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Unidade III
7 METODOLOGIA DO FLUXO DE CAIXA DESCONTADO (FCD)
Essa medida de valor da empresa é considerada uma das melhores em termos metodológicos, pois,
em mercados eficientes (pressuposto econômico de plena informação e condições de negociação entre
compradores e vendedores), o preço das ações de uma empresa deve representar o valor presente de
seus fluxos de caixa esperados (HENDRIKSEN; VAN BREDA, 1999); além disso, a técnica incorpora os
fluxos de caixa em vez de medidas contábeis (mais subjetivas e sujeitas a gerenciamento de resultados)
e considera a taxa de retorno de acordo com o custo do capital do negócio.
De acordo com essa metodologia, o valor da empresa deve ser calculado considerando-se duas
perspectivas de valor (explícita e implícita) e matematicamente pode ser calculado da seguinte forma
(ASSAF NETO, 2019):
Valor da empresa
=
VP dos fluxos de caixa do período explícito
+
VP dos fluxos de caixa que ocorrem após o período explícito
Tanto os fluxos de caixa esperados para o período explícito (previsível) quanto para o período
pós-projeção (valor residual) devem ser descontados a uma taxa que reflita o custo de financiar esses
ativos, ou seja, o custo médio ponderado de capital (CMPC), mais conhecido como WACC, que considera
o custo da dívida (passivo), o custo do capital próprio (patrimônio líquido) e os seus pesos relativos na
estrutura de financiamento (DAMODARAN, 2004):
Onde:
• Ke: custo do capital próprio (PL), que representa a taxa de retorno exigida por investidores em
ações na empresa (obtida por meio da fórmula do CAPM).
• Ki: custo do capital de terceiros (passivo oneroso), que mensura o custo da dívida (taxa de juros
dos seus empréstimos e financiamentos);
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Unidade III
Passivo*
% capital terceiros = x 100
Patrimônio líquido + Passivo*
Então, de forma simplificada, a metodologia dos fluxos de caixa descontados consiste em estimar
os fluxos de caixa futuros da empresa e trazê-los a valor presente por meio da aplicação do WACC, que
representa o risco do negócio que está sendo avaliado (custo de oportunidade da empresa avaliada).
É importante ressaltar que não é possível estimarmos os fluxos de caixa para o resto da vida da
empresa e, portanto, estimamos o seu valor residual (ou valor na perpetuidade) após a determinação
dos fluxos de caixa previsíveis no modelo. O valor residual deve ser adicionado ao último fluxo de caixa
estimado e trazido a valor presente, também, conforme representado na figura a seguir:
i?
Fluxos de
Caixa ($)
FC1 FC2 FC3 FC4 FC5 FC6 FCn +VR
0 1 2 3 4 5 6 ... n
Dessa forma, o valor da empresa é calculado considerando-se o valor presente dos fluxos de caixa
(FCs), acrescido do valor residual (VR) no último ano-projeto, atualizados para a data zero pela taxa de
desconto (i), da seguinte forma:
FC1
Valor da empresa = +
FC 2
+ …+
(FC n + VR n)
(1 + i) (1 + i) (1 + i)n
1 2
94
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Onde:
• VR n: valor residual para o último ano do período projetado (calculado conforme a fórmula
apresentada a seguir).
É importante salientar que o fluxo de caixa considerado a cada período consiste no fluxo líquido de
caixa, ou seja, as entradas de caixa menos as saídas de caixa. No próximo tópico, iremos aprender
a estimar o fluxo de caixa utilizado no processo de avaliação tendo como ponto de partida o lucro
operacional divulgado pela empresa.
O valor na perpetuidade (VP), ou valor residual (VR), representa o valor da empresa no final do último
ano projetado. Em condições de crescimento constante para o período pós-projetado, o valor residual
poderá ser calculado pelo modelo de Gordon (SANTOS, 2008):
FC n x (1 + g)
VRn =
WACC − g
Onde:
• VR n: valor residual para o último ano do período projetado (ou valor na perpetuidade).
Portanto, em resumo, podemos dizer que a aplicação do método do fluxo de caixa descontado (FCD)
deve envolver, essencialmente, as seguintes etapas (ASSAF NETO, 2019):
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Unidade III
• desconto dos fluxos de caixa explícitos e do valor residual estimados a valor presente pelo custo
de capital da empresa.
Na sequência, trataremos de cada um desses pontos, a fim de que você seja capaz de entender cada
etapa que compõe o desenvolvimento do modelo de avaliação de empresas pela metodologia do fluxo
de caixa descontado.
Como vimos no tópico anterior, a primeira etapa do cálculo do valor de uma empresa pela metodologia
do fluxo de caixa descontado é a estimação dos fluxos de caixa disponíveis (ou livres) que serão trazidos
a valor presente. Sem a definição da medida de estimativa dos fluxos de caixa futuros da empresa, a
metodologia não pode ser aplicada.
A medida de caixa utilizada nesse processo é o fluxo de caixa disponível (ou, em inglês, free cash flow – FCF),
que pode ser apresentado sob duas perspectivas: fluxo de caixa disponível para a empresa (FCDE) e
fluxo de caixa disponível para o acionista (FCDA). De forma simplificada, podemos dizer que o fluxo de
caixa disponível (ou livre) representa o valor que uma empresa é capaz de gerar de caixa, livre das suas
despesas do período, das suas necessidades de reinvestimentos (longo prazo) e das suas necessidades de
investimento em capital de giro (curto prazo) (ASSAF NETO, 2019).
Logo, tanto o FCDE quanto o FCDA, derivações do fluxo de caixa disponível (FCD), possuem
metodologias de apuraçao similares (com algumas particularidades) e podem ser utilizados no processo
de avaliação de empresas. Apesar disso, é importante ressaltar que, embora a escolha do modelo de
estimativa do fluxo de caixa disponível não deva afetar, em teoria, o valor final encontrado para a
empresa, existem algumas especificadades que devemos considerar.
