Você está na página 1de 4

Educação inclusiva na perspectiva do respeito aos processos de desenvolvimentos

individuais.

Liliana Corrêa Rêgo


Maria Aparecida Santos e Campos
Rosely Yavorsky

1.Introdução:
A concepção de incapacidade, dependência e discriminação que permeiam a vida dos
indivíduos com deficiências se refere a algo ultrapassado e prejudicial ao
desenvolvimento cognitivo e autoestima daqueles que, em muitos casos, são deixados à
margem devido à incompreensão e falta de empatia tão percebidos em nossa sociedade.
A atenção e o afeto legítimo, permitem que se tenha a real preocupação em atender as
pessoas em suas mais variadas especificidades, sendo visto que a ideia de
individualidade é percebida por todos, independentemente de ter ou não deficiências
físicas ou neurológicas, há que se ressaltar a ênfase na proposição em que cada
indivíduo possui capacidades, habilidades, tendências e competências diversificadas e
por esse motivo, as pessoas têm processos de desenvolvimentos cognitivos diversos.
Segundo Figueira, no ano de 1981, a Organização das Nações Unidas (ONU)
reconheceu como a responsabilidade dos governos garantir a equidade de direitos para
as pessoas com deficiência em um novo direcionamento para reajustes sociais,
estruturais e políticos, tratando assim o tema na esfera dos direitos humanos. Esse
reconhecimento, expresso no Ano Internacional da ONU para Pessoas Deficientes,
representa a mudança no tratamento do tema da deficiência pelos organismos
internacionais.
Mesmo que na atualidade já tenhamos estudos e reflexões no que se refere à inclusão de
pessoas com deficiência, ainda somos surpreendidos por atitudes e ou comentários que
contradizem toda a discussão acerca do respeito, necessidade de inclusão e
acessibilidade do ambiente, visando o pleno desenvolvimento das capacidades e
competências de todos.
Na obra intitulada “A Educação Especial na perspectiva da inclusão escolar: A escola
comum inclusiva”, as autoras manifestam atenção especial à ideia de padronização de
alunos nas escolas, onde as instituições buscam o “ aluno ideal” no sentido de que os
estudantes precisam ser “moldados” ao padrão de alunos que se percebe como “capazes
de aprender”. Este grave equívoco é fruto da ignorância e incompreensão acerca das
possibilidades de desenvolvimento cognitivo e social específicos de cada um dos
indivíduos é ainda mais prejudicial em relação ao trabalho pedagógico direcionado aos
estudantes com necessidades especiais, que são agora denominadas Pessoas com
Deficiências, acarretando a estagnação das habilidades cognitivas e sociais.
Mediante à falta de entendimento sobre às características específicas de cada indivíduo,
sendo mais observada na prática educativa às PCD, a escola realiza a separação entre
alunos “normais” e “especiais”.
“Em ambientes escolares excludentes, a identidade normal é tida
sempre como natural, generalizada e positiva em relação às demais, e
sua definição provém do processo pelo qual o poder se manifesta na
escola, elegendo uma identidade específica através da qual as outras
identidades são avaliadas e hierarquizadas. ”
Ropoli et al. (2010)

1.1. Plano de Ensino Individualizado


Frente ao entendimento de que cada pessoa é portadora de processos mentais,
tendências, habilidades diferentes das demais, o direcionamento do trabalho pedagógico
através da elaboração de Planos de Ensino Individualizados é uma possível solução para
o enfrentamento das falhas recorrentes do ensino de conteúdos e metodologias
unificadas. Ainda na obra de Edilene Ropoli e demais autoras a ideia da necessidade de
serem colocados em prática os conteúdos, metodologias, recursos e avaliações
direcionadas individualmente se fundamenta de forma lógica ao que já conhecemos
sobre as características pessoais de cada um de nós, sendo PCD ou não.
“A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças
dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o
progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas. ”
Ropoli et al. (2010)

Certamente um trabalho pedagógico pautado na individualidade constitui-se em algo


