo marketing da empresa.
Como havia investido bastante, Marcos, na condição de sócio-gerente, resolveu, após realizar procedimento cirúrgico para
colocação de stents e pontes de safena, fazer a retirada integral do montante que havia no fluxo de caixa na conta da pessoa jurídica
na ordem de R$ 100.000,00, sob o argumento de que estava precisando do dinheiro para pagar o tratamento do coração.
Questionado pelos demais sócios, Marcos ressaltou que a empresa era dele e, na condição de sócio-gerente, podia fazer o que
quisesse, sem ser incomodado por quem quer que fosse, sobretudo porque, se não tivesse sido dinheiro dele, jamais a empresa
teria saído do papel.
Os sócios Eduardo e Cristiano marcaram uma reunião com o advogado João, sem a participação de Marcos, e os três
deliberam por exclui-lo da sociedade, por meio de um aditivo contratual registrado na JUCERN. Poucos dias após a sua exclusão da
empresa, é acometido por um infarto que o leva a morte, deixando mulher e três filhos adultos.
No contrato social da empresa, há previsão de que o sócio falecido será sucedido pelo filho primogênito. Os demais sócios
não aceitaram a substituição do sócio, pois o filho primogênito não tem vocação, nem formação empresarial alguma, embora deseje
ser sócio com o único intuito de se exibir como empresário e gastar o dinheiro dos dividendos, sem dar um prego na barra de sabão.
a) Este caso comportaria uma ação de dissolução parcial de sociedade? Em caso afirmativo, quem seriam as partes dessa relação
jurídica processual? Justifique a resposta em formato dissertativo.
O caso apresentado comporta ação de dissolução parcial de sociedade. Lembrando que a exclusão extrajudicial não é
legítima, pois não houve concordância entre os três sócios.
Assim, há três hipóteses de legitimidade ativa, conforme o art. 600 do CPC: i) o espólio de Marcos. ii) seus sucessores, após
concluída a partilha do espólio de Marcos e iii) a sociedade, já que os sócios não admitem a entrada do primogênito de Marcos e
esse direito estava previsto no Contrato Social.
Com relação ao polo passivo, o art. 601 e seu parágrafo único ensinam que as legitimidades são, respectivamente: nas
hipóteses i) e ii) dos sócios vivos (em litisconsórcio passivo necessário) e da sociedade, mas a sociedade não precisará ser citada se
todos os sócios o forem, e na hipótese iii) o espólio de Marcos.
b) O ato de exclusão de Marcos praticado pelos sócios Eduardo e Cristiano tem amparo jurídico-processual, devido à falta grave
cometida pelo sócio majoritário? Seria possível a concessão de alguma tutela provisória de urgência? Justifique a resposta em
formato dissertativo.
O ato de exclusão extrajudicial não tem amparo jurídico-processual, pois a exclusão extrajudicial requer a concordância de
todos os sócios, o que não se verificou no caso concreto. Caso os sócios quisessem excluir Marcos da sociedade, antes da sua morte,
o art. 1.030 do CC permite a exclusão judicial fundamentada na falta grave.
Não seria possível a concessão de nenhumas das espécies de tutela provisória de urgência (antecipada ou cautelar), pois
com o falecimento de Marcos, o patrimônio da sociedade não corre mais os riscos que as justificariam.
c) Na sentença do juiz, qual seria o marco legal para se considerar Marcos excluído da sociedade empresarial? Que critérios (balanço
de determinação e/ou fluxo de caixa descontado) seriam mais adequados para se chegar ao valor justo a título de apuração de
haveres? Justifique a resposta em formato dissertativo.
Considerando que a exclusão extrajudicial não foi legítima e aplicando a regra do art. 605 à resolução em relação a um
sócio, a data da exclusão de Marcos da sociedade é a data do falecimento.
De acordo com o caso concreto, o melhor critério para a apuração de haveres é o balanço de determinação, em que se
apura o valor patrimonial da empresa, considerando a data da resolução da sociedade em relação à Marcos, ou seja, seu
falecimento, e considerando ainda os ativos e passivos da sociedade, conforme o art. 606 do CPC.
Caso 2:
Um mês antes de morrer por complicações da Covid-19, aos 84 anos, Agnaldo Timóteo fez um testamento deixando
metade do seu patrimônio, estimado em R$ 30 milhões, para a filha Keyty Evelyn, de 14 anos.
A menina foi criada pelo cantor desde os 2 anos de idade e se tornou sua maior herdeira. Ainda de acordo com a vontade
do músico, os outros 50% dos bens terão que ser divididos entre dois afilhados (10% cada um) e dois dos seus seis irmãos (15% para
cada um deles).