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AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Lembrete
Podemos definir o fluxo de caixa disponível para a empresa (FCDE) como o excedente operacional
de caixa pertencente aos credores e aos acionistas. Trata-se, ainda, de um fluxo de caixa livre, já que
é obtido após o desconto dos reinvestimentos em ativos fixos (imobilizado) e do investimento em
capital de giro, ambos necessários para a continuidade e o crescimento da empresa no período futuro
(ASSAF NETO, 2019).
Legenda:
*Nopat = Net operational profit after taxes
Ebit = Earnings before interest and taxes
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Unidade III
A seguir, iremos abordar individualmente cada um dos principais itens que compõem a estimativa do
fluxo de caixa disponível para a empresa (FCDE), buscando explicar os motivos desses ajustes.
Observação
O ajuste das despesas com depreciação e amortização na estimativa do fluxo de caixa é justificado
pela ausência de reflexo desse valor no caixa da empresa naquele momento. De acordo com Assaf
Neto (2019, p. 28), a justificativa conceitual para a adição dessas despesas no cálculo do fluxo de caixa
disponível está embasada na seguinte explicação:
98
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Dessa forma, como não há desembolso efetivo de caixa, precisamos ajustar essas despesas
que compõem o resultado operacional da companhia, diminuindo o seu lucro operacional e
adicionando esses valores, novamente, ao resultado do período.
Embora a empresa divulgue despesas com depreciação e amortização, esses montantes continuarão
disponíveis no caixa da empresa ao final do período e, portanto, devem compor a estimativa de fluxo
de caixa livre. Além disso, qualquer desembolso futuro com objetivo de investimento em capital fixo
(imobilizado e intangível) será computado no cálculo da estimativa do fluxo de caixa por meio dos
ajustes no Capex (item que veremos a seguir).
Saiba mais
Os investimentos em capital fixo representam um dos principais ajustes do FCDE, pois evidenciam os
desembolsos necessários para que a empresa continue gerando fluxo de caixa no futuro. São desembolsos
que têm a finalidade específica de garantir a manutenção ou o crescimento operacional da empresa,
garantindo que ela terá condições de atender às suas expectativas de geração de caixa futuro.
Assim, de forma mais conceitual, o reinvestimentos em capital fixo (Capex) representam todos
os gastos de capital da empresa, que estão relacionados a aquisições de imobilizados e intangíveis
(máquinas, equipamentos, tecnologia etc.). A motivação para esses “gastos” pode estar relacionada
ao crescimento do negócio, à busca por inovação tecnológica, à substituição de ativos existentes, à
melhoria da produção ou, inclusive, à manutenção da sua capacidade produtiva. Esses dispêndios de
recursos financeiros devem ser tratados como investimentos realizados pela empresa, pois as saídas
de caixa estão diretamente relacionadas à expectativa de entradas de benefícios econômicos futuros,
por mais de um período contábil (ASSAF NETO, 2019).
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Unidade III
Você deve se lembrar dos conceitos de necessidade de investimento em giro (NIG) e capital circulante
líquido (CCL), certo? A NIG de uma empresa está relacionada à variação do seu capital circulante líquido (CCL),
ou seja, dos recursos que compõem os ativos e passivos circulantes da entidade. Isso acontece porque
a NIG é decorrente das alterações no volume de atividades e no ciclo de caixa da empresa (prazos para
pagamentos e recebimentos) – quanto maior o volume de atividades da empresa ou maior o seu ciclo
de caixa (prazo entre o pagamento das compras e o recebimento das vendas), maior será a necessidade
de recursos investidos em capital de giro pela empresa (NIG) e vice-versa (ASSAF NETO, 2019).
Lembrete
Assim, se uma empresa apresentar uma NIG > 0, significa que ela necessita de investimento em giro,
ou seja, que precisa investir recursos para financiar a sua atividade operacional. Por outro lado, caso a
empresa apresente um NIG < 0, isso significa que a própria operação gera recursos suficientes para se
financiar e ainda gera excedentes (ASSAF NETO, 2003).
No caso do capital circulante líquido, se uma empresa apresentar um CCL > 0, significa que existe
uma folga financeira no curto prazo, ou seja, parte do seu ativo circulante (capital de giro) está sendo
100
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
financiada por passivos não circulantes (longo prazo), o que é um bom indicador para a saúde financeira
da empresa. Por outro lado, caso a empresa apresente um CCL < 0, isso significa que a empresa está em
aperto financeiro, ou seja, apresenta mais obrigações do que valores a receber no curto prazo; portanto,
parte do seu ativo não circulante está sendo financiada por passivos circulantes (curto prazo).
Portanto, essas variações (aumento ou redução) geram um impacto na estimativa do FCDE, que pode
ser negativo ou positivo. Se houver aumento da NIG de um período para o outro, a variação no fluxo
de caixa será negativa, pois isso indica que a empresa terá que investir mais recursos para financiar a
sua operação no curto prazo. Por outro lado, se houver redução da NIG de um período para o outro,
notamos uma variação positiva no fluxo de caixa, pois isso irá representar uma “sobra” de recursos no
curto prazo, que podem ser utilizados para outras finalidades.
A tabela a seguir mostra um exemplo prático do impacto das variações na necessidade de investimento
em giro (NIG) das empresas:
Como podemos perceber, a empresa projeta um aumento em sua receita de vendas para os próximos
dois anos, o que resulta no aumento da necessidade de investimento em giro pela empresa (saída de
caixa para financiar esse aumento das atividades operacionais). Assim, notamos que, tanto no ano 1
quanto no ano 2, a empresa estima uma variação negativa da NIG, ocasionando uma redução do seu
fluxo de caixa disponível na mesma proporção.
