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SEBENTA DE BIOLOGIA

MOLECULAR E CELULAR
- RESUMO DO ALBERTS -

MÓDULO I.I
MÓNICA RODRIGUES
ANO LETIVO 2017+1/2019
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- PREFÁCIO -

Allô coleguinhassssss!!!!! ^.^

Bem… Não sei muito bem o que dizer nesta parte da sebenta a não ser que fui obrigada a
escrevê-la ahah Como se o facto de ter escrito as 185 páginas que a constituem já não fosse
suficientemente mau para me fazer não querer olhar mais para ela, vamos lá escrever mais
uma página que não tem utilidade nenhuma, só porque sim xD “It’ll be fun” – they said… -.-‘
Eu disse 185 páginas? :o Pois… Sim... Mas não te preocupes! As minhas 185 páginas são praí umas
100 ou menos de outras sebentas construídas a partir daqueles blocos de texto dos quais dá dó
só de olhar e pensar que temos de estudar [tipo mata-me já], porque tem IMENSAS IMENSAS
imagens. Tem praticamente todas as imagens dos capítulos recomendados do Alberts, num
tamanho razoavelmente grande para que não fiques com fadiga ocular só de tentar ler as
legendas desfocadas ;) Porque toda a gente adora ficar uns 5min só a tentar descobrir a palavra
daquela legenda, quem não? 
Esta sebenta é uma versão atualizada e um pouquinho menos confusa da Sebenta da Madeira,
mas ela não faz milagres minha gente, por isso nada de faltares às aulas da disciplina! Em
primeiro lugar porque a professora Arosa explica muito bem mesmo e em segundo lugar porque
eu vou agora pro primeiro ano, portanto ainda não tive as aulas práticas, logo não vão
encontrar pormenores importantes dessas aulas nesta sebenta. Se não fores às teóricas nem aqui
o nosso Einstein te safa ¯ \ _ (ツ) _ / ¯. Este exame é chatinho mas se fores às aulas, exercitares
esses poucos neurónios que te restaram de anatomia lendo esta sebenta e fizeres exercícios dos
anos anteriores passas com um pé atrás das costas!
Chegando lá à parte dos agradecimentos para acabar com isto, quero agradecer ao meu fofinho
Gonçalo Sá, agora no 2ºano, porque foi quem me motivou para começar e acabar isto e quem
fez a capa fofinha desta sebenta ^^ (e quem me obrigou a escrever o prefácio só para que
aparecesse nos agradecimentos) e ao meu amiguinho Rodrigo Teixeira, que vai agora para o 1º
ano de Medicina Dentária, que tirou um pouquinho do seu tempo para rever alguns capítulos.
E é isto… xD Espero que gostes destas cores e destes bonequinhos gays porque para deprimir já
basta a altura do exame, e tu não precisas de estudar num clima deprimente por uma sebenta
mais deprimente ainda.
Estuda, diverte-te também porque a vida não é só estudar, estuda mais um pouquinho e
ARRASA!

Ps.: Só para dizer que nunca mais encontram uma sebenta minha, primeira e última vez xD sabe de nada inocente. Ah! E
desculpem alguns erros de palavras repetidas, letras omitidas, erros ortográficos, etc. As vezes passa-nos ao lado. Kiss Kiss

Mónica Rodrigues SEBENTA BMC | 2018/2019


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Capítulo 5 – DNA e Cromossomas

o Sumário:
1. Estrutura e função do DNA
2. Estrutura dos cromossomas das células eucarióticas
3. Regulação da estrutura dos cromossomas

1. Estrutura e Função do DNA

Os cromossomas são constituídos tanto por proteínas (ex.: histonas e não histonas) como por DNA.

DNA  carrega a informação hereditária da célula


Proteínas  controlam e enrolam as longas moléculas de DNA

Antigamente os cientistas pensavam que o material genético seriam as proteínas e não o DNA
devido à sua simplicidade. Mais tarde, este foi reconhecido como portador da informação
genética, tendo sido a sua estrutura determinada por Watson e Crick (1953), pelo método da
difração por raios-X

1.1. Uma molécula de DNA consiste em 2 cadeiras complementares de nucleótidos

A molécula de DNA é constituída por 2 longas cadeias cadeiras de nucleótidos.

o Nucleótido: base azotada (A, T, C, G) + grupo(s) fosfato (PO43-) + pentose (açúcar de 5 carbonos)

As duas cadeias estão dispostas em hélice e ligadas pelas bases azotadas através de pontes de hidrogénio enquanto
que os nucleótidos de uma cadeia estão ligados entre si por ligações fosfodiéster (mais estáveis e, por sua vez, mais
fortes).

(A) Cada nucleótido é composto por 1


açúcar-fosfato ligado
covalentemente a uma base
azotada: adenina (A), guanina (G),
citosina (C) ou timina (T)

(B) Os nucleótidos ligam-se entre si


por ligações fosfodiéster formando
assim 1 das 2 cadeias nucleotídicas
da molécula de DNA.

(C) As duas cadeias nucleotídicas


juntam-se pelas bases através de
pontes de hidrogénio. A citosina
emparelha sempre com a guanina e
a timina com a adenina (G≡C; A=T)

(D) A molécula de DNA enrola-se sobre


si tomando a forma de uma hélice
para maior estabilidade

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Para os nucleótidos do DNA (ácido desoxirribonucleico), a pentose é uma


desoxirribose enquanto que o açúcar do RNA é uma ribose. O que as
diferencia é a presença ou ausência de um oxigénio na posição carbono 2’ da
pentose. No que toca à estrutura da molécula de DNA, as bases azotadas estão
sempre voltadas para dentro da dupla hélice fazendo com que o “esqueleto”
seja formado pelo açúcar-fosfato.

Esta conformação é favorável visto que as bases azotadas, hidrofóbicas, são protegidas
do contacto com a água. Para além disso, isto faz com que a molécula apresente uma
polaridade negativa, visto que fica revestida pelos ácidos fosfóricos (PO43-).

As ligações fosfodiéster (ligações entre nucleótidos da mesma cadeia) são sempre estabelecidas entre o grupo
fosfato (carbono 5’) e a pentose (grupo hidroxilo do carbono 3’). Ou seja, a polimerização do DNA ocorre sempre
no sentido 5’3’ (assim como a polimerização do RNA). Sendo assim, é compreensível que, numa extremidade da
cadeia teremos um fosfato e na extremidade oposta um grupo hidroxilo, o que confere à cadeia uma polaridade
química. As duas cadeias ligam-se pelas bases azotadas, mas de forma anti-paralela. Quer isto dizer que, à
extremidade 5´ de uma cadeia corresponderá a extremidade 3’ da outra (orientam-se com polaridades inversas),
permitindo assim a formação de uma dupla hélice mais estável.

A adenina e a guanina são bases púricas/purínicas/de duplo anel enquanto que a citosina e a timina são bases
pirimídicas/de anel simples. O emparelhamento de bases acontece sempre entre uma púrica e uma pirimídica. A
adenina emparelha-se sempre com a timina por 2 pontes de hidrogénio (A=T) e a citosina sempre com a guanina
por 3 pontes de hidrogénio (G≡C, ligação mais forte). Daí se retira a Regra de Chargaff:

𝑨+𝑮
≈𝟏
𝑻+𝑪

1.2. A estrutura do DNA como um mecanismo para a hereditariedade

A informação genética é hereditária pois é copiada e transmitida de geração em geração. Sendo que esta está
armazenada nos genes.

Gene  Unidade fundamental da hereditariedade. É um segmento de DNA que codifica informação que leva à
produção de uma proteína/polipéptido/péptido ou RNA não codificante – qualquer molécula de RNA que não é
traduzida em proteína, como por exemplo, RNA ribossomal e RNA de transferência. Inclui regiões que antecedem
e que sucedem a região codificante, sequências que não são traduzidas (intrões) e segmentes codificantes (exões).
São os segmentos codificantes (exões) que constituem o RNA maduro, RNA este que sofreu processamento, e que
poderão ser traduzidos. Existem, no ser humano, cerca de 25.000 genes.

Após vários estudos concluiu-se que os nucleótidos que constituem a dupla cadeia de
DNA funcionam como letras do alfabeto e que são utilizados para transmitir
informação.

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O DNA armazena informação a partir de várias sequências de nucleótidos. Ou seja, cada base – A, C, G ou T –
pode ser considerada uma letra num “alfabeto biológico”, que podem ser usadas para soletrar mensagens ou
transmitir informação pela estrutura química do DNA. São estas sequências de nucleótidos que constituirão os
genes, e os organismos diferem uns dos outros porque as suas moléculas de DNA têm diferentes sequências de
nucleótidos e, consequentemente, transmitem diferentes mensagens biológicas.

Teria sido estabelecido antes da descoberta a estrutura do DNA que os genes continham instruções para a produção
de proteínas. A função de uma proteína é determinada pela sua estrutura tridimensional, que, por sua vez, é
determinada pela sequência de aminoácidos da sua cadeia polipeptídica.

O conjunto completo de informação no DNA de um organismo é designado de genoma.

Genoma  Sequência nucleotídica completa presente nos 46 cromossomas, no caso


do Homem, 22 pares de autossomas e 1 par de heterossomas/cromossomas sexuais.
É constituído por cerca de 3.2*109 nucleótidos, sendo que apenas 1.5% a 2% da
cromatina é composta por exões e sequências reguladoras.

Sequência reguladora  Segmento de DNA onde as proteínas de união, tais como


fatores de transcrição, RNA/DNA polimerase, entre outras, se ligam
preferencialmente a fim de regular um certo gene.

Cariótipo  Disposição do genoma de um organismo organizadamente. No nosso


caso, disposição de todos os 46 cromossomas humanos.

Escrito a partir de 4 letras do alfabeto nucleótido, a sequência nucleótida de um gene muito


pequeno de humanos pode ocupar até cerca de ¼ de uma página de texto. A completa
sequência do genoma humano era capaz de preencher mais de 1000 livros iguais ao Alberts.
Por sua vez, um núcleo de uma célula eucariótica possui cerca de 5-8m de diâmetro.

2. Estrutura dos cromossomas eucarióticos

É necessária uma grande quantidade de DNA para codificar toda a informação de um ser multicelular e apenas é
possível “empacotá-la” no núcleo de uma célula por se encontrarem sobre a forma de estruturas extremamente
condensadas designadas de cromossomas.

Cromossoma  Estrutura condensada do DNA encontrando-se este associado a proteínas: histonas e proteínas
não histonas (proteínas responsáveis pela expressão génica, pela replicação e reparação do DNA). O complexo de
histonas (H2A, H2B, H3 e H4 juntamente com a H1 – histona “linker”) é responsável pela formação dos
nucleossomas, que por terem carga positiva, uma vez que são constituídas por arginina e lisina, têm grande
afinidade com o DNA. As regiões que contêm genes expressos estão menos compactadas.

 Heterocromatina: Forma mais condensada da cromatina, geralmente associada aos telómeros e


centrómeros. Resulta de uma modificação sobretudo na cauda da histona H3 que compacta genes
que não são ou são menos expressos, impedindo ou dificultando a sua transcrição. A condensação
é promovida, por exemplo, por histona-deacetilases (HDAC ou HD) – processo designado de
desacetilação
 Eucromatina: Forma descondensada da cromatina. Permite uma maior acessibilidade a proteínas e
fatores de transcrição. A descondensação é promovida, por exemplo, por histona-
acetiltransferases (HAT), que adicionam grupos acetil a resíduos de lisina – processo designado de
acetilação.

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A acetilação da lisina na terminação N das histonas remove cargas positivas, desse modo
reduzindo a afinidade entre histonas e DNA. Isto faz com que a cromatina fique menos
condensada fazendo com que a RNA polimerase e os fatores de transmissão possam mais
facilmente aceder a região propiciada. Portanto a acetilação da histona promove a transcrição
enquanto a desacetilação da histona reprime-a.

As bactérias carregam os seus genes numa única e circular molécula de DNA – o plasmídeo. Esta molécula, apesar
de mais simples, também está associada a proteínas que condensam DNA, mas que diferem daquelas que
condensam o DNA eucariótico. Porém, apesar de ser mais simples em termos de estrutura sabe-se menos acerca
da sua compactação logo o que se referir acerca de compactação de cromossomas apenas diz respeito aos
eucarióticos!

2.1. DNA eucariótico é “empacotado” sob a forma de múltiplos cromossomas

Nos eucariontes, o DNA está distribuído por vários pares de cromossomas diferentes no núcleo.

À exceção das células da linha germinativa (espermatozoides e oócitos) e das células altamente especializadas que
perdem o seu DNA (tal como as hemácias/glóbulos vermelhos), todas as outras células humanas possuem duas
cópias de cada cromossoma, uma proveniente do pai e outra da mãe. Os cromossomas do pai e da mãe do mesmo
par designam-se de cromossomas homólogos. Os únicos cromossomas não homólogos são os cromossomas sexuais
nos indivíduos do sexo masculino, onde é herdado um Y do pai e um X da mãe.

Para além dos diferentes tamanhos, os cromossomas humanos podem ser distinguidos por uma grande variedade
de técnicas. Por exemplo:

 Cada cromossoma, aleatoriamente, ou simplesmente uma sequência de genes, pode ser “pintado” com
uma cor qualquer, usando-se moléculas de DNA combinadas com um corante fluorescente. A esta técnica
dá-se o neme de “Fish”.

 Outro método mais tradicional para distinguir cromossomas é através da utilização de corantes que
marcam certos tipos de sequências. Estes corantes permitem distinguir o DNA rico em adeninas e timinas
do DNA rico em citosinas e guaninas, formando assim um padrão de bandas característico de cada
cromossoma, permitindo-nos distingui-los e identificar uma possível anormalidade.

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2.2. Cromossomas e Genes

A função predominante dos cromossomas é armazenar os genes – a unidade fundamental da hereditariedade.


Embora os genes sejam definidos como segmentos de DNA que contêm informações para a produção de proteínas,
existem genes que apenas se destinam à produção de moléculas de RNA. Como as proteínas, estes RNA’s realizam
um conjunto de funções estruturais e catalíticas na célula.

No caso do genoma humano, para além dos genes, existem ainda outros segmentos de
DNA cuja função ainda não está completamente esclarecida, estes segmentos designam-
se de “junk DNA”

Geralmente os organismos mais complexos apresentam um genoma maior. Mas atenção! Nem sempre a uma maior
complexidade genómica corresponde um ser mais complexo! Por exemplo, existem plantas cujo o genoma é 30x
maior que o nosso, mas isso não significa que elas sejam mais complexas que nós. Portanto, genomas enormes
nem sempre dão origem a seres mais complexos, não está diretamente relacionada uma coisa com a outra.

2.3. Os cromossomas e os seus diferentes estados ao longo do ciclo celular

Para que um cromossoma seja totalmente funcional, a molécula de DNA tem que fazer mais do que carregar
simplesmente os genes. Tem que ser capaz de se replicar e as cópias resultantes têm que ser repartidas
equitativamente pelas células-filha em cada divisão celular.

Este processo ocorre seguindo uma ordem de acontecimentos – o ciclo celular (capítulo 18). Neste capítulo serão
apenas abordadas duas fases do ciclo celular, nomeadamente a interfase e a mitose.

Interfase  quando os cromossomas são duplicados.


Mitose/ Fase M  quando os cromossomas duplicados são distribuídos para os núcleos de cada célula-filha.

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Durante a interfase, os cromossomas podem estar o máximo descompactados, finos e embaraçados no núcleo e,
consequentemente, não podem ser distinguidos facilmente ao microscópio. Mesmo assim, sequências de DNA
especializado encontradas em todos os eucariotas garantem que os cromossomas em interfase são capazes de
serem replicados eficientemente. A replicação tem origem numa determinada sequência de nucleótidos – a origem
de replicação.

Os cromossomas eucarióticos
contêm muitas origens de
replicação para assegurar que
o cromossoma seja todo
replicado rapidamente.
Durante a interfase, a
replicação do DNA começa
nestas origens e procede-se
bidireccionalmente ao longo
do cromossoma.

Existem 3 sequências nucleotídicas específicas


importantes para a divisão celular: as presentes nas várias
origens de replicação, nos dois telómeros e no
centrómero. Um cromossoma pode ser composto por 1
cromatídeo (neste caso será designado de cromossoma
simples) ou por dois cromatídeos-irmãos unidos por um
centrómero (designado de cromossoma duplo). Os
telómeros formam “capuchos” especiais em cada
extremidade dos cromatídeos que impedem o desgaste do
material genético.

Os telómeros podem ser vistos como um relógio biológico. Isto porque cada vez que a célula se
duplica também se duplicam os cromossomas, mas os telómeros são levemente reduzidos.
Dado que os telómeros não têm capacidade de se regenerar, a determinada altura do processo,
os cromossomas não conseguirão fazer réplicas de si mesmos e a célula fica incapaz de se voltar
a dividir.

Quando o ciclo celular atinge a fase M, o DNA condensa-se, sendo possível


visualizar os cromossomas facilmente ao microscópio. Quando atingem o estado
de máxima condensação os cromossomas são rapidamente separados entre as
células filhas. Note-se que, neste grau de condensação, os cromossomas
apresentam uma sequência específica – o centrómero – que terá um papel
importante na metafase e anafase.

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2.4. Os cromossomas da interfase ocupam diferentes territórios


dentro do núcleo

O núcleo está envolvido por 2 membranas concêntricas que juntas


darão origem ao invólucro nuclear. Este está altamente perfurado
por estruturas que transportam ativamente moléculas específicas para e do citosol – os poros nucleares. Além
disso, ainda é suportado por lâminas nucleares, uma rede de filamentos proteicos que formam uma fina camada
subjacente à membrana externa e a própria membrana interna.

Dentro do núcleo, os cromossomas interfásicos, apesar de mais longos e finos que os mitóticos,
também estão organizados de uma forma/ordem específica. Cada cromossoma tende a ocupar
uma região particular para que não haja o risco de diferentes cromossomas se enrolarem. Além
disso, regiões específicas destes cromossomas estão agarradas a certas partes do invólucro
nuclear.

O mais óbvio exemplo desta organização dentro do núcleo interfásico é o nucléolo. Aqui é onde as partes dos
diferentes cromossomas que carregam genes para a produção de RNA ribossomal ficam. RNA’s ribossomais são
assim sintetizados e combinados com proteínas a fim de formar ribossomas, as máquinas sintetizadoras de
proteínas da célula. Por curiosidade, as subunidades dos ribossomas apenas se juntam no citosol, para não haver o
risco de traduzir RNA que ainda não sofreu processamento.

2.5. Os nucleossomas são a unidade básica da estrutura dos cromossomas eucarióticos

A condensação dos cromossomas deve ser flexível o suficiente para permitir o rápido e localizado acesso sob
demanda ao DNA. As proteínas que se ligam ao DNA para formar cromossomas eucarióticos são divididas em dois
grupos:

1. Proteínas Histonas – presentes em enormes quantidades (mais de 60 milhões de diferentes tipos de


moléculas)
2. Proteínas Não Histonas

Ao conjunto formado pelas duas classes destas proteínas com o DNA nuclear dá-se o nome de cromatina.

A massa total das histonas presentes nos cromossomas é praticamente igual à própria massa do
DNA.

As histonas são responsáveis pelo primeiro e mais fundamental nível de empacotamento da cromatina, o
nucleossoma (descoberto em 1974, aprox. 20 anos após ser descoberta a estrutura helicoidal do DNA). Se a
cromatina for sujeita a tratamentos que causem o seu desdobramento parcial, é possível ver através de microscopia
eletrónica uma série de “contas numa corda”. A corda é o DNA e cada conta ou esfera é um nucleossoma.

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Nucleossoma  DNA associado a um octâmetro de histonas [(H2A, H2B, H3


e H4) x2]. Existe também a histona H1 “linker” que serve para “prender” o fio
de DNA às histonas anteriormente referidas e consequentemente aproximar
os nucleossomas, condensando a cromatina um pouquinho mais.

Estas histonas são proteínas relativamente pequenas e são constituídas


maioritariamente por arginina e lisina, o que lhes confere uma carga positiva.
O facto de terem carga positiva ajuda-as a terem uma ligação forte ao
esqueleto açúcar-fosfato de carga negativa do DNA, o que explica o porquê das
histonas se poderem ligar a qualquer sequência de DNA.

Cada histona do núcleo de um nucleossoma


possui uma longa cauda, um terminal N-
aminoácido. Estas caudas prolongam-se para fora
do nucleossoma ficando assim sujeitas a vários
tipos de modificações químicas covalentes que
controlam muitos aspetos da estrutura da
cromatina.

2.6. Existem vários níveis de condensação cromossómica

A cromatina na célula viva raramente adota


este nível de compactação de “contas num
fio”. Em vez disso, os nucleossomas são ainda
embalados uns sobre os outros para gerar
uma estrutura ainda mais compacta – a fibra
de 30 nm. Este nível irá depender da quinta
histona H1, que serve para puxar os
nucleossomas uns para perto dos outros
numa matriz repetitiva. Esta histona “linker”
muito basicamente muda o trajeto que o
DNA seguiria após dar a volta ao octâmetro
de histonas, aproximando
consequentemente os nucleossomas uns
para outros. Ainda assim, esta fibra de 30-nm
pode ser compactada ainda mais. Esta é
dobrada numa série de “loops” (espécie de
alças de uma camisola) que por sua vez são
também condensados a fim de produzir o
cromossoma interfásico. Finalmente,
acredita-se que esta cadeia compacta de
alças suba, pelo menos, mais um nível de
embalagem/condensação para formar o
cromossoma mitótico.

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3. Regulação da estrutura dos cromossomas

3.1. Mudanças na estrutura dos nucleossomas permitem o acesso ao DNA

As células eucarióticas têm diferentes maneiras de regular a estrutura local da sua cromatina rapidamente. Uma
dessas maneiras é através de “chromatin-remodeling complexes”, “máquinas” proteicas que usam a energia da
hidrólise do ATP para mudar a posição do DNA enrolado envolta dos nucleossomas, modificando assim a sua
estrutura nas proximidades dos mesmos. Este complexo descondensa a cromatina, tornando-a mais acessível a
outras proteínas. Este processo está inativo durante a mitose, o que ajuda os cromossomas mitóticos a manter a
sua estrutura extremamente condensada.

Outra maneira de alterar a estrutura da cromatina baseia-se na modificação química reversível das histonas. A
cauda das 4 histonas centrais está sujeita a modificações covalentes. Por exemplo, grupos acetil, fosfato ou metil
podem ser adicionados ou removidos do nucleossoma por enzimas que residem no núcleo – nucleases. Estas
modificações na cauda das histonas têm um pequeno efeito direto na estabilidade do nucleossoma individual, mas
algumas modificações parecem afetar diretamente a estabilidade da fibra de 30-nm e até os níveis de compactação
seguintes.

Diferentes tipos de modificações de histonas atraem diferentes proteínas que irão favorecer ou
impedir a condensação, permitindo, ou não, uma maior acessibilidade à cadeia de DNA, de
acordo com a fase do ciclo celular em que a célula se encontra.

Note-se que, específicas combinações de


modificações na cauda das histonas, juntamente
com as proteínas que se ligam a elas, podem ter
vários significados para a célula. Por exemplo, um
padrão pode indicar que um específico trecho de
cromatina foi recentemente replicado enquanto
que outro padrão indica que os genes daquele
segmento de cromatina devem ser expressos.

Como os “chromatin-remodeling complexes” as enzimas que modificam as caudas das histonas também são
firmemente reguladas. Estas são trazidas para uma região particular de cromatina através de sinais,
particularmente por interações com proteínas que se ligam a sequências específicas no DNA. As histone-modifying
enzymes e os chromatin-remodeling complexes trabalham em simultâneo.

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3.2. Durante a interfase os cromossomas possuem diferentes graus de condensação

A alteração localizada da cromatina por complexos remodeladores (chromatin-remodeling complexes) e através de


modificação das histonas tem efeitos importantes na estrutura em larga escala dos cromossomas interfásicos. A
cromatina nestes cromossomas não está uniformemente condensada. Em vez disso, regiões dos cromossomas que
contêm genes que estão a ser expressos estão ligeiramente mais descondensadas. Portanto, a estrutura detalhada
de um cromossoma interfásico pode diferir de um tipo de célula para outra, ajudando a determinar quais os genes
que devem ser expressos.

A cromatina que se encontra no seu grau máximo de condensação é denominada de


heterocromatina e corresponde a cerca de 10% de um cromossoma em interfase. Encontra-se
especialmente na região dos telómeros e no centrómero num cromossoma de um mamífero.

A formação de heterocromatina é induzida a partir de um conjunto de modificações na cauda das histonas,


incluindo a metilação da lisina na posição 9 da histona H3. Estas modificações por sua vez atraem um conjunto de
proteínas especificas responsáveis pela formação de heterocromatina, que irão induzir as mesmas modificações
nas caudas das histonas no nucleossoma seguinte e assim sucessivamente, tal como uma onda de modificações.

A maioria do DNA que está permanentemente condensado em heterocromatina na célula não


contém genes. Como a heterocromatina é tão compacta, genes que acidentalmente fiquem
compactados daquela maneira normalmente falham em se expressar corretamente, o que
pode causar doenças.

Por exemplo, nos humanos, o gene que codifica a β-globina – que faz parte da molécula de hemoglobina
responsável pelo transporte de oxigénio – está situado perto a uma região de condensação de cromatina. Se, devido
a uma eliminação herdada de DNA, essa região de heterocromatina se estender, o gene da β-hemoglobina é mal
expresso e a pessoa desenvolve uma forma severa de anemia.

A heterocromatina é, portanto, uma forma de silenciar determinados genes, como é o caso do cromossoma X nas
mulheres, que apesar de terem dois cromossomas X um deles é silenciado e condensado permanentemente desde
o desenvolvimento embrionário, pois a dupla dosagem dos produtos deste cromossoma pode ser letal.

A restante cromatina é denominada de eucromatina.

3.3. Mudanças na estrutura da cromatina podem


ser herdadas

Certos tipos de estrutura da cromatina podem ser


transmitidos de uma célula para os seus
descendentes. Por exemplo, a descendência de uma
célula na qual a cópia materna do cromossoma X
está condensada e inativa na célula-mãe, (ou seja,
apenas o cromossoma X paterno está funcional) irá
também condensar e inativar o mesmo cromossoma
X materno. Mas como será possível herdar a
estrutura da cromatina?

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Quando a célula replica o seu genoma, cada hélice do DNA da célula-filha recebe apenas metade das histonas
parentais. Com essas histonas vêm também as modificações covalentes nas suas caudas que revelam o estado que
a cromatina se encontrava naquela zona particular do cromossoma parental. Portanto, cada cromossoma-filho irá
inicialmente conter uma mistura de dois tipos de nucleossomas:

 Aqueles que contêm as histonas modificadas herdadas a partir do cromossoma parental


 Aqueles que contêm novas histonas sintetizadas, que ainda não foram modificadas

Neste ponto, as proteínas que reconhecem as histonas modificadas podem se ligar às histonas-parentais e induzir
depois as mesmas modificações nas histonas-virgens, reestabelecendo assim o padrão da estrutura da cromatina
encontrada no progenitor.

A habilidade de herdar a estrutura de cromatina ajuda as células eucarióticas a “relembrar” qual gene estava ativo
na célula parental, um processo que parece ser crítico para o estabelecimento e manutenção de diferentes tipos
de células, tecidos e órgãos durante o desenvolvimento e crescimento de um organismo multicelular complexo.
Este tipo de herança não envolve transmitir sequências específicas de DNA de uma geração celular para a outra,
mas, em vez disso, depende de passar especificamente proteínas histonas modificadas. Este é um exemplo de
herança epigenética (do grego epi-, “on”), porque é sobreposto à herança genética baseada apenas no DNA.

Em suma, a estrutura da cromatina de uma célula pode ser transmitida aos seus descendentes, produzindo uma
forma de herança epigenética que ajuda a célula a lembrar o estado da expressão génica em sua célula-mãe.

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Capítulo 6 – Replicação, Reparação e Recombinação de DNA

o Sumário:
1. Replicação de DNA
2. Reparação de DNA

1. Replicação de DNA

A capacidade da célula se conseguir manter em equilíbrio depende da precisão com que duplica o seu material
genético. Este processo designa-se de replicação e ocorre antes da divisão celular. A replicação e a correção de
erros que poderão ocorrer durante esta, garantem a sobrevivência da célula e o seu bom funcionamento.

A cada divisão celular, a célula copia o seu genoma com imensa precisão e com uma rapidez
extraordinária, cerca de 1000 nucleótidos por segundo. Ao fim de oito horas, não tem mais que
uma letra ou duas erradas. Quem disse que a pressa era inimiga da perfeição?

1.1. O emparelhamento de bases permite a replicação do DNA

No capítulo anterior vimos que cada cadeia de DNA continha uma sequência de
nucleótidos que se complementavam com os nucleótidos da cadeia homóloga.
Assim sendo, cada cadeia poderá servir como um molde para a síntese de uma
nova cadeia complementar.

Quer isto dizer que, se nós marcarmos as duas cadeias,


uma de cadeia S e outra de cadeia S’, a cadeia S poderia
servir de molde para formar uma nova cadeia S’, ou vice-
versa. Portanto, durante a replicação do DNA dá-se a
separação das suas 2 cadeias antiparalelas, que serão
usadas como moldes para produção de novas cadeias
complementares. As novas cadeias irão ser idênticas à
cadeia complementar da cadeia molde que as deu
origem. A este processo de replicação dá-se o nome de
replicação semiconservativa, visto que metade da
molécula de DNA se conserva na molécula nova.

1.2. A síntese de DNA inicia-se nas Origens de Replicação

A molécula de DNA é extremamente estável devido ao grande número de pontes de hidrogénio


que existem entre as bases das cadeias. Apenas temperaturas próximas à temperatura de água
a ferver providenciam energia termal suficiente para a desnaturação da molécula.

O processo de replicação inicia-se com proteínas iniciadoras que se ligam ao DNA e separam as duas cadeias,
quebrando as pontes de hidrogénio presentes entre as bases azotadas. Individualmente as pontes de hidrogénio
são fracas, portanto, separar um pequeno segmento de DNA – alguns pares de bases de cada vez – não requer
muita energia. Pelo que, com a ajuda destas proteínas, pode ocorrer a temperaturas normais de uma célula viva.

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Estas pequenas zonas onde o DNA é separado o suficiente para iniciar a replicação
são denominadas de origens de replicação e elas geralmente estão marcadas por
uma sequência particular de nucleótidos. Vimos no capítulo 5 que o par de bases
A=T é mais fraco que o C≡G. Assim sendo, é compreensível que as origens de
replicação estarão mais ricas em A=T que em C≡G. Estas também são ricas em
sequências de nucleótidos capazes de atrair proteínas iniciadoras.

O genoma bacteriano, contido tipicamente numa molécula circular de DNA com vários milhões
de pares de nucleótidos, tem apenas uma origem de replicação. Por sua vez o genoma humano
possui cerca de 10.000 origens, o que torna o processo muito mais rápido.

Assim que uma proteína de iniciação se liga ao DNA, na origem de replicação, abre localizadamente a dupla-hélice.
Tal ação atrai outro grupo de proteínas que realizam a replicação. Este conjunto de proteínas formam uma
“máquina”, onde cada membro do grupo realiza uma função específica.

1.3. A síntese de DNA ocorre nas Forquilhas de Replicação

Cada molécula de DNA, durante o processo de replicação, contém junções em forma de Y


denominadas de forquilhas de replicação. São nestas forquilhas que a “máquina” da
replicação se move. Duas forquilhas de replicação são formadas em cada origem de
replicação, uma de cada lado da mesma, e movem-se para lados opostos da origem, abrindo
a molécula à medida que se deslocam. As forquilhas movem-se muito rápido (cerca de 1000
nucleótidos/s nas bactérias e 100 nucleóticos/s nos humanos).

A replicação de DNA em cromossomas bacterianos e eucarióticos é, portanto, denominada de


bidirecional.

No coração da máquina de replicação encontra-se uma enzima – DNA polimerase. Esta enzima sintetiza novo DNA
usando apenas uma das “velhas” cadeias como molde e ainda catalisa a adição de novos nucleótidos à extremidade
3’ da nova cadeia em crescimento, formando uma ligação de fosfodiéster entre esta extremidade e o 5’-fosfato do
próximo nucleótido.

Os nucleótidos entram na reação


inicialmente como trifosfatos de
nucleosídeo (com 3 fosfatos), o que
providencia a energia necessária à
polimerização. O pirofosfato (PPi) é
depois hidrolisado a fosfato (Pi), o que
faz com que esta polimerização seja
efetivamente irreversível.
 Nucleótido: base + açúcar + fosfato
 Nucleosídeo: base + açúcar

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1.4. A forquilha de replicação é assimétrica

Na forquilha de replicação, uma nova cadeia de DNA é feita num molde que corre
na direção 3’5’, enquanto que outra é feita num molde que corre na direção
oposta (5’3’). A forquilha de replicação torna-se, deste modo, assimétrica.

À primeira vista, ambas as novas cadeias de DNA parecem estar a crescer na mesma direção, o que sugere que uma
cadeia estará sendo sintetizada de maneira errada, de 3’ para 5’, algo impossível para a DNA polimerase. Como
nenhuma outra enzima é capaz de o fazer desta maneira, o prolema é resolvido pela polimerase pelo uso de uma
manobra de “backstitching” (=pesponto).

Assim sendo, para que cresça no


sentido 5’3’ o DNA tem que ser
criado aos bocados – fragmentos de
Okazaki. Uma vez que a direção da
forquilha, neste caso de 3’ para 5’, tem
que ser respeitada, a única solução
encontrada foi que a DNA polimerase
teria de “andar de costas” e ir
produzindo aos poucos pequenos
segmentos 5’3’ até ao final da
forquilha. Por fim estes pequenos
segmentos descontínuos são unidos a
fim de formar uma nova cadeia de DNA
contínua.

 Cadeia lagging: cadeia de DNA


sintetizada descontinuamente
 Cadeia leading: cadeia de DNA
sintetizada continuamente

Apesar de diferirem em pequenos detalhes, as forquilhas de replicação de todas as células,


sejam elas procarióticas ou eucarióticas, têm cadeias lagging e leading. Esta característica
comum surge do facto de todas as DNA polimerases trabalharem na direção 5’3’.

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1.5. A DNA polimerase é autocorretiva

DNA polimerase é tão precisa que apenas faz um erro em cada 107 pares de nucleótidos que copia.

Apesar de A-T e C-G serem de longe os mais estáveis bases de pares, outros, menos estáveis,
como por exemplo, G-T e C-A, podem também ser formados. Estes, se não forem detetados e
corrigidos, matariam a célula devido ao grande número de mutações.

Esta catástrofe é evitada porque a DNA polimerase tem duas qualidades especiais que aumentam
significativamente a precisão da replicação do DNA.

1. É capaz de monitorizar os pares de bases entre cada nucleótido de entrada e a cadeia molde
2. Quando erra, adicionando um nucleótido errado, consegue corrigir o erro através de uma atividade
denominada de proofreading

O fenómeno de proofreading ocorre em simultâneo com a síntese do novo DNA. A polimerase, enquanto polimeriza
a cadeia, verifica se o emparelhamento de bases para trás está correto. Portanto, a DNA polimerase possui uma
capacidade de polimerização de alta precisão no sentido 5’3’, bem como uma atividade de revisão (de
proofreading) no sentido 3’5’, sendo que ambas as atividades ocorrem em diferentes domínios da molécula. Este
mecanismo de revisão é realizado por uma nuclease que cliva as ligações fosfodiéster.

A polimerase apenas consegue polimerizar a cadeia de DNA no sentido 5’3’, pois uma
hipotética polimerase que adicionasse nucleótidos no sentido 3’5’ não seria capaz de realizar
proofreading.

1.6. Pequenas cadeias de RNA atuam como Primers para a síntese de DNA

Apesar da DNA polimerase conseguir adicionar um nucleótido não quer dizer que consiga começar uma cadeia
completamente nova de DNA do zero. Uma nova enzima é precisa, uma que consiga simplesmente começar uma
nova cadeia polinucleotídica sem ser necessário ter um par emparelhado antes do novo nucleótido a adicionar.
Esta enzima, contudo, não consegue sintetizar DNA!

Em vez disso, é capaz de sintetizar RNA, com cerca de 10 nucleótidos. Esta pequena cadeia é emparelhada com a
cadeia molde e funciona como uma ajuda para que a polimerase consiga começar a sintetizar DNA.

É, portanto, um RNA primer na medida que inicia a nova cadeia de DNA e a enzima que o sintetiza é conhecida
como primase.

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A primase é um exemplo de RNA polimerase – enzima que sintetiza RNA usando DNA como molde. Uma cadeia de
RNA é muito parecida com uma única cadeia de DNA. Apenas diferem uma da outra em um nucleótido (U em vez
de T, no RNA), e no açúcar (uma ribose em vez de uma desoxirribose, no RNA). Contudo, como o U emparelha bem
com a A, o primer consegue ser sintetizado no DNA por complementaridade de bases.

 Cadeia leading: apenas é necessário 1 primer numa origem de


replicação
 Cadeia lagging: São necessários vários primers uma vez que a
cadeia de DNA é descontínua, assim sendo a polimerase começa a
polimerizar onde encontra a extremidade 3’ de um primer e continua a
alongar a nova cadeia até encontrar um novo primer de RNA.

Para juntar os diferentes fragmentos de Okazaki são necessárias 3


enzimas. A primeira remove o RNA primer (uma nuclease), a seguinte
substitui-o por DNA, usando como primer a ponta do fragmento de
Okazaki anterior (uma DNA polimerase chamada de repair polimerase) e
a outra junta os fragmentos todos num só (a DNA ligase).

1.7. As proteínas em conjunto formam uma máquina de replicação

A replicação de DNA requer a cooperação de um grande número de proteínas. O primeiro problema a enfrentar
tem a ver com o acesso aos nucleótidos, que se encontram no centro da dupla hélix.

1º. A dupla hélix tem que ser separada para que os novos nucleósidos trifosfato consigam formar pares com
cada cadeia molde.

Para este passo são necessárias 2 grupos de proteínas de replicação: DNA helicases e single-strand DNA-binding
proteins.

A DNA helicase usa a energia


proveniente da hidrólise de ATP
para se propulsionar para a
frente, separando assim a dupla
cadeia de DNA à medida que se
move.

As single-strand DNA-binding
proteins agarram-se à cadeia
exposta pela DNA helicase para
que esta não se emparelhe
consigo mesma (como o RNA de
transferência) e para que fique
o máximo esticada para que
seja um molde eficiente.

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A abertura localizada do DNA apresenta um problema. Como duas linhas enroladas, se apenas
puxarmos as pontas para as desenrolar, as linhas enovelam-se ainda mais. O mesmo acontece
com o DNA. À medida que a helicase abre o DNA ao longo da forquilha, o DNA do outro lado da
mesma enovela-se cada vez mais.

É compreensível que depois se torne impossível


para a forquilha se mover, porque à frente da
mesma o DNA fica excessivamente enrolado.

Para que tal não aconteça, as células usam


proteínas chamadas de DNA topoisomerases que
aliviam esta tensão existente para lá da forquilha.
Estas enzimas fazem “cortes” no esqueleto do DNA
que aliviam temporariamente a tensão. Elas depois
reparam o corte antes de caírem do DNA.

Existe uma outra proteína na máquina de replicação cuja função é de assegurar que a DNA polimerase não cai da
cadeia molde – as sliding clamps.

Somente por sua conta, a DNA polimerase apenas consegue sintetizar pequenas sequências de
DNA antes de cair da cadeia molde.

Estas sliding clamps formam anéis à volta da cadeia do novo DNA formado e, ao
segurarem firmemente a polimerase, permitem que a enzima se mova ao longo do
molde sem cair sempre que sintetiza novo DNA.

Por sua vez, a ligação das sliding clamps ao DNA requer atividade de outra proteína, a clamp loader. As clamp
loaders hidrolisam ATP sempre que ligam uma sliding clamp à nova cadeia de DNA. Isto processo apenas precisa de
ocorrer uma vez por ciclo na cadeia leading, e várias vezes, sempre que um novo fragmento de Okasaki é feito, na
cadeia lagging.

Máquina de Replicação (tabela):

1. DNA helicase Abre a dupla hélix de DNA


Impedem que a cadeia molde se ligue entre si e
2. Sigle-strand DNA-binding proteins
esticam-na ao máximo
3. DNA polimerase Sintetiza a nova cadeia de DNA
Ligam-se à nova cadeia de DNA e evitam que a
4. Sliding clamps
polimerase caia da cadeia molde
Hidrolisam ATP para ligarem as sliding clamps à
5. Clamp loaders
nova cadeia de DNA
6. Primase Sintetiza os primers de RNA
7. Nuclease Retira os primers de RNA da cadeia nova de DNA
8. Repair polimerase Preenche os espaços dos primers por novo DNA
9. DNA ligase Liga fragmentos de DNA
Alivia a tensão que existe para lá da forquilha de
10. DNA topoisomerase
replicação

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1.8. A telomerase replica as extremidades dos cromossomas eucarióticos

Neste campo surge-nos um sério problema: apesar da cadeia


leading conseguir ser replicada todo o caminho até à ponta do
cromossoma, a cadeia lagging não. Quando o último primer da
cadeia lagging é retirado não há maneira da polimerase o substituir
por DNA.

Se assim fosse, a cadeia lagging tornar-se-ia cada vez mais curta a


cada replicação do DNA, e, após várias divisões celulares, os
cromossomas iriam encolher e eventualmente perder informação
genética valiosa.

As bactérias resolveram este problema simplesmente por terem moléculas circulares de DNA
como cromossomas, logo não existem extremidades. Os eucarióticos resolveram-no
incorporando sequências repetitivas de nucleótidos, não importantes, nas extremidades dos
cromossomas – os telómeros.

Este DNA telomérico atrai uma enzima chamada de


telomerase. Usando um molde de RNA, que faz mesmo parte
da conformidade desta enzima, a telomerase estende a
extremidade da cadeia lagging, adicionando várias cópias da
mesma sequência curta de DNA à cadeia molde. Esta extensão
permite que a cadeia lagging seja complemente replicada.

