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14713802, 2016, S1, Downloaded from https://nasenjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/1471-3802.12346 by CAPES, Wiley Online Library on [25/11/2022].

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Journal of Research in Special Educational Needs  Volume 16  Number s1  2016 884–888
doi: 10.1111/1471-3802.12346


PRATICAS 
PEDAGOGICAS COM AUTISTAS:
AMPLIANDO POSSIBILIDADES
^ s Bacellar Monteiro and Josiane Maria Bonatto Bragin
Maria Ine
Universidade Metodista de Piracicaba

~o Especial, Transtorno do Espectro Autista.


Palavras-chave: Autismo, Educacßa

esquerdo ja n~ao ha espacßo para guarda-las. Apos terminar


Este estudo busca refletir sobre as ac ßo~ es as atividades o aluno recebe um palito de sorvete que
pedago  gicas normalmente realizadas com alunos indica que ele deve se dirigir ate a agenda diaria e
autistas. Tem como objetivo trazer contribuic ßo~ es
verificar qual e a proxima atividade. Neste caso, a
da perspectiva histo  rico-cultural para um novo
proxima atividade e pegar a mochila e esperar para ir
olhar sobre a educac ßa~ o desses alunos. Considera
~ o iguais embora.
que as leis gerais de desenvolvimento sa
para todas as crianc ß as e destaca a importa ^ ncia
das interac ~ es sociais para o desenvolvimento e a
ßo Estas atividades s~ao repetidas diariamente e tomam a
aprendizagem. Foram realizadas observac ßo~ es maior parte do tempo das praticas propostas em sala de
videogravadas e entrevistas com professores. Os aula. Segundo a professora da classe, o objetivo maior de
resultados mostraram que o mito de que alunos suas praticas e fazer com que seus alunos atuem nesse tra-
autistas so  aprendem de maneira isolada e balho individual com maior frequ^encia e maior autonomia.
auto^ noma deve ser quebrado e que se deve tomar
como refere ^ ncia uma educac ~ o centrada nas pos-
ßa Durante o perıodo de um ano realizamos observacß~ oes de
sibilidades, no poder das interac ~ es sociais e no
ßo alunos autistas, com grandes dificuldades de comu-
papel da escola nos processos de significac ~ o.
ßa
nicacß~ao, imaginacß~ao e interacß~ao social em um Centro de
Ressaltamos ainda neste estudo, como estas pra  ti-
 gicas podem ser favora  veis para a Atendimento Educacional Especializado, localizado em
cas pedago
educac ~ o especial dentro da perspectiva da
ßa uma cidade do interior de S~ao Paulo. A proposta ped-
educac ~ o inclusiva atrave
ßa  s do trabalho colabora- agogica da instituicß~ao prev^e atividades como as descritas
tivo desenvolvido entre os profissionais do atendi- acima para todos os seus alunos.
mento educacional especializado, equipe te  cnica
multidisciplinar e professor da classe. Olhar para esta sala de aula nos fez pensar em alguns
aspectos importantes da educacß~ao e das oportunidades
oferecidas a alunos autistas.

Por que o aluno n~ao deve ter contato com os demais? Por
Introducß~ ao que se da tanto valor aquilo que e realizado sozinho e em
No sil^encio de uma sala de aula, tr^es alunos realizam sil^encio? O que se espera desses alunos?
suas atividades e profissionais acompanham com o
olhar fixo todas as acß~ oes que eles realizam. O local Considerando a lei geral do desenvolvimento humano
em que os alunos est~ ao e chamado, por alguns, de proposta por Vigotski1 (1989), que afirma que o desen-
area de trabalho individual, por outros, de “baia”. volvimento e a aprendizagem s~ao processos possibilitados
Os alunos est~ ao sentados de frente para a parede e o pela interacß~ao entre pessoas e que o mundo da criancßa e
espacßo e totalmente delimitado. Nas laterais ha duas significado pelos outros, podemos pensar: por que o aluno
estantes que servem para guardar as atividades que autista e privado desta interacß~ao?
os alunos ir~ ao fazer (do lado direito) ou que ja con-
cluıram (do lado esquerdo). As atividades envolvem A impress~ao que se tem nesta sala de aula e de que os
habilidades motoras e de atencß~ ao de diferentes nıveis autistas s~ao diferentes e permanecer~ao diferentes. A eles
de dificuldade. Os tr^es alunos realizam pareamentos e n~ao sera dada a oportunidade de aprender na relacß~ao com
encaixes: s~ ao autistas. o outro. Como, ent~ao, ter~ao acesso ao conhecimento?