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Unidade III
Por outro lado, a projeção evidencia uma redução esperada na receita de vendas da empresa no ano 3,
resultando em uma menor necessidade de recursos em giro para financiar as suas atividades nesse
período, consequentemente. Esse cenário resulta em uma variação positiva da NIG entre os anos 2 e 3,
significando que a empresa terá recursos excedentes no ano 3, em função da redução do seu volume de
atividades operacionais.
Assim, a terceira linha do quadro representará exatamente o impacto (positivo ou negativo) que
veremos na estimativa do fluxo de caixa disponível para a empresa em cada período.
Observação
O fluxo de caixa disponível para o acionista (FCDA) representa o caixa livre para os acionistas da
empresa, ou seja, o caixa residual dos proprietários do capital próprio. Sendo assim, trata-se do fluxo
de caixa que sobra aos acionistas após a cobertura de todas as despesas operacionais, investimentos
em Capex, necessidades de investimento em giro e, ainda, livre dos pagamentos de todas as obrigações
financeiras (principal e juros) (ASSAF NETO, 2019).
Sob a perspectiva dos proprietários do capital próprio, o pagamento das dívidas é uma informação
relevante, pois reduz o seu caixa disponível. Por isso, devemos considerar a dedução das despesas
financeiras para encontrar a parcela do caixa livre à disposição do acionista. Ainda, segundo Assaf
Neto (2019), o FCDA pode ser utilizado para definir o montante de dividendos que uma empresa
poderá distribuir aos seus acionistas, sem que haja comprometimento dos demais recursos disponíveis
para a entidade.
Existem duas formas de estimarmos o FCDA de uma empresa: a partir do seu lucro líquido ou a
partir do seu lucro operacional, porém, ambas devem fornecer um mesmo valor final. Se partirmos
do ponto de vista do lucro operacional da empresa (assim como fazemos para estimar o FCDE),
precisamos apenas realizar alguns ajustes adicionais, inserindo as informações relacionadas às decisões
de financiamento da empresa.
Assim, de acordo com essa métrica, além dos ajustes realizados para encontrar o FCDE, precisamos
ajustar os fluxos de caixa provenientes do endividamento (principal e encargos financeiros das dívidas)
da empresa (ASSAF NETO, 2019). Tecnicamente, é preciso deduzir o valor das despesas financeiras
líquidas e adicionar o valor das dívidas contraídas pela companhia, pois estas também representam
recursos adicionais que estarão disponíveis para os acionistas naquele momento.
Além disso, é importante se lembrar de considerar a economia de Imposto de Renda gerada pelo
benefício fiscal da dívida (as despesas financeiras devem ser apresentadas líquidas do efeito do IR), o
102
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
que irá representar um impacto positivo no caixa da empresa. Para calcular esse montante, basta
multiplicarmos o valor das despesas financeiras pela alíquota de IR atribuída à operação da empresa.
Legenda:
*Nopat = Net operational profit after taxes
Ebit = Earnings before interest and taxes
Existe, ainda, uma alternativa para o cálculo do FCDA, na qual iniciamos a sua estimação por meio
do lucro líquido divulgado pela empresa. Nesse caso, não precisaríamos ajustar as despesas financeiras,
nem o benefício fiscal atrelado a elas, pois elas já estariam computadas no valor do lucro líquido. Seria
apenas necessário ajustar o valor das novas dívidas contraídas pela companhia, conforme demonstrado
na figura a seguir:
Estimação do fluxo de caixa disponível para o acionista (FCDA)
Lucro líquido
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Unidade III
Apesar de existirem duas formas de estimação do FCDA que nos levariam ao mesmo valor final, é
mais comum realizarmos a sua estimativa por meio do lucro operacional da empresa, complementando
o modelo do FCDE com as informações de financiamento da empresa, conforme apresentado
anteriormente.
Por fim, vale ressaltar que existe uma fórmula para identificar o valor das “novas dívidas” que deve
constar nos modelos de estimação apresentados. De acordo com Assaf Neto (2019), podemos obter essa
informação por meio do seguinte cálculo:
P
Novas dívidas = x ( Capex + Variação do giro ) − Depreciação
P + PL
Onde:
Exemplo de aplicação
• P / (P + PL): 50%.
• Capex: $ 10.000.
104
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Assim, esse seria o montante de novas dívidas a ser aplicado no cálculo da estimativa do FCDA.
Por fim, vamos simular a estimativa do FCDA sob a perspectiva do lucro operacional, com base no
valor das “novas dívidas” que acabamos de identificar. Considere, no exemplo, os seguintes valores
complementares apresentados pela empresa no período:
Nesse caso, identificamos que o valor do FCDA seria de $ 12.560. Esse valor poderia ser utilizado pela
empresa como parâmetro limite para definir o caixa disponível para a remuneração dos seus acionistas
por meio da distribuição de dividendos no período.
A escolha de uma estimativa de fluxo de caixa ou de outra gera implicações para a escolha da taxa
de desconto: se optarmos pelo FCDE, devemos usar o custo total de capital da empresa (WACC) para
trazer os fluxos de caixa a valor presente; se optarmos pelo FCDA, a taxa desconto mais adequada passa
a ser o custo de capital próprio do acionista (Ke). O quadro a seguir demonstra as relações existentes
entre o método de estimativa do fluxo de caixa escolhido e a taxa de desconto adequada, de acordo
com Assaf Neto (2019):
105
Unidade III
Além disso, as informações apresentadas no quadro ressaltam o resultado da avaliação obtido por
cada um dos métodos de fluxo de caixa utilizados: enquanto o uso do FCDE proporciona o valor total da
empresa, sob a ótica do valor total que ela seria negociada no mercado (valor justo), o uso do FCDA proporciona
o valor da empresa para o acionista, apenas, representado pelo valor residual do negócio‑patrimônio
líquido. O que diferencia o valor encontrado em cada uma das abordagens é o valor do passivo oneroso
da empresa, ou seja, o valor das dívidas que a empresa possui.