Os telómeros formam estruturas que marcam o verdadeiro término do cromossoma. Isto


permite que a célula distinga as extremidades naturais do cromossoma daquelas que resultam
da quebra acidental de DNA

2. Reparação de DNA
A diversidade de organismos e o seu sucesso em colonizar quase toda a superfície da Terra depende de mudanças
genéticas acumuladas gradualmente ao longo de milhões de anos. Contudo, a curto prazo, e tendo em vista apenas
1 organismo, alterações genéticas podem ser prejudiciais.

Para sobreviverem e se reproduzirem, os indivíduos devem ser geneticamente estáveis. Esta estabilidade atinge-se
não só a partir de uma replicação de DNA correta, mas também a partir de uma procura e correção de erros.

Apesar de algumas mutações aparecerem devido a erros de replicação, a maioria dos erros no
DNA é uma consequência não intencional das reações químicas que ocorrem dentro de uma
célula.

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A maioria dos danos no DNA é apenas temporária visto que são imediatamente corrigidos – reparação de DNA.

Por exemplo, humanos com a doença genética xeroderma pigmentose não conseguem emendar os danos feitos
pela radiação UV, uma vez que herdaram um gene defeituoso para uma das proteínas envolvidas nesse processo
de reparo. Tais indivíduos desenvolvem lesões dermatológicas severas, incluindo cancro da pele, devido à
acumulação de erros no DNA das células que são expostas à luz solar e, de consequentes mutações que aparecem
nestas células.

2.1. Danos no DNA surgem continuamente nas células

Como qualquer outra molécula, o DNA está continuamente passando por colisões térmicas com outras moléculas,
o que muitas vezes resulta em grandes mudanças químicas nele mesmo.

Durante o tempo que leva ler esta nota, um total de cerca de um trilião (10 12) de bases púricas
(A e G) desaparecerão do DNA nas células do nosso corpo a partir de uma reação espontânea
denominada de depurinação.

A depurinação não quebra o esqueleto de DNA, apenas remove a base púrica de um nucleótido. Outra reação
comum é a perda espontânea de uma citosina para produção de um uracilo – deaminação.

A radiação UV da luz solar é também prejudicial ao DNA pois


promove a ligação covalente entre duas bases pirimidínicas
adjacentes, formando, por exemplo, o dímero de timina. É o fracasso
em reparar os dímeros de timina que resulta em problemas para os
indivíduos que sofrem de xeroderma pigmentose.

Se estes erros não forem corrigidos podem


originar DNA mutado. A nova molécula de DNA
pode surgir com um par de bases diferente ao
do DNA paternal (no caso da deaminação, se a
cadeia molde for a que tem o U em vez de uma
C), ou sem par de bases algum (no caso da
depurinação se a cadeia molde for aquela que
com uma base púrica em falta).

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Além disto tudo, alguns tipos de danos no DNA (dímeros de timina, por exemplo) conseguem parar a máquina de
replicação do DNA no sítio do erro.

2.2. A célula possui uma variedade de mecanismos de reparação de DNA

Quase todos os mecanismos de reparo do DNA dependem da estrutura do mesmo. É de ter em conta que se a
sequência de uma cadeia é danificada, a informação não é perdida fatalmente visto que se encontra uma versão
de backup – uma versão original correta – na cadeia complementar à danificada.

A maior parte dos danos criam estruturas que nunca são encontradas numa cadeia de DNA não danificada. Assim,
a cadeia saudável é facilmente distinguida da má.

O básico caminho para reparação de DNA danificado: (quase igual à retirada dos primers na replicação)

1. O DNA danificado é reconhecido e removido. Isto envolve nucleases que clivam as


ligações covalentes que ligam o nucleótido “estragado” ao resto da cadeia, deixando
um pequeno espaço na mesma.

2. Uma repair DNA polimerase liga-se à extremidade hidroxilo-3’ da cadeia cortada de


DNA para depois preencher o espaço deixado lá pela nuclease. Ela preenche o espaço
a partir de complementaridade com as bases da cadeia não danificada.

3. Uma DNA ligase liga os esqueletos dos segmentos de DNA.

Os passos 2 e 3 são praticamente os mesmos em quase todos os tipos de DNA


danificado. Contudo, o passo 1 usa uma série de diferentes enzimas consoante o dano
de DNA ocorrido (seja ele devido reações químicas, radiação, má replicação…)

2.3. A DNA Mismatch repair remove os erros de replicação que escapam ao proofreading

A célula possui um sistema de backup que se dedica a corrigir os erros que possam ocorrer na replicação do DNA
chamado de Mismatch repair.

 Taxa de erro da polimerase: 1 por 107 nucleótidos copiados.


 DNA Mismatch repair corrige 99% desses erros, aumentado a precisão geral para 1 em 109 nucleótidos
copiados.

Sempre que ocorre um erro de


cópia, fica para trás um nucleótido
mal emparelhado (ao que
chamamos de Mismatch). Se não for
corrigido, este Mismatch irá resultar
numa mutação permanente na
próxima ronda de replicação do
DNA.

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Para ser considerado efetivo, o mecanismo de Mismatch repair tem que reconhecer qual das cadeias de DNA
contém o erro, remover um segmento de DNA que contenha o erro e depois ressintetizar o DNA em falta. Ele
apenas trabalha com cadeias filhas.

O Mismatch repair representa um importante papel na prevenção da célula contra o cancro. A


predisposição genética para cancro (especialmente alguns tipos de cancro no cólon) é causada
por mutações em genes codificadores de proteínas do Mismatch repair.

Os humanos herdam duas cópias de um gene (uma de cada progenitor). Indivíduos que apenas possuem um gene
Mismatch repair danificado (uma das cópias) não são afetados até que a cópia saudável deste gene seja
aleatoriamente mutada numa célula somática. Esta célula mutada e toda a sua descendência serão deficientes no
mecanismo de Mismatch repair.

todas as células
1 cópia de um acumulação
mutação aleatória célula somática descendentes
gene mismatch extraórdinária de
na segunda cópia deficiente no mutadas e
repair mutada mutações (mais célula cancerigena
deste gene (célula mecanismo deficientes no
(célula somática rápido que em
somática mutada) mismatch repair mecanismo
saudável) células normais)
mismatch repair

Cancros apenas surgem em células não com 1 nem 2 mutações, mas com uma acumulação de
várias! Portanto, herdar um Mismatch repair gene danificado predispõe fortemente um
indivíduo a um cancro.

2.4. Quebras da dupla-cadeia de DNA requerem uma diferente estratégia para reparação

O mecanismo de Mismatch repair baseia-se muito na redundância do DNA. Se os nucleótidos forem danificados
podem ser reparados usando a informação presente na cadeia complementar. Mas e se ambas as cadeias estiverem
danificadas?

Este tipo de dano é especialmente difícil de reparar e é muito perigoso pois pode levar à fragmentação de
cromossomas e subsequente perda de genes.

Para lidar com este problema as células desenvolveram duas estratégias básicas:

A) Juntar de forma rápida as pontas dos fragmentos novamente antes que estes derivem e se percam. Nome
do mecanismo: Nonhomologous end joining
B) Como a primeira estratégia pode ser arriscada, as células têm uma alternativa que normalmente não traz
problemas. Nome desta estratégia: Recombinação homóloga (homologous recombination).

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O mecanismo (A) ocorre em muitos tipos de


células e é realizado por um grupo
espacializado de proteínas que “limpam” as
pontas fragmentadas e rejuntam-nas por
ligação do DNA. Este mecanismo rapidamente
repara o dano, mas, ao “limparem” o
fragmento, estas proteínas podem perder
facilmente alguns nucleótidos localmente, e se
este mecanismo interrompe a atividade de um
gene, a célula poderá sofrer sérias
consequências. Pelo que esta estratégia é um
tanto arriscada.

2.5. A recombinação homóloga é capaz de reparar quebras de dupla cadeia de DNA sem falhas

O problema de reparar uma fratura de dupla cadeia é encontrar um molde intacto que guie a reparação. Se a fratura
ocorrer depois de uma cadeia ter sido replicada, a célula é capaz de usar a informação correta da cadeia filha como
molde para reparar a cadeia mãe fraturada. Uma vez que estas duas moléculas de DNA são homólogas, este
mecanismo é chamado de recombinação homóloga.

(A) Este mecanismo acontece pouco tempo depois de uma


célula replicar o seu DNA, antes da divisão celular, quando as
moléculas filhas de DNA ainda estão próximas das moléculas
progenitoras.
(B) Para iniciar a replicação, uma nuclease “mastiga” as pontas
5’ das duas cadeias fraturadas.
(C) Com a ajuda de enzimas especializadas, uma das pontas 3’
invade o DNA homólogo intacto e percorre a dupla cadeia à procura
de uma sequência complementar através do emparelhamento das
bases.
(D) Quando uma extensa correspondência precisa é
encontrada, a cadeia invasora é alongada pela Repair polimerase,
usando a cadeia filha complementar como molde.
(E) Depois da Repair polimerase passar o ponto onde a fratura
ocorreu, o novo fragmento de DNA junta-se à cadeia mãe fraturada,
emparalhelhando-se com a ponta 3’
(F) Uma vez que na cadeia fraturada já existe um trecho de
DNA que possa servir de molde ao buraco na cadeia oposta, agora é
só sintetizar DNA por complementariedade de bases
(G) O DNA é por fim ligado num só.

2.6. Uma falha na reparação de danos do DNA pode causar severas consequências numa célula ou num
organismo

Se a célula não conseguir reparar DNA danificado pode originar uma mutação que pode levar a graves
consequências. Uma mudança permanente num único nucleótido pode comprometer um organismo, uma vez que
a proteína que codificar poderá funcionar muito mal ou nem funcionar de todo.

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Um exemplo disto será a doença anemia falciforme. A hemoglobina falciforme


é menos solúvel que a hemoglobina normal e forma precipitados intracelulares
fibrosos, que conferem à célula a forma de uma foice. Uma vez que estas
células são mais frágeis e rompem-se frequentemente à medida que viajam
pela corrente sanguínea, pessoas com esta doença têm menos hemácias que
as outras pessoas – são anémicos.

Sintomas:

 Fraqueza
 Tonturas
 Dores de cabeça
 Falta de ar

Ainda mais, as células anormais podem se agregar e bloquear pequenos vasos,


causando dor e falência de órgãos.

Apenas temos o conhecimento de que a anemia falciforme existe porque os indivíduos com esta
mutação sobrevivem. A mutação até fornece um benefício – uma maior resistência à malária.

O exemplo da anemia falciforme (uma doença hereditária) ilustra a importância da proteção das células
germinativas contra mutações. A mutação numa célula germinativa iria dar a origem a um organismo com todas as
células do seu corpo mutadas, incluindo as suas células germinativas responsáveis pela produção de uma próxima
geração e assim sucessivamente.

Por sua vez, mudanças nucleotídicas nas células somáticas podem originar células variadas, algumas, por
acumulações de várias mutações, crescem e se dividem descontroladamente à custa das outras, o que resulta em
cancro.

2.7. Um registo da fidelidade de replicação e de reparo de DNA é preservado no genoma

Embora a maioria das mutações não seja nem prejudicial nem benéfica a um organismo, aquelas que têm
consequências prejudiciais são geralmente eliminadas da população por meio da seleção natural – indivíduos que
carregam o DNA alterado podem morrer ou sofrer uma diminuição de fertilidade. Por outro lado, mudanças
favoráveis tendem a persistir e a se espalhar.

Humanos e chimpanzés, após certa de 5 milhões de anos de


evolução divergente, ainda têm sequências de DNA que são, pelo
menos, 98% idênticas. Até humanos e baleias, após 10 ou 20 vezes
essa quantidade de tempo, têm cromossomas que são
extremamente semelhantes na sua sequência de DNA.

Isto leva a crer que, o nosso genoma, e aquele dos nossos relativos,
contém uma mensagem de um passado distante. Graças à
fidelidade da replicação e reparação do DNA.

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Capítulo 7 – De DNA a proteínas. Como é que as células leem o genoma

o Sumário:
1. De DNA a RNA
2. Do RNA às Proteínas
3. RNA e as origens da vida

As proteínas são os principais constituintes das células e determinam não só a sua


estrutura, mas também a sua função. Cada tipo de proteína é formado por uma sequência
única de aminoácidos que ditam a estrutura e as propriedades químicas da molécula.
Quando uma proteína particular é necessária, a sequência nucleotídica do segmento
apropriado de DNA – gene – é primeiramente copiada para outro tipo de ácido nucleico
– RNA. Seguidamente, o RNA resultante é usado para direcionar a síntese da proteína.

Todas as células, desde bactérias a humanos, expressam a sua informação genética neste
sentido: DNARNAPROTEÍNA. Um princípio tão fundamental que foi denominado de dogma
central da biologia Molecular

1. Do DNA a RNA
As células copiam o DNA em RNA a partir de um processo denominado de transcrição e depois usam a informação
do RNA para fazer as proteínas, um processo denominado de tradução.

Ter em conta que:

 Todo o RNA é obtido por transcrição


 Muitas cópias de RNA podem ser feitas a partir de um único gene
 Muitas proteínas podem ser sintetizadas da mesma molécula de RNA
o Esta sucessiva amplificação faz com que a célula consiga rapidamente
sintetizar grandes ou poucas quantidades de proteínas sempre que
necessário

1.1. Genes são transcritos em RNA

Tal como o DNA, o RNA é um polímero linear composto por 4 diferentes subunidades nucleotídicas, unidas entre si
por ligações fosfodiéster.

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Principais diferenças entre:


RNA DNA
Contém uma ribose Contém uma desoxirribose
Contém 4 bases azotadas: A, G, C, U (uracilo) Contém 4 bases azotadas: A, G, C, T (timina)
É mais instável e fácil de degradar porque, para além
de ser de fita simples, apresenta um oxigénio no
Dupla cadeia e não tem oxigénio no carbono 2’
carbono 2’ o que o torna mais reativo com enzimas
degradativas.

Como a cadeia de RNA é simples, ou seja, formada apenas por uma fita, esta pode-se dobrar sobre si mesma em
várias formas tridimensionais. Isto permite alguns RNA’s tenham papéis estruturais, regulatórios ou catalíticos,
enquanto que as funções do DNA se resumem a armazenar informação apenas.

Emparelhamento
convencional

(G-C; A-U)

Emparelhamento não
convencional (G-A; C-U)

1.2. O RNA transcrito é complementar a uma cadeia de DNA

- Transcrição do RNA:

A) Uma pequena porção da cadeia de DNA é aberta para que as bases de cada
fita fiquem expostas
B) Uma destas cadeias age como um molde para a síntese de RNA
C) Ribonucleótidos são adicionados pela RNA polimerase um por um, por
complementaridade de bases. A cadeia de RNA produzida é então denominada de
RNA transcrito (RNA transcript)

Principais diferenças entre:


Transcrição de RNA Replicação de DNA
A cadeia de RNA não permanece ligada ao molde de
DNA. Em vez disso, mesmo atrás da região onde os
A cadeia fita de DNA permanece ligada por pontes de
Ribonucleótidos estão sendo adicionados, a fita
hidrogénio ao molde até ao final da replicação
desprende-se do molde e a dupla hélix de DNA
reforma-se
Apenas é copiado um gene necessário à célula =
A molécula é toda copiada= DNA’s longos
RNA’S curtos

Tal como a DNA polimerase, a RNA polimerase catalisa a formação de ligações fosfodiéster que ligam os
ribonucleótidos, formando assim o esqueleto açúcar-fosfato da cadeia do RNA.

Os ribonucleósidos trifosfato de entrada (ATP, CTP, UTP, GTP) fornecem a energia necessária à reação.

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O imediato desprendimento da molécula de RNA da cadeia de


DNA significa que muitas cópias de RNA podem ser feitas a
partir do mesmo gene num curto espaço de tempo.

A síntese do próximo RNA é usualmente começada antes da do primeiro RNA ter sido completa.

Principais diferenças entre:


RNA polimerase DNA polimerase
Usa ribonucleósidos trifosfato Usa desoxirribonucleósidos trifosfato
Consegue começar uma cadeia de RNA sem ser
necessário um primer (esta transcrição não é tão Necessita de um primer para começar uma cadeia de
rigorosa quanto a replicação de DNA pois o RNA não DNA
irá ser permanente)
Esta enzima também abre a dupla cadeia de DNA para Apenas adiciona os desoxirribonucleósidos trifosfato,
além de adicionar os ribonucleósidos trifosfato quem abre a cadeia de DNA é a helicase
Taxa de erro: 1 em cada 104 Taxa de erro: 1 em cada 107

1.3. As células produzem vários tipos de RNA

As moléculas de RNA que direcionam a síntese de proteínas são denominadas de RNA’s mensageiros (mRNAs).

Nos eucariotas, cada mRNA carrega informação transcrita de apenas um gene, que codifica uma
única proteína. Nas bactérias, um conjunto de genes adjacentes é transcrito como um único
mRNA que, por sua vez, carrega a informação para a produção de diferentes proteínas.

Contudo, existem genes que se destinam simplesmente à criação de outros RNA’s como produtos finais. Estes RNA’s
terão papéis importantes na célula (reguladores, estruturais, catalíticos), tais como:

o A tradução da mensagem genética em proteínas – RNA’s ribossomais (rRNAs) – que formam a estrutura e
o núcleo catalítico dos ribossomas
o A escolha, transporte e colocação dos corretos aminoácidos nos ribossomas – RNA’s de transferência
(tRNAs)
o A regulação da expressão genética eucariótica – micro RNA’s (miRNAs)

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Expressão genética  processo pelo qual a informação codificada no DNA é traduzida num produto que tem algum
efeito numa célula ou organismo. Quando o produto final é uma proteína a expressão genética inclui a transcrição
e a tradução. Quando o produto final é uma molécula de RNA, a expressão genética não inclui a etapa de tradução.

1.4. Sinais no DNA dizem à RNA polimerase onde começar e acabar a transcrição

Para começar a transcrição, a RNA polimerase tem que:


- ser capaz de reconhecer o início de um gene específico
- se segurar com firmeza ao DNA neste local – no local de início de transcrição (transcription start site). A maneira
como a polimerase distingue este sítio é diferente nos eucariontes das bactérias.

i. Nas bactérias:

Quando a RNA polimerase colide aleatoriamente com a molécula de DNA prende-se a esta, mas de forma fraca. A
enzima seguidamente desliza rapidamente ao longo da molécula até encontrar uma região do gene chamada de
promotor e aí trava e prende-se firmemente.

o Promotor – região de um gene que se encontra imediatamente antes do ponto de início da transcrição,
contém uma sequência específica de nucleótidos. O promotor não é transcrito para o RNA.

Uma vez agarrada firmemente ao promotor,


a RNA polimerase abre a dupla hélix
(imediatamente à frente do promotor) e
começa a sua transcrição de RNA.

A cadeia é alongada continuamente até a


enzima encontrar um local de terminação no
DNA, formado por uma sequência específica
de nucleótidos. O local de terminação é
transcrito para o RNA, dando origem à
terminação 3’ da molécula.

Nas bactérias existe uma subunidade na RNA polimerase conhecida como o fator sigma (σ). Este fator é responsável
por reconhecer o promotor. Caso não reconhecesse, a polimerase não se ligaria com força à região e
consequentemente não transcreveria o gene. Após reconhecer o promotor dissocia-se da enzima, deixando que
esta transcreva sozinha (quando a molécula de RNA é libertada, a polimerase dissocia-se e o fator sigma liga-se de
novo a ela).

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Mas como é que este fator consegue “ver” o promotor, dado que os pares de base estão
situados dentro da dupla cadeia de DNA? R: uma vez que cada base apresenta características
únicas exteriores, este fator não necessita de abrir o DNA a não ser na região de iniciação.

Como é que RNA polimerase sabe qual das duas cadeias de DNA usar como molde? Visto que cada cadeia tem uma
sequência nucleotídica diferente, o que irá produzir um diferente RNA transcrito…

A resolução a este problema assenta na estrutura do promotor. Todo o


promotor tem uma polaridade: contém duas sequencias nucleotídicas
diferentes a montante do local de iniciação da transcrição que
posicionam a polimerase e asseguram que apenas transcreve numa
única direção. Além disso, uma vez que a polimerase apenas consegue
sintetizar RNA na direção 5’3’ tem que usar como molde a cadeia de
DNA que corre no sentido 3’5’.

ii. Nos eucariotas:

A iniciação da transcrição nos eucariotas difere significativamente da dos procariontes:

 1ª diferença: enquanto as bactérias apenas têm um tipo de RNA polimerase, nos eucariotas existem três
tipos – RNA polimerase I, RNA polimerase II e a RNA polimerase III.

o RNA polimerase I e III – transcrevem genes


que codificam RNA de transferência, RNA
ribossomal e outros RNA’s
o RNA polimerase II – transcreve a grande
maioria dos genes eucarióticos, incluindo os que
codificam RNA mensageiro e micro RNA
(miRNAs)

 2ª diferença: enquanto que nos procariotas a polimerase é capaz de reconhecer o promotor e iniciar a
síntese sozinha, a polimerase dos eucariotas necessita da ajuda de proteínas acessórias: fatores de
transcrição gerais, que se aglomeram no promotor

 3ª diferença: os mecanismos que controlam o início da transcrição são muito mais elaborados (cap. 8). Isto
tem a ver com a quantidade de DNA não transcrito que existe entre os genes, porque os genes estão muito
próximos uns dos outros nos procariontes, mas estão muito afastados uns dos outros nos eucariontes e por
isso existem sequências reguladoras espalhadas pelo DNA.

 4ª diferença: A transcrição nos eucariotas tem que tomar em conta o empacotamento do DNA em
nucleossomas e outras formas compactas de cromatina.

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1.5. A RNA polimerase eucariótica requer fatores de transcrição gerais

A descoberta inicial de que, ao contrário da RNA polimerase bacteriana, a RNA polimerase II


eucariótica purificada não poderia iniciar a transcrição sozinha num tubo de ensaio levou à
descoberta e purificação dos fatores gerais de transcrição.

Os fatores de transcrição gerias têm um papel similar ao fator sigma da RNA polimerase bacteriana.

Esta imagem mostra como os fatores de transcrição aglomeram-se num promotor usado pela RNA polimerase II.
Este processo de aglomeração normalmente inicia-se com a ligação do fator de transcrição TFIID a um pequeno
trecho de DNA composto essencialmente por T e A, daí o nome de TATA box.

(A) Muitos promotores eucarióticos contêm uma sequência de DNA


denominada de TATA box

(B) A TATA box é reconhecida por uma subunidade do fator de


transcrição TFIID, denominada de TATA-binding protein (TBP). (A distorção
do DNA neste passo não está mostrada por simplicidade*.)

(C) A ligação do TFIID permite a ligação adjacente do fator TFIIB.

(D) O resto dos fatores gerais de transcrição como também a RNA


polimerase ligam-se ao promotor, formando assim um completo complexo
de iniciação da transcrição.

(E) O TFIIH separa a dupla cadeia no local de iniciação a partir da


energia da hidrólise do ATP (não mostrado na figura por simplicidade). O
TFIIH contém uma cinase como uma das suas subunidades que serve para
fosforilar a polimerase a fim de libertá-la dos fatores transcrição, para que
possa começar a transcrição. A fosforilação da molécula toma lugar na sua
cauda.

*Passo (B): O fator TFIID causa uma distorção local dramática na dupla hélice do DNA quando
se liga ao promotor, o que ajuda a servir um marco para a montagem subsequente dos outros
fatores.

Quando a RNA polimerase II termina o seu trabalho dissocia-se do DNA, os fosfatos da sua cauda são retirados por
fosfatases e a polimerase fica pronta para encontrar um novo promotor e repetir a sua função. Apenas a versão
desfosforilada da polimerase II consegue iniciar a síntese de RNA.

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1.6. Os mRNAs eucarióticos são produzidos no núcleo

Nos procariontes, o DNA bacteriano encontra-se diretamente exposto ao citosol, que contém os ribossomas, nos
quais ocorre a síntese de proteínas. Consequentemente, quando uma molécula de mRNA começa a ser sintetizada
numa bactéria, os ribossomas ligam-se imediatamente à extremidade 5’ livre do RNA transcrito e começam a
traduzi-la, enquanto a cadeia ainda está a ser polimerizada do outro lado.

Nos eucariotas, o DNA está preso dentro do núcleo. Por isso, a transcrição
ocorre dentro do núcleo, mas a tradução ocorre no citosol, onde se
encontram os ribossomas. Portanto, antes que mRNA eucariótico possa ser
traduzido, ele tem que atravessar os poros pequenos do invólucro nuclear.

Para isso, o RNA eucariótico tem de ser processado. Destes passos de


processamento fazem parte o capping, o splicing e a polyadenylation. Estes
passos tomam lugar enquanto o RNA está a ser sintetizado.

As enzimas responsáveis pelo processamento


do RNA residem na cauda da polimerase II.

Existem duas etapas de processamento que apenas acontecem naqueles RNA’s transcritos que se destinam a ser
mRNAs (chamados de pré-mRNAs)

1. RNA Capping (= boné): ocorre uma modificação na extremidade 5’ do pré-mRNA (na ponta que é sintetizada
primeiro). O “boné” adicionado consiste numa guanina ligada a um grupo metil.

2. Polyadenylation (= poliadenilação): consiste na adição de uma cauda com muitas adeninas (cauda poli-A)
ao pré-mRNA. Quando este acaba de ser transcrito, a extremidade 3’ (a última a ser sintetizada) é cortada
por uma enzima numa sequência nucleotídica particular e são-lhe adicionadas muitas adeninas por outra
enzima. Esta adição de uma cauda poli-A ocorre durante ou depois do splicing.

Estas duas modificações – Capping e Poliadenilação – aumentam a estabilidade do mRNA


eucariótico facilitando a exportação da molécula para o citosol, e marcam o RNA transcrito como
um Mrna, indicando ao ribossoma se a molécula de RNA está completa (com toda a informação)

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1.7. Os genes codificadores de proteínas eucarióticos são interrompidos por sequências não codificadoras
chamadas de intrões

Nos procariontes, a maioria das proteínas é codificada por um trecho contínuo de DNA que é transmitido num
mRNA que pode ser traduzido numa proteína sem sofrer qualquer processamento.

Nos eucariontes, a maioria dos genes codificadores de proteínas têm a sua sequência codificadora interrompida
por sequências não codificadoras longas, denominadas de intrões.

Por isso, a maioria dos RNA’s eucarióticos têm de sofrer mais uma etapa de processamento até se tornarem
funcionais: remoção dos exões.

 Intrões: Sequências não codificantes de DNA


(In de interior, ficam sempre no interior do núcleo)
 Exões/sequências expressas: Sequências codificantes de DNA – geralmente mais curtas que os intrões.
(Ex de exterior, saem do núcleo para o exterior/citosol)

1.8. Os intrões são removidos dos prés-MRNAs através do RNA splicing

o pré-mRNA Enquanto a o pré-mRNA


Os intrões e os Saída da
sofre molécula sofre
exões são molécula de molécula para
O pré-mRNA poliadenilação continua a ser poliadenilação
ambos mRNA o citosol onde
sofre capping (recebe uma transcrita o (recebe uma
transcritos em funcional será traduzida
cauda com mts pré-mRNA cauda com mts
pré- mRNA numa proteína
adeninas) sofre spliccing adeninas)

 RNA splicing: processo pelo qual os intrões do pré-mRNA são removidos e os exões são ligados uns aos
outros, dando origem ao RNA maduro.

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 Mas como é que as células distinguem os intrões dos exões?

Embora exista pouca semelhança entre os diferentes intrões, todos eles têm uma sequência quase idêntica nas
suas terminações que atua como um sinal, indicando que aquele segmento é para ser retirado da molécula de RNA
transcrito.

Assim sendo, guiado por estas sequências, o spliceossoma (máquina que realiza o splicing) corta os intrões da
molécula na forma de uma estrutura de “corda de cowboy”, formada pela reação de um nucleótido de Adenina.

Etapas do splicing:

1. A adenina que constitui o ponto de ramificação, interage com a


extremidade 5’ da sequência de intrões, quebrando a ligação neste local

2. A extremidade cortada 5’ do intrão liga-se covalentemente ao grupo 2’-OH


da ribose de adenina, formando uma estrutura ramificada

3. A extremidade livre 3’-OH do exão vai-se ligar ao início do próximo exão na


extremidade 5’. Assim forma-se uma molécula de mRNA sem intrões.

4. A sequência de intrões forma uma estrutura em forma de “lariat/corda de


cowboy” que vai ser depois degradada

O splicing de RNA é realizado em grande parte por outras moléculas de RNA – small nuclear
RNAs (snRNAs) – em vez de proteínas.

Os small nuclear RNAs são associados a outras proteínas formando small nuclear ribonucleoproteins (snRNPs
pronuncia-se “snurps”).

Os snRNPs fazem parte do centro do spliceossoma


e reconhecem as sequências que indicam onde
cortar o pré-mRNA através de emparelhamento das
bases do RNA transcrito e do seu próprio RNA,
removendo-as e lingando covalentemente os
exões.

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 Benefícios importantes deste arranjo intrão-exão:

1. Os genes transcritos podem sofrer vários


tipos de splicing e assim produzir diferentes tipos de
proteínas – splicing alternativo – o que permite que
diferentes proteínas possam ser produzidas a partir
do mesmo gene, o que aumenta o já enorme
potencial de codificação dos seus genomas.
2. Está na origem da variação genética pois a
existência de intrões facilita a recombinação génica
entre os exões de diferentes genes

1.9. Apenas os mRNAs maduros (= corretamente processados) são exportados do núcleo

O transporte de mRNA do núcleo para o citosol é altamente seletivo: apenas os mRNAs


corretamente processados são exportados, os restantes são degradados.

Este transporte seletivo é mediado pelos complexos dos poros nucleares, que ligam o nucleoplasma ao citosol e
agem como portões que controlam quais macromoléculas podem, ou não, sair, ou entrar, no núcleo.

Mas como é que a célula distingue quais as moléculas corretamente processadas das outras?

Para estar pronta a ser exportada, uma molécula de mRNA tem que estar ligada a um conjunto específico de
proteínas, que reconhecem as diferentes partes de um mRNA maduro sinalizando que aquela molécula foi
corretamente processada. Este conjunto de proteínas inclui:

 Proteínas de ligação à poli-A (poly-A-binding proteins)


 Complexos de ligação Cap (Cap binding complexes)
 Proteínas que se ligam aos mRNAs que sofrerem um splicing correto

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1.10. As moléculas de mRNA são eventualmente degradadas no citosol

Uma vez que uma única molécula de mRNA pode ser traduzida em várias proteínas, a quantidade de tempo que
esse RNA ficar na célula irá afetar a quantidade de proteínas que serão produzidas. Por essa razão, cada mRNA é
eventualmente degradado em nucleótidos por ribonucleases (RNAses).

O tempo de vida dos mRNAs difere de uns para os outros, dependendo da sua sequência nucleotídica e da
importância da proteína que ele traduz para a célula. Normalmente, o tempo de vida destas moléculas nos
procariontes (3min) dura muito menos que nos eucariontes (até 10h).

Esta diferença de tempos de vida é controlada por uma sequência do próprio mRNA, situada numa porção
denominada de região 3’ não traduzida (3’ untranslated region), que fica entre a extremidade final 3’ da molécula
e a cauda poli-A.

Quando a célula precisa de grandes quantidades de uma certa proteína ela faz mRNAs com um
tempo de vida longo, os de tempo de vida curto são usados para sintetizar proteínas em
pequenas quantidades e proteínas cujas quantidades se alteram rapidamente conforme os
estímulos.

1.11. As células ancestrais provavelmente tinham intrões nos seus genomas

O processo da transcrição é universal: todas as células usam uma RNA polimerase para a transcrição e pares de
bases complementares.

No entanto, nos eucarióticos existe splicing, devido à existência de intrões, ao passo que nos procarióticos este
processo não existe. Como se explica que os eucarióticos possuam intrões e os procarióticos não?

2 hipóteses:

1- A célula ancestral dos procariotas e


eucariotas possuía intrões, no
entanto, com a evolução, os
procariotas perderam os intrões e
adquiriram um DNA mais simples
que lhes conferia uma capacidade
de replicação mais eficaz e rápida.
o A apoiar esta teoria estão os
eucariotas simples (ex.:
leveduras), que se
reproduzem rapidamente e
têm um DNA simples, com
menos e menores intrões
que os eucarióticos mais
complexos
2- Um ancestral eucariota foi infetado por parasitas que introduziram elementos genéticos móveis no
organismo colonizado, sendo estes elementos genéticos depois incorporados no genoma do ancestral
eucariota. Esta célula hospedeira então replicou as sequências nucleotídicas “clandestinas” juntamente
com o seu próprio DNA. Os eucariotas modernos simplesmente nunca se preocuparam em varrer a
desordem genética deixada daquela antiga infeção. (esta hipótese não parece ser muito aceite pelos
cientistas)

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E assim este tópico sobre se os intrões evoluíram cedo e foram perdidos em procariontes, ou se evoluíram mais
tarde em eucariontes é ainda um tópico em debate.

2. Do RNA às Proteínas
2.1. A sequência de um mRNA é descodificada em conjuntos de 3 nucleótidos

Em 1961, foi descoberto que a sequência de nucleótidos do mRNA é lida em grupos de 3. As


sequências de 3 nucleótidos chamam-se codões.

Visto que existem apenas 4 diferentes nucleótidos no mRNA, mas 20 tipos diferentes de amino ácidos nas proteínas,
o processo de tradução não pode ser feito através da correspondência de 1 nucleótido com 1 aminoácido. Por isso
existem regras, a coisa não é tão linear como é na transcrição.

o Código genético  Regras pelas quais a sequência nucleotídica de um gene, através de uma molécula de
mRNA intermediária, é traduzida numa sequência de aminoácidos (aa) de uma proteína.

A única forma de obtermos 20 aminoácidos a partir de 4 nucleótidos é através da codificação de 3 nucleótidos pois
4*4*4=64. No entanto, não temos 64 aa. Como é que se explica isto?

4 < 20
4*4 = 16 < 20
4*4*4= 64 > 20

 Isto é possível porque o código genético é redundante, isto é, o mesmo aa pode ser obtido por mais do que
um codão.

Não baralhar!

 1 codão codifica apenas 1 aminoácido, por exemplo, o codão AAA apenas codifica a Lys (lisina)
 1 aminoácido pode ser codificado por vários codões, por exemplo, a Lys (lisina) pode ser codificada pelo
codão AAA e AAG

Concluindo, podemos dizer que o código genético é:

 Específico: um codão sempre codificará o mesmo aminoácido


 Universal: todos os seres vivos utilizam o mesmo código genético para codificar os aminoácidos (exceto
pequenas diferenças no RNA das mitocôndrias, alguns fungi e protozoários)
 Redundante: um aminoácido pode ser codificado por diferentes codões

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As mitocôndrias têm o seu próprio DNA, com a sua própria maquinaria de replicação, transcrição
e tradução. Elas operam de forma independente do resto da célula

Em princípio, uma molécula de mRNA pode ser traduzida em 3 diferentes


proteínas, dependendo de onde o processo de descodificação começa:

Contudo apenas uma destas possibilidades está correta, porque existe um codão
na molécula de mRNA que sinaliza onde a tradução se deve iniciar. – Codão de
iniciação.

2.2. As moléculas de tRNA combinam os aminoácidos com os codões do mRNA

Os codões do mRNA não reconhecem nem se ligam diretamente ao seu a.a. Para isso existem moléculas
adaptadoras que reconhecem e ligam-se a um codão numa ponta e a um a.a. noutra – os RNAs de transferência
(tRNA).

 A molécula de tRNA é capaz de emparelhar com alguns nucleótidos


complementares da própria molécula, originando uma molécula em
forma de trevo. A forma mantém-se por se terem estabelecido ligações
de hidrogénio nesses locais.
 A molécula de tRNA apresenta uma zona onde não há
emparelhamento entre si mesma: o anticodão – sequência de 3
nucleótidos complementar a um determinado codão do mRNA
 Na extremidade 3’ do tRNA, que é de cadeia simples, liga-se o a.a.
codificado pelo codão que se ligará ao anticodão da molécula de tRNA
 A redundância do código genético implica que haja mais do que um
tRNA para um a.a. ou que um tRNA seja capaz de emparelhar com
diferentes codões. Esta última opção é possível porque alguns tRNAs são
contruídos de forma que exijam emparelhamento de bases preciso
apenas nas duas primeiras posições do anticodão, tolerando um
Mismatch/desajuste na terceira posição.

Esta “tolerância” no emparelhamento de bases anticodão-codão explica como tantos codões


alternativos para um a.a. apenas diferem no seu último nucleótido.

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2.3. Enzimas específicas ligam o tRNA ao correto aminoácido

Para que os tRNAs consigam se ligar a um codão têm primeiro que estar ligados ao correto aminoácido. O
reconhecimento e ligação covalente do correto aminoácido depende de enzimas – aminoacil-tRNA sintetases.

Cada aminoácido possui a sua sintetase, isto significa que existem ao todo 20 sintetases. Por exemplo, uma
reconhece os tRNAs que se ligam à glicina e liga uma glicina a eles, outra reconhece os tRNAs que se ligam à
fenilalanina e liga fenilalaninas a essas moléculas…

As sintetases sabem que devem adicionar certos a.a. a um tRNA a partir dos nucleótidos do seu
anticodão e dos do seu local de ligação ao a.a.

A reação catalisada pela sintetase é uma reação que necessita de energia, por isso ocorre a hidrólise de ATP a AMP
na ligação entre a cadeia simples 3’ do tRNA e o seu aminoácido respetivo. A energia desta ponte aa-tRNA é depois
usada para ligar covalentemente o aminoácido à cadeia da proteína em preparo.

2.4. A mensagem do mRNA é descodificada nos ribossomas

Ribossoma  complexo que se move ao longo do mRNA feito


a partir de proteínas (proteínas ribossomais) e várias moléculas
de RNA (rRNA – RNA ribossomal)

 Função  Traduzir o mRNA: capturar e segurar os


tRNAs em posição e ligar covalentemente os a.a. entre
si.
 Constituição  Composto por 2 subunidades: uma
grande subunidade e uma pequena. A subunidade
pequena do ribossoma combina os tRNAs com os
codões do mRNA. A grande subunidade é responsável
por catalisar a formação das ligações peptídicas entre
os a.a.

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As subunidades do ribossoma ligam-se ao mRNA, iniciando a tradução no sentido 5’3’. O mRNA é puxado ao
longo do ribossoma e, à medida que a molécula se move, o ribossoma vai realizando a tradução dos codões em a.a.
No final, as duas subunidades do ribossoma voltam a separar-se.

As subunidades dos ribossomas são formadas no nucléolo, mas elas apenas se juntam no
citoplasma para que a célula não corra o risco de traduzir RNA que ainda não foi ou que foi mal
processado.

Os ribossomas apresentam um centro ativo para a ligação ribossoma-mRNA e 3 centros ativos para a ligação
ribossoma-tRNA, o centro/sítio A, o P e o E.

 Centro A = Centro Aminoacil, onde chega


o tRNA com o aminoácido
 Centro P = Centro Peptidil, onde são
formadas as ligações peptídicas
 Centro E = Centro Exit, para a saída do
aminoácido

1. Para adicionar um aminoácido à cadeia polipeptídica, o apropriado Trna (carregado com o seu a.a.) entra
no ribossoma pelo centro A (através de complementaridade de bases anticodão tRNA-codão mRNA).
2. O ribossoma avança, o tRNA-aa avança um centro ativo, e é ligado à cadeia polipeptídica no centro P. Neste
passo já está outro tRNA-aa no centro A.
3. Por último, o ribossoma continua a avançar no mRNA “empurrando” o tRNA com o a.a. para o centro E,
mesmo antes de o ejetar (aí o tRNA separa-se do a.a. já ligado à cadeia).

Estes 3 passos são repetidos à medida que o mRNA é puxado pelo ribossoma até que um codão Stop seja
encontrado na molécula.

A proteína cresce da sua extremidade amino para a sua


extremidade carboxilo.

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2.5. O ribossoma é uma ribozima

Em contraste do posicionamento do rRNA, as proteínas ribossomais estão à superfície do ribossoma, preenchendo


os espaços e as fendas do rRNA dobrado. Acredita-se que o seu papel seja apenas de dobrar e estabilizar o núcleo
do RNA, permitindo mudanças na sua conformação, para que o RNA consiga catalisar a síntese de proteínas, pois
situam-se muito longe dos centros ativos do ribossoma para serem elas as catalisadoras.

 Os RNAs com atividade catalítica são ribozimas. Portanto, um ribossoma é uma ribozima.

2.6. Codões no mRNA sinalizam onde começa e onde acaba a tradução

A tradução de um mRNA começa com um CODÃO AUG e um tRNA iniciador que carrega SEMPRE A METIONINA
(ou formas modificadas de metionina, como acontece nas bactérias).

Portanto, todas as proteínas “acabadinhas de sair do forno” têm a metionina como seu primeiro
aminoácido, na sua extremidade amino. Esta metionina é normalmente removida mais tarde por
uma protease.

Tradução nos eucarióticos:

1. O tRNA de iniciação de metionina é posto no centro P da


subunidade menor juntamente com fatores de iniciação da
tradução.
o O tRNA de iniciação de metionina é distinguido do tRNA
comum de metionina. Apenas o tRNA de iniciação é capaz
de se ligar à pequena subunidade sem que esteja ligada à
grande subunidade

2. A pequena subunidade do ribossoma + tRNA de iniciação ligam-se


à extremidade 5’ do mRNA, que é marcada pelo “capuz”.

3. A pequena subunidade move-se pelo mRNA à procura de um


AUG

4. Quando o codão AUG é reconhecido pelo tRNA de iniciação, o


fatores de iniciação da tradução dissociam-se da pequena
subunidade para haver espaço para a grande subunidade se ligar
a esta.

5. O próximo tRNA com o seu aminoácido liga-se ao centro A e a


tradução continua.

