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Pratica de Ensino II

Mariana Lima Pereira

R.A.: 181060965

O desinteresse em filosofia no Brasil

A matéria filosofia já a muito tempo é subjugada no Brasil, por conta de seu teor
subjetivo e uma dita falta de utilidade pratica. Em diversos texto é criticado isso e
defendido a sua importância, porém acho que vale a pena ressaltar aqui também alguns
desses motivos mais a fundo. Pois caso queria que essa matéria ganhe mais espaço não é
suficiente apenas exaltar cada vez mais seus pontos positivos, as vezes é necessário
refletir em seus pontos negativos a fim de melhora-los.

Para começar a nossa reflexão devemos partir de alguns pressupostos. O


primeiro deles é de que é estritamente necessário o ensino da história de filosofia para
poder se ensinar a filosofar. É possível argumentar a favor desse pressuposto ao pensar
o filosofar como um “discutir a razão”, ao ter isso em mente a história da filosofia não
passa de uma “história da razão”, onde falar sobre filosofia é de certa forma um próprio
filosofar, pois a razão está aí sendo discutida.

“Acrescentemos que, nesta faculdade, não somente a história da


filosofia é estudada pelo certificado desse nome mas que todas
as matérias filosóficas são tratadas de um ponto de vista
essencialmente histórico” (CHAUI,p.199.2003)

Partindo desse pressuposto somos levados ao seguinte que é a partir do momento


que a filosofia é ligada com a sua história, contexto histórico passa a ter importância na
discussão. Logo não é apenas quem fala e o que fala, mas sim em que momento da
história e da vida fala. Podemos dar o exemplo de Kant que possui diversas “fases”
durante a vida, que são refletidas em seus estudos e reflexões. Logo toda filosofia possui
um viés. Podemos observar nessa reflexão.
“Recordo-me de um estudante que dizia a um professor de
francês, um dos primeiros vindos em missão a São Paulo por
ocasião da fundação da nossa Universidade, que ele se sentia
como se deslocado quando ouvia seus cursos sobre a filosofia
de Espinosa. [...] Que tem haver Espinosa com a realidade
brasileira?”(CHAUI, p.197, 2003.)

Com essa citação já é possível refletir sobre um dos pontos negativos da filosofia
no Brasil, a falta de conectividade. Mesmo que a maioria dos textos e ideias filosóficas
discutam uma ideia mais metafisica e transcendente, uma falta de relação com a vida
brasileira com a filosofia estudada causa um certo desinteresse.

Principalmente se pensarmos que a cada geração estaremos mais distantes das


grandes ideias, pois todos os grandes pensadores da filosofia já morreram a muito
tempo. Logo já á uma disparidade temporal. Se pensarmos no contexto do Brasil, há de
haver uma disparidade contextual ainda por cima.

É possível contra argumentar que a solução para isso seria falar sobre uma
filosofia brasileira afim de despertar o interesse, porém não é tão simples assim. Por
conta de uma imensa interculturalidade existente no Brasil, praticamente toda filosofia
chamada “brasileira” depende de uma filosofia europeia. Pois os grandes intelectuais da
filosofia são considerados os europeus. O maior exemplo disso é que antigamente as
famílias que tinham condições mandavam seus filhos para estudar na Europa.

Isso faz com que não seja possível estudar uma filosofia brasileira, apenas as
consequências das ideias europeias no Brasil. Por exemplo, Augusto Comte que foi uma
grande influência para a independência do Brasil, mas com uma filosofia puramente
europeia, baseada no contexto da revolução francesa. Com isso podemos dizer que “é
impossível estudar a história das ideias no Brasil sem estudar a história da filosofia na
Europa” (CHAUI, p.197, 2003).

Com isso definido é possível avançar para o próximo ponto negativo da


filosofia, para se possuir interesse nela é necessário estuda-la e para estuda-la é
necessário refleti-la, pois a filosofia é uma matéria autorreflexiva. E partindo do
pressuposto colocado no inicio do texto, refletir sobre filosofia nada mais é do que
filosofar. Partindo disso podemos aqui problematizar a citação a seguir:

“Um estudante apenas pode considerar-se no caminho da


filosofia no dia, mas só no dia em que no silencio do seu quarto
de estudo, começa a meditar por si mesmo sobre algum trecho
de um grande filosofo” (MAUGUE, p.646, 1955)

Deste trecho podemos fazer duas críticas. A primeira é a cerca da situação atual
do Brasil, com a fome e o desemprego aumento, caso o brasileiro possua um tempo
sozinho em seu quarto a ultima coisa que ele irá pensar é sobre a metafisica de
Descartes, há objetivos muitos mais necessários na vida, como se ele conseguirá comer
ou não no dia seguinte.

Uma segunda possível critica é a respeito do sistema de ensino brasileiro que


compromete a filosofia de diversas formas. No atual sistema de ensino os alunos tem
como obrigação apenas decorar um assunto afim de ter uma boa nota e se graduar. É
comum o aluno até ser repreendido por “pensar por si mesmo”. E como na citação diz, é
necessário pensar por si mesmo para poder filosofar, o que é de extrema dificuldade
para alunos do sistema de ensino do Brasil que são ensinados apenas a decorar e
reproduzir.

Outra citação que fortalece o argumento de que o sistema educacional do Brasil


traz desvantagens a filosofia é esta:

“Enfim, o futuro da filosofia no Brasil depende da cultura que o estudante tiver


adquirido anteriormente. A filosofia, segundo uma das concepções da ‘Republica’, de
Platão, nada mais é que o coroamento dialético de um ensino harmônico e completo.”
(MAUGUE, p.649, 1955)

“Harmônico e completo” é algo que o sistema educacional no Brasil não possui,


ainda mais com filosofia.

Outra falha na filosofia atualmente no Brasil é uma certa elitização. A maioria


dos professores universitários de filosofia e seus alunos são emergidos em uma
realidade acadêmica que não condiz com a realidade do Brasil. Com uma eloquência
excessiva afim de passar uma ideia de intelectual. Esquecendo-se de que qualquer
matéria para gerar interesse deve ser acessível e facilmente compreendida.

Logo há diversas barreiras para um interesse na filosofia, colocando em


“ordem”: primeiro há uma marginalização da matéria no sistema de ensino, mas mesmo
caso o aluno consiga ter um acesso a filosofia, nesse momento ele enfrentará a barreira
da eloquência e falta de acessibilidade; mas mesmo casso o aluno consiga transpor essa
barreira ele baterá de frente com a falta de identificação, tanto temporal quanto social-
contextual.

E isso se torna um ciclo pois cada vez menos alunos terão interesse, justificando
uma maior marginalização da matéria.

Para caso os atuais filósofos e estudantes de filosofia desejem mudar essa


situação é necessário se desapegar de uma cultura academicista e euro centrada afim de
atrai um maior público, e assim ter um maior numero de pessoas na reivindicação do
lugar de direito da filosofia no Brasil.
Referências Bibliográficas

MAUGUE, O ensino da filosofia: suas diretrizes (642-652)-1955

GUEROULT, O método em história da Filosofia – 1970

CHAUI, Cadernos Espinosanos- N. X , 2003

TERRA, Não se pode aprender filosofia, apenas aprender a filosofar-2006

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