Entretanto, vale ressaltar que a estimativa de fluxo de caixa disponível mais comumente utilizada
para fins de apuração do valor econômico da empresa na metodologia do fluxo de caixa descontado
é a do FCDE, conforme já comentado. Consequentemente, utilizaremos o WACC como taxa de
desconto para esses fluxos de caixa, cuja fórmula e metodologia de apuração foram apresentadas em
detalhes anteriormente.
A estimativa dos fluxos de caixa do período explícito da empresa é elaborada com base na
previsibilidade de suas atividades operacionais. Assim, o critério que irá delimitar o período considerado
como previsível durante um processo de avaliação será a capacidade de o analista conseguir prever, com
certa razoabilidade, as variáveis internas da empresa e de mercado, como o comportamento dos preços,
da demanda, dos custos, das necessidades de investimento etc. (ASSAF NETO, 2019).
No Brasil, segundo Assaf Neto (2019), o prazo médio de previsibilidade considerado nas metodologias
de valuation é, aproximadamente, de 10 a 12 anos, podendo existir diferenças significativas de acordo
com o setor do negócio. Por exemplo, a avaliação em alguns setores é determinada utilizando um
período explícito menor em decorrência das maiores incertezas futuras e mudanças mais constantes,
como é o caso do ramo de tecnologia.
106
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Por outro lado, existem setores que apresentam comportamento mais previsível, com menores níveis
de incerteza em relação ao futuro, seja por conta da essencialidade da natureza da operação ou por não
haver expectativas de mudanças significativas no curto prazo, como é o caso do ramo de mineração e
alimentação, por exemplo (ASSAF NETO, 2019).
Assim, para fins de consolidação do conteúdo, vamos retormar a fórmula utilizada para calcular o
valor da empresa durante esse período explícito:
FCD1 FCD 2
Valor da empresa(explícito) = + + …+
(FCDn)
(1 + i) (1 + i) (1 + i)n
1 2
Agora, precisamos identificar a parte do valor econômico da empresa que é atribuída a sua
perpetuidade (valor residual), ou seja, ao período que não podemos estimar com confiabilidade razoável,
mas que se espera que gere valor para a empresa (valor na perpetuidade) (ASSAF NETO, 2019).
Para determinar esse valor, existem duas fórmulas possíveis de serem aplicadas. A diferença entre
elas é determinada pelo pressuposto que será assumido para o futuro da empresa: a expectativa é de
que os fluxos de caixa serão constantes ou crescentes após o período explícito?
Caso a avaliação esteja emabasada na expectativa de que os fluxos de caixa da empresa após o
período explícito sejam constantes, iremos aplicar a seguinte fórmula:
FCD n
VR =
i
Onde:
• FCD n: fluxo de caixa disponível previsto para o último ano do período explícito (n).
• i: taxa de desconto (no caso de utilizarmos o FCDE, seria o custo de capital da empresa (WACC).
Por outro lado, se determinarmos que os fluxos de caixa da empresa irão crescer a uma taxa constante g
após o período explícito, então, devemos adotar a seguinte fórmula:
FCD n + 1
VR =
i−g
Onde:
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Unidade III
• FCD n+1: fluxo de caixa disponível previsto para o ano seguinte ao último ano do período
explícito: FCD n+1= FCD n x (1+g).
• i: taxa de desconto (no caso de utilizarmos o FCDE, seria o custo de capital da empresa- WACC).
Observação
Após a estimativa do valor na perpetuidade, utilizando uma das duas fórmulas apresentadas,
precisamos trazer o valor encontrado a valor presente, também, assim como fizemos com os fluxos de
caixa explícitos. O valor na perpetuidade será encontrado na data n e, portanto, precisam ser descontados
n períodos até a data 0 (data atual), momento no qual está sendo realizada a avaliação.
Dado que o valor econômico da empresa é obtido pela soma dos fluxos de caixa explícitos e dos
fluxos de caixa na perpetuidade, ambos trazidos a valor presente, podemos unir as duas estimativas
em uma única fórmula para definir a metodologia do fluxo de caixa descontado (FCD), conforme
apresentado a seguir:
FCD1 FCD 2
Valor da empresa = + + …+
(FCDn) + VR
(1 + i) (1 + i) (1 + i)n (1 + i)n
1 2
Onde:
108
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Saiba mais
Exemplo de aplicação
Considere uma empresa que tenha apresentado os seguintes fluxos de caixa (históricos) nos
últimos cinco anos:
Para o período pós-projetado, assumimos uma taxa de crescimento constante (g) de 4% ao ano.
Considerando um custo de capital (WACC) de 9,5% ao ano, temos o seu valor residual no ano 5:
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Unidade III
150,44 x (1 + 0,04 )
VR 5 = = R$2.844,68 milhões
(0,095 − 0,04 )
Assim, o valor da empresa (VE) estimado na data 0 será calculado da seguinte forma:
Valor da empresa =
Portanto, o valor da empresa, por meio da metodologia do fluxo de caixa descontado seria de
R$ 2.329,65. Este seria, então, o valor justo da empresa no mercado. Qualquer valor pago pelo investidor
acima desse montante resultaria em um goodwill, enquanto qualquer valor pago abaixo significaria
uma compra vantajosa para o investidor.
Observação
Este tópico tem o objetivo de conciliar todas as metodologias de avaliação de empresas que aprendemos
durante a disciplina, para que você consiga visualizar a aplicação prática do conteúdo estudado.