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Tradução nos procariontes:

O mecanismo de tradução é diferente porque:

 o mRNA de uma bactéria não possui aquele “capuz” que indica a sua extremidade 5’. Em vez disso, têm
sequências específicas de nucleótidos localizadas antes dos AUGs, é aí que a tradução começa. Isto permite que o
ribossoma consiga se ligar a qualquer codão do mRNA, desde que exista esta sequência antes dele (isto faz com
que o próximo ponto seja possível)
 o mRNA de um procariótico é policistrónico – isto é, eles codificam várias proteínas diferentes, cada uma das
quais é traduzida da mesma molécula de mRNA. O dos eucariotas é monocistrónico.

Ambas as moléculas de RNA, tanto em procariotas como eu eucariotas, apresentam uma sequência de finalização
– um codão STOP: UAA, UAG e UGA. Estes codões não são reconhecidos por nenhum tRNA, portanto não
codificam para nenhum a.a.

Os codões STOP servem de sinal para os ribossomas pararem a tradução. Neles estão aglomerados fatores de
libertação, que, ao se ligarem ao centro ativo A do ribossoma, alteram a atividade da Peptidil-transferase,
causando a catalisação da adição de uma molécula de água em vez de um a.a. ao tRNA Peptidil.

 Peptidil-transferase: enzima responsável pela catalisação da reação de formação da ligação peptídica


entre 2 a.a.
 tRNA Peptidil: tRNA que está ligado ao centro ativo P

O única coisa que segura a cadeia polipeptídica em crescimento ao ribossoma é a ligação do tRNA
Peptidil-aminoácido.

A molécula de água liberta a extremidade carboxilo da molécula de tRNA. Como consequência, não há nenhuma
ligação que segure o péptido ao ribossoma e este é libertado, juntamente com o mRNA e as duas subunidades do
ribossoma.

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2.7. Proteínas são feitas em polirribossomas/polissomas

Múltiplos ribossomas geralmente se ligam a uma única molécula de mRNA formando um polissoma ou
polirribossoma. Isto proporciona uma síntese rápida de um conjunto de proteínas iguais a partir de um único mRNA.

Nas bactérias a síntese de proteínas a partir dos polissomas é muito mais rápida porque, como o
mRNA não é processado, assim que ele está a ser sintetizado, a tradução já se inicia. Os ribossomas
acompanham assim a RNA polimerase.

2.8. Inibidores da síntese proteica procariótica são usados como antibióticos

Existem diferenças subtis na maneira que os eucarióticos produzem RNA e proteínas dos procarióticos. A medicina
moderna teve isto em conta e muitos dos nossos antibióticos são compostos que atuam inibindo a síntese de RNA
e proteínas procariotas, mas não a síntese proteica eucariota.

Estes compostos podem então ser tomados em doses suficientemente altas para dar cabo de bactérias, mas sem
serem tóxicos para o nosso corpo.

Os fungos são eucariotas, tal como nós. Neste sentido, as toxinas usadas pelos fungos para matar
bactérias podem ser usadas por nós para matar as nossas bactérias, sem que sejamos afetados
pelas toxinas. Isto é seguro porque estas toxinas não afetam os eucariontes, só os procariontes.

2.9. A desnaturação controlada de proteínas ajuda a célula a regular a quantidade de cada proteína

Depois de uma proteína sair do ribossoma, a célula consegue controlar a sua atividade e longevidade de várias
formas. Uma célula consegue controlar a quantidade certa de proteínas a partir:
- Da quantidade de síntese
- Dos seus tempos de vida

Portanto, quando uma célula está com muitas proteínas ou com proteínas danificadas ou deformadas, desnaturá-
las em aminoácidos é uma boa opção para regular os seus números.

A acumulação de proteínas deformadas é responsável pela danificação de células e tecidos e até


mesmo pela morte celular. Doenças causadas por acumulação de proteínas deformadas são:
Alzheimer, Huntington…

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Termos a saber:

 Proteólise – processo pelo qual a célula desnatura enzimaticamente uma proteína em aminoácidos
 Proteases – enzimas que degradam as proteínas primeiro em pequenos péptidos e depois em aminoácidos,
cortando os ligações peptídicas (hidrolisando-as)
 Proteossoma – Complexo proteico onde as proteínas são degradadas. Esta máquina está presente tanto no
citoplasma como no núcleo da célula

O Proteossoma é composto por Proteases no seu centro e por complexos proteicos nas
suas extremidades. É responsável pela desnaturação de proteínas com recurso à
hidrólise de ATP.

Mas como é que os proteossomas selecionam as proteínas que devem degradar?

Nos eucariontes, os proteossomas atuam primeiramente nas proteínas que foram “marcadas/sinaladas” para
destruição a partir de uma ligação covalente com a ubiquitina. Estas proteínas ubiquitinadas são então
reconhecidas e desdobradas pelas extremidades proteicas do Proteossoma e destruídas no seu centro pelas
Proteases.
[O proteossoma também pode ser chamado de sistema proteolítico ubiquitino-dependente.]

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3. RNA e as Origens da Vida (tudo teorias)


O RNA é a única molécula de se autocatalisar, isto é, de catalisar reações que levem à sua própria síntese.

O RNA é, por ser capaz de se autocatalisar e de armazenar informação genética, a molécula que ocupa o papel
central na origem da vida.

O DNA origina proteínas, mas necessita de proteínas para originar proteínas. Como se explica a síntese de proteínas
a partir do DNA, se ainda não havia proteínas que guiassem a sua obtenção primeiro?

 A resposta a é: antes do DNA, o que estava nas células era RNA. Este tinha a capacidade de, a partir de
ribozimas (moléculas de RNA com atividade catalisadora), catalisar reações que estariam na origem de
proteínas.

3.1. O RNA surgiu primeiro que o DNA

As células ancestrais tinham a sua informação genética armazenada em RNA em vez de DNA

- Como se chegou a esta conclusão?

 A ribose é facilmente obtida a partir de formaldeído. Por sua vez, na terra primitiva, o formaldeído era um
composto muito comum.
 A desoxirribose não é facilmente obtida de formaldeído, mas sim de uma reação, catalisada por proteínas
(enzimas) que permitem a obtenção de desoxirribose, a partir da ribose.
 O DNA necessita de proteínas para sintetizar proteínas…

- Então porque é que o DNA tomou o seu lugar?

 o DNA surgiu mais tarde e permaneceu nas células por ser capaz de
armazenar informação genética de forma permanente, dado que as suas
ligações desoxirribose-fosfato lhe conferem maior estabilidade e como tal,
maior resistência à quebra.
 A estrutura em dupla hélice e o uso de timina em vez de uracilo reforça a
estabilidade e torna a molécula mais fácil de reparar.
 A deaminação é mais fácil de detetar e reparar no DNA do que no RNA, isto
porque o produto da deaminação da citosina é o uracilo, que existe
naturalmente no RNA, logo uma deaminação no RNA vai se tornar impossível
de detetar para as enzimas de reparação.

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Capítulo 8 – Controlo da Expressão Génica

o Sumário:
1. Expressão génica – Vista geral
2. Controlo a nível da transcrição
3. Os mecanismos moleculares criadores dos vários tipos de células
4. Controlos pós-transcricionais

1. Expressão génica – vista geral


As diferenças entre uma célula nervosa que processa informação e um glóbulo branco
que combate a infeção são tremendas, é difícil de imaginar que estas 2 células contêm
o mesmo DNA. Mas como podem ser tão diferentes então?

 As células têm a capacidade de selecionar apenas os genes que querem que


sejam expressos, sem alterar os seus genomas – a este processo chamamos
de expressão génica. Assim sendo, a expressão génica é o processo pelo qual
a célula direciona a síntese de proteína e RNAs, mas de forma seletiva.

As diferenças entre um neurónio, um glóbulo branco, uma célula β do pâncreas ou um


eritrócito dependem do controlo da expressão génica. Note-se que todas as células
possuem o mesmo conjunto de genes.

Uma célula diferenciada expressa cerca de metade dos genes do seu genoma total. A
diferenciação ocorre porque as células fazem e acumulam diferentes conjuntos de RNAs e
proteínas.

1.1. Os diferentes tipos de células de um organismo têm o mesmo DNA

Como é que sabemos que as células não perdem os genes que não utilizam?

R: Experimentos onde o genoma de uma célula diferenciada foi usado para direcionar o desenvolvimento de um
organismo completo são a prova de como as células não perdem o seu genoma quando se diferenciam. Caso
perdessem, este feito seria impossível, portanto as modificações nos cromossomas das células diferencias não são
irreversíveis.

o Exemplo de um experimento destes:

Retirou-se o núcleo de uma célula da pele de um sapo adulto e injetou-se num ovo anucleado, ao fim de alguns
casos, o ovo manipulado se transformou num girino. O mesmo feito foi atingido quando usaram cenouras e vacas
num experimento parecido.

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1.2. Diferentes tipos celulares produzem diferentes conjuntos de proteínas

Quando foi realizada uma eletroforese às células do fígado, coração e cérebro, notou-
se que determinadas proteínas eram específicas de um certo tipo de tecido, ou seja,
que haviam proteínas numa célula do cérebro que não haviam numa célula do
coração. São estas proteínas específicas as responsáveis pelas propriedades distintas
de cada tecido.

Por sua vez, esta técnica também revelou que haviam proteínas comuns a todas as
células: proteínas estruturais cromossómicas, RNA polimerase, enzimas de reparação
do DNA, proteínas ribossomais, proteínas metabólicas (Ex.: envolvidas na glicólise) e
proteínas do citoesqueleto.

 Cada célula diferenciada produz proteínas específicas que irão determinar a sua forma, tamanho,
comportamento e função

Muitas proteínas são produzidas em poucas quantidades nas células, não sendo depois detetadas
por eletroforese. Um outro método mais rigoroso designa-se de “mass spectometry”. Esta
técnica é mais sensível que a eletroforese sendo capaz de detetar estas proteínas de menor
quantidade.

 A expressão génica pode ainda ser estudada pela monitorização de mRNAs, pois eles codificam proteínas.

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1.3. Uma célula pode alterar a sua expressão génica em resposta a estímulos externos

Por exemplo, se uma célula do fígado for exposta ao cortisol (hormona esteroide) a sua síntese proteica aumenta
dramaticamente. O cortisol é libertado em períodos de fome, exercício intenso ou stress prolongado e faz com que
as células do fígado aumentem a produção de glicose. Quando a hormona não está presente, a produção dessas
proteínas retorna ao seu nível de repouso.

Outros tipos de células, como os adipócitos (fat cells) reagem de forma oposta ao cortisol enquanto que outras
células não reagem de todo.

O facto de diferentes células responderem de diferentes maneiras ao mesmo sinal extracelular


contribui para a especialização, que dá a cada tipo de célula o seu carácter distinto.

1.4. A expressão génica pode ser regulada em vários passos desde do DNA até à proteína

A célula pode controlar quais as proteínas a produzir:

1) Controlando quando e com que frequência um gene é transcrito


2) Controlando como um RNA transcrito sofre splicing ou outro processamento
3) Selecionando quais os mRNAs a ser exportados
4) Regulando o tempo de vida de mRNAs
5) Selecionando quais os mRNAs a ser traduzidos em proteínas
6) Regulando o tempo de vida das proteínas sintetizadas
7) Selecionando quais proteínas ficarão ativas ou inativas

Apenas o controlo a nível da transcrição (controlo 1) pode assegurar que nenhuma proteína desnecessária é
sintetizada.

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2. Controlo a nível da transcrição

 complexidade na regulação génica =  empacotamento do DNA

2.1. Os Reguladores da transcrição ligam-se a sequências regulatórias de DNA

No capítulo anterior vimos que:

a) o promotor de um gene era responsável por ligar a RNA polimerase com força à molécula de DNA e por
orientá-la corretamente no mesmo.
b) os promotores das bactérias e dos eucariotas possuem um “initiation site”, onde a transcrição tem início.
c) Existe uma sequência de nucleótidos a montante do local de início da transcrição que ajuda a polimerase a
reconhecer o promotor

Neste capítulo vamos ver que:

d) Perto do promotor, seja ele eucariótico ou procariótico, existem sequências de regulação do DNA
(“regulatory DNA sequences”) que são usadas para ligas ou desligar o gene em questão.

Principais diferenças entre as sequências regulatórias de DNA dos:


Eucariotas Procariotas
Muito longas (mais do que 10.000 pares de
Muito curtas (cerca de 10 pares de nucleótidos)
nucleótidos)
Comandam a frequência com que cada gene é Atuam como simples interruptores como resposta a
expresso de acordo com os vários sinais da célula um único sinal
Nenhuma destas sequências possui qualquer efeito sozinha, ambas necessitam de proteínas reguladoras da
transcrição “transcription regulators” para controlar a expressão génica.

As proteínas são capazes de reconhecer uma certa sequência nucleotídica porque a superfície da proteína encaixa-
se perfeitamente na superfície da dupla hélix naquela região. Como essas características da superfície irão variar
dependendo da sequência de nucleótidos, diferentes proteínas de ligação ao DNA reconhecerão diferentes
sequências.

As interações DNA-proteína são das mais específicas e das mais fortes ligações conhecidas na
biologia.

Os reguladores da transcrição interagem com o “major Groove” (sulco maior) da dupla hélix de DNA

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2.2. A regulação da transcrição permite à célula responder aos estímulos externos

As bactérias regulam a sua expressão génica de acordo com as fontes de alimentos que estão disponíveis no
ambiente.

Na E. coli, 5 genes codificam para enzimas que sintetizam o aminoácido triptofano. À transcrição coordenada de
um grupo de genes dá-se o nome de operão.

 Operão: grupo de genes adjacentes que se encontram funcionalmente relacionados. Estes genes são
transcritos como uma única molécula de mRNA a partir de um único promotor. Estes grupos genéticos são
chamados de operões porque a sua expressão é controlada por um operador, situado entre o promotor.
Concluindo, um operão é constituído por um promotor, um operador e pelos genes estruturais.

 Quando as concentrações de triptofano são baixas, o operão é transcrito, o mRNA resultante é traduzido e
as enzimas sintetizadas trabalham juntamente para formar o triptofano em falta.
 Quando as concentrações de triptofano são elevadas (por exemplo se a bactéria estiver no intestino de um
mamífero que acaba de comer uma refeição rica em proteínas): o aminoácido é importado para as células
e impede a síntese das enzimas que produzem o triptofano, que não está em falta.

Mas como é que a célula impede que os genes estruturais do operão sejam transcritos?

Entre o promotor de cada operão existe uma pequena sequência de DNA chamada de operador. O operador é
reconhecido por uma proteína reguladora da transcrição. Quando este regulador da transcrição se liga ao operador
impede que a RNA polimerase se ligue ao promotor, impedindo assim a transcrição dos genes estruturais.

No caso do triptofano, a proteína reguladora da transcrição é o repressor de triptofano, uma proteína alostérica.

 Quando existe triptofano dentro da célula, estes aminoácidos ligam-se ao repressor de triptofano,
alterando a sua conformação para que seja capaz de se ligar ao operador e assim impedir a transcrição dos
genes estruturais.
 Quando não existe triptofano, não existem aminoácidos que se liguem ao repressor, logo este não muda a
sua conformação. Com a sua conformação original o repressor não se consegue ligar ao operador deixando
espaço para a polimerase se ligar e começar síntese de triptofano.

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2.3. Repressores desligam o operão enquanto que os ativadores o ativam

Repressor transcricional: proteína reguladora da transcrição que impede a transcrição dos genes estruturais.
Exemplo: repressor triptofano, Operão triptofano

Ativador transcricional: proteína reguladora da transcrição que promove a transcrição dos genes estruturais.
Exemplo: Ativador CAP, operão Lac

2.4. O operão Lac é controlado por uma proteína ativadora e uma proteína repressora

O operão Lac é controlado pelo repressor Lac e pelo ativador CAP, e é responsável pela codificação de proteínas
importantes na digestão da lactose.

Na ausência de glicose, é compreensível que a bactéria tenha que usar fontes alternativas de carbono, uma delas a
lactose. Para que degradação da lactose ocorra tem que haver lactose no meio (obviamente) e a produção de AMP
cíclico, porque o aumento da concentração desta molécula ativa a CAP que, por sua vez, ajuda a ativar o operão.

O repressor Lac trabalha de forma oposta ao repressor triptofano. No caso do operão triptofano, a molécula efetora
(triptofano) faz com que o repressor se ligue ao operador, enquanto que a molécula efetora do operão LAC (lactose)
faz com que o repressor se desprenda. Os repressores trabalham de forma oposta porque, enquanto o operão
triptofano tem como objetivo a PRODUÇÃO, o operão lactose tem como objetivo a DEGRADAÇÃO.

 Quando há lactose no meio, a lactose liga-se ao repressor LAC mudando a sua conformação.
Consequentemente ele desprende-se do operador e dá-se a síntese de mais lactose
 Quando não há lactose no meio, o repressor LAC permanece com a sua forma original, ou seja, ligado ao
promotor. Não se dá a síntese de lactose.

Seria inútil o operão LAC estar ativo se não houver lactose na célula, porque seria estúpido estar
a produzir proteínas degradadoras de lactose sem ela estar presente. Portanto, o operão LAC só
fica ativo se não houver glucose na bactéria (para o ativador CAP se ligar ao DNA) e se houver
lactose (para o repressor LAC sair do operador).

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2.5. As proteínas reguladoras da transcrição eucariótica controlam a expressão génica à distância

Os eucarióticos também usam repressores e ativadores para o controlo da sua expressão génica. O local do DNA
onde uma proteína ativadora se liga é chamado de enhancer (=amplificador), uma vez que a sua presença aumenta
drasticamente a taxa de transcrição.

Proteínas ativadoras conseguem melhorar o processo de transcrição de um gene mesmo quando


ligadas a milhares de nucleótidos do seu promotor. Estando a montante ou a jusante do mesmo.

O modelo mais aceite que explica esta “comunicação à distância” diz que o DNA entre o enhancer e o promotor faz
um loop, ou seja, se propaga para fora, permitindo assim que as proteínas ativadoras influenciem os eventos que
ocorrem no promotor.

 Mediador: grande complexo proteico que serve para ligar a proteína ativadora às outras proteínas da
vizinhança do promotor (RNA polimerase e fatores gerais de transcrição). Serve basicamente como ponte
de comunicação.

Os ativadores promovem a montagem de todo este complexo proteico essencial para que ocorra a transcrição,
enquanto que os repressores terão o efeito oposto. Estas proteínas reguladoras da transcrição também conseguem
modificar a cromatina de forma que o acesso à polimerase e aos fatores gerais fique mais ou menos fácil.

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2.6. Os nucleossomas dificultam o inicio da transcrição

Os nucleossomas, quando posicionados nos promotores, conseguem bloquear fisicamente a aglomeração de


fatores de transcrição gerais e da RNA polimerase.

Tal empacotamento de DNA pode ter evoluído em parte para prevenir a fuga de mensagens
genéticas desnecessárias, a partir do bloqueio físico da iniciação da transcrição na ausência de
proteínas ativadoras específicas.

A estrutura da cromatina pode ser


alterada por complexos de remodelação
da cromatina (“chromatin-remodeling
complexes”) e por enzimas que
modificam covalentemente as histonas
do nucleossoma. Por exemplo, as
histonas acetiltransferases promovem a
ligação de grupos acetil às lisinas das
caudas das histonas. Essa modificação
altera a estrutura da cromatina,
permitindo maior acessibilidade ao DNA.
Além disso, os próprios grupos acetil
atraem alguns fatores gerais de
transcrição.

Por outro lado, os repressores atraem


enzimas que dificultam ainda mais o
acesso ao promotor. Um exemplo seria
as histonas deacetilases que removem os
grupos acetil das caudas das histonas,
revertendo o efeito positivo da
acetilação.

Embora alguns repressores atuem apenas sobre um gene, existe outro grupo de repressores que
aturam sobre grandes porções de cromatina, como é o caso da heterocromatina interfásica e de
um dos cromossomas X das mulheres.

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3. Os mecanismos moleculares criadores dos vários tipos de células

Uma vez que uma célula de um organismo multicelular se decida diferenciar num tipo específico de célula, a escolha
geralmente é mantida ao longo das gerações. Isto quer dizer que as mudanças na expressão génica de uma célula
têm de ser relembradas pela mesma, para que possa passá-las corretamente à descendência. A este fenómeno
damos o nome de cell memory e é um pré-requesito para criação de tecidos diferenciados e para a manutenção da
estabilidade das células diferenciadas.

3.1. Os genes eucarióticos são controlados a partir de combinações de reguladores

Até agora tratámos os ativadores e repressores da transcrição como proteínas reguladoras de apenas um grupinho
de genes relacionados, para ligar ou desligar a sua transcrição. Isto é verdade para muitas bactérias simples, mas a
maioria das proteínas reguladoras eucarióticas fazem parte de uma “comité” de proteínas reguladoras, todas elas
necessárias para que o gene seja expresso corretamente.

O termo “combinatorial control” (controlo combinatório) refere-se à forma como a transcrição de um determinado
gene é regulada por um conjunto de proteínas reguladoras, como o operão LAC que tinha um repressor e um
ativador.

3.2. A expressão de vários genes pode ser coordenada por uma única proteína

Todas as células precisam de coordenar a sua expressão génica. Uma das formas que os procariontes usam para
coordenar a sua expressão génica é mantendo os genes funcionalmente parecidos organizados em grupinhos a
controlo de um único promotor – os operões.

Nos eucarióticos a regulação da expressão génica é diferente visto que cada gene é transcrito e regulado de
forma individual.

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Então, como é que os eucariotas coordenam a sua expressão génica?

 Embora o controlo da expressão génica resulte da combinação de várias proteínas reguladoras


(“combinatorial control”), o efeito de um único regulador de transcrição pode ser decisivo para desligar
ou ligar determinado gene, uma vez que completa a combinação de proteínas necessárias à ativação ou
repressão desse mesmo gene. É como um cadeado, é preciso uma combinação de números para o abrir,
mas ele não abre se falharmos num único número.

Assim é compreensível que uma única proteína reguladora possa regular a expressão génica de uma célula, basta
ela fazer parte de diferentes combinações e deste modo ativar ou reprimir a expressão de um conjunto de genes,
eles assim podem ser ligados e desligados juntos, como uma unidade coordenada.

Um exemplo desta regulação coordenada nos


humanos é o caso da proteína recetora do cortisol.
Para que esta proteína reguladora se ligue aos DNA
ela tem primeiro que formar um complexo com o
cortisol. Como já foi dito, as células do fígado
aumentam drasticamente a sua transcrição
genética como resposta ao cortisol, logo, todos
esses genes transcritos devem ser regulados por
este complexo proteína-cortisol. Quando o cortisol
está em falta, a proteína não se liga ao DNA e
nenhum destes genes é transcrito. Neste exemplo
está explicado como um único regulador de
transcrição consegue coordenar a expressão de
muitos genes diferentes.

3.3. Combinatorial control pode ser responsável pelos diferentes tipos de células

Este mecanismo de desligar e ligar os genes necessários a uma célula é o responsável pela diversidade celular.

Por exemplo, uma célula músculo-esquelética mamífera é distinta das outras células porque
produz um enorme número de proteínas características, tais como:

 A actina muscular e a miosina, que formam o aparelho contráctil – o sarcómero.


 Proteínas recetoras e canais iónicos na membrana plasmática que fazem com que
músculo seja sensível a estimulações nervosas.

Os genes que codificam estas proteínas específicas musculares têm então que ser todos ligados
coordenadamente enquanto a célula se diferencia numa célula muscular esquelética. Estudos do
desenvolvimento deste tecido em cultura identificaram um pequeno número de reguladores
chave responsáveis por esta diferenciação

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Descobriu-se que estes reguladores transcricionais chave podem até converter uma célula especializada noutro
tipo de célula. Por exemplo, quando um destes reguladores, nomeadamente o MyoD, foi artificialmente introduzido
numa cultura de fibroblastos do tecido conjuntivo da pele, os fibroblastos formaram células com um
comportamento semelhante ao das musculares. Aparentemente estes fibroblastos que, por derivarem do mesmo
folheto embrionário das as células musculares, já tinham acumulado alguns reguladores de transcrição
característicos dos genes musculares, mas não os mais importantes. Assim sendo, a adição de MyoD, um regulador
chave, simplesmente completou a combinação necessária à diferenciação de um fibroblasto a um mioblasto (célula
muscular).

Esta reprogramação pode ainda ter resultados


mais dramáticos! Por exemplo, quando um grupo
de reguladores transcricionais chave específicos
foi colocado artificialmente nas células do fígado
em cultura, elas converteram-se em neurónios
funcionais!

Estes resultados sugerem que, algum dia, pode ser possível fazer em laboratório qualquer tipo de célula, desde que
se saiba quais os reguladores chave para a síntese do seu conjunto de proteínas características.

3.4. Células especializadas podem ser reprogramadas a células pluripotentes de novo

As proteínas reguladoras da transcrição podem ainda


persuadir várias células diferenciadas a se
“desdiferenciarem” em células-tronco pluripotentes (iPS) –
células capazes de dar origem a todos os tipos celulares
especializados no corpo.

Usando um conjunto específico de reguladores,


fibroblastos de rato foram reprogramados para se tornarem
células tronco pluripotentes (iPS). Claro que tal experiência
foi rapidamente adaptada para a produção de células
tronco a partir de células humanas. Tais células podem
depois ajudar-nos a estudar e tratar certas doenças.

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3.5. A formação de um órgão inteiro pode ser desencadeada por um único regulador de transcrição

Um exemplo fantástico do que apenas um regulador pode desencadear é o desenvolvimento de um olho na


mosca da fruta Drosophila. Neste caso um único regulador “master” chamado de Ey foi capaz de desencadear a
formação de um olho.

No laboratório, o gene Ey pode ser artificialmente expresso pela indução do


regulador Ey em embriões de moscas da fruta em células que normalmente
dariam origem a uma perna. Quando esses embriões modificados se
transformam em moscas adultas, alguns têm um olho no meio da perna.

Este caso é ainda um tópico em estudo, mas acredita-se que este regulador
“master” desencadeie uma resposta de outros reguladores em cascata, que
juntos conseguem originar um órgão.

3.6. Mecanismos epigenéticos permitem que os padrões de expressão génica sejam transmitidos às células
filhas

Uma vez que uma célula se tenha tornado diferenciada irá permanecer diferenciada e gerar células do mesmo tipo.

Algumas células altamente especializadas, incluindo células do tecido muscular esquelético ou neurónios, nunca
mais se dividem – elas chegaram a um grau terminal de diferenciação (são terminally differentiated).

Para uma célula proliferativa manter a sua identidade – propriedade chamada de memória
celular – o seu padrão de expressão génica, responsável por aquela identidade, tem de ser
passado para as suas células filhas.

A células têm várias maneiras para assegurar que as suas filhas se lembrem que tipo de células são:

 Uma maneira é através de feedback loop positivo, onde um regulador de transcrição master ativa a
transcrição do seu próprio gene e de outros genes específicos daquele tipo de célula. Cada vez que a célula
se divide, este regulador é transmitido às células filhas.

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 Através da metilação do DNA. Esta processo modifica as ligações


covalentes das citosinas, atraindo proteínas que impedem a transcrição.
Os padrões de metilação são passados à descendência através de uma
enzima que copia os padrões de metilação para as cadeias de DNA filhas,
imediatamente após a replicação.

 Através da modificação das histonas. Quando a célula replica o seu DNA, cada molécula de DNA recebe
metade das histonas que haviam na molécula progenitora, que contêm as modificações do cromossoma
parental. Enzimas podem ligar-se às histonas parentais e conferir as mesmas modificações às novas
histonas vizinhas. Isto faz com que a cromatina filha tenha a mesma estrutura que a cromatina paterna.

Porque cada um destes mecanismos de memória celular (positive feedback loop, metilação do DNA, condensação
da cromatina) transmitem a informação às células filhas sem alterar a sequência nucleotídica do DNA, são
consideradas formas de herança epigenética.

4. Controlos Pós-Transcricionais
4.1. Todos os mRNAs controlam a sua própria degradação e tradução

O tempo de vida de um mRNA, seja procariótico ou eucariótico, é ditado por uma sequência nucleotídica específica
situada entre regiões que não vão ser traduzidas. Estas sequências abrigam sítios de ligação às proteínas envolvidas
na degradação do RNA – RNAses.

Além destas sequências que ditam o tempo de vida da molécula, o mRNA também tem sequências que o ajudam a
controlar com que frequência e eficiência será traduzido. Estas sequências controlam o inicio da tradução.

mRNAs bacterianos mRNAs eucarióticos


Têm uma sequência de ligação ao ribossoma Têm um “cap” na extremidade 5’ da molécula, que
localizada alguns pares de bases a montante do codão ajuda a guiar o ribossoma ao primeiro AUG, onde a
AUG (codão de iniciação) transcrição começa
Controlo transcricional:
Proteínas repressoras ligam-se a sequências não
A tradução do mRNA pode ser inibida ou promovida
traduzidas da extremidade 5’ da molécula, impedindo
expondo ou bloqueando estas sequências de ligação
que o ribossoma encontre o codão AUG, inibindo
ao ribossoma.
assim a tradução.

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4.2. RNAs reguladores controlam a expressão de milhares de genes

Dentro da célula existem RNAs não codificantes (noncoding RNAs) com variadas funções tais como funções
estruturais e papéis catalíticos. Dentro deste leque de RNAs não codificantes estão os RNAs reguladores:

 microRNAs
 small interfering RNAs
 long noncoding RNAS

4.3. MicroRNAs direcionam a destruição de mRNAs

Os microRNAs (miRNAs) são pequenas moléculas de RNA que controlam a expressão génica a partir da sua
interação covalente com os mRNAs, reduzindo a sua taxa de tradução e estabilidade.

Tal como todos os outros RNAs, um


percursor de miRNA tem primeiro
de ser processado para produzir
uma molécula de miRNA madura e
funcional. De seguida, a pequena
molécula madura de miRNA é
empacotada com proteínas
especializadas para formar um
complexo silenciador induzido por
RNA (RNA induced silencing
complex – RISC). Este complexo
patrulha o citoplasma à procura de
mRNAs complementares à sua
molécula de miRNA.

Quando o miRNA do RISC se emparelha com uma molécula de mRNA pode acontecer 2 coisas:

 O mRNA emparelha-se extensivamente com o miRNA: neste caso o mRNA é imediatamente destruído por
uma ribonucleases do RISC
 O mRNA emparelha-se em parte com o miRNA: a tradução da molécula é bloqueada e esta é levada para
uma região específica do citosol onde outras nucleases a irão degradar eventualmente

Em ambos os casos o RISC depois é libertado para continuar a sua patrulha.

Portanto uma molécula de miRNA – como uma parte do RISC – consegue eliminar muitas moléculas de mRNA,
bloqueando eficientemente a produção da proteína que aquele mRNA codifica.

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4.4. Small interfering RNAs são produzidos a partir de RNAs de dupla cadeia para proteger a célula de infeções

Os small interfering RNAs são moléculas produzidas a partir dos RNAs de dupla cadeia.

Muitos vírus e também elementos genéticos móveis produzem duplas cadeias de RNA que, por serem
potencialmente perigosos, são destruídos pela célula por um processo chamado de RNA interference (RNAi).

Processo RNAi:

1. Os RNAs estranhos de dupla cadeia são fragmentados em


segmentos curtos por uma proteína chamada de Dicer.

2. Os fragmentos resultantes, chamados de small interfering RNAs


(siRNAs), são levados pelo RISC.

3. O RISC deita fora uma cadeia das duas cadeias do siRNA, e usa a
cadeia restante para buscar e destruir moléculas de RNA estranhas
complementares.

Desta forma as moléculas de RNA estranho são rapidamente


degradadas e o organismo é defendido contra os ataques de vírus, por
exemplo.

Em alguns organismos, a resposta de defesa do RNAi pode passar de tecido para tecidos,
permitindo que o organismo inteiro se torne resistente a um vírus, apenas após algumas das suas
células terem sido infetadas.

4.5. Milhares de RNAs longos não codificantes podem também regular a atividade génica mamífera

Long noncoding RNAs – uma classe de moléculas de RNA que têm mais de 200 nucleótidos e os seus papéis na
biologia não são inteiramente claros.

O long noncoding RNA mais percebido é o Xist – uma molécula enorme com um papel chave na inativação do
cromossoma X. Durante o desenvolvimento, o Xist é produzido por um dos cromossomas X em cada núcleo
feminino. A sua transcrição, em seguida, “gruda por aí” revestindo o cromossoma e, presumivelmente, atraindo as
enzimas e complexos de remodelação da cromatina necessárias à alta condensação da heterocromatina. Acredita-
se que outros long noncoding RNAs possam promover o silenciamento de genes específicos de maneira
semelhante.

Capítulo 9 – Genes e genomas

o Sumário:
1. Gerando a variação genética
2. Transposões e vírus
3. Examinando o genoma humano

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Nenhum gene ou genoma é completamente novo. Em vez disso, a diversidade que existe na forma e função das
células do mundo vivo é apenas um resultado de variações de genes ou em genomas pré-existentes – mutações.

O que pode causar mudanças genéticas cruciais na evolução:

 Mutação dentro de um gene  Substituição, deleção ou


duplicação de um ou mais nucleótidos. Como resultado, a
proteína produzida pelo RNA transcrito daquele gene pode
sofrer alterações na sua conformação, estabilidade, local de
atuação…

 Mutação dentro de uma sequência reguladora de um gene


 pode alterar quando e onde aquele gene é expresso.

 Duplicação de um gene  Quando um gene, um segmento


largo de DNA ou até mesmo todo o genoma é duplicado.
Além de duplicar a informação genética, aumenta a
probabilidade de mutações nesse gene, que, se ocorrerem,
vão fazer com que tenhamos um gene com uma nova função
e ao mesmo tempo, o antigo com a função antiga. Ao longo
do tempo os genes podem sofrer várias duplicações
originando famílias de genes tal como ocorre com a família
dos genes globina.
A duplicação de genes pode acontecer por crossovers, onde
um cromossoma fica com uma cópia a mais do gene
envolvido, enquanto que o outro fica com o gene deletado –
Unequal crossing-over. É o Unequal crossing-over que está
na origem dos Pseudogenes – cópias inativas de genes que
se encontram duplicados em diferentes partes do genoma.
Estes genes estão inativos porque sofrerem inúmeras
mutações nas suas sequências reguladoras, o que impede a
sua expressão.

 Exon shuffling (rearranjo de exões)  2 ou mais genes podem ser fragmentados e rejuntados formando
um gene híbrido que contém segmentos que pertenciam a genes separados, mas que agora estão no
mesmo gene. Nos eucariotas, esta alteração normalmente ocorre entre os intrões.

 Elementos genéticos móveis  Sequências especializadas de DNA que conseguem se mover de um


cromossoma para outro. Podem alterar a atividade ou a regulação de um gene e até mesmo promover a
duplicação de genes e rearranjos genómicos.

 Transferência horizontal de genes  Ocorre em procariotas e diz respeito a troca de genes entre células
diferentes, sejam da mesma espécie ou não. Permite que uma bactéria resistente a um antibiótico seja
capaz de fornecer parte do seu genoma resistente a outra bactéria num processo chamado de conjugação.
(A transferência vertical de genes diz respeito àquela transferência genética básica de pais para filhos).

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1. Gerando a variação genética


1.1. Em organismos de reprodução sexual, somente as mudanças na linhagem germinativa são passadas para
a descendência

Apesar de todas as células de um organismo sexuado se


dividirem, apenas as células germinativas (os gâmetas) carregam
o material genético que formará a próxima geração. Portanto,
uma mutação que ocorra numa célula somática, apesar de poder
causar problemas ao individuo, nunca afetará a descendência do
mesmo.

Para uma mutação ser transmitida à descendência, ela deve


alterar a linhagem germinativa.

1.2. Mutações pontuais são causadas por falhas nos mecanismos normais de cópia e reparo do DNA

As mutações que afetam um único nucleótido são chamadas de mutações pontuais e provêm de erros na replicação
e reparação do DNA. Existem 2 tipos de mutações pontuais:

1. Mutações com significado: podem levar à perda da função do gene ou da proteína que ele origina, ou ainda
melhorar o gene.
2. Mutações sem significado = Mutações neutras: Não alteram a função do gene, nem alteram a proteína. Se
a proteína for alterada, ela continuará funcional porque o a.a. alterado não é essencial para a função da
mesma. Estas mutações estão associadas a alterações num nucleótido de um intrão ou ao 3º nucleótido de
um codão, que, por ser menos específico, codificará para o mesmo aa.

1.3. Mutações pontuais podem alterar a regulação de um gene

As mutações nas sequências reguladoras do DNA são difíceis de detetar porque elas não afetam a sequência de
uma proteína e podem estar localizadas longe da sequência codificadora do gene.

Apesar disso, muitos exemplos foram descobertos onde estas as mutações pontuais nas sequências reguladoras
tiveram efeitos na produção de proteínas e consequentemente no organismo:

Exemplo 1: A resistência à malária pela mutação pontual numa sequência que afeta a expressão de um recetor
celular da membrana do eritrócito, ao qual o parasita da malária se liga. A mutação impede que este recetor seja
produzido nos eritrócitos, tornando os indivíduos portadores desta mutação imunes à malária.

Exemplo 2: Intolerância (ou tolerância) à lactose. Os nossos antepassados só apresentavam a expressão da enzima
lactase (enzima que degrada a lactose) durante a infância, pelo que, em adultos eram intolerantes a lactose. No
entanto, uma mutação pontual no gene que é responsável pela regulação da expressão da lactase leva a que esta
seja produzida nos adultos que a possuem a mutação.

Acredita-se que as mutações pontuais nas sequências


reguladoras do DNA são responsáveis pelas
características que fazem um organismo pertencer a uma
espécie e não a outra.

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1.4. Novos genes podem ser criados por rearranjo de exões

Muitas proteínas são compostas por um conjunto de domínios funcionais. Nos eucariotas, cada um destes domínios
é codificado por um exão “isolado” (rodeado por intrões). Esta organização facilita a evolução de novas proteínas
pois, através do splicing, um exão de um gene pode ser adicionado a outro exão de variadas formas – exon shuffling.

1.5. A evolução dos genomas foi acelerada pelos Elementos Genéticos Móveis

Este DNA parasítico é capaz de colonizar um genoma e durante este processo alterar a função ou regulação da
expressão de genes existentes. Por vezes são capazes de formar novos genes através da sua fusão com genes do
DNA invadido.

Estes elementos genéticos móveis podem interromper a atividade de um gene se “aterrarem” diretamente na sua
sequência codificante – mutação através de uma inserção (insertion mutation). Como a atividade do gene fica
destruída não haverá a produção da proteína funcional que ele codifica, o que pode causar doenças. Ex: hemofilia
nos humanos.

Estes elementos podem também alterar a regulação de um gene.


Muitos elementos genéticos móveis carregam sequências
nucleotídicas que são reconhecidas por reguladores de transcrição
específicos. Portanto, se estes elementos se inserirem numa
sequência reguladora de DNA, aquele gene fica sob controlo
daqueles reguladores, alterando consequentemente o padrão da
expressão génica. Exemplo: uma mutação na sequência reguladora
de um gene pode causar formação de patas em vez de antenas na
mosca da fruta.

2. Transposões e vírus

Elementos genéticos móveis podem ser encontrados em todas as células. Acredita-se que 50%
do genoma humano seja DNA destes elementos. Porém, apesar de se poderem inserir em
qualquer célula, não podem sair de uma célula para ir para outra. Ao contrário dos seus relativos
– os vírus.

Vírus – os zombies da biologia, porque apenas apresentam “vida” quando ligados a uma célula. Não
passam de sequências genéticas envoltas numa camada proteica protetora. A sua função é injetar
o seu material genético para uma célula de modo a infetá-la, só assim se conseguem reproduzir.
Podem escapar de uma célula e infetar outra.

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2.1. Elementos genéticos móveis codificam os componentes necessários ao seu movimento

Os Elementos genéticos móveis também podem ser chamados de Transposões e são classificados através do
mecanismo que usam para se mover ou transpor.

Cada elemento genético móvel codifica uma


enzima especializada – a transposase – que
catalisa o seu movimento. Além disso também
carregam genes, como por exemplo genes que
conferem resistência a algum antibiótico, o que
contribuiu para a ampla dispersão da resistência
a antibióticos nas bactérias.

Além disto, os elementos genéticos móveis também podem “rearranjar” a sequência de DNA. Por exemplo, se 2
transposões, que são reconhecidos pela mesma transposase, se inserirem em regiões vizinhas do mesmo
cromossoma (por exemplo de cada lado de um exão), o DNA entre eles pode ser excisado e inserido noutro gene
ou cromossoma diferente.

2.2. O genoma humano contém 2 grandes famílias de transposões

Retrotransposões  elementos genéticos que se movem via RNA, únicos nos eucariotas.

O elemento móvel L1 (LINE-1) é um retrotransposão. Este gene é transcrito em


RNA pela RNA polimerase da célula hospedeira. Quando transcrito, este
retrotransposão interage com a sua transcriptase reversa e volta a se tornar DNA
para se integrar num outro gene ou num diferente cromossoma.

 Transcriptase reversa  uma DNA polimerase incomum que consegue usar


RNA como molde para sintetizar DNA.

O seu movimento pode causar doença. Por exemplo, o movimento de um


elemento L1 para o gene codificador do fator 8 – uma proteína essencial para a
coagulação sanguínea – causou hemofilia num individuo sem a doença na família.

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2.3. Os Vírus conseguem andar de célula em célula

Em virtude do seu pequeno tamanho, os vírus conseguem passar através de filtros ultrafinos que podem reter até
mesmo a menor célula bacteriana.

A única maneira de um vírus expressar o seu genoma, sintetizar proteínas e reproduzir-se é através de uma célula
hospedeira, procariota ou eucariota.

A reprodução viral é normalmente letal para a célula hospedeira. Na maioria dos casos, a célula
infetada explode (sofre lise celular), libertando os vírus descendentes que infetarão as células
vizinhas. O herpes labial e as bolhas causadas pelo vírus da varicela, refletem a morte localizada
de células da pele humana.

Uma vez que o espaço dentro da cápsula proteica do vírus é limitado, este tem de usar a maquinaria da célula
hospedeira se quiser se reproduzir. Por esta razão o genoma viral codifica proteínas de revestimento viral e
proteínas que se conseguem associar às enzimas do hospedeiro necessárias à replicação do seu material genético.