Na época, Agnaldo nomeou como inventariante e também tutor da menina em sua ausência o seu advogado, Sidney Lobo
Pedroso, amigo do cantor há 45 anos. Apesar do amor que tinha pela filha, a adoção não chegou a ser formalizada enquanto o
músico ainda estava com vida. No fim do ano passado, depois de sofrer um AVC e ficar quase dois meses internado em São Paulo,
ele solicitou ao advogado que desse entrada no processo de adoção, o que ocorreu em janeiro de 2021. Em vídeo enviado por ele
ao seu advogado em 23 de dezembro de 2020, o cantor pede que Sidney Lobo legalize oficialmente Keyty como sua filha e a cita
como sua herdeira. "Dr. Sidney, essas fotos que eu mandei para você, são da minha filha, que eu adoro desde março de 2008,
quando a conheci, na porta do meu gabinete, ao lado da mãe, quando eu era vereador em São Paulo. Preciso legalizá-la para que ela
seja Keyty Evelyn Timóteo. Ela já tem um documento como minha herdeira, mas quero que ela seja minha filha oficial. Gostaria que
você providenciasse tudo. Ela é a razão da minha vida”, disse o cantor nas imagens do vídeo.
A ação da adoção corre em segredo de justiça em São Paulo, mas o Ministério Público, provisoriamente, já deu um parecer
favorável para a guarda da menina, determinando que o advogado do cantor seja o tutor de Keyty, conforme o desejo de Agnaldo
em testamento. Porém, após o falecimento do cantor, uma das irmãs beneficiadas pelo testamento (Ruthinete) o contesta pelo
favorecimento da garota, ao argumento de que ele não estaria bem de saúde quando o assinou, por sofrer de Mal de Alzheimer em
grau avançado.
a) Quem teria legitimidade ativa para promover esta demanda e como deveria ser formulado o requerimento inicial e as primeiras
declarações? Correta a decisão do juiz de sucessões que não deixou a irmã do cantor (Ruthinete) administrar os bens do falecido? O
advogado Sidney Pedroso poderia ser nomeado como inventariante? Justifique a resposta em formato dissertativo.
O art. 615 estabelece que possui legitimidade ativa para promover o inventário e a partilha quem está na posse e
administração do espólio, mas o art. 617 amplia o rol ao estabelecer legitimados concorrentes, dentre eles o herdeiro e o
testamenteiro. Assim, possuem legitimidade para promover a demanda do caso concreto a sua filha representada (ainda que o
processo de adoção não esteja finalizado), o advogado testamenteiro, seus dois irmãos e seus dois afilhados que foram beneficiados
no testamento.
O requerimento inicial não precisa cumprir os requisitos dos arts. 319 e 320 do CPC, só é necessário comunicar o óbito e
requerer a nomeação do inventariante, que prestará compromisso e fará as primeiras declarações em 20 dias, qualificando o de
cujus, listando seus patrimônios (ativo e passivo) e os herdeiros.
A decisão de manter o advogado como administrador está correta, pois a nomeação do testamenteiro está autorizada
pelos arts. 1.976 e 1.977 do CC e o ordenamento jurídico protege com especial atenção as declarações de última vontade da pessoa.
Assim, como o testador não tinha cônjuge nem herdeiros necessários (já que a adoção ainda não estava concluída) pode o advogado
ser nomeado como testamenteiro.
O advogado pode ser nomeado como inventariante pois o art. 617, V, do CPC, permite que o juiz nomeie o testamenteiro
como tal.
b) Essa discussão quanto à adoção de Keyty Evelyn poderia ser travada nos próprios autos da ação de inventário e partilha? Keyty
Evelyn poderia obter na condição de herdeira uma tutela provisória de urgência contra o espólio? Justifique a resposta em formato
dissertativo.
Qualquer necessidade de produção de provas que não seja documental deve ser travada em ação específica. Assim, o
reconhecimento de paternidade e uma possível ação de petição de herança devem correr em ação específica.
É possível a concessão de tutela provisória de urgência cautelar, para garantir o quinhão da filha menor que está em processo de
adoção.
c) A mansão na Barra da Tijuca no Rio de Janeiro, onde residia Agnaldo Timóteo, poderia ser usufruída durante o curso do inventário
e partilha por seus afilhados ou pelos dois irmãos contemplados pelo testamento? A ação de inventário poderia discutir a alegação
de nulidade do testamento por vício de consentimento ou incapacidade de praticar atos da vida civil de Agnaldo Timóteo? Justifique
a resposta em formato dissertativo.
A mansão pode ser usufruída pelos herdeiros, que são co-proprietários dos bens do espólio enquanto não concluída a
partilha.
A ação de inventário não discute questões que necessitam de produção de provas que não sejam documentais. Assim,
eventual ação anulatória deve ser proposta separadamente.