Então, para exemplificar as metodologias de avaliação de empresas, avaliaremos a Mega S.A., uma
empresa de capital aberto que atua no varejo, com a venda de mercadorias. Essa empresa atuou nos
anos de X1 e X2 e deverá ser avaliada ao final de X2, pois está em negociações para uma possível
combinação de negócios com a empresa Master S.A.
As demonstrações contábeis apresentadas pela Mega S.A. são apresentadas a seguir: balanço
patrimonial e demonstração do resultado do exercício.
110
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Mega S.A.
Balanço patrimonial - em $ milhões
Ativo 31-12-X2 31-12-X1
Circulante 26.830 28.580
Disponibilidades 5.080 4.610
Clientes 7.540 8.450
Estoques 12.870 14.320
Despesas antecipadas 1.340 1.200
Ativo não circulante 86.990 76.810
Depósitos judiciais 2.350 750
Investimento 25.850 20.460
Imobilizado (valor líquido) 58.790 55.600
Total 113.820 105.390
Mega S.A.
Demonstração de resultado - em $ milhões
31-12-X2 31-12-X1
Receita operacional bruta 326.000 297.000
(-) Deduções (16.300) (14.850)
Receita operacional líquida 309.700 282.150
(-) Custo da mercadoria vendida (205.900) (198.500)
Lucro bruto 103.800 83.650
Despesas operacionais (38.590) (39.489)
Despesas com vendas (7.650) (8.340)
Despesas gerais e administrativas (23.460) (25.670)
111
Unidade III
Mega S.A.
Demonstração de resultado - em $ milhões
Depreciação e amortização (7.480) (5.479)
Lucro operacional 65.210 44.161
Despesas financeiras (1.835) (1.661)
Receitas (desp.) não operacionais
Lucro antes do IR/CSLL 63.375 42.500
Despesa com IR/CSLL (21.548) (14.450)
Lucro líquido do exercício 41.828 28.050
N. de ações ordinárias 7.000 6.300
LPA 5,98 4,45
A primeira metodologia a ser empregada é a metodologia do valor contábil, que nos indica o
valor da empresa como sendo o valor do patrimônio líquido desta, ou seja, todos os seus bens e direitos
(ativos), excluindo-se as obrigações (passivos); dessa forma, temos para a Master S.A.:
X2 X1
Valor da empresa (PL) 67.700,00 66.000,00
RPL (ROE) 61,78% 42,50%
ROA 37,81% 27,65%
ROI 40,04% 40,21%
RVPL 4,57 4,28
RLOPL 0,96 0,67
IPL 86,84% 84,24%
APL 0,68 0,60
CJPL 36,89 39,74
Ebitda (Lajida) R$ 72.690 R$ 49.640
Observação: considere uma alíquota de IR = 34% para o cálculo do ROA e do ROI.
Além de proporcionar uma maneira simples de obter o valor da empresa, essa metodologia sugere o
acompanhamento dos indicadores:
• Rentabilidade sobre os investimentos (ROI): indica a rentabilidade dos recursos aplicados por
credores e acionistas na empresa (investimentos), sendo que esse valor se mantém praticamente
inalterado em X1 e X2, apresentando uma pequena queda.
• Alavancagem: a alavancagem relaciona as dívidas da empresa com seu capital próprio (PL),
demonstrando se a empresa está operando de maneira alavancada, ou seja, se ela utiliza o
endividamento como fonte de recursos. Nesse caso, para o ano de X2, apesar do crescimento da
alavancagem, o indicador ainda é inferior a 1, fato que demonstra que a empresa possui mais
recursos oriundos do PL que do passivo.
• Cobertura dos juros com patrimônio líquido (CJPL): nesse caso, o indicador apresenta
a capacidade de pagamento dos juros (custo financeiro das dívidas) com recursos próprios
do PL. Para a Mega S.A., essa cobertura diminuiu de X1 para X2, principalmente devido ao
crescimento das dívidas, mas a empresa apresenta uma cobertura dos juros da ordem de quase
37 vezes no ano de X2.
• Ebitda: mostra o potencial de geração de caixa operacional futuro da empresa, tendo este
indicador apresentado um aumento no ano de X2, o que é bastante benéfico para a companhia
(maior expectativa de geração de caixa futuro).
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Unidade III
X2 X1
Taxa de ajuste 3,20% 6,50%
Ativo ajustado 117.462,24 112.240,35
Passivo ajustado 47.595,84 41.950,35
Valor da empresa (PL ajustado) 69.866,40 70.290,00
Nesse caso, identificamos o valor da empresa ajustado (VE) correspondente em torno de $ 70 bilhões,
saldo superior aos $ 67,70 bilhões pela metodologia do valor contábil.
Valores de liquidação X2 X1
Disponibilidades 5.080,00 4.610,00
Clientes 6.635,20 7.436,00
Estoques 10.553,40 11.742,40
Despesas antecipadas 1.005,00 900,00
Depósitos judiciais 1.880,00 600,00
Investimento 27.142,50 21.483,00
Imobilizado (valor líquido) 67.608,50 63.940,00
Soma ativos a valor de liquidação 119.904,60 110.711,40
VE (ativos em valor de liquidação menos passivos) 73.784,60 71.321,40
Dessa forma, deve-se observar o fato de a empresa apresentar alguns ativos com menor valor de
liquidação ocasionados pelo baixo valor de revenda desses ativos (como clientes, estoque e despesas
antecipadas, por exemplo), enquanto outros podem ter um valor de realização superior, como em ativos
dos grupos de investimentos e imobilizado.
Com isso, o valor da empresa (VE) em X2 alcança o valor de $ 74 bilhões aproximadamente, valor
este superior às metodologias anteriores. Entretanto, devemos nos lembrar que essa metodologia é
adequada apenas para situações nas quais a venda individual dos ativos seja mais vantajosa do que a
venda do negócio como um todo.