2.4. Os Retrovírus revertem o fluxo normal de informação genética

Retrovírus  encontrados apenas nas células eucariotas. Assemelham-se aos Retrotransposões, na medida em que
o DNA é sintetizado a partir do RNA, daí o prefixo retro-, de reverso.

Acredita-se que os retrovírus derivaram de Retrotransposões que adquiriram genes codificadores de proteínas
necessárias à formação de um vírus, incluindo as proteínas de revestimento e a enzima transcriptase reversa.

Dentro da cápsula de um vírus, para além do genoma viral, existem sempre algumas enzimas
transcriptase reversas já formadas. Caso contrário seria aquela história… O DNA codifica para a
enzima transcriptase reversa, mas o RNA precisa já dela formada para sintetizar o DNA. Assim o
problema fica resolvido.

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Ciclo de um retrovírus:

 Entrada de uma cadeia simples de RNA viral na célula hospedeira.

 Síntese de DNA complementar à cadeia de RNA viral mediada pela transcriptase reversa do vírus.

 A cadeia de RNA é removida desta molécula híbrida DNA-RNA.

 Síntese de uma cadeia de DNA complementar à cadeia de DNA da molécula híbrida.

 Integração desta dupla cadeia de DNA viral no genoma da hospedeira mediada pela enzima integrase.

A partir deste passo o vírus está latente (latent), quer isto dizer que cada vez que a hospedeira de divida irá passar
para a descendência uma cópia do genoma viral, conhecida como provírus.

 transcrição e tradução do DNA viral em proteínas do envelope viral, proteínas de revestimento e transcriptases
reversas.

 Formação e acumulação de vírus que levam à lise celular e infeção das células vizinhas.

A sida (AIDS) é causada pelo vírus HIV, o retrovírus da imunodeficiência. Tal como acontece com outros retrovírus,
o genoma do HIV pode persistir num estado latente como um provírus, incorporado nos cromossomas de uma
célula infetada. Essa capacidade de se esconder nas células hospedeiras complica as tentativas de tratar a infeção
com drogas antivirais. Mas, como a transcriptase reversa do HIV não é usada pelas células para qualquer finalidade
própria, é um dos principais alvos das drogas atualmente usadas no tratamento da AIDS.

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3. Examinando o genoma humano

 Genoma humano: constituído por 46 cromossomas – 22 pares de autossomas e 1 par de gâmetas (X e Y).

3.1. O genoma humano monstra como os nossos genes estão dispostos

O genoma humano é constituído por um grande número de pares de bases, no entanto, as sequências codificantes
e as reguladoras constituem uma pequeníssima porção, menos de 2%. Na verdade, metade do nosso genoma é
feito de elementos genéticos móveis. Contudo, devido às mutações acumuladas, estes elementos não se podem
mover.

 Unique sequences: Genes (intrões, exões e sequências reguladoras) + DNA não repetitivo
 Repeated sequences: Genes duplicados + repetições simples + Elementos Genéticos Móveis
(Retrotransposões – LINEs e SINEs e fósseis de DNA transposões)

Os Retrotransposões aparecem em duas formas básicas: uma delas formada por uma longa sequencia de pares de
bases conhecida como LINEs, e outra por uma curta sequencia de pares de bases denominada SINEs.

 Os LINEs contêm duas enzimas necessárias para transcrição reversa e reintegração no genoma, chamadas
respetivamente de transcriptase reversa e integrase. Estão divididos nos subgrupos L1, L2 e L3.
 Os SINEs, não contêm os genes de tais enzimas dependendo dos LINEs para sua propagação.

3.2. Variações no genoma contribuem para a nossa individualidade

a) A maior parte das variações genéticas no genoma humano


estão relacionadas com mudanças de uma única base – SNPs –
single nucleotide polymorphisms – sequências no genoma que
diferem por um único nucleótido. Por exemplo, enquanto que
uma parte da população apresenta num determinado local um
nucleótido A, outra parte da população tem nesse mesmo
gene, no mesmo local um nucleótido G. Ou seja, trata-se de
uma alteração que se apresenta apenas ao nível de uma única
base.

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b) A sequências repetitivas de nucleótidos são particularmente propensas a mutações. Isto porque muitas
vezes são replicadas imprecisamente, pois torna-se difícil de controlar a replicação de uma sequência
repetitiva só de CACACACACA…CACA…, tal como se torna difícil copiar uma palavra assim, exatamente
igual. O número de repetições destas sequências pode variar muito de indivíduo para indivíduo e, porque
apresenta imensa variabilidade, diferenças no número de repetições podem ser usadas para distinguir um
individuo de outro, através da técnica DNA fingerprinting.

c) Duplicação e Deleção de grandes segmentos de DNA (CNVs). Quando o genoma de qualquer pessoa é
comparado com um genoma de referência padrão, observa-se aproximadamente 100 casos em que um
trecho relativamente longo de DNA foi ganho ou perdido. Algumas dessas variações de número de cópias
(CNVs) são muito comuns, enquanto outras estão presentes apenas numa pequena minoria de pessoas.

Capítulo 10 – Manipulação genética

o Sumário:
1. Análise e manipulação do DNA
2. Clonagem do DNA em bactérias
3. Clonagem do DNA em PCR
4. Exploração da função genética

1. Análise e manipulação do DNA

Isolar um gene não é tão fácil como isolar uma proteína uma vez que ele não existe como uma entidade singular na
célula, existe como uma pequeníssima parte de uma molécula enorme de DNA.

Como podemos isolar um gene de uma molécula de DNA?

A solução a este problema emergiu com a descoberta de certas enzimas chamadas de nucleases de restrição, que
cortam a dupla hélice do DNA em sequências particulares.

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1.1. Nucleases de restrição cortam a molécula de DNA em locais específicos

Estas enzimas de restrição foram descobertas em certas bactérias que eram capazes de degradar fragmentos de
DNA que lhes eram artificialmente introduzidos. No entanto, o DNA da própria bactéria permanecia
intacto/protegido porque sofreu modificações químicas para que certas sequências não fossem reconhecidas pelas
enzimas de restrição, nomeadamente através da metilação.

 Diferentes bactérias produzem diferentes enzimas de restrição que reconhecem diferentes sequências de
DNA onde irão atuar. Assim sendo, diferentes enzimas de restrição darão origem a diferentes fragmentos
de diferentes tamanhos.

Uma vez que as sequências alvo das nucleases de restrição são curtas – cerca de 4 a 8 pares de
nucleótidos – uma molécula de DNA pode ser cortada em muitos sítios. O corte enzima de
restrição – sequencia alvo é extramente preciso, e sempre o mesmo para a mesma nuclease.

1.2. A eletroforese é uma técnica capaz de separar os fragmentos de DNA por tamanho

Após uma molécula de DNA ser clivada em pedacinhos por uma enzima de restrição, os resultantes fragmentos de
DNA podem depois ser separados uns dos outros por tamanho – eletroforese (o mesmo método usado para separar
proteínas).

Técnica da Eletroforese:

1º. Uma mistura de fragmentos de DNA é colocada numa ponta da


placa de gel de agarose ou poliacrilamido, que contém uma rede
microcópia de poros.

2º. Quando uma voltagem é aplicada através do gel, os fragmentos


de DNA (que são negativos) migram em direção ao elétrodo
positivo.

3º. Os fragmentos maiores de DNA migram mais devagar porque o


seu progresso é impedido em maior grau pela matriz de gel.

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Os fragmentos de DNA espalham-se pelo gel de acordo com os seus tamanhos, formando uma escada de bandas
discretas, cada uma composta por uma coleção de moléculas de DNA de comprimento idêntico. Para isolar um
fragmento de DNA desejado, a pequena secção do gel que contém a banda é removida com um bisturi e o DNA é
então extraído.

 A velocidade de migração depende: do tamanho da molécula, da concentração de agarose, da intensidade


do campo elétrico. O gel funciona como um filtro, retardando o movimento das moléculas maiores. Para a
separação de moléculas leves, utiliza-se um gel com maior concentração de agarose.

1.3. As bandas de DNA no gel podem ser vistas a partir de tintas fluorescentes ou radioisótopos

O DNA, por si só, é transparente. Para que as bandas de DNA sejam vistas, este tem que ser marcado ou colorido
de alguma forma:

 Método A: expor o gel de agarose (ou de poliacrilamido) a uma tinta que se torna
fluorescente sob luz ultravioleta (UV) quando ligada ao DNA. Neste caso, quando o gel
é colocado sob uma luz UV as bandas de DNA brilham de laranja, ou de branco quando
o gel é fotografado a preto e branco.

 Método B (para uma deteção mais sensível): incorporar um radioisótopo nas moléculas de DNA antes de
começarem a sofrer eletroforese. O radioisótopo 32P é mais frequentemente usado por poder ser
incorporado nos fosfatos do DNA. Como as partículas β emitidas pelo 32P podem ativar as partículas
sensíveis à radiação no filme fotográfico, uma folha de filme colocada no topo do gel de agarose, quando
revelada, mostrará a posição de todas as bandas de DNA.

Um radioisótopo caracteriza-se por apresentar um núcleo atómico instável que


emite energia quando se transforma num isótopo mais estável. A energia libertada na
transformação pode ser chamada de partícula alfa, partícula beta ou radiação gama e detetada
por um contador Geiger, com uma película fotográfica ou com uma câmara de ionização.

Estes 2 métodos permitem que todas as bandas de DNA do gel sejam vistas, mas não revelam qual das bandas
contém a sequência de DNA de interesse. Para fazer isso uma sonda é projetada para se ligar especificamente à
sequência nucleotídica desejada por emparelhamento de bases.

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1.4. A hibridação é uma maneira sensível de detetar certas sequências específicas de DNA

Para encontrar a sequência de interesse nos fragmentos obtidos, podemos tirar partido do facto de cada fragmento
de DNA ser capaz de emparelhar (naturalmente) com uma sequência complementar.

Quando o DNA é submetido a altas temperaturas (+/- 90ºC) ou a condições de pH extremas (geralmente pH básico),
as cadeias covalentes começam a se separar, uma vez que as pontes de hidrogénio são desnaturadas. Se o DNA for
novamente colocado em condições de temperatura e pH normais, as cadeias voltam a se unir. A este processo dá-
se o nome de Hibridação ou Renaturação.

 De uma maneira geral a Hibridação caracteriza-se por: desnaturação e renaturação.

Esta capacidade fundamental de complementaridade de bases entre cadeias simples faz com que seja possível
detetar sequências nucleotídicas específicas a partir de uma sonda de DNA curta – uma cadeia simples que seja
complementar à sequência nucleotídica de interesse.

Como as sequências de nucleótidos de muitos genomas são conhecidas e armazenadas em bancos de dados
acessíveis ao público, projetar uma sonda torna-se simples.

“A hibridação é levada a cabo através do recurso a sondas de DNA desenhadas com o objetivo de
reconhecerem sequências de nucleótidos específicas (sequência de interesse)”

 Como se detetam as sequências específicas?

Recorrendo à técnica de Gel-transfer Hibridization ou Southern blotting:

1º. Realiza-se a eletroforese


2º. É colocado sobre o gel de agarose papel de nitrocelulose ou de nylon (que absorve e fixa o conteúdo das
pistas – os fragmentos de DNA).
3º. O gel é colocado numa esponja situada num banho de solução alcalina (responsável pela separação das
cadeias duplas, formando fragmentos de cadeias simples)

Após este passo temos os fragmentos de DNA fixados ao papel de nitrocelulose. Após a remoção do papel, o
DNA fixado pode ser então analisado.

Se o que se pesquisa é uma determinada sequência de DNA, então dá-se uma sequência que lhe seja
complementar (sonda) marcada com uma substância radioativa, de forma a que o conjunto sonda + DNA possa
depois ser visualizado numa película de raio X.

Por fim, o papel com fragmentos + sonda é exposto à radiação – autoradiografia.

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Antes de se expor o papel com os fragmentos e a sonda à radiação, este deve ser primeiramente
lavado, de modo a que permaneça no papel apenas sondas marcadas radioactivamente que se
tenham ligado aos fragmentos.

Northern blotting – aplicado ao RNA

Neste caso, temos fragmentos de mRNA que sofreram eletroforese e as sondas são, também, DNA (em cadeia
simples).

(outra técnica relacionada com as proteínas e não com o DNA. Não está relacionada com o capítulo, mas é importante não esquecer):

Anticorpos como sondas para proteínas:

Os anticorpos reagem seletivamente com proteínas únicas, sendo proteínas produzidas pelo sistema imunitário
(linfócitos B) que reagem contra moléculas (antigénios) presentes em substâncias estranhas, identificando-as. O
sistema imunitário produz milhões de anticorpos que identificam antigénios específicos, que podem ser proteínas,
hidratos de carbono, etc. Um linfócito apenas produz um tipo de antigénio. Os anticorpos podem ser produzidos
pela inoculação de um animal com qualquer proteína estranha. Os anticorpos podem ser criados contra proteínas
purificadas de células, tal como outros materiais que podem ser utilizados para imunização. Existem anticorpos que
reconhecem péptidos de 10 a 15 aa, por isso, conhecendo apenas o início do gene que se pretende clonar, é possível
produzir anticorpos que reagem contra a proteína inteira.

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2. Clonagem do DNA em bactérias (tecnologia do DNA recombinante)

Clonagem de DNA  Produção de várias cópias idênticas de uma sequência de DNA. Esta amplificação permite,
por exemplo, produzir uma elevada quantia de uma mesma sequência de nucleótidos que origina proteínas
importantes no tratamento de doenças.

2.1. A clonagem de DNA começa com a fragmentação do genoma e produção de DNA recombinante

Até mesmo os mais pequenos genes são muito grandes para serem manuseados facilmente em laboratório. Por
essa razão, o processo de clonagem do DNA começa sempre pela fragmentação do mesmo, através das nucleases
de restrição existentes nas bactérias. Seguidamente, estes fragmentos podem ser juntados/recombinados, com a
ajuda da DNA ligase, para a produção de um DNA de interesse que será por fim amplificado/clonado.

A DNA ligase permite que os investigadores liguem quaisquer 2 segmentos de DNA existentes num
tubo de ensaio, produzindo assim um DNA recombinante, ou seja, uma molécula de DNA contruída
de forma artificial, que não pode ser encontrado na natureza.

Após a seleção do fragmento de interesse temos de arranjar maneira de o replicar. Uma das formas de um fazer é
introduzindo-o numa bactéria. Para isso, os fragmentos de DNA gerados pela ação de uma nuclease de restrição
têm que ser inseridos numa outra molécula de DNA especial que serve como um transportador, ou vetor, que pode
ser copiado (e assim amplificado) dentro da bactéria.

2.2. O DNA recombinante pode ser inserido nos plasmídeos (vetores)

Os vetores usados para a clonagem de DNA são moléculas circulares pequenas chamadas de plasmídeos.

O que contém um plasmídeo?

1. Uma origem de replicação – para que possa ser replicado de forma


independente dos cromossomas bacterianos
2. Sítios de clivagem para as nucleases de restrição comuns – para que possa
ser convenientemente aberto de modo a inserir fragmentos de DNA estranhos

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Os plasmídeos usados na clonagem não passam de plasmídeos mais simples que os naturalmente
encontrados nas bactérias. Esses plasmídeos bacterianos carregam genes que tornam a bactéria
resistente a um ou mais antibióticos – à penicilina, por exemplo. Daí a penicilina não ser mais eficaz
contra muitas infeções bacterianas, porque os plasmídeos que conferem resistência ao antibiótico
se espalharam entre as espécies bacterianas pela transferência horizontal de genes.

 Transferência horizontal de genes

As células bacterianas podem trocar o DNA através da conjugação  A conjugação começa


quando uma célula dadora (topo) se liga a uma célula recetora (parte inferior) por um
apêndice fino, chamado de pilus sexual. É neste apêndice que se move o DNA da célula dadora
até a recetora. Nesta imagem, o pilus sexual foi rotulado ao longo do seu comprimento por
vírus, para que se tornasse mais visível.

2.3. O DNA recombinante pode ser copiado dentro das bactérias

Para introduzir o DNA recombinante numa célula bacteriana, os pesquisadores aproveitam o facto de que algumas
bactérias naturalmente absorverem moléculas de DNA presentes em seus arredores, por exemplo, absorverem o
DNA expelido de bactérias mortas – mecanismo denominado de transformação (porque as primeiras observações
sugeriam que poderia “transformar” uma bactéria noutra).

Num tudo de ensaio, bactérias tais como a E. coli podem ser influenciadas a “engolir” o plasmídeo purificado. Estas
bactérias são depois mergulhadas num caldo nutritivo com todas as condições à sua proliferação. Cada vez que
uma população bacteriana duplica, o número de cópias do DNA recombinante também duplica. Isto quer dizer que,
ao fim de um dia estas células produzirão centenas de milhões de cópias do plasmídeo, juntamente com o gene
desejado que contém (ex.: gene que produz insulina).

As bactérias podem então ser abertas (“lisadas”) e o


plasmídeo purificado do resto do conteúdo celular,
incluindo o grande cromossoma bacteriano.

O fragmento de DNA pode ser recuperado cortando-o


do plasmídeo com a mesma nuclease de restrição que
foi usada para inseri-lo, e, em seguida, separando-o do
plasmídeo por eletroforese em gel.

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Os investigadores conseguem distinguir as bactérias que “engoliram” o plasmídeo das que não o
têm a partir da sua resistência a um certo antibiótico. Ou seja, dentro do plasmídeo é incorporado
um gene que confere à bactéria resistência a um antibiótico. No caldo nutritivo onde a bactéria é
mergulhada estará presente este antibiótico. As bactérias que morrerem não possuíam o
plasmídeo, as que forem capazes de crescer e proliferar têm-no.

 Razões para a E. coli ser muito utilizada na técnica do rDNA (DNA recombinante)
o Multiplica-se rapidamente
o Expressa rapidamente a proteína recombinante
 Aspetos negativos que a levaram a ser substituída por Saccharomyces cerevisiae
o Acumulação intracelular de proteínas heterólogas
o Degradação do produto devido a vestígios de impurezas da protease
o Produção de endotoxina
 Vantagens da utilização de organismos eucarióticos na rDNA
o Se forem simples, são capazes de se reproduzirem rapidamente
o Realizam glicosilação de proteínas
o Não produzem endotoxina

Outros vetores = bacteriófago = vírus que infecta bactérias

2.4. DNA recombinante na obtenção de proteínas

Caso queiramos obter proteínas, antes de mais, é essencial usar um plasmídeo que
apresente sequências reguladoras da transcrição e da tradução (como o caso do promotor)
e após selecionarmos as bactérias que apresentam o plasmídeo recombinante, provocamos
a sua lise, e, em vez de procurarmos pelos plasmídeos, procuramos pelas proteínas, num
processo chamado de cromatografia.

o Exemplos de aplicações de tecnologias do rDNA

 Hormonas – insulina humana: terapia da diabetes

 Fatores de crescimento – Somatostatina e Somatotrofina: a sua carência está associada ao nanismo

 Anticoagulantes

 Proteínas (de maneira geral)


– Eritropoietina: fator de diferenciação eritropoiético (carência associada a patologia renal crónica e anemias) ;
– Glucocerebrosidade: enzima dos lisossomas dos macrófagos que catalisa a hidrólise dos glucocerebrósidos
(glicolípidos) presentes na membrana dos eritrócitos. A deficiência da enzima é responsável pela Doença de
Gaucher (doença de transmissão autossómica recessiva). Sem a enzima Glucocerebrosidade, os glucocerebrósidos
acumulam-se no interior dos lisossomas dos macrófagos, estes emitem sinais que geram inflamação e o baço e
fígado (hepatomegália) aumentam de tamanho.

 Proteínas virais – para vacinas

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2.5. Genes podem ser isolados numa biblioteca de DNA

Quando um genoma é cortado por uma nuclease de restrição, milhões de diferentes fragmentos de DNA são
gerados. Seguidamente todos estes fragmentos são inseridos em vetores dentro de bactérias e aquelas que
amplificaram o fragmento de DNA desejado são depois selecionadas.

Apenas é colocado 1 fragmento de DNA por cada plasmídeo. Os plasmídeos recombinantes são
introduzidos na E. coli numa concentração que assegura que não mais do que uma molécula de
plasmídeo é absorvida por cada bactéria.

À coleção de fragmentos de DNA clonados nesta cultura bacteriana dá-se o


nome de biblioteca de DNA ou biblioteca genómica, uma vez que a coleção
resultante deve representar todo o genoma desse organismo (visto os
fragmentos derivarem do DNA cromossómico do organismo de interesse).

Para ficar mais simples, apenas os fragmentos de DNA coloridos são mostrados
na biblioteca. Na realidade, todos os diferentes fragmentos a cinzento
também deveriam ser representados na biblioteca.

Nesta biblioteca, para encontrar um gene de interesse, usa-se a técnica de


hibridização:

1. Coloca-se um papel absorvente para onde são transferidas as colónias.


2. As bactérias com os plasmídeos recombinantes encontram-se numa placa
de petri, onde se deita um líquido alcalino que provoca a lise das bactérias e a
desnaturação do DNA.
3. Adicionam-se as sondas de DNA radioativas que se unem por
complementaridade aos plasmídeos com o gene de interesse da placa de petri
4. Procede-se à autoradiografia para localizar os clones com o gene de
interesse.

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o Como se pode projetar uma sonda para detetar o gene a clonar?

Nos primeiros dias de clonagem, os investigadores que desejassem estudar um gene codificador de proteínas
determinariam primeiro parte da sequência de aminoácidos da proteína (para depois deduzirem a sequência
genética da sonda apropriada). Hoje em dia, a sequência de qualquer gene de um organismo pode ser pesquisada
num banco de dados eletrónico, tornando simples o desenvolvimento da sonda que pode ser sintetizada sob
encomenda (procedimento mais fácil, mais rápido e mais barato).

2.6. O conceito de biblioteca de cDNA (DNA complementar)

Biblioteca de cDNA  biblioteca de genes que estão livres dos seus intrões e que, para tal, tiveram de ser obtidos
a partir de mRNAs de um tecido particular ou de células em cultura. Esta biblioteca é mais vantajosa uma vez que
os genes ficam mais simples de manusear (mais pequenos) e mais simples de serem lidos pelas bactérias que são
incapazes de remover intrões. (O DNA desta biblioteca não é então DNA genómico)

Para fazer esta biblioteca serão necessárias as enzimas transcriptase reversa e a polimerase.

1. O mRNA é extraído de forma total de um tipo


selecionado de célula ou tecido.

2. O DNA complementar de fita dupla (cDNA) é


produzido usando a transcriptase reversa e a DNA
polimerase.

3. Este cDNA é fragmentado e inserido em plasmídeos


que serão inseridos nas bactérias.

4. Técnica da hibridização do DNA (sonda +


autoradiografia)

Nota que: Um fragmento de mRNA permanece


hibridizado com a primeira cadeia de cDNA após a
digestão parcial da RNAse para que sirva como primer
para que a DNA polimerase consiga sintetizar a cadeia
complementar.

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Principais diferenças entre:


Biblioteca genómica Biblioteca de cDNA
Apenas apresenta genes codificadores de proteínas,
Apresenta fragmentos de todo o genoma,
específicas do tecido de onde o mRNA foi obtido.
independentemente da célula de onde a molécula de
Assim, de cada tecido, teremos uma biblioteca de
DNA veio
mRNA diferente.
Inclui sequências reguladoras, intrões, Spacer DNA,
DNA não codificadores, sequências repetitivas… O que predomina são as sequências codificadoras
pequena percentagem de sequências codificadoras
Nesta biblioteca pode-se obter mais clones do gene
Temos uma igualdade de quantidade de genes que é mais vezes transcrito e menos clones do gene
obtidos, pois são todos obtidos através de DNA. que é menos vezes transcrito (há desigualdade na
quantidade de clones obtidos)

o Maior vantagem da cDNA

Possibilita a obtenção de uma molécula de DNA sem interrupções, contendo apenas sequências codificadoras,
permitindo assim, a introdução dos genes em bactérias ou leveduras (ambas incapazes de remover intrões),
permitindo a obtenção de proteínas em massa. Também pode ser boa opção quando se pretende determinar a
sequência de nucleótidos pela qual a molécula é constituída.

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3. Clonagem de DNA por PCR


Para além das bibliotecas genómicas e de cDNA existe outro método para a clonagem de DNA denominado de
reação de polimerização em cadeia (PCR).

PCR  Uma abordagem mais rápida e direta à clonagem de DNA. Hoje a maioria dos genes é clonada via PCR. É
também uma técnica notavelmente sensível: o método pode ser usado para detetar as quantidades vestigiais de
DNA numa gosta de sangue deixada numa cena de crime.

A PCR é realizada inteiramente num tubo de ensaio, sem necessidade de usar vetores e bactérias.

3.1. PCR usa uma DNA polimerase para amplificar as sequências de DNA num tubo de ensaio

A técnica de PCR:

o Técnica completamente in vitro, ou seja, não recorre a células para a replicação do material genético
o Baseia-se na utilização da DNA polimerase e de primers
o Os primers são moléculas sintéticas de DNA (feitas pelos experimentadores que devem saber pelo menos
o início e fim da sequência a replicar)
o A DNA polimerase é isolada de uma bactéria termofílica de modo a suportar as altas temperaturas
o Não é necessário adicionar novas polimerases em cada ciclo
o Usada para amplificar amostras especialmente pequenas tendo como molde DNA ou RNA (portanto, capaz
de fazer cópias genómicas ou de cDNA), sem gastar tanto tempo como para a construção de uma biblioteca
de DNA.

Os primers utilizados não servem apenas como pontos de partida para a replicação de DNA, eles
direcionam a polimerase para a sequência de DNA específica a ser amplificada. Tal como as sondas,
estes primers são feitos quimicamente pelo experimentador. Assim, a PCR só pode ser usada para
clonar um segmento de DNA para o qual a sequência é conhecida antecipadamente.

3.2. Vários ciclos de amplificação do DNA in vitro geram bilhões de cópias da sequência de DNA desejada

Durante a PCR o ciclo de amplificação é repetido dezenas de vezes. Cada ciclo dura aproximadamente 5 min.

Etapas:

1. Uma cadeia dupla de DNA é submetida ao calor por alguns instantes de modo a que as duas cadeias de
separem (desnaturação da molécula)
2. Procede-se a um arrefecimento do DNA, na presença de um excesso de primers, de modo a que estes se
liguem, por complementaridade, à região do DNA a ser amplificada (menor temperatura favorece a
hibridação dos primers)
3. À mistura unta-se DNA polimerase + os desoxirribonucleósidos trifosfato, iniciando a replicação a partir dos
primers
4. O ciclo reinicia pelo aumento da temperatura novamente, de modo a promover a desnaturação das cadeias
duplas

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Nos ciclos subsequentes, todas as moléculas recém-sintetizadas de DNA produzidas pela polimerase servem como
modelos para a próxima rodada de replicação. (bilhões de cópias podem ser feitas após cerca de 20 a 30 ciclos).

O PCR pode ser utilizado para obter clones


genómicos ou de cDNA.

(A) Para utilizar PCR para clonar um


segmento de DNA cromossómico, o DNA
total é primeiro purificado. Seguidamente
os primers ligam-se ao trecho de DNA a
ser clonado e muitos ciclos são concluídos.
Apenas o DNA entre (e incluindo) os
primeis é amplificado.

(B) Para utilizar PCR para obter um


clone de cDNA de um gene, o mRNA total
é primeiro purificado. O primeiro primer é
adicionado e a transcriptase reversa é
usada para formar uma cadeia de DNA
complementar à sequência de RNA de
interesse. O segundo primer é adicionado,
e a molécula de DNA é amplificada.

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Por eletroforese, torna-se depois possível separar as sequências mais pequenas das maiores e dos
primers.

Aplicações:

o Deteção de infeções (em qq


estágio de desenvolvimento) –
nestas situações usa-se primers
complementares com o genoma
do organismo patogénico, torna-
se possível detetar a existência do
organismo invasor (ex. HIV)

o Medicina Forense – realizar DNA fingerprint para distinguir o culpado de um crime – recorrendo a primers
específicos que são complementares de sequências muito variáveis de pessoa para pessoa e que
conseguem detetar em pequenas amostras biológicas, a presença/ausência de correspondência. Nestas
situações, as sequências de nucleótidos avaliadas são as STRs (o locus STR). Neste locus o número de
repetições é bastante variado.

 Lógica do DNA fingerprint: No DNA fingerprint as sequências de DNA analisadas são constituídas
por repetições (STRs) [exemplo: CACACA… ou GTGTGTGTGTGTGT…]. Os STRs são encontrados em
várias posições (loci) pelo genoma humano. O número de repetições varia de 4 a 40x em diferentes
indivíduos. Portanto, devido a esta variabilidade 1 individuo geralmente herdará um número
diferente de repetições em cada locus (posição no cromossoma) de STR, isto porque um locus de 1
cromossoma veio da mãe (que tem por exemplo 5 repetições) enquanto que outro locus do outro
cromossoma veio do pai (que terá por exemplo 38 repetições). Isto faz com que a probabilidade de
2 indivíduos não relacionados (excluindo gémeos idênticos) terem STRs idênticas seja praticamente
nula.

No exemplo da imagem seguinte, os mesmos 3 locus STR são analisados em amostras de 3


suspeitos de 1 crime (A, B e C). O individuo F é a vítima. Portanto para cada indivíduo iremos ter 6
bandas de DNA (visto que cada cromossoma apresenta 2 locus de STR, um do pai e um da mãe).
Quantas mais bandas a analisar melhor porque pessoas diferentes podem ter algumas bandas
idênticas, mas é raro terem o conjunto completo idêntico, logo quantos mais loci forem

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examinados, mais confiantes serão os resultados. Ao examinar 5-10 bandas as chances de que 2
indivíduos aleatórios compartilharem a mesma impressão digital (o mesmo padrão de bandas) são
aproximadamente um em 10 bilhões. Neste caso, os indivíduos A e C podem ser eliminados das
investigações enquanto o B é um suspeito claro.

4. Decifrar e explorar a informação genética


Este subcapítulo baseia-se na determinação da sequência de nucleótidos do DNA e da função de um gene
específico.

4.1. Genomas completos podem ser sequenciados rapidamente

O método atualmente usado para a descodificação do código genético é: Dideoxy DNA sequencing ou Sanger
method.

Ingredientes para esta técnica:

 Amostra de DNA
 DNA polimerase
 Primer
 Desoxirribonucleósidos trifosfatos (dNTPs)
 Nucleótidos especiais de terminação de cadeia – chamados de didesoxirribonucleósidos trifosfatos
(ddNTPs).

Resultado: Cópias parciais do fragmento de DNA a ser sequenciado.

Função dos ddNTPs: impedir alongamento da cadeia nova. Como não têm OH na posição 3’, dps deles se ligarem
mais nenhuma base se consegue ligar.

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Procedimento – A sequenciação ocorre in vitro:

(A) Uma amostra de DNA é distribuída dentro de 4 tubos, a mesma quantidade de DNA, polimerase, primers,
dNTPs e a mesma quantidade de 1 ddNTP diferente em cada tubo.

(B) Os tubos são aquecidos para que as fitas duplas de DNA se separem em fitas simples. Seguidamente o
primer liga-se a uma sequência específica de DNA e a polimerase começa a fazer o seu trabalho.

(C) Os dNTPs vão sendo encaixados na nova cadeia e quando um ddNTP é introduzido ao acaso na mesma o
alongamento da cadeia pára.

(D) Assim várias moléculas de DNA de tamanhos diferentes serão produzidas em cada tubo.

(E) Em seguida, é feita um eletroforese em gel (processo que separa as moléculas de DNA pelos seus
tamanhos). Cada coluna representa um ddNTP de um tubo diferente e cada banda mostra o tamanho da
molécula de DNA com um ddNTP específico no fim da cadeia. Assim o resultado da eletroforese nos informa
a sequência das bases de DNA da cadeia de amostra onde a cadeia mais curta (que migrou mais)
corresponde à primeira base da sequência do gene em questão e assim por diante até a cadeia mais longa
que representa a última base do gene.

Sequência descoberta

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Atualmente o método de Sanger é mais robotizado: Este método usa uma quantidade excessiva de dNTPs normais
mais uma mistura de 4 ddNTPs diferentes. Cada 1 destes 4 ddNTPs é marcado com uma tinta fluorescente de uma
cor diferente. Os produtos de reação são carregador ao longo de um fino gel capilar e separados por eletroforese.
Uma câmara lê a cor de cada banda no gel e alimenta os dados para um computador que monta automaticamente
a sequência.

4.2. Nova técnica de sequenciação – Sequenciamento de Nova geração (next generation sequencing)

As técnicas de sequenciamento de nova geração tornam o sequenciamento do genoma mais rápido e mais barato.

A maioria destes novos métodos depende da amplificação por PCR de fragmentos de DNA ligados a um suporte
sólido (lâmina de vidro ou uma placa de pipetar). Para cada fragmento, a amplificação gera um “cluster” que contém
cerca de 1000 cópias de um fragmento de DNA individual. Dezenas de milhões desses clusters são sequenciados ao
mesmo tempo.

 Técnica de sequenciamento de segunda geração

(A) A placa é incubada com DNA polimerase e um conj de 4


nucleósidos trifosfato (Ntps) que terminam a cadeia de maneira
reversível. Estes Ntps estão marcados com cores fluorescentes
diferentes
(B) Não há dNTPs normais presentes, uma câmara grava e
regista a fluorescência em cada posição da placa
(C) Sempre que cada Ntp se liga à cadeia e é registado num
computador o DNA é quimicamente tratado para remover os
marcadores fluorescentes e os bloqueadores químicos desse
nucleósido.
(D) A síntese de DNA continua, 1 nucleósido fluorescente a
seguir ao outro, até a sequência estar completa.

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 Técnica de sequenciamento de terceira geração

Cada molécula de DNA é lentamente puxada através de um canal muito pequeno (capilar). Como cada um dos 4
nucleótidos tem uma forma diferente e característica, a forma como o um nucleótido obstrui o poro ao passar
revela a sua identidade – informação que é então usada para compilar a sequência da molécula de DNA.

Este método não requer amplificação ou rotulagem fluorescente. O que reduz ainda mais o custo e o tempo do
procedimento.

4.3. Análises comparativas do genoma podem identificar genes e prever a sua função

As cadeias de nucleótidos, à primeira vista, não revelam nada sobre o desenvolvimento do organismo vivo, ou
mesmo que tipo de organismo essa sequência poderia codificar. Uma maneira de saber a função de um gene
particular é comparar a sua sequência com as sequências conhecidas disponíveis em bancos de dados públicos,
usando um programa de computador para procurar por similaridade de sequência.

Análises comparativas revelaram que:

 Regiões codificadoras mostram um grande grau de conservação de sequências


 Regiões não codificantes tendem a divergir ao longo do tempo evolutivo

Assim, uma busca por similaridade pode identificar com que frequência e de qual organismo um determinado
segmento de DNA foi derivado e quais espécies estão mais intimamente relacionadas. Esta informação é útil
quando a origem de uma amostra de DNA é desconhecida – porque foi extraída, por exemplo, de uma amostra de
solo, água ou de sangue de um paciente com uma infeção não diagnosticada.

Mesmo alcançando estas informações não nos tornamos capazes de identificar o tipo de função
de um gene num dado organismo, para tal, os cientistas necessitam de manipular um gene mais
diretamente.

4.4. Genes repórter e hibridização “in situ” podem revelar quando e onde um gene é expresso

Para saber onde um RNA particular é feito, os investigadores usam uma técnica chamada de hibridização “in situ”,
que permite que uma sequência específica de ácido nucleico – DNA ou RNA – seja visualizada na sua localização
habitual.

Esta técnica utiliza sondas de cadeia simples de DNA ou RNA, marcadas com fluorescência ou radioactivamente,
para detetar sequências de DNA ou RNA complementares dentro de um tecido, uma célula (figura verde) ou mesmo
um cromossoma isolado (figura azul).

Nesta célula podemos ver que


houve DNA que emparelhou
com a sonda de DNA viral, que
estava marcada com
fluorescência cor de rosa. Quer
isto dizer que estas células estão
infetadas com um vírus, o
papiloma humano neste caso.

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4.5. Genes repórteres permitem que proteínas específicas sejam rastreadas em células vivas

A localização da proteína dentro da célula produz pistas para a função do seu gene codificador. Tradicionalmente,
a maneira mais eficaz de visualizar uma proteína dentro de uma célula ou tecido é usando um anticorpo marcado.
Isto requer um anticorpo que reconheça especificamente a proteína de interesse – um processo que consome
tempo e não tem garantia de sucesso.

Uma alternativa é usar as sequências reguladoras de DNA do gene codificador para direcionar a expressão de algum
tipo de gene repórter.

 Gene Repórter: gene cuja atividade pode ser facilmente monitorizada ou podemos visualizar por coloração
a proteína que ele dá origem (por adição de aa corados, por exemplo); Exemplos de proteínas a que genes
repórteres dão origem (proteínas repórteres): Enzimas B-Galactosidade, Proteína verde fluorescente (GFP).

Para determinar onde e quando se expressa um gene recorre-se a genes repórteres e sequências reguladoras do
gene que pretendemos estudar. Usa-se a sequência reguladora do gene x no gene repórter, que passa a depender
da regulação do gene x, processando-se de igual forma.

Podemos também simplesmente juntar a uma terminação do gene X o gene GFP


(fluorescente), obtendo-se assim uma proteína igual à original só que marcada por
fluorescência e, que por isso pode ser usada para determinação do seu percurso numa
célula ou organismo, com recurso a um microscópio.

neurónios

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Por vezes, em vez de monitorizar proteínas temos de monitorizar RNA, pois este pode ser o
produto final da expressão de um gene. Então recorremos à hibridização in situ, que recorre a
nucleótidos marcados radioactivamente ou com fluorescência, de modo a localizar a molécula de
RNA ou DNA na célula ou tecido onde teve origem.

 Técnica de DNA microarray

Esta não é uma técnica de deteção de nucleótidos, mas sim de monitorização de RNA produzidos a partir de milhões
de genes ao mesmo tempo, permitindo assim, numa única placa estudar o padrão de expressão de um genoma
inteiro. Assim, o estudo simultâneo da expressão de tantos genes permite compreender mecanismos de expressão
que permitem o crescimento celular, divisão celular, resposta a toxinas…

Esta técnica baseia-se na utilização de microplacas de vidro que apresentam pequenas áreas onde temos sondas
que correspondem ao DNA de uma determinada proteína.

É feita:

(A) a recolha dos mRNAs das células (por exemplo, normais e


cancerígenas)
(B) a transformação desse mRNA em cDNA
(C) a marcação desses cDNAs com fluorescência (por exemplo, os das
células normais a verde a das cancerígenas a vermelho)
(D) São misturados os cDNA e adicionados aos orifícios das placas. Se
essa determinada proteína se encontrar no gene das células normais
irá ligar-se aos cDNAs normais e vice-versa (ou então ligar-se às 2 caso
exista nas 2 células)
(E) Através de um microscópio automatizado é feita a leitura das cores.
Se houver a cor verde significa que aquela proteína está apenas nas
células normais, vermelho nas cancerígenas, amarelo nas duas, preto
em nenhuma

4.6. Aproximações genéticas para a determinação da função de um gene

Os cientistas anseiam por saber as funções de determinado gene num organismo intacto. A função de muitos genes
tem sido conhecida através do estudo de organismos mutantes, mais propriamente dos seus fenótipos tal como
Mendel fez com as ervilhas. Esta aproximação genética apenas pode ser realizada com efetividade em organismos
que se reproduzem rapidamente e para que o processo de ocorrer uma mutação seja acelerado os organismos são
expostos a radiação ou agentes mutagénicos.

A um organismo cujo genoma foi modificado, quer por introdução de um gene ou por alteração produzida por
técnicas de rDNA dá-se o nome de organismo transgénico ou OGM (organismo geneticamente modificado).

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4.7. RNA interferente (ou de interferência), iRNA, inibe a atividade de genes específicos

É uma abordagem genética mais direcionada à função dos genes só que em vez de começar com um mutante e
depois identificar o gene responsável, um gene de sequência conhecida pode ser inativado propositadamente e os
efeitos no fenótipo da célula/organismo podem ser observados.

Como esta estratégia é exatamente o inverso da clássica (que vai de mutantes a genes) ela é muitas
vezes referida como genética reversa.

Os cientistas silenciam os genes via RNA interferente (iRNA).

 Objetivo deste mecanismo: Proteger os seres vivos contra certos vírus e a proliferação de elementos
genéticos móveis.

Técnica:

1. Introduz-se uma fita dupla de RNA com a sequência de nucleótidos correspondente ao gene a silenciar
numa célula ou organismo.
2. O RNA de cadeia dupla é clivado e processado por uma maquinaria especial de iRNA para produzir
fragmentos mais curtos.
- A estes fragmentos curtos de cadeia curta dá-se o nome de siRNAs
3. Estes siRNAs são desenrolados para formar fragmentos de RNA de fita simples que se vão hibridizar com
os mRNAs do gene alvo, direcionando a sua degradação.
- Estes fragmentos híbridos podem direcionar também a produção de mais siRNAs, permitindo a inativação
contínua dos mRNAs alvo.

Uma vez que os pequenos fragmentos de RNA podem ser passados para células filhas, o iRNA pode
causar mudanças hereditárias na expressão génica. (Note-se que tudo isto é realizado com o
objetivo de determinar a função de um determinado gene.)

Capítulo 11 – Estrutura da membrana

o Sumário:
1. A bicamada fosfolipídica
2. Proteínas membranares

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1. A bicamada fosfolipídica

Como as células são preenchidas com – e cercadas por – água, a estrutura das membranas celulares é determinada
pelo comportamento dos lípidos em meio aquoso.

1.1. As membranas lipídicas formam bicamadas em água

As membranas são barreiras seletivamente permeáveis entre dois compartimentos essenciais à vida. As
membranas são comportas por lípidos e proteínas. Existem 2 tipos de membranas: a membrana plasmática e a
intracelular (organelos).

Os lípidos da membrana apresentam 2 características essenciais:

1. Uma cabeça hidrofílica (“amante da água”) Por terem estas 2 características são
2. Uma cauda hidrofóbica (“temente à água”) chamados de moléculas anfipáticas.