Apos cinco meses de observacß~ao desta sala de aula nota- 1


A grafia do nome do autor varia em diferentes traducßo~es. Optanos por uma
mos que o sil^encio ainda predomina, as atividades v~ao so forma, porem preservando as indicacß~oes diferenciadas nas refer^encias
diminuindo da estante do lado direito enquanto no lado bibliograficas.

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Para Vigotski (1993), o processo de desenvolvimento mudancßas na forma de olhar e pensar a educacß~ao destes
humano tem origem nas relacß~ oes sociais e deve ser compre- alunos.
endido em seu carater hist orico-cultural. Isso revela a
import^ancia que a experi^encia social tem para a compre- Este artigo tem como objetivo focalizar praticas pedagogi-
ens~ao da realidade pelo homem. Mostra que seus modos de cas realizadas em uma escola para autistas apontando
agir s~ao mediados pelo outro, por signos e instrumentos. contribuicß~oes da perspectiva historico-cultural para um
novo olhar sobre a educacß~ao desses alunos, que considere
Segundo G oes, “Vigotski argumenta que as leis gerais do a import^ancia da interacß~ao social, da significacß~ao e da
desenvolvimento s~ao iguais para todas as criancßas. [. . .] linguagem para garantir ao aluno autista o acesso ao
Ha peculiaridades na organizacß~ao sociopsicol ogica da conhecimento produzido pela humanidade.
criancßa com defici^encia [. . .] Seu desenvolvimento requer
caminhos alternativos e recursos especiais” (2002, p. 99). Nas escolas com os professores e alunos autistas

Para Vigotski, n~ao e o defeito que decide o destino das As observacß~oes iniciais das atividades pedagogicas com
pessoas, mas, sim, as consequ^encias sociais desse defeito. alunos autistas foram realizadas com o intuito de identifi-
Ele afirmava que e na vida social e no carater social do car quais eram as atividades educacionais propostas,
comportamento que a criancßa encontra material para a como elas ocorriam, qual a atuacß~ao dos profissionais
formacß~ao das funcß~
oes internas. envolvidos e quais os metodos de ensino utilizados na
escola com os alunos autistas.
O autismo n~ao foi um tema estudado por Vigotski (o
diagnostico e o termo autista s~ao posteriores a sua Visando a um maior aprofundamento nestes momentos de
morte), mas seus estudos sobre defectologia apontam pos- observacß~ao, todas as atividades realizadas foram registra-
sibilidades de apropriacß~ao de seus pressupostos para refle- das, priorizando-se aquelas que, segundo as professoras,
tir sobre a educacß~ao de autistas. eram as mais importantes, neste caso, a area de trabalho
individual.
Kanner2 no ano de 1943 definiu pela primeira vez o
autismo como um dist urbio de contato afetivo, evidenci- Neste cenario, foram realizadas 24 sess~oes de gravacß~ao
ado pela aus^encia de reciprocidade nas relacß~
oes com out- em vıdeo envolvendo duas salas de aula com alunos
ras pessoas, em conjunto com as falhas relacionadas a autistas e 15 sess~oes gravadas em audio realizadas com
linguagem e a fascinacß~ao por objetos. as respectivas professoras e monitoras.

Em relacß~ao aos dados historicos sobre o inıcio da escola- Para melhor organizar o estudo, selecionamos 20 sess~ oes:
rizacß~ao de alunos autistas, constata-se a escassez de 09 gravadas em vıdeo com alunos e 11 gravadas em
refer^encias, uma vez que o diagn ostico de autismo e audio (outras observacß~oes foram registradas em diario de
recente e, provavelmente, esses alunos tenham sido diag- campo e depois transcritas).
nosticados, a priori, como deficientes mentais, o que
determinou inicialmente o predomınio de uma educacß~ao Durante o perıodo que acompanhamos as atividades reali-
semelhante a que era oferecida a pessoas deficientes men- zadas na escola pudemos constatar que as atividades pro-
tais. A primeira escola formada para atender exclusiva- postas eram sempre as mesmas e seguiam um modelo
mente alunos autistas em territ orio brasileiro foi a AMA3 preestabelecido em que o aluno deveria cumprir tarefas
em S~ao Paulo. O programa de ensino utilizado nesta autonomamente, com o menor contato possıvel com os
escola e o TEACCH4 , que busca propiciar comportamen- colegas e professores.
tos previsıveis dando ^enfase ao desenvolvimento e pre-
paracß~ao para a vida adulta. Quando iniciamos as observacß~oes, os professores diziam
que os alunos autistas eram diferentes e que por esse
Alguns estudos (Bagarollo, 2005; Bragin, 2011; Martins, motivo n~ao conseguiam aprender. Uma professora, por
2009; Orr u, 2006) relacionaram o autismo a perspectiva exemplo, nos disse: “Autista so pode ser trabalhado com
hist
orico-cultural e nos trazem pistas de possibilidades de um metodo porque, de acordo com o diagnostico deles,
eles n~ao conseguem aprender de outra forma”.