A próxima metodologia a ser aplicada é a metodologia do índice preço/lucro (P/L), segundo a qual
o valor da empresa (VE) pode ser obtido pelo valor de suas ações, com base no parâmetro de outras
114
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
empresas de porte semelhante e que atuem no mesmo setor com as mesmas características. Assim, o
índice P/L pode ser extrapolado das demais empresas para a empresa que se deseja avaliar.
Em nosso caso, consideremos que no setor de atuação da Mega S.A. atuam as empresas Alfa e
Beta, com características e porte muito semelhantes à Mega S.A., para que, dessa forma, a metodologia
possa ser aplicada.
Com isso, o preço de mercado da ação e o lucro por ação são obtidos junto ao mercado, e
podemos calcular o índice P/L pela divisão do preço da ação pela LPA, ou seja, no caso da Alfa, o
P/L = $ 14,50 / $ 4,83 = 3,00. Assim, na média do setor, o preço da ação representa 3,24 vezes o valor
do lucro por ação (LPA).
Extrapolando esse conceito para a Mega S.A., com base em sua DRE, podemos calcular a sua LPA
para X2 como sendo o lucro líquido ($ 41.828) dividido pela quantidade de ações (7.000), obtendo,
assim, uma LPA de $ 5,98 por ação. Dessa forma, ao sabermos que o índice P/L médio do setor é de 3,24,
podemos obter por aproximação o valor de mercado de cada ação e, consequentemente, o valor de
mercado da empresa, conforme demonstrado na tabela a seguir:
Mega S.A. X2 X1
P/L 3,24 3,24
LPA 5,98 4,45
Valor de mercado da ação 19,39 14,45
VE (Valor de mercado da ação x Qtde. ações) 135.719,94 91.015,34
Com isso, temos novos valores que podem ser utilizados como medida de avaliação da empresa, que
apresenta avaliação superior aos métodos anteriores, por considerar uma medida quando não é possível
determinar o valor da ação da empresa por seu preço de mercado.
115
Unidade III
capitalização histórica da empresa. Para simplificação da metodologia, aqui estamos assumindo uma
taxa de 14,50% ao ano (WACC); posteriormente, trataremos da definição do custo do capital.
Dessa forma, a partir do histórico de lucros operacionais, que aqui estão disponíveis apenas para os
anos de X1 e X2, temos:
Tabela 26 – Lucros históricos, exemplo Mega S.A.: metodologia de capitalização dos lucros
Lucros ($ milhões) X2 X1
Histórico 65.210 44.161
É dada uma ponderação (peso) para cada ano. Normalmente, anos mais recentes recebem pesos
maiores, pois representam melhor a realidade da empresa, obtendo o lucro operacional ponderado.
Assim, ao dividir o lucro operacional médio ponderado pela taxa de capitalização histórica (custo do
capital), obtemos o valor operacional da empresa, que, somado aos ativos não operacionais existentes –
neste exemplo, presumimos que a empresa Mega S.A. não os possua –, temos o valor da empresa (VE).
116
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Assim, utilizando o F (P/RL) médio do setor, podemos obter o valor de mercado das ações da Mega S.A.
pela multiplicação de sua receita líquida pelo fator de preço/receita líquida (P/RL), obtendo:
Mega S.A. X2 X1
Receita ($ milhões) 309.700,00 282.150,00
F (P/RL) 0,0000538 0,0000538
Ativos não operacionais 0,00 0,00
Valor de mercado da ação 16,66 15,17
VE (Valor de mercado da ação x Quantidade de ações) 116.594,34 95.600,20
De maneira semelhante também atua a metodologia dos múltiplos de lucros, só que, em vez de
utilizar o fator de preço da ação/receita líquida (P/RL), utiliza como parâmetro os lucros, ou seja, possui
um fator (F) de preço de mercado da ação dividido pelo lucro operacional médio (P/LO), de forma a
utilizar os dados do setor para inferir o preço da ação. No caso da Mega S.A, temos:
Assim, utilizando o F(P/LO) multiplicado pela quantidade de ações, obtemos o valor da empresa
(VE) estimado:
Mega S.A. X2 X1
Lucro operacional ($ milhões) 65.210,00 44.161,00
F (P/RL) 0,0002874 0,0002874
Ativos não operacionais 0,00 0,00 0,00
Valor de mercado da ação 18,74 12,69
VE (Valor de mercado da ação x Qtde. ações) 131.173,35 79.948,96
117
Unidade III
Agora, iremos analisar uma das metodologias mais utilizadas pelo mercado, que é a metodologia
dos fluxos de caixa descontados, diferenciando-se das demais por utilizar como parâmetro do valor da
empresa os saldos líquidos de caixa descontados a valor presente. Assim, essa metodologia permite a
identificação do valor da empresa com base na sua expectativa de geração de caixa futuro.
Para proceder nesse cálculo, é preciso definir o custo do capital, e uma das formas de fazer isso é
pelo cálculo do custo médio ponderado de capital (CMPC) ou WACC, que nada mais é do que o custo
do capital próprio multiplicado pelo percentual de capital próprio da entidade acrescido ao custo do
capital de terceiros líquido de IR (custo da dívida líquido) multiplicado pelo percentual de capital de
terceiros da entidade.
O custo do capital de terceiros pode ser obtido junto à empresa ou nas notas explicativas de suas
demonstrações financeiras, pois representa o custo financeiro (taxa de juros) da sua dívida. Essa taxa, no
entanto, deve ser multiplicada por (1-IR) para se deduzir o benefício fiscal da dívida e obter o custo de
capital de terceiros líquido do IR.