Os lípidos mais abundantes nas membranas celulares são os fosfolípidos, que têm:

 uma cabeça hidrofílica ligada ao resto do lípido através de um grupo fosfato


 Duas caudas hidrofóbicas que se ligam a glicerol pelos grupos COOH

O tipo mais comum de fosfolípidos na


maioria das membranas é fosfatidilcolina.
Um lípido que tem uma pequena molécula
colina ligada a um grupo fosfato como sua
cabeça hidrofílica.

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Outras moléculas anfipáticas:

 Ésteres de colesterol
 Glicolípidos (molécula que tem na sua cabeça
hidrofílica glícidos)

As interações eletrostáticas:

 As moléculas hidrofílicas dissolvem-se na água porque contêm átomos carregados ou grupos polares. Isto
é, os grupos químicos com cargas positivas e negativas estão assimetricamente distribuídos. Os átomos
carregados formam atrações electroestáticas ou ligações de hidrogénio com moléculas de água.

 As moléculas hidrofóbicas não se dissolvem em água porque não apresentam átomos carregados ou grupos
polares. Não formam interações com a água. Mas os grupos polares fazem com que as moléculas de água
adjacentes se reúnam em torno da parte hidrofóbica (formam um “cagelike”). Como esta estrutura cagelike
é mais ordenada do que a restante da água, sua formação requer energia. Este custo de energia é
minimizado quando as moléculas hidrofóbicas se agrupam, limitando seus contactos com as moléculas de
água circundantes. (Assim moléculas totalmente hidrofóbicas coalescem numa única gota quando
dispersas em água.)

As moléculas anfipáticas, como os fosfolípidos, estão sujeitas a duas forças


conflitantes: a cabeça hidrofílica é atraída pela água, enquanto as caudas hidrofóbicas
evitam a água e procuram se agregar a outras moléculas hidrofóbicas.

Este conflito é resolvido pela formação de uma bicamada – um arranjo que satisfaz
todas as partes e é energicamente mais favorável. As cabeças hidrofílicas enfrentam
água em ambas as superfícies da bicamada e as caudas hidrofóbicas são protegidas
da mesma pois estão lado a lado umas das outras no interior da sandwich.

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Se ocorrer uma rutura na membrana a tendência é para reparar, seja ela


grande ou pequena, pois trata-se de uma situação energicamente
desfavorável, visto que ficam pontas soltas livres com partes hidrofóbicas
expostas à água. No caso de ser pequena, a bicamada é espontaneamente
rearranjada. Se for grande, geralmente formam-se vesículas fechadas que
se vão libertando da bicamada.

As membranas tendem a se fechar espontaneamente, formando uma espécie de vesícula, ou seja,


fecham-se definindo um compartimento fechado. O compartimento fechado é estável, pois evita
a exposição das caudas hidrofóbicas ao meio. É por isso também que as vesículas têm forma
circular.

1.2. A membrana apresenta características importantes:

 Fluidez – diz respeito a facilidade com que as moléculas


lipídicas se movem dentro do plano da bicamada. Ocorrem
constante movimentos entre as moléculas da membrana, no
entanto não ocorrem movimentos de moléculas de uma camada
para outra, mas apenas entre moléculas vizinhas da mesma
camada. Os movimentos flip-flop não ocorrem
espontaneamente.

Aspetos de que depende a fluidez da membrana:

o Os movimentos são aumentados pelo aumento da temperatura, pelo que, com um aumento da
temperatura a fluidez da membrana é maior
o A fluidez da bicamada lipídica a uma dada temperatura depende da sua composição em fosfolípidos e na
natureza das caudas de hidrocarbonetos. A proximidade e a disposição das caudas conduzem a um
aumento de viscosidade e diminuição da fluidez. O tamanho e o número de ligações duplas das caudas dos
lípidos vão influenciar a disposição dos mesmos na bicamada. (Cadeias curtas de hidrocarbonetos têm
menos interações entre as caudas o que, consequentemente, conduz a maior fluidez). Uma cadeia de
hidrocarbonetos com ligações duplas diz-se insaturada – no que diz respeito ao H – e por isso, locais com
ligações duplas culminam com formação de pregas (dobras) que fazem com que as caudas fiquem com
maior dificuldade em se associar a outras – assim, bicamadas lipídicas que contenham larga porção em
caudas de hidrocarbonetos insaturadas, são mais fluidas.
De modo a manter a homeostasia, aquando as mudanças de temperatura, as membranas, sofrem
alterações, por exemplo, quando são expostas a altas temperaturas, são produzidos lípidos pelas células,
que apresentam menos número de ligações insaturadas e caudas de hidrocarbonetos maiores, de modo a
diminuir a fluidez.
o A fluidez da membrana é modulada pelos ésteres de colesterol. As moléculas de colesterol são pequenas e
rígidas e preenchem os espaços entre moléculas de fosfolípidos vizinhas deixadas pelas ligações insaturadas
nas caudas de hidrocarbonetos. Neste sentido, o colesterol é responsável por diminuir a fluidez e a
permeabilidade da membrana.

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Importância da fluidez da membrana:

o Permite que proteínas membranares atravessem rapidamente a membrana e que interajam umas com as
outras, fator importante na sinalização celular
o Permite que uma célula se divida uniformemente pelas células filhas quando se divide
o Em suma, ajuda as células no crescimento, vida e reprodução

 Flexibilidade

 Assimetria: A face voltada para o exterior da célula ou organelo é diferente para o interior. Exemplo: o
colesterol distribui-se entre as cudas de hidrocarbonetos; os glicolípidos apenas na face externa (ou
monocamada externa) da membrana. Conjuntos de lípidos estão mais associados à monocamada externa
e outro conjunto à interna. Após a síntese de novos fosfolípidos, estes são primeiramente dispostos na
monocamada citosólica e depois têm de atravessar para a monocamada externa para a membrana crescer.
Este processo é feito com base em enzimas: as flippases. As flippases são responsáveis pela seleção dos
lípidos a serem dispostos em cada uma das monocamadas.

A síntese de novas membranas está relacionada com a síntese de proteínas de membrana no RE e


subsequente libertação e fusão de vesículas. Durante este processo a assimetria da membrana é
conservada, ou seja, as proteínas dirigidas à monocamada interna já estão preparadas para se inserirem
nesta monocamada.

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Os glicolípidos são próprios da face não citosólica e ganham a parte glicídica no aparelho de Golgi. É
importante destacar que os lípidos que são de membrana não-citosólica, e que, serão glicosilados numa
vesícula, serão de membrana não-citosólica no citoplasma. Este fator é crucial, pois não existem flippases
responsáveis pela transferência dos glicolípidos para a monocamada citosólica.

2. Proteínas membranares
A maioria das funções da membrana é realizada por proteínas membranares.

Devido ao maior tamanho das proteínas, existe uma maior massa de proteínas na membrana
plasmática do que lípidos. No entanto, a concentração de lípidos é maior.

Algumas dessas funções são:

 Transporte de determinados nutrientes, metabólitos e iões através da bicamada


 Ancorar a membrana como macromoléculas que a atravessas de ponta a ponta
 Funcionar como recetores que detetam sinais químicos no ambiente e os retransmitem para o interior da
célula
 Funcionar como enzimas para catalisar reações específicas na membrana

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Cada tipo de membrana apresenta um conjunto característico de proteínas membranares que


refletem as funções especializadas de cada membrana.

2.1. As proteínas membranares associam-se à bicamada lipídica de diferentes maneiras

As proteínas podem estar associadas à bicamada lipídica de uma membrana celular em qualquer uma das formas
ilustradas nesta figura:

 Proteínas membranares integrais


(A) Proteínas transmembranares: atravessam a membrana de um lado a outro e apresentam uma porção
hidrofílica (exposta ao ambiente aquoso) e uma porção hidrofóbica (que se dispões lado a lado com as
caudas dos lípidos da membrana)
(B) Proteínas associadas à monocamada citosólica: a associação é feita por uma parte anfipática da
proteína em hélice- com a monocamada citosólica
(C) Ligadas a lípidos: ligadas a lípidos de membrana, dispondo-se tanto no interior como no exterior da
membrana. Estão ligadas à membrana apenas por um ou mais grupos lipídicos ligados covalentemente
(zig zag rosa)

 Proteínas membranares periféricas


(D) Protein-atached: ligadas indiretamente à membrana através de outras proteínas

Proteínas que estão diretamente ligadas à bicamada lipídica (A, B e C) podem ser removidas apenas pela rutura da
bicamada com detergentes. As proteínas membranares periféricas já podem ser liberadas da membrana por
procedimentos mais suaves que interferem nas interações proteína-proteína, mas deixam a bicamada lipídica
intacta.

2.2. Uma cadeia polipeptídica normalmente atravessa a bicamada como uma hélice-

As proteínas membranares têm uma única orientação na bicamada lipídica. Esta orientação está relacionada com
a sua função. Por exemplo, uma proteína que recebe sinais do meio ambiente e os transmite ao interior da célula,
tem de ter voltada para o exterior a extremidade responsável pelo reconhecimento do sinal.

As proteínas transmembranares apresentam na região central (a região que atravessa a membrana – “membrane-
spanning hydrophobic region”) uma porção em hélice-. Este segmento, que percorre o ambiente hidrofóbico do
interior da bicamada, é constituído por aa com cadeias laterais hidrofóbicas.

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Apesar das cadeias laterais (R) dos a.a. serem


hidrofóbicas, as ligações peptídicas que unem os a.a.
sucessivos são polares, tornando o esqueleto
polipeptídico hidrofílico.

No entanto, como no interior da bicamada lipídica não há água, as ligações peptídicas


tendem a formar ligações de H umas com as outras. Este estabelecimento de ligações
de H é otimizado pela adoção de uma estrutura em hélice-, pelo que, a maior parte
das proteínas transmembranares, apresentam, na porção responsável por se
associar à bicamada lipídica, uma estrutura em hélice-.

 A maior parte das proteínas transmembranares com estrutura em hélice-


são recetoras de sinais extracelulares.

Outras proteínas transmembranares formam poros aquosos através da bicamada para permitir que pequenas
moléculas hidrossolúveis atravessem a membrana. Tais canais não podem ser formados por proteínas com uma
única hélice-. Geralmente consistem numa série de hélices- que cruzam a bicamada várias vezes. – Proteínas
transmembranares multipass.

 Proteínas transmembranares multipass – uma ou mais das regiões que atravessam a membrana são
anfipáticas, quer isto dizer, formadas a partir de hélices- que contêm cadeias laterias de aa hidrofóbicas
e hidrofílicas. Estes a.a. tendem a estar dispostos de modo a que as cadeias laterias hidrófobas caiam num
lado da hélice, enquanto as hidrofílicas no outro.

No ambiente hidrofóbico da bicamada lipídica, as hélices- deste tipo ficam lado


a lado num anel, com as cadeias laterias hidrofóbicas expostas aos lípidos da
membrana e as cadeias laterias hidrofílicas formando o revestimento de um poro
hidrofílico através da bicamada. Estes canais vão participar no transporte seletivo
de pequenas moléculas hidrossolúveis, especialmente iões inorgânicos.

Porém, além destas proteínas transmembranares em forma de hélice- existem outras em folha-β (menos
comuns). Nesta situação, as proteínas atravessam a membrana na forma duma estrutura curvada em cilindro, que
forma um canal aberto em forma de barril (β barril). A organização dos a.a. hidrofóbicos e hidrofílicos é a mesma
que a de cima, aa hidrofóbicos voltados para os lípidos, aa hidrofílicos revestindo o canal aquoso.

o Um exemplo de estrutura de barril β é encontrado nas proteínas


porinas, que formam grandes poros preenchidos com água nas
membranas externas mitocondrial e bacteriana. As mitocôndrias e
algumas bactérias são envolvidas por uma membrana dupla, e as
porinas permitem a passagem de pequenos nutrientes, metabólitos e
iões inorgânicos, prevenindo a entrada de moléculas maiores
indesejadas como antibióticos e toxinas.

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2.3. As proteínas da membrana podem ser solubilizadas em detergentes

As proteínas da membrana são construídas para operar num ambiente que é parcialmente aquoso e parcialmente
adiposo, portanto tirá-las desse ambiente e purificá-las enquanto se preserva a sua estrutura não é tarefa fácil.
Para que se possa estudar uma proteína individual temos que separá-la da membrana e isso envolve solubilizar a
bicamada com agentes capazes de a destruir, capazes de romper as associações hidrofóbicas da bicamada. Os
agentes disruptivos mais utilizados são os detergentes.

 Detergentes: moléculas pequenas, anfipáticas, que apenas diferem dos fosfolípidos da membrana por
possuírem 1 cauda em vez de 2. Como eles apenas têm uma cauda, as moléculas de detergentes têm a
forma de cones, enquanto que os fosfolípidos têm forma cilíndrica. Na água, as moléculas cónicas tendem
a se agregar em pequenos aglomerados chamados de micelas, em vez de formar uma bicamada como as
moléculas cilíndricas.

As moléculas detergentes separam as proteínas transmembranares por rutura das ligações das mesmas com as
partes hidrofóbicas dos fosfolípidos. A parte hidrofílica do detergente associa-se aos lípidos e às proteínas em
solução, formando complexos lípido-detergente e proteína-detergente, que podem ser separados depois por
eletroforese.

o O estudo das proteínas da membrana é feito por cristalografia de raio X

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o Uma das proteínas estudadas por este método é a bacteriorodopsina. Esta proteína é responsável pelo
bombeamento de H+ para fora da célula. O bombeamento requer energia obtida diretamente da luz solar.
Portanto, cada molécula de bacteriorodopsina contém uma única molécula hidrofóbica não proteica que
absorve luz, chamada de retina, que dá à
proteína – e à bactéria – uma cor púrpura.
Quando a retina absorve um fotão de luz muda
de forma, e, ao fazê-lo, faz com que a proteína
incorporada na bicamada sofra uma série de
mudanças conformacionais também. Essas
alterações resultam na transferência de H+ da
retina para o exterior da bactéria. A retina é
então regenerada tomando mais um H+ do
citosol, devolvendo à proteína a sua
conformação original para que ela possa
repetir o ciclo.

Na presença de luz solar, milhares de moléculas de bacteriorodopsina bombeiam H+ para fora da


célula, gerando um gradiente de concentração de H+ através da membrana plasmática. A célula
usa esse gradiente de protões para armazenar energia e convertê-la em ATP.

2.4. A membrana celular é reforçada por proteínas

Uma membrana celular por si só é extremamente fina e frágil, portanto, a maioria das membranas é fortalecida e
suportada por uma estrutura de proteínas, ligadas à membrana por meio de proteínas transmembranares.

 Membranas de plantas, leveduras e bactérias: forma e propriedades da membrana é conferida por uma parede
celular rígida – uma malha de proteínas, açúcares e outras macromoléculas que envolvem a membrana plasmática.

 Membranas animal: estabilizada por uma malha de proteínas fibrosas, chamada de córtex celular, que está
ligada ao lado de baixo da membrana (monocamada citosólica da bicamada).

o Funções do córtex: manter a forma da célula, conferir resistência à célula, permitir a locomoção da célula
e impedir a saída de determinadas proteínas através da membrana.

O córtex dos glóbulos vermelhos

É constituído por uma rede de proteínas cujo principal componente são dímeros de espectrinas (spectrin). As
espectrinas estão ligadas a proteínas transmembranares através de proteínas de ligação intracelular e mantém a
forma bicôncava da célula.

Deficiência na espectrinas: Os eritrócitos apresentam uma forma esférica, são frágeis e surgem em poucas
quantidades. Indivíduos com uma anormalidade genética na estrutura da espectrinas são, portanto, anémicos.

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2.5. A célula pode restringir o movimento das proteínas membranares

“A membrana plasmática é como um mar de lípidos e proteínas a flutuarem”

A fusão de uma célula de humana com uma de rato é uma experiência que permite verificar os movimentos das
proteínas de membrana. Essa experiência pode ser percebida na imagem acima. Após a fusão, as proteínas de
membrana estão dispostas numa certa ordem: as da membrana humana estão num lado, respetivo à membrana
plasmática humana, e as da célula do rato no outro. Após incubação, (sabemos que temperaturas altas aumentam
a fluidez), vamos ter a difusão de proteínas de um lado para outro.

o As membranas celulares podem ter regiões restritas/específicas para algumas proteínas = domínio de
membrana. Veja-se como exemplo disto o domínio apical e o domínio basal das células do epitélio
intestinal, em que as proteínas responsáveis por passar para outras células as moléculas e por se ligarem a
outras células estão nos domínio basal e lateral
.

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2.6. A superfície da célula está revestida por carboidratos (glícidos)

Alguns lípidos e proteínas da camada externa têm açúcares covalentemente ligados a eles.

 Glicoproteínas: os glícidos destas proteínas são os oligossacarídeos (Cadeias curtas de glícidos)


 Proteoglicanos: os glícidos destas proteínas são moléculas grandes: polissacarídeos
 Glicolípidos: glícidos + lípidos

Todo o carboidrato nas glicoproteínas, proteoglicanos e glicolipídios está localizado na parte externa da membrana
plasmática, onde forma um revestimento de açúcar chamado camada de carboidrato ou glicocálix, que ajuda a
proteger a superfície celular contra danos mecânicos.

À medida que os oligossacarídeos e polissacarídeos absorvem água, eles também são à célula uma superfície
viscosa, o que ajuda as células móveis, como glóbulos brancos, a se espremerem através de espaços estreitos e
impedir que as células do sangue grudem umas nas outras ou nas paredes dos vasos sanguíneos.

 Para além de proteger e lubrificar a célula, o glicocálix tem um papel importante no reconhecimento e
adesão célula-célula.

As proteínas chamadas de lectinas são especializadas no reconhecimento de cadeias específicas de


oligossacarídeos. Estes oligossacarídeos divergem muito dos outros por apresentarem arranjos espaciais
diferentes, garantidos pelo estabelecimento de ligações covalentes.

Exemplos:

1. Oligossacarídeos específicos permitem o reconhecimento do oócito II por um espermatozoide.


2. Resposta a infeções – Num estágio prematuro de uma infeção bacteriana, os glícidos da membrana dos
neutrófilos são reconhecidos por uma lectina das células dos vasos sanguíneos próximos ao local de infeção,
produzida em resposta a um sinal emitido no local da infeção. Este reconhecimento conduz à adesão dos
neutrófilos, impedindo assim que continuem o seu trajeto ficando ali localizados para combater a infeção.

A camada de carboidratos na superfície das células serve como uma espécie de uniforme policial.
É característica de cada tipo de célula e é reconhecida por outros tipos de células que interagem
com ela.

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Pergunta de exame:

Como conseguem as membranas celulares ser estruturas estáveis sabendo que os lípidos não estão ligados
entre si covalentemente?

Os lípidos da membrana são moléculas anfipáticas, uma vez que possuem uma porção polar e uma porção apolar.
A parte polar é hidrófila, ou seja, tem afinidade para a água (podendo formar ligações com as moléculas de água),
enquanto que a parte apolar é hidrófoba, isto é, não tem afinidade para a água. Deste modo, os lípidos da
membrana (fosfolípidos) vão associar-se entre si, procurando diminuir a superfície de contacto das porções
hidrófobas com água (efeito entrópico), levando a um aumento da entropia do sistema. Para a conseguirem vão
formar a estrutura em bicamada própria das membranas, em que as porções hidrofóbicas se encontram no interior,
protegidas de água e as porções hidrofílicas no exterior, em contacto com a mesma. Os fosfolípidos encontram-se,
ainda, unidos por ligações de Van der Waals.

 As forças de Van der Waals se diferem das ligações de hidrogénio e das interações dipolo-dipolo por serem mais
fracas em comparação a estas.

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Capítulo 15 – Organelos membranares e transporte proteico

o Sumário:
1. Organelos membranares
2. Classificação de proteínas
3. Transporte vesicular
4. Vias secretoras
5. Vias endocíticas

1. Organelos Membranares
Organelos membranares localizados no interior de células eucarióticas permitem a ocorrência de reações que
envolvam determinadas enzimas sem que estas sejam interferidas por reações que ocorrem noutros
compartimentos.

Os maiores organelos membranares estão ilustrados na figura:

Síntese muito básica:

 RE (retículo endoplasmático): síntese de lípidos, proteínas e de membrana plasmática

 Núcleo: protege o genoma. Apresenta-se envolvido pelo invólucro nuclear, que possui duas membranas, uma
externa e uma interna, sendo a externa ligada ao RE.

 Mitocôndria: Síntese de ATP – fosforilação oxidativa

 Peroxissomas: Oxidação de moléculas tóxicas e degradação de lípidos

 Lisossomas: Degradação componentes interiores ou exteriores à célula a partir de enzimas hidrolíticas

 Núcleo: Apresenta-se envolvido pelo

 A. Golgi: conjunto de cisternas que apresenta uma face cis – face de


entrada – adjacente ao RE e uma face trans – face de saída – voltada para
a membrana plasmática. A face cis recebe proteínas solúveis em
vesículas de transporte, provenientes do RE, a trans liberta vesículas de
transporte com as proteínas para a membrana plasmática ou para outro
compartimento. Função: maturação de proteínas, recebe proteínas e
lípidos do RE, modifica-os e distribui-os por outros destinos na célula.
Apresenta uma convexidade voltada para o núcleo e a concavidade
voltada para fora.

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Os primeiros organismos existentes eram organismos simples como as bactérias, sem organelos membranares.

Como surgiram os organelos membranares?

Acredita-se que o RE, A. Golgi, peroxissomas endossomas e os lisossomas tenham surgido por invaginação da
membrana plasmática. Estes organelos fazem parte do que é coletivamente chamado de sistema endomembranar.
Esta hipótese é capaz de explicar a existência de duas membranas a envolver o núcleo.

As mitocôndrias e os cloroplastos têm outra origem. Eles apresentam DNA diferente do nuclear, podem produzir
algumas das suas proteínas e têm características comuns ao DNA bacterial, o que remete para a hipótese
endossimbiótica…

2. Classificação de proteínas
Antes de uma célula se dividir, necessita que os seus organelos se dividam. Esta divisão ocorre pelo crescimento
dos organelos e depois pela sua própria divisão. No entanto, o crescimento dos organelos requer moléculas
específicas como lípidos para o crescimento da membrana e proteínas para a membrana e para o interior do próprio
organelo. Mesmo em células que não estão se dividindo, as proteínas estão sendo produzidas continuamente. Essas
proteínas recém-sintetizadas devem ser entregues com precisão aos seus organelos apropriados – algumas para a
eventual secreção da célula e outras para substituir as proteínas de outros organelos que foram degradadas.

Para alguns organelos tais como mitocôndrias, cloroplastos, peroxissomas e o interior do núcleo, as proteínas são
entregues diretamente do citosol, através de sinais de seleção presentes na sequência de aa da proteína. Para
outros, incluindo o A. Golgi, lisossomas, endossomas e a membrana nuclear interna, as proteínas e os lípidos são
administrados indiretamente via RE, que é em si um importante local de síntese de proteínas e lípidos.

As proteínas produzidas no citosol são despachadas para locais diferentes na célula de acordo com
as “etiquetas do endereço” específicas contidas na sua sequência de aa. Uma vez no “endereço”
correto, a proteína entra na membrana ou no lúmen interno do organelo.

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2.1. As proteínas são transportadas em organelos por 3 mecanismos

A síntese de praticamente todas as proteínas da célula começa nos ribossomas do citosol. As exceções são as poucas
proteínas mitocondriais e cloroplásticas que são sintetizadas nos ribossomas dentro desses organelos. No entanto,
a maioria das proteínas mitocondriais e cloroplásticas são feitas no citosol e, posteriormente, importadas.

As proteínas que não possuem um sinal de seleção que a direciona para o organelo na qual ela é necessária
permanecem como residentes permanentes no citosol.

Quando um organelo membranar importa proteínas, tem de ultrapassar o seguinte problema:

Como é que as proteínas conseguem atravessar uma membrana que é impermeável a macromoléculas hidrofílicas?

Este problema é ultrapassado de diferentes maneiras dependendo do organelo:

1. As proteínas que se movem do citosol para o núcleo são transportadas através dos poros nucleares, que
penetram nas membranas nucleares interna e externa. Os poros funcionam como portas seletivas que
ativamente transportam macromoléculas específicas, mas também permitem a difusão livre de moléculas
menores.

2. Proteínas que se movem do citosol para o RE, mitocôndrias ou cloroplastos são transportadas através da
membrana do organelo por translocadores de proteínas localizados na membrana. Ao contrário do
transporte através de poros nucleares, a proteína transportada deve geralmente se desdobrar para
atravessar a membrana através do translocador. Bactérias têm translocadores proteicos similares em suas
membranas plasmáticas, que usam para exportar proteínas do citosol para o exterior da célula.

3. As proteínas que se movem do RE – e de um compartimento do sistema endomembranar para outro – são


transportadas por um mecanismo que é fundamentalmente diferente. Essas proteínas são transportadas
por vesículas de transporte, que se separam da membrana de um compartimento e se fundem com a
membrana de um segundo compartimento. Neste processo, as vesículas de transporte fornecem proteínas
solúveis de carga, assim como proteínas e lípidos que fazem parte da membrana vesicular.

Todos estes processos requerem energia. As proteínas


permanecem dobradas nos mecanismos 1 e 3, mas
geralmente têm que ser desdobradas durante o
mecanismo 2.

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2.2. As sequências de sinal direcionam as proteínas para o correto organelo

As sequências de sinal são sequências contínuas de aminoácidos, geralmente de 15 a 60 aa. Esta sequência é depois
normalmente retirada da proteína depois de ter chegado ao seu destino. Estas sequências são necessárias e
suficientes para direcionar uma proteína. Algo comprovado por experimentos onde se retirava uma sequência de
sinal de uma proteína e colocávamos noutra, e vice-versa, esta segunda proteína iria para o organelo da primeira
proteína, e a primeira proteína iria para o organelo da segunda.

As sequências de sinal especificando o mesmo destino podem variar muito, embora tenham a
mesma função. Propriedades físicas, como a hidrofobicidade ou a colocação de aa carregados
parecem ser mais importantes para a função destes sinais que a sequência aminoácida em
concreto.

2.3. As proteínas entram no núcleo através dos poros nucleares

O envelope nuclear é formado por 2 membranas concêntricas. A membrana nuclear interna contém proteínas que
ligam os cromossomas a esta e outras que fornecem ancoragem para a lâmina nuclear.

 Lâmina nuclear: malha de filamentos proteicos que reveste a face interna da membrana interna e
fornece suporte estrutural para o envelope nuclear (para a grande bola não colapsar).

A membrana externa do envelope por sua vez se assemelha à membrana do RE, com a qual é contínua.

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O envelope nuclear é perfurado por poros nucleares, é por eles que as moléculas irão sair e entrar no núcleo.

→ Poro nuclear: estrutura grande


composta por proteínas semelhante
a um cesto. Muitas das proteínas
que revestem o poro têm uma
cadeia polipeptídica muito
desordenada. Esses segmentos
desordenados formam uma rede
emaranhada que preenche o centro
do canal (A rede de um cesto de
basquete). Esta rede vai impedir a
passagem de grandes moléculas
mas permite que pequenas
moléculas solúveis em água passem
livremente.

Porém macromoléculas também precisam de atravessar os poros nucleares, tais como o RNA, as subunidades
ribossómicas e proteínas destinadas ao núcleo. Para entrar num poro estas moléculas têm que ter um sinal de
clarificação apropriado – sinal de localização nuclear.

→ Sinal de localização nuclear: Consiste tipicamente numa ou duas sequências curtas contendo várias
lisinas ou argininas carregadas positivamente. Este sinal está em proteínas destinadas ao núcleo e é
reconhecido por proteínas citosólicas chamadas de recetores de importação nuclear. Estes recetores
ajudam a proteína a atravessas o poro interagindo com as fibrilas citosólicas do mesmo (semelhantes a
tentáculos que se estendem da borda do poro até ao citosol).

Quando o poro nuclear está vazio, pequenas


sequências repetitivas de aminoácidos do centro do
poro ligam-se formando um gel compacto. Os
recetores de importação nuclear interrompem estas
interações e abrem uma passagem local através da
malha.

Eles simplesmente vão “trepando” agarrando estas


sequências uma a uma até atravessarem o poro, uma
vez dentro do núcleo deixam a sua carga e voltam para
fora.

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Este processo gasta energia. A energia é fornecida pela hidrólise de GTP, mediada por uma GTPase monomérica
denominada de Ran.

2.4. As proteínas têm que se desdobrar para entrar nas mitocôndrias e nos cloroplastos

Mitocôndrias e Cloroplastos: Organelos de membranas internas e externas que se especializam na síntese de ATP.
Enquanto as mitocôndrias possuem 2 membranas, os cloroplastos contêm um terceiro sistema de membrana, a
membrana tilacoide. Como já foi dito, apesar destes organelos terem o seu próprio DNA e poderem fabricar
algumas das suas proteínas, a maioria das proteínas mitocondriais e cloroplásticas são codificadas por genes no
núcleo e importadas depois do citosol.

As proteínas com destino a estes organelos têm uma sequência de sinal no seu terminal N.

Para entrarem em qualquer um destes organelos as proteínas são translocadas simultaneamente


através das membranas interna e externa, em locais especializados onde as 2 membranas entram
em contacto.

Cada proteína é desdobrada à medida que é transportada e a sua sequência de sinal é removida após a translocação
estar completa.

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Existem proteínas chamadas de Chaperone proteins (proteínas chaperonas) dentro destes organelos que ajudam a
puxar a proteína através das 2 membranas e a dobrá-la uma vez dentro do organelo.

O transporte depois dentro do organelo (se a proteína vai pra membrana externa, interna ou tilacóide) requer mais
sinais de classificação, expostas após a sequência de sinal ter sido removida. Por exemplo, a inserção de proteínas
transmembranares resulta de sequências sinalizadoras que iniciam e param precocemente o processo de
transferência através da membrana.

As mitocôndrias e os cloroplastos não precisam apenas de proteínas para se manterem vivos mas
também de lípidos. Acredita-se que a maioria dos fosfolípidos das suas membranas sejam
importados do RE (principal local de síntese lipídica da célula). Os fosfolípidos são transportados
do RE até estes organelos através de proteínas transportadoras de lípidos que extraem uma
molécula de fosfolípido de uma membrana e a entregam noutra.

2.5. As proteínas entram nos peroxissomas a partir do citosol e do retículo endoplasmático

Os peroxissomas contém 1 ou + enzimas que produzem peróxido de


hidrogénio, daí o nome. Estes organelos desfazem uma variedade de
moléculas (toxinas, álcool, ácidos gordos…). Eles também fabricam
fosfolípidos, incluindo aqueles que são abundantes na bainha de mielina
que isola os axónios das células nervosas.

Estes organelos adquirem as suas proteínas via transporte seletivo do citosol. A sequência de importação das
proteínas é reconhecida por proteínas recetoras do citosol que acompanham a proteína até o peroxissoma. Como
as membranas das mitocôndrias e dos cloroplastos a membrana peroxisomal também contém translocadores. A
única diferença é que as proteínas não precisam de se desdobrar para entrar.

Os peroxissomas também recebem proteínas que chegam em vesículas que saem do RE. Estas vesículas ou se
fundem com os peroxissomas preexistentes ou importam proteínas peroxissomais do citosol para crescerem em
peroxissomas maduros.

Síndrome de Zellweger – Doença peroxisomal

Causada por mutações que bloqueiam a importação de proteínas peroxissomais, esta doença faz com que os
indivíduos nascem com anormalidades graves no cérebro, fígado e rins. A maioria não sobrevive após os 6 meses
de vida.

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2.6. As proteínas entram no RE enquanto estão a ser sintetizadas

O RE é o sistema de membrana mais extenso de uma célula eucariótica. Este organelo serve como ponto de entrada
a proteínas destinadas a outros organelos (Complexo de Golgi, endossomas, lisossomas, superfície celular), bem
como para o próprio RE. Uma vez no RE, estas proteínas só voltam a sair para o citosol em vesículas de transporte.

Tipos de proteínas transportadas do citosol para o RE:

 Tipo 1: Proteínas solúveis em água (permanecem no Lúmen do RE). Destinadas à secreção.


 Tipo 2: Proteínas transmembranares (permanecem na membrana do RE). Destinadas à membrana de um
organelo ou membrana celular.

Estas proteínas são destinadas ao RE a partir de uma sequência de sinal de RE, um segmento de aminoácidos
hidrofóbicos.

A maioria das proteínas que entram no RE começam a ser passadas através da membrana do RE
antes que acabem de ser sintetizadas. Isto requer que o ribossoma que sintetiza a proteína esteja
ligado à membrana do RE.

→ Retículo endoplasmático rugoso: RE com ribossomas associados, o que dá uma aparência frisada quando
visto ao microscópio eletrónico.
→ Retículo endoplasmático liso: RE sem ribossomas associados, esta parte do organelo parece tubos
verticais, espécie de chaminés (quando a célula é cortada na horizontal para observação apenas vemos
muitas bolinhas juntas que parecem vesículas acumuladas, isto é o RE liso, as “chaminés foram cortadas ao
meio e nós tamos vendo a abertura)

RE liso

RE rugoso

Os ribossomas ligados à membrana do RE são idênticos em estrutura aos ribossomas livres. Apenas diferem nas
proteínas que estão produzindo. Quando um ribossoma passa a produzir uma proteína com uma sequência de sinal
de RE, essa sequencia direciona o ribossoma para a membrana do RE.

Como as proteínas são translocadas ao mesmo tempo que são produzidas não é necessária energia
para coloca-las dentro do RE. O Próprio alongamento da cadeia de aa fornece o impulso necessário
para empurrar a corrente através da membrana.

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Quando uma molécula de mRNA é traduzida, muitos ribossomas ligam-se a ela, formando um polirribossoma. O
mesmo acontece quando a proteína apresenta uma sequência de sinal para o RE.

2.7. Proteínas solúveis feitas no RE são libertadas no Lúmen deste organelo

2 Proteínas ajudam a guiar as sequências de sinal RE para a membrana do RE:

1. Uma partícula de reconhecimento de sinal (SRP), presente no citosol, liga-se ao ribossoma e à sequência
de sinal RE
2. Um recetor SRP, incorporado na membrana do RE, reconhece o SRP.

A ligação de um SRP a um ribossoma que exibe uma sequência de sinal RE retarda a síntese proteica desse
ribossoma até que o SRP se ligue ao recetor SRP no RE. Uma vez ligados, o SRP é libertado e o recetor passa o
ribossoma para um translocador de proteína na membrana do RE, e a síntese começa.

A sequência sinal (que para as


proteínas solúveis é quase sempre
no terminal N, a extremidade a ser
sintetizada primeiro) funciona para
abrir o canal translocador de
proteínas. Esta sequência
permanece ligada ao canal,
enquanto o resto da proteína é
enfiada através da membrana como
um grande laço. Esta sequência é
depois removida por uma peptidase
de sinal transmembranar.

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Quando clivada, a sequência de sinal permanece na bicamada lipídica até se degradar. Uma vez que o terminal C
de uma proteína tenha passado pelo canal de translocação, a proteína é libertada no lúmen do RE.

2.7. Sinais de start and Stop determinam o arranjo de uma proteína transmembranar na bicamada lipídica

Caso mais simples – Proteína transmembranar com um único segmento que atravessa a membrana:

A sequência de sinal, situada no terminal N, inicia a translocação (tal como ocorre com uma proteína solúvel). O
processo de transferência é depois interrompido por uma sequência de aa adicional hidrofóbica. Neste ponto, o
canal de translocação liberta a proteína que fica atravessada na membrana.

A sequência de sinal é clivada enquanto a sequência de paragem de transferência permanece na bicamada, onde
forma um segmento de extensão de membrana α-helicoidal que ancora a proteína na membrana.

Resultado: proteína transmembranar de passagem única com o seu terminal N para dentro da membrana e o
terminal C para fora.

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Caso mais complexo – Proteína transmembranar com um dois segmento que atravessam a membrana

Neste caso a sequência de sinal utilizada para iniciar a translocação está a meio da proteína e não no seu terminal
N. Esta sequência de sinal interna chama-se sequência de transferência inicial e nunca é removida do polipéptido.

Pensasse que as 2 sequências de transferência, a de início e a de paragem, sejam hidrofóbicas, portanto ambas
ficam dentro da bicamada lipídica. A sequência interna de transferência de partida serve para iniciar a translocação
da proteína, que continua até que seja atingida uma sequência de paragem de transferência. Estas sequências
depois permanecem na bicamada como hélices-α.

Em proteínas multipasse complexas, nas quais muitas hélices-α hidrofóbicas atravessam a membrana, entram em
jogo mais pares adicionais de sequências de início e paragem de transferência.

3. Transporte Vesicular

A entrada no lúmen do RE é apenas o primeiro passo. Normalmente depois de teres estado no Lúmen do RE as
proteínas viagem para o aparelho de Golgi.

→ Aparelho de Golgi: organelo organizado em cisterna onde existe a modificação de proteínas e lípidos e
posterior classificação de envio para outros locais.

O transporte do RE para o A. Golgi e do A. Golgi para outros compartimentos do sistema endomembranar é


realizado através de vesículas de transporte.

Durante o transporte vesicular, proteínas e lípidos podem sofrer vários tipos de modificações
químicas, como a adição de cadeias laterias e carboidratos.

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3.1. Vesículas de transporte carregam proteínas solúveis e membrana entre organelos

Uma via secretora externa principal começa com a síntese e entrada de proteínas no RE, migração destas para o
A. Golgi e posterior condução até à superfície da célula. – Exocitose

Uma via endocítica interna principal, responsável pela ingestão e degradação das moléculas extracelulares,
através dos endossomas para os lisossomas. – Endocitose

Vesículas de transporte apenas levam dentro de si proteínas com o mesmo destino, nunca
misturam.

3.2. O aparecimento de uma vesícula é impulsionado pela montagem local de proteínas de revestimento

As vesículas de transporte geralmente têm uma camada proteica distinta na sua superfície citosólicas e, portanto,
são chamadas de vesículas revestidas. Depois de “brotarem” do seu organelo mãe (ou pai, como preferirem) as
vesículas perdem esta capa proteica, para que se consigam fundir com o “organelo-destino”.

Funções da capa proteica:

→ Molda a membrana num botão


→ Captura moléculas para transporte futuro

As vesículas mais estudadas são as que possuem um revestimento feito da proteína clatrina (clathrin). Estas
vesículas tanto fazem parte da via endocítica como da exocítica. Estas vesículas são as mais estudadas pois são as
que se percebe melhor a forma como a vesícula escolhe a carga a transportar.

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A própria clatrina não desempenha nenhum papel na escolha das moléculas a transportar. Esta função é para outras
proteínas de revestimento chamadas de adaptinas.

→Adaptinas: proteínas de revestimento que tanto prendem o revestimento de clatrina à membrana da


vesicular como ajudam a selecionar moléculas de carga para o transporte. Por sua vez as moléculas
transportadas levam sinais de transporte específicos.

As adaptinas escolhem as moléculas a transportar através da ligação recetor-molécula. Seguidamente, estas


moléculas são incorporadas no lúmen da vesícula recém-formada.

Outra classe de vesículas revestidas, chamadas de COP-coated vesicles (COP como diminutivo de
coat protein) está envolvida no transporte de moléculas entre o RE e o A. Golgi e de uma parte do
A. Golgi para outra.

3.3. Ancoragem vesicular

Após sair do organelo mãe a vesícula tem que andar até ao organelo-destino. Muitas vezes ela é transportada
ativamente por proteínas motoras que se movem ao longo das fibras do citoesqueleto (capítulo 17). Uma vez que
a vesícula de transporte tenha atingido o seu alvo, ela deve atracar no organelo e fundir a sua membrana com a
membrana do mesmo para descarregar a carga.

Isto sugere que cada vesícula contenha à superfície marcadores moleculares que identificam a vesícula de acordo
com a sua origem e carga. Estes marcadores devem ser reconhecidos por recetores complementares na membrana
alvo apropriada.

O processo de identificação depende de uma família diversificada de GTPases monoméricas chamadas de proteínas
Rab.

→Proteínas Rab: GTPases reconhecidas pelas correspondentes proteínas de fixação na superfície


citosólicas da membrana alvo. Cada organelo e cada tipo de vesícula de transporte tem uma combinação
única de proteínas Rab. Basicamente são marcadores moleculares que fazem com que as vesiculas apenas
se fundam com a membrana correta.

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O reconhecimento da ancoragem é depois feito por outra família de proteínas chamadas de SNAREs. Uma vez que
uma proteína tenha capturado a vesícula a partir do reconhecimento das suas proteínas Rab, os SNAREs da vesícula
(chamados v-SNAREs) interagem com os SNAREs complementares da membrana-alvo (chamados t-SNAREs, T de
tethering protein, proteína que reconhece as proteínas Rab da vesicula) ancorando firmemente a vesícula ao local.

Estes 2 SNAREs também vão catalisar a fusão de membrana necessária para que a vesícula entre ao organelo a sua
carga. Para além de a vesícula entregar todo o seu conteúdo a sua membrana passa agora a fazer parte da
membrana do organelo. Esta fusão requer um sinal estimulador.

Para que a fusão das 2 membranas ocorra, as 2 bicamadas devem estar a 1,5 nm uma da outra,
para que os seus lípidos se possam misturar. Para esta abordagem próxima, a água deve ser
deslocada das superfícies hidrofílicas das membranas – um processo energicamente altamente
desfavorável.

Todas as fusões de membrana nas células devem, portanto, ser catalisadas por proteínas especializadas que se
reúnam para formar um complexo de fusão. Que fornece os meios para atravessar essa barreira de energia. São as
próprias SNAREs que catalisam este processo: uma vez que a fusão é desencadeada, os v-SNAREs e os t-SNAREs
envolvem-se, agindo como um guincho que aproxima as duas bicamadas lipídicas.

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4. Vias Secretoras
Cada molécula que passe por uma via secretora, sofrendo exocitose por exemplo, passa por uma sequência fixa de
compartimentos fechados por membranas e muitas vezes é modificada quimicamente no caminho.

4.1. A maioria das proteínas são modificadas no RE

No lúmen do RE existe uma enzima que catalisa a reação de formação de ligações dissulfeto, formadas pela
oxidação de pares de cadeias laterais de cisteína.