2
Leo Kanner foi um psiquiatra austrıaco radicado nos Estados Unidos.
Nas acß~oes realizadas em sala de aula predominavam o
3
Escola fundada por um grupo de pais de criancßas autistas. A AMA implantou no treinamento e as atitudes de contencß~ao e controle do com-
Brasil o programa TEACCH a partir de 1991, orientada por profissionais da Dina- portamento dos alunos.
marca e da Suecia.
4
O programa TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication
A dificuldade vivida pela professora e revelada quando
Handicapped Children) visa estimular o aluno mediante a organizacß~ao e planeja-
mento das atividades rotineiras. O programa procura adaptar um currıculo ped-
fala de seus alunos: “Tinha que segurar ele na cadeira e
agogico, associando tecnicas de reeducacß~ao comportamental e dando ^enfase ao aı vai. . .”. “Daquele tamanho, cinco pessoas n~ao seguram
desenvolvimento e preparacß~ao para a vida adulta. pra conter.” “Ele n~ao ta fazendo direito; toda hora tem

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que fazer m~ao na m~ao.” “Ela ta com um comportamento procurando novidades [risos]. Aqui n~ao tem novidades,
muito difıcil [e] o mais importante aqui e ela saber que mas eu acho que seria interessante pra voc^e alguma coisa
tem que ficar sentadinha, fazendo a atividade, porque diferente.
antes ela n~ao sentava sozinha, tinha que eu e a monitora
Pesquisadora: O que voc^e chama de diferente?
forcßar ela [para ficar] sentada”.
Professora: N~ao sei tambem, mas algo que n~ao seja tudo
Notamos grande preocupacß~ao voltada para o controle dos o que voc^e ja viu e que nos fazemos diariamente.
comportamentos e nenhuma refer^encia ao conteudo
Pesquisadora: Amanh~a estarei aqui.
didatico planejado para ensinar. Valoriza-se o “ficar sen-
tadinha” como um pre-requisito para aprender posterior- Professora: Vou pensar em alguma coisa bem legal pra
mente alguma coisa. gente fazer, mas se der errado, n~ao conte pra ninguem
[risos].
ogica e restrita:
As falas revelam que a experi^encia pedag
A partir dai vivenciamos uma mudancßa significativa e
Pesquisadora: E o dia, como foi hoje? que a nosso ver traz contribuicß~oes relevantes para a
Professora: O mesmo de sempre. O que eles ja sabem reflex~ao sobre as praticas pedagogicas.
fazer, ja fazem; e dar manutencß~ao para n~ao regredir.
As arriscadas da professora fizeram-na refletir sobre sua
As experi^encias proporcionadas aos alunos voltavam-se pratica. Ao relatar uma atividade realizada na semana
para assimilacß~
oes de conceitos condicionados por meio anterior a nossa reuni~ao, uma atividade que fugia aos
de atividades sistematizadas e intensivas focadas na padr~oes da rotina e possibilitava ao aluno entrar em
manutencß~ao de comportamentos aprendidos. Nas falas e contato com a agua de maneira ludica e passar a dife-
acß~
oes dos professores, as pratica educacionais buscavam renciar as temperaturas quente e fria, a professora fez o
o treino dos alunos em alguma habilidade especıfica mui- seguinte relato: “Sabe, semana passada a atividade da
tas vezes desvinculada do contexto. agua me fez pensar muita coisa. De inıcio achei que
aquilo nunca fosse dar certo, mas ate que foi bom por
Nossa presencßa diaria na escola e as perguntas sobre por ser diferente”.
que n~ao era permitida a interacß~ao entre os colegas ou a
ajuda do professor para a realizacß~ao das tarefas provoca- A professora proporcionou momentos diferenciados ao
ram duvidas nos professores, que aos poucos foram intro- criar um ambiente interativo, favoravel a situacß~ao de
duzindo novas praticas que privilegiavam as interacß~oes aprendizagem, rico em meios instrumentais e simb olicos.
entre alunos e entre alunos e professores. Esta nova din^amica de aula foi desencadeadora de
momentos de construcß~ao motivadores que buscavam mel-
Durante as conversas com a professora da classe era hor entendimento e interacß~ao entre os sujeitos envolvidos.
possıvel notar certa preocupacß~ao ou “inc^
omodo” quando
se perguntava como tinha sido o dia de trabalho, o que As praticas que foram sendo criadas e o discurso da pro-
ela pretendia trabalhar no dia seguinte, ou ate mesmo fessora aos poucos foram se modificando: “Estava mor-
qual era o objetivo da atividade. As atividades dos alu- rendo de medo que n~ao fosse dar certo! E  muito
nos, nas palavras desta professora, giravam em torno interessante ele falar assim durante a atividade. Parece ate
“de uma agenda que na verdade e a mesma de dois que esta interagindo comigo. Pode isso?”
anos atras com as atividades: aprender, escovar dentes,
lanche e aı vai”. Durante o perıodo de observacß~ao, per- As atividades pedagogicas ficaram bem caracterizadas por
cebemos uma inquietacß~ao e posterior mudancßa na pos- uma maior preocupacß~ao da professora em interagir com
tura da professora. No inıcio, ela se fixava em uma seus alunos e a comunicacß~ao passou a ser mais explorada,
rotina de trabalho pedag ogico focada na manutencß~ao ou o espacßo fısico da sala de aula passou por algumas alter-
fixacß~ao de comportamentos aceitaveis, mas a partir de acß~oes e a professora passou a valorizar a comunicacß~ao de
nossas conversas percebi indıcios de mudancßa em suas maneira espont^anea; algumas atividades passaram a ser
acß~
oes, ou seja, a presencßa de alguem observando em realizadas em conjunto. A mudancßa de postura da profes-
sala de aula impulsionou a professora a repensar suas sora foi evidenciada pela intensificacß~ao das atividades de
atitudes e praticas. brincadeira e outras atividades coletivas.