Depois, ainda é preciso definir o custo do capital próprio, que, neste exemplo, é estabelecido como
sendo de 16,50% ao ano, custo de oportunidade do acionista (Ke). O ideal é que esse custo represente a
expectativa de retorno dos investidores, mas em grandes empresas com ações negociadas em bolsa de
valores torna-se difícil obter essa informação.
Para isso existem técnicas para a definição do custo do capital próprio, como o Capital Asset Pricing
Model (CAPM) também conhecido como modelo de precificação de ativos de capital, que estima o custo
do capital próprio com base nas taxas de juros do mercado e do risco associado.
Além disso, é preciso definir por quanto tempo será feita esta análise. Aqui utilizamos um período
de cinco anos projetados de fluxo de caixa (de X3 até X7), com uma taxa de crescimento de 5% ao ano
até X7 e de um crescimento constante de 3% ao ano após X7 para efeitos de cálculo do valor residual
(VR) ou valor na perpetuidade.
Assim, procedendo no cálculo dos fluxos de caixa descontados (FCD), obtemos para a Mega S.A os
seguintes resultados:
Mega S.A. X2 X1
% capital próprio 59,48% 62,62%
% capital de terceiros 40,52% 37,38%
Ke (custo do capital próprio, definido) 16,50% 16,50%
Ki (custo do capital de terceiros, obtido pelo custo da dívida) 12,70% 12,70%
Alíquota IR (IR 15% + CSLL 9% + Adicional de IR 10%) 34% 34%
118
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Mega S.A. X2 X1
WACC ou CMPC 13,21%
Crescimento próximos 5 anos 5,00%
Crescimento posterior constante (g) 3,00%
FC histórico 35.400,00 33.200,00
FC projetado $ milhões FC descontado
X3 37.170,00 32.832,62
X4 39.028,50 30.451,44
X5 40.979,93 28.242,96
X6 43.028,92 26.194,64
X7 45.180,37 24.294,88
VR 455.760,53 245.076,52
Valor da empresa (∑ FC + VR) 387.093,05
Assim, o WACC calculado para a Mega S.A. foi de 13,21%, e os fluxos de caixa projetados apresentados
foram de $ 37.170 milhões em X3 para $ 45.180 milhões em X7. Todos os fluxos de caixa foram
descontados a valor presente por meio da taxa do WACC, inclusive o valor residual, da seguinte forma:
VE = R$ 387.093,05
De maneira semelhante ao FCD atua a metodologia do valor presente líquido (VPL), que utiliza
as mesmas informações do método anterior. A partir do fluxo de caixa descontado e excluindo
o investimento inicial realizado, na aquisição da empresa, essa técnica proporciona visualizar o
quanto o investimento gerou de valor.
119
Unidade III
Mega S.A. X2 X1
% capital próprio 59,48% 62,62%
% capital de terceiros 40,52% 37,38%
Ke 16,50% 16,50%
Ki 12,70% 12,70%
Alíquota IR 34% 34%
WACC 13,21%
Crescimento próximos 5 anos 5,00%
Crescimento posterior constante (g) 3,00%
FC histórico 35.400,00 33.200,00
FC projetado $ milhões FC descontado
X3 37.170,00 32.832,62
X4 39.028,50 30.451,44
X5 40.979,93 28.242,96
X6 43.028,92 26.194,64
X7 45.180,37 24.294,88
VR 455.760,53 245.076,52
VE 387.093,05
Investimento inicial (225.000,00)
VPL 162.093,05
Para a Mega S.A., caso ela seja adquirida por $ 225.000 milhões, então o VPL será de
$ 162.093 milhões, indicando que a aquisição por esse valor é vantajosa, pois se pagou mais barato do
que o valor justo da empresa (identificado por meio da metodologia do FCD), gerando um VPL>0 (indica
criação de valor, geração de riqueza).
Por último, então, para analisar o investimento, podemos utilizar a metodologia da taxa interna
de retorno (TIR) e do período payback.
Essa metodologia utiliza as mesmas premissas da metodologia do VPL, pois a TIR é a taxa
juros que obtém um VPL igual a zero. Assim, a utilização dos fluxos de caixa projetados e dos
fluxos de caixa descontados será útil. Apenas para facilitar a análise, rearranjamos o FC projetado,
com o investimento inicial na data X2 (saída) e o valor residual (VR) sendo acrescido ao fluxo de
caixa na data X7.
120
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Mega S.A. X2 X1
% Capital próprio 59,48% 62,62%
% Capital de terceiros 40,52% 37,38%
ke 16,50% 16,50%
ki 12,70% 12,70%
Alíquota IR 34% 34%
WACC 13,21%
Crescimento próximos 5 anos 5,00%
Crescimento posterior constante (g) 3,00%
FC histórico 35.400,00 33.200,00
FC projetado $ milhões FC esperado FC acum. FC descontado FC acum.
X2 (investimento inicial) (225.000,00) (225.000,00)
X3 37.170,00 37.170,00 (187.830,00) 32.832,62 (192.167,38)
X4 39.028,50 39.028,50 (148.801,50) 34.474,25 (157.693,13)
X5 40.979,93 40.979,93 (107.821,58) 36.197,97 (121.495,16)
X6 43.028,92 43.028,92 (64.792,65) 38.007,86 (83.487,30)
X7 45.180,37 500.940,90 436.148,24 442.485,95 358.998,65
VR 455.760,53
TIR 29,31%
Payback 5º Ano
Payback descontado 5º Ano
Assim, a taxa interna de retorno é de 29,31% ao ano, superior à TMA correspondente ao custo do
capital (WACC) de 13,21% ao ano. Já o payback só ocorrerá no quinto ano, quando o fluxo de caixa se
torna positivo.
Vejam que analisamos o valor da empresa Mega S.A. de diferentes formas, obtendo resultados
bastante variados.