Estas ligações dissulfeto ajudam a estabilizar a estrutura


das proteínas, isso é importante pois estas proteínas irão
encontrar enzimas degradativas e alterações de pH.

Ligações dissulfeto não se formam no citosol porque o


ambiente lá é redutor, não oxidativo.

Muitas das proteínas que entram no RE (lúmen ou membrana) são convertidas em glicoproteínas, pela ligação
covalente de cadeias laterias de Oligossacarídeos curtos (açúcares). Processo este realizado por enzimas de
glicosilação presentes apenas no RE.

Função dos Oligossacarídeos nas proteínas:

 Proteger uma proteína de ser degradada


 Segurá-la no RE até que ela esteja adequadamente dobrada
 Guiá-la até ao organelo apropriado
 Servir como sinal de transporte para embalar a proteína em vesículas de transporte apropriadas

Quando exibidos na superfície da célula, os Oligossacarídeos formam parte da camada externa de


carboidratos da célula ou glicocálix. Ajudam no reconhecimento de uma célula por outra.

No RE, os açúcares não são adicionados 1 a 1 à


proteína mas sim um oligossacarídeo já formado,
é espetada na proteína uma cadeia curta
ramificada de 14 açúcares tudo de uma vez. O
oligossacarídeo é primeiro ligado a um lípido
especializado – dolichol –, depois transferido
para o grupo amino (NH2) de uma cadeia lateral
de asparagina na proteína, logo que surja uma
asparagina (aa) no lúmen do RE aquando a
translocação da proteína.

Reação catalisada pela oligossacaril transferase.

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Para que a cadeia de açúcares se ligue à proteína, esta tem que exibir uma sequência específica de 3 aminoácidos,
dos quais 1 é a asparagina. A enzima não espeta estas cadeias em todas as asparaginas que encontrar.
Seguidamente a glicoproteína passa para o complexo de Golgi para continuar a sua maturação e viagem.

4.2. A saída do RE é controlada para garantir a qualidade da proteína

Algumas das proteínas produzidas no RE estão destinadas a funcionar lá. Elas são retidas no RE e sempre que
escapam para o A. Golgi São devolvidas ao RE. Estas proteínas apresentam no seu terminal carboxilo uma sequência
de 4 aminoácidos chamada de sinal de retenção RE. – Sinal reconhecido por uma proteína recetora membranar
presente no RE e no A. Golgi.

A saída do RE é altamente seletiva. Proteínas mal conformadas ou multiméricas mal agrupadas


são ativamente retidas no RE por ligação a proteínas chaperonas que lá residem, cujo papel é
prender a proteína no RE até que se dobre ou monte adequadamente.

As proteínas chaperonas também impedem a


agregação de proteínas deformadas, ajudando-as
a se dobrarem corretamente. Mesmo assim, se o
dobramento e montagem continuarem a falhar
estas proteínas são exportadas para o citosol, onde
são degradadas.

Desta forma o RE controla a qualidade das proteínas que exporta para o A. Golgi.

Por vezes, no entanto, este mecanismo de controlo de qualidade pode ser prejudicial ao organismo. Um exemplo
disto é a mutação que causa a doença fibrose cística, que leva a danos pulmonares graves. Esta mutação faz com
que uma proteína membranar transportadora seja dobrada de forma errada. Contudo, a sua conformação não
alteraria a sua função (canal de cloro na membrana plasmática). Por sua vez, como tem uma forma errada fica
retida no RE. Então esta doença ocorre não porque a mutação inativa a proteína, porque ela ainda faria o seu
trabalho, mas porque ela fica retida antes que lhe seja dada uma oportunidade para trabalhar.

4.3. O tamanho do RE é controlado pelas proteínas

Quando as proteínas chaperonas ficam sobrecarregadas existe um acúmulo de proteínas mal estruturadas no RE.
Se esta cumulação for grande, o RE aciona um programa complexo chamado de resposta proteica desdobrada
(URP – unfolded protein response).

Este programa leva a célula a produzir mais RE,


incluindo mais chaperonas e outras proteínas
preocupadas com o controlo de qualidade.

Uns sensores estimulam a produção de


reguladores de transcrição para posterior ativação
dos genes codificadores de proteínas chaperonas.
Outros sensores inibem a síntese proteica,
reduzindo a quantidade de proteínas no RE.

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Em alguns casos nem esta resposta de expansão do RE é suficiente para lidar com a quantidade de proteínas que
existem dentro do lúmen do organelo. Neste caso a UPR direciona a célula a autodestruir-se, sofrendo apoptose.

→ Esta situação acontece muito nas células de um diabético, onde os tecidos se tornam gradualmente
resistentes aos efeitos da insulina. Para compensar essa resistência, as células secretoras de insulina no
pâncreas produzem mais e mais insulina. Eventualmente, o seu RE atinge uma capacidade máxima, altura
em que a UPR desencadeia a apoptose.

4.4. As proteínas são modificadas e classificadas no A. Golgi

O complexo de Golgi normalmente está localizado perto do núcleo da célula e do centrossoma (pequena estrutura
do citoesqueleto perto do centro da célula). Consiste numa coleção de bolsas achatadas envoltas em membrana
chamadas de cisternas. O número de cisternas varia muito de célula para célula, existem células com muitas
cisternas grandes e outras com poucas cisternas grandes.

A cisterna mais externa de cada face (cis e trans) é conectada a uma rede de tubos e vesículas membranosas
interconectadas. As proteínas e membranas solúveis entram na rede cis-golgi através de vesículas de transporte do
RE, percorrer as cisternas por meio de vesículas de transporte que se movem de uma cisterna e se fundem com a
próxima e saem da rede trans em vesículas de transporte destinadas à superfície celular a outro organelo do sistema
endomembranar.

 Proteínas que entram na rede cis: Podem prosseguir ou ser enviadas de volta para o RE
 Proteínas que saem na rede trans: São classificadas de acordo irem para os lisossomas (via endossomas) ou
para a superfície celular

4.5. Proteínas secretoras são libertadas da célula por exocitose

Em todas as células eucarióticas, um fluxo constante de vesículas sai da rede trans-Golgi e funde-se com a
membrana plasmática no processo de exocitose. Essa via constitutiva da exocitose supre a membrana plasmática
com lípidos e proteínas recém-produzidas. A via constitutiva também transporta proteínas solúveis para a superfície
da célula para serem libertadas para o exterior – processo de secreção.

A entrada na via constitutiva não requer uma sequência de sinal particular como aquelas que
direcionam as proteínas para os endossomas ou de volta para o RE.

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Para além da via constitutiva (que existem em todas as células eucarióticas) existe uma outra via de exocitose
regulada, que opera apenas em células especializadas para a secreção – via regulada.

Cada célula secretora especializada produz grandes quantidades de um produto específico – hormonas, muco
enzimas – que é armazenado em vesículas secretoras para posterior libertação. Estas vesículas, que fazem parte do
sistema endomembranar, saem da rede trans-Golgi e se acumulam perto da membrana plasmática. Lá, elas
esperam pelo sinal extracelular que as estimula a se fundirem com a membrana e a libertar o seu conteúdo.

Um aumento da glicose no sangue, por exemplo, sinaliza às


células endócrinas produtoras de insulina no pâncreas para
libertarem a hormona.

As proteínas que viajam por esta via possuem propriedades especiais de superfície que as levam a se agregarem
umas às outras sobre condições iónicas (Ph ácido e alto teor de Ca2+), que prevalecem nas redes trans de Golgi. As
proteínas secretadas pela via constitutiva não se agregam nem precisam de esperar pelo sinal extracelular.

A agregação seletiva também faz com que seja possível transportar imensa quantidade de
proteínas numa única vesícula de transporte. Permitindo que as células secretoras libertem
grandes quantidades efetivas da proteína, quando acionadas a tal.

Quando acio

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Embora estas vesículas de fundam com a membrana não pensem que isso aumenta a sua área
porque os componentes da membrana são removidos de outras regiões por endocitose quase tão
rapidamente quanto são adicionados por exocitose. Esta remoção retorna os lípidos e as proteínas
da membrana da vesícula para a rede de Golgi, onde podem ser usados novamente.

5. Vias Endocíticas
As células eucarióticas estão continuamente a absorver fluidos, bem como moléculas grandes e pequenas, pelo
processo de endocitose.

Os materiais ingeridos, incluindo os componentes da membrana, são entregues aos endossomas a partir dos quais
podem ser:

1. Reciclados para a membrana plasmática


2. Enviados para os lisossomas para digestão – Os metabólitos gerados pela digestão são transferidos
diretamente do lisossoma para o citosol, onde podem ser usados pela célula.

Pinocitose ingestão de lípidos e moléculas


através de pequenas vesículas
(<150 nm de diâmetro) pinocíticas

Endocitose

ingestão de partículas grandes,


Fagocitose como microorganismos e restos
(>250nm de diãmetro) celulares, através de grandes
vesículas chamadas fagossomas

Enquanto todas as células eucarióticas ingerem continuamente lípidos e moléculas por pinocitose,
partículas grandes são ingeridas principalmente por células fagocíticas especializadas.

5.1. As partículas grandes são ingeridas por 2 células fagocitárias especializadas

Nos protozoários, a fagocitose é uma forma e alimentação. Estes eucariotas unicelulares ingerem bactérias levando-
as em fagossomas. Os fagossomas depois fundem-se com os lisossomas, onde as partículas dos alimentos são
digeridas.

Porém a fagocitose não tem só como fim a alimentação.


Também tem como fim a defensão do organismo contra a
infeção pela ingestão de microrganismos invasores. Neste
campo são destacadas 2 células fagocitárias:

1. Macrófagos – amplamente distribuídos nos tecidos


2. Neutrófilos – outra célula branca do sangue

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Fagocitose:

1. As partículas devem ligam-se à superfície da célula fagocitária


e ativam um dos vários recetores de superfície.
2. O recetor reconhece os anticorpos, as proteínas que nos
ajudam a proteger contra uma infeção, que estão ligados à
superfície do microrganismo.
3. A ligação recetor-anticorpo faz com que a célula estenda
projeções plasmáticas chamadas de pseudópodes (dois
bracinhos), que abraçam a bactéria e se fundem nas suas
pontas para formar um fagossoma.
4. Já dentro da célula, o fagossoma funde-se com um lisossoma
para destruição do corpo estranho.

Algumas bactérias patogênicas arranjaram maneira para subverter o sistema: por exemplo, o
Mycobacterium tuberculosis (agente responsável pela tuberculoso) arranjou maneira de inibir a
fusão fagossoma-lisossoma. Portanto, em vez de ser destruído, a bactéria sobrevive e multiplica-
se dentro do macrófago. Este mecanismo ainda não é bem percebido.

Outra função da fagocitose é a destruição de células mortas ou danificadas do


próprio organismo. Por exemplo, os macrófagos ingerem mais de 1011 glóbulos
vermelhos gastos todos os dias.

5.2. Fluídos e Macromoléculas são absorvidos por pinocitose

As células eucarióticas ingerem continuamente pedações da sua membrana plasmática juntamente com pequenas
quantidades de líquido extracelular no processo de pinocitose.

Esta ingestão de líquidos por vesículas pinocíticas e, normalmente revestidas de clatrina, é geralmente compensada
pela perda de fluidos durante a exocitose. Portanto é de notar que a célula mantém sempre o mesmo volume e
área de membrana!

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5.3. A endocitose mediada por recetores fornece uma rota específica

O processo chamado de endocitose mediada por recetor caracteriza-se pela ingestão por pinocitose de
macromoléculas que se ligam aos recetores de membrana da célula. Estas macromoléculas depois entram na célula
como complexos macromolécula-recetor em vesículas revestidas de clatrina. Isto faz com que seja possível a
ingestão de grandes quantidades de moléculas sem que seja necessário absorver tanto fluido extracelular. Um
exemplo de endocitose mediada por recetores é a absorção de colesterol necessário para a produção de novas
membranas.

→ Colesterol: lípido extremamente insolúvel na água. É transportado na corrente sanguínea ligado a


proteínas na forma de partículas chamadas lipoproteínas de baixa densidade, ou LDL.

Estes LDLs ligam-se aos recetores da superfície celular fazendo com que o complexo recetor-LDL seja ingerido por
endocitose mediada por recetores e administrador aos endossomas. O interior dos endossomas é mais ácido que
o citosol ou o fluido extracelular, o que faz com que o LDL se dissocie do recetor. O recetor é então devolvido à
membrana plasmática via vesícula de transporte enquanto o LDL é libertado nos lisossomas para decomposição e
consequente libertação do colesterol para síntese de membrana.

Este caminho para a absorção de colesterol é interrompido em indivíduos que herdam um gene
defeituoso que codifica a proteica recetora de LDL. EM alguns casos os recetores estão ausentes,
noutros eles estão apenas disfuncionais. Em ambos os casos, porque a célula não consegue
absorver o colesterol, este acumula-se no sangue e predispõe os indivíduos a desenvolver
aterosclerose.

Aterosclerose: doença causada pela enorme acumulação de colesterol na corrente


sanguínea. A menos que estes indivíduos usem drogas (estaninas) para amenizar o
problema, provavelmente morrerão numa idade precoce de ataque cardíaco,
resultado do entupimento das artérias coronárias por colesterol.

A endocitose mediada por recetores também é usada para absorver muitos outros metabólitos essenciais como o
ferro e a vitamina B12, ambos necessários para a síntese de hemoglobina – a principal proteína dos eritrócitos.
Infelizmente, a endocitose mediada por recetores também pode ser explorada pelo vírus influenza, que causa a
gripe e ganha entrada nas células dessa maneira.

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5.4. As macromoléculas pinocitadas são classificadas nos endossomas

É possível visualizar o trajeto das partículas ingeridas pela célula em endossomas colocando-as num meio contendo
um marcador eletrodenso que aparecerá quando visto em microscopia eletrónica. Deste modo, 2 tipos de
endossomas podem ser distinguidos:

 Endossomas iniciais, logo abaixo da membrana plasmática – endossomas precoces


 Endossomas tardios, mais próximos do núcleo (passados 5 a 15min) – endossomas maduros

O interior do endossoma é mantido ácido (Ph 5-6) por uma bomba de H+ acionada por ATP. Esta bomba está na
membrana endossómica e bombeia H+ para o lúmen do endossoma a partir do citosol.

As rotas tomadas pelos recetores, depois de terem entrado num


endossoma:

1. A maioria retorna ao mesmo domínio na membrana plasmática, da


qual eles viera, (como é o caso do recetor LDL)
2. Alguns viajam para os lisossomas, onde são degradados
3. Alguns procedem para um domínio diferente na membrana
plasmática, transferindo assim suas moléculas de carga ligadas de um
espaço extracelular para outro através da célula – Processo chamado
transcitose.

Quando uma proteína de carga permanece ligada ao recetor, compartilha o mesmo destino que
ele. A carga que se dissocia do recetor está condenada à destruição nos lisossomas. Os
endossomas tardios já contêm algumas enzimas lisossómicas, de modo a que a digestão de
proteínas de carga comece no endossoma e continue à medida que este se transforma num
lisossoma.

5.5. Os Lisossomas são o principal sítio da digestão intracelular

Os lisossomas contêm cerca de 40 tipos de proteínas (proteínas que


degradam proteínas, ácidos nucleicos, Oligossacarídeos e lípidos).
Todas estas enzimas são otimamente ativas em condições ácidas (ph
~5). Portanto se algum destes lisossomas por alguma razão deitar
estas enzimas para o citosol não haverá problema porque o pH do
citoplasma é de 7.2 e as enzimas apenas trabalham em pHs ácidos.

A membrana lisossomal, como a membrana de todos os organelos,


tem as suas próprias propriedades específicas, nomeadamente
transportadores que medeiam a passagem de aminoácidos, açúcares
e nucleótidos resultantes da digestão de macromoléculas para o
citosol. A partir daí eles podem ser expulsos ou utilizados pela célula.

A membrana lisossomal é também extremamente glicosilada; os açúcares, que cobrem grande parte das superfícies
proteínas voltadas para o lúmen, protegem as proteínas da digestão pelas protéases lisossomais.

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Os lisossomas também são usados para degradar material intracelular – processo de autofagia. Neste caso a célula
literalmente se come a si própria. O processo começa com o fechamento do organelo por uma membrana dupla,
criando o autofagossoma, que então se funde com um lisossoma.

A autofagia aumenta quando a célula morre de fome ou quando se remodela extensivamente durante o
desenvolvimento. Os aminoácidos gerados por esta forma canibalística de digestão podem ser reciclados para
permitir a síntese de proteínas.

Capítulo 16 – Sinalização celular

o Sumário:
1. Princípios gerais de sinalização celular
2. Recetores equipados com enzimas

Células individuais precisam de sentir e responder ao ambiente extracelular. Têm que ser capazes de rastrear
nutrientes, saber detetar a luz e a escuridão, evitar venenos e predadores e comunicar com outras células. Por
exemplo, quando uma levedura está pronta para
acasalar, ela segrega para o seu ambiente uma
proteína chamada fator de acasalamento. As
leveduras do “Sexo” oposto detetam esse fator e
alcançam a célula que emitiu o sinal, estendendo
uma protuberância em direção à fonte do fator.

Num organismo multicelular, as coisas são mais complicadas. As células devem interpretar a multiplicidade de
sinais que recebem de outras células para ajudar a coordenar os seus comportamentos. Por exemplo, durante o
desenvolvimento do animal, as células do embrião trocam sinais para determinar qual posição em qual folheto
adotará.

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1. Princípios gerais de sinalização celular


A informação do ambiente pode chegar à célula de várias formas. Para que a célula perceba o sinal tem que haver
uma conversão do mesmo para uma forma mais clara. O mesmo acontece quando recebemos uma chamada para
o telemóvel, a chamada chega em ondas rádio, mas é convertida em sinais sonoros para percebermos. Este
processo de conversão é chamado de transdução de sinal.

As células alvo do sinal possuem proteínas chamadas recetores que reconhecem e convertem o sinal extracelular
em moléculas intracelulares.

Transdução de sinal:

1.1. Os sinais podem atuar a curto ou longo alcance

As moléculas sinalizadoras podem ser proteínas, péptidos, aminoácidos, nucleótidos, esteróides (hormonas), ácidos
gordos e derivados ou até mesmo gases dissolvidos.

Em organismos multicelulares, o estilo mais “público” de


comunicação célula-célula, envolve transmitir o sinal por todo o
corpo, secretando-o na corrente sanguínea/seiva de uma planta. As
moléculas sinalizadoras extracelulares usadas neste processo são
chamadas de hormonas.

 As células que produzem hormonas são chamadas de células


endócrinas.

Parte do pâncreas, por exemplo, é considerada uma glândula endócrina porque produz várias
hormonas – incluindo a insulina, que regula a absorção de glicose nas células de todo o corpo.

Um processo menos público, é a sinalização parácrina. Neste caso, invés


de entrar na corrente sanguínea, as moléculas sinalizadoras difundem-
se localmente no fluído extracelular. Assim elas atuam como mediadores
locais, permanecendo na vizinhança da célula secretora. Elas irão atuar
nas células vizinhas.

Muitas das moléculas sinalizadoras que regulam uma inflamação no local


de uma infeção ou que controlam a proliferação celular numa ferida
cicatrizante funcionam desta maneira.

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Em alguns casos, as células podem responder aos mediadores locais que elas próprias produziram,
uma forma de comunicação parácrina chamada de sinalização autócrina. Às vezes, as células
cancerígenas promovem sua própria sobrevivência e proliferação.

A terceira forma de comunicação celular é através de sinalização neuronal. As células nervosas (neurónios), tal
como as células endócrinas, podem transmitir mensagens a longas distâncias. Nesta caso a mensagem não é tão
“pública” pois é entregue a células específicas através de linhas privadas.

Os axónios que se estendem da medula espinhal ao dedão do pé de um adulto podem ter mais de
um metro de comprimento.

Quando ativado por sinais do ambiente ou de outras células


nervosas, um neurónio envia impulsos elétricos que correm ao
longo do seu axónio (a velocidades de até 100 ms-1). Estes sinais,
ao atingirem o terminal do axónio (ou telodendrites), são
convertidos numa forma química – cada impulso elétrico
estimula o terminal nervoso a libertar moléculas de sinal
extracelular chamadas de neurotransmissores. O
neurotransmissor difunde-se então naquele espaço estreito
entre a telodendrites de um neurónio e a dendrite do outro,
alcançando a célula-alvo em menos de 1mseg.

A quarta forma de comunicação, a mais “íntima” de todas, não requer a


libertação de uma molécula secretada. Em vez disso, as células fazem
contacto físico direto através de moléculas sinalizadoras alojadas na
membrana plasmática da célula de sinalização e de proteínas recetoras
embutidas na membrana plasmática da célula alvo. – Sinalização
dependente de contacto.

Durante o desenvolvimento embrionário, esta sinalização dependente de


contacto permite que as células adjacentes, inicialmente semelhantes a
todas as outras células, se tornem especializadas para formar diferentes
tipos de células.

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O sistema nervoso da mosca da fruta se origina no


embrião a partir de uma camada de células epiteliais.
As células isoladas neste folheto começam a se
especializar como neurónios, enquanto as células
vizinhas permanecem não neuronais e mantêm a
estrutura do folheto epitelial. Os sinais que controlam
este processo são transmitidos via contactos diretos
célula-célula.

Cada neurónio futuro envia um sinal inibitório para as


células adjacentes, impedindo-as de se especializarem
como neurónios também – Processo chamado de
inibição lateral. Tanto a molécula sinalizadora (neste
caso Delta) como a molécula recetora (chamada
Notch) são proteínas transmembranares.

Para ajudar a consolidar:

Um sinal endócrino seria o mesmo que transmitir uma informação através de uma estação de rádio.

Um sinal parácrino localizado seria o mesmo que colar um panfleto numa parede para a vizinhança.

Um sinal neuronal, de longa distância mas pessoal, seria o mesmo que fazer uma chamada telefônica.

Um sinal dependente de contacto seria o mesmo que conversar com uma pessoa cara a cara.

Um sinal autócrino seria o mesmo que escrevermos um memorando para nós mesmos.

1.2. Cada célula responde a um conjunto limitado de sinais extracelulares, dependendo da sua história e do
seu estado atual

Uma célula típica de um organismo multicelular é exposta a centenas de sinais, cabe a ela desconsiderar alguns e
reagir a outros, de acordo com a sua função. Se uma célula responde ou não a uma molécula sinalizadora depende,
em primeiro ligar, se ela possui um recetor para esse sinal. Sem o recetor apropriado, uma célula ficará “surda” ao
sinal e não responderá ao mesmo.

 Portanto, ao produzir apenas um conjunto limitado de recetores entro de milhares possíveis, uma célula
restringe os tipos de sinais que podem afetá-la.

Primeiro existe a transdução do sinal para moléculas de sinalização intracelular. Seguidamente, estas moléculas
irão atuar em sequência e, em último caso, alterar a atividade de proteínas efetoras.

→ Proteínas efetoras: proteínas que têm algum efeito direto sobre o comportamento da célula.

Estes mecanismos de retransmissão intracelular e as proteínas efetoras nas quais ele atua variam de um tipo de
célula especializada para outro. De tal modo que diferentes tipos de células respondem de diferente maneira ao
mesmo sinal.

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Por exemplo, quando uma célula de marca-passo cardíaco é exposta ao neurotransmissor acetilcolina, sua taxa de
disparo diminui. Quando uma glândula salivar é exposta ao mesmo sinal, ela secreta os componentes da saliva,
embora os recetores sejam os mesmos em ambos os tipos de células. No músculo-esquelético, a acetilcolina liga-
se a uma proteína recetora diferente, fazendo com que a célula se contraia.

 Assim, a molécula de sinal extracelular sozinha não é a mensagem, a informação transmitida pelo sinal
depende de como a célula alvo recebe e o interpreta.

A presença ou ausência de um sinal pode frequentemente modificar os efeitos de outros, isto porque os sinais em
conjunto muitas vezes fazem com que a célula se comporte diferentemente com aquela combinação do que se
recebesse os sinais em separado. Esta “adaptação” de resposta ocorre porque os sistemas de retransmissão
intracelular ativados em conjunto pelos diferentes sinais interagem.

Uma combinação de sinais pode permitir que a célula sobreviva, outra pode levá-la à diferenciação, outra pode
causar a sua divisão… Na ausência de sinais, a maioria das células animais é programada para se matar – apoptose.

Para que uma célula permaneça viva tem que estar


sempre a receber fatores de sobrevivência.

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Existem 3 tipos de recetores:

A) Recetores acoplados a um canal iónico – Responsáveis pela rápida transmissão de sinais sinápticos entre
neurónios. Basicamente eles traduzem um sinal químico na forma de um pulso de neurotransmissores.

B) Recetores acoplados a uma proteína G (GPCRs) – Medeiam as respostas a uma enorme diversidade de
sianis. As proteínas G ativadas estimulam os canais iónicos e regulam as enzimas ligadas à membrana que
controlam as concentrações de pequenas moléculas, incluindo o AMP cíclico e o Ca2+, que por sua vez,
controlam a atividade de importantes proteínas sinalizadoras.

C) Recetores acoplados a enzimas – O que vamos estudar mais a fundo agora.

2. Recetores acoplados a enzimas

Estes recetores são muito parecidos aos GPCRs, têm o seu domínio de ligação ao sinal na superfície externa da
membrana plasmática, mas, em vez de se associarem a uma proteína G, o domínio citoplasmático do recetor atua
como uma enzima ou forma um complexo com outra proteína que atua como uma enzima.

Estes recetores medeiam as repostas aos fatores de crescimento, que regulam o crescimento, proliferação,
diferenciação e sobrevivência celular.

Eles também podem mediar reconfigurações rápidas e diretas no citoesqueleto, alterando a forma da célula e a
maneira como ela se move. – Os sinais responsáveis por estas mudanças são proteínas ligadas às superfícies sobre
as quais a célula está rastejando.

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A maior classe destes recetores acoplados a enzimas são os recetores com um domínio citoplasmático que funciona
como uma cinase de tirosina, que fosforila aminoácidos de tirosina em proteínas sinalizadoras intracelulares
específicas.

→ Cinase: Enzima que modifica outras proteínas por adição de grupos fosfato. (fosforilação)

Estes recetores são chamados de “receptor tyrosine kinase” (RTKs) e serão o foco deste subcapítulo.

O crescimento anormal de células, proliferação, diferenciação, sobrevivência e migração celular


são características fundamentais de uma célula cancerígena. Anormalidades na sinalização via
recetores acoplados a enzimas têm um papel importante no desenvolvimento da maioria dos
cancros.

2.1. RTKs ativos recrutam um complexo de proteínas de sinalização intracelular

Um recetor acoplado a uma enzima, para fazer o seu trabalho de transdução, tem que ligar a atividade enzimática
do seu domínio intracelular (ou de uma proteína associada) quando uma molécula de sinal externa se liga ao seu
domínio extracelular.

A ligação de uma molécula de sinal ao domínio extracelular de um RTK faz com que este se associe a outro recetor,
formando um dímero. A molécula de sinal mostrada na imagem também é um dímero e, assim, pode fisicamente
ligar-se aos recetores. A formação dos dímeros coloca as cinases de cada cauda do recetor muito próximas uma da
outra, isto ativa as cinases para que fosforilem a cauda vizinha com várias tirosinas fosforiladas. Cada tirosina
fosforilada serve como um local de ancoragem específico para uma proteína de sinalização intracelular diferente,
que ajudará a retransmitir o sinal para o interior da célula. Estas proteínas contêm um domínio de interação
especializado que reconhece e se liga à tirosina específica fosforilada na cauda citosólica de um RTK aivado ou
noutra proteína sinalizadora intracelular.

Enquanto duram, os complexos de proteínas de sinalização montados nas caudas dos RTKs podem transmitir um
sinal para vários destinos na célula, ativando e coordenando as mudanças bioquímicas necessárias para
desencadear uma resposta complexa, como a proliferação celular ou a diferenciação.

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Para terminar esta resposta, a fosforilação da tirosina é revertida por uma fosfatase – proteína que retira grupos
fosfato – o que remove os fosfatos que foram adicionados às tirosinas, o que inativa o recetor.

Em alguns casos mais brutos, os RTKs ativos (como alguns GPCRs) são engolidos pela célula por
endocitose e depois degradados em lisossomas para que fiquem inativos.

Diferentes RTKs recrutam diferentes coleções de proteínas de sinalização intracelular, produzindo efeitos
diferentes. Uma proteína de sinalização intracelular que é ativada por quase todos os RTKs é uma proteína de
ligação a GTP (energia) chamada Ras.

2.2. A maioria dos RTKs ativa a GTPase Ras monomérica

Ras – pequena proteína de ligação a GTP que é ligada por uma cauda lipídica à face citoplasmática da membrana
plasmática. É uma GTPase que circula em 2 estados conformacionais, ativo quando o GTP está ligado e inativo
quando o GDP está ligado.

Todos os RTKs ativam a Ras. A interação com a proteína ativadora Ras-GEF encoraja a Ras a trocar o seu GDP por
GTP, e assim mudar para um estado ativo. Passado algum tempo, a Ras é desligada por uma proteína GAP chamada
Ras-GAP, que promove a hidrólise do seu GTP em GDP.

→ As GEF são fatores de troca de nucleótidos de guanina


enquanto as GAP regulam a atividade de pequenas
proteínas de ligação a nucleótidos de guanina. Em geral, as
GEFs ativam a sinalização catalisando a troca de GDP ligado
à proteína por GTP, enquanto as GAPs terminam a
sinalização induzindo a hidrólise do GTP.

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No seu estado ativo a Ras inicia uma cascata de fosforilações na qual uma série de cinases fosforilam e se ativam
mutuamente em sequência. Este sistema vai levar o sinal desde a membrana para o núcleo da célula e inclui 3
cinases chamadas de módulo de sinalização MAP cinase, em homenagem à última cinase da cascata – a MAP cinase
ou cinase ativada por mitógeno.

→ Mitógeno: moléculas sinalizadoras extracelulares que estimulam a proliferação celular.

A MAP cinase é fosforilada e ativada por uma enzima chamada MAP cinase cinase, que por sua vez é fosforilada e
ativada pela MAP cinase cinase cinase.

No final da cascata a MAP cinase fosforila várias proteínas efetoras, incluindo certos reguladores de transcrição,
alterando a sua capacidade de controlar a transcrição génica. Esta mudança no padrão de expressão génica pode
estimular a proliferação celular, promover a sobrevivência celular ou induzir a diferenciação. O resultado
dependerá de quais outros genes estão ativos na célula e de quais outros sinais a célula recebe.

Existe uma mutação que inativa a atividade da GTPase da Ras, de modo que a proteína não se consiga desligar,
promovendo a proliferação celular de forma descontrolada e o consequente desenvolvimento de um cancro. Cerca
de 30% dos cancros contêm esta mutação ativadora da RAS, outros têm mutações em genes codificadores de
proteínas que atuam na mesma via de sinalização que a RAS.

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Moléculas sinalizadoras extracelulares:

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Capítulo 17 – Citoesqueleto (capítulo sucinto)

Elementos responsáveis pela integridade estrutural das células e outros processos tais como movimentação celular
e transporte de organelos.

Existem 3 tipos de filamentos proteicos no citoesqueleto:

1. Filamentos intermédios ou
intermediários – são altamente
flexíveis e estáveis pelo que não se
partem
2. Microtúbulos de tubulina – são tipo
transformers pois desmontam-se de
uma extremidade para formar noutra
3. Filamentos de actina –
responsáveis pela contração e
movimento celular

1. Microtúbulos

Conceitos gerais:

 São constituídos por uma molécula heterométrica com 2


tipos de subunidades de tubulina – α-tubulina e β-tubulina – o que
causa polaridade no microtúbulo.
 Organizam-se numa estrutura linear designada de
protofilamento – são necessários 13 protofilamentos para formar 1
microtúbulo (cilindro oco).
 São polarizados e dependentes de GTP
 Possuem 1 extremidade positiva que cresce, onde existe a
polimerização, e uma extremidade negativa, onde ocorre a
despolimerização

Funções:

o Transporte intracelular, como por exemplo o transporte de cargas por proteínas motoras – dineina e
quinesina
o Polaridade celular
o Geração de força (formação do fuso acromático na mitose)
o Movimento celular

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1.1. Centrossoma: Centro organizador dos microtúbulos

A polimerização/despolimerização dos microtúbulos é um processo constante que gasta energia (fornecida sob a
forma de GTP).

Os microtúbulos crescem de estruturas especializadas chamadas de centros organizadores de microtúbulos, que


na maioria dos casos é o centrossoma.

o Centrossoma: par de centríolos rodeados por uma matriz proteica. Esta matriz proteica contém centenas
de estruturas em anel formadas por tubulina-γ. Cada um destes anéis vai funcionar como ponto de início
de crescimento do microtúbulo – local de nucleação.

Os dímeros de αβ-tubulina agregam-se a cada complexo de anel de γ-tubulina numa orientação específica: a
extremidade negativa de cada microtúbulo é embutida no centrossoma e o crescimento ocorre apenas na
extremidade positiva que se estende para o citoplasma.

1.2. Estabilidade Seletiva do microtúbulo

A estabilidade seletiva de microtúbulos pode polarizar uma célula. Um microtúbulo recém-formado persistirá
apenas se ambas as suas extremidades estiverem protegidas da despolimerização. Nas células, as extremidades
negativas dos microtúbulos são protegidas pelos centros organizadores a partir dos quais os microtúbulos crescem.
As extremidades positivas estão inicialmente livres, mas podem ser estabilizadas pela ligação de proteínas
específicas.

Por exemplo, aqui uma célula não polarizada é representada em (A), com novos microtúbulos a crescer de um
centrossoma em várias direções antes de encolherem de volta aleatoriamente. Uma extremidade positiva do
microtúbulo será estabilizada se encontrar uma proteína capeadora numa região específica do córtex celular (B). A
estabilização seletiva numa das extremidades da célula influenciará a orientação da matriz de microtúbulos (C) e,
em última instância, converterá a célula numa forma fortemente polarizada (D).

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1.3. Aumento e Diminuição dos microtúbulos é controlado pela hidrólise de GTP

A adição de dímeros de GTP-tubulina procede mais rapidamente


que a hidrólise de GTP o que provoca o crescimento dos
microtúbulos.

A Tubulina ligada ao GTP é adicionada à extremidade positiva


dos microtúbulos – formando 1 capuz de GTP que facilita o
crescimento.

No entanto, especialmente se o crescimento dos microtúbulos


é lento, os dímeros neste capuz de GTP irão hidrolisar o seu GTP
a GDP antes que os novos dímeros de GTP tenham tempo de se
ligar. Assim, o capuz de GTP é perdido.

Como os dímeros de GDP-tubulina têm menos energia para se


ligarem fortemente ao polímero, os protofilamentos vão se
desprendendo da extremidade positiva e os dímeros são
libertados, fazendo com que o microtúbulo encolha.

1.4. Instabilidade dinâmica do microtúbulo

Como já foi dito, a instabilidade dinâmica dos microtúbulos deriva da capacidade intrínseca dos dímeros de
tubulina para hidrolisar GTP (guanina trifosfato).

Os microtúbulos são responsáveis por uma série de movimentos celulares tais como o transporte de vesículas,
organelos e separação dos cromossomas. Estes movimentos podem se realizar através de:

> Mecanismo de polimerização/despolimerização por si só


> Baseado na ação de proteínas motoras chamadas de dineina e quinesina (forma de movimento celular +
comum)

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Dineinas: transportam carga no


sentido da extremidade negativa

Quinesinas: no sentido da positiva

O movimento destas proteínas


motoras implica o consumo de energia
sob a forma de ATP. A cauda da
proteína motora determina qual carga
a proteína transporta.

Os microtúbulos guiam o transporte de organelos, vesículas e macromoléculas ao longo de uma célula nervosa,
uma viagem que pode levar dias. Todos os microtúbulos de um axónio apontam para a mesma direção, ou seja,
com suas extremidades positivas em direção ao terminal da célula nervosa.

Os microtúbulos orientados servem como pistas para o transporte direcional de materiais sintetizados no corpo da
célula, mas necessários nas telodendrites. Existe ao mesmo tempo tanto tráfego em direção às telodendrites como
na direção inversa, ao corpo da célula. O tráfego para trás inclui mitocôndrias desgastadas e materiais ingeridos
pelos terminais do neurónio.

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1.5. Cílios e flagelos contêm microtúbulos estáveis movidos por dineina

Cílios Flagelo
Batem tipo chicote Rodam tipo ventoinha
Existem em grande quantidade nas células São únicos ou presentes em pequeno número
Muito pequenos Muito grandes
Sentem o meio

A estrutura responsável pelos movimentos dos cílios e dos flagelos chama-se Axonema.

Um axonema é constituído por:

> 9 Duplas de microtúbulos periféricos + 2


centrais
> Pontes de nexina (azul)
> Filamentos radiais (castanho)
> Bainha interna (cinzento)

Estes últimos 3 são proteínas que ajudam a


manter a estrutura do axonema.
Este é um corte transversal.

Num cílio vivo, estes braços de dineina a vermelho entram em contacto periodicamente com o microtúbulo duplo
adjacente, movendo-se ao longo deste, produzindo assim a força para o batimento ciliar.

Corpúsculo Basal é o local de onde


cresce um flagelo ou um cílio.

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2. Microfilamentos de Actina

Os Microfilamentos de actina são constituídos por monómeros globulares chamados de actina G. Estes
monómeros são proteínas assimétricas que se associam de forma regular, ou seja, sempre no mesmo
sentido. Assim, formam 1 filamento de actina helicoidal denominado de actina F – actina filamentosa.

A Actina G não associada a ATP é uma proteína instável. Razão pela qual os protofilamentos estão
sempre a ser destruídos/formados. Estes monómeros de actina carregam o ATP no citosol, que é
hidrolisado a ADP logo após a associação com outros monómeros no filamento em crescimento.

“Treadmilling” – Processo que influencia a cinética da polimerização da actina. Baseia-se no crescimento


do filamento na extremidade positiva e na simultânea despolarização da sua extremidade negativa, à
mesma velocidade (parece que anda, daí o nome). Quando as taxas de adição e perda são iguais, o
filamento permanece no mesmo comprimento.

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A actina tem uma grande quantidade de proteínas acessórias que permitem estabilizar o citoesqueleto:
> Proteínas motoras: Miosinas – Utilizam os Microfilamentos como trilhos, provocando o
deslocamento de outros Microfilamentos ou de organelos (ex: sarcómeros – importantes para a
célula se contrair)

> Proteínas capeadoras: impedem que a actina se polimerize. Recobrem uma das extremidades do
Microfilamentos estabilizando o seu crescimento. (ex.: tropomodulina)

> Gelsolinas (na presença de cálcio) – ligam-se aos monómeros em diferentes pontos do
microfilamento rompendo as interações com o monómero adjacente, em sentido à extremidade
positiva, ou seja, fragmenta a actina e forma um capuz que impede a polimerização.

> Proteínas sequestradoras – ligam-se aos monómeros livres e modulam a sua afinidade com os
microfilamentos, aumentado ou diminuindo a velocidade de polimerização. (ex: timosina)

> Proteínas de ligação – Promovem a ligação entre microfilamentos (ex: fimbrina)

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2.1. Actina na Migração celular

A célula forma ondulações que se movem ao longo da superfície dorsal de modo a possibilitar o seu movimento.
Estes movimentos são causados pela interação actina-miosina.

2.2. Actina na formação do anel contráctil (Mitose)

O encurtamento dos filamentos e contração do anel, depende de interações da actina


com moléculas de miosina.

2.3. Actina nas junções de adesão (ou aderência)

Os filamentos de actina distribuem-se consoante o tipo de forma que é


necessário gerar:

 Células epiteliais – região apical (ex: microvilosidades)


 Células do tecido conjuntivo – Toda a zona
 Células em migração – região da frente e traseira da célula
 Célula em citocinese – região equatorial

2.4. Actina no transporte intracelular

Diversos processos de transporte intracelular dependem de filamentos de actina – movimentação de vesículas,


movimentação de organelos… Isto é possível devido a proteínas motoras associadas à actina chamadas de
miosinas. Estas proteínas são capazes de movimentar organelos, possibilitar o prolongamento celular e a
contração muscular/celular.

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A miosina-I é a miosina mais simples.

(A) A miosina-I tem uma única cabeça globular que se


liga a um filamento de actina e uma cauda que se liga a
outra molécula ou organelo na célula.

(B) esse arranjo permite que o domínio da cabeça mova


uma vesícula em relação a um filamento de actina, que
neste caso é ancorado à membrana plasmática.

(C) A miosina-I também pode se ligar a um filamento de


actina no córtex celular, finalmente puxando a
membrana plasmática para uma nova forma. Observe
que o grupo da cabeça sempre caminha em direção ao
extremo positivo do filamento de actina

3. Filamentos Intermédios

Conceitos chave:

 Existem tanto no citoplasma como no núcleo


 Existem muitos tipos de filamentos intermédios
 Não existem proteínas motoras neles porque eles são apolares, logo uma proteína não conseguiria se
orientar num deles
 Monómero polar + Monómero polar = Dímero polar + Dímero polar = tetrâmero apolar
 Um monómero tem uma extremidade amino (NH2) e uma extremidade carboxilo (COOH)
 São muito elásticos e resistentes (daí estarem muito presentes na pele)
 São muito longos e torcidos
 São estáveis e pouco dinâmicos

Curiosidades:

 Chamam-se intermédios por terem um diâmetro entre o da actina e o dos microtúbulos


 Existe actina e microtúbulos em todas as células eucarióticas. Os filamentos intermédios citoplasmáticos
apenas estão presentes nos organelos multicelulares

Estrutura:

(A) Monómero
(B) Durante a polimerização os monómeros associam-
se de forma paralela para formar 1 dímero
(C) Os pares de dímeros associam-se em tetrâmeros
de forma antiparalela
(D) 8 Destes tetrâmeros vão se alinhar paralelamente
para formar um protofilamento
(E) Estes protofilamentos enovelam-se para formar 1
filamento intermédio (1 cilindro)

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Os filamentos intermédios não apresentam polaridade porque as extremidades são iguais. Assim os motores teriam
dificuldade na identificação de uma direção ou outra.