Essa mudancßa na postura da professora gerou certa inse- As praticas pedagogicas voltadas para as acßo~es coletivas
gurancßa, expressa no seguinte trecho: e interativas mostraram-se possıveis e apontaram as possi-
bilidades de superacß~ao das dificuldades consideradas ine-
Professora: Para amanh~a, pensei em uma atividade mais rentes ao autismo.
pratica para aplicar em sala de aula. Suas visitas aqui na
escola est~ao me levando a pensar que toda vez que voc^e Estas praticas ampliaram as perspectivas para uma rede-
vem sempre e feito a mesma coisa e talvez voc^e esteja finicß~ao do papel da escola e do trabalho pedagogico dos

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autistas: partiu-se da concepcß~ao de que a aprendizagem e cimentos socialmente disponıveis que as funcß~
oes psi-
essencialmente social e que as funcß~ oes psicologicas cologicas humanas s~ao constituıdas.
humanas s~ao constituıdas nas apropriacß~oes dos conheci-
mentos socialmente disponıveis. Comunicacß~ao, socializacß~ao e uso da imaginacß~ao em
momentos de brincadeiras s~ao atividades indicadas nas
Mesmo considerando a complexidade e extens~ao das difi- praticas pedagogicas com autistas.
culdades de interacß~ao apresentadas por alunos autistas,
entendemos que as possibilidades existentes devem servir O mito de que alunos autistas so aprendem de maneira iso-
de fonte para a formacß~ao de novas capacidades por meio lada e aut^onoma deve ser quebrado. Ao contrario, devem-se
de um trabalho interativo e coletivo. tomar como refer^encia os investimentos em uma educacß~ao
centrada nas possibilidades, no poder das interacß~oes sociais
Novas possibilidades e no papel da escola nos processos de significacß~ao.

Diante dos dados analisados, sugerimos que as praticas Este artigo procurou revelar algumas acßo~es educativas
pedag ogicas centradas no deficit, que buscam o desenvol- que podem colaborar para uma nova maneira de pensar a
vimento e a aprendizagem por meio de atividades isola- educacß~ao de alunos autistas.
das, acabam impossibilitando o desenvolvimento das
funcß~oes psicol
ogicas superiores, na medida em que as O contato com os professores e os alunos durante esta
praticas educativas tornam-se reduzidas. pesquisa trouxe reflex~oes importantes sobre o fazer ped-
agogico e explicitou a precariedade daquilo que vem
O contato com as professoras durante as observacß~oes sendo oferecido aos alunos autistas.
demonstrou o quanto estes profissionais estavam despre-
parados e desmotivados para atuar com os alunos autis- Novas possibilidades de interacß~ao e de praticas pedag
ogi-
tas. Suas dificuldades centravam-se na cobrancßa que se cas foram identificadas e mostraram a necessidade de
tinha no trabalho escolar para atingir os objetivos aprofundamento teorico e reflexivo sobre elas. A escola
tracßados nos planos individuais de ensino que muitas deixa de seguir a linha da menor resist^encia, acomodacß~ao
vezes n~ao eram atingidos, principalmente pela vis~ao e adaptacß~ao ao atraso do aluno, criticada por Vygotski
complexa e reducionista que os professores tinham de (1997), e passa a oferecer possibilidades de superacß~ao das
seus alunos. dificuldades e/ou deficits primarios existentes.