fora da idealização dos sistemas de ensino atuais, porém deve-se lembrar da autonomia
que cada instituição escolar tem mediante a elaboração em caráter de participação
coletiva entre todos os atores da comunidade escolar: gestores, professores, funcionários
administrativos, alunos e pais de alunos do Projeto Político Pedagógico (PPP) o qual
retrata a visão e a missão da escola, contendo as informações essenciais ao
desenvolvimento pedagógico da mesma em assistência à comunidade em que está
inserida.
A observação minuciosa do processo mental de construção de saberes de cada um dos
alunos em uma sala de aula, suas habilidades, tendências, interação com os conteúdos e
raciocínio utilizados para a resolução das situações problemas são a base para a
construção e elaboração dessa prática pedagógica individualizada, pois com esta, o
educador é capaz de fazer o levantamento de dados que irão fundamentar como devem
ser propostas as atividades direcionadas às habilidades estruturantes de cada nível de
ensino.
Há que se considerar que a carga laboral direcionada para a elaboração do Plano de
Ensino Individual e sua aplicação na prática pedagógica é notoriamente maior, pois ao
invés de serem levantadas as habilidades e saberes de uma turma de por exemplo 2° ano
do Ensino Fundamental para que sejam elaboradas metodologias visando seu
atendimento, essas mesmas informações a serem levantadas seriam de cada um dos
alunos da turma quanto à seus saberes prévios, suas impressões frente aos conteúdos,
seus raciocínios frente às situações problemas, suas produções e avanços cognitivos.
Uma prática já bastante realizada no Ensino Infantil é a metodologia de investigação
pedagógica com o uso de portfólios individuais, nos quais são anexadas as atividades de
produção do aluno que forem mais relevantes em cada momento educativo são
catalogadas com as devidas observações do docente a fim de fundamentar a
intervenção, adequação ou retomada dos estudos para que as habilidades estruturantes,
que servirão de alicerce para o aprofundamento dos saberes sejam alcançadas.
Tendo em vista o aumento da carga laboral, é ainda mais necessário que haja coesão na
equipe escolar entre gestores e docentes no sentido de disponibilizar condições para
uma prática de ensino individualizado bem feito, oferecendo suporte material de
recursos necessários, como também a motivação e apoio ao ministrante.

1.2.Encorajamento e valorização de capacidades


Estudo feito na disciplina de Didática Aplicada do curso de Doutorado em Educação da
instituição FUNIBER – UNINI ministrado pela professora Dra. Maria Aparecida Santos
e Campos a partir da análise do filme de curta-metragem “ O circo das borboletas”
possibilitou à turma de doutorandos o enriquecimento de ideias quanto às possibilidades
de aprendizagem e desenvolvimento cognitivo e social por pessoas com deficiências. A
produção audiovisual na qual o personagem principal Will (vivido pelo conhecido
mundialmente por suas palestras motivacionais Nick Vujicic) sofre discriminação e
humilhações por ser desprovido de braços e pernas no início da produção
cinematográfica, porém ao longo do enredo, assim como aconteceu com Nick no
decorrer da sua vida real, a superação de dificuldades e obstáculos foram constantes,
tendo sido desencadeada pela convivência com pessoas as quais o viam com afeto e
respeito, encorajando-o a acreditar em si mesmo, valorizando suas capacidades e
proporcionando situações supervisionadas onde o mesmo teria que buscar solucioná-las
por si mesmo, promovendo assim o crescimento individual e o protagonismo em relação
à transformação da sua realidade.
É importante salientar que em uma das cenas do curta, o personagem Will está junto aos
seus colegas de circo em um ambiente aquático, mas nenhum dos demais personagens
vem ao seu encontro ajuda-lo a atravessar o espaço do lago, então na tentativa de
enfrentar essa situação, ele cai e surpreendentemente consegue se movimentar na água e
por essa nova habilidade é celebrado e valorizado por todos.
Em relação ao tratamento respeitoso e motivador de enfrentamento de obstáculos, faz-se
necessário enfatizar que todos, pessoas com deficiências ou não, precisamos, em
especial durante a vida acadêmica, ser incentivados a superar as dificuldades, sejam elas
de quais forem as origens, principalmente pelos profissionais da educação os quais têm
o papel de mediar a construção do conhecimento de seus alunos propondo-lhes
condições para análise e reflexão de informações e atividades direcionadas às
competências necessárias à sua inserção à cidadania e participação ativa na sociedade
em que vive, tendo a concepção que todos temos características, habilidades e processos
mentais próprios, sem que sejam impostos padrões determinados mais valorizados que
os demais.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
Circo das borboletas. Joshua Weigel. Joshua Weigel, Rebekah Weigel e Angie
Alvarez, EUA, 2009.
Convenção sobre os Direitos Humanos das Pessoas com Deficiência: Protocolo
Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Decreto
Legislativo n° 186, de 09 de julho de 2008: Decreto n° 6.949, de 25 de agosto de 2009.
Rêgo, L. C., & Campos, M. A. S. e. (2021). A INFLUÊNCIA DA AUTOESTIMA
NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS NOS ANOS
INICIAIS DO ENSINO BÁSICO DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE TERESINA -
PIAUÍ. Revista Ibero-Americana De Humanidades, Ciências E Educação, 7(11), 924–
942. https://doi.org/10.51891/rease.v7i11.3124
ROPOLI, Edilene Aparecida; MANTOAN, Maria Teresa Eglér; SANTOS, Maria Terezinha
da Consolação Teixeira dos; MACHADO, Rosângela. A educação especial na
perspectiva da inclusão escolar. A escola comum inclusiva. Brasília: Ministério da
Educação; Secretaria de Educação Especial, 2010. 51p.

Você também pode gostar