3.1. Proteínas Acessórias dos filamentos intermédios

Estas proteínas conectam os filamentos intermédios entre si formando uma rede de arranjos desorganizados fortes
e estáveis.

3.2. Os filamentos intermédios estão organizados em classes

Classe 1: Filamentos intermédios citoplasmáticos (exclusivos de seres multicelulares)

 Queratinas – nos epitélios celulares


 Vimentinas e vimentinas relacionadas – no tecido conjuntivo, células musculares e células da glia (células
do SNC que dão suporte e nutrição aos neurónios)
 Neurofilamentos – nas células nervosas

Classe 2: Filamentos intermédios nucleares

 Lâminas nucleares – dão estrutura e suporte ao invólucro nuclear

Capítulo 18 – Ciclo celular

o Sumário:
1. Ciclo celular em Geral
2. O controlo o Ciclo celular
3. Fase G1
4. Fase S
5. Fase M
6. Mitose
7. Citocinese
8. Controlo da divisão e crescimento celular

“Onde uma célula surge, deve haver uma célula anterior, assim como animais só podem surgir de animais e
plantas de plantas.”

– Rudolf Virchow

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Ciclo celular – ciclo de crescimento e duplicação do conteúdo celular seguido de uma divisão. A sua duração varia
muito de um tipo de célula para outro, por exemplo, enquanto uma célula epitelial do intestino tem um ciclo celular
de aprox. 12 horas, uma célula tem um ciclo de aprox. 1 ano e um fibroblasto em meio de cultura 20 horas.

1. Vista geral do ciclo celular


A função mais básica do ciclo celular é duplicar com precisão
os cromossomas na célula-mãe e seguidamente separá-los
equitativamente pelas 2 células filhas – Cada célula-filha
recebe uma cópia completa de todo o genoma materno.

Antes de se dividir, uma célula também aumenta significativamente de tamanho e duplica as suas
macromoléculas e organelos. Caso contrário, cada vez que uma célula se dividisse, as células filhas
ficariam sucessivamente mais pequenas

1.1. O ciclo celular eucariótico tem 4 fases

Visto num microscópio, existem 2 processos mais dramáticos no ciclo:

1. Divisão nuclear – Mitose


2. Divisão da célula em 2 – Citocinese

Estes 2 processos constituem a fase M do ciclo celular, uma fase de duração rápida comparada à duração das outras
3 fases – G1, S, G2 – que constituem a interfase.

 Interfase: Período entre uma fase M e a próxima. Compreende a fase S (de síntese) onde a célula duplica
o seu DNA, a fase G1 e a fase G2 (g de “gap”). Durante essas fases de lacuna a célula monitoriza o seu
estado interno e externo e continua a crescer.

Os períodos “gap” garantem que as condições são adequadas à reprodução e que as preparações
sejam concluídas antes que a célula se comprometa a duplicar o seu DNA e a se dividir. Daí existir
um monitoramento antes da Fase S e um antes da fase M.

Em pontos específicos de G1 e G2, a célula decide se deve


prosseguir para a próxima fase ou pausar para que haja mais
tempo para se preparar. A estes pontos de controle celular damos
o nome de checkpoints ou postos de controlo.

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1.2. Checkpoints acionam os principais processos do ciclo celular

Sistema do controlo celular – Rede complexa de proteínas reguladoras. Este sistema garante que os eventos do
ciclo celular ocorram numa sequência definida e que cada processo tenha sido completado antes que o próximo
comece.

Sistema de controlo da fase G1

O checkpoint desta fase permite que a célula averigue se o ambiente é favorável à proliferação celular, uma vez
que são necessários nutrientes e sinais extracelulares para a divisão. Se o ambiente dor desfavorável, a célula
prolonga a fase G1 antes de entrar na fase S, a ver se consegue as condições necessárias, ou entra na fase G0.
Muitas células, nomeadamente os neurónios e células do tecido muscular esquelético permanecem na fase G0
durante toda a vida.

Este checkpoint é especialmente importante uma vez que é responsável pela deteção se sinais extracelulares que
rão induzir ou não a divisão celular consoante a necessidade de novas células. Se este checkpoint não estiver a
atuar corretamente rá a célula dividir-se descontroladamente, podendo resultar em cancro.

Sistema de controlo da fase S

De G2 para M, o checkpoint confirma que o DNA não está danificado e se é totalmente replicado, garantindo que
a célula não entre em Mitose a menos que o seu DNA esteja intacto.

Sistema de controlo da fase M

Este checkpoint garante que os cromossomas replicados estejam todos bem ligados ao fuso acromático
(citoesqueleto) e estejam bem posicionados.

 A proliferação excessiva de células dá origem ao cancro. Esta proliferação descontrolada é resultado de um


mau sistema de controlo do ciclo celular.

2. Controlo do ciclo celular – Esclarecendo o básico

Os checkpoints, ou postos de controlo do ciclo celular, são mecanismos de controlo que ativam/inativam
“proteínas-chave” específicas e complexos proteicos que iniciam ou regulam a replicação do DNA, a mitose e a
citocinese.

Assim sendo, muito basicamente, regulam o ciclo celular e impedem erros durante esta divisão.

Garantem:

 Que os cromossomas estão intactos


 Que cada etapa da célula é completada antes da próxima fase

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A fosforilação seguida por desfosforilação é uma das maneiras mais comuns que a célula arranja para ativar ou
desativar uma proteína. Este método vai ser a base deste controlo celular.

Esta alternância entre fosforilações/desfosforilações irá ser regulada por diferentes conjuntos de proteínas:

1. Cinases e fosfatases
2. Ciclinas
3. CDK’S (cinases dependentes de ciclinas) – é um tipo específico de cinase
4. Complexos Ciclina-CDK

Enquanto as fosfatases ocupam-se da reação desfosforilativa, ou seja, retiram grupos fosfato à proteína ou
molécula. As cinases são enzimas responsáveis por fosforilar proteínas, o que as ativa, de modo que a célula se
consiga desenvolver.

 Complexos ciclina-CDK

Por si mesmas as ciclinas não têm atividade enzimática, mas ao se ligarem às cinases tornam-nas ativas. Assim
sendo, estas cinases dependem da ligação de uma ciclina para terem função enzimática, são as nossas CDKs. À
ligação destas 2 proteínas dá-se o nome de complexo ciclina-CDK.

Os complexos ciclina-CDK apenas estão ativos em determinadas alturas do ciclo e rapidamente são outra vez
desativados. Assim sendo, se a atividade complexos for traduzida num gráfico iremos ter altos e baixos ao longo do
ciclo celular.

A concentração de ciclinas varia de forma cíclica e gradual ao longo do ciclo celular (daí o nome delas ser “ciclinas”)
e faz com que, em certos momentos, haja uma agregação entre ciclinas e CDKS.

É de ter em atenção que apesar da concentração das ciclinas variar de forma cíclica ao longo do ciclo celular, a
concentração dos CDKS não se altera. A sua concentração é sempre a mesma, eles estão sempre presentes dentro
da célula, apenas não estão ativos.

→ Complexo Ciclina-CDK: complexo proteico heterodimérico formado por 2


proteínas, uma cinase e uma ciclina. Apresenta uma subunidade catalítica que
corresponde à ciclina (CDK) e uma subunidade reguladora que corresponde à
ciclina, uma vez que é esta que regula a atividade da cinase.

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 Porquê que os complexos ciclina-CDK ativam-se repentinamente?

Para que um complexo esteja totalmente ativo, ou seja, atinja aqueles pontos altos no gráfico, o CDK não pode
simplesmente associar-se a uma ciclina e começar a trabalhar, ele tem que ser fosforilado num lado por cinases
ativadoras de CDKS e desfosforilado noutro lado por fosfatases.

É por esta razão que a atividade de um complexo ciclina-CDK não começa a ocorrer
simultaneamente com o aumento da concentração das ciclinas, porque a sua ativação também
depende da sua fosforilação e desfosforilação.

Mas qual a função destes complexos?

> Eles próprios fosforilam proteínas alvo da célula, isto faz com que elas percebam que está na hora de
avançarem com o ciclo.

Como resultado, diferentes complexos ciclina-CDK irão atuar em diferentes fases do ciclo. Por exemplo, o complexo
M-CDK (CDK + ciclina M) fosforila proteínas chave que fazem com que os cromossomas condensem, que o invólucro
nuclear seja destruído, que os microtúbulos do citoesqueleto se reorganizem para formar o fuso acromático… Tudo
o que seja característico da fase mitótica.

Em conclusão, distintos CDKS associados a distintas ciclinas vão atuar em diferentes eventos do ciclo celular.

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 A formação do complexo G1-CDK, em células animais, depende normalmente do ambiente extracelular.


Mas porquê este complexo e não por exemplo o complexo S-CDK?

Porque este é o que faz a passagem da fase G1 para a fase S, para aquela fase em que a célula pára de se preparar
para uma divisão e começa realmente a fazê-la, começando por replicar o DNA. Como pode uma célula começar a
se dividir se o ambiente para tal não é favorável? Se isto pode causar complicações no organismo? Daí haver
moléculas sinalizadoras extracelulares – os mitogens – produzidos por outras células, que vão ajudar a ativar este
complexo que estimulará a célula a se dividir, porque só assim a célula parte do princípio que existem condições
para tal. Portanto, o complexo G1-CDK, que atua na fase G1 até a fase S, é ativado apenas por sinais extracelulares
que estimulam a célula a se dividir.

> Regra geral, as células humanas só se multiplicam se forem estimuladas pelo meio extracelular através de
sinais mitogénicos produzidos por outras células.

 Para além de depender destas proteínas o controlo do ciclo celular também depende de proteólises

Como já foi dito, a concentração de ciclinas aumenta gradualmente mas depois cai muito acentuadamente no final
da fase M. Resultado este provocado por específicos complexos enzimáticos que adicionam cadeias de ubiquitina
à ciclina em questão, que é guiada depois aos proteossomas para sua destruição.

Isto faz com que o CDK fique automaticamente inativo, daí a queda da sua atividade no mesmo ponto do gráfico
da queda da concentração de ciclinas. Esta inativação do complexo faz também com que a célula avance no ciclo
celular para outro estágio. Por exemplo, pegando outra vez no complexo M-CDK, a inativação deste complexo,
resultado da destruição da ciclina B, leva a que a célula saia da mitose.

É por esta razão que enquanto a concentração das ciclinas varia dentro da célula, a concentração das CDKs
permanece constante, porque as ciclinas são destruídas.

 Por último, existem também proteínas que inibem os CDKS. Com que objetivo?

A fim de prender a célula num determinado checkpoint.

Vimos que o controlo do ciclo celular desencadeia os eventos do ciclo de uma ordem/forma específica. Por
exemplo, só desencadeia a mitose depois do DNA ter sido devidamente replicado, o que permite que a célula se
divida em duas só depois da mitose estar completa. Se um destes passos não for controlado devidamente a célula
suprime a atividade do próximo passo para que tudo volte à normalidade.

Estes intervalos dependem das proteínas inibidoras CDK. Esta pausa proporciona à célula mais tempo para crescer
ou esperar por melhores condições extracelulares.

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Uma vez passado o posto de controlo G1, a célula completa o ciclo celular muito rapidamente (entre 12 a 24 horas
em mamíferos, regra geral).

Estas proteínas inibidoras, juntamente com os fosfatos inibitórios da atividade do complexo, também existem
porque a ciclo celular é rápido depois de passar a fase G1, quer dizer que a célula não pode perder tanto tempo na
construção dos complexos, então eles são montados quando a célula tem tempo pra isso e depois são inibidos com
uma proteína ou com um fosfato porque ainda não está no tempo de começarem a fosforilar proteínas da fase G2,
por exemplo, na fase G1. Quando chegar a altura deles, basta retirar a proteína inibidora ou o fosfato e já está.

3. Fase G1
Com base nos sinais intracelulares – que fornecem informações sobre
o tamanho da célula – e nos sinais extracelulares – que refletem o
ambiente –, a maquinaria de controlo do ciclo celular pode mantes a
célula transitoriamente em G1, num estado não proliferativo mais
prolongado chamado de G0 (temporariamente ou permanentemente
no caso das células diferenciadas terminalmente), ou pode permitir que
ela se prepare para entrar na fase S.

3.1. Os CDKs estão estavelmente inativados em G1

Durante a fase M, quando as células estão se dividindo ativamente, a célula está inundada com complexos ciclina-
CDK ativos. Se estes S-CDKs e M-CDKs não forem desativados até ao final da fase M, a célula replicará
imediatamente o seu DNA e iniciará outra divisão sem gastar tempo significativo na fase G1 ou G2. – Este ciclo
rápido é observado em embriões precoces, onde as células ficam menores a cada divisão.

> Portanto, para que uma célula permanece na fase G1 e tenha tempo de se preparar para uma nova divisão
tranquilamente, a maquinaria do controlo do ciclo celular deve inativar o seu inventário de S-CDKs e M-
CDKs.
A célula inativa estes complexos eliminando todas as ciclinas existentes, bloqueando a síntese de novas
ciclinas e implantado proteínas inibidoras de CDK para abafar a atividade de quaisquer complexos
remanescentes.

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3.2. Os sinais mitogénicos promovem a produção de ciclinas que estimulam a divisão celular

A saída de G1 para a fase S, ou de G0, requer um acúmulo de ciclinas. Os mitogens agem ativando as cias de
sinalização celular que estimula, a síntese de ciclinas G1, ciclinas G1-S e outras proteínas envolvidas na síntese de
DNA e na duplicação dos cromossomas. O acúmulo destas ciclinas desencadeia uma onde de atividade G1/S-CDK,
que acaba por fazer com que a célula entre na fase S.

Uma proteína responsável pela paragem do ciclo celular em G1 ou G0 é a Retinoblastoma (Rb).

→ Retinoblastoma (Rb): proteínas identificada em estudos de um tumor ocular raro na infância chamado
retinoblastoma, no qual a proteína Rb está ausente ou defeituosa. Esta proteína é abundante no núcleo de
todas as células dos vertebrados e liga-se a determinados reguladores de transcrição para que fiquem
impedidos de ligar os genes à proliferação celular.

O mitogens libertam este travão que é a Rb, acionando a


ativação de G1-CDKs e de G1/S-CDKs. Estes complexos
vão depois fosforilar a Rb para que ela mude de
conformação e não se consiga mais ligar ao regulador de
transcrição. Consequentemente, os reguladores de
transcrição ficam livres para ativar os genes necessários
à proliferação celular.

3.3. Algum dado no DNA pode temporariamente interromper a progressão do ciclo celular em G1

Danos ao DNA na fase G1 causam um aumento


tanto na concentração como na atividade de uma
proteína chamada o p53 – um regulador de
transcrição que ativa a transcrição de um gene
codificador da proteína inibidora p21 (basicamente
a p53 é como se fosse a chamada 112 enquanto a
p21 é a polícia da célula).

A proteína p21 vai se ligar aos complexos G1-CDK e


G1/S-CDK, inativando-os e, assim, impedindo que a
célula entre na fase S.

A pausa do ciclo em G1 dá tempo à célula para


reparar o DNA danificado antes de replicá-lo.

Se o dano no DNA for muito severo para ser


reparado, a p53 pode induzir a célula a se matar,
passando por uma forma de morte celular
programada chamada apoptose.

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Se a p53 estiver ausente ou defeituosa, a replicação total do DNA danificado leva a uma alta taxa
de mutação e à produção de células que tendem a se tornar cancerígenas. De fato, mutações no
gene p53 são encontradas em cerca de metade de todos os cancros humanos

3.4. As células podem atrasar a divisão celular por períodos prolongados

As células podem se retirar do ciclo celular por períodos prolongados – temporários ou permanentes – Fase G0.

> De forma permanente: Normalmente quando existe a diferenciação máxima da célula – células
terminalmente diferenciadas – o sistema de controlo do ciclo celular é completamente desmantelado e os
genes codificadores de ciclinas e CDKs são encerrados irreversivelmente.
> De forma temporária: Estas células mantém a capacidade de remontar o sistema de controlo do ciclo celular
e se dividir. A maioria das células do fígado, por exemplo, está em G0, mas elas podem ser estimuladas a
proliferar se o fígado estiver danificado.

4. Fase S
Antes de uma célula se dividir, ela deve replicar o seu DNA.

4.1. S-CDK garantem que o DNA é replicado apenas 1 vez

Como já sabemos, a replicação começa nas origens de replicação, que recrutam proteínas específicas que
controlam a replicação de DNA.

Existe um complexo proteico, chamado de


complexo de reconhecimento de origem (ORC),
que permanece empoleirado sobre as origens
de replicação ao longo do ciclo celular. Este
complexo irá atuar como plataforma para
seguintes proteínas reguladoras se ligarem
antes de começar a fase S.

Uma destas proteínas reguladoras é a cdc6 –


está presente em pequenas concentrações
durante todo o ciclo mas a sua concentração
aumenta significativamente na fase G1. Juntas,
a ORC e a cdc6, carregam as helicases que
abrem a dupla hélice e preparam a origem de
replicação.

Após este complexo pré-replicativo ter sido


montado a origem de replicação está pronta a
funcionar. Posteriormente a S-CDK irá induzir o
início da replicação. O complexo S-CDK é
montado e ativado no final da fase G1 e, durante
a fase S, ele ativa as helicases no complexo pré-
replicativo e promove a montagem das
restantes proteínas necessárias à replicação.

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O complexo S-CDK também faz com que o DNA não seja replicado uma segunda vez. Ele fosforila o Cdc6, o que
marca essa proteína para degradação. Sem CDC6 a replicação não pode ser reiniciada no mesmo ciclo celular.

4.2. A replicação incompleta do DNA pode pausar o ciclo celular em G2

Sabemos que a fosforilação em locais específicos de um complexo pode inibir a sua atividade. Se houverem erros
na replicação do DNA, a célula fosforila o complexo M-CDK para que este fique intivo, fazendo que a célula pause
em G2, dando tempo para que o erro no DNA seja reparado.

Se o erro for reparado a célula progride no ciclo para a fase M. Para que tal aconteça, os fosfatos inibitórios do
complexo devem ser removidos por uma fosfatase, a fosfatase tem o nome de Cdc25.

Quando o DNA é danificado, ou incompletamente replicado, os complexos M-CDK são inativados


através de fosfatos. A única forma de os por a trabalhar outra vez é com a Cdc25, com uma
fosfatase. Logicamente, para que não ocorra o risco de uma Cdc25 ativar os complexos fora de
tempo, elas também são inibidas, até o DNA voltar ao normal.

(para que um complexo fique inativo tem que levar com 2


fosfatos, um para ativá-lo e outro para inativá-lo.
Normalmente, nas imagens de fosforilação inibitória só
mostra 1 para que a imagem fique mais simples. Mas só para
esclarecer que são necessários 2)

5. Fase M

Fase M = Mitose + citocinese

Durante esta fase a célula reorganiza todos os seus componentes de forma e distribui-los equitativamente entre as
células filhas.

O problema central desta fase reside na segregação dos cromossomas.

Na fase M temos duas máquinas citoesqueléticas especializadas. Uma delas separa os dois cromatídeos-irmãos de
um cromossoma duplo (durante a mitose) e a outra divide o citoplasma da célula em duas partes (citocinese).

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5.1. Os M-CDKs impulsionam a entrada da célula na Fase M

O M-CDK é o único complexo necessário a todos os rearranjos diversos e complexos eu ocorrem nos estágios iniciais
da mitose.

Funções:

1. Ajuda a preparar os cromossomas duplos para a segregação de seus cromatídeos, promovendo a sua
máxima condensação e correto alinhamento na placa equatorial da célula
2. Induz a montagem do fuso mitótico/acromático que separa os cromatídeos

Como já foi dito, os complexos M-CDK acumulam-se em todo o G2.


Porém, este estoque não é ativado até ao final do G2, quando a
fosfatase Cdc25 remove os fosfatos inibitórios. Uma vez ativados,
cada complexo M-CDK pode fosforilar a ativar mais Cdc25s de moco
a ativar mais M-CDKs (feedback positivo). Além disto, despois de
ativado o complexo também desliga a atividade inibidora da Wee1,
promovendo ainda mais a ativação de mais M-CDKs.

Portanto, uma vez que a atividade do complexo M-CDK comece,


existe um aumento explosivo na atividade de complexos idênticos,
o que conduz a célula abruptamente de G2 para a fase M.

5.2. As condensinas e coesinas ajudam a configurar os cromossomas para a segregação

Condensinas – complexos proteicos que ajudam a condensar os cromossomas ao máximo. A montagem de


complexos de condensinas é desencadeada pela fosforilação de condensinas pelo M-CDK.

Coesinas – Os dois cromatídeos irmãos permanecem firmemente unidos pela ação de coesinas. As coesinas estão
dispostas ao longo do comprimento de cada cromatídeo (verticalmente), e garantem que estes apenas se separam
na anafase.

Em humanos, a má segregação cromossómica pode levar a doenças, tal como a síndrome de


Down, em que cada indivíduo tem 3 cópias de cromossoma 21.

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Se cromossomas corretamente alinhados no fuso mitótico:

As ligações formadas pelas coesinas são destruídas no início da anafase por proteases designadas separases,
permitindo que os cromatídeos irmãos se segreguem.

A separase é inibida até a anafase por uma proteína inibidora – a securina.

No início da anafase, a securina é destruída por um complexo proteico designado de APC (complexo promotor da
anafase). Uma vez destruída a securina, as separases tornar-se-ão ativas e irão degradar as ligações das coesinas.

O APC também destrói a M ciclina, o que irá desencadear o final da mitose. Esta degradação da ciclina mitótica só
ocorre quando os cromatídeos irmãos estiverem separados e colocados no lugar correto na célula (em polos
opostos).

Se o fuso mitótico estiver com problemas, cinetocoro não ligado aos microtúbulos do fuso:
Célula tem mecanismo de controlo celular que não é um checkpoint mas que oermite fazer uma pausa no ciclo
celular: os cinetocoro.

Até os cinetocoro estarem todos ligados ao fuso acromático corretamente a célula não avança no ciclo celular.
Quando não estão ligados ao fuso, os cinetocoro enviam um sinal de STOP ao sistema de controlo do ciclo celular.

Em que consiste este sistema?

Consiste no bloqueio da ativação do APC, retardando o início da anafase até que cada cromossoma esteja
corretamente posicionado no fuso mitótico. (cromatídeos-irmãos permanecem juntos)

Como se processa?

 Proteínas Mad 1, Mad 2 e Bub vão regular o Cdc20, que é um fator específico do ACP, necessário para que
ACP fique ativo-
 Quando essas mesmas proteínas se associam a cinetocoros que não estão ligados a microtúbulos são
convertidas numa forma ativa (de vida curta) que vai interagir com Cdc20 e inativá-lo, impedindo que este
se associe ao ACP e deste modo a securina não será degradada.
 Quando há ligação dos cinetocoros aos microtúbulos as proteínas já não se associam, fazendo com que o
Cdc20 ative o APC, que vai degradar as securinas.

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Portanto, quando todos os complexos de cinetocoros se ligarem aos microtúbulos, o Cdc20 deixa de ser inibido,
ativando o APC-> início anáfase

5.3. A fase M é convencionalmente dividida em 6 fases

As primeiras 5 fases – prófase, prometafase, metáfase, anafase e telófase – constituem a mitose.

1. Prófase: Os cromossomas são condensados e forma-se o fuso mitótico


2. Prometafase: quebra-se o invólucro nuclear, permitindo que os microtúbulos se liguem aos cromossomas
3. Metáfase: o fuso mitótico mantém os cromossomas no plano equatorial da célula
4. Anafase: os cromatídeos são segregados para pólos opostos
5. Telófase: volta a formar-se o envelope nuclear; formando-se 2 núcleos

A citocinese constitui a sexta parte e conclui-se no fim da telófase. Começa antes que a mitose termine.

Para imagens de cada etapa da mitose ver página 622 e 623 do alberts 4ª edição.

5.2. Anafase

A segregação na anafase resulta de 2 processos independentes que envolvem diferentes partes do fuso mitótico.
Os dois processos são designados de Anafase A e Anafase B.

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Na anafase A, os cinetocoros e os microtúbulos encurtados pela despolimerização “puxam” os cromossomas em


direção aos polos

Na anafase B, os polos do fuso acromático movem-se em sentidos opostos e contribuem também para a segregação
dos cromossomas.

6. Citocinese

A citocinese é o processo pelo qual o citoplasma é dividido em 2. Esta fase geralmente inicia-se no início da anafase,
no entanto, só está concluída quando os 2 núcleos estão completamente formados (na telófase)

A citocinese depende de uma estrutura baseada em filamentos de actina e miosina – o anel contráctil.

À medida que as células entram na fase M, elas se arredondam. As células mudam de forma em parte porque
algumas das proteínas da membrana plasmática responsáveis por ligar as células ao substrato - as integrinas -
tornam-se fosforiladas e, assim, enfraquecem sua aderência. Uma vez que a citocinese esteja completa, as células-
filhas restabelecem seus fortes contatos com o substrato e se achatam novamente

6.2. Citocinese em células vegetais

A presença de uma parede celular não permite o estrangulamento das células. As vesículas resultantes do complexo
de Golgi (contendo celulose, polissacarídeos e proteínas) são depositadas na região equatorial da célula, por
orientação dos microtúbulos que se formam nos poros.

Inicialmente as vesículas golgianas alinham-se na placa equatorial da célula, originando uma placa celular, que se
torna cessível na telófase. A deposição de celulose junto à placa celular vai originar 2 paredes celulares (que se
formam do centro para a periferia) e quando estas 2 paredes encontram-se com a parede celular da célula mãe
completa-se a divisão celular.

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7. Controlo do número de células e tamanho da célula

Três processos fundamentais determinam o tamanho do órgão e do corpo:

1. Crescimento celular
2. Divisão celular
3. Morte celular

Cada um destes processos dependerá de sinais de outras células do corpo – sinais extracelulares.

7.1. Apoptose ajuda a regular o número de células

O número de células de um organismo multicelular é altamente controlado, não só a partir da taxa de divisão, mas
também controlando a taxa de morte celular.

Se as células não forem mais necessárias, podem cometer suicídio, ativando um programa de morte intracelular –
morte celular programada. Nos animais, a forma mais comum de morte celular programada é a apoptose.

As patas dos animais, as nossas próprias mãos, são esculpidas por apoptose durante o desenvolvimento
embrionário: começam como estruturas semelhantes a espigas, e os dedos separam-se porque as células entre eles
morrem. O mesmo acontece com a cauda de um girino que não é mais necessária num sapo. Quer isto dizer que,
as células morrem porque não são mais necessárias.

Nos tecidos adultos, a morte celular equilibra a divisão celular, a menos que o tecido esteja crescendo (vai haver
mais taxa de divisão do que de morte) ou encolhendo (vice-versa). Assim, os órgãos e tecidos do corpo são mantidos
num tamanho constante.

7.2. A apoptose é mediada por uma cascata proteolítica intracelular

Quando as células morrem como resultado de uma lesão aguda, normalmente incham e explodem, derramando o
seu conteúdo por todos os seus vizinhos – necrose celular. Esta erupção pode causar uma inflamação
potencialmente prejudicial.

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Uma célula que sofre apoptose morre perfeitamente, sem danificar as


células vizinhas com o seu conteúdo. A superfície de uma célula em
apoptose costuma formar bolhas mas logo se condensa – esta mudança
conformacional costuma atrair os macrófagos, células fagocíticas que
rapidamente engolem as células em apoptose antes que derramem o seu
conteúdo para o meio, o que evita a necrose celular.

A maquinaria molecular responsável pela apoptose envolve uma


família de proteases chamadas de caspases (enzimas). As
caspases são feitas na célula numa forma inativa chamadas de
procaspases, elas apenas tornam-se ativas em resposta a sinais
extracelulares.

São necessários 2 tipos de caspases:

1. As caspases iniciadoras que clivam


2. As caspases executoras que são clivadas

Algumas caspases executoras podem ainda ativar outras executoras adicionais, iniciando uma cascata proteolítica.
Outras desmembram proteínas-chave, por exemplo, uma caspase executora carrasco pode atingir as lâminas
nucleares e clivá-las. Esta clivagem causa a rutura irreversível da lâmina nuclear, que permite que as nucleases
entrem no núcleo e quebrem o DNA.

A cascata de caspases é destrutiva, Auta


amplificadora e irreversível. Portanto,
depois de a célula iniciar a apoptose não
há como voltar atrás. Portanto, esta
decisão é rigidamente controlada.

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7.3. A Apoptose é regulada pela família de proteínas intracelulares bcl2

As Bcl2 são proteínas intracelulares que controlam a ativação das procaspases em caspases. Algumas Bcl2
promovem a ativação das caspases enquanto outras inibem esse processo.

2 Proteínas importantes desta família que induzem a morte celular são a Bax e a Bak – ativadas em resposta a
danos no DNA, por exemplo. Elas promovem a morte celular por induzirem a libertação de uma proteína
transportadora de eletrões chamada citocromo C (transporta eletrões da mitocôndria para o citosol).

Outros membros da família Bcl2 (incluindo o Bcl2) inibem a apoptose impedindo que a Bax e a Bak libertem o
citocromo C.

A moléculas do citocromo C quando libertadas da mitocôndria ativam as procaspases iniciadoras, induzindo assim
a morte celular. As procaspases vão montar um complexo proteico de 7 braços, semelhante a um catavento,
chamado de apoptosoma. A função do apoptosoma é recrutar uma procaspases iniciadora específica capaz de
disparar a cascata de caspases que leva à morte celular.

1. Quando as proteínas Bak ou Bax são ativadas por um estímulo apoptótico, elas se agregam na membrana
mitocondrial externa, levando à libertação do citocromo c por um mecanismo desconhecido.
2. O citocromo c é libertado no citosol a partir do espaço intermembranar mitocondrial (juntamente com
outras proteínas neste espaço - não mostrado).
3. O citocromo c então liga-se a uma proteína adaptadora, fazendo com que ela se reúna num complexo de
sete braços.
4. Este complexo recruta sete procaspases iniciadoras específicas (procaspase-9) para formar uma estrutura
chamada apoptosoma.
5. As proteínas procaspase-9 são ativadas no apoptosoma e então ativam as procaspases executoras no
citosol, levando a uma cascata de caspases que conduzem a célula à apoptose.

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7.4. Sinais extracelulares também podem induzir a apoptose

Por vezes, o sinal para cometer suicido não é gerado internamente mas sim a partir de uma célula vizinha. Alguns
destes sinais extracelulares podem afetar a atividade das Bcl2 para que se gere a cascata de caspases, outros
estimulam a apoptose mais diretamente, ativando um conjunto de recetores na superfície da célula chamados de
recetores de morte (death receptor).

Um recetor de morte bem conhecido é o Fas. O Faz é ativado por uma proteína chamada de ligante Fas – presente
na superfície das células imunológicas especializadas chamadas de linfócitos assassinos.

A ligação ligante Fas-Fas desencadeia a montagem de um complexo sinalizador indutor de morte – o DISC –, que
inclui procaspases iniciadoras específicas que, quando ativas, iniciam uma cascata de caspases, o que leva à morte
celular.

1. O ligante Fas na superfície de um linfócito assassino ativa os recetores Fas na superfície de uma célula-alvo.
2. Isto desencadeia a montagem de uma coleção de proteínas intracelulares para formar um complexo
sinalizador indutor de morte (DISC), que inclui uma procaspase iniciadora específica (procaspase-8 ou 10).
3. As procaspases clivam e se ativam mutuamente
4. As caspases ativas resultantes então ativam procaspases executoras no citosol, levando a uma cascata
proteolítica de caspases e apoptose.

7.5. As células animais requerem sinais extracelulares para sobreviver, crescer e se dividir

A maioria dos sinais extracelulares consiste na segregação de proteínas pelas células vizinhas. Embora muitos
destes sinais, de sobrevivência, crescimento e divisão celular, atuem positivamente para estimular um ou mais
desses processos, alguns atuam inibindo um processo em particular.

Os sinais que atuam positivamente são classificados em 3 grupos:

1. Fatores de sobrevivência: promovem a sobrevivência celular, suprimindo a apoptose


2. Sinais mitogénicos (mitogens): estimulam a divisão celular, desbloqueando os mecanismos que estavam a
bloquear a progressão do ciclo celular.
3. Fatores de crescimento: estimulam o crescimento celular promovendo a síntese e inibindo a degradação
de proteínas e de outras macromoléculas.

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7.6. Fatores de sobrevivência inibem a apoptose

Se privadas dos fatores de sobrevivência as células entram em apoptose. Os fatores de sobrevivência são emitidos
por outras células, este requisito ajuda a garantir que as células apenas sobrevivam quando e onde forem
necessárias.

Por exemplo, muitos tipos de células nervosas são produzidas em excesso no sistema nervoso em
desenvolvimento e então competem por quantidades limitadas de fatores de sobrevivência. As
células nervosas que recebem fatores de sobrevivência suficientes vivem, as que não, morrem.

Uma vez que estes fatores de


sobrevivência são secretados por
células que entram em contacto
com os neurónios, o número de
células nervosas sobreviventes é
ajustado para corresponder ao
número de células com as quais
se conectam.

Os fatores de sobrevivência não atuar ativando os recetores membranares


da célula. Quando ativados os recetores vão ativar as vias de sinalização
intracelular que mantêm o programa de apoptose reprimido. Por exemplo,
alguns fatores de sobrevivência atuam na produção de Bcl2, uma proteína
que suprime a apoptose.

7.7. Os mitogens estimulam a divisão celular promovendo a entrada na fase S

A maioria dos mitogens foi identificada em células em cultura. Um dos primeiros mitogens identificados dessa
forma foi o fator de crescimento derivado de plaquetas – o PDGF (Platelet-derived growth factor). Quando formam-
se coágulos sanguíneos (numa ferida, por exemplo), as plaquetas são estimuladas para libertar PDGF. O PDGF vai
se ligar às tirosinas cinases (capítulo 16) das células sobreviventes no local da ferida, estimulando as células a
proliferar e curar a ferida. Outro mitogen chamado de fator de crescimento do hepatócito ajuda a proliferar células
hepáticas (do fígado) quando nele ocorre uma lesão (seja aguda ou cirúrgica).

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7.8. Os fatores de crescimento estimulam as células a crescer

O crescimento de um organismo ou órgão depende tanto do crescimento celular quanto da divisão celular.

Em organismos unicelulares, como leveduras, tanto o crescimento como a divisão celular apenas requerem
nutrientes. Em animais, requerem nutrientes e sinais de outras células.

O crescimento celular não depende do controlo do ciclo celular, ao contrário da divisão. Daí
algumas células continuarem a crescer mesmo depois de atingirem a diferenciação terminal e
pararem permanentemente de se dividir. Por exemplo, os neurónios e as células musculares.

Basicamente, os fatores de crescimento ligam-se aos recetores da célula


ativando uma via de sinalização intracelular que ativa a produção de proteínas
e macromoléculas dentro da célula e diminui a taxa de degradação das
mesmas.

O PDGF pode tanto atuar como fator de crescimento quanto como mitogen,
estimulando tanto o crescimento como a divisão celular. Proteínas como o
PDGF ajudam a garantir que as células mantenham seu tamanho adequado à
medida que se proliferam.

7.9. Alguns sinais extracelulares inibem a divisão, o crescimento e a sobrevivência da célula

Os sinais extracelulares referidos anteriormente atuam promovendo o crescimento e divisão celular; no entanto,
existem outros sinais que têm ação contrária.

A miostatina (myostatin) é um exemplo disso pois inibe o crescimento e a


proliferação dos mioblastos. Quando o gene que codifica a miostatina está
danificado, as células dos músculos crescem em número e em tamanho, tornando
os músculos muito maiores que o normal, porque tanto o número como o tamanho
das células aumenta.

Note-se que as células cancerígenas são menos dependentes a estes sinais daí que sobrevivam, cresçam e
proliferem descontroladamente.

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Capítulo 19 – Reprodução Sexual e Genética


o Sumário:
1. Os benefícios do sexo
2. Meiose e fertilização
3. Mendel e as leis de herança genética
4. Genética como uma ferramenta experimental

1. Os benefícios do sexo
A maior parte dos organismos que vemos à nossa volta reproduzem-se sexualmente. No entanto, muitos outros
invisíveis a olho nu podem reproduzir-se de forma assexuada, como é o caso de bactérias e de outros seres
unicelulares.

A reprodução sexuada, ao contrário da assexuada, envolve mistura de genes provenientes de dois


indivíduos diferentes.

Vantagens da reprodução sexuada:

 Variabilidade genética: resulta do crossing-over, da disposição aleatória dos cromossomas na metáfase e


da fusão de dois gâmetas aleatórios. Estas variações genéticas são favoráveis à sobrevivência da espécie.
 Na reprodução sexuada as fêmeas selecionam os machos com melhores características para acasalar,
eliminando a longo prazo genes menos bons da população.

1.1. A reprodução sexual envolve células diploides e haploides

Célula diploide: célula que contém 2 conjuntos de cromossomas, um herdado


de cada progenitor.

Célula haploides: Célula que contém 1 conjunto de cromossomas. Num


organismo multicelular, as células haploides correspondem aos gâmetas –
células da linha germinativa.

As células haploides são geradas a partir de células diploides por uma forma
especializada de reprodução redutora chamada de meiose.

Num organismo temos:

> Células somáticas – diploides, presentes todas as células do corpo à


exceção dos gãmetas. Servem para ajudar as células germinativas a
sobreviver e se propagar.
> Células germinativas

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2. Meiose e fertilização
A meiose garante a manutenção do número de cromossomas característicos da espécie ao longo das gerações.
Ocorre nas células da linha germinativa (diploides).

2.1. A meiose envolve uma ronda de replicação de DNA seguida de duas rondas de divisão celular

Embora as células que sofram meiose acabem com metade do DNA, este processo também requer que a célula
duplique primeiro os seus cromossomas, tal como na mitose. A redução do número de cromossomas ocorre porque
esta única ronda de duplicação é precedida por 2 rondas de divisão celular seguidas.

Ainda não é claro o porquê da célula duplicar o seu DNA e fazer duas divisões, em vez de simplesmente omitir a
sua fase S e fazer uma única divisão.

A meiose começa em células da linha germinativa diploides especializadas que residem nos ovários ou testículos.
Cada uma destas células contém 2 cópias de cada cromossoma, uma cópia da mãe e uma do pai.

o 1º Passo da Meiose (= 1º passo da mitose): Duplicação dos cromossomas


o 2º Passo da Meiose (diferente da mitose): Cada cromossoma paterno duplicado localiza e se liga ao
cromossoma materno duplicado correspondente, processo chamado de emparelhamento.

As duas divisões redutoras na meiose são chamadas de Meiose I e Meiose II e darão origem a 4 células haploides
no final do ciclo completo.

Como a atribuição de cada homólogo às células-filhas haploides é aleatória, cada um dos gâmetas resultantes
receberá uma mistura diferente de cromossomas maternos e paternos.

Meiose I (divisão redutora):

1. Os cromossomas da célula diploide são duplicados – origina células diploides 4n


2. Ocorre a condensação dos cromossomas e os fenómenos de emparelhamento e crossing-over – prófase I
3. Os cromossomas alinham-se aleatoriamente no plano equatorial da célula – Metáfase I
4. Os cromossomas duplos são segregados – Anáfase I
5. Telófase I e citocinese (tal como na mitose). Desta primeira divisão celular resultam 2 células haploides 2n
de cromossomas duplos.

Meiose II (divisão equacional):

Esta divisão ocorre sem duplicação prévia do DNA, ou seja, começa com as células haploides 2n. Os cromatídeos
irmãos alinham-se no plano equatorial da célula na metáfase II e são posteriormente segregados na anáfase II,
originando as nossas 4 células haploides n.

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Conceitos da meiose a ter em conta:

→ Cada emparelhamento de cromossomas forma uma estrutura chamada bivalente, na qual todos os 4
cromatídeos-irmãos se unem até a célula estar pronta a se dividir. Os homólogos maternos e paternos se separam
durante a meiose I enquanto os cromatídeos irmãos individuais se
separam na meiose II. Uma vez formados, os bivalentes são muito
estáveis: permanecem associados ao longo da longa prófase da
meiose I, o que pode durar anos.

→ Durante a formação do bivalente podem surgir


pontos de cruzamento entre os cromatídeos dos
cromossomos homólogos, a estes pontos de
contacto damos o nome de Quiasmas. Nos quiasmas
pode ocorrer a quebra dos cromatídeos, levando a
trocas de segmentos dos Bivalentes – Crossing-over
(que contribui para o aumento da variabilidade dos
descendentes).

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Crossing-over:

Processo catalisado por um conjunto específico de enzimas: synaptonemal complex. Este complexo proteico
permite o e alinhamento dos cromossomas homólogos para que possa ocorrer a recombinação génica entre os
cromatídeos não irmãos.

O crossing-over é portanto, uma fonte de variabilidade genética e, para além de manter os cromossomas
homólogos alinhados, irá promover uma correta segregação no decorrer da meiose I.

2.2. A meiose não é impecável

Visto que a meiose nos humanos começa com 96 cromossomas (23 pares duplicados), não é surpreendente que
ocorram erros.

Ocasionalmente os homólogos não conseguem se separar adequadamente – um fenómeno conhecido como não-
disjunção. Como resultado obtemos células com cromossomas a menos e outras com cromossomas a mais. Quando
ocorre a fertilização, irão formar.se embriões anormais, cuja maior parte não chega a se desenvolver. Porém há
ainda outros que sobrevivem, como os embriões com síndrome de Down.

A síndrome de Down é uma doença caracterizada pelo atraso mentar e por características físicas anormais e que
resulta de uma falha no decorrer da meiose em que não ocorre a disjunção dos cromossomas 21, resultando numa
trissomia (quando este oócitos com 2 cromossomas 21 se funde com um espermatozoide normal com 1
cromossoma 21)

Nas mulheres, a não disjunção ocorre em cerca de 10% das meioses originando oócitos com números anormais de
cromossomas – aneuploidias. Este tipo de erros ocorre menos frequentemente nos homens uma vez que os
espermatozoides são sujeitos a um maior controlo de qualidade uma vez que quando são detetadas anomalias é
ativado um checkpoint que induz a apoptose da célula.