121
Unidade III
A resposta a essa pergunta depende do conhecimento do avaliador sobre o mercado, que indicará
qual metodologia proporciona base para uma avaliação mais próxima do valor justo dessa empresa,
condizente com a realidade e desenvolvida a partir de premissas que sejam reais e praticáveis.
Resumo
122
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
Exercícios
Questão 1. Com a propagação do novo coronavírus, os governos do mundo todo tiveram que
agir na economia para minimizar os impactos econômicos oriundos da necessidade de aplicações
de quarentena. Uma das ferramentas usadas por esses governos, inclusive o brasileiro, foi a política
monetária. Bancos centrais reduziram a taxa de juro para estimular o consumo e reduzir o risco de
liquidez do mercado bancário. Com base nas ações de política monetária adotadas no primeiro semestre
de 2020, podemos concluir que:
A) O valor presente líquido, disposto no cálculo de payback descontado, será menor, nos anos
subsequentes, ao investimento inicial.
C) Haverá aumento do valor presente líquido, decorrente da diminuição da taxa básica de juros.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: o VPL aumenta, uma vez que a redução da taxa de juros deve se constituir em taxas
mínimas de atratividade menores.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a taxa mínima de atratividade é decidida de forma arbitrária pelo investidor; no entanto,
diminuição dos custos de captação de crédito – redução de juros – tende a reduzir a TMA. Não é correto
imaginar aumento da TMA decorrente de políticas monetárias expansionistas.
C) Alternativa correta.
Justificativa: uma taxa de juros menor tende a reduzir a taxa mínima de atratividade, portanto, uma
redução na taxa de juros implica valores mais elevados do valor presente líquido e, consequentemente,
tempo menor para que se efetive o payback descontado.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: uma taxa mínima de atratividade menor, decorrente da diminuição da taxa de juros,
implica coeteris paribus, menor tempo para que se efetive o payback descontado.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: não há razões para aumento da TMA quando há uma diminuição do custo de captação
de crédito, ainda que de forma marginal.
Questão 2. “Dadas duas funções, dizemos que os pontos de nivelamento entre elas são os valores de x
no momento em que o lucro é nulo. Podemos chamar os pontos de nivelamento de pontos críticos, os
pontos onde os gráficos das funções se interceptam são os pontos críticos ou de nivelamento.”
Avalie as afirmativas a seguir e aponte qual delas aborda corretamente a diferença entre o break
even point (BEP) econômico, o financeiro e o contábil.
I – Ao contrário dos demais conceitos, o break even point econômico considera os custos de
oportunidade, ou seja, custos não desembolsados.
124
AVALIAÇÃO DE EMPRESAS
II – O break even point contábil considera, além do custo de oportunidade, o custo com depreciação,
diferentemente dos outros dois conceitos.
III – O break even point financeiro está livre da influência de custos não desembolsáveis, ou seja, não
considera custos de oportunidade e tampouco custos de depreciação.
IV – O break even point econômico leva em consideração o custo de oportunidade e o custo com
depreciação; ademais, mesmo sendo custos não desembolsáveis, eles têm impacto indireto sobre a
relação lucro/investimento.
A) I, apenas.
B) I e II.
C) I e III.
D) II e III.
E) III e IV.
I – Afirmativa correta.
Justificativa: o BEP econômico é o único que considera o custo de oportunidade; ademais, o olhar
para esse tipo de custo está intimamente ligado à área econômica.
II – Afirmativa incorreta.
Justificativa: é correto dizer que o BEP contábil é o único que olha para os custos com depreciação,
uma característica da área contábil; no entanto, é incorreto afirmar que o BEP contábil também avalie
o custo de oportunidade.
Justificativa: o BEP financeiro realmente observa apenas os custos desembolsáveis, ficando a cargo
do BEP contábil o olhar para a depreciação e do BEP econômico o olhar para o custo de oportunidade.
IV – Afirmativa incorreta.
Justificativa: ao contrário do que diz a afirmativa, o custo com depreciação é exclusivo do BEP
contábil, ao passo que o custo de oportunidade é de exclusividade do BEP econômico.
125
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 4
ASSAF NETO, A. Valuation: métricas de valor & avaliação de empresas. 3. ed. São Paulo:
Atlas, 2019. p. 106.
Figura 8
SANTOS, J. O. Avaliação de empresas: um guia prático. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. Adaptada.
Figura 9
SANTOS, J. O. Avaliação de empresas: um guia prático. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. Adaptada.
Figura 10
EQUIPE DE PROFESSORES DA FEA/USP. Contabilidade introdutória. 10. ed. São Paulo: Atlas,
2006. Adaptada.
Figura 11
SANTOS, J. O. Avaliação de empresas: um guia prático. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. Adaptada.
REFERÊNCIAS
Textuais
ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
ASSAF NETO, A. Valuation: métricas de valor & avaliação de empresas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
126
BRITO, G. A. S.; ASSAF NETO, A. Modelo de classificação de risco de crédito de empresas. Revista
Contabilidade & Finanças, v. 19, n. 46, p. 18-29, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1519-
70772008000100003. Acesso em: 18 ago. 2020.
CVM. Instrução normativa n. 361, com alterações da instrução normativa n. 436/06, de 5 de março de
2002. Brasília, 2002.
DA CUNHA, M. F.; MARTINS, E.; NETO, A. A. Avaliação de empresas no Brasil pelo fluxo de caixa
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DAMODARAN, A. Finanças corporativas: teoria e prática. 2. ed., São Paulo: Bookman, 2004.
DAMODARAN, A.; DA CUNHA SERRA, A. C. Valuation: como avaliar empresas e escolher as melhores
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PUCCINI, A. L. Matemática financeira: objetiva e aplicada. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
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SANTOS, J. O. Avaliação de empresas: um guia prático. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Sites
https://institutoassaf.com.br/
128
129
130
131
132
Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000