O sil^encio, a organizacß~ao individual e as praticas condici- Apesar de uma analise preliminar sobre a educacß~ao de
onadas n~ao permitiam o acesso ao conhecimento. autistas, este artigo pretende contribuir para uma reflex~ao
Vigotski (1989) ja indicava que uma educacß~ao tecnicista urgente e necessaria, em que um olhar fundamentado em
e hegem^ onica impossibilita o pleno desenvolvimento pressupostos da abordagem historico-cultural possa ajudar
do aluno. a refletir sobre a pratica educacional destes alunos.

Consideramos que ha necessidade de se repensar o papel Conflicts of Interest


da escola com os alunos autistas. Esta na hora de oferecer The author declare no conflict of interest.
a estes alunos condicß~
oes de acesso a cultura (produzida
historicamente) e ao convıvio social.
Address for correspondence
Conforme aponta Dain^ez, a defici^encia deve ser conside- Maria In^es Bacellar Monteiro,
rada um fen^ omeno que, “para alem de sua origem Universidade Metodista de Piracicaba,
org^anica, e construıdo socialmente, marcado pelos modos Rua Marechal Deodoro, 2320,
como o problema e compreendido e enfrentado nas con- Vila Monteiro, Piracicaba, SP, Brasil
dicß~
oes historicas”. Neste sentido, “a escola ocupa um CEP: 13418565
Email: monteirobim@gmail.com
lugar fundamental no processo de formacß~ao social dessa
defici^encia” (2011, p. 307).

 importante retomar aquilo que Vigotski ja apontava em


E
seus textos escritos entre 1924 e 1934, que e coletiva- Refer^encias
mente, na interacß~ao com o outro, que o aluno pode supe- Bagarollo, M.F. A (re) significacß~ao do brincar das criancßas
rar suas dificuldades e desenvolver formas organizadas de autistas. 2005. Dissertacß~ao (Mestrado) - Universidade
relacß~
oes sociocomunicativas. E  preciso redefinir o papel Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2005.
da escola e do trabalho pedag ogico dos autistas, principal- Bragin, J.M.B. Atividades educacionais para autistas na
mente partindo-se da concepcß~ao de que a aprendizagem e escola especial. 2011. Dissertacß~ao (Mestrado).
essencialmente social e que e nas apropriacßo~es dos conhe- Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2011.

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Dain^ez, D. Resenha. Revista Educacß~ ao Especial, Orru, S.E. A constituicß~ao da linguagem de alunos autistas
Santa Maria, v. 24, n. 40, p. 305 –308, mai./ago. apoiada em comunicacß~ao suplementar alternativa.
2011. 2006. Dissertacß~ao (Mestrado) - Universidade
Goes, M.C.R.de. Relacß~oes entre desenvolvimento Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2006.
humano, defici^encia e educacß~ao: contribuicß~oes da Vigotski, L.S. Estudio del desarrollo de los conceptos
abordagem historico-cultural. In: M.Kd. Oliveira, cientıficos en la edad infantil. In: L.S. Vygotski
D.T.R. Souza & T.C. REGO (Orgs.). Psicologia, Pensamiento y lenguaje. Traducß~ao Jose Maria Bravo.
educacß~
ao e as tem aticas da vida contempor^ anea. S~ao Madrid: Visor Dist., p. 181–285, 1993. (Obras
Paulo: Moderna, 2002. p. 95–114. escogidas, II).
Martins, A.D.F. Criancßas autistas em situacß~ao de Vygotski, L.S. Fundamentos de defectologıa. Madrid:
brincadeira: apontamentos para as praticas educativas. Visor, 1997. (Obras escogidas, V).
2009. Dissertacß~ao (Mestrado) - Universidade Vygotsky, L.S. Pensamento e linguagem. S~ao Paulo:
Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2009. Martins Fontes, 1993.

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