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2.3. Fertilização

Os espermatozoides são atraídos quimicamente até ao oócito. Uma vez encontrado o oócito o espermatozoide vai
tem que percorrer a corona radiata e a zona pelúcida do oócito antes que consiga se ligar e entrar na membrana
do oócito propriamente dita.

Para evitar a polispermia (mais do que um espermatozoide a fecundar um oócito) existe um mecanismo essencial
em que ocorre um fluxo de iões de cálcio no citoplasma do ovo. Este cálcio irá induzir a secreção de enzimas que
irão reforçar a zona pelúcida, tornando-a dura, o que impede que consiga ser atravessada. A onda de cálcio também
ajuda a desencadear o desenvolvimento do ovo.

Uma vez fertilizado, o oócito passa a designar-se ovo ou zigoto. O processo de fertilização só termina após ambos
os núcleos se terem fundido – cariogamia – originando apenas 1 núcleo. A partir daí começa o processo de
embriogénese.

3. Mendel e as leis de herança genética


Antes do Mendel começar a trabalhar com ervilhas, alguns biólogos suspeitaram que a herança poderia funcionar
da mesma maneira que funciona em organismos assexuados, ou seja, que o material genético do progenitor era
completamente transmitido à cria, que seria geneticamente igual ao seu único progenitor.

Uma teoria daquele tempo sugeria que os traços genéticos eram transmitidos apenas pelo pai, a mãe era só um
veículo. Em apoio a essa teoria de herança uniparental, alguns primeiros microscopistas imaginaram que poderiam
detetar um pequeno humano perfeitamente formado agachado dentro da cabeça de cada espermatozoide.

As leis da herança foram elaboradas seguindo características em organismos que são fáceis de produzir e que se
produzem em grande escala. Então, Mendel, o pai da genética, concentrou-se em ervilhas.

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3.1. Mendel estudou traços herdados de maneira discreta

Mendel escolheu estudar as plantas de ervilha porque elas são fáceis de cultivar em grande número e podem ser
cultivadas em um pequeno espaço.

Ele controlava quais plantas acasalavam com as quais removendo esperma (pólen) de uma planta e escovando-a
nas estruturas femininas de outra. Essa cuidadosa polinização cruzada assegurou que Mendel pudesse ter certeza
do parentesco de todas as plantas de ervilha que examinava.

Além disto, as plantas de ervilha estavam disponíveis em muitas variedades: uma variedade tem flores roxas, outra
tem flores brancas, outra produz ervilhas de pele lisa, outra de pele rugosa, numa as flores estão posicionadas
terminalmente, noutra estão axialmente, e ainda diferiam na altura da planta e cor e forma da vagem.

Baseando-se nas suas observações, constituiu o concento de linhagem pura em que descendentes, por
autofecundação, ao longo de várias gerações apresentavam sempre a mesma característica para um dado carácter.
Assim, para manter uma linhagem pura recorreu aos indivíduos puros, que se reproduziam sempre por
autopolinização.

3.2. Nas suas primeiras experiências, Mendel examinou um cruzamento de monoibridismo

Monoibridismo – estudo da transmissão hereditária de apenas 1 caractere (ex.: forma de semente)

1º. Usou linhas puras como progenitores (Geração parental – P)


2º. Transferiu pólen de uma linhagem para o estigma de flores de outra linhagem – polinização artificial
(sementes e plantas resultantes da sua germinação constituíam a primeira geração filial – F1)
3º. Autopolinizou as plantas da geração F1 ou cruzou-as umas com as outras originando uma segunda geração
filiar – F2

Se Mendel tivesse parado pela geração F1, poderia ter desenvolvido algumas ideias equivocadas, uma vez que os
resultados de F1 parecem apoiar a teoria da herança uniparental, que afirma que a aparência da prole
corresponderá a um pai ou a outro.

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Mendel verificou que na F1 todos os indivíduos


apresentavam a mesma característica ao nível da
forma da sementa, todas eram lisas.

Conclusão – A característica Lisa era dominante sobre


a rugosa. Refutando a ideia que a transmissão das
características era um fenómeno de mistura dos 2
progenitores (ex.. ervilhas ligeiramente rugosas).

Proporção fenotípica de F2:


-3/4 Ervilhas lisas
-1/4 Ervilhas rugosas
logo será uma proporção 3:1

Proporção genotípida de F2:


1 (RR):2 (Rr):1 (rr)

Verificou ainda que a transmissão destas características não dependia do sexo dos progenitores porque ao
transferir o pólen das plantas RR para as plantas rr (o contrário do realizado anteriormente) obtinha sempre os
mesmos resultados.

Do plano de trabalho de Mendel constam inúmeros registos quantitativos e qualitativos que foram a base da
explicação das proporções relativas das características das gerações F1 e F2.

Para explicar essas observações, Mendel propôs que a herança de características é governada por fatores
hereditários (que agora chamamos de genes) e que esses fatores vêm em versões alternativas que explicam as
variações observadas nas características herdadas. O gene que dita a cor da ervilha, por exemplo, existe em dois
“sabores” - um que dirige a produção de ervilhas amarelas e um que dirige a produção de ervilhas verdes. Tais
versões alternativas de um gene são agora chamadas de alelos, e toda a coleção de alelos possuídos por um
indivíduo - sua composição genética - é chamada de genótipo.

O principal avanço conceitual de Mendel foi propor que, para cada característica, um organismo deve herdar duas
cópias, ou alelos, de cada gene - um de sua mãe e outro de seu pai. As linhagens paternas reprodutoras verdadeiras,
ele teorizou, cada uma possuía um par de alelos idênticos - as plantas de ervilha amarela possuíam dois alelos para
as ervilhas amarelas, a ervilha verde planta dois alelos para as ervilhas verdes. Um indivíduo que possui dois alelos
idênticos é considerado homozigótico para essa característica. As plantas híbridas F1, por outro lado, receberam
dois alelos dissimilares - um especificando ervilhas amarelas e outro verde. Estas plantas eram heterozigóticas para
a característica de interesse.

A aparência, ou fenótipo, do organismo depende de quais versões de cada alelo ele herda. Para explicar o
desaparecimento de uma característica na geração F1 - e seu reaparecimento na geração F2 -, Mendel supôs que,
para qualquer par de alelos, um alelo é dominante e o outro recessivo, ou oculto. O alelo dominante, sempre que
estiver presente, ditaria o fenótipo da planta. No caso da cor da ervilha, o alelo que especifica as ervilhas lisas é
dominante; o alelo da ervilha rugosa é recessivo.

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3.3. A primeira Lei de Mendel reporta-se à segregação fatorial (pureza dos gâmetas/Lei da segregação fatorial)

Após várias destas experiências Mendel concluiu:

> Cada individuo contém 2 fatores para cada caractere, um de cada progenitor
> Os fatores têm uma relação de dominância/recessividade
> Na formação dos gâmetas os dois fatores responsáveis por cada caractere separam-se, ficando apenas um
em cada gâmeta (segregação fatorial)

Esta lei postula que os dois fatores responsáveis por uma dada característica existem aos pares e segregam-se
aleatoriamente para o gâmetas, de modo que metade dos gâmetas possui um dos fatores e os restantes o outro.

Quando as plantas híbridas de F1 se autopolinizam, as duas classes


de gâmetas se unirão aleatoriamente. Assim, quatro diferentes
combinações de alelos podem se unir na prole F2. Por exemplo, se
cruzar espécies puras de ervilhas verdes com amarelas e depois
autopolinizar as plantas de ervilha amarela resultante na F1:

> Um quarto das plantas F2 receberá dois alelos


especificando ervilhas verdes; estas plantas produzirão
obviamente ervilhas verdes.
> Um quarto das plantas receberá dois alelos de ervilha
amarela e produzirá ervilhas amarelas.
> Metade das plantas herdará um alelo para ervilhas
amarelas e um alelo para verde. Como o alelo amarelo é
dominante, essas plantas – como seus pais F1 heterozigóticos –
produzirão ervilhas amarelas.

Concluindo, três quartos da prole terá ervilhas amarelas e um


quarto terá ervilhas verdes. Assim, a lei de segregação de Mendel
explica a proporção de 3: 1 que ele observou na geração F2.

Esta lei de Mendel aplica-se a todos os indivíduos sexuados.

Por exemplo, a principal forma de albinismo - o albinismo do tipo II - é uma condição rara que é herdada de forma
recessiva em muitos animais, incluindo humanos. Como as plantas de ervilha que produzem sementes verdes, os
albinos são homozigóticos recessivos: seu genótipo é aa. O alelo dominante do gene (denotado A) codifica uma
enzima envolvida na produção de melanina, o pigmento responsável pela maior parte da cor marrom e preta
presente no cabelo, na pele e na retina do olho. Como o alelo recessivo codifica uma versão dessa enzima que é
apenas fracamente ativa ou completamente inativa, os albinos têm pelos brancos, pele branca e pupilas que
parecem rosas porque a falta de melanina no olho permite que a cor vermelha da hemoglobina no sangue vasos
na retina para ser visível.

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Se um homem albino Tipo II (genótipo aa) tiver filhos


com uma mulher albina Tipo II (também aa), todos
os seus filhos serão albinos (aa). Entretanto, se um
homem não-albino (AA) se casa e tem filhos com
uma mulher albina (aa), seus filhos serão todos
heterozigóticos (Aa) e normalmente pigmentados.
Se dois indivíduos não-albinos com um genótipo Aa
iniciam uma família, cada um dos seus filhos teria
25% de probabilidade de ser um albino (aa).

Obviamente, os humanos geralmente não têm


famílias grandes o suficiente para garantir índices
mendelianos precisos.

3.4. A segunda Lei de Mendel refere-se à transmissão de dois caracteres em simultâneo - diibridismo

Mendel planeou várias experiências para tentar compreender os processos de transmissão genética de dois
caracteres em simultâneo.

Procurou verificar se os fatores de carateres distintos sofrem um fenómeno de segregação semelhantes aos fatores
do mesmo caractere, ou se eles se mantém associados durante a formação dos gâmetas.

Existiam 2 hipóteses possíveis para a segregação num cruzamento diíbrido:

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No caso dos alelos se manteres associados (segregação dependente), as plantas F1 deveriam produzir dois tipos de
gâmetas: SY e sy. A F2 deveria apresentar uma proporção fenotípica 3:1 (3 ervilhas lisas amarelas e 1 ervilha verde
rugosa).

Se ocorrer Segregação independente dos alelos, há produção de 4 tipos de gâmetas: SY, Sy, sY, sy. Assim, a geração
F2 irá conter 9 genótipos e 4 fenótipos diferentes na razão 9:3:3:1.

Os cruzamentos diíbridos de Mendel eram casos de segregação independente. Acresce ainda o facto de aparecerem
em F2 duas novas classes fenotípicas (amarelo rugoso e verde liso), sendo denominadas de fenótipos
recombinantes.

Com estes resultados Mendel formulou a sua Segunda Lei: Lei da Segregação Independente – durante a
formação dos gâmetas, os alelos de diferentes pares de genes segregam-se independentemente uns dos outros.

Mas como existe sortimento independente de múltiplos traços/alelos?

Por exemplo, se o gâmeta final recebe a combinação de alelo YR, Yr, yR ou yr, depende inteiramente de qual
caminho os dois pares homólogos estavam enfrentando quando foram capturados pelo fuso meiótico; cada
resultado tem o mesmo grau de aleatoriedade que o lançamento de uma moeda.

Isto acontece para genes que se situam


em cromossomas diferentes.

Mas a segregação independente de


diferentes características não exige
necessariamente que os genes
responsáveis estejam em cromossomas
diferentes.

Às vezes estes genes estão no mesmo


cromossoma, porém, se os dois genes
estiverem longe um do outro sempre
podem ser separados por crossing-over.

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As mutações de perda de função são geralmente recessivas, porque – para a maioria dos genes –
diminuir a quantidade normal de produto genético em 50 % tem pouco impacto. Mutações que
aumentam a atividade de um gene ou seu produto, ou que resultam num gene sendo expresso
em circunstâncias inapropriadas, são chamadas de mutações de ganho de função. Tais mutações
são geralmente dominantes.

4. Genética como uma ferramenta experimental


A genética fornece uma maneira de descobrir o que os genes específicos fazem e como as variações nesses genes
fundamentam as diferenças entre uma espécie e outra ou entre indivíduos dentro de uma espécie. Esse
conhecimento também tem benefícios práticos, pois a compreensão da base genética e biológica das doenças pode
nos ajudar a diagnosticar, tratar e prevenir essas doenças.

4.1. Genética experimental

A mutagénese é um dos métodos mais eficazes para identificar genes e observar quais as consequências ao nível
do fenótipo. Mas como é que podemos fazer este tipo de estudos em humanos?

A espécie humana não se reproduz rapidamente e a indução de mutações está completamente posta de parte.
Surgiram então duas técnicas que nos permite estudar os genes humanos:

 Uma vez que os genes e as suas funções têm sido bastante preservados no decorrer da evolução, nós
podemos descobrir novas coisas através do estudo de genes de outros organismos geneticamente
próximos do homem.
 Muitas mutações não são letais, um exemplo é a mutação que provoca surdez e que tem aumentado
espontaneamente na população humana. Analisando o fenótipo dos indivíduos afetados e analisando o
comportamento de células humanas em cultura podemos descobrir funções e outras particularidades de
determinados genes.

Embora mutantes espontâneos com fenótipos interessantes possam ser encontrados, o processo pode se tornar
muito mais eficiente e rápido gerando mutações artificiais com agentes que danificam o DNA, chamados mutagens.

Diferentes mutagens tendem a


produzir diferentes tipos de mudanças.
Alguns tipos comuns de mutação são
mostrados aqui. Outros exemplos
incluem alterações em segmentos
maiores de DNA, incluindo deleções,
duplicados e rearranjos
cromossómicos (não mostrado).

Nem todas as mutações levam a uma mudança percetível no fenótipo. Mas ao tratar um grande número de
organismos com mutagens, coleções de mutantes podem ser geradas rapidamente, aumentando as chances de
encontrar um fenótipo interessante.

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4.2. Genetic screens identificam mutantes em processos celulares específicos

O Genetic screens envolve a análise de centenas de indivíduos mutados que são identificados pelo seu fenótipo.
Por exemplo, se queremos analisar genes envolvidos no metabolismo celular teremos de investigar as células
mutadas (ex.: bactérias ou leveduras) e ver quais delas perdem a capacidade de crescer na ausência de um
determinado aminoácido ou nutriente.

Este método é uma abordagem poderosa para isolar e caracterizar mutações que são compatíveis com a vida -
aquelas que alteram a aparência ou o comportamento de um organismo sem matá-lo. Um problema surge se
quisermos estudar genes essenciais - aqueles que são absolutamente necessários para processos celulares
fundamentais, como a síntese de RNA ou a divisão celular. Os defeitos nestes genes são geralmente letais, o que
significa que estratégias especiais são necessárias para isolar e propagar tais mutantes: se os mutantes não podem
ser criados, seus genes não podem ser estudados.

> Se o organismo for diploide, e o fenótipo mutante é recessivo, podemos estudar os indivíduos
heterozigóticos uma vez que estes irão possuir uma cópia normal do gene e outra mutada. Quando eles se
reproduzem, 25% da descendência serão mutantes homozigóticos e mostrarão o fenótipo de mutante letal.
> Se o organismo for haploide, estudamos a mutação letal em mutantes nos quais a proteína do gene
mutante é apenas defeituosa sob certas condições. Por exemplo, em mutantes que são sensíveis à
temperatura. A proteína funciona normalmente dentro de uma certa faixa de temperaturas – temperatura
permissiva – mas pode ser inativada por uma mudança para uma temperatura não permissiva (fora desta
faixa). Assim, o fenótipo anormal pode ser ligado e desligado simplesmente alterando a temperatura.

4.3. Um teste de complementação revela se duas mutações se encontram no mesmo gene

Os testes de complementação servem para ver se um mesmo fenótipo tem origem no mesmo gene, pois a mutação
pode provocar as mesmas características e no entanto estar em genes diferentes.

No entanto, estas mutações podem afetar o mesmo gene ou podem afetar genes diferentes que funcionam no
mesmo processo. Como distinguir entre os dois?

Um teste de complementação pode revelar se elas afetam o mesmo ou diferentes genes se a mutação em causa
for recessiva e causa perda de função.

Imaginemos um individuo homozigótico para uma mutação recessiva. Ele é cruzado com um individuo
homozigótico para outra mutação.

 Se as duas mutações afetarem o mesmo gene, a descendência mostrará o fenótipo mutante, porque elas
carregam apenas cópias defeituosas do gene em questão
 Se as mutações afetarem genes diferentes, a prole mostrará o fenótipo normal, porque eles terão uma
cópia normal (dominante) e uma mutante de cada gene.

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Sempre que o fenótipo normal é restaurado em tal teste, diz-se que os alelos herdados dos dois pais se
complementam.

4.4. Mapeamento genético (Genetic mapping)

Polimorfismos → quando 2 ou mais variantes da sequência genómica existem e são comuns na população

 A maioria dos polimorfismos se deve à


substituição de um único nucleótido –
polimorfismos de nucleótido único ou SNPs
 Os restantes polimorfismos se devem a
inserções e deleções. Quando a alteração é
pequena chamados de indels, quando a
alteração é grande chamamos de variantes de
números de cópias ou CNVs.

Os SNPs podem ser usados como marcadores para contruir mapas genéticos que possam relacionar as variações
nucleotídicas com a predisposição para determinadas doenças (ex.: diabetes, bipolaridade, artrite reumatoide…).
Com este objetivo são recolhidas amostras de DNA de um grande número de pessoas que manifestam a doença
para comparar o seu material genético com o de pessoas saudáveis.

Apesar da predisposição que uma pessoa possa apresentar para determinada doença, não
podemos esquecer que os fatores ambientais também estão diretamente relacionados.

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Os SNPs estão próximos uns dos outros, eles tendem a viajar em grupos chamados de blocos haplótipos –
combinações de polimorfismos que são herdadas como uma unidade.

Ou seja, se um indivíduo possui uma determinada variante (SNP) é altamente provável que tenha todos os outros
que estejam diretamente relacionados com este uma vez que são sempre transmitidos em bloco, daí que seja
suficiente analisar apenas 1 ou 2 SNPs representativos de cada bloco haplótipo para saber qual deles está em
questão.

O facto destas sequências de DNA serem transmitidas em bloco deve-se à localização destas sequências nos
cromossomas, pois encontram-se em zoas cuja existência de crossing-over é ínfima e por isso passam praticamente
intactas através de gerações.

A análise dos blocos haplótipos poderá ajudar-nos a revelar um pouco da história do Homem uma vez que
determinadas populações têm blocos característicos que lhes conferem resistência a determinadas doenças e a
partir daí podemos deduzir a que tipo de ambientes foram sujeitos. (ex.: a população africana possui blocos
haplótipos que conferem resistência à malária).

Capítulo 20 – Tecidos celulares, células estaminais e cancro


o Sumário:
1. Manutenção e renovação dos tecidos
2. Cancro

A maioria das células em organismos multicelulares é organizada em conjuntos cooperativos chamados tecidos,
como os tecidos nervoso, muscular, epitelial e conectivo, encontrados em vertebrados.

Os tecidos são compostos não apenas de células, mas também de matriz extracelular, que as células segregam em
torno de si. É essa matriz que dá aos tecidos de suporte, como osso ou madeira, sua força. A matriz fornece uma
maneira de unir as células, mas as células também podem se conectar umas às outras diretamente. Essas junções
transmitem forças do citoesqueleto de uma célula para o da próxima, ou do citoesqueleto de uma célula para a
matriz extracelular

Um tecido animal requer vasos sanguíneos, nervos e outros componentes. Todos os componentes
do tecido devem ser adequadamente organizados e coordenados, e muitos deles requerem
manutenção e renovação contínuas.

Desenho simplificado de uma


seção transversal através de
parte da parede do intestino de
um mamífero. Este longo órgão
tubular é construído a partir de
tecidos epiteliais (vermelho),
tecidos conjuntivos (verde) e
tecidos musculares (amarelo).
Cada tecido é um conjunto
organizado de células, unidas
por aderências célula-célula,
matriz extracelular ou ambas.

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1. Manutenção e Renovação dos tecidos


1.1. Os tecidos são misturas organizadas de muitos tipos de células

Embora os tecidos especializados do nosso corpo sejam diferentes, todos eles têm certos requisitos básicos,
geralmente fornecidos por uma mistura de tipos de células.

A pele, por exemplo, pode ser vista como um grande órgão composto por dois tecidos principais:

 Tecido epitelial (a epiderme) no exterior


 Tecido conjuntivo (a derme e a hipoderme) no interior. O tecido conjuntivo funciona como um suporte e
é constituído por células e matriz extracelular.

A camada mais externa da epiderme consiste em células mortas planas, cujos organelos intracelulares
desapareceram. O tecido conjuntivo consiste na derme resistente e na hipoderme gordurosa subjacente. A derme
e a hipoderme são ricamente supridas de vasos sanguíneos e nervos. Porém, alguns dos nervos podem se estender
para a epiderme, como mostrado.

O tecido conjuntivo é o tecido de maior distribuição no corpo humano. Preenche espaços não ocupados por outros
tecidos, apoia e nutre as células epiteliais, faz parte da estrutura de muitos órgãos e tem um papel importante na
cicatrização. É habitado por:

> Fibroblastos – produzem colagénio e elastina, para que a pele não se rasgue e tenha flexibilidade
> Vasos sanguíneos – satisfazem a necessidade de oxigénio, nutrientes e descarte de resíduos
> Células nervosas – respondem a estímulos
> Macrófagos – eliminam células mortas e danificadas
> Linfócitos ou outros leucócitos – combatem a infeção

A maioria destas células são formadas fora do tecido conjuntivo e só depois o invadem.

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São 3 os principais fatores que contribuem para a estabilidade de um tecido:

1. Comunicação celular: Cada tipo de célula monitoriza continuamente o seu ambiente à procura de sinais de
outras células e ajusta o seu comportamento a esses sinais. Na verdade, sem esses sinais a célula não
sobrevive. Esta comunicação garante que novas células sejam produzidas e sobrevivam apenas quando e
onde forem necessárias.

2. Adesão celular seletiva: Uma vez que cada tipo de célula possui as suas moléculas de adesão celular, elas
tendem a se fixar seletivamente a outras células do mesmo tipo (ligação homofílica), a algumas células de
outros tipos e a componentes específicos da matriz celular. A seletividade dessas adesões celulares impede
que os diferentes tipos de células num tecido se misturem caoticamente.

3. Memória celular: padrões específicos de expressão génica, evocados por sinais que atuaram durante o
desenvolvimento embrionário, são depois mantidos de maneira estável, de modo a que as células
preservem de maneira autónoma a sua identidade e a transmitam à prole. Por exemplo, um fibroblasto
apenas se divide em mais fibroblastos, e assim por diante.

1.2. Diferentes tecidos são renovados a taxas diferentes

Num extremo está o tecido nervoso, no qual a maioria das células nervosas dura uma vida inteira sem reposição.
No outro extremo está o epitélio intestinal, no qual as células são substituídas a cada 3 a 6 dias. Entre estes
extremos existe um espectro de diferentes taxas e estilos de renovação celular e renovação do tecido.

Por exemplo, o osso tem um tempo de renovação de cerca de dez anos em humanos, envolvendo renovação da
matriz assim como das células: matriz óssea antiga é lentamente devorada por um conjunto de células chamadas
osteoclastos, semelhantes aos macrófagos, enquanto nova matriz é depositada por outro conjunto de células,
osteoblastos, semelhantes aos fibroblastos.

As células vermelhas do sangue em humanos são geradas continuamente na medula óssea, libertadas na corrente
sanguínea – onde circulam por cerca de 120 dias – e por fim são removidas e destruídas no fígado e no baço.

1.3. As células tronco (ou células estaminais) geram um suprimento contínuo de células terminalmente
diferenciadas

Células terminalmente diferenciadas → São células que por serem demasiado diferenciadas, ou especializadas, são
incapazes de se continuarem a dividir. Exemplos: glóbulos vermelhos, células epidérmicas na superfície da pele,
células absortivas e caliciformes do epitélio intestinal, etc.

Células precursoras → Também chamadas de células primordiais são células muito primitivas, indiferenciadas, que
têm capacidade de originar células iguais a si mesmas (capacidade de autorrenovação) e de se diferenciarem em
células que irão dar origem ao tecido/órgão em questão.

Células tronco → não são diferenciadas e podem se dividir sem limite. São um tipo de célula percursora, porém,
quando se dividem cada célula filha tem uma escolha: ou pode permanecer uma célula tronco, ou embarcar num
percurso até á diferenciação terminal.

O trabalho das células-tronco e das células precursoras, portanto, não é realizar a função especializada das células
diferenciadas, mas sim produzir células que o farão.

As células tronco e as células precursoras expressam conjuntos de reguladores de transcrição que asseguram que
a sua descendência diferenciada seja do tipo celular apropriado em falta.

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Em síntese, quando uma célula-tronco se divide, cada filha pode


permanecer como uma célula estaminal ou tornar-se terminalmente
diferenciada. As células diferenciadas terminalmente geralmente se
desenvolvem a partir de células precursoras que se dividem um
número limitado de vezes antes de se diferenciarem terminalmente.
As divisões de células-tronco podem originar 2 células tronco, 2
células precursoras ou 1 de cada, desde que o número de células
estaminais fique controlado.

No caso do epitélio intestinal, as células-tronco ficam perto do fundo das criptas, onde darão origem principalmente
a células precursoras em proliferação, que se movem para cima no plano da folha epitelial. À medida que se movem
para cima, as células precursoras se diferenciam terminalmente em células absortivas ou secretórias, que são
lançadas no lúmen do intestino e morrem quando atingem as extremidades das vilosidades.

Um único tipo de célula-tronco é capaz de dar origem a vários tipos de células diferenciadas. Por exemplo, todos
os diferentes tipos de células no sangue – desde as hemácias aos leucócitos – derivam de uma célula-tronco
hematopoiética comum encontrada na medula óssea.

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Uma célula-tronco hematopoiética se divide para


gerar mais células-tronco, bem como células
precursoras (não mostradas) que proliferam e se
diferenciam nos tipos de células sanguíneas
maduras encontradas na circulação.

Sabe-se que um grande número de moléculas de


sinal extracelular atuam em vários pontos desta
linhagem celular para controlar a produção de cada
tipo de célula e para manter um número apropriado
de células precursoras e células estaminais.

1.4. Sinais específicos mantêm a população de células-tronco

Cada sistema de células-tronco requer mecanismos de controlo para garantir que novas células sejam geradas nos
locais apropriados e nos números certos. Os controlos dependem de sinais extracelulares trocados entre as células-
tronco, sua descendência e outros tipos de células na área.

Proteínas Wnt → classe de moléculas sinalizadoras que promovem a


proliferação das células-tronco e células precursoras na base de cada
cripta intestinal.

> As células destas regiões segregam Wnt e expressam


recetores para estas mesmas proteínas,
autoestimulando-se a dividir.
> Em paralelo, estas células produzem outros sinais que
previnem a ativação das Wnt fora das regiões onde é
suposto se dividirem.

Distúrbios nestes mecanismos de sinalização interrompem a estrutura do revestimento intestinal.


Os defeitos na regulação da sinalização Wnt estão por trás das formas mais comuns de cancro
intestinal humano.

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1.5. As células estaminais podem ser usadas para reparar falta de tecido ou tecido danificado

Por exemplo, ao fazer uma transfusão de algumas células-tronco hematopoiéticas num rato cujas próprias células
tronco do sangue foram destruídas pela radiação, é possível repovoar completamente o animal com novas células
sanguíneas e, finalmente, resgatá-lo da morte por anemia, infeção, ou ambos.

Uma abordagem semelhante é usada no tratamento de leucemia humana com radiação (ou
drogas citotóxicas) seguida de transplante de medula óssea.

> Células estaminais embrionárias (ES cells)

As células estaminais nos indivíduos adultos permitem a reparação de determinados tecidos. Entretanto foi
descoberto outro tipo de células estaminais com um enorme potencial – as células estaminais embrionárias – que
em condições apropriadas proliferam indefinidamente e que têm a capacidade de originar diferentes tipos de
células – pluripotentes.

Estas células constituem una importante ferramenta que pode ser usada para reparar tecidos em organismos
adultos. Estudos indicam que as células estaminais embrionárias são capazes de se diferenciar em fibras musculares
que poderão ser muito úteis a pessoas com distrofia muscular; ou em células nervosas úteis aos doentes de
Parkinson; podem ainda originar células secretoras de insulina para diabéticos ou células de músculo cardíaco para
pessoas que sofreram um ataque cardíaco.

As células ES são colhidas da massa celular


interna de um embrião inicial e podem ser
mantidas indefinidamente como células-
tronco pluripotentes em cultura. Se elas
forem colocadas de volta num embrião
integram-se perfeitamente e diferenciam-se
para se adequarem ao ambiente em que são
colocadas. Alternativamente, estas células
podem ser induzidas a se diferenciar em tipos
de células específicas em cultura quando
providas de moléculas sinalizadoras
extracelulares apropriadas.

Há, no entanto, muitos obstáculos a serem eliminados antes que tais sonhos possam se tornar realidade. Um grande
problema diz respeito à rejeição imunológica: se as células transplantadas são geneticamente diferentes das células
do paciente em que são enxertadas, elas provavelmente serão rejeitadas e destruídas pelo sistema imunológico.
Além das dificuldades científicas práticas, tem havido preocupações éticas sobre o uso de embriões humanos e os
propósitos para os quais as células ES humanas podem ser colocadas. Uma ansiedade, por exemplo, centrou-se na
possibilidade de usar células-tronco embrionárias para a “clonagem” humana.

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1.6. Clonagem terapêutica Vs. Clonagem reprodutiva

Clonagem de organismos completos. Neste tipo de clonagem é efetuada uma transplantação de núcleo de uma
célula diferenciada num ovo cujo núcleo foi removido. Este ovo será implantado no útero. Ex.: Ovelha Dolly

> Clonagem terapêutica

Outra técnica distinta utiliza a transplantação nuclear para produzir culturas de células estaminais.

Neste caso, a célula que recebeu o transplante irá passar pelas primeiras fases de desenvolvimento, até se
formarem cerca de 200 células. No entanto, em vez de este embrião ser transferido para o útero é mantido em
cultura e usado como fonte de células estaminais. Este processo designa-se clonagem terapêutica.

Uma vez que estas células estaminais são geneticamente idênticas às células do dador não iria ocorrer a rejeição
de transplante.

No entanto, esta técnica levanta alguns problemas éticos, daí não estar em prática.

1.7. Células estaminais pluripotentes induzidas (IPS cells)

1. A primeira etapa desta técnica consiste em retirar células de um tecido de um indivíduo adulto – por
exemplo, fibroblastos de uma porção de pele – e depois coloca-las em cultura
2. Usando vírus como vetores são introduzidas, nestas células, versões de genes que codificam reguladores
de transcrição característicos de células estaminais;
3. Após algumas semanas em cultura, muitos dos fibroblastos estarão transformados em células estaminais
pluripotentes

No entanto, esta técnica também causa controvérsia visto que não se tem controlo total do modo de
funcionamento do vírus, pois estes podem injetar juntamente com os reguladores de transcrição, material que seja
prejudicial às células.

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Consequentemente esta técnica é utilizada apenas para produzir populações de determinados tipos de células
que irão servir para testar o efeito de vários medicamentos, etc.

Um exemplo é a síndrome de Timothy, uma doença genética rara causada por mutações num gene que codifica um
tipo específico de canal de Ca2+. O canal defeituoso não consegue se fechar adequadamente após a abertura,
levando a anormalidades no ritmo cardíaco e, em alguns indivíduos, ao autismo. As células IPS produzidas por esses
indivíduos foram induzidas a se diferenciarem numa cultura em neurónios e células do músculo cardíaco, que agora
estão sendo usadas para estudar as consequências fisiológicas da anormalidade do canal de Ca2+ e para procurar
drogas que possam corrigir os defeitos.

2. Cancro
A célula deve:

> Ajustar o seu comportamento de acordo com as necessidades do organismo como um todo
> Se dividir somente quando novas células desse tipo forem necessárias e abster-se de dividir quando não
forem
> Viver o tempo que for necessária e se matar quando não for
> Manter seu carácter especializado
> Ocupar seu lugar apropriado

As células cancerígenas podem ser divididas em 2 tipos:

1. Quando elas e as suas células-filhas descontroladas proliferam desafiando as restrições normais


2. Quando elas e as suas células-filhas descontroladas invadem e colonizam territórios normalmente
reservados a outras células

1 → Tumor benigno localizado


1+2 = Perigo letal → tumor maligno

As células que têm a primeira propriedade, mas não a segunda, proliferam excessivamente mas permanecem
agrupadas numa única massa,
formando um tumor. O tumor
neste caso é considerado
benigno e geralmente pode ser
removido de forma limpa e
completa por cirurgia.

O tumor é considerado
cancerígeno/maligno caso as
células tumorais se desprendam
do tumor primário e entrarem
nos vasos sanguíneos ou
linfáticos, onde invadem o tecido
circundante formando tumores
secundários ou metástases
noutros locais do corpo.

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2.2. Os cancros desenvolvem-se por um acúmulo de mutações

O cancro desenvolve-se devido ao acumular de mutações que podem ser provocadas por radiações ionizantes,
produtos químicos e muitos outros fatores/agentes mutagénicos, e ocorre geralmente em idades avançadas devido
à acumulação de mutações ao longo da vida.

O cancro é fundamentalmente uma doença genética que se difere de outras doenças genéticas
pelo facto das mutações que levam ao cancro ocorrerem principalmente nas células somáticas,
em oposição às mutações germinativas, que são transmitidas através das células germinativas das
quais todo o organismo multicelular se desenvolve.

Portanto, o cancro é mais frequentemente uma doença da velhice, porque leva


muito tempo pata que as células acumulem um grande número de mutações. A
maioria das células cancerígenas humanas não contêm apenas muitas
mutações, mas também é geneticamente instável. Esta instabilidade genética
resulta de mutações que interferem na replicação e manutenção do DNA e,
portanto, aumentam a taxa de mutação em si.

2.3. As células cancerígenas evoluem, o que lhes dá uma vantagem cada vez mais competitiva

As mutações que levam ao cancro não inviabilizam/”aleijam” as


células mutantes, pelo contrário, elas dão a essas células uma
vantagem competitiva sobre os seus vizinhos. À medida que uma
população inicial de células mutantes cresce, ela lentamente evolui:
novas mutações ocorrem, algumas das quais são favorecidas pela
seleção natural porque aumentam a proliferação e a sobrevivência
celular.

Para ter sucesso, uma célula cancerígena deve adquirir toda uma
gama de propriedades anormais - uma coleção de comportamentos
revolucionários. Uma célula precursora em proliferação no
revestimento epitelial do intestino, por exemplo, deve sofrer
mudanças que lhe permitam continuar a se dividir quando ela
normalmente pararia. Essa célula e sua descendência devem ser
capazes de evitar a morte celular, deslocar seus vizinhos normais e
atrair um suprimento de sangue para nutrir o crescimento contínuo
do tumor. Para que as células tumorais se tornem invasivas, elas
devem ser capazes de se separar da folha epitelial e digerir seu
caminho através da lâmina basal até o tecido conjuntivo subjacente.
Para se espalhar para outros órgãos e formar metástases, elas devem
ser capazes de entrar e sair dos vasos sanguíneos ou linfáticos e se
estabelecer, sobreviver e proliferar em novos locais

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Lista geral de características que distinguem as células cancerígenas das células normais:

1. As células cancerígenas têm uma dependência reduzida de sinais de outras células para sua sobrevivência,
crescimento e divisão. Frequentemente, isso ocorre porque elas contêm mutações nos componentes das
vias de sinalização celular que normalmente respondem a tais estímulos. Por exemplo, uma mutação
ativadora no gene Ras pode causar um sinal intracelular de proliferação mesmo na ausência da sugestão
extracelular que normalmente seria necessária para ativar o Ras, como uma campainha defeituosa que
toca mesmo quando ninguém esteja pressionando o botão.

2. As células cancerígenas podem sobreviver a níveis de stress e desarranjo interno que causariam células
normais a se matar por apoptose. Esta evitação do suicídio celular é resultado de mutações em genes que
regulam o programa de morte intracelular responsável pela apoptose. Por exemplo, uma mutação que
inative a p53 – proteína que age como parte de uma resposta de dano ao DNA, que faz com que essas
células danificadas parem de se dividir ou morram – faz com que a célula defeituosa sobreviva e se divida,
criando células filhas altamente anormais.

3. As células somáticas normais em cultura só se dividem até um certo ponto pois estas células não produzem
a enzima telomerase, tornando-se os telómeros cada vez mais curtos a cada divisão; pelo contrário as
células cancerígenas

4. A maioria das células cancerígenas é geneticamente instável, com uma taxa de mutação muito aumentada
e um número anormal de cromossomas

5. As células cancerígenas têm grande capacidade de invasão porque não possuem moléculas de adesão
celular, como caderinas, que as fixem ao seu local de origem; consequentemente originam-se metástases.

6. As células cancerígenas podem sobreviver e proliferar em locais anormais, enquanto a maioria das células
normais morrem quando perdidas. Essa colonização de território desconhecido pode resultar da
capacidade das células cancerígenas de produzir seus próprios sinais de sobrevivência extracelular e
suprimir seu programa de apoptose.

2.4. Duas classes principais de genes são críticas para o cancro: Oncogenes e Genes supressores de tumor

Os genes que poderão dar origem a cancro podem ser classificados em dois grupos:

> Genes que sofreram o ganho de função – caso dos oncogenes (forma não mutada de um oncogene é o
proto-oncogene)
> Genes que perderam a sua função – caso dos genes supressores de tumor

Este ganho ou perda de função contribuiu para a desregulação do ciclo celular e não foi possível
o seu controlo.

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(A) Os oncogenes atuam de maneira dominante: uma mutação de ganho de função numa única cópia
do proto-oncogene pode levar uma célula ao cancro.
(B) Mutações de perda de função em genes supressores de tumor geralmente atuam de maneira recessiva: a
função de ambas as cópias do gene deve ser perdida para conduzir uma célula ao cancro.

De entre as alterações que os proto-oncogenes podem sofrer que levam a converterem-se em oncogenes
destacam-se:
1. Amplificação genética: onde a proteína normal é sintetizada em quantias exageradas, em que são
feitas demasiadas cópias dos genes em causa
2. Rearranjo dos cromossomas: A alteração da região do gene que codifica uma determinada
proteína, resultante da quebra e reajuste da molécula de DNA, pode provocar a síntese de uma
proteína de fusão com funções diferentes da normal
3. Mutação reguladora: Quando há mutação na sequência reguladora do DNA desse gene, a proteína
pode ser produzida exageradamente
4. Mutação pontual na sequência nucleotídicas de DNA: Quando ocorre uma mutação numa
sequência codificadora de proteínas, há a produção de uma proteína com características
oncogénicas.

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A variedade de proto-oncogenes e genes supressores de tumor codificam proteínas de muitos tipos diferentes.
Algumas dessas proteínas estão envolvidas em vias de sinalização que regulam a sobrevivência celular, o
crescimento celular ou a divisão celular. Outras tomam parte no reparo do DNA, modificam a cromatina ou ajudam
a regular o ciclo celular ou a apoptose. Outros ainda (como as caderinas) estão envolvidos na adesão celular ou
outras propriedades críticas para a metástase, ou têm papéis que ainda não entendemos adequadamente.

2.5. O cancro Colo-Retal ilustra como a perda de um gene supressor de tumor pode levar ao cancro

O cancro colo-retal surge no epitélio que reveste o cólon e o reto. A maioria dos casos são vistos em pessoas idosas
e não tem nenhuma causa hereditária que se possa entender. No entanto, existem famílias que são
excecionalmente propensas á doença. Num conjunto de famílias “predispostas”, os indivíduos afetados
desenvolvem cancro colo-retal no início da vida adulta, e o aparecimento da doença é pronunciado por centenas
ou milhares de pequenos tumores, chamados pólipos, no revestimento epitelial do cólon do reto.

Esta mutação está relacionada com o gene supressor de tumor Adenomatous Polyposis Coli (APC).

Os indivíduos afetados herdam uma cópia mutante do gene e uma cópia normal. Embora uma cópia normal do
gene seja suficiente para o comportamento celular normal, todas as células desses indivíduos estão apenas a um
passo da perda total da função do gene (em comparação a dois passos para uma pessoa que herda duas cópias
normais do gene).

O APC é um gene supressor tumoral que codifica uma proteína que normalmente restringe a ativação da via de
sinalização Wnt, que está envolvida na estimulação de proliferação celular nas criptas do revestimento intestinal.
Quando o APC está danificado existe uma proliferação excessiva das células epiteliais originando pólipos. Dentro
desta massa crescente de tecido, outras mutações ocorrem, às vezes resultando em cancro invasivo.

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Tratamento:

As células cancerígenas são mutáveis e tornam-se rapidamente resistentes aos tratamentos. Além disso como as
mutações são aleatórias, cada caso é um caso, daí que os tratamentos não resultem com todas as pessoas.

 Alguns dos cancros da mama e do ovário estão relacionados com mutações do gene BRCA1 e BRCA2 que
são necessários para reparar as quebras da dupla cadeia de DNA, no entanto, as células cancerígenas
sobrevivem recorrendo a outros tipos de reparação de DNA. Os tratamentos que inibem estas vias
alternativas de reparação irão provocar uma tal desordem na célula que irá levá-la à morte. As células
normais, que têm a maquinaria de reparação de quebras de DNA intacta não são afetadas por esta terapia.
 Outra forma de travar o crescimento de um tumor é bloquear o fornecimento de sangue e nutrientes
 Outra técnica possível é a administração de vacinas que estimulem o sistema imunitário a produzir
anticorpos contra as células tumorais.
 No caso da leucemia mieloide, as células tumorais são conhecidas por possuírem uma proteína sinalizadora
– proteína tirosina cinase – que estimula a proliferação celular mesmo quando esta não deve ocorrer. Uma
pequena molécula designada Gleevec é capaz de inibir esta proteína. Esta terapia tem sido bem-sucedida.

Geralmente recorre-se às cirurgias, radioterapias e quimioterapias.

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